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Fundamentos de Fisioterapia Oncológica Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª M.ª Andréa Abramo Prof.ª M.ª Laila Moussa Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Bases da Fisioterapia Oncológica Bases da Fisioterapia Oncológica • Fundamentar o exercício da Especialidade Profissional de Fisioterapia Oncológica. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Histórico da Fisioterapia em Oncologia; • Contextualização da Área de Atuação; do Fisioterapeuta em Oncologia; • Legislação do COFFITO; • Oncogênese; • Terapias Prévias e/ou Adjuvantes; • Hospitais de Referência em Oncologia do Estado de São Paulo Sistema Único de Sáude (SUS). UNIDADE Bases da Fisioterapia Oncológica Histórico da Fisioterapia em Oncologia A Fisioterapia Oncológica é uma área ainda nova, mas em expansão. No INCA (Ins- tituto Nacional do Câncer), foi organizada em 1980, vinculada ao Serviço de Cirurgia Torácica do Hospital do Câncer I (HC I). Na época, contava com poucos fisioterapeutas. No final da década de 1980 e início da seguinte, houve a necessidade da incorporação de novos profissionais. Em virtude da demanda crescente de atendimento hospitalar, o espaço físico foi reestruturado em um setor bem equipado e com autonomia de condutas e rotinas de atendimentos (FARIA, 2010). Segundo o próprio Hospital do Câncer, de 1946 a 1953 existia a Clínica de Tumo- res (precursora do hospital), a qual funcionava dentro do Hospital Santa Cruz. Além de cirurgia, havia fisioterapia e radioterapia. O embrião desse hospital foi a APCC (Asso- ciação Paulista de Controle do Câncer), fundada pelo médico Dr. Antônio Prudente. Seu mentor foi o Dr. Antônio Cândido de Camargo, que faleceu em 1947 (A. C. CAMARGO CANCER CENTER, 2021). Em maio de 2008, realizou-se o III Congresso Brasileiro de Fisioterapia em Cancero- logia, voltado exclusivamente para acadêmicos e profissionais da área. Foram discutidos temas relacionados à abordagem fisioterapêutica em pacientes amputados; em pacientes que sofreram cirurgias toracoabdominais; nos cuidados paliativos oncológicos; no ensi- no e na pesquisa em oncologia; nas políticas públicas de saúde; na fisioterapia respirató- ria em oncologia; na neurocirurgia oncológica; na mastologia; na oncologia clínica e na urologia oncológica. Cada vez mais cresce a participação da fisioterapia nessa área, em especial no pré e pós-operatório (FARIA, 2010). Contextualização da Área de Atuação do Fisioterapeuta em Oncologia A Fisioterapia em Oncologia é uma especialidade que tem como objetivo preservar, manter, desenvolver e restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas, assim como prevenir os distúrbios causados pelo tratamento oncológico. A atuação abrangente e o acúmulo de experiência profissional estão redirecionando o campo de atenção do Fisioterapeuta. Esse profissional vem atuando em todos os níveis de assistência à saúde, incluindo a prevenção, a promoção, o tratamento e a recuperação, com ênfase no movimento e na função. O fisioterapeuta vem adquirindo prestígio profissional e sua importância está, cada vez mais, reconhecida nos serviços de saúde. Seu espaço diante da autoridade médica, ainda que reduzido, tem reconhecimento legítimo. Isso se deve, em parte, a ter conse- guido reivindicar algum monopólio sobre uma área do conhecimento – a cinesioterapia funcional (FARIA, 2010). 8 9 Figura 1 Fonte: Getty Images A fisioterapia vem experimentando um crescimento nas duas últimas décadas, em especial em oncologia, e a preocupação quanto à formação tem acompanhado esse crescimento. As mudanças curriculares (incluindo a disciplina de Fisioterapia em Oncologia), os programas de aprimoramento profissional e as pós-graduações na referida área estão voltados para a formação de um profissional competente e que contribua para a construção do setor saúde no Brasil. No tocante à fisioterapia em oncologia, busca-se levar uma melhor qualidade de vida aos pacientes com câncer, minimizando os efeitos adversos do tratamento. Os resultados positivos estão rela- cionados à recuperação físico-funcional, advêm da aplicação sistematizada de recur- sos terapêuticos diversos, com o foco sempre voltado para o controle dos sintomas imediatos referidos pelo paciente (BERGMANN, 2008). Figura 2 Fonte: Getty Images O câncer é um problema inquestionável de saúde pública, principalmente em países em desenvolvimento? Existe estimativa que cerca de 80% dos mais de 20 milhões de casos esperados para 2025 ocorram nessa população. 9 UNIDADE Bases da Fisioterapia Oncológica Legislação do COFFITO • Resolução n.º 364, de 20/05/2009: reconhece a Fisioterapia Oncofuncional como especialidade do profissional Fisioterapeuta. Foi alterada pela Resolução n.º 397; • Resolução n.º 397, de 03/08/2011: disciplina a Especialidade Profissional de Fisio- terapia Oncológica com registro pelo Coffito aos que se inscreverem nas provas da referida área, no Conselho, e prestarem a prova, estando aprovados. Do artigo 3º ao 6º, descreve os conhecimentos que o fisioterapeuta deve possuir ao prestar a prova. *** ABFO – Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia Você Sabia? A fadiga oncológica, também denominada fadiga relacionada ao câncer (FRC), é um dos sintomas mais prevalentes nesse grupo de pacientes, reportada por até 90% dos afeta- dos durante o curso da doença ou do tratamento, impactando na qualidade de vida de forma significativa, além de diminuir a capacidade funcional. Oncogênese Câncer deriva do latim, caranguejo. Desde os tempos de Hipócrates, o diagnóstico de um câncer traz grande angústia e medo ao paciente, a seus familiares e amigos. Com a evolução dos métodos propedêuticos mais adequados e de um tratamento oncológico multidisciplinar, atualmente metade dos pacientes que recebe tal diagnóstico sobreviverá mais de 5 anos (MARQUES et al., 2018). Os tumores podem ser benignos ou malignos. Algumas nomenclaturas de tumores benignos: fibroma, condroma, lipoma, adenoma. Algumas para tumores malignos: fi- brossarcoma, lipossarcoma, adenocarcinoma, carcinoma. A diferenciação de um tumor maligno para um benigno é feita por critérios morfológicos observados ao microscópio, além do seu comportamento clínico. A carcinogênese é um processo muito complexo que envolve estímulos ambientais e alterações genéticas múltiplas que levam à modificação do ciclo celular. O câncer ocorre por um acúmulo progressivo de alterações genéticas e desregulação da célula. NEOPLASIA = Novo crescimento. Importante! O envelhecimento populacional é hoje uma realidade irrefutável, assim o aumento de indivíduos idosos depara-se com o aumento das doenças crônico-degenerativas entre as quais a doença oncológica. A idade é fator de risco para o desenvolvimento de neopla- sias, a incidência de câncer é 11 vezes maior do que em adultos jovens. 10 11 Terapias Prévias e/ou Adjuvantes • Prévia: antes de cirurgia; • Adjuvante: após cirurgia. Quimioterapia (QT) É uma terapia sistêmica (via endovenosa) com efeitos sistêmicos como: alterações sanguíneas (nos glóbulos brancos e vermelhos, cansaço e fadiga como consequência); no sistema digestório (mucosite e, como consequência, vômitos, diarreias, falta de apetite, espessamento da saliva e perda do paladar); queda de pelos do corpo e cabelo (alopecia); efeitos neurotóxicos (principalmente dos nervos sensitivos que são menos mielinizados do que os motores, são mais comuns e precocemente afetados como consequência há dormências, formigamentos e dor). Figura 3 Fonte: Getty Images Radioterapia (RT) Consiste no uso da radiação ionizante para tratamentos médicos. É uma terapia local. Estima-se que 2/3 dos pacientes oncológicos recebam RT ao longo de suas vidas. Há 2 tipos: • Braquiterapia (interna): bem localizada, no máximo 20 cm de distância do local a ser irradiado (HDR: high dose rate; a mais usada no Brasil: braquiterapia de alta taxa de dose de fonte selada de irídio – 196); • Teleterapia (externa): para áreas maiores, distânciasmaiores de 20 cm, tipos de raios: telecobaltoterapia, gamaterapia. A unidade de medida é o Gray (Gy). Exemplo: dose diária de 2Gy são comuns, mas podem chegar a 50 ou até 70 Gy. Um raio x simples de tórax tem uma dose de 0,02 mGy. 11 UNIDADE Bases da Fisioterapia Oncológica Objetivo básico da RT é a morte celular de 2 formas: • Direta: pelo dano actínico ao seu DNA; • Indireta: pelo dano nas outras moléculas, especialmente a água. » Efeitos: • fibrose (na pele, no subcutâneo, músculo e até órgãos); • radiodermite; • linfangite. Instalação de radioterapia. Paris, pavilhão Pasteur. Disponível em: https://bit.ly/3i77bGb Hormonioterapia (HT) É uma terapia sistêmica também, porém, menos agressiva do que a QT. Está indicada para mulheres com câncer de mama que tenham receptores hormonais + para o estró- geno e progesterona; e para homens com câncer de próstata que tenham receptores hormonais + para a testosterona. Essa análise é feita pelo exame imunohistoquímico. • Objetivo da ht: bloquear os efeitos dos hormônios sexuais femininos e masculino; • Efeitos colaterais: semelhantes aos sinais e sintomas do climatério/pós-menopau- sa (na mulher) e semelhantes aos sinais e sintomas do envelhecimento no homem (fadiga, artralgia, cansaço, perda da libido, diminuição das massas musculares e óssea, disfunção erétil) (ONCOGUIA, 2021). Figura 4 Fonte: Getty Images Imunoterapia É uma terapia por meio de vacina, por 12 meses, com o medicamento Tecemotide, muito específico para câncer de pulmão em estágio III (localmente avançada). É um tra- tamento mais preciso e com menor grau de toxicidade quando comparado à QT. Tem, portanto, menos efeitos colaterais. 12 13 • Mecanismo: estímulo do sistema imunológico a reconhecer e destruir apenas as células malignas. Estudo com 364 investigadores de 20 países, de 2007 a 2011, um médico brasileiro, Dr. Mauro Zukin (INCA), encontrou 9 meses a mais de sobrevida nos pacientes que fize- ram parte do grupo experimental (QT + RT + IT), quando comparado ao grupo controle (QT + RT). Esse estudo foi publicado na revista científica Lancet Oncology. Contudo,a vacina ainda não é comercializada (ONCOGUIA, 2021). Figura 5 Fonte: unasus.gov Hospitais de Referência em Oncologia do Estado de São Paulo Sistema Único de Sáude (SUS) A Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP) possui 17 Departamentos Regionais de Saúde (DRS) da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo com 69 hospitais de referência para o tratamento do câncer. Desses, só na Grande São Paulo e capital, são 23 hospitais de referência. Saber mais em: fosp.saude.sp.gov.br Figura 6 Fonte: Wikimedia Commons 13 UNIDADE Bases da Fisioterapia Oncológica Alguns exemplos na cidade de São Paulo e em cidades do Estado: • Santa Casa de Misericórdia de São Paulo possui, no seu complexo hospitalar, o Insti- tuto Arnaldo Vieira de Carvalho específico para tratamento oncológico. Esse hospital tem 460 anos de funcionamento, com o primeiro registro da Confraria de Misericór- dia na Vila de São Paulo em 1.562. Outras Santas Casas estão referenciadas para tratamento oncológico, como a Santa Casa de Araraquara, que atende a 23 cidades, e a Santa Casa de Franca, desde 2002, com o Hospital de Câncer de Franca; Sta. Cecilia, 1895. Disponível em: https://bit.ly/34yd1IN • Hospital de Câncer de Jaú Dr. Amaral Carvalho, iniciou atividades em 1916 (como maternidade). Em 1954, além da maternidade, passou a ser, também, hospital ge- ral, e em 1970, passou a ser a 1ª entidade hospitalar do interior do Estado de São Paulo especializada em câncer; • Hospital A. C. Camargo Cancer Center teve sua fundação em 23 de abril 1953. De 1946 a 1953, era chamado de Clínica de Tumores e funcionava dentro do Hospital Santa Cruz. Além de cirurgia, havia fisioterapia e radioterapia. O embrião desse hospital foi a APCC (Associação Paulista de Controle do Câncer), fundada pelo médico Dr. Antônio Prudente. Seu mentor foi o Dr. Antônio Cândido de Camargo, que faleceu em 1947; • Hospital de Câncer de Barretos foi fundado em 1962 pelo casal de médicos Dr. Paulo Prata e Dra. Scylla Duarte Prata, além de outros dois médicos. Desde 1989, é administrado pelo filho, Sr. Henrique Prata, e, devido à alta tecnologia, transparên- cia na gestão e humanização no atendimento, o referido hospital administra, tam- bém, os Ambulatórios Médicos de Especialidades (AME) que não são oncológicos de Barretos, num convênio com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. São os AME Clínico e Cirúrgico que fazem parte da DRS V que compreende 18 cidades como Taquaral, Olímpia, Bebedouro, além de Barretos e outras. Desde 2017, está reconhecido com o nome de Hospital de Amor, devido ao alto índice de humanização com os pacientes e seus familiares; • Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer (GRAACC) é uma OnG com mais de 25 anos, fundada em 1991, que conta com hospital, tratamentos adjuvantes e casas de apoio aos pacientes e seus familiares durante o tratamento; • Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) Octavio Frias de Oliveira, funda- do em 06 de maio de 2008, conta com 580 leitos, na Av. Dr. Arnaldo, 251, capital; • Instituto Brasileiro de Controle de Câncer (IBCC), fundado em 1968, com quatro unidades. Atualmente tem 146 leitos (unidade Mooca), é um Centro de Pesquisa Clínica com mais de 50 estudos patrocinados; • Referência nacional do MS (Ministério da Saúde) é o Instituto Nacional de Câncer (INCA), com sede no Rio de Janeiro. 14 15 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Leitura Estimativa 2020: incidência de câncer no Brasil https://bit.ly/2SHKgqD Revisão crítica da mortalidade por câncer usando registros hospitalares e anos potenciais de vida perdidos https://bit.ly/3vCulbu Quimioterapia: orientações aos pacientes https://bit.ly/3vFd6pV Hormonioterapia Adjuvante em Câncer de Mama https://bit.ly/3fCVhCt 15 UNIDADE Bases da Fisioterapia Oncológica Referências MARX, A. G.; FIGUEIRA, P. V. G. Fisioterapia no câncer de mama. Barueri, SP: Manole, 2017. (e-book) ________; et al. Manual de condutas e práticas de fisioterapia em oncologia: câncer de pulmão. Barueri, SP: Manole, 2017. (e-book) PINTO, S. M. P. Tratado de fisioterapia em saúde da mulher. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2019. (e-book) 16
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