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Justiça e Engenharia Eletricista

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BACHARELADO INTERDISCIPLINAR EM 
CIÊNCIAS E TECNOLOGIA 
 
 
JUSTICE – QUAL A COISA CERTA A FAZER? 
 
Esse documento tem por objetivo expor as principais ideias apresentadas pelo professor da 
universidade de Harvard, Michael Sandel, em seu curso “Justice – Qual a coisa certa a fazer?”, e 
relacionar com ações da profissão de engenheiro eletricista. Durante o curso Sandel apresenta o 
trabalho e as teses de grandes filósofos sobre os dilemas em questão e, ao mesmo tempo, força os 
estudantes a repensarem seus conceitos. 
 
• COLOCANDO O PREÇO NA VIDA 
 O terceiro vídeo da série “Justice – Qual a coisa certa a fazer?” tem embasamento na 
filosofia utilitarista de Jeremy Bentham, para iniciar esse debate Michael Sandel faz uma breve 
introdução sobre a vida do filósofo, expondo data do seu nascimento e suas conquistas notáveis 
durante a vida. A ideia principal de Bentham alegava que o princípio mais elevado da moralidade 
tanto pessoal quanto política é maximizar o bem-estar geral, ou a felicidade geral, ou o saldo geral 
de prazer sobre a dor, resumindo, maximizar a utilidade. 
Essa lógica utilitarista muitas vezes é chamada análise de custo-benefício, ela é utilizada 
por empresas e por governos frequentemente, e implica em precificar em capital para simbolizar 
a utilidade nos custos e benefícios de várias propostas. O grande problema é quando se aplicam 
esse cálculo para vidas, precificando o valor da existência e a dor causada pela ausência aos 
parentes da vítima. Outro ponto negativo do utilitarismo é a desvalorização da minoria, afinal o 
bem-estar geral é maximizado, dando mais importância as ideias e ações da pluralidade, porém 
analisando os fatos históricos dos nossos antepassados sabemos que em alguns casos o 
pensamento da maioria pode ser considerado como equivocado, comprovando que não podemos 
desqualificar o pensamento da minoria. 
Um grande exemplo em que o utilitarismo é aplicado para o engenheiro eletricista é no 
adicional de periculosidade que tem previsão legal no artigo 7, inciso XXII da Constituição 
Federal, bem como na Consolidação das Leis Trabalhistas, artigo 193 e seguintes, no qual afirma: 
“O trabalho em condições de Periculosidade assegura ao empregado um Adicional de 30% 
(trinta por cento) sobre o salário sem os acréscimos resultantes de gratificações, prêmios ou 
participações nos lucros da empresa.”. 
Considerando que um trabalho periculoso é caracterizado por atividades que põem em 
perigo a vida do trabalhador, podemos interpretar esse adicional de 30% como um cálculo de 
custo-benefício aplicado a vida humana. Podendo citar como exemplo de atividades e operações 
perigosas o manuseio, transporte e fabricação de explosivos, inflamáveis, exposição a raios 
ionizantes ou substâncias radioativas, exposição à energia elétrica e exposição a roubos ou 
violência física, como segurança pessoal e patrimonial. 
 
• LIBERDADE DE ESCOLHA 
O quinto vídeo da série “Justice – Qual a coisa certa a fazer?” tem por objetivo expor e 
debater sobre uma das fortes teorias de direitos, o libertarismo, no qual afirma que indivíduos 
importam não só como instrumento a serem usados para um fim social maior ou para maximizar 
a utilidade, indivíduos são seres individuais, com vidas individuais dignas de respeito. Podendo 
 
ser considerado errado, baseado nessa teoria, pensar na justiça ou no direito simplesmente 
totalizando preferências e valores. 
O libertarismo é assim denominado por afirmar que o direito individual fundamental é o 
direito a liberdade, significando o direito de escolher livremente, de viver como bem entendermos, 
contando que respeitemos o direito dos outros de fazer o mesmo. 
Pela teoria de direitos do libertarismo há três coisas que a maioria dos estados modernos 
fazem que são ilegítimas e/ou injustas, são elas: a legislação paternalista (as leis que protegem as 
pessoas de si mesmas), a legislação moralista (leis que tentam promover a virtude dos cidadãos 
ou tentam dar expressão aos valores morais da sociedade como um todo), e qualquer tributação 
ou outra politica que tenha a finalidade de redistribuir renda ou riqueza dos ricos para os pobres. 
Nozick e outros libertários admitem que pode haver um Estado mínimo que tribute as pessoas 
para providenciar o que todos precisam: a segurança nacional, a polícia, o sistema judiciário para 
fazer cumprir contratos e o direito à propriedade. 
Outra ideia dos libertários é que não é possível saber se a distribuição de renda é justa ou 
injusta se não saber como se chegou a ela, sendo necessário observar dois princípios: justiça por 
aquisição ou posse inicial e se a distribuição surgiu por obra do livre consentimento. 
Segundo a Norma Regulamentadora n°6 do MTE, “considera-se Equipamento de 
Proteção Individual - EPI, todo dispositivo ou produto, de uso individual utilizado pelo 
trabalhador, destinado à proteção de riscos suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde no 
trabalho”, sendo encargos do trabalhador utilizar os equipamentos somente para a finalidade que 
se destinam, atendendo as instruções e orientações de uso, ficando responsável por sua guarda e 
conservação, bem como, da comunicação ao empregador quando os equipamentos se tornarem 
impróprios para o uso. 
A recusa injustificada do trabalhador ao uso dos EPI’s constitui ato faltoso (art. 158, § 
único, “b” da CLT) , ao colocar em risco a própria saúde, autorizando à empresa empregadora, 
através do seu poder diretivo, a adoção de medidas disciplinares cabíveis como advertências, 
suspensão de dias, e em últimos casos, quando do acometimento de faltas reiteradas, demissão 
por justa causa. 
Mesmo reconhecendo a importância do uso de EPI´s, para o libertarismo o uso obrigatório 
para a segurança própria se caracteriza como legislação paternalista, podendo ser considerada 
ilegítima e contra o direito individual fundamental a liberdade. 
 
• QUEM É MEU DONO? 
O sexto vídeo da série “Justice – Qual a coisa certa a fazer?” se inicia com um pensamento 
do economista libertário Milton Friedman, no qual salienta que muitas das funções que achamos 
normais para um governo, na verdade não o são; elas são paternalistas, um exemplo é a 
previdência social. Friedman afirma que é uma boa ideia as pessoas pouparem para sua 
aposentadoria nos anos produtivos, mas que é errado, é uma violação da liberdade pessoal quando 
o governo obriga todos, querendo ou não, a poupar parte da renda hoje para suas aposentadorias. 
Os libertários afirmam que usar alguém em nome do bem-estar geral é errado porque põe 
em questão o fato fundamental de que somos donos de nós mesmos, o fato moral fundamental da 
autopossessão ou autopropriedade, e é por isso que não podemos tributar alguém com o objetivo 
de redistribuição de rendas. Durante a palestra de Michael Sandel surge algumas objeções para 
esse pensamento, sendo elas: os pobres necessitam mais do dinheiro; a tributação consentida pelos 
https://www.contabeis.com.br/trabalhista/clt/
 
governos não é coerção; os bem-sucedidos devem algo à sociedade pelo seu sucesso, e os bem-
sucedidos possuem capital não totalmente por suas ações, mas por terem muito sorte. 
Para finalizar é citado John Locke, no qual afirmava: “A propriedade privada surge 
porque quando misturamos nosso trabalho com coisas sem dono passamos a ter um direito à 
propriedade dessas coisas. E o motivo disso é que somos donos do nosso próprio trabalho, e o 
motivo disso é que somos proprietários da nossa pessoa.” 
As contribuições para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) são obrigatórias e 
descontadas diretamente no salário dos trabalhadores, para que tenham acesso a 
benefícios como aposentadoria, salário-maternidade, auxílio-doença e auxílio-acidente, entre 
outros. Baseado em uma pesquisa realizada site contábeis, no ano de 2020, o INSS desconta R$ 
682,55 para salários iguais ou maiores que R$ 5.839,45, o salário médio de um engenheiroeletricista baseado no site QueroBolsa R$ 7.071. Podemos concluir que baseado no libertarismo 
esse pagamento de R$ 682,55 vai contra a liberdade pessoal dos trabalhadores. 
 
• PENSE NA SUA INTENÇÃO 
O decimo primeiro vídeo da série “Justice – Qual a coisa certa a fazer?” tem como 
principal filosofo o Immanuel Kant que oferece uma interpretação diferente sobre por que temos 
o dever categórico de respeitar a dignidade das pessoas e de não usá-las meramente como um 
meio, mesmo que para fins benéficos. 
Kant rejeita o utilitarismo, ele acredita que todos as pessoas possuem certa dignidade que 
exige nosso respeito, e o motivo para o individuo ser sagrado não deriva da ideia de que somos 
donos de nós mesmos, mas sim da ideia de que todos somos seres racionais e também somos 
autônomos, o que significa que somos capazes de agir e de escolher livremente, e não somos 
comandados pela dor e o prazer, diferente do que os utilitários acreditavam. 
Kant afirmava que agir livremente é agir de maneira autônoma, no qual é agir por uma 
lei que imponho a mim mesmo, não segundo as leis físicas da natureza ou as leis de causa e efeito 
que incluem meu desejo de comer e beber. Ele criou o termo heteronomia, é o oposto de 
autonomia, quando estou agindo segundo uma inclinação ou um desejo que não escolhi para mim 
mesmo. 
Para Immanuel o que torna uma ação moralmente valiosa não consiste nas consequências 
ou nos resultados que dela fluem, o que determina é o motivo pelo qual ela é feita e o importante 
é que a pessoa faça a coisa certa, pelo motivo certo. 
O engenheiro eletricista é essencial em tudo que envolve construção, afinal, trabalha 
com pesquisas e planejamento do uso de energia elétrica nos espaços. Todos os projetos da área 
elétrica devem ser gerenciados por esse profissional. Tendo em vista a grande responsabilidade 
desse profissional em uma área que a maioria das pessoas são leigas é de extrema importância 
que o mesmo atue com um código de ética, que seja um ser que faça a coisa certa, pelo motivo 
certo, como afirmava Kant; cobrando ao cliente o valor justo pelo serviço exercido e entregando 
projetos fidedignos. 
 
• O QUE É UM BOM COMEÇO? 
O decimo quinto vídeo da série “Justice – Qual a coisa certa a fazer?” tem embasamento 
nos pensamentos do professor de filosofia política John Rawls, segundo ele por trás do véu da 
ignorância, todo mundo sabe que assim que o véu é levantado e a vida real começa cada um de 
https://www.contabeis.com.br/trabalhista/aposentadoria/
 
nós vai desejar ser respeitado com dignidade, mesmo se formos membros da minoria não 
queremos ser oprimidos, então concordaríamos em rejeitar o utilitarismo e alternativamente 
adotar como nosso primeiro princípio as liberdades iguais e básicas, os direitos fundamentais de 
liberdade de expressão, liberdade de formar grupos, liberdade religiosa, liberdade de consciência, 
entre outras coisas. 
Rawls afirmava que as desigualdades sociais e econômicas serão permitidas se 
trabalharem para beneficiar os menos favorecidos, então nós não rejeitaríamos toda desigualdade 
de renda e riquezas, seria permitido caso ela sirva para beneficiar a todos, inclusive aqueles que 
estão por baixo, essa teoria é denominada princípio da diferença. 
John relaciona a desigualdade com uma corrida, onde mesmo que todos tenham a 
oportunidade de participar, mas se algumas pessoas começam em largadas diferentes essa corrida 
não será justa. Por isso podemos afirmar que o sistema de meritocracia é falho, pois o esforço 
aplicado em um objetivo depende de inúmeros fatores, como: uma situação familiar favorável, 
gênero, localização, apoio dos familiares, entre outros, pelo qual o ser não pode levar créditos. 
Segundo informações do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) da 
Secretaria da Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, numa amostragem de 214 
salários de profissionais admitidos ou desligados no cargo de Pesquisador de Engenharia Elétrica 
e Eletrônica, 39 são mulheres com salários médios de R$ 5.821,08 para uma jornada semanal 
de 43 horas e 175 são homens com remuneração salarial média de R$ 7.136,14 e jornada de 
trabalho de 42h por semana. 
 Essa pesquisa evidencia a extrema dificuldade da mulher no campo da engenharia 
elétrica, e os esforços absurdamente maiores quando comparado aos homens, recebendo a 
remuneração inferior, pelo simples fator gênero, evidenciando a falha da meritocracia. 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
SANDEL, Michael. In: JUSTICE – QUAL A COISA CERTA A FAZER?. Boston: WGBH, 
Harvard University. 
https://www.salario.com.br/graficos-da-pesquisa-salarial/ 
https://querobolsa.com.br/cursos-e-faculdades/engenharia-eletrica/quanto-ganha-engenheiro-
eletrico-salario 
https://www.contabeis.com.br/noticias/41767/inss-veja-quanto-sera-descontado-do-seu-salario-
em-2020/ 
 
 
 
 
https://www.salario.com.br/graficos-da-pesquisa-salarial/
https://querobolsa.com.br/cursos-e-faculdades/engenharia-eletrica/quanto-ganha-engenheiro-eletrico-salario
https://querobolsa.com.br/cursos-e-faculdades/engenharia-eletrica/quanto-ganha-engenheiro-eletrico-salario
https://www.contabeis.com.br/noticias/41767/inss-veja-quanto-sera-descontado-do-seu-salario-em-2020/
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