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Fundamentos de Marketing EDUARDO MURAD 1ª Edição Brasília/DF - 2020 Autores Eduardo Murad Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário Organização do Livro Didático........................................................................................................................................5 Introdução ..............................................................................................................................................................................7 Capítulo 1 Conceitos e fundamentos ...........................................................................................................................................9 1.1 Definição e orientações de marketing .............................................................................................................9 1.2 Características, semelhanças e diferenças: marketing de serviços, marketing de produtos, marketing pessoal e marketing territorial .......................................................................................................... 19 1.3 Definições estratégicas: missão, visão, estratégia, tática e operação ................................................ 25 1.4 Mercado: definição, tipos, demanda, concorrência, sazonalidade e segmentação ........................ 30 1.5 Valor ao cliente: cadeia de valor, rede de entrega de valor, satisfação e fidelização, custo de perda de cliente .......................................................................................................................................................... 43 1.6 Marketing mix e variações: 4 Ps, 4 As e 4 Cs ............................................................................................... 48 1.7 Marketing digital x off-line x híbrido .............................................................................................................. 55 1.8 Imagem, marca e reputação ............................................................................................................................ 57 1.9 Benchmarking .......................................................................................................................................................... 59 Capítulo 2 Análise Ambiental ...................................................................................................................................................... 61 2.1 Macroambiente .................................................................................................................................................... 61 2.2 Microambiente ..................................................................................................................................................... 69 2.3 Ambiente interno ................................................................................................................................................. 75 2.4 Análise ambiental: processos e cenários .................................................................................................... 78 2.5 Sistema de Inteligência de Marketing (SIM) e pesquisa de mercado ................................................ 80 Capítulo 3 Ferramentas e processos ......................................................................................................................................... 85 3.1 Inbound marketing, outbound marketing e content marketing ................................................................ 85 3.2 Marketing de relacionamento, endomarketing, marketing interno, EndoCRM .................................. 91 3.3 SWOT ........................................................................................................................................................................ 95 3.4 Diagnóstico estratégico: BSC, PEST e Oceano Azul ...............................................................................100 3.5 Tomada de decisão e GUT ..............................................................................................................................107 4 Capítulo 4 Consumidor e inovação ..........................................................................................................................................112 4.1 Definição: consumidor, shopper, usuário, prosumer e papéis de compra.........................................112 4.2 Comportamento do consumidor: autoimagem, hábitos, significados, jornada do consumidor e UX (user experience) .................................................................................................................................................123 4.3 Inovação: a perspectiva do consumidor ....................................................................................................129 Capítulo 5 Planejamento e métricas .......................................................................................................................................134 5.1 Planejamento 1: conceito e função ............................................................................................................135 5.2 Planejamento 2: modelos, processos e ferramentas .............................................................................137 5.3 Métricas: financeiras e não financeiras ......................................................................................................146 5.4 Métricas digitais ................................................................................................................................................153 Capítulo 6 Cultura digital e tendências ..................................................................................................................................156 6.1 Big Data .................................................................................................................................................................157 6.2 Neuromarketing .....................................................................................................................................................160 6.3 Marketing georreferenciado ...........................................................................................................................164 6.4 Marketing de experiência ................................................................................................................................167 6.5 Design thinking ...................................................................................................................................................170 Referências ........................................................................................................................................................................174 5 Organização do Livro Didático Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Cuidado Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. Importante Indicado para ressaltar trechos importantes do texto. Observe a Lei Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, a fonte primária sobre um determinado assunto. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importanteque ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. 6 ORgAnIzAçãO DO LIVRO DIDáTICO Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Gotas de Conhecimento Partes pequenas de informações, concisas e claras. Na literatura há outras terminologias para esse termo, como: microlearning, pílulas de conhecimento, cápsulas de conhecimento etc. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Posicionamento do autor Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado. 7 Introdução A disciplina destina-se a estimular os alunos a aprofundarem seus conhecimentos em Marketing, passando a conhecer suas principais ferramentas, conceitos e processos. Outro objetivo é dar suporte ao aperfeiçoamento do pensamento estratégico do marketing, aplicado às várias áreas de atuação de mercado. Sendo assim, ao final do curso, você estará mais apto a participar de reuniões em sua empresa, pensar nas estratégias de seu projeto ou empresa, se for um empreendedor, e discriminar as competências para analisar os ambientes de marketing, de forma crítica, inovadora e competitiva. Ao longo dos seis capítulos, você conhecerá os principais conceitos e fundamentos de marketing em uma organização. Serão apresentadas as análises ambientais e a construção de cenários. Será estimulado a usar as ferramentas e processos centrais do marketing contemporâneo. Observará para o mercado na perspectiva do consumidor e saberá quais são os princípios do planejamento e das métricas de marketing. Ao final, será provocado a observar a cultura digital e que tendências ela traz. Além do texto deste Livro Didático, é fundamental que você consulte os livros de referência, os artigos e demais materiais sugeridos para que seu desenvolvimento seja pleno. Aprender é um processo que depende tanto do professor quanto do aluno. O papel do professor é facilitar e mediar sua experiência com os conteúdos. Boa leitura. Objetivos » Conhecer conceitos ferramentas, as principais e os processos do marketing. » Aperfeiçoar o pensamento estratégico do marketing aplicado às várias áreas de atuação. » Discriminar as competências para analisar os ambientes de marketing, de forma crítica, inovadora e competitiva. » Distinguir a aplicabilidade das ferramentas de mercado, as diretrizes estratégicas de sua organização e dar suporte aos objetivos e metas da organização em que está inserido. » Compreender a função e a importância do composto de marketing e demais ferramentas clássicas. 8 9 Introdução O conteúdo do primeiro capítulo é essencial em sua jornada pelo mundo do marketing . Entender de forma abrangente os conceitos que fundamentam o marketing o ajudará ao longo de sua vida profissional. Na primeira unidade faremos um passeio pelos primeiros e mais fundamentais conceitos de marketing. A partir deles, você poderá observar a sua empresa e compreender um pouco melhor os caminhos adotados pelos gestores. Bom estudo. 1.1 Definição e orientações de marketing O termo marketing sofreu muitas distorções desde seu uso inicial, em meados do século XX. Algumas pessoas usam o termo marqueteiro de forma pejorativa, desmerecendo um profissional que é essencial para o sucesso de uma organização, de forma ética e diferenciada, entregando valor para o cliente e a sociedade. Entender os conceitos, ferramentas e processos de marketing o ajudarão a entender o mercado, seu consumidor e as oportunidades mais adequadas ao negócio. O marketing bem feito é usado por organizações com ou sem fins lucrativos, sejam públicas ou privadas. Ele está por toda parte, mas nem tudo é marketing. 1.1.1 Definições de marketing Existem diversas definições de marketing. Desde a primeira vez em que o termo foi usado, vários autores propuseram diferentes formas de explicar e defini-lo. As duas referências mais usuais são o professor Philip Kotler, da Northwestern University, considerado o “pai do marketing” e a American Marketing Association (AMA). 1CAPÍTULOCOnCEITOS E FUnDAMEnTOS 10 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS A definição de marketing para a AMA é: uma atividade ou conjunto de atividades e processos organizacionais para criar, comunicar e entregar e trocar ofertas de valor a consumidores, clientes, parceiros e à sociedade em geral (AMA, 2017, tradução nossa). O marketing pode até ser feito pela alta direção, mas será entregue pela pessoa do balcão, a telefonista, o entregador, o suporte técnico, o vendedor e todas as pessoas da linha de frente. Além disso, a entrega depende do pessoal de backoffice, que não lida com o cliente, mas que compra o insumo certo, no preço adequado, desenvolve novos produtos, repensa os processos, produz, controla as atividades, gerencia as finanças e demais áreas internas. A qualidade das decisões da alta gestão dependerão da qualidade das informações geradas pelas diferentes pessoas da organização. Ter o produto certo, com o preço certo, a comunicação certa, o lugar de venda certo, com a estratégia de relacionamento certa, as pessoas de atendimento certas, é um trabalho integrado, de toda a organização. Só assim, você poderá construir relacionamentos lucrativos com seus clientes, capturando e entregando valor, de forma diferenciada e sustentada no longo prazo. Para Peter Drucker (apud KOTLER; ARMSTRONG , 2014, p. 4), “O objetivo do marketing é tornar a venda desnecessária”. Kotler e Armstrong (2014, p. 4), definem marketing como Processo pelo qual empresas criam valor para os clientes e constroem fortes relacionamentos com eles para capturar valor deles em troca”. Uma das análises que podemos fazer da definição de Kotler e Armstrong (2014), é a de que tem uma dimensão social, ampla. O sucesso de uma empresa depende da qualidade e do tipo de interações que tem com o ambiente produtivo em que está inserida. Os “muros” de uma organização deveriam ser porosos para que, em um processo de trocas multidirecionais, possa entender e ser entendido por esse ambiente. Criar valor e ter relacionamentos fortes são dois elementos centrais na definição atual dos autores. Quando falamos de relacionamentos, para começar o debate, precisamos acrescentar que esse olhar interfere em diversas dimensões da organização. Vamos citar dois essenciais: » Comunicação: uma empresa competitiva entende que a comunicação é um vetor estratégico. Portanto, deve participar das decisões da alta gestão. Os seus efeitos e demandas deveriam ser a matriz de decisão gerencial. A comunicação, muitas vezes, é o primeiro contato dos consumidores e da sociedade em geral, com a empresa. Ela apresenta, explica, gera sentido e estimula desejo de comprar um produto ou 11 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 serviço. Faz a ponto entre a realidade concreta, palpável de um produto/serviço e as demandas e representações simbólicas e significados de seu uso, para grupo de consumidores alvo. Quando pensamos a comunicação como uma ponte entre dois universos, a organização e seus stakeholders (internos e externos), dizer que o marketing tem como função construir relacionamentos fortes, indica uma frequência de contato, linguagem, plataformas, função, conteúdos e toda uma gama de elementos que irão definir a comunicação, dentro das estratégias do marketing. » Pesquisa edesenvolvimento (P&D): a inovação pode vir de várias fontes – avaliação continuada do produto/serviço, sistemas formais de inovação, da concorrência, mudanças tecnológicas, mudanças legais, descoberta de novos insumos e materiais e do consumidor e suas formas de usar, representar e desejar um produto/serviço. Ter relacionamentos fortes, próximos e internalizar a visão do consumidor no desenvolvimento dos produtos e das estratégias da organização, permite criar valor, na perspectiva dele, encontrando formas lucrativas de entregar tal valor. Figura 1. Marketing como processo. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hand-turning-button-evaluation-phase-composite-655318024. Podemos dizer, de forma ampla, que o marketing se destina a atrair novos clientes, gerando ofertas diferenciadas, superiores às propostas pela concorrência e manter os clientes atuais satisfeitos e encantados, de forma lucrativa, mantendo um relacionamento próximo e significativo. 1.1.2 Processos de marketing Para que uma organização entregue o valor ao cliente, precisamos entender os processos centrais do marketing. São, na perspectiva de Kotler e Armstrong (2014), os processos de marketing podem ser organizados em cinco etapas centrais, como representado na figura a seguir. 12 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Figura 2. As cinco etapas dos processos de marketing. Entender o mercado, bem como as necessidades e os desejos do cliente. Elaborar uma estratégia de marketing orientada para o cliente Desenvolver um programa de marketing integrado que entrega valor superior Construir relacionamentos lucrativos e deixar os clientes encantados Capturar valor dos clientes para gerar lucros e customer equity. Captura valor dos clientes em troca Criar valor para os clientes e construir relacionamento com eles Fonte: Kotler e Armstrong (2014). Entender o mercado atual e seus clientes Para desenvolver estratégias, táticas e ações eficientes de marketing, é importante levantar informações atualizadas, pertinentes, consistentes e relevantes. Planejar é uma forma de reduzir riscos, ampliar os resultados e tornar as decisões organizacionais eficientes (processo) eficazes (resultado). Desta forma, o primeiro processo de marketing é justamente o de entender as necessidades e os desejos dos clientes alvo e a estrutura e a lógica do mercado atual. Você verá, nos tópicos a seguir, um detalhamento de cinco conceitos centrais dessa etapa: necessidades, desejos e demandas, oferta, valor e satisfação, trocas e relacionamentos e mercados. Desenvolver uma estratégia de marketing orientada para o cliente Um mesmo cenário pode gerar diferentes estratégias. Qual será adotada pela organização dependerá de seu posicionamento estratégico, sua capacidade de entrega de valor, os objetivos de curto, médio e longo prazos, os interesses de seus gestores e controladores. A estratégia, por mais criativa que seja, pode ser ou não coerente com a empresa e seu momento de mercado. Fazer um confronto entre os interesses e capacidades das organizações com as demandas e desejos dos clientes e consumidores é a arte em questão. Figura 3. Informação, a base da estratégia. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/business-people-meeting-design-ideas-concept-365392142. 13 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Uma vez que você conheça quem é o seu público, é fundamental se perguntar e articular soluções para a pergunta – como criar e entregar valor superior aos clientes? Como podemos atendê-los hoje, melhor do que ontem? Qual é a nossa proposta central de valor? [...] administração de marketing como a arte e a ciência de escolher mercados-alvo e construir relacionamentos lucrativos. A meta de um gestor de marketing é encontrar, atrair, manter e cultivar clientes por meio da criação, da entrega e da comunicação de valor superior para eles. (KOTLER; ARMSTRONG, 2014, p. 8). É por isso que cabe, ao gestor da empresa, administrar os recursos, as metas e as estratégias, acompanhando os indicadores e fazendo os ajustes necessários para alcançar os objetivos traçados. Aqui, como propõem Kotler e Armstrong (2014), entendemos: Preparação de um plano e de um programa de marketing integrado Até aqui, você foi ao mercado e tentou entender como ele está estruturado e quem é o seu provável cliente/consumidor. Agora está na hora de articular o COMO você entregará valor ao cliente. Que valor será esse? Para que cliente? Em que condições? Usando que recursos? Para ter resultado em que prazo? Você fará uma proposta estratégica, com parâmetros, entregáveis e objetivos claros. Essa será a sua estratégia de marketing. Ou seja, precisa criar a oferta (o produto/serviço) que atenda e satisfaça a uma necessidade e desejo; definir que preço e condições de pagamento adotará (preço); precisará escolher como disponibilizará a oferta ao cliente-alvo (praça). Por fim, como o cliente saberá que a oferta existe? Como entenderá os diferenciais e será estimulado a dar preferência e consumir a nossa oferta (promoção). É no programa de marketing que se encontram as ações e táticas de captação, desenvolvimento e relacionamento com o cliente. Construção do relacionamento com os clientes Considerando o impacto das NTICs (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação) sobre as estratégias das organizações, bem como a facilidade logística global e a pouca diferenciação técnica entre os produtos e serviços, são os ativos intangíveis como a marca, a reputação, a capacidade de inovar, o clima organizacional, dentre outros, que irão gerar vantagens competitivas. O relacionamento com os clientes é um ponto central. Se, como já dito, as empresas orientadas para o marketing deveriam partir do cliente para dentro de sua operação, poderíamos dizer que as empresas seriam orientadas ao cliente. 14 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Figura 4. Confiança, a base dos relacionamentos estratégicos. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/man-fingers-setting-trust-button-on-294782234. Não adianta aparecer apenas na hora de vender. Poderíamos dizer que não chegaria a ser um relacionamento. Mesmo que o cliente esteja satisfeito, ofertas similares, com poucas diferenças, podem fazer o cliente migrar da sua oferta para outras. É fundamental, num mar global de concorrência e constantes mudanças (volatilidade), ter um sistema e estratégias de gestão do relacionamento com o cliente, um CRM. Mais importante do que ter ferramentas muito sofisticadas e complexas de CRM, é ter estratégias consistentes e efetivas de gestão das informações geradas por e sobre o consumidor. As redes sociais digitais abriram um enorme espaço para interação com os seus atuais e potenciais clientes. Fazer parte, de forma ética e relevante, nos temas e redes em que seus clientes-alvo estão é rico. Permite acompanhar as mudanças culturais, a linguagem, as formas de agir e consumir. Pode ser uma plataforma de gestão da relação, base de pesquisas, central de atendimento e de reclamações. Com estratégias de cocriação com eles, de crowdsourcing, possibilita internalizar a inteligência coletiva. Atenção CRM é uma sigla em inglês – Customer Relationship Management. Uma tradução possível seria Gestão de Relacionamento com o consumidor. Existem diversas ferramentas para gerenciar esses conjuntos de dados sobre o seu consumidor. 15 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Você poderá repensar os produtos, os processos, a comunicação e o que mais desejar. Uma boa relação nas plataformas digitais permite ter um pulso atualizado e ágil sobre como a sua marca está no mercado. Captura de valor dos clientes e cálculo de perda do cliente Kotler e Armstrong (2014), nos lembram que conquistar um cliente novo chega a ser cinco vezes mais caro do que manter um cliente antigo. Também destaca que a perda de cada cliente representa a perda de todo o faturamento futuro, potencial. Acrescente-se a isso os clientes que eleinfluenciará a saírem de sua base e os que ele não indicará. Ou seja, perder um, apenas um cliente regular, pode ser muito arriscado em momentos de crise ou estagnação econômica. Um cliente tem um valor atual e um valor potencial ao longo do tempo. Lembre-se de que, dependendo do seu mercado, ele pode tender a consumir gradativamente mais de seu produto, em função de seu ciclo de vida. Figura 5. Captura de valor. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/conceptual-hand-writing-showing-capture-value-1501088129. Muitos clientes buscam bons produtos, mas poucos estão dispostos a pagarem mais caro para isso. Vale destacar que estamos retirando desta análise os produtos Atenção Crowdsourcing é um neologismo em inglês, que apareceu, pela primeira vez na revista Wired, no artigo, artigo The rise of crowdsourcin”, de 2006. Mark Robinson e Jeff Howe juntarão dois conceitos em uma nova proposta: crowd (multidão) e outsourcing (terceirização). Nomearam um movimento que estava começando a crescer de trazer para dentro dos muros da corporação a inteligência coletiva. Na área de tecnologia isso é muito recorrente. Os softwares open source funcionam assim. A coletividade programa e disponibiliza módulos, soluções em colaboração aberta. No marketing temos diversos exemplos impactantes de produtos novos (starbucks), campanhas de comunicação (Ambev), campanhas eleitorais (Barack Obama), criadas assim. A colaboração está na base da cultura digital, nas lógicas de gestão de projetos com métodos ágeis, na facilitação de processos e no design thinking. 16 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS premium, exclusivos, de alto preço e valor. Ainda assim, dentro de seu nicho, não há, normalmente, motivos que justifiquem pagar mais caro do que a oferta média, similar, que existe no nicho em questão. O ideal para uma empresa é ser a opção escolhida para os três produtos, aumentando a participação no cliente. O ideal é ter alto customer equity, que é o total do valor gerado por sua base de clientes, ao longo do tempo. É uma análise do valor potencial da sua base de clientes. 1.1.3 Orientações de marketing A perspectiva que a empresa tem sobre o mercado afetará na lógica de gestão e produção. Essas formas têm variado ao longo das décadas, em função das tecnologias de produção, sistemas logísticos, novos insumos, hábitos do consumidor, legislações e acordos multilaterais, dentre tantas outras variáveis mercadológicas. Cada olhar representa uma orientação de marketing, conforme apresentado a seguir. » Orientação de produção: a empresa orientada à produção tem foco nos processos operacionais produtivos e de distribuição. Busca otimizar processos, reduzir custos e manter seus preços baixos. Se Observarmos a perspectiva de Porter (1989), podemos dizer que adota a estratégia competitiva de ganho de escala. Essas empresas acreditam que os consumidores preferem produtos baratos e facilmente disponíveis. As áreas fortes da empresa serão as atreladas ao processo produtivo. Figura 6. Marketing orientado à produção. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/manager-engineer-check-control-automation-robot-1119927341. » Orientação de produto: as que se orientam ao produto não deixam de querer baixos custos e eficiência na produção e distribuição. Contudo, acreditam que as pessoas buscam produtos com melhor desempenho, mais inovadores, com mais qualidade percebida. O centro da organização é o de pesquisa e desenvolvimento. Os consumidores podem mudar a forma de analisar os próprios desejos e necessidades, mudando as lógicas de escolha, de tomada de decisão sobre como irão satisfazer seus impulsos de consumo. 17 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 » Orientação de vendas: aquelas que direcionam seus esforços para as vendas continuam a buscar formas melhores de produzir e distribuir, bem como de terem produtos competitivos. Entretanto, acreditam que os consumidores escolhem as melhores ofertas a partir das políticas de preço e vendas: valor, parcelamento, descontos, promoções, vantagens por volume de compra, formas de pagamento, benefícios complementares, prazos, pacotes integrados de produtos. O setor mais importante da empresa é a área de vendas. Figura 7. Orientação de vendas em marketing. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/hand-writing-time-sell-concept-red-375473497. » Orientação de marketing: a organização orientada ao marketing pensa e age de fora para dentro da empresa. Ela é centrada no consumidor. Busca, intensamente, entender os desejos, as necessidades, o perfil, a jornada de consumo, os significados sociais e estratégias culturais de consumo. Parte do “o quê” e do “como” o consumidor quer a entrega de valor. A partir desse ponto, desenvolve seus produtos e serviços. Para que possa fazer essa entrega de forma competitiva e lucrativa, continuará a zelar pelos processos de produção. Naturalmente modificará e melhorará o produto, a partir da ótica do consumidor. Buscará as estratégias de vendas que atraiam mais consumidores e aumentem o volume de vendas. Figura 8. Comparativo da orientação de vendas com a de marketing. A orientação de vendas trabalha com uma visão de dentro para fora que se concentra nos produtos existentes e em vendas pesadas. O objetivo é vender o que a empresa fabrica, em vez de fabricar o que os clientes querem. Orientação de vendas Orientação de marketing Produção Produtos existentes Vendas e Promoção Lucro por meio de volume de vendas Ponto de partida Focos Meios Fins Marketing Necessidades do cliente Marketing Integrado Lucros por satisfação do cliente A orientação de marketing trabalha com uma visão de fora para dentro que se concentra na satisfação das necessidades do cliente como caminho para os lucros. Como disse o fundador das Southwest Airlines: “Nós não temos um departamento de marketing; temos um departamento do cliente”. Fonte: Kotler e Armstrong (2014). 18 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS » Orientação de marketing societal: diversas empresas, de todos os portes e áreas de atuação, têm se orientado a atender às necessidades e desejos atuais de seus mercados, buscando, simultaneamente, contribuir com o bem-estar social e a proteção do meio ambiente. Atender às demandas do presente de forma sustentável, visando estimular e atender às demandas das gerações futuras. Isso leva a empresa a entender como legítimas as demandas e exigências dos diferentes stakeholders. Figura 9. Stakeholders primários e secundários. Governo Sindicatos Meio Ambiente Mídias Órgãos Reguladores Terceiro Setor Formadores de Opinião Proteção ao Consumidor Entidades de Classe Concorrentes Stakeholders Primários Stakeholders Secundários Acionistas Fornecedores Compradores FuncionáriosComunidade SUA MARCA Grupos de Interesse Fonte: Adaptado de Freeman, 2010. 1.1.4 Golden Circle Simon Sinek, sugere que as empresas, ao criarem seus planos estratégicos, seus produtos e gerarem valor ao cliente, deveriam começar pelo propósito, o porquê, depois determinar como desenvolverão e entregarão essa proposta de valor, tendo um posicionamento claro e simples de ser entendido. Só então, deveriam determinar o que irão oferecer. Ele indica que as empresas inovadoras, com melhores resultados financeiros, proximidade com os consumidores e com marcas diferenciadas seguem esse processo. Muitas outras, pouco diferenciadas, fazem o trajeto inverso, podendo ficar reféns de possíveis miopias de marketing e não serem empresas inspiradoras, nem interna, nem externamente. 19 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Figura 10. Golden Circle. Fonte: Simon Sinek (2009). 1.2 Características, semelhanças e diferenças: marketing de serviços, marketing de produtos, marketing pessoal e marketing territorial Ao comprarmos um produto físico, uma cadeira, um carro, uma geladeira, usamos um conjunto diferente de parâmetros na tomada de decisão daquele usado ao escolherum filme, uma viagem, uma operadora de tv por assinatura. Para selecionar o seu coach, consultor, médico ou advogado, bem como quem na sua equipe deverá executar uma tarefa, você usará outros critérios. Não serão os mesmos que o da geladeira ou do computador. Existem princípios e processos centrais, gerais, mas cada tipo de mercado exige um conjunto complementar de análises para atender às formas de consumir de seu cliente-alvo. Atenção Simon Oliver Sinek é um inglês, autor de cinco livros sobre motivação, liderança e empreendedorismo e criador do conceito do Círculo Dourado (Golden Circle). É instrutor de Comunicação Estratégica da Columbia University. Proferiu um dos TED Talks mais vistos do mundo. Sugestão de estudo Leia o capítulo Criação e captura de valor para o cliente – KOTLER, P.; ARMSTRONG, G. Princípios de Marketing. 15. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2014. 20 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS 1.2.1 Marketing de produtos Ao ser comprado, passamos a ter posse do produto. Um produto pode ser revendido e gerar posse, propriedade e valor de troca, diversas vezes. Normalmente, ele já está pronto quando você o compra e utiliza. Ou seja, o processo de produção acontece em lugar e tempo diferente do que a compra e o consumo. Um produto, em geral, pode ser produzido de forma regular, adotando a mesma técnica e “garantindo”, durante a produção, que terá as mesmas características de todos os outros que foram fabricados na mesma empresa, no mesmo momento, com os mesmos insumos. A qualidade e as características técnicas podem ser atestadas antes de ser usado. A produção depende pouco ou nada do consumidor final. O marketing de produto trabalha com os 4 Ps (produto, preço, praça e promoção), para articular as estratégias de tais ofertas. 1.2.2 Marketing de serviços Um serviço por sua vez, não tem uma materialidade óbvia, direta, ou que gere posse para quem o utiliza. Um serviço pode, normalmente, ser descrito como um conjunto de processos. Informações, consultorias, treinamentos, aluguéis, hospedagens, transporte, dentre tantas outras ofertas de mercado, são serviços. Figura 11. Marketing de serviços. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/businessman-pressing-button-on-touch-screen-350999087. Diferente de um produto tangível, os serviços são intangíveis. Não conseguimos descrevê-los por suas características físicas. Serviços dependem fortemente das pessoas que os prestam. O ambiente e as características físicas, de ambiência (dimensões, localização, acústica, temperatura, iluminação, cheiros, acesso e acessibilidade, horário de funcionamento, mobiliário, dentre outras) impactam na percepção de qualidade e na satisfação do cliente. Considerando que pagamos pelo uso ou acesso ao serviço, não temos posse dele. Não conseguimos transferir o serviço em si. No caso de serviços digitais, temos outras questões interessantes. Ao consumir um vídeo em um serviço de streaming (transmissão digital de audiovisual), você não está esgotando os estoques da empresa que está lhe entregando a oferta. Ela continua tendo a possibilidade de alugar, de dar acesso, 21 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 virtualmente infinito, a outros usuários. Cabe destacar que não estamos entrando em análise nos limites da infraestrutura, na capacidade do servidor de internet, de banda larga, usado pela empresa de streaming. Figura 12. Pessoas em serviços. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/female-janitor-cleaning-supplies-kitchen-1571020054. Se você tem um contrato de streaming que lhe dá acesso 24h/dia, sete dias/semana, 365 dias/ano, em um ponto fixo em sua casa, quando você está na rua ou em outro cômodo, não está usando e não tem como recuperar esse custo ou a possibilidade de uso. Algumas empresas de acesso à internet possuem contratos que permitem cancelar ou reduzir os valores em períodos em que você esteja viajando ou não fará uso. Já pensou como seria poder pagar por um produto e poder receber um valor de volta, se você o consumisse menos? Hoje, com os modelos de compra e venda (não confunda com aluguel, leasing ou similares), isso não é possível. Em um serviço, além dos 4 Ps do marketing mix: produto/serviço, preço, praça e promoção, precisamos acrescentar: pessoas, ambiente, processos, prazos e algumas outras características de serviços. É importante analisar os GAPs de serviços. Figura 13. gAPs em serviços. Comunicação Boca a Boca Necessidades Pessoais Experiências Passadas Serviço Esperado Serviço Percebido Entrega de Serviço Especificações da Qualidade do Serviço Percepções dos Gerentes sobre as Expectativas dos Consumidores CONSUMIDOR EMPRESA GAP 5 GAP 3 GAP 2 GAP 1 GAP 4 Comunicações Externas aos Consumidores Fonte: Lovelock; Wirtz e Hemzo (2011). 22 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Lovelock, Wirtz e Hemzo (2011), sugerem a organização dos mercados de serviços de não propriedade em cinco categorias: » locação de bens; » locação de espaços e locais delimitados; » locação de experiência ou pessoas; » acesso a ambientes físicos compartilhados; » acesso a sistemas e redes e seu uso. Cada uma delas terá estratégias específicas para se diferenciar e entregar valor ao cliente, bem como captar valor do cliente. De forma resumida, as principais características de um serviço são: » intangibilidade; » inseparabilidade; » variabilidade; » perecibilidade; » não gera transferência de propriedade; » depende de pessoas, tecnologias e/ou processos. Em função de tais características, a qualidade em serviços depende de: » confiabilidade (cumprir o que foi prometido); » fazer certo da primeira vez, e todas as vezes; » cumprir prazo todas as vezes; » prestabilidade/pró-atividade (ser prestativo, ter iniciativa para a solução de problemas, manter o cliente informado etc.); » evidências físicas (atmosfera dos serviços); » recuperação dos serviços (ações a executar quando ocorrerem falhas na prestação do serviço); » reputação e credibilidade (competência, autoconfiança, segurança); » empatia (atitudes, comportamento, cortesia, comunicação clara e objetiva, compreensão e conhecimento do cliente); » acesso e flexibilidade. 23 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Agora que você entendeu um pouco melhor o que é um serviço, que tal analisarmos uma das definições mais usuais de marketing de serviços? Serviços são atividades econômicas que uma parte oferece a outra. Geralmente baseadas no tempo, seu desempenho traz a seus destinatários os resultados desejados, objetos ou outros ativos pelos quais os compradores têm responsabilidade. Em troca de dinheiro, tempo e esforço, os consumidores de serviços esperam receber o valor do acesso a bens, mão de obra, habilidades profissionais, instalações, redes e sistemas, mas eles não costumam deter a propriedade de qualquer um dos elementos físicos envolvidos (LOVELOCK; WIRTZ; HEMZO, 2011, p. 21). É importante destacar algumas palavras na definição dos autores. Eles falam de desempenho. Serviços são variáveis, o desempenho pode variar de forma contextual. O tempo, as pessoas envolvidas (prestadores de serviço e clientes) e o processo de entrega (etapas, pessoas, suportes) interferem. Exige atenção continuada do prestador de serviço. Todo contato, toda prestação de serviço é uma hora da verdade. É uma experiência única. Não se repete. É um troca, não só de dinheiro. Eles incluíram dinheiro, tempo e esforço. O processo do serviço é um ponto central para a percepção do resultado desejado. Mostram que, geralmente, não há transferência de propriedade. Há acesso a bens, lugares, sistemas ou informações. É algo temporário, transitório. Note que, pelo fato de os serviços serem intangíveis, a percepção total da qualidade não depende só do resultado técnico. É uma grande experiência. Assim, é necessário que você tenha grande atenção às formas e estratégias de tangibilização do serviço prestado.A ambientação (mesmo em plataformas digitais), as pessoas, os processos, o tempo, as tecnologias, as interações e os produtos de suporte são dimensões que podem gerar oportunidades para você tangibilizar o serviço prestado. Figura 14. Escala comparativa de serviços e produtos. Baixo Detergentes Tocador de CD Sal Vinho Clubes de golfe Carro novo Roupa sob medida Restaurante fast-food Serviços de encanador Academia de ginástica Conservação de jardins Consultoria Seguro de vida Serviços bancários pela internet Alto Alto ELEMENTOS INTANGÍVEIS E L E M E N T O S T A N G Í V E I S Companhia aérea Fonte: Lovelock; Wirtz e Hemzo (2011, p. 22). 24 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS 1.2.3 Marketing pessoal Marketing pessoal, de forma geral, pode ser explicado como estratégias, processos e ferramentas de marketing aplicados a pessoas físicas, profissionais ou não, que desejam se posicionar e atuar em áreas específicas, gerando valor a seus públicos de interesse e captando valor em troca. Você deverá desenvolver, todas as outras dimensões que um produto ou serviço competitivo: » missão, visão, valores, posicionamento; » imagem, marca, reputação e autoridade; » estratégias de comunicação, de marketing, de vendas; » processos e indicadores de gestão; » chancelas que atestem sua autoridade: certificações, depoimentos, clientes, indicações, seguidores e presença nas redes sociais; » network; » um portfólio adequado ao tipo de autoridade (conhecimento, habilidade ou competência) que desenvolveu para você. 1.2.4 Marketing territorial Diferente dos anteriores, as dimensões de análise e posicionamento estão atreladas à história, à infraestrutura logística, aos ativos e atrativos produtivos, econômicos, culturais, artísticos, arquitetônicos e políticos. Lugares como cidades, países, territórios produtivos ou criativos, assim como produtos, serviços ou pessoas, podem construir marcas, diferenciais competitivos ou estratégias de posicionamento. Figura 15. Marca de cidades. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/love-new-york-typography-design-215409568. 25 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Conceitos complementares como marca de cidades, países ou territórios, fazem parte desse ecossistema de marketing. Segundo Reis e Nassar, (2013), A marca de uma cidade pertence à cidade e de forma abrangente a todos aqueles que a compõem e a vivenciam. Nessa lógica, a imagem da marca- cidade não é um produto exclusivo das narrativas advindas da ação mercadológica e institucional de seu governo, mas é, também, produto de uma autoria que inclui aqueles que a vivem ou consomem como visitantes ou ainda a experimentam como empresários, investidores, entre outros papéis. É multidimensional, por mais que também vá demandar a criação de um composto de marca, reputação, posicionamento, diferenciais competitivos, estratégias de comunicação, dentre outros. Note que o que varia nos diferentes tipos de marketing até aqui apresentados são as características da área de aplicação dos fundamentos e do pensamento de marketing, bem como as ferramentas complementares e estratégias específicas. Para aprimorar seus conhecimentos, você pode acessar os vídeos abaixo relacionados. Vale conferir! Vídeo 1 – TED Talk do diretor de marketing da Google: Dan Cobley: o que a Física me ensinou sobre Marketing. Disponível em: https://youtu.be/8cwW_S29faQ Vídeo 2 – TED Talks Seth Godin – Pão em fatias, por Seth Godin. Disponível em: https://youtu.be/xBIVlM435Zg. Acesso em: 19 de setembro de 2020. 1.3 Definições estratégicas: missão, visão, estratégia, tática e operação O primeiro ponto de qualquer empresa ou empreendimento, é determinar suas dimensões estratégicas. O que ela é conceitualmente? Como ela atuará no mercado? Aonde quer chegar em alguns anos? Como quer ser vista? Sugestão de estudo Leia o capítulo 1 do livro de LOVELOCK, Christopher, WIRTZ, Jochen, HEMZO, Miguel Angelo. Marketing de serviços: pessoas, tecnologias e estratégia. São Paulo: Pearson, 2011. Leia o artigo: REIS, Patrícia; NASSAR, P. As estratégias de comunicação da marca Rio em eventos de alta visibilidade: o caso da Rio+20. Revista Brasileira de Comunicação Organizacional e Relações Públicas, v. 10, pp. 221-238, 2013. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/139206. Acesso em: 19 de setembro de 2020. 26 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Pensar estrategicamente significa ter uma visão crítica, criativa e atenta às tendências do mercado. A lógica da “guerra” é adequada ao mercado empresarial, uma vez que são organizações em disputa por objetivos simulares em um ambiente de escassez. A estratégia indica como chegaremos aos nossos objetivos futuros, com os recursos atuais. Por isso, devemos ter clareza sobre algumas dimensões fundamentais para a definição de como agiremos no mercado, sendo lucrativos. 1.3.1 Missão A missão é a razão de ser de uma organização. É o propósito dela. A que necessidades da sociedade deve atender, de forma lucrativa. Aqui, cabe uma ressalva. Organizações públicas ou privadas, com, ou sem fins lucrativos, devem delinear sua missão. Considerando que a missão define o seu para quê, é um ponto central para articular as diretrizes estratégicas, a visão, a infraestrutura, o mercado-alvo e todas as dimensões subsequentes. Por tal motivo, a missão é a descrição do que é a empresa. O que ela faz, para quem faz, como faz, com que valores. Ela deve ser suficientemente ampla a ponto de permitir acompanhar as mudanças de cenário, sem ter que reinventar a empresa o tempo todo. Ao invés de descrever produtos/serviços ou tecnologias, deveria estar orientado a necessidades da sociedade. Por outro lado, precisa ser específica para delimitar o que ela faz. A missão posiciona a empresa e dá contornos aos objetivos de curto, médio e longo prazos, bem como nas estratégias necessárias para atingir tais objetivos. Não são apenas financeiros, devem ter dimensões sociais, humanas e até mesmo ambientais. Ou seja, sustentáveis, nas perspectivas do Triple Bottom Line, definida pelo britânico John Elkington, nos anos 1990. Atualmente, consideramos importante acrescentar a dimensão cultural, como no gráfico a seguir. Figura 16. Triple Bottom Line. Triple Bottom Line Fonte: Adaptada de John Elkington (1990). 27 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Portanto, apresentamos um caminho prático para escrever a sua missão. Responda às perguntas a seguir: 1. Por que a empresa existe? Qual é o propósito? A que necessidades sociais a empresa deve atender? Qual é o nosso negócio? 2. O que a empresa faz? Cuidado para não ser excessivamente específico. Se a Olivetti tivesse dito que fazia máquinas de escrever, teria que mudar a missão ou fechar as portas, quando do advento dos computadores. 3. A quem deve atender? Está direcionada para que mercados e públicos? Não precisa ser uma definição de segmentação ou público consumidor. 4. Quais são os pontos que a diferencia das demais? Como pretende se posicionar no mercado? Que promessa de valor será entregue ao cliente final? 5. Com que valores e princípios de tomada de decisão? Veja a seguir, um exemplo de missão: Construir um futuro de sucesso juntamente com a The Coca-Cola Company que nos permita: Proporcionar valor aos nossos acionistas, graças a um crescimento sólido e rentabilidade a longo prazo. Promover o crescimento dos nossos colaboradores, sendo uma empresa aspiracional para trabalhar. (Coca-Cola European Parteners). Uma empresa digital pode entender que três a cinco anos é longo prazo. Uma mineradora pode considerar que 15, 20 anos são longo prazo. Independentemente do que considerar longo prazo, cabe avaliar, periodicamente, se a missão ainda é um norte claro, presente na cultura da organização e que lhe traz parâmetros para as decisões globais. Sua missão deveria ser orientada para o mercado. Veja a tabela de exemplos a seguir. Tabela 1. Exemplos de declaraçõesde missão, orientadas para o mercado. Empresa Definição orientada para o produto Definição orientada para o mercado Facebook Somos uma rede social. Conectamos pessoas ao redor do mundo e as ajudamos a compartilhar importantes momentos de sua vida. Hulu Somos um serviço de vídeo on-line. Ajudamos as pessoas a acessar seus vídeos favoritos a qualquer hora, em qualquer lugar. Home Depot Vendemos ferramentas e itens para fazer reparos e melhorias em casa. Oferecemos ao cliente a possibilidade de ter a casa de seus sonhos. nASA Exploramos o espaço. Alcançamos novos horizontes e revelamos o desconhecido, de modo que aquilo que fazemos e aprendemos beneficiará toda a humanidade. Revlon Fazemos cosméticos. Vendemos estilo de vida e autoexpressão; sucesso e status, lembranças, esperanças e sonhos. 28 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Empresa Definição orientada para o produto Definição orientada para o mercado Hotéis e resorts Ritz-Carlton Alugamos quartos. Criamos a experiências Ritz-Carlton – uma memorável estadia que excede, de longe, a já alta expectativa dos hóspedes. Walmart Operamos lojas de descontos. Oferecemos preços baixos todos os dias e damos às pessoas comuns a chance de comprar as mesmas coisas que as pessoas ricas. “Economize dinheiro. Viva melhor.” Fonte: Kotler e Armstrong (2014, p. 45). 1.3.2 Visão A visão é um olhar necessário sobre o futuro da organização. É uma diretriz macro, geral, de longo prazo. Onde e como a empresa deve estar no longo prazo, em seu mercado. Diferente da missão, a visão pode e deve ser revista com maior periodicidade, no médio prazo. Dela nascem os indicadores de desempenho de longo prazo. Desta forma, você pode pensar, ao construir a visão, que respostas daria para as seguintes perguntas: » Qual será a nossa participação de mercado? » O que se almeja para o futuro? » O sonho é atingível, realista? Dele nascem os objetivos e metas futuras. » No que a empresa quer se tornar e em que direção empregará seus esforços? » Como pretende ser vista, percebida pelo mercado? Aqui, estamos falando do posicionamento estratégico, da marca e da reputação da organização. » Qual será o cenário em que queremos atuar? » Como essa visão se alinha com os princípios apontados na missão e descritos nos valores estratégicos? Veja o exemplo da Petrobras: “A melhor empresa de energia na geração de valor para o acionista, com foco em óleo e gás e com segurança, respeito às pessoas e ao meio ambiente (PETROBRAS, 2020).” 1.3.4 Estratégia Estratégia define como atingiremos a visão. Não basta saber aonde queremos chegar, com que faturamento, em que mercados, com que percepção. É importante dar caminhos consistentes, uma forma para chegarmos lá. A mesma visão, com os mesmos objetivos e metas, pode ser atingida de diferentes maneiras. Você pode aumentar o portfólio de produtos, mudar a estrutura de preços, a forma de produção, as políticas de vendas, de marketing, a infraestrutura e tantas outras dimensões. 29 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 Figura 17. Etapas do planejamento de marketing. Assim como a estratégia de marketing, a empresa, no sentido mais amplo, deve ser focada no cliente. Definição da missão da empresa Estabelecimento de objetivos e metas para a empresa Desenvolvimento do portfólio de negócios O planejamento estratégico geral da empresa orienta o planejamento e a estratégia de marketing. Planejamento de marketing e outras estratégias funcionais Nível da unidade de negócios, do produto e do mercadoNível corporativo Fonte: Kotler e Armstrong (2014, p. 44). Uma estratégia consistente é formada por programas, projetos, ações e ferramentas. Elas são acompanhadas por indicadores claros, consistentes e levantados periodicamente. Ajudarão a avaliar até onde chegamos e como poderemos continuar. Figura 18. Estratégias deliberadas e emergentes. Estratégia Não realizada Fonte: Mintzberg, 2010. A estratégia é traçada para o médio e o longo prazo. Temos a definição do posicionamento, das lógicas de investimento, a expansão da organização, políticas de RH e de pesquisa e desenvolvimento. Também poderemos encontrar diretrizes financeiras e reputacionais. Poderemos ter métricas sobre brand equity, ROI, EBITDA, pulso reputacional, a serem medidos ao longo de um, dois, três anos ou mais. » Tática: a tática conecta e tangibiliza a missão, a visão e a estratégia. Desdobra essas diretrizes em programas, que terão um conjunto de projetos, com um conjunto de ações que utilizaram ferramentas práticas, distribuindo os recursos da organização. 30 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS » Operação: a empresa deve pensar no longo prazo, mas precisa agir no dia a dia. Contudo, a operação pode lhe impedir de ter distanciamento suficiente para avaliar os resultados globais e o que devemos fazer agora, para garantir os resultados futuros. A operação é a ação concreta da empresa: a produção, a compra e a estocagem de insumos, a produção, a venda e a entrega dos produtos, o suporte técnico, a manutenção da infraestrutura, os treinamentos, as contratações e as demissões, a coleta e a sistematização das informações. Aqui, temos o plano de vendas, produção, distribuição. Teremos modelagens que mostrarão o mês, a semana, o dia. Devemos montar um painel diferente para cada dimensão e um global. 1.4 Mercado: definição, tipos, demanda, concorrência, sazonalidade e segmentação O mercado pode ser explicado como sendo o total de ofertantes (quem vende) e o total de demandantes, atuais e potenciais (quem compra). O mercado, na dimensão dos compradores, indica que há uma necessidade ou um desejo em comum, em um grupo identificável, alcançável, ativável e viável (em termos financeiros, produtivos e legais). 1.4.1 Tipos de mercado É viável classificar os mercados de múltiplas formas. Por exemplo, você pode organizar em dois grandes grupos: mercados organizacionais (B2B: empresas que vendem para empresas) e mercados consumidores (B2C: empresas que vendem para os consumidores finais). O primeiro caso apresenta os casos em que organizações vendem para outras organizações. No segundo caso, as organizações estão vendendo, transacionando com pessoas físicas. Sendo assim: Atenção Repare que temos um conjunto de dimensões operando aqui: tempo, nível hierárquico, recursos e indicadores a serem acompanhados. Sugestão de estudo Para conhecer melhor as escolas estratégicas, leia o livro MINTZBERG, Henry. Safári de estratégia: um roteiro do planejamento estratégico. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2010. 31 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 » B2B (business-to-business): o mercado de compra organizacional é aquele no qual empresas vendem para outras empresas. A demanda de uma empresa fornecedora B2B, é uma demanda derivada, de certa forma, a partir da que foi identificada pelos consumidores de bens de consumo. Diferente de quem vende diretamente aos consumidores finais, a compra empresarial é, normalmente, mais complexa, mais técnica e pode envolver diversas pessoas ou grupos. Contudo, não se iluda, a marca, e a qualidade das relações entre vendedor e comprador fazem diferença nas negociações. » B2C (business-to-consumer): aqueles em que o ofertante vende diretamente aos consumidores finais, sejam pessoas físicas ou famílias, são mercados B2C. Algumas lógicas do processo de compra são similares às do mercado organizacional, mas nem todas. Os consumidores finais são mais sensíveis aos estímulos de marketing, oriundos das estratégias dos 4 Ps (produto, preço, praça e promoção). Tabela 2. Modelo de comportamento do comprador. O ambiente Caixa-preta do comprador Respostas do comprador Estímulos de marketing Outros Produtos Econômico Preço Tecnológico Praça Político Promoção Cultural Características do comprador Processo de decisão do comprador Atitudes e preferências de compra Comportamento de compra: o quê, quando, onde e quanto comprar Relacionamento coma marca e a empresa Fonte: Kotler e Armstrong (2014, p. 145). A marca do produto, ou da empresa, é ainda mais importante. Por mais que também sigam um fluxo que vai da identificação de uma necessidade ou desejo, passando Gotas de conhecimento O processo pode ser mais longo e complexo e envolver descrições técnicas, períodos de experimentação, contratos, seguros e garantias, treinamentos, volumes mínimos ou especificações personalizadas. Na compra empresarial, podemos ter diversos papéis no processo de compra como: » O iniciador/usuário: geralmente quem vai usar o insumo ou produto. » O influenciador: normalmente é quem ajuda a especificar ou fazer uma cotação prévia de mercado. » O comprador: pessoa da área de compras e aquisições que vai negociar e realizar a transação, a partir das especificações técnicas e as variáveis econômicas. » O decisor: quem vai determinar as condições, regras e objetivos negociais da compra. É quem irá aceitar ou validar as condições de compra apresentadas pelo ofertante. » Os filtros: compradores podem exercer um papel de gestores do fluxo de informação entre as equipes internas e os vendedores da empresa ofertante e vice-versa. Podem dar ou não acesso às pessoas e informações. 32 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS pelo levantamento de possíveis ofertas, seguindo pela compra em si, até o uso ou consumo final, podem ser compras menos técnicas ou racionais, como método de análise. O impulso é mais recorrente, justamente porque nem sempre os critérios são técnicos. Os profissionais de marketing precisam de mais dados de pesquisa para tentarem compreender o comportamento, a motivação, os significados e usos que o consumidor fará do produto ou serviço. Saber o que compram, quando compram, em que volume, com que forma de pagamento, em que canais, mas o que se passa na cabeça do consumidor, ainda é uma caixa-preta. Diversos fatores podem influenciar o comportamento de compra de um consumidor: questões culturais, econômicas, sociais, etárias, religiosas, pessoais, de gênero, de etnia, dentre outras. Quanto mais você conhecer como a maioria de seus consumidores pensa, age e decide, mais precisas serão as ofertas e o composto mercadológico (4 Ps) que sua organização desenvolve. Figura 19. Fatores de influência do comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, muitas marcas se dirigem a subculturas – como latinos, negros e asiáticos –, com programas de marketing sob medida para suas necessidades e preferências específicas. Sociais Grupos e redes sociais Família Papéis e status Pessoais Pessoais Idade e estágio no ciclo de vida Situação financeira Estilo de vida Personalidade e autoimagem Psicológicas Motivação Percepção Aprendizagem Crenças e atitudes Comprador Nossas decisões de compra são afetadas por uma combinação incrivelmente complexa de influências externas e internas. As decisões de compra das pessoas refletem seu estilo de vida – seu padrão geral de agir em relação ao mundo e interagir com ele – e contribuem com esse estilo. Por exemplo, a Pattery Barn vende mais do que móveis. Ela vende um estilo de vida sofisticado, embora casual, e voltado para a família e os amigos. Culturais Cultura Subcultura Classe social Fonte: Kotler e Armstrong (2014, p. 145). Compreender tais variáveis vai ajudar a organizar os potenciais consumidores em segmentos específicos. Permite fazer variações da oferta, quando tais diferenças forem realmente significativas, os grupos alcançáveis e lucrativos. » C2C (consumer-to-consumer): se olharmos o fenômeno dos mercados digitais ou das lógicas dos mercados de troca (parte da economia compartilhada ou colaborativa), veremos alguns modelos em que a pessoa física, vende ou revende produtos e direitos para outras pessoas físicas. Pode ser trocando um produto por outro (escambo) ou, dependendo do ambiente onde a transação é feita, até mesmo trocando o bem ou direito por uma “moeda” do mercado de troca, para posterior uso na aquisição de outro produto ou serviço. 33 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 » Possibilidades adicionais: B2G (business-to-gov: empresas que vendem para o governo), G2G (empresas e órgãos governamentais que vendem para outras empresas ou órgãos governamentais), dentre outros modelos que podem surgir ou serem tipificados. Outras formas de olhar e tipificar os mercados é pela dimensão terr itor ial . É um mercado, local , regional, nacional, intercontinental? 1.4.2 Demanda e sazonalidade Demanda é o volume total de procura por uma oferta, em determinado período de tempo. A soma de toda a busca (potencial e real) por um produto ou serviço pode ser mapeada pelo volume de unidades compradas, o valor total ou o número de pessoas. O ciclo médio de recompra indica a sazonalidade. O período de análise é fundamental. Pode ser analisado do microperíodo (horário, dia ou semana) ou pelo ciclo fiscal da organização (mês, trimestre, semestre, ano). A procura por um produto ou serviço nem sempre é regular ao longo dos meses de um ano. Ela pode sofrer variações por diversos motivos: clima, calendário promocional, calendário escolar, dentre outras possibilidades. A demanda impacta o preço e a diversidade de ofertas. Preços baixos, a princípio, atraem grandes volumes de compradores. Contudo, não é só o preço que influencia isso. A credibilidade da empresa ofertante, as especificações técnicas, a sazonalidade e possibilidade de uso, também afetam isso. Quando existem poucos agentes econômicos ofertando um produto e muitos consumidores, os preços tendem a ser maiores do que se tivermos muitas empresas ofertando e poucos consumidores. É uma relação entre demanda e oferta. Gotas de conhecimento A procura por um produto está associada às necessidades humanas (físicas e sociais) e aos desejos (quando, influenciados pela cultura e a personalidade individual, escolhemos as soluções para uma necessidade). Necessidades como alimentação, segurança, desenvolvimento intelectual, autoconhecimento etc. Nem sempre são regulares. Cabe aos profissionais de marketing identificarem as necessidades, suas formas e devolverem soluções em formas de ofertas que satisfaçam e encantem o consumidor, de forma continuada e lucrativa. A oferta engloba o produto/serviço em si, com suas características, funcionalidades, formas de uso e benefícios, mas, também, está atrelada ao composto mercadológico, ao marketing mix completo. 34 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Figura 20. Demanda e sazonalidade. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/creative-layout-colorful-autumn-leaves-flat-504323134. A demanda pode ser: » Inexistente: quando ninguém sabe que o produto existe ou ninguém, de forma lucrativa (volume, frequência e valor), deseja ou precisa adquirir e consumir/usar. » Latente/reprimida: em alguns momentos, até existe uma necessidade da sociedade, mas ainda não existe a tecnologia, ou ainda é muito caro ou inviável produzir, ou é ilegal. Quando já existe adequação cultural e social, necessidade, desejo, compradores capazes (financeira, cultural e comportamentalmente etc.) de adquirir, mas o produto ainda não está disponível. » Negativa: existe a demanda, mas há rejeição, resistência ou qualquer outra variável que reduza ou impeça o consumo. A rejeição não está atrelada apenas à qualidade, à tecnologia, ao preço ou ao acesso. Pode ser uma questão cultural, religiosa ou política. Note que será importante avaliar se não há demanda para o seu produto ou para a categoria de produtos. O que gera a recusa? » Crescente: quando um produto ou categoria de produtos está sendo introduzido no mercado e tem aceitação. Quando havia uma demanda latente ou reprimida, podemos ter um volume gradativamente crescente de procura e consumo/uso de um tipo de oferta. Atenção Um dos desafios é alinhar a capacidade de produção, distribuição e vendas instaladas e a demanda. Cabe cuidar e analisar com o máximo de precisão possível paraidentificar quando a demanda crescente não é apenas uma bolha. 35 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 » Irregular/sazonal: em alguns casos, a demanda existe, mas não é regular, continuada. Ou ainda, tem variações de volume e características, ao longo dos períodos de vendas. Pense no caso de moda praia, mesmo em cidades que são balneários turísticos direcionados para o lazer e o entretenimento na praia. No inverno, dos dias de semana fora das férias e feriados, há um consumo menor do que no verão ou feriados. O volume médio pode oscilar bruscamente. » Plena: quando a maioria dos demandantes está sendo atendida por alguma oferta similar. É um mercado de alta concorrência. Cabe avaliar com que estratégia você atuará. Muitas vezes, para crescer, precisará conquistar o cliente de um concorrente. Poucos ou nenhum novo consumidor existem no mercado. É um oceano vermelho. Ter a estratégia mais adequada é chave. Você pode se destacar por ter ganho de escala, ter bons produtos, preços baixos e altamente disponíveis, ou ainda, ter diferenciais competitivos. Você também pode trabalhar com nichos de mercado. » Decrescente/declinante: assim como existem produtos que se encontram em mercados em crescimento, vamos encontrar outros cuja procura é declinante. » Excessiva: quando uma empresa se vê em períodos sazonais ou não previstos, pode se encontrar em um momento em que a procura é muito maior do que a capacidade produtiva instalada. Nem sempre é rápido ampliar a capacidade produtiva. Você pode ter que comprar equipamentos, contratar e treinar pessoas, comprar e esperar a chegada de insumos adicionais ou alugar local para a operação. Recentemente vimos isso, devido à pandemia. Atenção Na demanda irregular, a empresa precisa estar preparada tanto para os momentos de baixa temporada, tendo custos baixos, rigor na gestão financeira, operacional e de infraestrutura, bem como ter alternativas viáveis para atender, com a mesma qualidade e resultados, no período de alta temporada. Gotas de conhecimento O Brasil já não é mais um país de jovens. A taxa de natalidade tem decrescido nos últimos anos, segundo o senso do IBGE. Sendo assim, produtos para recém-nascidos tendem a fazer parte de mercados declinantes. O mesmo fenômeno se dá em países europeus. Muitos casais têm um filho ou nenhum. Produtos como palha de aço, como a marca Bombril, precisaram pensar em caminhos novos. Seja por questões das práticas culturais, por produtos substitutos, panelas antiaderentes, de vidro ou de cerâmica, é um mercado em declínio, quase chegando a inexistente. Cabe à organização rever como vai gerenciar essa linha de produtos. Ter uma forte gestão financeira dele é fundamental. 36 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS » Indesejada: quando um produto já não é lucrativo ou usa tecnologias e recursos em desuso ou que geram impactos sociais e ambientais, mas ainda são procurados, podemos ter uma demanda indesejada. Outro ponto essencial para entender a demanda e o potencial de um mercado, é compreender quem são os seus concorrentes. 1.4.3 Concorrência Os concorrentes podem ser agrupados de diferentes maneiras, mas genericamente, concorrente é toda e qualquer solução que leve o seu consumidor atual e potencial a optar por algo alternativo à oferta de valor que você está entregando. Ele tira dinheiro do seu bolso. Contudo, se crianças e jovens preferirem ir para a casa dos avós ou dos tios em um feriado, ao invés de visitarem a Disney, você não verá uma campanha dizendo que ir para os parques é melhor do que estar com a sua família. Na verdade, tenderão a criar pacotes especiais, criando vantagens para que os avós e tios levem os seus parentes para curtirem os parques e consumirem. Figura 21. Concorrência. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/vector-smart-businessman-pushing-sphere-leading-1255631680. Gotas de conhecimento A procura por álcool gel, máscaras e luvas, foi acima da capacidade de todas ou quase todas as empresas do mercado. Aconteceu um desabastecimento temporário e um aumento significativo dos preços. É claro que foi uma oportunidade para diversas empresas menores serem percebidas pelo mercado e crescerem. Atenção A demanda excessiva também cria problemas com os atuais consumidores, se isso afetar a qualidade do que é entregue, o tempo, o preço, o atendimento ou quaisquer outras dimensões relevantes para a satisfação e o encantamento dos consumidores. Você pode perder clientes atuais, em momentos de demanda excessiva. 37 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 As empresas, ao olharem para mercados em que desejam entrar ou ao acompanhar sua atuação de mercado, precisam entender e observar com atenção os seus concorrentes. Cabe identificar, classificar e analisar quem são, como agem, que semelhanças e diferenças temos, em que aspectos somos melhores ou piores do que eles. Assim, saberemos nossos pontos fortes (diferenciais competitivos) e nossos pontos fracos (riscos competitivos), se comparados a eles. A concorrência pode indicar uma tendência de mercado, inovações potenciais, barreiras ou oportunidades e a força de nossas estratégias. Podemos organizar os concorrentes, inicialmente, em dois grandes grupos: » Concorrentes diretos: aqueles que oferecem soluções similares às suas, para o mesmo público-alvo, na mesma região, no mesmo período, com condições comparáveis do Mkt Mix (marketing mix/4 Ps): produto/serviço, praça, preço, promoção. São os mais relevantes. Se qualquer desses elementos for alterado, o agente produtivo avaliado pode ser realocado em concorrente indireto, ou não ser classificado como concorrente. » Concorrentes indiretos: os concorrentes indiretos têm algumas características distintas de sua oferta, mas, também, são escolhidos por seus consumidores atuais e potenciais, como solução ocasional para as mesmas necessidades. Ele pode ter uma variação na política de preços. Gotas de conhecimento Mercados em crescimento podem tornar a concorrência menos impactante. Ainda existem muitos clientes potenciais não atendidos. Podemos nos direcionar para eles, sendo menos exigentes, investirmos em grandes diferenciais. Por outro lado, em mercados maduros em que a maioria dos clientes já está sendo atendida por alguém, para irmos além do crescimento vegetativo do mercado, teremos que competir frontalmente com os demais ofertantes. Para ter novos clientes, provavelmente vamos tirar da concorrência. É o caso de mercados como o de celulares. Assim como estamos tentando conquistar os consumidores da concorrência, eles estão fazendo o mesmo. Precisamos gerenciar a relação e a satisfação do consumidor, com mais atenção. Atenção Note que nem sempre você poderá disputar frontalmente com quem, potencialmente, tira dinheiro de seu bolso. Você pode competir. Ou seja, competir e colaborar. O mesmo se dá com empresas, no caso citado, outros parques que estejam na mesma cidade. Podem criar uma rede de parques e, em parceria com a prefeitura, promoverem campanhas de marketing territorial, promovendo a cidade como um todo. Atraindo clientes para todos. É comum quem vai a um parque também ir a outros. 38 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Poderíamos classificar, ampliando o conceito, que um produto substituto é um concorrente indireto. Um shake alimentar, consumido na hora do almoço, concorre para quem está fazendo dieta, com os restaurantes da região. A marca de shake estará “tirando dinheiro do bolso”, estabelecimentos da região. Sendo assim, podemos sugerir como principais dimensões ou variáveis da concorrência como: preço, qualidade, disponibilidade, imagem, região, público-alvo. Outra maneira de pensar os concorrentes é a partir das seguintes classificações: de marca, de forma, genéricos. » Concorrente de marca: quando entendemos como concorrentes empresas que oferecem produtos e serviços similares aos nossos, com preço, localização e acesso e qualidade semelhantes. São concorrentes diretos. Aqui, elatambém pode analisar o marketing share (percentual de mercado dela e dos concorrentes). Figura 22. A corrida da concorrência. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/overcome-achieve-success-522549064. » Concorrente de forma: a empresa analisa não só os concorrentes diretos, de marca, mas as soluções alternativas. Uma integradora de automóveis veria como concorrentes não só as outras integradoras locais, como soluções alternativas de transporte como motos, bicicletas, e até mesmo transporte público. Uma empresa aérea, que tenha foco em turistas empresariais, que fazem viagens para fazerem reuniões, poderia considerar uma solução de streaming , de videoconferência, uma concorrente de forma. É uma concorrência indireta. Há um ponto interessante, o share of choice. Que escolhas alternativas o consumidor faz? Você pode ter dinheiro, carteira de motorista, e vaga de garagem, mas escolher, por questões de segurança, tipo de investimento, visão socioambiental, saúde, ou qualquer outra variável comportamental, não ter carro e se locomover pela cidade, de bicicleta, de táxi, de transporte público, a pé. Ao fazer essa escolha, leva o seu dinheiro para essas alternativas de transporte, não sendo atraído pelas ofertas das 39 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 integradoras de automóveis, por mais que você tenha todas as características básicas encontradas no consumidor médio, fora o desejo de ter o carro. Concorrente genérico: estamos olhando para o mercado a partir do bolso de nosso cliente, do share of pocket . Olha para os consumidores e tenta entender como outras necessidades e desejos irão competir pelos recursos dos consumidores. Que percentual de seu potencial de compra está destinado à categoria de produtos que a sua empresa atual? Os recursos de seu cliente são limitados. Em momentos de crise econômica, as pessoas, gradativamente, deixam de consumir os produtos e serviços de autoconhecimento, satisfação pessoal, lazer, para darem prioridade às necessidades básicas de saúde, segurança, alimentação, moradia. Figura 23. Matriz de crescimento de mercado. Mercados existentes Novos mercados As empresas podem crescer desenvolvendo novos mercados para os produtos existentes. Por exemplo, a Starbucks está se expandindo rapidamente na China, que até 2015 será o seu segundo maior mercado, atrás apenas dos Estados Unidos. Por meio da diversificação, as empresas podem crescer abrindo ou comprando negócios que não fazem parte de seus produtos/mercados atuais. Por exemplo, a Starbucks está entrando no mercado de “saúde e bem-estar”com lojas chamadas Evolution By Starbucks. Produtos existentes Penetração de mercado Desenvolvimento de mercado Desenvolvimento de produto DiversificaçãoNovos produtos Fonte: Kotler e Armstrong (2014, p. 50). Observando essa matriz e o que falamos sobre concorrência, podemos entender que ao olhar a concorrência e o tamanho do mercado, uma empresa pode optar por quatro estratégias básicas de crescimento no mercado: » Aumentar sua participação de mercado: ampliando o número de consumidores e o volume de vendas, dentro do mesmo mercado de atuação. O que se busca é aumentar o marketing share. » Desenvolver novos produtos: criar e oferecer novos produtos, que sejam variações dos atuais, ampliando o seu portfólio de produtos. Sua cafeteria pode passar a vender o pó do café para que os clientes levem para casa. Podendo, até mesmo, aumentar a participação no share of pocket. » Desenvolvimento de novos mercados: você pode buscar outras regiões para oferecer o mesmo produto, participando de novos mercados. Se atua no centro da cidade, pode abrir uma nova loja em outro bairro. Pode ir para outra cidade, região ou país. Os mesmos produtos, para o mesmo perfil de cliente, em outros territórios. » Diversificação: você pode escolher criar novas unidades de negócio. Já atua em higiene pessoal e vai passar a ter uma nova área de limpeza doméstica. 40 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS Identificar e analisar as características e estratégias de sua concorrência é fundamental para que possa ser competitivo, inovador e satisfazer as necessidades e os desejos de seus consumidores atuais e potenciais. 1.4.4 Segmentação Para compreender melhor o que é valor para o seu cliente, você precisa saber quem ele é. Segmentar é o processo de organizar os potenciais consumidores por suas características comuns. Essas características precisam ser significativas e relevantes para o tipo de produto ou serviço que você vai oferecer. Normalmente, não conseguimos atender todos. Figura 24. Segmentação de mercado. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/large-group-people-seen-above-gathered-263091443. A forma de organizar os potenciais clientes é agrupando por segmentos. É o processo de segmentação de mercado. Uma vez organizado por segmentos, a empresa precisa escolher qual ou quais ativará. Podemos estruturar os segmentos em quatro dimensões ou estágios, indo do mais global ao mais específico: massa, segmento, nicho, grupo de um só (one-to-one). » Massa: é menos específico. Características mais gerais permitem entender a demanda média e gerar produtos vantajosos. Produtos com pouca ou nenhuma diferenciação competitiva, os commodities, como o sal refinado, por exemplo, são assim. De forma geral, as pessoas usam o sal para temperar e conservar seus alimentos, exigindo pouca ou nenhuma diferenciação. A competição está no preço e na disponibilidade. A marca importa, mas não é impactante a ponto de alguém sair de uma loja e ir até outra só para encontrar a marca de sua preferência. 41 COnCEITOS E FUnDAMEnTOS • CAPÍTULO 1 São mercados abrangentes, com grande número de consumidores, pouco distintos em suas necessidades e desejos. » Segmento: podemos fazer algumas divisões em grupos menores do que a massa, mesmo que ainda muito grandes. Os segmentos são uma fração, atrativa e mais específica de mercado. Quem procura sal para fazer um churrasco tenderá a buscar sal marinho grosso. Dentro da categoria, do segmento, as ofertas são pouco ou nada diferenciadas. » Nicho: aqui, temos um grupo menor do que o segmento, com demandas mais específicas, mais exigentes. Contudo, para ser interessante, ainda vale a regra de terem que ser rentáveis. Alguns nichos são tão pequenos que não são atraentes. O nicho já trabalha com preços maiores do que os segmentos. Como escala de valores, poderíamos dizer que os produtos massivos são mais baratos do que os segmentados. Os de segmentos são mais baratos do que os de nicho. O sal rosa do Himalaia pode ser considerado um nicho de mercado gourmet. As embalagens tendem a ser mais sofisticadas, com quantidades menores e encontradas em mercados ou sessões menos populares. Figura 25. nichos de mercado. Fonte: https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/large-diverse-group-people-seen-above-443899843. » Grupo/Individual (one-to-one): as empresas que atendem a tais mercados precisam ter a habilidade de preparar produtos de acordo com as exigências de cada cliente. Tudo que é personalizado é assim. Consultorias, modistas e estilistas, Atenção Note que não estamos falando dos segmentos ou nichos do mercado de sal, como sal grosso, sal marinho, sal rosa ou sais temperados. Estaríamos falando de outros mercados. 42 CAPÍTULO 1 • COnCEITOS E FUnDAMEnTOS e uma grande quantidade de produtos digitais personalizáveis. Os produtos de luxo tendem a ser de nicho, mas os de superluxo, muito recorrentemente, são personalizados a ponto de serem únicos, se enquadrando na categoria do grupo individual. Normalmente são produtos e serviços muito mais caros, com poucos clientes e altamente lucrativos. Variáveis de segmentação nos mercados consumidores » Geográfica: região, tamanho da cidade, concentração ou área da cidade (urbana/ rural) e clima, número de habitantes. » Demográfica: idade ou faixa etária, sexo/gênero, tamanho da família,
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