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História Contemporânea: Crises do Mundo Capitalista Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Dra. Andrea Borelli Revisão Textual: Profa. Ms. Magnólia Gonçalves Mangolini A Guerra Fria: a ascensão dos EUA 5 • Os desafios do pós-guerra • O movimento Negro e a luta por direitos civis • A Guerra do Vietnã • A política estadunidense de Camelot aos anos de crise • Os movimentos de contestação: o movimento feminista e a contracultura • A Era Reagan • A vida nos anos 80 • Cronologia EUA pós Segunda Guerra Mundial · Nesta Unidade, vamos tratar do tema “A emergência da bipolaridade: a política norte-americana”. · Discutiremos a polarização política mundial resultante do desenrolar da II Guerra Mundial e a ação norte-americana. Para realizar a Unidade, primeiro leia atentamente o material teórico, ou seja, o texto que servirá de base para todas as demais atividades da unidade. Leia, então, o texto com muito cuidado e atenção. Em seguida, para verificar se houve uma suficiente compreensão do conteúdo, responda às perguntas das Atividades de Sistematização, que tratam de problemas fundamentais sobre o assunto abordado. Foram disponibilizados, ainda, Materiais Complementares, para o caso de você desejar se aprofundar em algumas questões trabalhadas no conteúdo. Finalmente, realize a Atividade de Aprofundamento da unidade. Lembre-se que seu tutor estará à sua inteira disposição e que pode contatá-lo a qualquer tempo neste ambiente de aprendizagem. Bom estudo! A Guerra Fria: a ascensão dos EUA 6 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Contextualização O cartum abaixo foi criado por Bruce Alexander Russel e recebeu o prêmio Pulitzer Prize, nesta categoria, em 1946. A imagem apresenta, de forma brilhante, a polarização entre EUA e URSS. Nesta Unidade, a águia é o assunto. Fonte: Comic Book Resources, 2009. Link: < http://goo.gl/ovSpQN > 7 Os desafios do pós-guerra O final da Segunda Guerra Mundial trouxe uma nova configuração política mundial, que levou a ascensão de dois novos poderes: os EUA e a URSS. Os acordos que finalizaram o confronto colocou em evidência a busca por hegemonia entre as duas grandes doutrinas políticas em destaque: o capitalismo liberal representado pelos estadunidenses e o comunismo capitaneado pelos soviéticos. Estas diferenças se aprofundaram quando várias nações iniciaram movimentos que levaram a criação de governos de orientação comunista e, por volta de 1947, a Grécia era um dos poucos países do leste europeu que não tinha um governo comunista, e isso só aconteceu porque o exército britânico abafou o levante dos comunistas gregos. Estes acontecimentos provocaram inquietação entre os políticos dos EUA, que temiam um desequilíbrio de forças na Europa. Em março de 1947, o presidente Harry Truman apresentou ao Congresso um plano de contenção para o avanço soviético, que ficou conhecido como Doutrina Truman e professava que era dever dos EUA “proteger as nações do mundo contra o avanço soviético”. “No atual momento da história mundial cada nação deve escolher entre os modos de vida opostos. A escolha não é frequentemente livre. Um modo de vida baseia-se na vontade da maioria e se caracteriza por instituições livres, governo representativo com eleições livres, garantias de liberdade individual, liberdade de expressão e de religião, e pela supressão das formas de opressão política. Uma outra forma de vida baseia-se na vontade de uma minoria imposta à força à maioria. Ela se apoia no terror e na opressão, no controle da imprensa e do rádio, em eleições manipuladas e na supressão das liberdades individuais. Acredito que a política dos Estados Unidos deve ser de apoiar os povos livres que estão resistindo à subjugação por minorias armadas ou por pressões exteriores. Acredito que nossa ajuda deve ser primeiramente através da estabilidade econômica e da ordenação do processo político”. Harry Truman - 12 de março de 1947 Em junho de 1947, o General Marshall visitou a Europa e, segundo sua interpretação, a pobreza que a guerra tinha deixado no continente facilitava a disseminação das propostas comunistas. O governo estadunidense organizou uma ação de recuperação da economia europeia, o chamado Plano Marshall que movimentou mais de 13 milhões de dólares e foi considerado um sucesso pelos seus idealizadores. A tensão entre os dois poderes vinha crescendo desde 1945, quando os exércitos aliados dividiram a cidade de Berlim em quatro zonas para garantir a ocupação. Em 1948, os EUA, a França e a Inglaterra reuniram suas áreas de ocupação em um novo país, a Alemanha Ocidental, e em junho do mesmo ano foi introduzida uma nova moeda que, segundo as potências ocidentais, auxiliaria na recuperação econômica da região. 8 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Em retaliação, os soviéticos fecharam todas as rotas terrestres para Berlim, no que foi chamado Bloqueio de Berlim. O objetivo dos soviéticos era forçar a rendição da capital, mas isso não aconteceu, pois as forças aliadas mantiveram a entrada de suprimentos para a cidade com o uso das forças aéreas. Em 12 de maio de 1949, os soviéticos decidiram suspender o bloqueio que tinha durado 318 dias, e o resultado deste conflito foi a ampliação das tensões entre os dois blocos, tornando a Guerra Fria um confronto aberto, além disso, a Alemanha foi dividia em dois países, a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental. Internamente, o governo estadunidense implementou uma política voltada a controlar o que era considerado um “perigoso avanço do comunismo” na vida pública dos norte-americanos. Foi criado o Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos que realizou uma série de sessões públicas em que “suspeitos de filiação ao comunismo” eram entrevistados por diversos senadores. “Você é ou foi membro do Partido Comunista?” Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos. O Senador republicano Joseph McCarthy se tornou o principal representante desse Comitê, que se tornara celebre pela intolerância e por ter realizado o que ficou conhecido como “uma verdadeira caça as bruxas”. Dezenas de pessoas foram colocadas nas famosas “listas negras” e tiverem suas vidas praticamente destruídas pela suspeita de serem comunistas. As ações do comitê, conhecidas depois como Macartismo, atingiram todos os setores da sociedade americana: as forças armadas, os executivos de grandes empresas, as pessoas ligadas aos meios intelectuais e a indústria cultural. As ações do Comitê se estenderam até 1954, quando as atividades foram finalizadas pelo Senado e McCarthy foi formalmente repreendido por sua intolerância. No âmbito externo, os norte-americanos acompanharam o surgimento da República Popular da China, fundada pelo líder comunista Mao Tse Tung. O anúncio foi o capítulo final de uma violenta guerra civil entre o Partido Comunista Chinês e o Partido Nacionalista Chinês ou Kuomintang. Os dois grupos apoiaram os esforços aliados, durante a Segunda Guerra, para expulsar as tropas japonesas, contudo, ao final do conflito, as diferenças entre os grupos escalaram e a guerra se prolongou até a vitória dos comunistas. Fonte: Library of Congress, 1954. 9 Isso foi percebido pelos estadunidenses como uma “derrota” e a necessidade de garantir que a situação não se repetisse, cresceu exponencialmente. Em 1945, durante os acordos de paz, a região da Coreia foi dividida em duas, considerando a fronteira traçado no Paralelo 38. A Coreia do Norte comandada por Kim Il-Sung, depois de garantir o apoio dos soviéticos e dos chineses, atacou a Coreia do Sul, que estava sob proteção dos EUA. As tropas comunistas avançaram com facilidade, e em setembro de 1950 tinham conquistado quase toda a Coreia do Sul. Os estadunidenses, temendo que a Coreia seguisse o caminho da China, procurou apoio da recém criada Organização das Nações Unidas e recebeu autorizaçãopara enviar tropas a região do conflito. Em setembro de 1950, as tropas norte-americanas, sob comando do General Douglas MacArthur, chegaram à região e conseguiram empurrar as tropas comunistas de volta ao paralelo 38. As tropas de MacArthur conquistaram boa parte da Coreia do Norte, mas uma poderosa ofensiva comunista, com o apoio do exercito chinês, os empurrou de volta a área da fronteira. O governo dos EUA mandou mais tropas para impedir novos avanços dos comunistas, além de retirar o General MacArthur do comando geral das forcas estadunidenses. Entre 1950 e 1953 aconteceram vários conflitos nas regiões de fronteira e, nesse ano, um acordo de paz foi acertado. No plano interno, os estadunidenses enfrentavam outro problema: a segregação dos negros no pais. Fonte: Wikimedia Commons 10 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA O movimento Negro e a luta por direitos civis Ao final da Guerra da Secessão, os ex-escravos foram libertados, mas não tiveram seus direitos reconhecidos em nenhuma instância. Em 1954, a Suprema Corte ordenou a integração das escolas e, logo depois, vários movimentos de desobediência civil que procuravam garantir plenos direitos civis aos negros estadunidenses. Um dos mais emblemáticos momentos desta luta envolveu o boicote aos ônibus, na cidade de Montgomery, Alabama. Em dezembro de 1955, a costureira Rosa Parks estava voltando do trabalho em um dos ônibus da cidade, quando o motorista James Blake, ordenou que ela se levantasse e fosse para o fundo do carro, Parks se recusou e acabou sendo presa. Fonte: Library of Congress “Você não vai se levantar? mandou o motorista. Rosa Parks olhou diretamente para ele e disse: Não. Frustrado e sem saber exatamente o que fazer, Blake retrucou: Ok, eu vou mandar prender você. E Parks, ainda sentada perto da janela, falou baixinho: Faça isso.” Douglas Brinkley - na biografia de Rosa Park publicada em 2000. A prisão de Rosa Park marcou uma época e mudou a percepção dos negros norte- americanos sobre sua situação e, sob a liderança de Martin Luther King Jr., o movimento pela obtenção dos direitos civis começou a ganhar força. Em 1956, a Suprema Corte considerou ilegal a segregação nos ônibus. Para nós, sentar-se em um ônibus pode parecer pouca coisa, mas em 1955 foi o iniciou de uma grande luta. Em 1957, em LITTLE ROCK, ARKANSAS, um grupo de estudantes negros tentou começar o ano letivo em uma das escolas que costumava ser frequentada somente por brancos. O governador do estado organizou as forças armadas, guarda nacional, para impedir a entrada dos jovens, alegando a necessidade de “manter a ordem”. Eisenhower, então presidente, movimentou o exército e nacionalizou a guarda nacional do estado para garantir que os estudantes incisassem o ano letivo e, nos meses seguintes, eles foram escoltados para a escola. Em 1959, depois de outros conflitos, o Congresso aprovou uma série de medidas que deveriam facilitar a participação dos negros nas eleições. Estas ações foram de pouca envergadura, contudo, pavimentaram conquistas posteriores. 11 Estudantes escoltados O movimento pelos direitos civis ganhou força na nova década, especialmente por conta das estratégias não violentas adotadas por parte do movimento, como os “sit in”. Neste tipo de ação os militantes entravam em estabelecimentos, como bares e restaurantes, que só serviam brancos e pediam algo; os funcionários se recusavam a atendê-los, contudo, eles permaneciam sentados e em silêncio, esperando que seu pedido fosse providenciado. A estratégia se estendeu a outros lugares, como piscinas e igrejas que eram frequentadas somente por brancos. Na mesma época, começaram as grandes passeatas por direitos, que mantinham a estratégia de não violência, que funcionara até o momento e tinha garantido o apoio de parte da população. As conquistas foram crescendo e, em 1962, James Meredith se tornou o primeiro negro a cursar a Universidade do Mississippi, contudo, como os alunos do Arkansas, ele teve que ser escoltado pelo exército, para assistir suas aulas. Eu acho que não há melhor prova que a supremacia branca estava errada que ter meu filho se graduando (na Universidade do Mississippi), mas se graduando como melhor aluno da universidade. Isto, eu acho, vinga toda a minha vida. James Meredith - quando da graduação do filho na Universidade do Mississippi. Em 1963, o movimento lutava pela criação de uma lei federal contra discriminação em locais públicos, e para pressionar a sua aprovação foi organizada uma grande concentração em Washington. Em 28 de agosto, Martin Luther King Jr. discursou para uma multidão, e seu discurso marcou a luta pelos direitos civis: era o discurso chamado I have a dream. Fonte: Library of Congress Fonte: Library of Congress 12 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Martin Luther King durante seu discurso, em 1963 “Digo-lhes hoje, meus amigos, embora nos defrontemos com as dificuldades de hoje e de amanhã, que eu ainda tenho um sonho. E um sonho profundamente enraizado no sonho norte-americano. Eu tenho um sonho de que um dia, esta nação se erguerá e viverá o verdadeiro significado de seus princípios: “Achamos que estas verdades são evidentes por elas mesmas, que todos os homens são criados iguais”. Eu tenho um sonho de que, um dia, nas rubras colinas da Geórgia, os filhos de antigos escravos e os filhos de antigos senhores de escravos poderão sentar-se juntos à mesa da fraternidade. Eu tenho um sonho de que, um dia, até mesmo o estado de Mississipi, um estado sufocado pelo calor da injustiça, será transformado num oásis de liberdade e justiça. Eu tenho um sonho de que meus quatro filhinhos, um dia, viverão numa nação onde não serão julgados pela cor de sua pele e sim pelo conteúdo de seu caráter.” Martin Luther King Jr - 28 de agosto de 1963 O movimento pelos direitos civis ganhou ainda mais força e a reação dos opositores se tornou mais violenta. Um dos líderes do movimento, Medgar Evers, foi assassinado por um supremacista, e várias escolas e igrejas foram bombardeadas, como no caso de uma igreja em Birmingham, Alabama, onde morreram quatro meninas com idades entre 11 e 14 anos. A morte de John Kennedy, em 1963, trouxe insegurança ao movimento, contudo, a lei dos Direitos Civis foi assinada por Lindon Johnson em julho de 1964. A partir desta data tornou-se proibido não contratar alguém por conta de sua raça ou impedir alguém de transitar em espaço público pela mesma razão. Em fim a segregação se tornou ilegal. Nos anos seguintes, o movimento procurou ampliar o número de negros registrados como votantes, e suas manifestações continuavam gerando respostas violentas dos supremacistas brancos. Fonte: Library of Congress 13 Em 4 de abril de 1968, James Earl Ray assassinou um dos maiores ícones desta luta: Martin Luther King Jr. Outra figura importante desta luta foi Malcolm X. Nascido no estado do Michigan, ele viu de perto as ações da Ku Klux Klan, que foi responsável pela morte de seu pai e pelo incêndio que destruiu a casa da família. Malcolm se aproximou da doutrina apresentada pelo movimento conhecido como Nação do Islã que, além da doutrina islâmica, propunha o orgulho negro e o nacionalismo negro. Sua eloquência o tornou porta voz do movimento, que propunha que os negros formassem um estado separado para os afrodescendentes e construíssem as soluções para seus problemas sem o auxílio dos brancos. Ele não considerava a violência o único meio de atingir os objetivos propostos, contudo, advogava que a violência se justificava em casos de defesa dos interesses dos negros. Em 21 de fevereiro de 1965, Malcolm X foi morto por um inimigo político durante um encontro do grupo. Os Panteras Negras, criados em Oakland, Califórnia, também eram ícone do movimento negro americano. Eles propunham a resistência armada, e por diversas vezes seus membros trocaram tiros com a polícia, além disso assumiram muitos slogans comunistas, comoo famoso credo de Mao Tse Tung “O poder político é conseguido através do cano das armas”. Panteras Negras em manifestação pública No final da década de 60, a maior parte das leis de segregação tinham sido abolidas, mas os negros estadunidense ainda tinham muito para conquistar. Malcolm X com Martin Luther King Fonte: Library of Congress Fonte: Washington State Archives, Digital Archives, <http://www.digitalarchives.wa.gov> 14 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA A Guerra do Vietnã Ao final da Segunda Guerra Mundial, a França estava decidida a recuperar suas possessões coloniais no Oriente, especialmente a área do Vietnã. O governo norte-americano temia que uma vitória do movimento comunista na região poderia levar os comunistas ao poder no Laos, Camboja, Tailândia e Indonésia e, por este motivo, apoiou as ações francesas no Vietnã. Os franceses lutaram na região entre 1945 e 1954 e perceberam que os comunistas, comandados por Ho Chi Ming, eram inimigos admiráveis. Durante as negociações para o final do conflito ficou determinado que o país ficasse divido em dois, considerando o paralelo 17. Durante as administrações Eisenhower e Kennedy, o Vietnã do Sul recebeu armas, suprimentos e ajuda política e militar, enquanto isso, o Vietnã do Norte fortaleceu sua aproximação com o comunismo através do governo de Ho Chi Ming. Em 2 de agosto de 1964, vários navios norte-americanos teriam sido bombardeados por vietcongs, no Golfo de Tonkin, e dois dias depois, em 4 de agosto, um novo ataque teria acontecido. O presidente Lyndon Johnson, com base nestes ataques, solicitou autorização para responder os ataques vietnamitas. Em fevereiro de 1965, os estadunidenses começaram o bombardeio sistemático do Vietnã do Norte com o objetivo de destruir alvos militares e as linhas de suprimentos para as tropas, contudo, ao longo da guerra o número de civis mortos ou desabrigados por esses ataques tornou-se cada vez maior. Além das armas convencionais, foram utilizados produtos químicos, como o desfolhante conhecido como agente laranja e o napalm. Foto da menina Phan Thi Kim Phuc, atingida por napalm Você poderá ver o filme que mostra este bombardeio em que Phan thi Kim Phuc foi ferida. Disponível em: https://youtu.be/oYaCgJpwypU Fonte: Library of Congress 15 No final de 1965, os norte-americanos tinham 189 mil soldados combatendo no Vietnã, e enfrentando um inimigo que estava acostumado com o terreno e que utilizava técnicas de guerrilha e ataques relâmpagos contra as tropas regulares. O número de soldados mortos aumentou vertiginosamente, fala-se de 100 por semana durante 1967 e até o final deste ano o número de tropas estadunidenses no país subiu para 500 mil. Em 1968, durante o feriado budista do TET, que é o primeiro dia do ano no calendário lunar utilizado no Vietnã, as forças do norte lançaram uma grande ofensiva contra o Sul: era a Ofensiva do TET. Os norte-americanos e os sul vietnamitas conseguiram organizar uma eficiente contraofensiva, mas o moral das tropas e a opinião pública começavam a ver a guerra com desconfiança. Os soldados tornaram-se cada vez mais inquietos e muitos faziam uso de álcool, maconha e heroína. Além disso, vários oficiais foram mortos por suas tropas em revoltas durante os anos posteriores ao TET. Nos EUA, o apoio da opinião pública reduziu-se dramaticamente, e muitos começaram a questionar as razões que levaram o país ao conflito. Em 1969, o movimento anti guerra tomou corpo e criou uma verdadeira campanha para o final da guerra, exigindo o retorno das tropas e o fim das convocações. Em dezembro de 1972, Richard Nixon ordenou o aumento dos bombardeios na região, com o intuito de forçar os vietcongs a iniciarem conversações de paz, e em janeiro de 1973, eles chegaram a um acordo de cessar fogo. As tropas americanas começaram um lento processo de retirada. Em 1975, os comunistas atacaram o Sul e tomaram Saigon, que foi reabitada de Ho Chi Ming. O país foi unificado sob um regime comunista e, em seguida, o mesmo aconteceu com o Laos e Camboja. A Guerra do Vietnã finalmente chegava ao fim com a morte de mais de 55 mil soldados americanos e um número ainda maior de vietnamitas, que incluiu crianças, mulheres e velhos, como ficou demostrado pelo Massacre na vila de My Lai. Nesta vila, os soldados norte-americanos mataram entre 340 e 500 civis desarmados, a maior parte eram mulheres e crianças pequenas. Sobre este tema você poderá assistir ao vídeo: http://www.democracynow.org/2008/3/17/1968_forty_years_later_my_lai Norte-americanos deixando Saigon Fonte: Hubert Van Es/Wikimedia Commons 16 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA A política estadunidense de Camelot aos anos de crise Quando John Kennedy derrotou Richard Nixon na eleição presidencial de 1960, os Estados Unidos eram o melhor exemplo do otimismo que marcou os anos 50. A indústria estadunidense estava a todo o vapor, e a bonança econômica era sentida pelos grupos médios da sociedade, além disso, a situação política parecia estável, mesmo com o que era chamado “avanço do comunismo”. John Kennedy era a melhor representação deste otimismo: ele era jovem, bonito; era membro de uma família tradicional e influente, seu pai tinha sido embaixador, foi diversas vezes condecorado por suas ações na Segunda Guerra e, por fim, tinha uma bela esposa, Jacqueline Bouvier, e dois filhos pequenos. Sua chegada a Casa Branca marcou a sociedade americana, que posteriormente se referiu a seus anos na presidência como os anos de Camelot, o reino imaginário do Rei Arthur e sua Guinevere. O governo Kennedy foi marcado por vários momentos importantes, e um dos mais significativos foi o investimento no Programa Espacial e a importância dada à NASA - National Aeronautics and Space Administration. Nós decidimos chegar a Lua nesta década e fazer muitas outras coisas. Não porque seja fácil, mas porque eles são difíceis. John Kennedy - 12 de setembro de 1962. Veja este discurso no YouTube: https://youtu.be/ouRbkBAOGEw A NASA foi criada em 1957, como resposta ao Programa Espacial Soviético, que neste ano tinha colocado o satélite Sputnik e, ainda neste ano, colocaram o primeiro ser vivo no espaço: a cadela Laika. Em 1961, os soviéticos colocaram o primeiro ser humano em órbita: o piloto militar Yuri Alekseievitch Gagarin. A missão de Gagarin durou uma hora e 48 minutos, e consistiu de uma volta em órbita da Terra a 315 km de altitude. A Terra é Azul! Yuri Gagarin Durante a administração Kennedy, Alan Shepherd se tornou o primeiro norte-americano no espaço e John Glenn foi o primeiro a orbitar a Terra. Nos anos posteriores, os estadunidenses conseguiram dominar a tecnologia necessária para chegar a Lua, mesmo depois do incêndio da Apollo 1, que matou Virgil “Gus” Grissom, Edward H. White e Roger B. Chaffee. Os Kennedy em 1962 Fonte: jfklibrary.org 17 Em 20 de julho de 1969, a Apollo 11 chegou a Lua com Edwin Aldrin, Michael Collins e Neil Armstrong, que se tornou o primeiro homem a caminhar pela Lua. “Este é um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade” Neil Armstrong Veja a reportagem sobre este tema no YouTube: https://youtu.be/fQXzXy7I0a0 No plano internacional, a formação dos Peace Corps foi uma das medidas mais eficientes do presidente Kennedy. O interessado se alistava para servir em um país do chamado Terceiro Mundo durante o período de dois anos. A maioria desses voluntários eram jovens com formação superior, como médicos e enfermeiras. Esta medida pretendia melhor a imagem dos norte-americanos e, na visão do governo Kennedy, ajudaria a conter o avanço do comunismo nas áreas mais pobres do mundo. A contenção do comunismo era uma questão importante para Kennedy, e isto acabou envolvendo o seu governo em dois confrontos com a mesma nação: a Cuba de Fidel Castro. Em 1961, a Revolução Cubana estava em fase de consolidação, depois da derrubada do governo do Ditador Fulgencio Batista,em 1959. Com o objetivo de derrubar o governo de Castro, a CIA treinou um grupo de exilados cubanos que deveriam voltar à ilha e organizar a oposição ao novo regime. A ação, conhecida como Baia dos Porcos, foi um desastre e a maioria dos cubanos que participaram do ataque terminaram mortos. A participação norte-americana era inegável e promoveu um profundo mal estar na administração que se iniciava, além de ser uma grande vitória para Fidel Castro. Em outubro de 1962, os norte- americanos descobriram que os soviéticos estavam movimentando mísseis para Cuba. Kennedy ordenou o bloqueio naval da ilha e solicitou a retirada dos mísseis. A situação escalou e as negociações esbarravam no desejo dos militares norte- americanos de atacar Cuba e no silêncio dos soviéticos. Finalmente, depois de 13 dias de muita tensão, os soviéticos aceitaram retirar os mísseis e os norte-americanos fizeram o mesmo com mísseis colocados na Europa. A Crise dos Mísseis em Cuba foi o ponto alto do governo Kennedy e um dos momentos mais perigosos da guerra fria. Cartum americano sobre a crise dos mísseis Fonte: Library of Congress 18 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA O final do mandato de Kennedy foi marcado pela tragédia: o filho mais novo do casal, Patrick, morreu de problemas respiratórios dois meses depois de nascer em agosto de 1963. Em 22 de novembro do mesmo ano, Kennedy foi morto a tiros em Dallas, Texas por Lee Harvey Oswald. Sua morte é um dos eventos que marcaram o século XX e, para os norte-americanos, mesmo depois de 40 anos, é fonte de muita polêmica. A morte de Kennedy facilitou a eleição de Lyndon Johnson, que tinha sido seu vice e ajudou que a sua administração implementasse muitos dos projeto de Kennedy, além de outros que marcam um governo. Durante o governo Johnson foram implementadas ações como: • O Ato de proteção às terras selvagens, que salvou 9.1 milhões de acres de florestas do avanço das indústrias. • O Ato da Educação Elementar e Secundária, que garantia o investimento em educação. • O Ato do Direito ao Voto, que permitiu que analfabetos votassem e proibia qualquer meio de discriminação para o registro de votantes. • Surgiu o Medicare, que se dedicava a cuidar dos gastos com a saúde dos idosos. • O financiamento do governo para artistas e galerias de artes. • O Ato de Imigração acabou com a política de quotas para imigrantes baseados na origem étnica. • Programas de construção de casas a baixo custo. • O Ato da qualidade do ar e da água para controle do nível de poluição. • Medidas de proteção à segurança do consumidor. • Contudo, o governo de Lyndon Johnson não é lembrado por suas medidas sociais, mas pelo início da Guerra do Vietnã e das marcas que o conflito deixou na sociedade estadunidense. O Governo de Richard Nixon, iniciado em 1969, trouxe alterações a política externa norte-americana. Nixon e seu principal assessor, HENRY KISSINGER, iniciaram conversações tanto com a China quanto com a URSS, objetivando aproveitar as diferenças entre os dois poderes comunistas. Em junho de 1972, Nixon visitou a China e quando do seu retorno, os EUA deixaram de se opor a entrada da China na ONU, e várias ações foram organizadas para a retomada de relações diplomáticas. No mês de junho, Nixon visitou a URSS para as discussões do primeiro tratado sobre a questão das armas nucleares, o SALT I. As ações de Nixon ajudaram a reduzir a tensão entre as grandes potências e pavimentaram as mudanças posteriores. 19 Os movimentos de contestação: o movimento feminista e a contracultura Durante os anos 50 a sociedade norte-americana consolidou a noção de que o destino das mulheres era a maternidade e os cuidados com a casa. Os programas de TV, as revistas, o cinema reforçavam esta imagem da felicidade para as mulheres. Veja a abertura do programa Dona Reed Show, que mostrava a vida de uma mulher de classe média, no YouTube: https://youtu.be/wnIC7j-xrUY Em 1963, Betty Friedan publicou um livro chamado “A Mística Feminina” que analisava o papel da mulher na sociedade estadunidense e propunha uma questão incomoda: as mulheres só eram capazes de ser mães e cuidar de suas casas? Ela afirmava que a sensação de infelicidade que ela observou em várias mulheres, que como ela tinham filhos, maridos e belas casas de subúrbio, era resultado do papel que a sociedade oferecia a elas. O livro teve um profundo impacto e, em 1966, Friedan e outras mulheres criaram National Organization For Women, que tinha por objetivo lutar pelos direitos das mulheres de participar completamente da vida dos pais. Elas exigiam igualdade de salários e a criação de mecanismos que evitasse a discriminação de gênero. Outra questão importante para a autonomia feminina era a questão do controle de natalidade. A busca por contraceptivos foi alvo de muitas pesquisas, como a de Margaret Sanger e de muitas discussões sobre a moralidade do mecanismo. Em 1960, o medicamento chegou ao mercado, e pela primeira vez as mulheres norte-americanas puderam separar a sexualidade da reprodução, controlar o número de filhos e o momento da gravidez. A “pílula”, como o remédio ficou conhecido, foi fundamental para a chamada Revolução Sexual, que marcou uma profunda alteração nas relações entre homens e mulheres no que tange a sexualidade. Outra questão importante para o movimento feminista foi a igualdade de direitos. Em 1923, o Partido Nacional das Mulheres apresentou ao Congresso a Equal Rights Amendment (ERA), que objetivava garantir os direitos das mulheres. Capa da Revista Good Housing Keep, uma publicação muito popular no período Fonte: Wikimedia Commons Embalagem de ENOVID, o primeiro anticoncepcional do mercado. 20 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA O movimento feminista dos anos 70 retornou o assunto e conseguiu a aprovação do Congresso, e até 1973 trinta estados tinham ratificado a medida. Entretanto, a ERA foi alvo de um movimento organizado por mulheres conservadoras que se opunham a sua aprovação, como Phyllis Schlafly, que advogava a importância das mulheres retomarem seus papéis tradicionais na sociedade. A ação deste movimento retardou o processo de ratificação da lei e, em 1982, quando a possibilidade de ratificação da emenda se esgotou, faltaram os votos de três estados para que a medida se tornasse lei. O fracasso da luta pela ratificação da ERA pode ser atribuído a divergências entre as mulheres, que desejavam coisas diferentes, mas principalmente ao conservadorismo que dominou a sociedade norte-americana no final dos anos 70 e começo dos 80. Não confie em ninguém com mais de 30 Slogan da contracultura Durante a década de 60, os jovens norte-americanos representavam uma nova força dentro da sociedade, e muitos deles começaram a contestar as formas de vida e as visões de mundo da sociedade tradicional. O nome Hippie virou sinônimo de juventude, mesmo que o grupo nunca tenha sido dominante no movimento de contracultura; contudo, suas posições sobre liberdade sexual, vida comunitária e uso de drogas marcaram a época. Além destas mudanças, o movimento trouxe alterações nos hábitos alimentares, na moda e na música. Os hábitos alimentares se alteraram pela introdução de produtos como iogurte, granola e germe de trigo; e o vegetarianismo se expandiu entre os jovens do período. A moda foi marcada pelas cores fortes, as calças de cintura baixa com grandes cintos e as de boca de sino, e pelas flores no cabelo - o mesmo estilo adotado por ícones da contracultura como Janis Joplin ou Jimi Hendrix. A música continuou sendo uma das maiores expressões da juventude, como tinha sido o início do rock and roll na década anterior, e um dos momentos mais rememorados do período foi o Festival de música de Woodstock, que aconteceu entre 15 e 17 de agosto de 1969. O casal do cobertor cor de rosa, uma das imagens mais conhecidas de Woodstock Fonte: guitarworld.com 21 O festival reuniu mais de 500 mil pessoase teve em seu palco nomes como Joan Baez, The Who, Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin e Jimi Hendrix. Veja Jimi Hendrix tocar o hino americano no último dia do evento: https://youtu.be/Xpdw0ouogQo A década de 70 marcou a sociedade estadunidense por ter sido uma época de profunda crise econômica e política. Em 17 de junho de 1972, um grupo de 5 homens foi preso, com escutas telefônicas e outros equipamentos, ao tentar invadir a sede do partido democrata no edifício Watergate. O ataque era fruto da política estabelecida por Richard Nixon para lidar com seus oponentes; a ideia era tentar descobrir algo que pudesse de alguma maneira comprometer os democratas durante a disputa presidencial seguinte. Quando os assaltantes foram presos, a Casa Branca procurou acobertar o envolvimento do presidente e de seus principais assessores no caso. Apesar das denuncias do The Washington Post, por meio das reportagens de Bob Woodward e Carl Bernstein, Nixon foi reeleito, vencendo George McGovern em 49 dos 50 estados do pais. A equipe do Washington post, Woodward e Bernstein ao centro Em 1973, os assaltantes foram a julgamento e, com ajuda do Washington Post, ficou evidente que o presidente não só tinha ordenado a invasão, mas foi uma figura central nas ações para encobrir o crime. Temendo o Impeachment, que era eminente, Richard Nixon renunciou a presidência em 8 de agosto de 1974. Gerald Ford assumiu o cargo e anistiou Nixon por seus crimes, afirmando que a nação precisava esquecer o pesadelo que o Watergate tinha se tornado. Fonte: Arquivo Washington Post 22 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Simultaneamente, a economia norte-americana passava por uma grande crise: a inflação era alta e o desemprego tinha atingido dimensões assustadoras. Uma das explicações possíveis para a crise foi o aumento do preço do petróleo, a partir de 1973, como represália as ações de Israel na região, a Organization Of Petroleum Exporting Countries, decidiu por um embargo ao país e pelo aumento do preço do barril. Entre 1970 e 1980, o valor triplicou e a economia estadunidense, como na maioria dos países, sofreu imensamente. A inflação, em 1974, atingiu 11% e o presidente Ford iniciou uma série de medidas para reduzir este número, e sugeriu aos cidadãos que controlassem seus gastos e vigiassem o aumento de preços. A crise e o fantasma do Watergate pavimentaram a vitória de Jimmy Carter, em 1976. Carter criou novas taxas e cortou os gastos públicos, contudo, a inflação disparou para 18% e o desemprego flutuou entre 6 e 8% da população economicamente ativa. A condição de economia, como havia acontecido na eleição de Carter, foi fundamental para a vitória do republicano Ronald Reagan. Jimmy Carter Fonte: Library of Congress 23 A Era Reagan No início da década de 80, a economia continuava em crise e as proposta do ex ator Ronald Reagan ganharam a opinião pública norte- americana. As propostas de Reagan eram a redução do estado, que segundo ele tinha se tornado grande e excessivamente intervencionista; corte de impostos, aumento dos gastos militares, a moralidade e a retidão de caráter deveriam voltar a ser centrais no modo de vida norte- americano. Enfim, segundo Reagan, os EUA eram uma superpotência e representavam o melhor governo do mundo A política de defesa dos EUA é baseada em uma simples premissa: os EUA não inicia a briga. Nunca seremos os agressores. Nós nos mantemos fortes para nos defendermos de agressões - para preservar a paz e a liberdade. Ronald Reagan 23 de março de 1983 A eleição de Reagan provocou mudanças no rumo da economia. Ele reduziu o tamanho do estado dramaticamente e diminuiu os impostos, contudo, esta diminuição atingiu os mais ricos e, apesar da situação ter melhorado, a pobreza aumentou e os gastos públicos tornaram-se astronômicos. Esta política teve resultados dúbios, pois entre os anos de 1981 e 1982 a situação permaneceu complicada, contudo, a Colômbia estabilizou a partir de 1983 e entrou em ascensão durante os seus dois mandatos. Os gastos com a “defesa” subiram bastante, graças a grande atividade no setor de armamentos, e estes investimentos eram justificados pela presença da URSS, a outra grande potência da época. Corte de impostos, os gastos com armamentos e manutenção de programas de previdência social e o Medicare, um seguro saúde que era destinado às pessoas de idade igual ou maior que 65 anos ou que verifiquem certos critérios de rendimento. A popularidade do presidente era inegável, e, mesmo quando algum escândalo acontecia envolvendo membros de seu staff, Reagan escapava ileso. Isso valeu a ele o apelido de “Presidente teflon”, nenhuma denúncia o atingia. Em 1984, Ronald Reagan foi eleito para seu segundo mandato ao vencer o democrata Walter Mondaly. No plano internacional Reagan considerava que a única forma de estabelecer contato com a URSS era a partir de uma premissa de supremacia militar, e tomou inúmeras providências, como aumentar o orçamento do departamento de defesa. Ronald Reagan Fonte: Library of Congress 24 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Em 1985, Mikhail Gorbachev assumiu o controle político da URSS e apresentou uma nova campanha de renovação do país, neste momento, Reagan procurou o diálogo com os soviéticos e em 1987 os dois países concordaram em assinar um contrato de desarmamento que pela primeira vez levou a destruição de uma classe inteira de armas nucleares. Capa da Revista Time com Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev Além disso, o governo Reagan propôs uma política internacional que ficou conhecida como Doutrina Reagan. Esta política pressupunha o apoio dos EUA a todos os estados ou grupos que fizessem oposição a governos comunista, como se pode notar pela tomada da Ilha de Granada e ao apoio dados aos resistentes afegãos durante a ocupação soviética. Outra questão importante, no plano internacional, foi a posição da administração Reagan ao chamado “terrorismo”. Em 1983, 239 marines americanos foram mortos em um atentado suicida no Líbano, e o governo estadunidense apontava o possível envolvimento de estados como a Síria, o Irã e a Líbia no treinamento e proteção de grupos anti-norte-americanos. Em 1986, a CIA ligou o governo da Líbia ao atentado cometido em uma discoteca em Berlim. Reagan reagiu imediatamente e ordenou o bombardeio da Líbia em abril daquele ano. Este tipo de atitude marcou a maior parte do período dele no poder e deu a tônica às políticas implementadas que aceleraram a queda da URSS em 1991, durante o governo de George Bush. Fonte: Revista Time, 18 nov. de 1985. 25 A vida nos anos 80 Os anos 80 trouxeram grandes mudanças ao cotidiano dos norte-americanos, como a que atingiu a televisão. A TV a cabo já existia nos anos 70, mas se tornou comum somente na década seguinte, quando podia ser encontrada em praticamente todas as casas de classe média. Surgiram os canais especializados como a ESPN, voltada aos esportes; a CNN que transmitia exclusivamente noticias ou a Nickelodeon, voltada ao público infantil. Neste contexto, surgiu em 1981 a MTV, que revolucionou a indústria musical. Estrelas como Madona e Michael Jackson tornaram muito conhecidos e capazes, e passaram a representar um tipo novo de artista: aquele que se torna um produto consumido através de sua música, seus vídeos, suas roupas e se tornam referência de moda e, muitas vezes, de comportamento. A experiência de assistir a um filme também se modificou, com o advento do vídeo cassete, que permitia que os programas de TV fossem reproduzidos e, que muitos filmes pudessem ser vistos em casa. Deste grupo médio, surgiram os Yuppies, que reuniam jovens de áreas urbanas e que procuravam enriquecer no mundo coorporativo. Estes jovens, diferente dos da década anterior, eram definidos pelo individualismo e pelo consumo de produtos caros, como óculos Ray-Ban ou carros esportes de marcas como BMW. O culto do corpo, por meio de exercíciosregulares, fazia parte do modo de vida deste grupo e criou uma indústria de produtos para dietas e exercícios. Ganância, por falta de uma palavra melhor, é bom. Ganância é correto. Ganância funciona. Gordon Gekko – personagem do filme Wall Street – poder e cobiça (1987) Outro objeto de desejo desses grupos era o computador pessoal. Criado pela Apple em 1977, este novo tipo de equipamento permitia o uso caseiro, como o controle das finanças e empresariais, listas de endereço. O Vale do Silício, na Califórnia, tornou-se o centro de criação e produção de peças como processadores. A questão do abuso de drogas tornou-se uma das maiores preocupações da Primeira Dama Nancy Reagan, que foi responsável pela disseminação do slogan “Diga Não”. Contudo, o surgimento de novas substâncias, como crack, exacerbaram o problema. Ainda no que tange a questão da saúde, destaca-se o surgimento dos primeiros casos documentados de AIDS. Nesta década, a doença não tinha cura e os tratamentos eram pouco eficientes, desta forma, a prevenção tornou-se a única maneira de evitar o contágio. Guia do YUPPIE – livro sobre os hábitos dos YUPPIES, lançado em 1984 Fonte: Long Shadow Books, 1984. 26 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Muitos programas foram criados para difundir a proposta do sexo seguro, por meio do uso de preservativos e do combate ao uso de drogas, já que as agulhas contaminadas eram uma das formas comprovadas de contágio. O medo e o preconceito marcaram a relação do público com essa doença, e mais de uma década seria necessária para que estas questões fossem enfrentadas através de grandes campanhas de esclarecimento. A nova década provocou alterações na política internacional, principalmente com a queda da URSS em 1991. 27 Cronologia EUA pós Segunda Guerra Mundial Harry Truman – 1945 a 1953 • Doutrina Truman – 1947. • Guerra da Coreia. • Reconhecimento do Estado de Israel. • Criador da CIA. • Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos Estados Unidos - 1952/54 - Senador Joseph McCarthy. Dwight D. Eisenhower 1953- 1961 • Sistema Federal de Autoestradas - Segurança para retirada da população das grandes cidades (ataque nuclear). • Doutrina Eisenhower - voltada ao Oriente Médio, para garantir apoio aos estados da região contra os Soviéticos. • Problemas étnicos. John F. Kennedy 1961- 1963 • Corrida Espacial. • Baia dos Porcos. • Questão dos mísseis em Cuba. • Assassinado em Dallas, em 1963. Lyndon B. Johnson 1963- 1969 • Programa Grande Sociedade - eliminação da miséria e preconceito. • Direitos Civis – integração. • “Guerra a Pobreza” Educação e Saúde. • Guerra do Vietnã. 28 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Richard Nixon 1969- 1974 • Fim da Guerra do Vietnã. • Política externa: visita a China e tratados de desarmamento com a URSS. • Novo Federalismo - poder aos estados. • Intervenção na economia “wage and price control”. • Medidas de proteção ambiental. • Watergate. Gerald Ford 1974- 1977 • Acordos de Helsinki. • Crise econômica - recessão e inflação. Jimmy Carter 1977- 1981 • Criação do departamento de Educação. • Criação do departamento de Energia. • Acordos de Camp David - Israel (Menachen Begin) e Egito (Sadat). • Tratados do Panamá - devolução do Canal, em 1999. • Acordo de Redução do arsenal atômico. • Sequestro da Embaixada no Irã - estudantes antiamericanos. Ronald Reagan 1981- 1989 • Mudanças Econômicas - redução da emissão de moeda, intervenção do estado na economia, redução de impostos. • Medidas contra os sindicatos - reduzindo sua ação. • Invasão de Granada - medo de uma ação dos comunistas. • Ataque a Líbia - resposta a um atentado em Berlim, contra turistas americanos. George Bush - 1989- 1993 • Reunificação da Alemanha. • Fim da União Soviética. • Invasão do Panamá. • Guerra do Golfo. 29 Material Complementar Seguem algumas sugestões para aprofundar seus estudos: Sites: National Archives EUA Site oficial do arquivo nacional americano http://www.archives.gov/ USHistory.org Site criado pela The Independence Hall Association (IHA) da Philadelphia. http://www.ushistory.org/index.html Nacional Museum of American History Site do museu, que pertence ao Smithsonian. http://americanhistory.si.edu Filmes: Título Data Período abordado Assunto O Bom Pastor 2006 1938–1961 Criação e ação da CIA até a operação da Baia dos Porcos Os Eleitos 1983 1947–1963 Descreve o Projeto Mercury Boa Noite e Boa Sorte 2005 1953 Macarthismo O americano tranquilo 2002 1954 Início da presença americana no Vietnã Entre o céu e a terra 1993 1960s - 1980s Guerra do Vietnã JFK 1991 1961–1966 Morte de JFK Ghosts of Mississippi 1996 1963-1990s Sobre a morte de Medgar Evers Mississippi em chamas 1988 1964 Lutas pelos direitos civis no sul dos EUA Nascido em 4 de julho 1989 1965–1968 Guerra do Vietnã Platoon 1985 1967–1968 Guerra do Vietnã Bobby 2006 1968 Assassinato de Robert F. Kennedy Full Metal Jacket 1987 1968 Guerra do Vietnã Nixon 1995 1969–1974 Trajetória de Richard M. Nixon Apocalipse Now 1979 1970 Guerra do Vietnã Todos os homens do presidente 1976 1972 Watergate Frost/Nixon 2008 1977 Bastidores da entrevista de Nixon ao jornalista David Frost depois da renúncia Argo 2012 1979-1980 Presença americana no Irã 30 Unidade: A Guerra Fria: a ascensão dos EUA Referências CHOMSKY, NOAM. O império americano: hegemonia ou sobrevivência. Rio de Janeiro, Campus, 2004. CHOMSKY, NOAM. Rumo a uma nova guerra fria - política externa dos EUA, do Vietnã a Reagan. Rio de Janeiro: Record, 2007. KARNAL, Leandro. História dos EUA. São Paulo: Contexto, 2007. 31 Anotações
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