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Defesa no caso dos exploradores de caverna na perspectiva do ordenamento juridico

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DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
Geraldo M. Batista 
Curriculum: www.geraldofadipa.comunidades.net 
 
 
 
1 
1. Introdução 
 
A obra O Caso dos Exploradores de Caverna baseada em uma história fictícia, nos 
relata 05 exploradores de caverna, membros de uma “Sociedade Espeleológica” 
durante uma exploração no Planalto Central Commonwealth foram soterrados, ficando 
presos por mais de 30 dias até serem libertados por uma equipe de socorristas e neste 
período de resgate foram surgindo diversas situações que geraram dificuldades de 
sobrevivência dentro da caverna e morte de dez operários que estavam trabalhando 
com a equipe de resgate. 
 
2. Introdução 
 
 Nossa intenção é o emprego da Justiça com base na veracidade dos fatos, usando a 
variedade de conhecimento e pensamentos do Júri aqui presente. 
 
Gostaríamos de lembrá-los da condição em que se encontravam estes homens, 
isolados, sem nenhum recurso que lhes desse alguma perspectiva de sobrevivência, 
fazendo com que estes definhassem ao ponto de perderem seu estado de sanidade 
mental. Lembramos também, os operários, profissionais competentes, que no 
desenvolver de suas atividades laborais, trabalharam até o fim, na tentativa de 
resgatá-los com vida, e acabaram perdendo as suas. 
 
Os exploradores recorreram ás autoridades através de um rádio e Roger Whetmore 
em conversa com profissionais habilitados questionou quanto tempo seria necessário 
para liberá-los e a resposta foi que precisavam de pelo menos dez dias, desde que 
não ocorressem novos deslizamentos, seguindo as perguntas Whetmore questiona 
acerca da probabilidade de subsistirem sem alimento por esse período, o presidente 
da comissão respondeu-lhes que seria pouco provável essa possibilidade. Sabendo 
que a possibilidade de sobrevivência seria escassa uma vez que estavam sem 
alimentos, Roger Whetmore em seu próprio nome e em representação dos demais, 
novamente questionou a equipe medica que estavam acampadas para atendimento as 
vítimas se eles seriam capazes de sobreviver por mais dez dias se caso alimentassem 
de carne humana e o presidente da comissão respondeu, a contragosto, em sentido 
afirmativo que provavelmente sim. Assim deixando os mais desesperados e nervosos. 
 
Os exploradores recorreram as autoridades clamando por posições jurídicas e 
religiosas, pois sabiam que estavam prestes a cometer na letra da lei, na doutrina 
divina, um homicídio e um canibalismo, mas nenhuma delas se manifestou e/ou não 
quiseram participar de uma decisão tão imprecisa. 
 
3. Omissão de socorro, direito natural 
 
Segundo o art. 135 do nosso Código Penal, nos diz que “Deixar de prestar assistência, 
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à 
pessoa invalida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo.” 
 
Volto a ressaltar que ninguém teve audácia de impedir a hipótese no momento em que 
esta foi expressa, podendo assim impedir o acontecimento que seguirá a estrutura 
deste julgamento, mas foi confirmado de forma horrorizada a hipótese de sobreviver. 
 
DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
Geraldo M. Batista 
Curriculum: www.geraldofadipa.comunidades.net 
 
 
 
2 
Então, com base nos fatos relatados, podemos afirmar categoricamente, que o que 
temos aqui não seria uma omissão de socorro? Uma negligência? 
 
Poderíamos então enquadrar como crime a atitude dos que se abstiveram de ajudar 
ainda que em palavra os exploradores? 
 
Conforme os acusadores de que houve um crime e insistem na apresentação de 
Whetmore como vítima, sendo ele sim uma vítima, mas não de um suposto crime 
cometido por seus colegas, os acusados, vítima de um erro repugnante dos 
representantes da operação de resgate, das autoridades. 
 
A partir do momento em que o Estado se nega em todas suas instâncias ao anseio de 
seus pactuantes não respondendo quando foram questionados sobre o tempo, a 
possibilidade de sobrevivência, ao grupo que se encontrava faminto e amontoado em 
uma prisão subterrânea sendo considerado em um “Estado Natural”, regido pela “lei 
da natureza” (Direito Natural) que é um termo usado para descrever a condição 
hipotética ou empírica da humanidade. Conclui-se que a lei aplicável a eles não é a 
sociedade sancionada e estabelecida por nós, o Direito Positivo (incluído todas as 
suas disposições legisladas e seus precedentes) e sim a Natural, que era a mais 
apropriada para aquela condição em que aqueles homens se encontravam. 
 
Os direitos naturais são princípios fundamentais de proteção ao homem, que, 
forçosamente, deverão ser consagrados pela legislação, a fim de que se tenha um 
ordenamento jurídico substancialmente justo. É constituído por um conjunto de 
princípios, e não de regras, de caráter universal, eterno e imutável. 
 
Não é escrito, não é criado pela sociedade, nem é formulado pelo Estado é um direito 
espontâneo, que se origina da própria natureza social do homem. 
 
Há de se retirar do Jusnaturalismo uma ideia de que o Direito não pode representar 
injustiças, nem açoitar valores humanistas inerentes ao reconhecimento da dignidade. 
O Direito há de colaborar para uma sociedade mais justa e mais solidária 
 
4. Estado de necessidade 
 
Eis a previsão legal do Estado de necessidade no Código Penal Brasileiro: 
 
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: 
 I - Em estado de necessidade; 
 II - Em legítima defesa; 
 III - Em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.” 
 
Art. 24 – Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, 
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo 
sacrifício, nas circunstancias, não era razoável exigir-se. 
 
Cerca de 20 dias sem comer, o corpo permanece em jejum constante, a fome traz 
consigo a dor, o desespero, a angustia e o medo, transtornos emocionais e 
psicológicos, a falta de força e, maiormente a falta de fé. A inanição total pode 
provocar a morte após 8 a 12 semanas. 
 
DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
Geraldo M. Batista 
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A situação a qual os exploradores se encontravam era completamente perturbadora, 
fome e falta de alimentos, o medo da morte, a incerteza de o resgate chegar a tempo 
aliada a forte pressão psicologia e o medo de servir de alimento para os demais gerou 
uma situação tão adversa que com certeza enquadra-se dentro do que se entende por 
estado de necessidade. 
 
O sacrifício veio após um período de 21 dias sem alimentos, havia o risco de morte por 
desnutrição, sendo inviável aguardar a morte natural de um dos indivíduos, visto o 
lapso temporal exigido, diminuindo ainda mais as chances de sobrevivência, sendo 
adiado o máximo possível à medida extrema de sobrevivência conforme relatos dos 
réus. 
 
Portanto, observa-se evidentemente a presença do estado de necessidade como 
excludente de ilicitude a fim de provar a inexistência de crime, visto que os 
sobreviventes usaram de meio necessário, para salvar suas vidas, onde o elemento 
subjetivo era única e exclusivamente a sobrevivência. 
 
Entende-se que no período em que estavam afastados da sociedade, os acusados 
sofreram variações mentais causadas pelas circunstâncias do meio em que se 
encontravam o que influenciou no comportamento psicossocial deles. Não possuía 
desta forma, o discernimento mental mínimo necessário para tornar o sacrifício 
punível. 
 
Portanto afastada a ilicitude pelo estado de necessidade, não há a prática de nenhum 
crime, sendo assim requer-se a absolvição dos réus. 
 
5. Da inexigibilidade de conduta diversa 
 
Antes de qualquer ação a vítima pediu conselho, poderia sim ser prevenido o ato, 
prevenindo este julgamento, porém não prevenindo a exata morte por fome que viria a 
seguir. Aqueles que dispuseramde não aconselhar deram a entender que estaria 
praticando um ato criminoso, mas estariam poupando a vida daqueles demais que 
visavam o resgate e precisavam de alimento. 
 
Não é cabível esperar atitude diversa à tomada pelos exploradores em sacrificar uma 
vida para garantir suas vidas, não extrapolando o limite do aceitável, mesmo porque 
quando fora por eles solicitado um parecer jurídico a respeito da ilicitude do sacrifício 
não obtiveram resposta. 
 
Portanto também está presente no caso excludente de culpabilidade, devido a erro de 
proibição, por não terem recebidos eles um parecer jurídico, se quer ético, no tocante 
a licitude ou ilicitude do sacrifício, tendo em vista que o jurista se negou a dar seu 
parecer. 
 
O sacrifício da vítima também servira para garantir o direito à dignidade e integridade 
física dos sobreviventes, tendo em vista não ser cabível exigir uma morte natural de 
um dos exploradores para que só assim se alimentassem dele, se assim fosse o 
quadro de desnutrição de todos estaria muito agravado, proporcionando uma difícil 
 
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PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
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recuperação. Além do fato de que a vítima ocasionara uma situação de tensão social 
colocando uns contra os outros na busca pela sobrevivência, e eventualmente haveria 
conflitos físicos e vias de fato entre eles, prejudicando a integridade física dos 
indivíduos. 
 
É de natureza humana que quando se encontra em risco de morte eminente, eleve ao 
máximo sua aptidão física, por conta da descarga enorme de adrenalina no 
organismo. 
 
Esperar mais uma semana antes de prosseguir com o acordo poderia ser fatal por 
razões óbvias: desequilíbrios no organismo, debilidades gerais, etc. 
 
O exame clínico feito em dois acusados revelou que os mesmos estão com baixa 
visão e problemas nos rins. Se tivessem passado mais alguns dias sem comer poderia 
haver quedas de pressão, arritmias cardíacas, redução das proteínas, diminuição do 
tamanho dos órgãos, incluindo o cérebro. 
 
Enfim, sem alimentação o quadro se converteria em morte por insuficiência hepática 
ou falência dos órgãos. 
 
Após a apresentação da ideia de sacrifício de um deles em favor dos demais, criou-se 
um ambiente de forte pressão ao psicológico, uma preocupação tal qual, de que forma 
seria feita a escolha, e gerando uma única certeza, que alguém morreria. É 
praticamente impossível para qualquer ser humano manter o seu controle emocional 
diante do iminente risco de morte, complementado ainda pelo medo de ser sacrificado 
enquanto dorme ou apunhalado pelas costas, gerando contenda e desconfiança entre 
eles. 
 
Uma situação de pavor, que só pode ser compreendida por alguém que passou por 
situação semelhante, uma busca imensa de sobreviver. 
 
Pela tensão gerada pela propositura do sacrifício por Whetmore, ocasionou uma 
grande situação de insegurança, visto que como insistentemente indagado, a qualquer 
momento algum deles viria a óbito, portanto com a cessação da ameaça, o direito a 
segurança dos sobreviventes foi garantido. 
Tendo em vista que nem o direito à vida é absoluto, visto que a própria Constituição 
Federal Brasileira prevê expressamente a aplicação da pena de Morte em caso 
especifico no seu Art 5º XLVII, portanto é razoável o sacrifício de um direito para 
garantir inúmeros direitos alheios ameaçados. 
 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: 
[...] XLVII - não haverá penas: 
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;” 
"Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 
[...] XIX - declarar guerra no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou 
referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas e nas mesmas condições 
decretar total ou parcialmente a mobilização nacional.” 
 
 
DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
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No entanto, seria inexigível conduta adversa por eles praticada, com finalidade de 
salvar suas vidas, reforçada pelo fato de não terem recebido parecer jurídico a 
respeito da ilicitude do sacrifício, afasta da conduta o elemento da culpabilidade, 
portanto não houve nenhum crime, e os sobreviventes devem ser absolvidos. 
 
6. Dda tentativa de resgate e desrespeito a dignidade da pessoa humana 
 
Os fatos nos trazem também que na tentativa de resgate dos soterrados, alem de 
excessivos gastos que prejudicou a economia pública, Dez (10) operários, 
profissionais competentes, que no desenvolver de suas atividades laborais, 
trabalharam até o fim, na tentativa de resgatá-los com vida, acabaram perdendo as 
suas, após um deslizamento. 
 
Seriam, então, os exploradores culpados também pela morte desses operários? Não, 
apenas foi uma fatalidade o que ocorreu com os mesmos, pois qualquer profissional 
pode ser acometido com uma fatalidade no decorrer de suas atividades laborais. Visto 
que deram a vida em prol dos exploradores para que o estado os condene, 
desrespeito também com a família desses operários. Inadmissível, violando 
diretamente o princípio da dignidade da pessoa humana. 
 
7. O direito e a moral 
 
Está sendo julgado aqui nesse caso a morte de Whetmore, mas precisamos basear 
nas leis e não na Moral. Moral e Direito não se misturam, assim analisamos o caso no 
ponto de vista estritamente jurídico. A lei é abstrata é generalista. Já a moral é 
subjetiva e não podemos analisar com subjetividade um grupo de homens presos 
dentro de uma caverna com fome, sem ter condições de sair, sem auxilio, um 
desespero total entre todos, que caracteriza a excludente de ilicitude. 
 
Estamos tentando evitar a condenação de outras pessoas porque a vida é tão 
preciosa para o Direito quanto a liberdade. São os direitos naturais, fundamentais do 
homem que transcendem a qualidade do ser humano, é a vida e a liberdade. É justo 
tirar a liberdade de alguém para compensar um suposto homicídio de outro? O ponto 
crucial para a discussão vê-se claramente que não é o fato dos companheiros de 
Whetmore o terem assassinado, mas, sim, a questão do canibalismo, que é uma 
conduta “inaceitável” moralmente, 
 
É compreensível que os leigos se atenham e se choquem com a decisão e a conduta 
dos exploradores, mas não se pode esquecer que a situação ocorreu porque estavam 
todos em estado de necessidade. A vida dependia de uma alimentação inexistente na 
caverna calcária na qual estavam presos. Provavelmente pensaram muito antes de 
chegarem à conclusão tão temida, mas única. 
 
Deve-se lembrar que nenhum deles estava em estado normal de consciência. Todos 
se encontravam alterados físico-psicologicamente: como fome, provavelmente feridos 
e resfriados; sentiam-se solitários e largados pelo mundo que conheciam; sentiam um 
terrível medo de morrer naquela situação degradante. Não se pode esquecer que 
Whetmore era um deles e sentia-se daquele jeito, logo não merecia um fim tão trágico, 
 
DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
Geraldo M. Batista 
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mas também se deve levar em conta que Whetmore não era tão inocente a ponto de 
ser chamado de vítima, já que foi ele que primeiro propôs a idéia da ingestão da carne 
de um deles, propôs igualmente o jogo e os dados. 
 
Nenhum deles pode ser dito como inocente, pois todos sabiam que o crime de 
assassinato iria contra tudo o que era dito moralmente “certo”. Tirar a vida de alguém é 
ferir a sua liberdade; a tal liberdade que foi concedida apenas ao Estado. 
 
Não se pode negar que todossabiam que matar alguém configura em crime e para tal 
crime há punição severa; no entanto, se o crime não fosse cometido muito mais vidas 
seriam desperdiçadas e os esforços e perdas da equipe de salvamento seriam em 
vão. 
 
8. Da extinção da punibilidade 
 
Com esse objetivo apropriado ao caso, recorro ao perdão judicial, a qual encontra-se 
normatizado no ordenamento Brasileiro.“ art. 107 do CP, IX – Pelo perdão judicial, nos 
casos previstos em lei. Assim admite o perdão judicial conforme sumula nº 18 STJ. 
Portanto não havendo solução diversa da tomada, tem-se uma situação que não 
importa o tempo que passem na prisão ou mesmo que paguem com qualquer outro 
tipo de pena, por mais que ao final do cumprimento de suas sentenças não devam 
mais nada nem para o Estado e nem para a sociedade, ainda assim estariam com o 
peso da culpa e as fortes cenas protagonizadas por eles naquela caverna ao tirarem a 
vida de um amigo com o intuito de alimentarem-se dele, sentença alguma será capaz 
de remediar esse sentimento que os acompanhará pelo resto de suas vidas, então 
temos aqui também afastada a conduta do elemento da culpabilidade, 
 
Art. 120 do CP – “A sentença que conceder perdão judicial não será considerada para efeitos de 
reincidência.” 
 
Tendo em vista que o perdão judicial é o instituto por meio do qual o juiz, embora 
reconheça a prática do crime, deixa de aplicar pena, desde que se apresentem 
determinadas circunstancias excepcionais que tornam inconvenientes ou 
desnecessárias a imposição de sanção penal ao réu. 
 
O fato de matar alguém já por si só é um fardo pesado, o que se aumenta ainda mais 
se a vítima for alguém próximo como eram estes cinco amigos, que estavam 
acostumados e habituados a conviver constantemente juntos tanto em explorações 
quanto em suas casas e ambientes familiares. 
 
Portanto, pede-se que sejam declarados inocentes os sobreviventes, 
consequentemente a completa absolvição e extinção do processo pela ausência de 
fato classificado como crime. 
 
9. Conclusão 
 
Conforme exposto supra, chegamos a óbvia conclusão de que não houve nenhum 
crime, uma vez que de acordo com o texto constitucional para que se caracterize 
crime é obrigatoriamente necessária existência de fato típico, ilícito e culpável, uma 
 
DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
Geraldo M. Batista 
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vez que foram afastadas aqui os elementos de ilicitude e culpabilidade tem-se por 
certo a inexistência do crime. 
 
É evidente que os réus passavam por condições que os dispunham à tortura 
psicológica. A privação, a falta de perspectivas, tudo os deixava suscetíveis a 
alterações de comportamento. O estado de estresse contribuiu para facilitar algo que 
provavelmente não fariam em seu estado normal social. Do mesmo jeito,que deve ficar 
claro é que os exploradores sobreviventes, e mesmo o não-sobrevivente, estavam 
todos em estado alterado de personalidade. Estavam completamente desamparados. 
Foram obrigados a tomar para si uma decisão que não lhe cabia, mas foi o único jeito, 
já que não receberam respostas. 
 
Os seres humanos são todos passíveis de erros, muitas vezes de erros grotescos, 
mas os homens de quem se fala, nesse momento, estavam em uma situação em que 
certo e errado, por mais que cada um tivesse o conceito formado em sua cabeça, 
simplesmente não existia. O que existia era uma luta descomunal entre vida e morte, e 
como em uma disputa acirrada entre duas partes. 
 
O sacrifício de um homem foi necessário para a subsistência dos demais homens ali 
presentes e foi a única forma encontrada ali, portanto se não há mais evidencias que 
comprovam o crime, não há aqui que se falar em pena, pois no nosso ordenamento 
jurídico é impossível condenar alguém se este não cometera nenhum crime. 
 
Se a manutenção da vida destes homens não fosse importante, então, por que uma 
equipe de salvamento foi até as últimas consequências, inclusive perdendo dez de 
seus homens, para salvar apenas cinco? 
 
Em uma guerra, muitos homens se perdem para defender um território e as pessoas 
que nele vivem. Na guerra contra o tempo, bravos operários lutaram durante trinta e 
dois dias para salvar a vida de cinco exploradores famintos e desesperados. 
 
E se todos os seus esforços tivessem sido em vão? Se todos os homens tivessem 
morrido por inanição? Seria justo? O que é justiça diante de um a situação em que 
vida e morte estão no mesmo patamar? 
 
Sim, houve premeditação na morte de Whetmore, que inclusive, foi o primeiro a 
destacar a possibilidade de matar outrem para saciar a fome dos demais, mas desistiu 
no último momento, no entanto, deve-se lembrar que ao destacar tão possibilidade ele 
acordou os instintos animais adormecidos nos outros. Vendo por este ângulo, 
Whetmore também é responsável pela sua própria morte. 
 
Após reflexão, fica muito claro que os quatro exploradores só assassinaram Whetmore 
porque estavam sob condições adversas a aquilo que foram acostumados em sua vida 
em sociedade, pois se estivessem fora daquela caverna, provavelmente nunca 
cometeriam um ato de tal selvageria. 
 
 
DEFESA NO CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA. 
PERSPECTIVA DO ORDENAMENTO JURIDICO BRASILEIRO. 
Geraldo M. Batista 
Curriculum: www.geraldofadipa.comunidades.net 
 
 
 
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Cometeram o ato por força de uma irracionalidade guardada no inconsciente humano, 
algo que só poderia ser acordado em uma situação de extrema loucura, exatamente 
como ocorreu no caso. 
 
Sendo assim, não seria justo condená-los. Outro fator se evidencia no fato viverem 
com o peso de seus atos na sua consciência, pois não há coerção mais dura e cruel 
do que àquela que fazem a si mesmos. 
 
Nenhuma coerção estatal seria páreo para o sofrimento ali vivido, aliás, pagaram por 
todos os seus erros naqueles dias difíceis. Nenhum deles precisa sofrer mais, pois já 
sofreram tudo, e o pior continuarão sofrendo por não conseguirem livrar-se das 
lembranças dolorosas de verem toda a sua m oral e todos os seus pudores destruídos 
por eles mesmos em uma situação terrível como aquela. 
 
Uma situação em que todos se encontraram à beira da morte e sem alguém que lhes 
confortasse. 
 
Eis que neste ponto se volta para o começo de toda esta defesa a morte é o 
desconhecido, e o desconhecido causa uma sensação horrível de medo. O medo 
transforma as pessoas a ser capaz de tudo o que jamais fariam em sã consciência. 
 
Por tudo isso, a absolvição é a única solução plausível e sensata. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BRASIL. Código Penal (1940). Código Penal Brasileiro - DECRETO-LEI No 2.848, DE 
7 DE DEZEMBRO DE 1940). Brasília: Senado, 1940. 
 
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: 
Senado, 1988. 
 
Castro, Anna Karina Lopes de. Direito e Moral – Uma visão Kelseniana. Conteúdo 
jurídico, Brasilia-DF:18 dez. 2008. Disponível em 
˂http://conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.22490&seo=1˃. Acesso em: 12 maio 
2019. 
 
FULLER, Lon L. O Caso dos exploradores de cavernas. Tradução do original inglês e 
introdução por Plauto Faraco de Azevedo. Porto Alegre: Sergio Antonio fabris Editor, 
1976. Reimpresso: 1993. 
 
GREGO, Rogério. Curso de direito penal: Parte Geral, volume 1 – 19º ed. 
Niterói, RJ: Impetus, 2017. 
 
KELSEN, Hans – Wmf Martins Fontes. Teoria pura do Direito. 8º Ed. 2009 
 
ROSENVALD, Nelson, FARIAS, Cristiano Chaves. Curso de Direito Civil: Parte Geral e 
LINDB, volume 1 – 16º ed. Ver.,amp. e atual. Salvador: Juspodivm, 2018.

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