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A TUTELA AMBIENTAL NO BRASIL

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Esboço:
1. Tutela Ambiental no Brasil:
· Princípios do Direito Ambiental
· Tutela Constitucional do Direito Ambiental
· Repartição constitucional de competências em matéria ambiental
2.Prevenção e reparação do dano ambiental causado:
· Tutela civil ambiental. Tutela administrativa ambiental.
· Tutela penal ambiental
· Licenciamento ambiental
· Espaços Especialmente protegidos
· Infrações penais e administrativas
1. A TUTELA AMBIENTAL NO BRASIL
1.1 Princípios do Direito Ambiental 
Princípio do Desenvolvimento Sustentável
Nesse princípio, a pedra de toque é a palavra sustentabilidade. Sustentabilidade que não inibe, de qualquer forma, os desequilíbrios naturalmente provocados pela ação e pela existência humana em seu meio, mas que, notadamente, não aceita que o desenvolvimento humano, em busca de sua constante evolução, ameace a suportabilidade do meio ambiente ante os impactos gerados. Isto porque essa suportabilidade faz-se fundamental para que o planeta mantenha-se habitável e existente.
O meio ambiente, em si, possui um limite dentro do qual as influências humanas são absorvidas, não prejudicando a sua renovabilidade e sustentabilidade. Esse limite deve ser respeitado! Essa é a essência do desenvolvimento sustentável, que não impede o homem de desenvolver-se, desde que não ameace a sustentabilidade ambiental. Sustentabilidade ambiental que envolve, inclusive, a sustentabilidade do próprio homem e de suas relações com o meio natural e com a sociedade a qual pertence; afinal, fazem estes parte do complexo que é o meio ambiente (como já foi esclarecido no tópico em que se conceituou meio ambiente). "Em outras palavras, para que o desenvolvimento seja sustentável, não basta que seja ecologicamente sustentável; deve visar igualmente às dimensões sociais, econômicas, políticas e culturais do desenvolvimento" (SILVA, 1995, p.49).
Terminologicamente, ressaltar-se-á que esse princípio foi desenvolvido em 1972, em Estocolmo, na Conferência Mundial do Meio Ambiente, sendo repetido nas demais conferências sobre meio ambiente, em especial na ECO- 92, a qual empregou o termo em onze de seus vinte e sete princípios (FIORILLO,2002, p.24).
Princípio do Poluidor-Pagador ou da Responsabilização
A regra presente em todo o Direito Ambiental é a ideia de que se deve prevenir qualquer dano, derivado da ação humana, que ponha em risco a sustentabilidade e renovabilidade do meio ambiente. Essa regra é consubstanciada nos dois primeiros princípios (prevenção e desenvolvimento sustentável).
Apesar de esta ser a regra, acontecem muitas vezes, pela ação de pessoas descompromissadas com as normas ambientais e/ou pelo descaso do Poder Público de pôr em prática essas normas, de não serem evitadas as degradações no meio ambiente. 
Ocorrendo esse fato, a medida a ser tomada é o autor da ação degradadora ser responsabilizado. Nesse caso, "o empreendedor, aquele que representa a atividade desempenhada, deve arcar com os custos para a mitigação dos danos que seu empreendimento possa causar, pois esses custos, em princípio, não podem ser repassados ao cidadão" (MATOS, 2001, p.63).
Essa responsabilização é justamente derivada do fato de que "qualquer violação ao Direito implica a sanção do responsável pela quebra da ordem jurídica" (ANTUNES, 1998, p.31). Todavia, quando se trata da degradação ambiental, torna-se essa violação majorada, já que terá reflexos (pela natureza difusa e pela substância complexa do meio ambiente), para toda a coletividade e, mais ainda, para todo o ecossistema.
Princípio da Obrigatoriedade da Ação Estatal
Esse, definitivamente, é um princípio de Direito Ambiental. Por esse princípio, deve o Estado, por todos os meios possíveis, prevenir as degradações a esse bem e, havendo as degradações, punir o degradador, responsabilizando-o com base no princípio do poluidor-pagador e com a aplicação coerente das normas ambientais brasileiras. Além desse fato, "o Estado deve assumir a condução da política ambiental, por meio de seus órgãos competentes, efetivando os controles necessários à manutenção da qualidade de vida" (MATOS, 2001, p.61).
Outro reflexo desse princípio encontra-se na ideia de que o Estado deve AGIR OBRIGATORIAMENTE no sentido de notificar[3] os demais Estados sobre o surgimento de eventos ambientalmente nocivos, mas precisamente se houver proporções que levem prejuízos a outras nações, em outros territórios. Destarte, é obrigação do Estado efetivar a notificação, sendo que esta "refere-se ao comportamento entre nações, levando-as à obrigatoriedade de comunicação de eventos danosos ao meio ambiente, principalmente quando os efeitos são transfronteiriços" (MATOS, 2001, p.61).
Princípio do Direito Humano Fundamental
Esse princípio é adotado por ANTUNES (1998) e por DEEBEIS (1999). É derivado da própria substancialidade do direito ao meio ambiente, já que o mesmo é um direito humano fundamental. Daí brota o princípio! Sustenta-se esse entendimento pelo fato de "(...) o reconhecimento do direito ao meio ambiente saudável já está registrado em documentos internacionais de grande relevância (...)".
Esse princípio, além de ter sido configurado na Constituição Federal de 1988 "também já penetrou nas Constituições e na legislação de grande número de Estados" (DALLARI, 1998, p.56).
Por outro lado, o reconhecimento do direito ao meio ambiente como um direito fundamental é reflexo direto da sua constitucionalização.
Princípio do Direito-Dever da Participação Popular (Democrático ou da Participação) [4]
Como já foi observado no princípio anterior, o meio ambiente é um direito humano fundamental, tendo, portanto, o homem direito de usufruir, sustentavelmente, desse bem. Além do mais, tem a população o direito de participar ativamente da proteção desse bem.
Todavia, cabe ressaltar que não só tem a coletividade o direito facultativo de participar e cobrar para que o meio ambiente não seja ameaçado, mas, conjuntamente, tem a coletividade o DEVER de proteger o meio ambiente para as presentes e futuras gerações. Desse modo, a participação popular não pode ser encarada como um mero fruto da faculdade do cidadão, mas, ao contrário, deve ser um imperativo.
"Acrescente-se a isso a impossibilidade de viver democraticamente se os membros da sociedade não externarem suas opiniões e vontades" (DALLARI, 1998, p.16).
Princípio da Cooperação 
Ao estender à coletividade o dever de proteger o meio ambiente para as presentes e futuras gerações, reconhece-se que a ação isolada dos sujeitos desse dever (Poder Público e coletividade) não seria suficiente ou eficaz para a tutela do meio ambiental. Por esse fato, foi estabelecida a necessidade de que ambos participassem simultânea e, quando possível, conjuntamente. Assim sendo, surgiu como princípio a necessidade da cooperação entre o Poder Público e a coletividade, com o fito de viabilizar a proteção ambiental e a materialização da idéia de desenvolvimento sustentável.
Princípio da Soberania dos Estados
Esse princípio é amplamente fortificado no Direito Internacional e, geralmente, reforçado nas constituições nacionais. Esse princípio, no Direito Ambiental, deixa claro que cada Estado tem a liberdade para proteger o meio ambiente presente em seu território, de modo que, precipuamente, não poderá um Estado ou Organismo externo ditar as normas que deverão ser aplicadas na preservação do meio ambiente nacional. 
"As nações têm total soberania para o estabelecimento de sua política ambiental, ditando os parâmetros a serem seguidos no seu território, com o objetivo de equilibrar o meio ambiente com o desenvolvimento" (MATOS, 2001, p.64).
Destarte, cabe ao Estado legislar e executar as suas políticas ambientais sem intervenções externas, com o objetivo de proteger e sustentabilizar o meio ambiente. Todavia, na prática, "deve estar claro que existem mecanismos internacionais de pressão para que determinada nação adote um determinado controle ambiental" (MATOS, 2001, p.64).
Princípio da Complexa Educação Ambiental
O princípio da educação ambiental está consolidado no Direito Internacional.Da mesma forma, vê-se no texto constitucional brasileiro de 1988, no seu inciso VI, § 1°, do art. 225. Esse parágrafo incumbiu o Poder Público de "promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente".
Princípio da Ubiquidade
Esse princípio é consubstanciado na ideia de que o meio ambiente é ubíquo, ou seja, está presente em toda parte, em todo o globo, e que, portanto, toda e qualquer lesão ocorrida em sua estrutura, independente do local onde ocorra, tem reflexos, diretos ou indiretos, em toda a natureza. Dessa forma o que se quer ressaltar é que "(...) os bens ambientais naturais colocam-se numa posição soberana a qualquer limitação espacial ou geográfica". Em consequência, "(...) dado o caráter onipresente dos bens ambientais, o princípio da ubiqüidade exige que em matéria de meio ambiente exista uma estreita relação de cooperação entre os povos, fazendo com que se estabeleça uma política mundial ou global para sua proteção e preservação" (RODRIGUES, 2002, p.134).
Os Princípios da Precaução e da Prevenção: Aproximações e Diferenças
Ao efetivar-se, no tópico anterior, uma análise de diversos princípios do Direito Ambiental, resta tão-somente realizar um relevante estudo sobre os princípios da precaução e da prevenção, diante de sua relação direta com o tema ora proposto.
A postura de evitar-se a degradação ambiental "ganhou reconhecimento internacional ao ser incluído na Declaração do Rio (princípio n° 15) que resultou da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento − Rio 92" (ANTUNES, 1998, p.29). Determina que toda e qualquer atividade humana (governamental ou não) deve ser devidamente calculada no sentido de prevenir que o seu impacto de alguma forma ameace a sustentabilidade ambiental.
Notar-se-á que o princípio da prevenção não delineia atividades específicas que devam ser prevenidas, subtendendo-se, portanto, que toda e qualquer atividade, independente de sua natureza ou de seus autores, deva ser estudada antecipadamente como forma de precaução e com a meta de evitar que, pela sua imprudência, seja prejudicada não só a sustentabilidade, mas, também, a renovabilidade ambiental.
"A atuação do Poder Público deve ser preventiva, ou seja, como em todas as atividades humanas, existe um fator de risco" (MATOS, 2001, p.62). E, de certo, esse fator de risco deve ser analisado. Nisso consiste o princípio da prevenção.
No Direito Ambiental, é muito comum, entretanto, encontrar-se uma nítida divergência entre os doutrinadores que se dedicam a comentar os princípios (jus)ambientalistas da precaução e da prevenção: a) há aqueles que entendem serem eles um só princípio; e b) aqueles que defendem serem os ditos princípios autônomos e distintos.
Com relação à primeira corrente, pode-se afirmar que:
“A prevenção é reconhecida pela doutrina como um dos princípios do Direito ambiental. Esse princípio também pode ser reconhecido, doutrinariamente, como precaução, prudência ou cautela. Muito embora existam as diversas nomenclaturas, essa diversidade não se reflete na substancialidade dos princípios, tanto que boa parte dos doutrinadores brasileiros destina a essas expressões as mesmas ideias e essências, diferente dos portugueses que, por exemplo, diferenciam o princípio da prevenção do da precaução[7] (BRITO, 2010, p. 55).
Com relação, contudo, à segunda corrente, é possível afirmar que o conhecimento ou o desconhecimento dos reflexos nocivos de determinado ato potencialmente degradador do meio ambiente é o critério, geralmente, utilizado pela doutrina para diferenciar os dois princípios.
Nesses termos, quando o ato ou atividade potencialmente lesiva ao meio ambiente tem efeitos conhecidos ou previsíveis estar-se-ia falando do princípio da prevenção.
Por outro lado, quando esses efeitos ou resultados fossem, ao contrário, desconhecidos, ou seja, imprevisíveis, o princípio em tela seria o da precaução.
Seguindo esse raciocínio, ter-se-ia o princípio da prevenção ao se evitar a caça de determinadas espécies, da mesma forma que a pesca em determinados períodos de desova, pois, nesses casos, os reflexos do dano gerado seriam conhecidos ou previsíveis, isto é, a ameaça de extinção de determinadas espécies ou ainda a redução da biota.
Contrariamente, quando se fala da proibição de plantação de determinadas variedades vegetais transgênicas, antes de se efetivarem prévios estudos que constatem a não existência de ameaça ao equilíbrio ambiental ou a saúde do ser humano – potencialmente consumidor dos produtos deles advindos –, estar-se-ia tratando do princípio da precaução, até mesmo porque não há como se prever os reflexos danosos gerados por esta prática. Não sendo previsível o dano, notadamente, há referência à precaução e não à prevenção.
Há, igualmente, quem sustente a distinção entre os dois princípios, em fatores de ordem etimológica, alegando que ambas as nomenclaturas, apesar de semelhantes, remontariam significados distintos.
Na prática, no entanto, a diferenciação entre os princípios da prevenção e da precaução parece ser de pouca utilidade.
Além do mais, não parece razoável a iniciativa doutrinária de reconhecer dois princípios distintos pelo mero fato de serem ou não previsíveis os danos ambientais advindos de determinadas práticas.
A ideia de princípio relaciona-se intimamente com a noção primeira de valor. Os princípios jurídicos, nesse contexto, seriam uma fonte primeira de vitalidade do ordenamento jurídico; uma nascente fluvial propriamente dita, da qual brotariam as gotas iniciais e propulsoras da correnteza de um rio teórico e normativo.
Ao se tentar, todavia, explicar a razão de ser de um princípio pelos resultados ou consequências de determinadas práticas, como na presente situação, parece estar incidindo em grave erro, por estar-se invertendo o foco caracterizador dos princípios: ao invés de considerar-se o valor norteador, considera-se o reflexo dele surgido; ao invés de considerar-se o início, passa a considerar-se o fim.
Nessa conjectura, é coerente afirmar que tanto o princípio da precaução como o da prevenção são um único princípio por possuírem eles uma única ideia valorativa nuclear, um único valor central: evitar a ocorrência do dano ambiental. Nada mais do que isso.
Desta feita, pouco importa o conhecimento ou não, a previsibilidade ou não do dano ambiental gerado. Isto não é motivo suficiente para se justificar a existência de dois princípios autônomos.
Havendo a possibilidade ou a ameaça de ocorrência de uma degradação ambiental e, por derivação, de ameaça à saúde do ser humano, deve tal degradação ser evitada, prevenida ou precavida, não importando, assim, qual a expressão que será utilizada para referir-se a esse fim.
 Diante dessa realidade, optar-se-á, neste artigo, por entender a prevenção e a precaução como um único princípio, divergindo, assim, de boa parte da doutrina ambientalista. Motivo pelo qual, no próximo capítulo, abordar-se-ão todos e quaisquer contextos que possam ser entendidos como iniciativa para se “evitar a ocorrência de dano ambiental”, independentemente de sua previsibilidade.
Por fim, ressaltar-se-á que a importância desse princípio é inquestionável, já que a ideia de prevenção sempre é a mais oportuna. Principalmente, ao levar-se em consideração a ideia de que "(...) nem sempre é possível reparar cabalmente um dano ecológico: haja vistas, por exemplo, à extinção total de certos animais ou vegetais" (GRASSI, 1995, p.31). Torna-se mais coerente, por esse motivo, evitar o surgimento do dano ecológico, do que simplesmente sanar as suas consequências (algumas vezes irremediáveis).
1.2 Tutela Constitucional do Direito Ambiental
A tutela jurídica do meio ambiente somente passou a ter status constitucional com a promulgação da Carta Republicana de 1988, que não apenas inseriu o meio ambiente como sendo um direito social do homem, como também sujeitou aqueles que violam tal direito à sanções administrativas e penais.
O meio ambiente pode ser definido como sendo “a interaçãodo conjunto de elementos artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.
A prática de atos degradantes aos elementos que compõe o meio ambiente provoca grave ameaça ao bem-estar e à qualidade de vida humana, de modo que a intensidade com a qual a prática desses atos vinha se desenvolvendo despertou, no mundo todo, uma consciência ecológica.
Essa consciência ecológica teve reflexo direto nos atuais diplomas legais de todo o mundo, pois passou a ser reconhecida, mundialmente, a importância do meio ambiente na vida do ser humano, o que justificou a intervenção estatal quando da promulgação do novo diploma constitucional.
Edis Milaré acentua que pela primeira vez no plano constitucional o meio ambiente foi tratado autonomamente, e não apenas de forma tangencial, como era de costume até então. 
Nos regimes constitucionais modernos, como o português (1976), e espanhol (1978) e o brasileiro (1988), a proteção do meio ambiente, embora sem perder seus vínculos originais com a saúde humana, ganha identidade própria, porque é mais abrangente e compreensiva. Nessa nova perspectiva, o meio ambiente deixa de ser considerado um bem jurídico per accidens (causal, por uma razão extrínseca) e é elevado à categoria de bem jurídico per se, vale dizer, dotado de um valor intrínseco e com autonomia em relação a outros bens protegidos pela ordem jurídica, como é o caso da saúde humana e de outros bens inerentes a pessoa.
De fato, a Carta Brasileira erigiu-o à categoria de um daqueles valores idéias da ordem social, dedicando-lhe, a par de uma constelação de regras esparsas, um capítulo próprio que, definitivamente, institucionalizou o direito ao ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo. (MILARÉ, 2009, pg. 144)
 
A primeira previsão expressa ao bem jurídico em questão encontra-se no artigo 5º da Carta republicana, o qual elenca os direitos e garantias fundamentais, conferindo legitimação a qualquer cidadão para a propositura da ação popular com vistas à anulação de ato lesivo ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
Para melhor compreensão da importância que assumem no ordenamento jurídico pátrio, vale fazer uma breve explanação acerca do que vem a ser os chamados “direitos fundamentais”. Esses direitos são doutrinariamente divididos em três planos distintos: os direitos fundamentais de primeira, de segunda e de terceira geração. 
Dentre os direitos fundamentais de primeira geração incluem-se aqueles que se relacionam diretamente com a liberdade do indivíduo, e se caracterizam por impor aos atos e atividades do Estado uma limitação, consistente na não interferência do mesmo na liberdade individual dos cidadãos. Por visarem a restrição da atuação Estatal, são conhecidos por “direitos negativos”.
Os direitos fundamentais de segunda geração se desenvolvem em torno dos ideais de igualdade e, ao contrário dos anteriores, impõe um dever de atuação ao Estado em favor do bem-estar do indivíduo, e por isso são denominados “direitos positivos”. Fazem parte desta categoria os direitos sociais, culturais e econômicos.
Por fim, os direitos de terceira geração se consubstanciam nos ideais de solidariedade e fraternidade, tutelando interesses de ordem coletiva e difusa. É nessa categoria que se inclui o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
A inclusão do meio ambiente dentre o rol de direitos fundamentais se deu em decorrência da necessidade de sua preservação para a “sadia qualidade de vida”, nos exatos termos da Magna Carta, qualidade que só pode ser garantida por meio da preservação do patrimônio ecológico. 
Não obstante estar previsto no rol de direitos fundamentais, pode-se encontrar em diversos dispositivos constitucionais referências ao meio ambiente, ou a este vinculados direta ou indiretamente, contendo normas de natureza processual, penal, econômica, sanitária, tutelar administrativa e normas de repartição de competência legislativa e administrativa.
Art. 225 da Constituição Federal
Além de várias menções implícitas e explicitas no diploma constitucional, reservou-se à disciplina do direito ambiental um capítulo inteiro, compreendendo-se o conteúdo das disposições como direito social do homem. A matéria é disciplinada inteiramente no art. 225, com seus parágrafos e incisos, comportando em seu bojo princípios e instrumentos de garantia da efetividade do direito enunciado no ”caput”, bem como determinações particulares. 
No caput do mencionado artigo, o constituinte originário prevê que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida”, e impõe ao poder público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio ambiente para as presentes e futuras gerações.
Equilíbrio ecológico e qualidade de vida são expressões que se interpretam numa relação de interdependência, de modo a expressar que a higidez do meio ambiente compõe um todo substancialmente harmônico.
Trata-se da expressão de um vetor condicionante da atuação do Estado e do comportamento social. A um só tempo, estipulam-se direitos de índole coletiva (rectius, direitos difusos) e um conjunto de prestações impostas aoPoder Público e aos particulares, a fim de que aqueles direitos possam ser eficazmente exercidos. A norma constitucional em foco revela um conteúdo negativo, impondo o dever de abstenção em relação a comportamentos deletérios ao ambiente, e, ao mesmo tempo, apresenta um conteúdo positivo, impondo um ‘atuar’ por parte do Estado e da coletividade em direção à promoção da higidez do meio ambiente. (NETO, 2003, pg. 122)
 
O poder público deverá tomar todas as providências necessárias para assegurar a efetividade de tal direito, e para que cumpra com o dever que lhe é imposto, o §1º do mencionado artigo estabelece algumas diretrizes para a defesa do meio ambiente. 
 Ademais, a Constituição Federal não prevê apenas medidas de ordem preventiva, mas também atua repressivamente ao submeter aqueles que atentem contra o meio ambiente à sanções penais, sem desconsiderar a obrigação de reparação de danos ou a incidência de sanções de ordem administrativa.[6]
Não há dúvidas, além disso, de que a educação ambiental é o melhor caminho para se tutelar o meio ambiente, mas, enquanto isso não se concretiza, deve-se protegê-lo utilizando-se de todos os meios permitidos legalmente para garantir a sobrevivência das presentes e futuras gerações (SIRVINSKAS, 2002, pg.17)
 
A responsabilização penal poderá recair tanto sobre pessoa física quanto sobre pessoa jurídica que cometa crimes contra o meio ambiente. A necessidade de previsão da atuação penal se mostrou patente, tendo em vista que punições de ordem civil e administrativa vinham se mostrando ineficientes para tutela do bem jurídico em questão.
Educação Ambiental
Entre as obrigações do Poder público para garantir a preservação do meio ambiente, encontra-se promoção da educação ambiental em todos os níveis de ensino e da conscientização pública. Isso significa inserir a transmissão dos conhecimentos sobre meio ambiente no ensino escolarizado.
 A educação ambiental tem por vista despertar a consciência ecológica para o exercício da cidadania, e é um dos instrumentos mais importantes que pode ser utilizado para a proteção do meio ambiente.
A regulamentação de tal previsão foi dada com a edição da lei 9.795, institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e é neste conjunto normativo que se conceitua o que vem a ser a educação ambiental, que encontra definição logo em seu primeiro artigo, nos seguintes termos:
Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
 A mesma lei estabelece princípios básicos e objetivos fundamentais a serem perseguidos, e institui que a educação ambiental é “um componenteessencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.
O ensino formal compreende aquele programado nas escolas em todos os níveis de ensino. Já o aspecto não formal refere-se a atuação do poder público para conscientização populacional fora do ambiente escolar.
Essa segunda modalidade de educação parece ser, atualmente, a mais indicada para prevenir a pratica de delitos ambientais, haja vista sua a maior aplicabilidade da educação popular.
A educação ambiental deve estar fundamentada na ética ambiental, que se traduz como sendo “o estudo dos juízos de valor da conduta humana em relação ao meio ambiente”. 
Somente por meio da educação ambiental, seja de modo formal mediante a instituição da disciplina nos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, seja de modo não-formal por meio de ações e práticas educativas de ordem diversa, pode-se garantir uma maior conscientização populacional quanto à importância que o meio ambiente representa, evitando-se dessa forma a ocorrência de condutas atentatórias ao patrimônio ecológico. 
1.3 Repartição constitucional de competências em matéria ambiental
As entidades políticas são todas autônomas e essa espécie de poder constitui o núcleo do conceito do Estado federal, poderes aí, significando a porção de matérias que a Constituição distribui entre as entidades e que passam a compor seu campo de atuação governamental, suas áreas de competência, definidas essas como as diversas modalidades desse poder que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar as suas funções.   (SILVA, 2005, pág.477)
O princípio geral que norteia a repartição de competências entre as entidades componentes do Estado federal que é o da predominância do interesse, segundo o qual caberá a União as matérias de predominante interesse geral, nacional, aos Estados, os de interesse regional, e aos Municípios, os de interesse local, está-se tornando cada vez mais difícil de discernir. Exemplificando, os problemas da Amazônia, os do polígono da seca, não afetam a União como um todo, porém atingem mais de um Estado. (SILVA, 2005, pág.478)
Assim é, que seguindo a tendência moderna, a Constituição Federal de 1988 adota um sistema complexo de repartição de competências, que segundo Silva (2005, pág.479)  “... busca realizar o equilíbrio federativo, por meio de uma repartição de competências que se fundamenta na técnica de enumeração dos poderes da União (arts. 21 e 22), com poderes remanescentes para os Estados(art.25, §1º) e poderes definidos indicativamente para os Municípios art.30), combinando com essa reserva de poderes de campos específicos, possibilidades de delegação (art.22, § único), áreas comuns em que se preveem atuações paralelas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art.23) e concorrentes entre a União e os Estados em que a competência para estabelecer políticas, diretrizes ou normas gerais, cabe à União, enquanto se defere aos Estados e até aos Municípios a competência suplementar”.
A COMPETÊNCIA AMBIENTAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
A competência ambiental, segundo Christiano Ribeiro Dornelles (SCHMIDT, et al, 2011, pág.24) é a medida do poder de sua tutela intrinsecamente relacionada com o pacto federativo e a repartição de poderes no âmbito de nossa República Federativa, e diz respeito à atividade legislativa e  administrativa. E aí temos a competência privativa, em corte vertical, e as competências concorrente e comum, em corte horizontal. 
Raul Machado Horta (1994, pág.24) ao abordar as referências ao meio ambiente na Constituição, procura agrupá-las na seguinte classificação:
I - regras de garantia- artigo 5º, LXXIII;
II- regras de competência – competências comuns e concorrentes (artigos 22, 23 e 24);
III- regras gerais – definem princípios de conduta como por exemplo a que determina o artigo 170, VI, princípios gerais do meio ambiente; responsabilidade da pessoa jurídica por atos praticados contra a ordem econômica dentre elas a defesa do meio ambiente (artigo 173,§5º); a que impõe à propriedade rural a preservação do meio ambiente artigo 186, II; e as atribuições do SUS colaborar com a proteção do meio ambiente (artigo 200);
IV- regras específicas: são as dispostas no artigo 225 e seus §s e incisos.
A essas regras apontadas por Horta, sugere-se outra, ligada à política urbana prevista no artigo 182, que ainda que não mencione expressamente o meio ambiente regula a política de desenvolvimento urbano, a ser executada pelo  Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei,   que objetiva ordenar o pleno desenvolvimento  das funções  sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.
A lei mencionada pelo artigo é a de nr. 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) que em seu artigo 1º,§ único, vem a explicitar o seu alcance que é o de estabelecer normas de ordem pública e interesse social que regulem o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambiental.
Vê-se, assim, a multiplicidade de referências ao meio ambiente, todas demandando políticas públicas a serem implementadas pelos Poderes Públicos. 
E, é, aí, que surgem as dificuldades para o funcionamento da tutela do meio ambiente no Brasil, uma vez que a organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos.
Assim, a qual deles cabe a tarefa de tutelar o meio ambiente?
Para responder a essa questão, passa-se a analisar, separadamente, a competência que cada uma das entidades políticas recebeu da Lei Maior no que se refere ao meio ambiente.
DA COMPETÊNCIA DA UNIÃO
A União dispõe de competência material ou administrativa exclusiva (art.21); de competência legislativa privativa (art. 22); de competência comum com os Estado, Distrito Federal e Municípios (art.23); e de competência legislativa concorrente com os Estados (art.24).
A competência material ou administrativa regulamenta o campo do exercício das funções governamentais podendo ser tanto exclusiva da União (com a característica da indelegabilidade), como comum (cumulativa, concorrente administrativa ou paralela).
Na competência material ou administrativa exclusiva, em matéria de meio ambiente vê-se que compete com exclusividade à União: a) explorar diretamente ou por autorização, concessão ou permissão os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos d’água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos (inciso XII, alínea “b”); instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso (inciso XIX); c) instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; d) atendidos os princípios e condições elencadas em seu inciso XXIII,constitui monopólio estatal da União a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados; e) estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.
Na competência comum em que todos os entes federativos podem atuar, a Constituição Federal previu em seu artigo 23, § único, que leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. 
Em relação ao meio ambiente, pode-se verificar no tocante à competência comum (art.23) que: a) o inciso III, visa proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; b) o inciso IV visa impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; c) o inciso VI, especificamenteprevê a proteção do meio ambiente e o combate da poluição em qualquer de suas formas; d) o inciso VII objetiva preservar as florestas, a fauna e a flora; e) o inciso XI, visa registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios.
O artigo 22 que trata da competência legislativa privativa da União admite uma autorização aos Estados por meio de lei complementar para que esses legislem sobre questões específicas  onde prepondere o aspecto regional.
E essa competência para legislar sobre o meio ambiente é concernente: a) águas, energia (inciso IV); b) jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia (inciso XII); c) atividades nucleares de qualquer natureza (inciso XXVI).
O artigo 24 elenca a competência concorrente entre a União e os Estados e o Distrito Federal, cabendo àquela as normas gerais, e na falta delas, a competência plena dos Estados para atender as suas peculiaridades (é claro, que no caso de superveniência de lei federal sobre normas gerais, suspende a lei estadual, no que lhe for contrário).
No que concerne ao meio ambiente, a competência concorrente da União e Estados e Distrito Federal proposta pelo artigo 24, é: a) direito urbanístico (inciso I); b) florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição (inciso VI); c) proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico (inciso VII); d) responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso VIII). 
DA COMPETÊNCIA DOS ESTADO E DISTRITO FEDERAL 
A Constituição Federal, ao contrário do que dispõe à União e ao Município, não elenca as competências dos Estados prevendo, apenas, em seu artigo 25, §1º, que aos Estados são reservadas as competências que não lhes sejam por ela  vedadas.
Entretanto, a par dessa previsão constitucional, que à primeira vista parece limitar a competência dos Estados e Distrito Federal, há que se apontar que a  própria Lei Maior reserva, expressamente, aos Estados e ao Distrito Federal, matérias de competência privativa que podem ter reflexo na qualidade do meio ambiente como na hipótese do artigo 25, §3º, que disciplina a instituição de Regiões Metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões e, neste particular cabe a eles disciplinar legislativamente sobre a  preservação e defesa do meio ambiente.
A par dessa exceção, constata-se que de maneira geral os Estados e Distrito Federal têm uma competência, ora remanescente (art.25,§1º), ora concorrente  com a União  (art.24), ora podendo, inclusive,  legislar em matéria exclusiva da União desde que, como se disse supra, autorizado por lei complementar e sobre questões específicas (art.22, § único).
À vista do quanto exposto, de que o Estado não tem um elenco de competências exclusivas – à exceção do quanto previsto no art. 25, §3º, da CF-  parece acertado o entendimento de Celso Bastos (apud  MORAES, 2007, pág. 286) de que  a União tem um papel hegemônico na atividade legislativa em todos os campos e o Município em razão do artigo 30,I, para os assuntos de interesse local, o que leva a constatação de que a competência do Estado para legislar originariamente fica reduzido a itens poucos numerosos, quase inexistentes.
DA COMPETÊNCIA MUNICIPAL 
O artigo 30, da Constituição Federal, prevê que compete ao Município legislar sobre assuntos de interesse local (inciso I); suplementar a legislação federal e estadual no que couber (inciso II); promover,  no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de uso, do parcelamento e da ocupação do solo (inciso VIII).
Quanto à competência suplementar, no que concerne ao meio ambiente, competirá aos Municípios legislar, dentre outros, sobre: a) proteção do patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; b) responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico local; c) direito urbanístico local. 
Há que se atentar que ao se tratar da competência do Município é oportuno dizer que interesse local não pode ser entendido como aquilo que é exclusivo, mas o que é preponderante.
Para Mello (2008, pág. 832), todavia, a matéria da União pode ter ressonância no plano municipal,  porém, sobre certas matérias, improcede alegar interesse local do Município para fundamentar a legislação municipal. Assim, por exemplo, as relações de trabalho, cíveis e comerciais, as relações agrárias, vão se realizar no Município porém serão reguladas pela União.
Um outro  aspecto primacial no estudo das competências do Munícipio é a falta de definição do que seja, interesse local.
O que se pode dizer, é que as competências privativas do Município, em matéria de meio ambiente, a maior parte delas se reconhece que se comparte com a União e com os Estados,  pois, nos termos do artigo 225, são encargos do Poder Público integrando o universo das competências comuns e concorrentes. 
Por outro lado o artigo 24, da CF, apenas prevê ser da competência da União e dos Estados legislar concorrentemente sobre o rol de matérias nele relacionadas. É silente quanto ao Município.
Assim, utilizando-se de uma interpretação possível, poder-se-ia dizer que ao Município não cabe suprir a falta de normas gerais de competência da União, mas pode, sim, em virtude da previsão contida no artigo 30, II, complementá-la no que couber, ou seja, dentro do universo de competência a ele reservada pela Lei Maior, e aqui excluída a competência do Estado, ainda que necessite, ao exercitá-la, observar a legislação concorrente federal e estadual sobre normas gerais já existentes.
Desta maneira, inexistindo normas gerais da União, aos Municípios se abre a possibilidade de suprir a lacuna para editá-las para atender suas peculiaridades.  Caso o Estado tenha expedido tais normas caberá ao Município respeitá-la só podendo complementá-las.  
Toshio Mukai (2002, pág. 121), ao tratar da autonomia municipal e a legislação sobre meio ambiente,  afirma que a competência do Município é sempre concorrente com a União e a dos Estados membros,  podendo legislar sobre todos os aspectos do meio ambiente, de acordo com a autonomia local, quando então sua legislação deve prevalecer sobre qualquer outra,  desde que inferida da predominância do interesse local, o que não ocorre nas hipóteses em que a emissão da lei decorra de competências privativas subsistindo a do Município, entretanto, as observando.
Vladimir Passos de Freitas (2005, pág.67), concordando com o doutrinador supra, dá importante exemplo: a Lei municipal nº 35, de 08/05/1997, de Barra do Quaraí, no Rio Grande do Sul,  na fronteira com o Uruguai foi promulgada para disciplinar a captura, transporte, comercialização e fiscalização do pescado na área do Município e definir as espécies de pescador, a proibição de pesca e a imposição de sanções administrativas. Posicionando-se sobre o assunto, assevera que não obstante haver lei tanto da União, quanto do Estado do Rio Grande do Sul,a reger a matéria, a lei municipal em tela é constitucional, com base no artigo 30, inciso I, da CF, tratando-se de lei suplementar,  uma vez que as leis federais e estaduais são normas de natureza mais genérica e não atendem ao caso ora analisado.
Faz, contudo, uma advertência: a de que deve ser aceito tal posicionamento após análise criteriosa e particular de cada caso concreto. 
INSTRUMENTOS DO PLANEJAMENTO URBANO E AMBIENTAL 
Inicialmente, por apresentar de modo explícito a essencialidade de se instituir um planejamento integrado que implante uma coordenação intersetorial, com destaque ao vetor ambiental,  aponte-se o entendimento sintetizado de Yves Chalas, apud   Élson Pereira (SCHMIDT et al, 2011, pág. 254), sobre a sua caracterização de cidades contemporâneas: para ele, a urbanidade que hoje se desenha não faz tábua rasa de elementostradicionais da análise urbana, tais como: rural/urbano; centro/periferia; cidade/não cidade; homogêneo/heterogêneo, ao contrário, ela os integra a todos, e os reorganiza e os redistribui segundo uma dinâmica não dualista do terceiro incluído. Para ele, a cidade contemporânea é caracterizada como a da “mobilidade”, “presente em todo o território”, “imbricada à natureza”, “policêntrica”, “de várias possibilidades de escolha”, “dos vazios” e “a tempo contínuo”.
Para tanto há que haver maior capacidade de gestão, controle da densificação, regulação de atividades incompatíveis ou inconvenientes, monitoramento da capacidade de adensamento para a adequada utilização da infraestrutura e a tomada de medidas que evitem a deterioração urbana e a degradação ambiental mediante mecanismos que possibilitem a manutenção do patrimônio edificado e natural (Letícia Marques Osório, apud Boratti, 2011, pág. 254).
Uma questão levantada por José Afonso da Silva,  apud  Boratti (2011, pág. 255), é o problema  da estruturação da pretendida integração, uma vez que os Municípios carecem de competência para o planejamento econômico, razão pela qual, necessitam de uma política de desenvolvimento nacional, conforme prevê o doutrinador: “o aspecto econômico do sistema deverá ser mais intenso em nível nacional, tornando-se menos nos escalões  inferiores até o nível local; em contrapartida, o aspecto da ordenação físico-territorial há de ser mais concreto e eficaz no nível local e mais geral nos escalões superiores, até o de simples diretrizes em nível nacional”.
Para Ribeiro Almeida (SCHMIDT, 2011, pág. 256) a forma da incorporação do ambiente a esse planejamento integrado não significa apenas a sua agregação na forma de um capítulo especial, nem a organização de uma hierarquia de valores, mas “consiste na análise da sistemática, no decorrer do processo de planejamento, das oportunidades e potencialidades, bem como dos riscos e perigos inerentes à utilização dos recurso ambientais da sociedade para o seu desenvolvimento”.  
Um ponto a ser debatido é quanto à compreensão dos conceitos de gestão e planejamento, para os quais Marcelo Lopes de Souza apud Boratti (SCHMIDT et al, 2011) propugna não serem termos intercambiáveis, por ocorrerem em tempos distintos e, por se referirem a diferentes tipos de atividades, mas, complementares.
Mas para a formulação qualificada de políticas de planejamento e gestão urbanos faz-se necessário verificar o vínculo entre as práticas de planejamento e o Direito, e em que medida as orientações descritas apresentam-se incorporadas às alternativas legislativas existentes.
A esse respeito, Silva (2006, pág.90),  assim se manifesta:
 “A institucionalização do processo de planejamento importou convertê-lo num tema de Direito, de entidade basicamente técnica passou a ser orientado uma instituição jurídica, sem perder suas características técnicas. Mesmo seus aspectos técnicos acabaram, em grande medida, juridicizando-se, deixando de ser regras puramente técnicas para se tornar normas técnico-jurídicas”.    
Quanto aos Municípios, o artigo 30, inciso VIII, da Constituição Federal confere-lhe competência legislativa exclusiva para “promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano”.   
No que concerne à incorporação do vetor ambiental no processo de implementação de políticas públicas para as cidades brasileiras valem as disposições da Lei nº 10.257/2001 – Estatuto da Cidade – responsável pela regulamentação do capítulo constitucional relativo à política urbana.
O Estatuto da Cidade já em seu artigo 1º, quando expressamente se imputa ser a lei a qual se referem os artigos 182 e 183, da CF, em seu §único, dispõe que as normas de ordem pública e interesse social nele estabelecidas, regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem- estar dos cidadãos, bem como o equilíbrio ambiental.
Em seu artigo 4º, ao definir os instrumentos a serem utilizados para atingir seus fins, nomeia aqueles a serem utilizados, em especial, no planejamento municipal, quais sejam:
a) plano diretor;
b) disciplina do parcelamento, do uso e da ocupação do solo;
c) zoneamento ambiental;
d) plano plurianual;
e) diretrizes orçamentárias e orçamento anual;
f) gestão orçamentária participativa;
g) planos, programas e projetos setoriais;
h) planos de desenvolvimento econômico e social.
Deles, destaca-se o plano diretor, que é, por imposição constitucional, obrigatório para cidades com mais de 20.000 habitantes, e por ela apontado como o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana (artigo 182, §1º, da CF/88).
Segundo o artigo 40, § 1º, do Estatuto da Cidade, o plano diretor é parte integrante do processo de planejamento municipal devendo o plano plurianual, as diretrizes orçamentárias e o orçamento anual incorporar as diretrizes e as prioridades nele contidas.
2. Prevenção e reparação do dano ambiental
2.1 Tutela civil ambiental. Tutela administrativa ambiental
TUTELA CIVIL DO MEIO AMBIENTE
O primeiro ponto interessante posto pela tutela civil ambiental diz respeito à adoção pelo Direito Brasileiro da responsabilidade objetiva pelo dano ecológico. Segundo ela, basta apenas a existência do nexo de causalidade entre o prejuízo sofrido e a atividade danosa ao meio ambiente para que esteja configurada a responsabilidade civil. Logo, prescinde da caracterização de dolo ou culpa.
Todavia, o ônus de provar esse nexo causalidade no Direito Ambiental é, por vezes, uma tarefa delicada. Isso ocorre porque o estabelecimento do liame de causalidade é de grande dificuldade, haja vista que a relação entre o responsável e a vítima, raramente direta e imediata, passa por intermediários do ambiente, receptores e transmissores da poluição.
Diante dessa constatação, o ordenamento jurídico pátrio adota a teoria da responsabilidade civil objetiva derivada de risco integral, na qual as tradicionais cláusulas excludentes da obrigação de reparar o dano ecológico não devem ser aplicadas[21], tendo os seguintes consectários lógicos: irrelevância da intenção danosa; irrelevância da mensuração do
subjetivismo; inversão do ônus da prova; irrelevância da licitude da atividade; e atenuação do relevo do nexo causal.
Por sua vez, o segundo maior atrativo da tutela civil, especificamente quando esta é feita por meio das ações, é a isenção do autor das custas judiciais e dos ônus da sucumbência. É o que dispõe o artigo 5º, inciso LXXIII, do Texto Maior:
Art. 5, LXXIII – qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.
Trata-se de importante incentivo que o legislador pátrio conferiu ao cidadão mais altivo que, com a sua coragem e poder de iniciativa, não mede esforços para participar de um embate jurídico em defesa do meio ambiente e dos demais interesses públicos, buscando um amparo a um direito que não é apenas seu, mas de toda a coletividade.
- Formas
a) Ações Coletivas
As principais formas de tutela civil são as ações coletivas, mais especificamente as ações civis públicas e as ações populares ambientais.
A ação popular possui, num panorama geral, as mesmas características da ação civil pública, de molde que todos os substratos utilizados para fundamentar esta podem ser aproveitados naquela. A esse respeito, pontifica Edis Milaré que, De um ponto de vista amplo, a ação popular é também considerada uma ação civil pública, apenas com rótulo e agente diferentes, na medida em que, como esta, tem em mira, precipuamente, a defesa de um interesse público, e não a satisfação de um direito subjetivo.
As supramencionadas ações coletivas nasceram da necessidade de se melhorar a defesa do interesse público e da moral administrativa, possuindo como inspiraçãoa intenção de fazer de todos os cidadãos, assim como dos entes públicos e privados, fiscais do bem comum.
Esse tipo de construção faz parte do que a doutrina chama de “Teoria da Implementação”. De acordo com esta, a vários segmentos da sociedade é atribuída a possibilidade de efetiva participação na construção de uma grande democracia, com a real observância dos princípios fundamentais e com a busca pelo princípio da preservação da vida humana.
A primeira vez em que se estabeleceu uma ação coletiva de forma a tutelar o meio ambiente, foi com o advento da Lei nº. 6.938/1981. Com esta, o legislador estabelecia uma ação civil pública ambiental e, por conseguinte, mais específica, ao menos no que atine à esfera processual civil, para o meio ambiente. A título de ilustração, colaciona-se o artigo 14 do referido diploma normativo:
Art 14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os transgressores:
[...]
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
Uma das falhas da tutela processual cível é justamente a caducidade do Código de Processo Civil Brasileiro, principalmente no que atine a respeito do processo coletivo.
A preocupação de tornar mais efetivo o processo vem sendo ultimamente, em nosso país e no estrangeiro, nota constante na produção doutrinária e no pensamento de quantos participam da atividade forense. Congressos nacionais e internacionais têm feito dela tópico de temários. 
Mas este não é um mal que atinge apenas o direito ambiental. Muito simplório é considerar que as pressões sociais exercidas pelos grandes escritórios de advocacia ou pelas multinacionais é que dão uma vida tão longa as ações cíveis. Na verdade, o próprio legislador entende que o processo coletivo no Brasil deve ser revisto, posto que muitos
institutos presentes na tutela individual não se mostram eficazes para a tutela processual coletiva.
Isso faz crer e desejar que a tutela dos direitos e interesses transindividuais transformem nosso País em algo muito melhor do que foi concebido, ou seja, numa sociedade aberta, consciente, progressista e verdadeira justa. Para tanto, é preciso enxergar mais além e caminhar com determinação rumo a um Sistema Único de Ações Coletivas Brasileiras, como aquele projetado pelas mãos cuidadosas de Ada Pellegrini Grinover e tantos outros juristas brasileiros, já em avançado estágio de discussão.
b) Política Nacional do Meio Ambiente
A Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, promulgada em 31 de agosto de 1981 sob o número 6.938, consubstanciou um grande avanço legislativo na tutela ambiental e, como grande inovação, consagrou a responsabilidade civil objetiva de indenizar do poluidor que causa dano ao meio ambiente, adotando a teoria do risco integral. Restou abandonado,
assim, o sistema clássico do direito civil de tratar a responsabilidade como sendo subjetiva.
Tal Lei Federal cuidou de definir o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influência e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas.”
Mas não foi só isso. Este diploma legal também trouxe para o campo legislativo vários conceitos que eram apenas doutrinários, tentando, dessa forma, pacificar entendimentos, tais como a conceituação e classificação do que era poluição.
Entretanto, é necessário reconhecer que tanto o ordenamento jurídico nacional tem muito caminho por fazer, como também o sistema político inspirado no ideal democrático ainda é frágil. Sobre o assunto, pondera Edis Milaré:
Não se pode esquecer que, por entre os inúmeros e variados segmentos da sociedade civil, sempre haverá a defesa de interesses oligárquicos e escusos que, por definição, opõem-se frontalmente, embora de forma sub-reptícia, aos interesses da comunidade ou da coletividade. Isso acontece, de maneira teimosa e desafiadora, as investidas contra o patrimônio ambiental nacional.[29]
TUTELA ADMINISTRATIVA DO MEIO AMBIENTE
Os agentes do poder público, diante do agravamento da degradação ambiental, se vêem impelidos a enfrentar os problemas ambientais, demonstrando interesse e disposição para resolvê-los, o que se concretiza através do exercício do poder de polícia administrativa.
O supramencionado poder, como é sabido, é a faculdade inerente à Administração Pública, particularmente ao Poder Executivo, de limitar o exercício dos direitos individuais, com o fito de assegurar o bem-estar da coletividade, tendo sempre arrimo legal, não podendo, portanto, ser arbitrária, tampouco ampla e indefinida.
Como decorrência da aplicação desse poder de polícia, nasce “o poder de polícia ambiental”, que é assim definido por Paulo Affonso de Leme Machado:
poder de polícia ambiental é a atividade da Administração Pública que limita ou disciplina direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato em razão de interesse público concernente à saúde da população, à conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividade econômica ou de outras atividades dependentes de concessão, autorização/ permissão ou licença do Poder Público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.
Contudo, o poder de polícia administrativa ambiental, utilizado a serviço da população como um todo, como também na defesa do patrimônio público ambiental, nunca será eficaz sem uma busca pela educação ambiental.
Com efeito, é notório que muitas atitudes nocivas ao meio ambiente provêm de velhos vícios culturais, sendo indene de dúvidas que educar é mais nobre do que punir. Há casos, porém, em que a punição integra o processo pedagógico. Desse modo, o poder de polícia ambiental deve ser exercido pela administração tendo em mira, antes de tudo, a adequação da conduta sem, no entanto, descartar a possibilidade de punição do infrator.
A tutela administrativa se subdivide em dois tipos, quais sejam: o preventivo e o repressivo.
O primeiro é aquele que, em caso de ameaça ou risco de danos ambientais significativos ou irreversíveis, a falta de certeza científica recomenda a adoção de providências concretas que evitem possível degradação do meio ambiente, imperando assim o brocardo in dubio pro natura.
Com esteio no referido tipo de tutela administrativa, a doutrina vem classificando o princípio da prevenção como um dos princípios basilares na defesa do meio ambiente. Acerca de tal princípio, consigna Celso Antônio Pacheco Fiorillo:
Trata-se de um dos princípios mais importantes que norteiam o direito ambiental.
De fato, a prevenção é preceito fundamental, uma vez que os danos ambientais, na maioria das vezes, são irreversíveis e irreparáveis. Para tanto,
basta pensar: como recuperar uma espécie extinta? Como erradicar os efeitos de Chernobyl? OU, de que forma restituir uma floresta milenar que fora
devastada e abrigava milhares de ecossistemas diferentes, cada um com o seu essencial papel na natureza?.[18]
A tutela administrativa pode ser subdividida, ainda, da seguinte maneira:
a) Limitações administrativas: são imposições de caráter geral, por meio das quais o Poder Público comina obrigações de fazer, não fazer e deixar fazer aos proprietários de bens,
com o escopo de adequar suas propriedades ao atendimento da função social e, no caso ora em estudo, ao bem-estar ambiental;
b) Desapropriação: trata-se de um mecanismo de transferência compulsória da propriedade que tenha importância social, removendo os entraves à sua adequada proteção e
conservação, evidentemente mediante prévia e justa indenização;
c) Estudos de impactoambiental: comumente conhecidos pela sigla EIA, são exigidos quando da instalação de empreendimentos causadores de significativa degradação
ambiental, sendo sempre realizados por uma equipe necessariamente especializada e multidisciplinar, a qual, ao final do estudo, elaborará um relatório de impacto ao meio
ambiente (RIMA). Destaque-se, ainda, a necessidade de, em alguns casos, serem realizados debates em audiências públicas;
d) Licença ambiental: é um ato administrativo por meio do qual o órgão ambiental responsável estabelece as condições que devem ser observadas pelo empreendedor para uma
correta instalação da atividade deste, a qual é potencialmente poluidora, de molde a evitar que a mesma degrade o meio ambiente;
e) Tombamento: é a modalidade de intervenção na propriedade pelo Poder Público, que tem como objetivo a proteção do patrimônio histórico, natural, arqueológico, cultural,
científico, paisagístico e, principalmente, ambiental. O bem protegido, que pode ser imóvel ou móvel, será submetido a um regime especial de conservação e cuidados, com o
conseguinte limite ao exercício do direito de propriedade;
f) Inquérito civil: é concebido como um procedimento investigatório inquisitivo, de natureza administrativa e extrajudicial, exclusivamente instaurado e presidido pelo Ministério
Público, com a finalidade de buscar fundamentos para o ajuizamento de ação civil pública. A respeito da definição de inquérito civil, leciona Hugo Nigro Mazzilli:
O inquérito civil é uma investigação administrativa prévia a cargo do Ministério Público, que se destina basicamente a colher elementos de convicção
para que o próprio órgão ministerial possa identificar se ocorre circunstância que enseje eventual propositura de ação civil pública ou coletiva.[19]
g) Zoneamento ambiental: trata-se de instrumento utilizado para uma eficaz política urbana que visa o controle do uso do solo, de maneira a evitar a sua inadequada utilização e, conseqüentemente, de empreendimentos ou atividades que produzam poluição ou degradação em áreas ou espaços urbanos de relevância ambiental.
Por seu turno, a tutela administrativa repressiva, também denominada de punitiva, nada mais é do que atos decorrentes de infrações administrativas. A propósito do tema, de
suma importância é a lição de Hely Lopes Meirelles:
Atos administrativos punitivos são os que contêm uma sanção imposta pela Administração àqueles que infringem disposições legais, regulamentares ou ordinatórias dos bens ou serviços públicos. Visam a punir e reprimir as infrações administrativas ou a conduta irregular dos servidores ou dos particulares perante a Administração.
No que diz respeito à tutela ambiental, podem ser enumerados as seguintes espécies de tutela administrativa repressiva:
a) Multa: consiste na imposição de montantes pecuniários, de forma a recompensar o dano perpetrado pela infração;
b) Interdição temporária ou definitiva de atividade nociva ao meio ambiente;
c) Perda ou restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público;
d) Perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento oficiais de crédito;
e) Prestação de serviços à comunidade.
Em que pese as medidas enumeradas em linhas pretéritas, faz-se urgente que o legislador implante nova sistemática na matéria. Deveras, é o que se espera e o que se requer para a salvaguarda dos recursos naturais, de modo a conter a ganância dos poderosos depredadores da natureza.
Isso porque, como é cediço, o dano ambiental caracteriza-se pela pulverização de vítimas, pelo fato de ser de difícil reparação e valoração. Via de regra, o dano ao meio ambiente não atinge apenas uma pessoa ou um grupo individualizado de vítimas, mas afeta, normalmente, uma pluralidade difusa de vítimas.
Por outro lado, como é de difícil reparação, sua indenização é, no mais das vezes, insuficiente, o que recomenda a prevenção, a par da precaução.
Nessa senda, é a tutela administrativa a mais adequada para a correta observância do princípio da prevenção, que seria a chave para o sucesso da efetividade do Direito Ambiental, mas tudo isso só seria possível se existisse uma organização de eficientes instrumentos de vigilância. Efetivo diz respeito a algo que funcione, dê resultado positivo, eduque, de tal modo que a efetividade dos mecanismos da educação e da reparação ambiental, numa visão holística, deverá contar, ademais, com a intervenção de órgãos bem aparelhados de aplicação, de execução e de fiscalização da política de proteção desse patrimônio da humanidade.
Atento a tal necessidade, o legislador deu importante passo ao inserir na Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998), nos artigos 70, 71 e 72, as infrações administrativas, reforçando a tutela administrativa.
2.2 Tutela Penal Ambiental 
Hodiernamente, apresenta-se indiscutível a tese de que é necessária a proteção efetiva do meio ambiente, cujo autor fundamental para exercer tal papel tem sido o Direito. Nesse diapasão, mesmo diante dos desafios às diversas áreas do conhecimento e do desenvolvimento humanos que essa espécie particular de tutela apresenta, os legisladores tem proclamado algumas boas razões para se lançarem na senda da tutela penal ambiental. Pode-se, por exemplo, afirmar que o incremento da complexidade das relações sociais contemporâneas inaugurou novos espaços de interesse jurídicopenal e questões de diferenciado nível de complexidade, cuja problematização culminou no esgotamento explicativo dos critérios jurídicos clássicos, invocando novos estudos que permitam um já indispensável aprimoramento (D’ÁVILA, 2008, p. 307). Também, o clamor social existente neste domínio, inerente à amplitude do moderno movimento de neocriminalização e o fato de se tratar de matéria cuja dignidade penal já não se contesta (FIGUEIREDO DIAS; COSTA ANDRADE, 1984, p. 440-441). E ainda, o motivo que as normas gerais, não penais, muitas vezes se mostram insuficientes à proteção de interesses sociais, impondo-se a atuação do direito penal à efetivação da sua tutela. (MARTINS, 2007b, p. 2) A despeito das razões que conduzem à intervenção do direito penal na tutela ambiental – necessária, como restou apontado –, diante da consolidação da mencionada sociedade de risco, nota-se que o direito penal é chamado a cumprir seu papel de instrumento de controle de riscos juntamente com as demais normas de outros ramos do Direito. Nessa esteira, não bastam as regulamentações de natureza civil e administrativa para a tutela efetiva do ambiente; o direito penal também tem sua função na sociedade contemporânea, cujas características, contudo, facilitam o discurso pela expansão desse direito16, o que acaba colocando o gestor de riscos (legislador ou magistrado) diante de um conflito, haja vista que ele deverá lidar, ao mesmo tempo, com os discursos de retração dos âmbitos de abrangência das normas criminais e com a citada expansão do direito penal, o que envolve, inclusive, uma análise que perpassa toda a atividade político-criminal. (BOTTINI, 2007, p. 86) Na realidade, o chamado caráter expansivo do direito penal vai além, assumindo, para Cornelius Prittwitz, um significado tridimensional, a saber: o adiantamento propriamente dito das barreiras entre os comportamentos impune e punível; a acolhida de novos candidatos no âmbito dos bens jurídicos (como é o caso do meio ambiente, foco do presente estudo); e ainda, a redução das exigências à reprovabilidade, expresso na mudança de paradigma que vai da hostilidade para o bem jurídico e da perigosidade para o mesmo. (PRITTWITZ, 2003, p. 4)17.
Diante das necessidades impostas pela atual sociedade pós-industrial para a adaptação do direito penal, como meio de defesa efetivo face aos novos riscos e, portanto, visando fornecer respostas aos atuais clamores de proteção social, esse ramo do direito desenvolve modificações estruturais, adaptando o sistema repressivo ao fenômeno da sociedade de risco. Surge, então, o direito penal de risco18 como um particular setor do pensamento penal, com intuito de atender aos anseios por respostas eficientesaos novos riscos da sociedade contemporânea. O direito penal de risco, consequência dogmática dessa sociedade onde estão presentes os novos riscos, cunhados de alta tecnologia e potencialidade danosa, caracteriza-se por uma série de instrumentos com os quais se procura enfrentar satisfatoriamente tais questões. É em razão das novas incertezas, que se colocam sobre a determinação dos perigos e seu julgamento, que alternativas acabam sendo formuladas no interior do sistema político. Assim, o direito penal de risco consiste no discurso jurídico, segundo o qual este direito deve ser utilizado para enfrentar os novos riscos sem quaisquer ressalvas, partindo de certas transformações significativas nos conceitos, institutos e princípios da dogmática. Em síntese, sugere a mitigação do princípio da reserva legal, o amplo emprego de mecanismos próprios de antecipação da tutela penal e o abandono de princípios básicos garantidores do cidadão ante o ius puniendi, como a culpabilidade e a imputação objetiva, entre outros. (FIGUEIREDO DIAS, 2001, p. 132) Destarte, identificam-se algumas características modernas do chamado direito penal de risco. Quer-se dizer com isso, que a dogmática penal contemporânea propugna pela utilização de alguns instrumentos próprios desse discurso político-criminal, com os quais pretende esse direito penal enfrentar com efetividade os novos riscos. 
Para Renato de Mello Jorge Silveira, o direito penal de risco – que ele chama de direito penal de perigo – é “um direito penal adequado às necessidades da atual sociedade pós-industrial, tanto se mostrando como instrumento eficaz de condução de comportamentos, como meio de defesa a novos riscos presentes hodiernamente, que pretende, assim, configurar uma ideia de segurança frente às inseguranças sociais”. (SILVEIRA, 2006, p.99).
2.3 LICENCIAMENTO AMBIENTAL
Cabe registrar que o licenciamento ambiental está inserido como um instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente62. Esta tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana e que consagrou, dentre outros, os princípios da racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar, do planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais e do controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras. Para tentar assegurar a efetividade da Política Nacional do Meio Ambiente e de seus princípios, foram arrolados vários instrumentos definidos no art. 9º da Lei 6.938/81 como seguem: estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; o zoneamento ambiental; a avaliação de impactos ambientais; o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; penalidades disciplinares ou compensatórias ao não-cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; instituição do Relatório de qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; Cadastro Técnico Federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou utilizadoras dos recursos ambientais.
O licenciamento ambiental64 é um procedimento administrativo, até o momento não regulado em lei65, por meio do qual o órgão ambiental competente licencia a construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores66; bem como os capazes de causar degradação ambiental sob qualquer forma, entendida como a alteração adversa das características do meio ambiente67 . 
Pelo instrumento do licenciamento ambiental, o Poder Público verifica a adequação das construções, instalações, ampliações e funcionamentos de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais aos princípios da Política Nacional do Meio Ambiente. Bem como as conseqüências positivas e negativas, em termos ambientais, de sua implantação tendo em vista o bem comum e decide pela autorização ou não de sua implantação, formulando as exigências cabíveis para minimização de seus impactos ambientais68 negativos ou maximização de seus impactos positivos. 
Existe uma controvérsia doutrinária apontada por Araújo69 onde alguns juristas70 afirmam que a licença ambiental teria a natureza jurídica de autorização e não propriamente instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, considerados efetiva e potencialmente poluidores66; bem como os capazes de causar degradação ambiental sob qualquer forma, entendida como a alteração adversa das características do meio ambiente67 . Pelo instrumento do licenciamento ambiental, o Poder Público verifica a adequação das construções, instalações, ampliações e funcionamentos de estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais aos princípios da Política Nacional do Meio Ambiente. Bem como as conseqüências positivas e negativas, em termos ambientais, de sua implantação tendo em vista o bem comum e decide pela autorização ou não de sua implantação, formulando as exigências cabíveis para minimização de seus impactos ambientais68 negativos ou maximização de seus impactos positivos. Existe uma controvérsia doutrinária apontada por Araújo69 onde alguns juristas70 afirmam que a licença ambiental teria a natureza jurídica de autorização e não propriamente.
A lei 6.938/81 prevê a revisão do licenciamento77, logo, teria indicado que a licença seria por prazo determinado. Tanto o requerente da licença como a Administração Pública têm vantagem na existência de prazo de validade da licença. Quem exerce uma atividade fica ciente de que as regras de funcionamento não poderão ser mudadas – a não ser por motivo grave – no espaço temporal da licença. O órgão público ambiental por sua vez não fica preso para sempre a condições de funcionamento de uma atividade que se revele danosa ao ambiente e que haja possibilidade de correção no momento de nova licença.
A Resolução 237/97-CONAMA, art. 19, arrolou os fundamentos da suspensão ou do cancelamento da licença expedida: violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais; omissão ou falsa descrição de informações relevantes e superveniência de graves riscos para a saúde e para o meio ambiente. E, no art. 20 fica estabelecido que os entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias, deverão implementar os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação social, e, ainda, possuir em seus quadros ou à sua disposição profissionais legalmente habilitados. Assim, a Resolução CONAMA 237/97 é um instrumento que aparentemente permite a realização do licenciamento ambiental, porém, não está, na prática permitindo, a compatibilização entre a proteção ao meio ambiente e o desenvolvimento. No dizer de Milaré87 compatibilizar meio ambiente e desenvolvimento significa considerar os problemas ambientais dentro de um processo contínuo de planejamento, atendendo-se adequadamente às exigências de ambos. Para ele a política ambiental não deve se constituir em obstáculo ao desenvolvimento, mas sim em um de seus instrumentos, ao proporcionar a gestão racional dos recursos naturais. Assim, deve haver um esforço no sentido de tentar alcançar tal compatibilização.
2.4 ESPAÇOSESPECIALMENTE PROTEGIDOS
Conforme o professor Paulo de Bessa Antunes ensina: áreas protegidas são denominadas tecnicamente como unidades de conservação e estão contempladas em diversos diplomas legais, o que, evidentemente, traz enormes dificuldades para a compreensão e sistematização do papel que cada uma delas deve desempenhar no sistema nacional de unidades de conservação7 . 
O professor Paulo Affonso Leme Machado, ao analisar o conceito de área protegida doutrina que: 
área definida geograficamente, que é destinada, ou regulamentada, e administrada para alcançar objetivos específicos de conservação8 . Lembra-se que, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC), Lei 9985/2000, se insere nestes espaços territoriais especialmente protegidos. 
Porém o SNUC não exaure tais espaços territoriais especialmente protegidos. Há também outras normas ambientais protetivas de determinados ecossistemas ou biomas, tais como o Código Florestal, que tutela as denominadas Áreas de Preservação Permanente (APP)- art. 2º Lei 4771/65; Reserva Legal- art. 16, Lei 4771/65 e Servidão Florestal- art. 44-A, 4771/65. 
Ainda título de exemplo, podem ser mencionadas outras espécies de proteção ambiental a determinadas áreas no Brasil, paralelamente à conferida às unidades de conservação da Lei n.º 9.985/00, e às áreas de preservação permanente e à reserva legal do Código Florestal: Sítios do Patrimônio Mundial Natural (reconhecidos pela UNESCO conforme a Convenção do Patrimônio Mundial em 1972), Reservas da Biosfera (reconhecidas pela UNESCO conforme Conferência sobre a Conservação e Uso Racional dos Recursos da Biosfera em 1968 e com alguma disciplina normativa no artigo 41 da Lei n.º 9.985/00, regulamentado nos artigos 41 a 45 do Decreto n.º 4.340/02) e Sítios Ramsar (reconhecidos conforme a Convenção sobre Zonas Úmidas, ocorrida em Ramsar - Irã, em 1971, ratificada pelo Brasil em 24/09/93). 
Percebe-se, com isso, que a efetiva implementação da sistematização das áreas protegidas pelo direito ambiental no Brasil ainda não se cristalizou. Aliás, a própria disciplina normativa do SNUC, igualmente, ainda não se encontra perfeita e acabada, conforme se dessume do disposto no artigo 46 do Decreto n.º 4.340/02, in verbis: 
Cada categoria de unidade de conservação integrante do SNUC será objeto de regulamento específico. Parágrafo único. O Ministério do Meio Ambiente deverá propor regulamentação de cada categoria de unidade de conservação, ouvidos os órgãos executores.
Segundo José Afonso da Silva, há uma classificação prévia denominada espaços ambientais, sendo estes, porções do território que necessitam de proteção ambiental que deveriam ter um regime jurídico específico. Dentro desses espaços estariam os ETEP´s e o Zoneamento Ambiental. Ele reafirma a necessidade de se esclarecer quando um espaço territorial especialmente protegido é uma unidade de conservação,3 já que esta está dentro do conceito de espaços, mas não abrange sua totalidade. Sugere, uma primeira divisão dos espaços em abertos ou fechados para depois dividi-los de acordo com sua extensão. Na divisão de acordo com a dimensão estariam outros três tipos de ETEP: os Espaços Protegidos não incluídos no SNUC, os de manejo sustentável e o de zoneamento ambiental (Silva, 2004, p. 230). Édis Milaré afirma que há dois conceitos de espaços territoriais especialmente protegidos: os espaços em sentido estrito (stricto sensu) e os em sentido amplo (lato sensu). 
Os ETEP´s em sentido strictu sensu são as áreas que estão previstas expressamente na Constituição, enquanto que os em sentido amplo, seriam as demais áreas protegidas. (Milaré, 2007, p. 651) Paulo Affonso Leme Machado sustenta que, segundo a Constituição, os espaços territoriais especialmente protegidos podem ser criados através de resolução, decreto, lei ou portaria. Também afirma que não há uma limitação nos nomes ou regimes jurídicos das áreas a serem protegidas, desde que sejam reconhecidas como tal. (Machado, 2001, p. 135). 4.2 As espécies de ETEP´s Édis Milaré dividiu os ETEP´s entre os de sentido restrito e os de sentido amplo. 
Na primeira categoria estariam as Unidades de Conservação típicas – e as que apresentam características semelhantes a ela – Unidades de Conservação atípicas. Na segunda categoria estariam as demais áreas protegidas, como as APP, as áreas de proteção especial e as de reserva legal. Ele também destaca não ser necessária a criação de uma lei para autorizar a realização de obras ou outras atividades em tais áreas, argumentando que os Três Poderes são independentes e harmônicos entre si, logo não seria necessária uma lei para autorizar a implantação de um ato administrativo (2007, p. 651). Herman Benjamin por sua vez, criticou a Lei do SNUC ao afirmar que não foi cumprido o que se propunha em sua ementa, a regulamentação dos espaços especialmente protegidos, uma vez que não foram cobertas todas as possibilidades de ETEP´s. Questionou também, a restrição da classificação das Unidades de Conservação como típicas, quando segundo ele ainda existiriam outras como: “as Áreas de Preservação Permanente, a Reserva Legal, a Reserva da Biosfera, as Áreas de Servidão Florestal, a Reserva Ecológica, os Monumentos Naturais Tombados e as Reservas Indígenas”. (2001 p. 299). 
Na opinião Paulo Affonso Leme Machado as áreas a serem especialmente protegidas são: as Unidades de Conservação, a Reserva Legal e as Áreas de Preservação Permanente. Ao contrário de muitos autores, ele acredita que qualquer alteração ou supressão nessas áreas depende de lei que as autorize, pois a Constituição não deixou espaço para nenhuma exceção e que tais medidas são necessárias para que os ambientalistas tenham oportunidades de se fazerem presentes (2001, p. 136). Paulo Antunes Bessa afirma que Unidade de Conservação é a denominação genérica para área protegida e que sua fundamentação está na própria Constituição – artigo 225, parágrafo 1⁰, inciso III – e, que ainda incluem as áreas de preservação permanente. As APP seriam reguladas pelo Código Florestal permitindo alterações por ato administrativo, diferente do que ocorre com as UC (2002, p. 592).
O Legislativo, intencionalmente, explicitou que as unidades de conservação são espécies de espaços territoriais especialmente protegidos. A própria definição de unidade de conservação da Lei do SNUC confirma essa equivalência: a UC é um espaço territorial sob regime especial de administração, com objetivos de proteção ambiental e limites definidos. É notável que apesar da intensa controvérsia acerca do conceito de espaço territorial especialmente protegido, já é possível delinear algumas espécies aceitas como tal. Já é pacífico na doutrina que as unidades de conservação, as áreas de preservação permanente e de reserva legal constituem formas de ETEP´s. 
O STF não interpreta o art. 225, § 1°, III, de forma literal, ou seja, não são todos casos de alteração e supressão que se faz necessária a lei em sentido formal. O posicionamento da maioria dos juízes do STF é de que somente a mudança do regime jurídico deve ser feita mediante lei, não sendo intocáveis sua vegetação ou a realização de atividades em sua área. Entendeu-se, portanto, ser lícito ao Poder Público autorizar, licenciar ou permitir a execução de obras e/ou a realização de serviços no âmbito dos espaços territoriais especialmente protegidos, desde que, além de observadas as restrições, limitações e exigências abstratamente estabelecidas em lei, não resulte comprometida a integridade dos atributos que justificaram, quanto a tais territórios, a instituição de regime jurídico de proteção especial, segundo a própria CF (art. 225, § 1º, III)
2.5 INFRAÇÕES PENAIS E ADMINISTRATIVAS
Por força do veto presidencial do art. 1º, a lei 9.605 que “dispões sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências”[4], ou seja, da Lei dos Crimes Ambientais, o referido instituto se inicia à partir do artigo 2º, sendo que este faz referência direta

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