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Gabarito_AdmII

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(OAB/ Exame Unificado) Um grupo de policiais militares realizou a ronda em determinado local da Zona Norte, onde praticaram delito em conluio com traficantes da região, em razão do qual, foram denunciados. Aberta Sindicância para apuração dos indícios, a comissão sindicante, após instruir e colher os devidos depoimentos, opina pela abertura do processo administrativo disciplinar para aplicação da pena de demissão com relação aos quatro integrantes. Com a abertura do processo administrativo disciplinar, alegam os policiais que a eles não fora dado o direito de ampla defesa e contraditório na sindicância. Diante do caso concreto, você como integrante da corporação e responsável pelo processo administrativo disciplinar que puniu com demissão os policiais, necessita de esclarecimentos sobre as seguintes questões, considerando as correntes e legislações que tratam dos institutos da sindicância e do Processo Administrativo disciplinar:
a) Qual é a natureza jurídica da sindicância administrativa?
A natureza jurídica da sindicância administrativa é mero expediente investigatório, de caráter prévio, preparatório e inquisitório e visa instruir de elementos para a instauração do processo administrativo disciplinar, apura as irregularidades funcionais para depois fundamentar a instauração do processo punitivo, dispensando-se a defesa do investigado nessa fase.
b) Quais as principais diferenças entre a sindicância e o processo administrativo disciplinar?
A principal diferença entre sindicância e o procedimento administrativo disciplina é que o procedimento de sindicância tem caráter prévio, preparatório e inquisitório e visa instruir de elementos para a instauração do processo administrativo disciplinar, este sim é processo principal, que após o devido processo legal, irá condenar ou não o servidor pela infração administrativa.
c) Com base nas respostas anteriores, quais argumentos você apresentaria para fundamentar o posicionamento da instituição? Respostas fundamentadas.
O principal argumento contra a alegação de que aos policiais não fora dado o direito de ampla defesa e contraditório na sindicância e exatamente a sua natureza jurídica - a sindicância é apenas processo administrativo prévio para apuração da infração administrativa, e que a ampla defesa e o contraditório irá acontecer dentro do processo administrativo disciplinar, conforme a lei.
Ana Amélia, professora dos quadros da Secretaria de Educação de determinado Estado, ao completar sessenta e dois anos de idade e vinte e cinco anos de tempo de contribuição, formulou requerimento de aposentadoria especial. O pleito foi deferido, tendo sido o ato de aposentadoria publicado no Diário Oficial em abril de 2008. Em agosto de 2010, Ana Amélia recebeu notificação do órgão de recursos humanos da Secretaria de Estado de Educação, dando-lhe ciência de questionamento formulado pelo Tribunal de Contas do Estado em relação à sua aposentadoria especial. Ficou constatado que a ex-servidora exerceu, por quinze anos, o cargo em comissão de Assessora Executiva da Secretaria de Estado de Administração, tendo sido tal período computado para fins de aposentadoria especial.
Considerando a situação hipotética apresentada, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) Indique o fundamento para a atuação do Tribunal de Contas do Estado, informando se o ato de aposentadoria já se encontra aperfeiçoado.
Nos termos do artigo 71, inciso III, da CRFB, compete ao TCU – e, por simetria, aos Tribunais de Contas dos Estados – apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de concessão de aposentadoria. De acordo com os precedentes do STF, os atos de aposentadoria são considerados atos complexos, que somente se aperfeiçoam com o registro na Corte de Contas respectiva.
b) Analise se o questionamento formulado pelo órgão de controle se encontra correto.
 
O questionamento formulado pelo órgão de controle encontra-se correto, pois o exercício de função administrativa, estranha ao magistério — como é o caso de cargo em comissão de assessora executiva na Secretaria de Administração –, não pode ser considerado para fins de aposentadoria especial de professores. A norma do artigo 40, §5º, CRFB, ao disciplinar a matéria, exige efetivo exercício das funções de magistério e o tema veio a ser objeto de súmula do STF (En 726).
Obs.: É importante registrar que o art. 1º da Lei federal 11.301/2006, que acrescentou o § 2º ao art. 67 da Lei 9.394/1996 e que veio a ser declarado constitucional pelo STF, não repercute sobre a questão, pois a situação-problema envolve cômputo, para fins de aposentadoria especial de professor, de função eminentemente administrativa, e não relacionada ao magistério. 
(OAB/ Exame Unificado) Os vencimentos da servidora pública Joana não foram adequadamente reajustados em 5/5/2005, entretanto, na ocasião, ela não impugnou administrativamente o ato ilegal cometido. Agora, pretende propor ação judicial visando à condenação do ente federativo ao pagamento retroativo do reajuste bem como à determinação de que esse reajuste seja aplicado aos vencimentos futuros. Nessa situação hipotética, de que medida judicial deverá valer-se Joana para lograr os seus objetivos? Haveria prescrição na hipótese? Fundamente ambas as respostas.
R: O Decreto n° 20.910/32, que regula a prescrição das dívidas da Fazenda Pública, dispõe que essas dívidas prescrevem em 5 anos, contados da data do ato ou fato do qual se originarem (art. 1°). Todavia, a súmula 85 do Superior Tribunal de Justiça que estabelece que, nas relações de trato sucessivo em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não haja negativa do direito reclamado pelo interessado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação, não ocorrendo prescrição do fundo de direito.
Assim, como no caso em tela não há notícia de que houve negativa expressa da Administração ao direito de Joana, esta poderá aforar ação mesmo já tendo transcorrido o prazo de 5 anos da data em que os reajustes deveriam ter sido feitos. E isso se dá porque, nas relações de trato sucessivo, a lesão se renova mensalmente.
Apesar de a prescrição não atingir o fundo de direito, Joana não poderá reclamar, na ação proposta, prestações vencidas antes do quinquênio anterior à propositura da ação, por ter ocorrido prescrição.
Quanto à ação adequada a ser proposta por Joana, em que pese não se operar a decadência para a propositura de mandado de segurança com relação a prestações de trato sucessivo, essa ação não é adequada, pois haveria problema em se formar título executivo para a cobrança dos últimos cinco anos de prestações devidas. 
Como é cediço, o mandado de segurança não pode ser utilizado como ação de cobrança. O máximo que a Lei de Mandado de Segurança permite é que o pagamento de prestações pecuniárias asseguradas na sentença seja efetuado relativamente às prestações que se vencerem a contar do ajuizamento da inicial.
Dessa forma, deve-se ingressar com ação de conhecimento pelo rito ordinário, objetivando a cobrança das prestações atrasadas e das prestações que se vencerem a contar do ajuizamento da inicial (obrigação de pagar), bem como a implantação do reajuste para as prestações futuras (obrigação de fazer), com pedido de tutela antecipada.
(OAB/ Exame Unificado) O Tribunal de Justiça de determinado estado da Federação, julgando apelação em ação declaratória de nulidade de ato administrativo, entendeu não existir qualquer inconstitucionalidade ou ilegalidade na nomeação de José para o exercício do cargo em comissão de secretário municipal de saúde, embora seja ele irmão de vereador de um município daquele estado. O tribunal entendeu que a vedação à prática do nepotismo, no âmbito do Poder Executivo, exige a edição de lei formal, e, ainda, que a nomeação de parentes de agentes políticos para o exercício de cargos de confiança ou em comissão não viola qualquer dispositivo constitucional, sob o argumentode que a Carta Magna, em se tratando de cargos de livre nomeação, não estabelece qualquer limitação relacionada ao grau de parentesco porventura existente entre a pessoa nomeada e algum agente público. 
Considerando a situação hipotética apresentada, responda, de forma fundamentada, se os argumentos que embasaram a decisão do Tribunal de Justiça encontram amparo na Constituição Federal (CF) e na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).
Resposta: Os argumentos utilizados pelo TJ, nesse caso, não encontram amparo na Constituição Federam, nem na doutrina do Tribunal guardião da constituição. Segundo oentendimento do STF, o nepotismo fere o princípio da moralidade descrito no Art. 37, caput, da CF. Também é de entendimento jurisprudencial que não há necessidade de edição de lei formal para coibir a práticado nepotismo. (Súm Vinc 13)
OAB/ Exame Unificado) Ana obteve aprovação em concurso público para o provimento de determinado cargo efetivo no âmbito da administração pública federal, porém não foi classificada dentro do número de vagas previsto em edital, o qual consignava expressamente que o concurso seria realizado para o preenchimento de um número exato de vagas, que foram devidamente preenchidas pelo poder público. No entanto, ainda durante o prazo de validade do concurso, foi editada lei federal de criação de novos cargos da mesma natureza daquele para o qual Ana fora aprovada. Considerando a situação hipotética acima apresentada, responda, de forma fundamentada, se Ana tem o direito líquido e certo à nomeação para o cargo que foi criado pela referida lei federal. Em sua resposta, especifique os limites da atuação da administração pública no caso em tela.
Não tem direito líquido e certo à nomeação, mas expectativa. Dentro do prazo de validade do concurso poderá ser chamada para ocupar uma dessas novas vagas dentro da ordem de classificação. A administração pode nomeá-la ou não, o que não pode é nomear candidato de concurso posterior ou criar cargos em comissão para essa mesma função ou nomear temporariamente.
José, nomeado, pela primeira vez, para cargo de provimento efetivo no serviço público, foi exonerado de ofício, durante o período de estágio probatório, em razão da extinção de seu cargo. Inconformado, José requereu a revisão de sua exoneração alegando que a extinção do cargo, durante o estágio probatório, deveria garantir-lhe, pelo menos, a prerrogativa constitucional da disponibilidade. Com base na situação hipotética acima apresentada, responda, de forma fundamentada, às seguintes indagações.
José poderia ter sido exonerado de ofício, mesmo durante o período de estágio probatório, ou o estágio deveria protegê-lo contra a extinção do cargo?
José teria direito à prerrogativa da disponibilidade? Em caso de resposta afirmativa, especifique 	os termos em que tal prerrogativa ocorreria.
Tendo sido extinto o cargo durante o período do estágio probatório, o servidor poderá ser exonerado de ofício porque ainda não tem a estabilidade. O fato de estar em estágio probatório não protege o servidor contra a extinção do cargo, conforme estabelecido na Súmula 22 do STF: "O estágio probatório não protege o funcionário contra a extinção do cargo." Diga-se, ainda, que, como se trata de provimento originário (o servidor fora "nomeado, pela primeira vez, para cargo efetivo"), não há que se falar em recondução ao cargo anteriormente ocupado, nos termos do que dispõe o § 2.º do art. 20 da Lei n.º 8.112/1990, só lhe restando a exoneração.
O servidor não dispõe da prerrogativa constitucional da disponibilidade, que, nos termos do art. 41, § 3.º, da CF, só é cabível, em caso de extinção do cargo, para servidor estável.
(OAB/ Exame Unificado) Carlos exerce os cargos públicos de professor de Universidade federal, em regime de 40 horas semanais, e de professor da rede municipal de ensino, também em regime de 40 horas semanais. A administração federal, ao constatar tal acumulação, considerou-a ilícita e notificou o servidor para que optasse por um dos cargos. O servidor manifestou seu interesse em continuar apenas na universidade federal. Na sequência, a administração federal promoveu os descontos relativos à restituição da remuneração que o servidor havia percebido durante o período em que acumulara os referidos cargos.
Considerando essa situação hipotética, discorra, com a devida fundamentação, sobre a regularidade dos referidos descontos na remuneração percebida pelo servidor.
Trata-se de acumulação ilegal de cargos públicos, dado que não há compatibilidade de notário para o servidor que exerce dois cargos no regime de 40 horas semanais.
Não é regular o desconto da remuneração percebida pelo servidor em acúmulo ilícito de cargos públicos, se configurada sua boa-fé.
A Lei nº 8. 112, de 11 de dezembro de 1990, no artigo 133, caput e § 5.°, assegura ao servidor que acumula cargos ilicitamente o reconhecimento de sua boa-fé, caso opte por um dos cargos, antes da instauração do processo ou após a instauração, até o término do prazo de defesa.
Na hipótese, restou configurada a boa-fé, visto que o servidor optou por um dos cargos no primeiro momento, antes mesmo da instauração do processo.
Caracterizada a boa-fé, não pode o servidor sofrer efeitos prejudiciais da conduta tida como irregular.
(OAB/ Exame Unificado) O governador de um estado editou decreto promovendo uma ampla reformulação administrativa, na qual foram previstas a criação, a extinção e a fusão de órgãos da administração direta e de autarquias estaduais. Alegou o governo estadual que, além de atender ao interesse público, a reformulação administrativa inseria-se na competência do Poder Executivo para, no exercício do poder regulamentar, dispor sobre a estruturação, as atribuições e o funcionamento da administração estadual. Em face dessa situação, responda, de forma funda­mentada, se é considerada legitima a iniciativa do chefe do Poder Executivo estadual de, mediante decreto, promover as mudanças pretendidas.
R: O Direito Administrativo é informado pelo princípio da legalidade, principio esse pelo qual a Administração só pode agir se houver previsão legal determinando ou autorizando sua atuação.
Esse princípio cede era pouquíssimos casos, previstos na Constituição Federal. Um deles é o que permite ao Chefe do Executivo que, por meio de decreto, disponha sobre "organização e funcionamento da administração" (art. 84, VI, "a").
Essa faculdade, todavia, encontra duas limitações: a) não pode implicar em aumento de despesa; b) não pode importar em criação ou extinção de órgãos públicos.
Nesse sentido, os atos do governador de criação e a extinção de órgãos da administração direta são absolutamente inconstitucionais. O mesmo se pode dizer quanto à criação, extinção e fusão de autarquias estaduais, pois tais entidades são criadas por lei específica (art. 37, XIX, da CF), e somente por esta poderão ser extintas. Ademais, se os próprios órgãos n3o podem ser criados ou extintos por decreto, quanto mais as pessoas jurídicas da administração indireta.
Remanesce a dúvida sobre se é possível a fusão de órgãos da administração direta. A fusão, por não importar em extinção ou criação de entidade, assim como a transformação de órgãos, desde que não aumentem a despesa, parece-nos providência possível nos termos da Constituição. Um exemplo é a existência, num dado Estado, de uma Secretaria de Segurança Pública e de outra Secretaria de Administração Penitenciária, que fossem fundidas numa só, passando a se chamar Secretaria de Segurança Pública e de Administração Penitenciária.
Nesse caso, razões administrativas de conveniência e oportunidade podem ter determi­nado a fusão, que, repito, desde que não importe em aumento de despesa, não nos parece proibida pela Constituição Federal.
(OAB/ Exame Unificado) - O Estado XPTO realizou procedimento licitatório, na modalidade concorrência, visando à aquisição de 500 motocicletas para equipar a estrutura da Polícia Militar. Logo após a abertura das propostas de preço, o Secretário de Segurança Pública doreferido Estado, responsável pela licitação, resolveu revogá-la, por ter tomado conhecimento de que uma grande empresa do ramo não teria tido tempo de reunir a documentação hábil para participar da concorrência e que, em futura licitação assumiria o compromisso de participar e propor preços inferiores aos já apresentados no certame em andamento.
Considerando a narrativa fática acima, responda aos itens a seguir empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) À luz dos princípios que regem a atividade administrativa, é juridicamente correta a decisão do Secretário de Segurança de revogar a licitação?
b) Quais são os requisitos para revogação de uma licitação?
c) Em se materializando a revogação, caberia indenização aos licitantes que participaram do procedimento revogado?
a) Não. Há violação dos princípios da isonomia e impessoalidade, bem como da moralidade administrativa, de acordo com o art. 37 CRFB c/c com o art. 3º da Lei nº 8.666/93.
b) Pode a Administração revogar a licitação por interesse público, devendo haver fato superveniente devidamente comprovado, conforme caput do art. 49 da Lei nº 8.666/93.
Cabe ressaltar que deverá o gestor público fornecer a motivação para a revogação, para oportunizar aos licitantes o exercício da ampla defesa e contraditório, posto que a declaração unilateral de licitação sem assegurar ampla defesa aos interessados ofende o art. 49, §3º da Lei nº 8.666/93 (MADEIRA, José Maria Pinheiro. Administração Pública, Tomo I, 11ª ed. São Paulo: Campus Jurídico, 2010, p. 362-365).
c) Cabe, sim, indenização, mediante comprovação de prejuízos (posicionamento, inclusive, da Procuradoria da União), conforme se depreende dos arts. 37, § 6º da CRFB e 49, §§ 1º e 3º da Lei nº 8.666/93.
A empresa W.Z.Z. Construções Ltda. vem a se sagrar vencedora de licitação, na modalidade tomada de preço. Passado um mês, a referida empresa vem a celebrar o contrato de obra, a que visava à licitação. 
Iniciada a execução, que se faria em quatro etapas, e quando já se estava na terceira etapa da obra, a Administração constata erro na escolha da modalidade licitatória, pois, diante do valor, esta deveria seguir o tipo concorrência. 
Assim, com base no art. 49, da Lei nº 8666/93, e no art. 53, da Lei nº 9784/98, declara a nulidade da licitação e do contrato, notificando a empresa contratada para restituir os valores recebidos, ciente de que a decisão invalidatória produz efeitos ex tunc. Agiu corretamente a Administração? Teria a empresa algum direito?
O examinando deve identificar o poder de anular os contratos administrativos e o dever da Administração de pagar pelo o que a empresa executou até a anulação, bem como o dever de indenizar também outros eventuais prejuízos regularmente comprovados (art. 59, parágrafo único, da Lei 8.666/93). 
A questão envolve a aplicação do parágrafo único do artigo 59, da Lei 8666/93, pois inegável a boa-fé da empresa e ter a mesma prestado a sua obrigação. Não caberia a restituição dos valores pagos, que seriam integrados, como indenização, ao patrimônio da contratada, que, inclusive, poderia postular perdas e danos.
O Poder Executivo municipal da cidade X resolve, após longos debates públicos com representantes de associações de moradores, editar um decreto de desapropriação de uma determinada área urbana, a fim de atender às exigências antigas da comunidade local dos Pontinhos, que ansiava pela construção de um hospital público na região. Entretanto, outra comunidade de moradores do mesmo município X, localizada a 10 km da primeira comunidade acima citada e denominada Matinhos, resolve ajuizar mandado de segurança coletivo contra o ato (decreto expropriatório) praticado pelo Prefeito. A comunidade de Matinhos é devidamente representada pela respectiva associação de moradores, constituída há pelo menos cinco anos e em funcionamento. A ação judicial coletiva objetiva, em sede liminar e de forma definitiva, sob pena de multa, a decretação de nulidade do decreto de desapropriação e a determinação de que o hospital seja imediatamente construído na localidade de Matinhos. Argumenta a associação, ora autora da ação coletiva, que em sua campanha política o Prefeito prometeu a construção de um hospital na localidade de Matinhos e que, por razões de conveniência e oportunidade, o Poder Executivo municipal não deveria construir o hospital na localidade de Pontinhos, pois lá já existe um hospital público federal em funcionamento, enquanto na localidade de Matinhos não há qualquer hospital. 
Diante da situação acima narrada e ao considerar que o decreto de desapropriação foi editado de forma válida e legal, sem qualquer vício de legalidade, explicite a possibilidade ou não de: 
a) anulação do ato administrativo de desapropriação pelo Poder Judiciário;
b) determinação judicial de que o Prefeito deva construir o hospital na região de Matinhos. 
Tendo em vista que o ato administrativo (decreto de utilidade pública) questionado foi editado de forma válida, atendendo aos requisitos legais, ao Poder judiciário é defeso (vedado) anulá-lo. De acordo com a Súmula 473, STF, tanto a Administração (autotutela), quanto o Judiciário (inafastabilidade do controle jurisdicional – art. 5º, XXXV, CF), podem anular o ato ilegal. Todavia, para que isso ocorra, imprescindível a comprovação de que o ato (que goza de presunção de veracidade e legalidade) esteja em desacordo com o ordenamento, o que não ocorre no caso em tela. 
Também não é possível que o juiz determine a alteração do local da construção do hospital. Com efeito, trata-se de ato discricionário, cujo controle jurisdicional cinge-se aos aspectos de legalidade, razoabilidade e finalidade (ausência de desvirtuamento da finalidade pública). Nessa esteira, não pode o Judiciário analisar o mérito do ato administrativo (definido pelo administrador através de critérios de conveniência, oportunidade e justiça), pena de ofensa ao princípio da separação de poderes (art. 2º, CF). 
Padrao OAB(O princípio da autotutela administrativa que se encontra consagrado por força de reiterada jurisprudência, pela Súmula nº 473 do Supremo Tribunal Federal, impõe à Administração Pública o poder/dever de anular os atos ilegais ou revogá-los, por motivo de oportunidade e conveniência, em ambos os casos, respeitados os direitos adquiridos.
Esse enunciado, entretanto, não afasta a apreciação do Poder Judiciário, ou seja, o controle judicial dos atos praticados pela Administração Pública que, hoje, ante ao avanço das decisões judiciais e da doutrina do direito público permite que seja realizado à luz não só da adequação do ato aos ditames legais e jurídicos (princípios) – controle de legalidade ou de juridicidade –, como também permite ao Juiz apreciar o denominado “mérito” administrativo, ou seja, permite a análise e o controle dos atos discricionários.
Os atos discricionários, segundo a melhor e atual doutrina do direito administrativo, devem pautar a sua edição em determinados critérios eleitos que serão analisados pelo Poder Judiciário, quais sejam: 
1) se o ato praticado atendeu ao princípio da razoabilidade (se foi necessário e se os meios foram proporcionais aos fins pretendidos e executados); 
2) se o ato atendeu aos motivos que determinaram a sua edição ou se apenas atendeu a interesses privados e secundários (teoria dos motivos determinantes); 
3) e se o ato atendeu às finalidades da lei, em última análise, se o ato atendeu aos interesses públicos reais, sem qualquer desvio de poder.
Por fim, importa ressaltar que o Poder Judiciário não pode substituir o administrador. Dessa forma, quando da anulação do ato discricionário, não cabe ao Juiz determinar a prática do ato, mas sim devolver ao administrador público essa decisão que deverá ser fundamentada e exposta, segundo novos critérios de oportunidade e conveniência, respeitados os motivos determinantes, a razoabilidade e a finalidade (interesse público).)
(OAB/ Exame Unificado) - Leandro frigiu da cadeia pública de um estado da Federação.Cinco meses depois da fuga, em concurso com mais dois agentes, praticou o sequestro relâmpago de duas pessoas, as quais restaram brutalmente assassinadas. Nessa hipótese, haverá responsabilidade objetiva do Estado pelos danos decorrentes da morte causada por fugitivo? Fundamente sua resposta.
R: O Supremo Tribunal Federal assentou posicionamento no sentido de que a responsabilidade do Estado, seja ela objetiva, seja ela subjetiva, depende, para sua configuração de nexo de causalidade entre a conduta estatal e o dano.
Nesse sentido, o Excelso Pretório vem entendendo que nos casos de fuga de presos seguidas de crimes praticados por estes o Estado não responde quando a fuga tenha se dado já há bom tempo ou quando o crime tenha sido praticado em concurso com outros comparsas. Essas duas situações, segunda o tribunal, afastam o nexo de causalidade.
Todavia, quando a ruga tenha se dado pouco tempo antes do crime e seja decorrente de séria negligência estatal (por exemplo, por repetidas fugas), o Supremo Tribunal Federal entende que o nexo de causalidade existe e a responsabilidade do Estado fica configurada.
No caso em tela, o fato de a fuga ter se dado cinco meses antes do crime, somado ao fato de outras pessoas também terem participado do crime faz com que remanesça o entendimento jurisprudencial no sentido do que não há nexo de causalidade entre a conduta estatal e o crime, e, portanto, o estado não responde civilmente.
(OAB/ Exame Unificado) - Determinada prefeitura assinou, com um empreiteiro, contrato administrativo que visava à execução de uma obra de implantação de rede de saneamento em bairros da cidade. No curso da obra, ocorreram problemas que provocaram danos a diversas residências, por culpa exclusiva do empreiteiro, em razão da não-adoção de providências e medidas previstas no contrato. Nessa situação, a responsabilidade pelo ressarcimento dos danos é apenas do contratado, ou o município também tem responsabilidade primária e solidária? Fundamente sua resposta.
R: A questão trata da responsabilidade do Estado pelos atos praticados por particular na execução de contrato administrativo celebrado com a Administração Pública.
A Lei 8.666/93 é clara ao dispor que o contratado é responsável pelos danos causados a terceiros, decorrentes de sua culpa ou dolo na execução do contrato (art. 70). O dispositivo também esclarece que tal responsabilidade não fica excluída ou reduzida pela fiscalização ou acompanhamento pelo órgão interessado.
Assim sendo, não há responsabilidade primária e solidária da Prefeitura pelos danos causados pelas obras de implantação de rede de saneamento em bairros da cidade, de os prejudicados acionarem diretamente o empreiteiro.
Mas há duas situações em que o Estado poderá responder, por conta de uma obra pública que tiver encomendado a um empreiteiro.
O primeiro caso diz respeito às situações em que os danos causados a terceiros são produzidos por motivo inerente à obra encomendada peto Estado. A hipótese diz respeito àquelas situações em que o contratado não age com culpa ou dolo, mas, em virtude de características próprias da obra, danos serão inevitáveis. Por exemplo, em coso de nivelamento de ruas, é praticamente inexorável a causação de danos, vez que casas à margem da via ficarão em nível mais baixo ou mais elevado que esta.
O segundo caso diz respeito à hipótese em que o contratado culpado pelos danos decorrentes da obra, não tem recursos para arcar com os ônus decorrentes da responsabilidade civil que carrega. Nesse caso, o Estado, por ser o patrocinador da obra, e por agir em favor de toda coletividade, deve indenizar os danos causados, socializando a reparação dos danos em favor daquele que sofreria sozinho caso não fosse indenizado.
Ante o exposto, e considerando que no caso presente houve culpa exclusiva do empreiteiro, o Estado não responde primária e solidariamente pelos danos causados, podendo responder subsidiariamente, diante da impotência econômica ou financeira daquele.
(OAB/ Exame Unificado) O Estado do Rio de Janeiro, através de lei, declara que determinada área passará a ser reserva florestal permanente. Por entender que não há, nessas hipóteses, apossamento administrativo, não efetua indenização. Para a Administração ocorreu mera limitação parcial do imóvel.
Entretanto, o proprietário entende que, dessa forma, ocorreu verdadeira restrição à sua propriedade, esvaziando-a economicamente, pois dela não mais poderá usar e fruir, segundo sua natural destinação. Afinal, o Poder Público o está punindo justamente por tê-la preservado.
Pondere o interesse do Poder Público em criar Parques em face do direito de propriedade e suas conseqüências quanto à indenização.
R: Propriedade é o poder jurídico que a pessoa exerce sobre determinado bem, nos termos do ordenamento jurídico, e nos limites e dimensões em que ele a regulamentar. Analisando o conceito, verifica-se que propriedade não apresenta mais o caráter absolutista que existia no passado. Desta forma, a propriedade pode sofrer restrições no seu conteúdo.
No caso em tela, o Estado do Rio de Janeiro declara que determinada área passará a ser reserva florestal. Diante do interesse público na preservação do meio ambiente e o direito de propriedade, entendemos que, pela ponderação de interesses, o direito de propriedade deve suportar a restrição do seu conteúdo.
Por outro lado, é inegável a existência de esvaziamento econômico da propriedade, visto que em razão da restrição imposta pelo Poder Público, o proprietário não poderá mais usar e fruir do bem, segundo a sua destinação natural (consistente no direito de efetuar desmatamento, loteamento e a exploração dos recursos naturais da terra).
Assim sendo, é devida indenização, como forma de compensar o esvaziamento econômico suportado pelo bem, pois, do contrário, estaríamos punindo aquele que preservou o meio ambiente. Esse é um exemplo típico de indenização decorrente de ato lícito. Nesse sentido, se posicionou o Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial n° 188.781-PR, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros.
Em função do modismo de “meio-ambiente”, muitos governos começaram a criar áreas de preservação ambiental (APA’s), sem retirar a propriedade do particular, sem desapropriação. A área continua com o proprietário, mas ele não pode, por exemplo, desmatar para construir. O ato é legítimo: preservação do meio ambiente; é legal, porque respeitou o processo de elaboração da lei, mas o proprietário sofreu um prejuízo individualizado.
(OAB/ Exame Unificado) Tício, motorista de uma empresa concessionária de serviço público de transporte de passageiros comete uma infração de trânsito e causa danos a passageiros que estavam no coletivo e também a um pedestre que atravessava a rua.
Considerando a situação hipotética narrada, responda aos itens a seguir, empregando os argumentos jurídicos apropriados e a fundamentação legal pertinente ao caso.
a) Qual (is) a (s) teoria (s) que rege (m) a responsabilidade civil da empresa frente aos passageiros usuários do serviço e frente ao pedestre à luz da atual jurisprudência do Supremo Tribunal Federal?
b) Poderiam as vítimas responsabilizar direta e exclusivamente o Estado (Poder Concedente) pelos danos sofridos?
a) A responsabilidade civil da empresa frente aos passageiros usuários do serviço e frente ao pedestre é regida pela TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO, norteadora da teoria da responsabilidade objetiva.
A regra contida no art. 37, § 6º, da Constituição Federal de 1988, insere expressamente as pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos entre os entes submetidos ao regime de responsabilidade civil objetiva.
A reparação dos danos, destarte, dependerá da comprovação da conduta, dos danos experimentados e do nexo de causalidade entre eles. Nesta linha, os prestadores de serviços públicos arcam com os riscos inerentes às suas atividades, dispensando-se aos indivíduos lesados a comprovação de culpa do agente público, o que se harmoniza com a norma estampada no art. 2º,III, da Lei nº 8987/95.
O Supremo Tribunal Federal sedimentou o entendimento de que, tanto em relação aos usuários como em relação a terceiros atingidos, as pessoas jurídicas prestadoras de serviços públicos respondem objetivamente.
b) Predomina na doutrina o entendimento de que a responsabilidade do Estado, enquanto ente concedente de serviço público, é SUBSIDIÁRIA.
Não cabe, portanto, o direcionamento exclusivo e direto da demanda indenizatória em face do Estado, tendo em vista que a responsabilidade deste tem caráter residual, supletivo. A responsabilidade primária, na hipótese, recai sobre a pessoa jurídica concessionária do serviço público de transporte de passageiros.

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