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Teoria Avançada das 
Relações Internacionais
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Carlos Henrique Canesin
Revisão Textual:
Prof.ª Dra.Selma Aparecida Cesarin
Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
 
 
• Discutir as bases dos debates em torno do pós-modernismo, das diferentes viradas pós-modernas 
até o “fim das viradas” e a chegada do antropoceno, focando as perspectivas pós-modernistas e 
pós-colonialistas nas Relações Internacionais.
OBJETIVO DE APRENDIZADO 
• Subvertendo o Moderno;
• O Pós-Modernismo nas RIs;
• O Pós-Colonialismo nas RIs.
UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Subvertendo o Moderno
O quarto grande debate das Relações Internacionais surge, conforme discutimos na 
Unidade anterior, a partir do desenvolvimento de novas perspectivas teórico-interpreta-
tivas que buscavam atacar a centralidade do Positivismo como paradigma do debate e 
da construção teórica no campo das Ciências Humanas e Sociais.
Figura 1
Fonte: Getty Images
O debate entre positivistas e pós-positivistas, como essas perspectivas alternativas 
passaram a ser denominadas, reacendeu o debate epistemológico da Teoria das Relações 
Internacionais que parecia superado com a vitória do Positivismo sobre o Tradicionalismo 
ao final do segundo grande debate.
Portanto, o quarto debate parece se localizar na conclusão de um novo ciclo de 
evolução teórica no campo, que alterna discussões de natureza ontológica com diver-
gências epistemológicas.
No quarto debate das Relações Internacionais, a partir da década de 1980, essas pers-
pectivas passaram a ser denominados reflexivistas. enfatizando os aspectos intersubje-
tivos do conhecimento, isto é, do entendimento que os atores têm ou constroem sobre 
as Instituições, a Política Internacional e, em última medida, seu próprio comportamento.
No entanto, muito embora essas perspectivas, de forma geral, contestem o dogma-
tismo positivista da Teoria das Relações Internacionais, e mesmo sua ingenuidade e falta 
de criticidade sobre o mundo, não são todas as correntes teóricas alinhadas ao Pós-
-positivismo que rompem completamente a barreira da Ciência Moderna, baseada nos 
pilares do Racionalismo e do Empirismo.
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Assim, apesar de contestarem as bases pelas quais o conhecimento sobre a Política 
Internacional é produzido a partir da experiência empírica, e como os atores constroem 
e são construídos por estas noções, cada qual a seu modo, parte das perspectivas pós-
-positivistas ainda procuram construir um conhecimento sobre o mundo em bases mais 
ou menos racionais e empíricas, embora a racionalidade seja sempre contingente e os 
fenômenos empíricos apreensíveis apenas pela nossa consciência.
Dessa forma, perspectivas pós-positivistas influentes no campo das Relações Interna-
cionais como o Construtivismo, o Feminismo, a Teoria Queer e a Teoria Crítica em geral 
ainda possuem bases alicerçadas em uma visão de Ciência moderna.
O rompimento definitivo das bases modernas no debate das Relações Internacionais, 
abandonando os pilares racionalistas e empiristas, e entrando na seara das interpreta-
ções eminentemente pós-modernas é mais tardio no campo, e será objeto do nosso 
debate nesta Unidade.
Para compreender esse debate, é necessário, primeiramente, estabelecer as bases 
do Movimento Pós-modernista e entender como ele levou a uma Revolução episte-
mológica ampla no seio das Ciências Humanas e Sociais, para, então, entender sua 
penetração no debate da Teoria das Relações Internacionais.
Partimos, portanto, do principal desafio para compreensão do pós-modernismo, pre-
cisamente a sua própria definição.
Ao contrário da distinção entre Positivismo e Pós-positivismo, agrupando dois con-
ceitos estanques bem definidos, o Pós-modernismo é melhor entendido como um movi-
mento amplo, que possui expressões na Ciência, Arquitetura, Literatura, Artes em geral 
e Cultura popular, dentre outros vários aspectos da vida social, sendo multifacetado.
Não é possível se falar em epistemologia integradora do Pós-positivismo, uma visão 
do processo de produção do conhecimento que caracterize uma perspectiva como pa-
cificamente pós-moderna.
Conforme observou Berman (1986) sobre o Pós-modernismo, em releitura das as-
pirações universalistas do Materialismo histórico marxista, “tudo que é sólido se des-
mancha no ar”.
O Pós-modernismo é em si próprio seu antagonista e suas várias correntes fre-
quentemente buscam afirmar sua própria pós-modernidade, negando a das demais.
O Movimento Pós-modernista, assim, é não só multi mas transdisciplinar, e seu eixo 
comum pode ser traçado como fruto do chamado mal-estar da Modernidade, ou expli-
cando melhor, da frustração das promessas da Modernidade.
As aspirações civilizacionais do advento da Modernidade, representada pelo Raciona-
lismo e pelo Empirismo refletidos na Ciência positiva, na Tecnologia, no Planejamento 
social e no Planejamento urbano, que prometiam inaugurar uma era de prosperidade 
universal para os seres humanos, teriam sido enterradas pelas duas Guerras mundiais do 
século XX e pelo conflito ideológico bipolar emergente no pós-1945.
O Pós-modernismo não é entendido, no entanto, de forma indisputável com uma 
ruptura com a própria modernidade do ponto de vista histórico.
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Para teóricos como Habermas, discutido na Unidade anterior, a Pós-modernidade é 
um estágio histórico tardio da própria Era Moderna.
Nas palavras de Habermas (2017), a Modernidade seria ainda um “projeto inacabado”. 
Já para outros críticos, como Bauman (2001), trata-se de um estágio distinto da Moderni-
dade, opondo uma Modernidade Sólida (epistemologicamente positivista) a uma Moder-
nidade Líquida (epistemologicamente relativista), ambas dentro de um contínuo histórico.
Nossa abordagem do debate pós-modernista aqui, no entanto, não se proporá a adotar 
uma perspectiva dialética ou a de seus críticos.
 A proposta da presente discussão é abraçar os pressupostos pós-modernistas e com-
preender como a visão pós-moderna das Ciências Humanas e Sociais contribuiu para a 
construção de novos esquemas teórico-interpretativos na Teoria das Relações Internacio-
nais, a partir da premissa de que o mundo pós-moderno é distinto do mundo moderno.
Essa distinção é caracterizada por elementos de diversas dimensões, tanto polí-
ticos, quanto econômicos, sociais, culturais e epistemológico-científicos, que se expres-
sariam em diferentes fenômenos contemporâneos do pós-guerra fria (pós-1989) como:
• Globalização: Marcada pela Sociedade de massas, consumo e commoditização do 
conhecimento e da cultura;
• Centralidade da Imagem: Na Sociedade do espetáculo em um mundo volátil e em 
constante transformação, os indivíduos são telespectadores de imagens do mundo 
produzidas pela Mídia, que constroem e negam realidades;
• Pós-política: O desinteresse pela política, pela vida social e o individualismo deixam 
de lado nossa experiência comum no mundo em prol do ego e do hedonismo de 
satisfação imediata das vontades;
• Ambivalência e Pluralismo: Fruto do ceticismo dos valores universalistas e do mul-
ticulturalismo. O relativismo – Em oposição a uma pretensa racionalidade objetiva 
e neutra.
Pós-Estruturalismo
Esta visão do mundo contemporâneo, pós-moderno, começa a ser construída no 
 pós-1945 e sua proeminência e influência é associada ao florescimento da corrente filo-
sófica denominada Pós-estruturalismo, a partir dos anos 1960, especialmente, a partir 
da produção francesa.
O Estruturalismo está intimamente ligado ao paradigma de Ciência Moderna, que 
acredita na possibilidade de geração de conhecimento válido (verdadeiro) a partir da 
aplicação de uma estrutura interpretativa previamente definida, e pretensamente neutra, 
sobre a realidade empírica.
Assim, o estruturalismo procura compreender a realidade por meio de conceitos e 
ideias abstratas que operariam a mediação entre a própria realidade e a interpretação 
dela. Esse é o papel da TeoriaCientífica Moderna: utilizar os conceitos e a linguagem, 
a partir de uma estrutura rígida e previamente definida, para testar e produzir conheci-
mento sobre a realidade empírica.
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No entanto, para que esse processo opere validamente, isto é, seja capaz de produzir 
conhecimento verdadeiro ou neutro na visão positivista, não apenas a Teoria, mas os 
próprios conceitos e a linguagem subjacente utilizada em sua construção, devem ser 
fixos e válidos previamente.
Para a perspectiva Pós-estruturalista, aquilo que nós vemos, aquilo que escolhemos 
ver, aquilo que escolhemos medir, os mecanismos e métodos que escolhemos como me-
dida e os aspectos que escolhemos enfatizar como resposta, são parte de uma grande 
construção humana essencialmente dependente de processos de percepção e cognitivos 
influenciados por entendimentos e significados prévios.
Sendo assim, até mesmo a linguagem que nós utilizamos para expressar essas noções 
reflete uma construção cultural e social indissociável de valores normativos.
A linguagem é uma manifestação social integralmente construída pela cultura, na 
forma como os povos constroem suas histórias e narrativas sobre sua experiência co-
mum no mundo.
A partir da perspectiva Pós-estruturalista, o conhecimento só pode ser compreendido 
à luz de seu próprio tempo, espaço e contexto social de construção.
Dois dos principais expoentes do Pós-estruturalismo são os filósofos francês Michel 
Foucault (1926-1984), cuja obra mais destacada é As palavras e as coisas (Le Mots et 
les Choses)” (2016 [1966]), sendo também de interesse para nossa discussão A microfí-
sica do poder (2014 [1979]), e o filósofo franco-argelino Jacques Derrida (1930-2004), 
de cuja vasta produção podemos destacar como de especial interesse Introduction 
(et traduction) à L’origine de la géométrie de E. Husserl (1962) e Gramatologia
(De la grammatologie) (2011 [1967]).
A obra de Foucault consolida uma das abordagens que se tornaria típica dos estudos 
pós-modernos em Ciências Humanas e Sociais: o uso de genealogias.
Nelas, a partir de métodos historiográficos, o estudioso procura desfamiliarizar ou des-
naturalizar determinadas construções, tidas como naturais, para, então, expor suas con-
tradições e manipulações semânticas internas no processo de produção do conhecimento.
O objetivo principal desse programa de pesquisa é identificar e expor as condições 
históricas de que determinado conhecimento é fruto, ao mesmo tempo em que deslegi-
tima a própria validade universal do conhecimento.
A estrutura de produção do conhecimento, que no período moderno é associada à 
Ciência positiva, reflete uma estrutura de poder estabelecida.
Poder e conhecimento são, portanto, indissociáveis na medida em que são as estrutu-
ras de poder estabelecidas nas Instituições responsáveis pela legitimação do conhecimento.
O conhecimento construído e informado sobre o mundo é mecanismo de exercício 
do poder. E todas as instituições sociais, como a Igreja, as Escolas, a Ciência etc. são 
parte dessa estrutura da microfísica do poder.
Seu papel é manter a ordem e incutir no indivíduo a própria ideia do que seja essa 
ordem dentro de limites morais e sociais estabelecidos pela macro estrutura do poder, 
que determina os fenômenos políticos e as tendências da Sociedade.
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
O que é considerado conhecimento válido depende da macroestrutura dominante. 
No período moderno, o que é considerado racional é associado à Ciência empírica e 
neutra, é determinado pela macroestrutura e perpetuado pela microestrutura. A verdade 
não é, portanto, objetiva. Mas sim, um instrumento de poder ao condicionar as referên-
cias mentais e o comportamento dos indivíduos dentro dos limites da ordem vigente.
Esta constatação deixa nas Ciências Humanas e Sociais um vácuo epistemológico.
Não há um meio ou um método de pesquisa social que não reproduza a estrutura do 
pensamento vigente a seu tempo e, como consequência, os pressupostos de validade do 
conhecimento estabelecidos pela estrutura de poder.
A verdade tem papel político fundamental na construção das narrativas sobre o mundo. 
E, se existem verdades estabelecidas pelo poder dominante, é possível também construir 
verdades alternativas como meios de resistência a esse processo de dominação.
A genealogia deve ser entendida, nesse contexto, como um desnudamento da relação 
histórica entre poder e conhecimento.
O papel da genealogia é desnaturalizar a própria história e as perspectivas que 
conhe cemos, a partir de ampliação de nossa visão e compreensão de outras narrativas 
e visões excluídas da história.
Significa contar a história da própria História, a partir das perspectivas de seus ex-
cluídos, vez que a verdade contemporânea é contingente, a própria verdade sobre o 
passado também o é.
Em última análise, não existe verdade, apenas narrativas diferentes e concorrentes 
sobre o mundo. E elas não são apenas instrumentos ou lentes com as quais podemos 
ver o mundo.
Elas criam o próprio mundo em que vivemos a partir das concepções ontológicas 
que construímos com base nelas e de como agimos a partir delas nesse mundo criado.
As estruturas de poder buscam construir determinadas narrativas sobre o mundo, 
cabendo aos pesquisadores desnaturalizá-las.
Por sua vez, os trabalhos de Derrida têm como foco a desconstrução desse conhe-
cimento construído, sempre contingente, para revelar seus pressupostos e nos permitir 
compreender suas contradições.
De acordo com ele, as contradições observadas no texto e no discurso revelam os múl-
tiplos sentidos simultâneos do conhecimento e a sua dinâmica e contexto de construção.
O objetivo final da agenda de pesquisa estabelecida por Derrida é a desconstrução da 
própria Filosofia ocidental que dá base à construção do mundo moderno, em especial 
ao Racionalismo e ao Empirismo.
Os seres humanos são criaturas essencialmente subjetivas. Nossas construções sobre 
o mundo são, portanto, sempre intersubjetivas. Afirmações feitas sobre qualquer verdade 
objetiva ou universal derivadas de observações empíricas são, por definição, necessaria-
mente vazias.
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São os nossos entendimentos e a construção humana que dão significado à nossa 
própria experiência no mundo.
Nenhum conhecimento ou verdade é possível à parte das motivações e propósitos 
que as pessoas colocam em sua construção. A verdade é, portanto, inteiramente relativa.
Ao analisar os textos e os discursos construídos, o pesquisador deve desconstruí-los 
para expor os significados daquilo que é escrito, falado e até mesmo de nossas ações.
O conceito de texto não está restrito, assim, ao texto escrito, mas é bem mais amplo 
para abranger toda a ontologia na qual os indivíduos estão inseridos, todo o signifi-
cado do mundo e como suas diferentes interpretações constituem o próprio mundo para 
cada um de seus diferentes enunciadores.
O texto são os signos e as estruturas que definem nosso entendimento sobre deter-
minado fenômeno. Qualquer pretensão de tratá-los de forma estruturalista e universalista 
é uma falácia.
Nesse sentido, a Filosofia ocidental que dá base a nossas concepções modernas é, 
na verdade e em essência, de natureza metafísica, conceito discutido na Unidade I.
O discurso filosófico que dá base ao Racionalismo e mais tarde ao Empirismo se 
basearia em construções que não são nem empíricas, nem objetivas e, muito menos 
neutras ou desinteressadas.
A Ciência positivista é um discurso sobre a realidade. No entanto, não há nenhuma 
realidade objetiva. Portanto, a Ciência é discurso. Não há realidade objetiva fora do 
próprio discurso teórico.
A Genealogia e a análise do discurso e do texto serão, a partir de então, os principais 
mecanismos utilizados pelo programa pós-moderno nas Ciências Humanas e Sociais 
para desnaturalizar e desconstruir a Modernidade.
O processo de ruptura entre o mundo Moderno e o Pós-moderno enseja um conjunto 
de subversões das bases de referência social em diversos campos, os quaisabordaremos 
sucintamente a seguir.
As Viradas Pós-Modernas
A ideia de uma virada epistemológica do modernismo para o pós-modernismo foi 
popularizada pelo filósofo francês Jean-François Lyotard (1924-1998), a partir da obra 
A Condição Pós-moderna (La Condition Postmoderne) (1986 [1979]), tornando-o 
amplamente influente nos debates pós-modernos das décadas seguintes.
O objetivo central da obra é compreender o papel desempenhado pelo conhecimento
em uma Sociedade técnica e industrial avançada.
Lyotard publicou, posteriormente, diversas obras que promovem posições ou viradas 
pós-modernas em campos como a Ética, a Política e a Estética, defendendo a ruptura 
com a Teoria e os Métodos modernos.
Ao enfatizar a heterogeneidade dos discursos, argumenta que domínios como o juízo 
teórico, o juízo prático e o juízo estético têm, cada qual, suas próprias regras e critérios, 
sendo autônomos entre si.
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Dessa forma, não haveria possibilidade de uma integração do conhecimento a partir 
de uma Teoria universalista, que detivesse um método ou conjunto de conceitos com 
status privilegiado e válidos em domínios tão díspares como Filosofia, Teoria Social e 
Artes (Estética).
A posição epistemológica pós-moderna é construída, portanto, em oposição às pers-
pectivas filosóficas ocidentais do Racionalismo e do Empirismo.
A Pós-modernidade é uma época sócio-histórica e o Pós-modernismo é a configu-
ração da Arte e do Conhecimento de seu tempo Pós-moderno.
A perspectiva epistemológica Pós-moderna, portanto, nunca teoriza a moderni-
dade como um processo histórico, limitando-se a fornecer uma crítica do conheci-
mento moderno.
Dessa forma, a Modernidade é identificada com a razão moderna, o Iluminismo, o 
Universalismo e a Filosofia da História (Evolucionismo).
E o conhecimento moderno dependeria, principalmente, de um apelo às metanar-
rativas para legitimar reivindicações universalistas e fundamentalistas sobre o mundo.
A metanarrativa, ou grande narrativa, é caracterizada pela narrativa contida dentro 
da própria narrativa ou além dela. A metanarrativa é uma narrativa que, estando em um 
nível superior, dota de sentido e validade as narrativas subjacentes.
De acordo com o autor, a virada pós-moderna seria caracterizada pelo fim das 
metanarrativas (grandes narrativas) como o Iluminismo, o Idealismo e o Marxismo, que 
pretendem dotar de validade universal seus discursos adjacentes.
O conhecimento pós-moderno, ao contrário, seria contrário às metanarrativas e seus 
esquemas ideológicos de legitimação e poder.
Abrindo caminho para a heterogeneidade, a pluralidade e a construção pragmática 
do conhecimento por seus próprios atores.
A condição pós-moderna, portanto, envolve o desenvolvimento de uma perspectiva epis-
temológica que responda às novas condições do conhecimento no mundo pós-moderno, 
e que, como consequência, promova viradas pós-modernas em todos os campos da vida 
social, sepultando em definitivo o mundo moderno.
Dessa forma, a expansão do Pós-modernismo nas Artes e nas Ciências levaria a suces-
sivas viradas pós-modernas, como, por exemplo, as viradas:
• Epistemológica: Sedimentando o Pluralismo e o Relativismo em todos os Campos 
do Conhecimento;
• Metodológica: Promovendo perspectivas interpretativas intersubjetivas;
• Linguística: Desvelando a relação entre verdade e discurso e conhecimento e poder;
• Sociológica: Promovendo o Multiculturalismo;
• Estética: Representando uma redefinição de padrões nas Artes, Literatura e 
Arquitetura;
• Historiográfica: Reconstruindo a experiência humana em suas contingências 
sócio-históricas.
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O Fim das Viradas e o Antropoceno
A própria dinâmica e velocidade do Movimento Pós-modernista ampliaria de forma ace-
lerada a subversão dos conceitos modernos em campos cada vez mais amplos e levaria ao 
antagonismo entre correntes dentro do próprio movimento, o que teria como consequên-
cia um acúmulo de narrativas sobre novas e contínuas viradas nos mais variados campos.
Figura 2
Fonte: Getty Images
Isso, ao final, significava apenas que novas correntes buscavam se legitimar como 
mais pós-modernas que as precedentes em cada campo do conhecimento, a ponto de, 
por fim, descaracterizar-se a própria utilidade do conceito amplamente difundido das 
viradas pós-modernas para descrever sucessivos desenvolvimentos do Pós-modernismo 
nas Artes e nas Ciências Humanas e Sociais.
De certa forma, o esgotamento e o fim das viradas sedimentaram o entendimento 
de que nas Ciências Humanas e Sociais, ao contrário das Ciências Naturais, não há
propriamente mudanças paradigmáticas, isto é, enquanto nas Ciências Naturais o 
conhecimento se move em ciclos denominados paradigmas, nas Ciências Humanas e 
Sociais, esses ciclos seriam mais arbitrários e mais amplos.
Nas Ciências Humanas e sociais, ao invés de paradigmas, há viradas. Elas são trans-
versais e interdisciplinares, perpassando o universo da Literatura, da Arte, da Estética, 
da Sociologia, da Filosofia, da Antropologia e, assim por diante.
Dessa forma, o fim das viradas, como transição do mundo moderno ao mundo pós-
-moderno, inaugura uma nova fase da compreensão do mundo pós-moderno, que pode-
ríamos denominar Antropoceno.
O conceito de Antropoceno foi cunhado pelo biólogo norte-americano Eugene 
Stoermer (1934-2012) e pelo químico atmosférico holandês, ganhador do Prêmio 
Nobel de 1995, Paul Crutzen (1933-2021) para se referir à atual Era Geológica do 
Planeta Terra, na qual a civilização humana é uma força com impacto global signifi-
cativo sobre o Planeta em escala de tempo geológica, tendo sido consolidado a partir de 
uma publicação científica conjunta de ambos no âmbito do Programa Internacional da 
Geosfera-Biosfera (CRUTZEN; STOEMER, 2000).
Embora não se possa afirmar com precisão qual deve ser considerado o marco do 
início da presente Era, é possível que este seja fixado, a depender da distância de tempo 
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
geológico do observador, a partir do surgimento da espécie humana, ou da revolução 
agrícola e expansão dos seres humanos pelo mundo, ou da invenção do motor a vapor 
e da revolução industrial. Sendo o último geralmente o mais aceito (CRUTZEN, 2002).
A constatação de que a civilização humana é em si uma força geológica signifi-
cativa altera a própria perspectiva de uma história natural do Planeta, dissociada de 
uma história humana.
Além disso, considerando que a civilização humana continuará a ser uma força geológica 
fundamental no Planeta por muitos milênios ou até mesmo milhões de anos, a construção 
pós-moderna de uma virada historiográfica das contingências em oposição a uma história 
humana universal no mundo pós-moderno entra em cheque (CHAKRABARTY, 2013).
Dessa forma, tanto quanto as certezas modernas se desfazem no ar do mundo pós-
-moderno, o relativismo pós-moderno se desfaz no ar do mundo do Antropoceno.
Ao que tudo indica, embora a experiência humana possa ser diversa, multifacetada, 
intersubjetiva, contingente a cada momento sócio-histórico particular, o destino de cada 
ser humano é compartilhado com todos os demais pelas Eras como força geológica 
fundamental a moldar o Planeta.
Se caminhamos efetivamente para uma nova síntese, uma nova virada, o pós-modernismo, 
caberá aos teóricos do futuro afirmar, ou contestar.
O Pós-Modernismo nas RIs
O Pós-modernismo, na Teoria das Relações Internacionais, é melhor descrito como 
uma atitude crítica ou como um ethos de crítica aos limites impostos pela moderni-
dade à Teoria da Política Internacional (CAMPBELL, 2007; JABRI, 2007), isto é, uma 
perspectiva que busca desconstruir as bases das Teorias das Relações Internacionais 
modernas e explorar as possibilidades de construção de esquemas teórico-interpretativos 
da Política Internacional além delas.
Figura 3
Fonte: Freepik
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A partir, portanto, de um discurso crítico sobre a produção de conhecimento no 
campo , estudiosos pós-modernos procuram problematizarpremissas e posições tidas 
como pacíficas sobre a própria política internacional.
Por sua própria abordagem do campo, o pós-modernismo encontrou, inicialmente, 
recepção hostil, mas é hoje uma Área de Pesquisa em expansão.
Os teóricos pós-modernistas têm procurado concentrar-se na questão da represen-
tação e explorar as maneiras pelas quais os arranjos dominantes da Política Internacional 
produzem e reproduzem relações de poder.
Como eles legitimam determinadas formas de ação política enquanto marginalizam 
outras formas alternativas. Assim, o foco dos estudos no campo é deslocado de atores 
pré-definidos pela maioria dos arranjos da Política Internacional (Estados, indivíduos 
etc.) em direção à produção de novos sujeitos soberanos de ação e conhecimento na 
Política Internacional.
Dessa forma, mais do que questões sobre o que os sujeitos querem (interesses) ou 
fazem (ação), a preocupação pós-moderna reside sobre a questão como.
Como nós coletivamente, como sujeitos políticos, somos produzidos para aceitar 
certas formas de ação e não outras, para fazer certas perguntas e não outras, como 
determinados mecanismos de poder tornam-se normalizados e legitimados (GREGORY, 
1989; NEWMAN, 2010).
A agenda de pesquisa pós-modernista nas Relações Internacionais procura, assim, 
inves tigar como o sujeito, nos dois sentidos do sujeito-matéria (como é o sujeito político) 
e do sujeito-ator (como age o sujeito político) das Relações Internacionais, é constituído 
nos e por meio dos discursos sobre a Política Internacional.
Não existem, portanto, sujeitos ou unidades de análise naturais nas Relações 
Internacionais.
O espaço geográfico do mundo não é dividido naturalmente em Estados ou quaisquer 
outras unidades ou mesmo fronteiras territoriais.
A constituição de quaisquer unidades ou sujeitos na Política Internacional não deve 
ser, portanto, um elemento pré-teórico, e sim parte do próprio processo de pesquisa.
Existe, portanto, uma ligação implícita entre o pensar sobre o mundo e o agir no 
mundo, entre a análise e a ação, entre a Teoria e a Prática. As Relações Internacionais 
pós-modernas buscariam, assim, elucidar como a inter-relação entre esses binômios é 
mediada por diferentes práticas de representação política.
As perspectivas pós-modernistas das Relações Internacionais ecoam essas noções 
de fluidez dos sujeitos e da representação política, que passam pela necessidade de des-
construção dos conceitos e arquétipos teóricos preestabelecidos no campo.
Da mesma forma que outras perspectivas pós-positivistas, como a Teoria Crítica e 
o feminismo, por exemplo, os pós-modernos ganham terreno no campo das Relações 
Internacionais a partir do final da década de 1980 com o debate entre racionalistas 
e reflexivistas.
Ecoando a insatisfação generalizada com as falhas dos estudos da área em prever 
eventos de grande magnitude, entre o final da década de 1980 e os anos 1990, como o 
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
fim da guerra fria, as dificuldades em lidar com as incertezas e complexidades da emer-
gência de uma nova ordem da Globalização e, em face dos limites analíticos das noções 
tradicionais de poder, soberania e ordem, a perspectiva pós-moderna busca operar uma 
transgressão definitiva das fronteiras teóricas do estudo da Política Internacional.
A análise pós-moderna das Relações Internacionais, ao contrário das perspectivas 
tradicionais, é dominada por temas até então marginalizados nos estudos da Área.
Concentrando-se em aspectos como intangibilidade (ao invés das estruturas), desor-
dem (ao invés da ordem), ingovernabilidade (ao invés da governança) e terror (ao invés 
da harmonia), dentre outros.
Esse foco procura examinar os paradoxos intrínsecos envolvidos em qualquer tenta-
tiva de se afirmar uma voz soberana (narrativas de soberania) sobre um mundo no qual 
zonas marginais estão em expansão em relação aos territórios supostamente homogêneos 
e delimitados que as fronteiras nacionais demarcam e ao mesmo tempo contém.
No mundo pós-moderno, no mundo global, as fronteiras não contêm mais a repre-
sentação política, se é que um dia o fizeram.
A prática pós-moderna se opõe às teorias da Relações Internacionais centradas no 
Estado , que seriam sustentadas por um discurso que normaliza as oposições entre o nacio-
nal e o internacional e entre a soberania e a anarquia. Esses binômios são sintéticos, são 
construções narrativas, não caracterizam nenhum estado natural de organização do mundo .
E essas narrativas mascaram o fato de que cada termo é dependente do outro em 
uma construção de oposição semântica e axiológica indisfarçável.
A ideia do nacional se opõe e depende da ideia do internacional. Da mesma forma, 
a ideia de soberania, frequentemente associada à ordem, se opõe e depende da ideia de 
anarquia, e vice-versa.
Assim, o nacional está para a soberania e a ordem assim como o internacional está 
para a anarquia e a desordem. Os conceitos teóricos incutem um valor axiológico inegável.
A maioria das abordagens pós-modernas das Relações Internacionais questionam 
ou rejeitam a validade dessas construções denominadas práticas heroicas, que proble-
matizam a anarquia do Sistema Internacional ao mesmo tempo em que normalizam o 
monopólio estatal da violência como parte do discurso predominante sobre a soberania 
nacional. ou seja, alçam o Estado ao panteão de um herói mítico responsável por nos 
salvar a todos dos horrores e incertezas da anarquia.
Do ponto de vista analítico, os pós-modernos estão menos preocupados com o que 
a soberania é do que como ela é espacial e temporariamente produzida e como é distri-
buída no Sistema.
Em outras palavras, parte da preocupação central reside em como se institui uma deter-
minada configuração do espaço e do poder no Sistema. E em quais são suas consequências.
A desconstrução desses discursos sobre a soberania tem, ainda, outro papel menos 
tangível como parte do esforço de desvelar e expor esses conceitos e reivindicações de 
conhecimento que dominam o campo e que desempenham papel central no processo 
totalizante da metanarrativa tradicional sobre A Política Internacional, que une conheci-
mento e poder dentro do campo das Relações Internacionais.
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Assim, o que está em discussão é se o Estado soberano é verdadeiramente uma forma 
eficaz de representação político-social em um mundo multicultural, de diversidade étnica, 
intersubjetivo, habitado por diferentes minorias, povos indígenas, exilados, refugiados, 
migrantes, excluídos e assim por diante.
Esse mero questionamento seria simplesmente impossível de ser formulado por estu-
dos tradicionais. Os pós-modernos preocupam-se, portanto, em determinar como a sobe-
rania do Estado como sujeito foi forjada em uma identidade própria, e se esse conceito 
político está se tornando anacrônico ou mesmo disfuncional no mundo pós-moderno 
que habitamos.
Os pós-modernistas questionam todas as suposições que tradicionalmente sustentam 
as concepções do que é o próprio internacional.
Expondo o ethos sócio-histórico dessas próprias construções, baseadas em afirmações 
historicamente específicas e cada vez mais controversas sobre o que significa constituir, 
manter ou transpor fronteiras, sejam elas espaciais ou intelectuais.
Nesse sentido, a perspectiva pós-moderna das Relações Internacionais nos apresen-
ta duas distintas possibilidades sobre o conhecimento pós-moderno contemporâneo 
sobre o mundo: o próprio mundo mudou – e o Pós-modernismo expressa o entendi-
mento sobre seu status corrente ou a Teoria Pós-moderna revelou um estado de coisas
acerca do conhecimento sobre o mundo que, anteriormente, não era visível.
E a própria característica do pensamento pós-moderno nos obriga a conviver com 
esta ambiguidade.
Qualquer tentativa de chegar a uma conclusão sobre essa dualidade é provavelmente 
pouco mais do que um exercício retórico fútil. Caso contrário, a própria ideia pós- 
moderna de um nexo entre poder e conhecimento correria o risco de assumir ela mesma 
o papel de uma metanarrativa dominante, suprimindo todas as abordagens teóricas 
críticas ou alternativas.
Dessa forma, existem múltiplas perspectivas e Metodologias pelas quais as análises 
pós-modernas da Política Internacional buscam desnaturalizar ou desconstruir as abor-
dagens tradicionais da Política Internacional para, em seu lugar, construir narrativas a 
partir dos sujeitos marginalizados ou excluídos.
Nossa discussão sobre os principais expoentes contemporâneos nessa perspectiva 
do campo não pretende, portanto, ser exaustiva, mas meramente exemplificativa de 
suas práticas.
Assim, a seguir, discutiremos as obras e o pensamento de estudiosos pós-modernos 
com foco na desconstrução de conceitos basilares das Teorias Modernas como Estado, 
doméstico, internacional, anarquia e segurança.
O teórico da Política Internacional norte-americano Richard Ashley, cuja produção 
consolida-se na perspectiva pós-modernista no final dos anos 1980, é uma das primeiras 
e principais referências nesse campo.
Suas obras mais influentes são The Poverty of Neorealism (1984), Untying the 
Sovereign State (1988) e Living on Border Lines (1989).
Na primeira, Ashley cunha o termo que viria a definir toda uma corrente das Rela-
ções Internacionais a partir dali, o “Neorealismo”.
19
UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Utilizado por ele para definir o Realismo moderno de Kenneth Waltz, referido até 
então simplesmente por Realismo estruturalista, em alinhamento com os corolários estru-
turalistas da Ciência Positivista Moderna.
A crítica de Ashley procura demonstrar a pobreza da inovação teórica neorealista, 
enquanto apenas uma nova roupagem ou nova narrativa da velha metanarrativa do 
realismo político.
O Neorealismo, como Teoria Estado-cêntrica, não consegue problematizar a própria 
centralidade do Estado com premissa de construção teórica.
O Estado não é uma unidade de análise natural da Política Internacional, sequer neces-
sária. O Estado não existe antes das práticas de representação política que o definem. 
O Estado não tem existência ontológica primária na Política Internacional e, portanto, 
não é sinônimo de soberania, ordem ou poder político.
A própria anarquia pode, assim, ser sobreposta pelo Poder Político. O Estado não é 
unitário e suas frações internas competem pelo poder, dentro e fora do espaço territorial 
das fronteiras.
As próprias fronteiras não constituem identidades naturais e a ordem estatal é trans-
passada continuamente por identidades múltiplas.
Por sua vez, o cientista político britânico radicado no Canadá, Robert Walker, cuja 
obra central é Inside/Outside: International Relations as Political Theory (2011 
[1993]), procura explorar a dicotomia entre o dentro e o fora como fundadora e defini-
dora das Relações Internacionais e das Teorias da Política Internacional.
Outras dicotomias como aqui e lá, nós e eles, são construídas a partir desse binômio 
fundador que constrói as narrativas sobre as definições espaciais e fronteiras.
A narrativa sobre a soberania do Estado teria sido constituída, portanto, com base 
nessa dicotomia para resolver um problema ontológico de representação política a partir 
de uma ética de grupo ou excludente, ao contrário de uma ética universalista, que seria 
necessariamente desterritorializada.
Definir o dentro e o fora é optar pela exclusão.
Esse problema ontológico se expressaria em três dimensões: a relação entre tempo e 
espaço – que é resolvida pela delimitação de um determinado espaço geográfico (fronteira) 
no tempo, a relação entre o todo e o particular – que é resolvida individualizando o Estado 
soberano e universalizando o Sistema de Estados soberanos, e a relação entre o eu (nós) e 
o outro (outros) – que é resolvida separando os que estão dentro daqueles que estão fora.
Já o cientista político australiano David Campbell, do qual destacamos a obra 
Writing Security, United States Foreign Policy and the Politics of Identity (1998 
[1992]), rejeita a forma clássica pela qual as Teorias das Relações Internacionais cons-
troem o conceito de segurança e seus perigos.
As narrativas teóricas tradicionais partiriam da ideia de nação como precedente ao Esta-
do, isto é, posicionando o nacionalismo como base da legitimação da criação dos Estados.
Essa narrativa teria levado a se pensar o Estado como anterior à nação, transformando 
o nacionalismo em ferramenta da Ação Estatal para legitimar sua própria existência.
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No entanto, o conceito e a identidade do Estado não são fechados. E se a essência do 
Estado é sua identidade, ao passo que essa essência não é fixa e nem estável, é neces-
sário que o Estado reafirme sua identidade continuamente.
A identidade do Estado só pode, então, ser construída e mantida quando se constroem 
narrativas sobre ameaças às fronteiras nacionais.
Dessa forma, a narrativa do conflito e da guerra são inerentes à construção da 
identidade do Estado, e não opostos.
A narrativa constante do perigo na política externa não é, por conseguinte, uma 
ameaça para a existência do Estado, mas sim, a própria condição de possibilidade de 
sua existência e identidade.
O estudo da segurança a partir de uma perspectiva pós-moderna é também o eixo da 
produção do teórico norte-americano James Der Derian, do qual destacamos as obras 
The Boundaries of Knowledge and Power in International Relations (1989), 
Antidiplomacy: Spies, Terror, Speed, and War (1992) e War as a Game (2003).
A partir do conceito de hiper-realidade, segundo o qual as imagens formam e 
repre sentam a realidade social a partir da Mídia, a fronteira entre a guerra real e a 
guerra virtual, o jogo, seria transposta, não havendo diferença nas imagens consumidas 
pelo público na tela.
As próprias guerras modernas seriam planejadas em computadores e as batalhas 
simuladas em Ambiente Virtual com o uso de inteligência artificial, para testar estraté-
gias de combatente.
A Guerra do Iraque seria um exemplo de ambas as dimensões da guerra como um 
jogo. Primeiro, porque a preparação de soldados para as operações de batalha utilizou 
um jogo de computador chamado Internal look 2002.
A guerra real torna-se, assim, um simulacro da guerra virtual, em que o combate 
simulado se repete no combate real.
E, em segundo lugar, pois foi travada com intensa participação da imprensa e televi-
sionada ao vivo para o mundo todo.
O telespectador, da mesma forma que o jogador, acompanha e faz parte da emoção 
do combate como se fosse o protagonista com o objetivo de matar os inimigos virtuais.
A guerra passou a ser parte do entretenimento das massas, em um complexo deno-
minado rede militar-industrial-mídia-entretenimento, da mesma forma que, ao acom-
panhar uma partida de seu time favorito, ao telespectador é oferecida cobertura ao vivo, 
os melhores momentos, análises e comentários sobre os últimos lances.
A guerra contemporânea é, portanto, definida como infoguerra. O comando e o con-
trole do teatro de operações são exercidos por computadores, Tecnologias de Comunica-
ção e Informação, e inteligência.
Além disso, seu objetivo com o uso da violência não é apenas derrotar o inimigo, 
mas construir imagens, identidades e angariar o suporte da torcida (o apoio da popu-
lação doméstica).
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
A infoguerra é também o combate sem guerra, a batalha pelas narrativas, opiniões e 
crenças que formam as imagens sobre o mundo, as Redes de Informação e o Sistema de 
Comunicação que constituem a hiper-realidade. São conflitos pela posse e/ou controle 
da informação, dentro e fora das fronteiras domésticas, podendo se manifestar como 
guerras cibernéticas, guerras hacker, e assim por diante, até no limite, a violência e a 
guerra real controladas virtualmente pelos Meios Digitais.
O Pós-Colonialismo nas RIs
Enquanto o Pós-modernismo revela a relação oculta entre conhecimento e poder e 
procura dar voz soberana a regiões e sujeitos marginalizados nas narrativas da Política 
Inter nacional em um mundo pós-moderno,o pós-colonialismo vai além e associa direta-
mente o mundo moderno, técnico-científico positivista, ao mundo imperial e colonial.
Figura 4
Fonte: Freepik
O mundo moderno é caracterizado pela expansão do Capitalismo Mercantil e Industrial 
pelo Globo, capitaneado pelas metrópoles e impérios europeus.
A história que conhecemos sobre a própria formação da modernidade e das Relações 
Internacionais modernas é informada a partir dessas relações de poder. O pós-colonialismo 
busca, portanto, examinar a experiência própria das Relações Internacionais, tendo como 
sujeitos as Sociedades, os governos e os povos colonizados, objeto desse domínio consti-
tutivo da modernidade.
Dessa forma, o termo Pós-colonialismo não sugere que existe um mundo pós-
-moderno pós-colonial no qual nossas narrativas sobre a Política Internacional não se-
jam mais constituídas pelos efeitos do domínio colonial, mas precisamente destaca o 
impacto que as narrativas históricas coloniais e imperiais têm ainda hoje na formação 
de nossa maneira de pensar sobre o mundo.
Da mesma forma que o conhecimento ocidental, de matriz europeia, sobre o mundo 
reflete o poder colonial e marginaliza o mundo “não ocidental”, deslegitimando o co-
nhecimento do mundo e da política internacional vivenciado por africanos, asiáticos e 
latino-americanos, o Pós-colonialismo preocupa-se, portanto, não apenas com as dispa-
ridades de poder e seu impacto na acumulação de riqueza por alguns Estados e grupos, 
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que utilizam esses ativos para exercer poder sobre outros grupos, mas nas narrativas
construídas para justificar e legitimar este domínio, as quais negam legitimidade e a 
própria condição de sujeitos soberanos aos povos colonizados dominados.
Ao levantar essas questões, o Pós-colonialismo faz perguntas diferentes das de outras 
perspectivas teóricas das Relações Internacionais e permite não apenas leituras alterna-
tivas da própria história, mas também perspectivas alternativas sobre eventos e questões 
contemporâneas, desafiando o que nós acreditamos que sabemos sobre o mundo da 
política internacional.
O tema-chave para a perspectiva pós-colonialista, portanto, é a percepção que 
os teóricos ocidentais constroem do não-Ocidente, a qual é resultado do legado da 
colonização e do imperialismo europeu. Essas construções dos povos não ocidentais 
como outros ou diferentes do Ocidente, geralmente, fazem-se a partir de narrativas de 
hierarquia – fazendo-os parecer inferiores.
Essas narrativas, nosso conhecimento sobre as Relações Internacionais, portanto, 
ajudaram as potências europeias a justificar seu domínio sobre outros povos em nome 
de trazer a civilização ou o progresso.
Para entender melhor o Pós-colonialismo, devemos compreender que os discursos 
fazem certas relações de poder parecerem naturais ou mesmo inevitáveis.
O pós-colonialismo vê os temas e os objetos tradicionais das Relações Internacionais 
como discursos de poder constituintes da própria relação de poder subjacente.
Essa noção sobre as narrativas e os discursos permite que os estudos nessa pers-
pectiva utilizem um quadro de referência pós-moderno, enquanto, ao mesmo tempo, 
contestam o próprio conceito de modernidade (colonial) e de um mundo globalizado 
(pós-moderno) como Estados distintos das Relações Internacionais.
O mundo contemporâneo ainda é um mundo construído por narrativas coloniais.
Considere, por exemplo, a questão da desigualdade global. O Pós-colonialismo sugere 
que, para compreender melhor como essas assimetrias surgem e são mantidas, devemos 
desconstruir os próprios conceitos utilizados para explicá-las, os quais naturalizam essas 
relações e as fazem parecer normais.
Dessa forma, uma abordagem pós-colonialista do tema aponta para como a construção 
da imagem de quem são os pobres no mundo global é frequentemente acompanhada por 
imagens e narrativas de povos e Sociedades não ocidentais, caracterizados como sendo 
simultaneamente primitivos, exóticos, agressivos, infantis e assim por diante. Em outras 
palavras, o próprio discurso e as narrativas das Relações Internacionais justificam e 
legitimam esse Estado, de forma não muito diferente do que ocorre desde o início do 
processo de expansão do Capitalismo europeu sobre o mundo, a partir do século XV.
Assim, o Pós-colonialismo procura chamar atenção não apenas para a negligência 
das Teorias tradicionais das Relações Internacionais sobre a imbricação inescapável de 
poder e de conhecimento, que se expressa no funcionamento do poder no Sistema, mas, 
especificamente para como essas narrativas, produz imagens e discursos hierárquicos 
das Relações Internacionais.
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Essas narrativas hierárquicas ainda nos mantêm presos ao mundo colonial moderno, 
seus simulacros e binômios: metrópole – colônia, ricos – pobres, desenvolvidos – sub-
desenvolvidos, avançados – primitivos, e assim legitimam a concentração de poder e o 
domínio no Sistema Internacional.
Conceitos como poder, Estado e segurança servem, portanto, para compor narrativas 
que reproduzem o status quo do mundo colonial.
Dessa forma, nós só temos utilizado diferentes termos para descrever as mesmas 
relações, sem nunca chegar a contestar os próprios termos em que o debate se coloca 
a partir de uma perspectiva hierarquizada, o que não é apenas reflexo geral do binômio 
conhecimento-poder, mas de uma configuração específica e prevalente dele pelos últimos 
sete séculos.
A perspectiva Pós-colonialista, portanto, propõe uma visão mais complexa e crítica 
dessa relação.
O conceito basilar de soberania que dá vida ao Estado moderno, geralmente dado 
como certo, seria, na realidade, uma imposição hierárquica colonial das potências euro-
peias sobre outros povos com distintas visões de mundo e de organização social.
O Estado-nação, o Estado-territorial, o Estado-soberano modernos são criações euro-
peias impostas ao restante do mundo pelo poder.
O Estado moderno não representa avanço político ou civilizacional para a organização 
social dos povos colonizados.
O Estado e a soberania são um corpo estranho. Não é à toa, portanto, que essas 
vestes, às vezes, pareçam-lhes grandes ou pequenas demais.
A própria organização do Sistema Internacional contemporâneo, como um Sistema 
interestatal é, em si mesma, tanto do ponto de vista teórico do conhecimento que profes-
samos ter sobre o Estado e o Sistema Internacional quanto das relações de poder nesse 
fruto de uma construção hierárquica que perpetua as relações coloniais de poder.
Da mesma forma, embora tratem da centralidade do Imperialismo e do Colonialismo 
para expor as relações hierárquicas da Política Internacional contemporânea, os estudos 
pós-coloniais nas Relações Internacionais não podem ser entendidos dentro de uma 
perspectiva marxista ou pós-marxista de que a luta de classes está na raiz dos padrões 
de exploração internacional.
Para isto, seria necessário conceber a existência de uma realidade objetiva em que a 
infraestrutura material (as relações econômicas) determina a superestrutura (o Estado e 
a política doméstica e internacional).
Para os pós-colonialistas, são as imagens, as narrativas e os discursos que constroem 
o mundo e a nossa ação no mundo em todas as suas dimensões (Política, Econômica, 
Cultural, Moral etc.).
Não são as classes sociais que definem o padrão de dominação ou de exploração na 
política internacional, mas sim as narrativas sobre raça que moldaram a história humana 
durante ao menos quase todo o último milênio.
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Essas narrativas opõem hierarquicamente europeus a não europeus, ocidentais a não 
ocidentais, brancos a não brancos.
Todos os demais binômios que constroem as hierarquias dos Sistemas Internacionais 
moderno e contemporâneo tem, fundamentalmente, essas narrativas originárias sobre 
hierarquia de raça como seus elementos constitutivos, quer de forma explícita quer de 
forma velada.
Dessa maneira, enquanto as principais Teorias das Relações Internacionais conce-
bem o SistemaInternacional a partir do conceito de anarquia, a perspectiva pós-colonial 
enxerga esse sistema na verdade como eminentemente hierárquico.
O Colonialismo e o Imperialismo promoveram um longo processo de dominação 
contínua do Ocidente sobre o resto do mundo, estabelecendo uma hierarquia no Sistema 
Internacional entre ocidentais e não ocidentais.
Essa dominação se expressa nas mais diversas dimensões que compõem nossas nar-
rativas sobre as Relações Internacionais modernas e contemporâneas como a Cultura, 
a Economia e a Política.
Assim, o Pós-colonialismo também demonstra como as narrativas ocidentais sobre a 
real ou potencial ascensão de povos não-ocidentais, que abala essa hierarquia do Sistema 
Internacional, é sempre expressa em termos de segurança e ameaça ao Ocidente, cuja 
imagem é construída como signo universal da civilização.
É a partir desse prisma que fenômenos como a ascensão do Islã político em todo 
o mundo muçulmano, marcada pela Revolução Islâmica do Irã, em 1979, passa a ser 
interpretada pelos teóricos ocidentais como o prenúncio de um “choque de civilizações” 
e mesmo uma ameaça direta à civilização ocidental (HUNTINGTON, 1993).
Estudos ocidentais tidos como de natureza culturalista se encarregariam de construir 
narrativas contemporâneas sobre o Oriente em uma abordagem que viria a ser denomi-
nada pelo pós-colonialismo de “orientalismo”.
O teórico palestino Edward Said (1935-2003), um dos principais fundadores desse 
campo de estudo, demonstrou em sua obra Orientalismo [Orientalism]” (2007 [1978]), 
como a Mídia Ocidental, o Cinema, a Academia e as Elites Políticas usam uma lente ou 
estrutura distorcida para descrever a história e a cultura dos povos árabes e do Islã.
Ele cunhou o termo orientalismo para descrever essas narrativas, pois elas constro-
em uma imagem particular do chamado Oriente, que é distinta da do Ocidente e que, 
dentro de uma forma binária de pensamento, atribui ao Oriente e a seus povos aque-
las características que são essencialmente consideradas o oposto do Ocidente.
Assim, os povos do Oriente poderiam, então, ser caracterizados como exóticos, 
emocio nais, femininos, atrasados, hedonistas, irracionais, e assim por diante, em contraste 
com os atributos positivos associados ao Ocidente, como racionalidade, masculinidade, 
civilização e modernidade.
O desvelamento, por Said, dessas narrativas que procuram manter um véu sobre 
nosso entendimento dessa relação hierárquica entre Ocidente e sua representação do 
Oriente teria profundas influências sobre os teóricos e estudiosos do campo.
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UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Na própria fundação do campo dos estudos pós-coloniais, devemos também destacar 
as contribuições do psiquiatra e filósofo político da Martinica, ainda hoje uma colônia fran-
cesa no Caribe, Frantz Fanon (1925-1961), do qual indicamos as obras Peles negras, 
Máscaras brancas (Peau noire, masques blancs) (2008 [1952]) e Os Condenados 
da Terra (Les Damnés de la Terre)” (2006 [1961]), sendo a última uma obra póstuma.
A ideia do poder da alteridade ocupa espaço central no pensamento de Fanon, 
segundo o qual a construção das narrativas das diferenças com base na raça molda a 
maneira como o colonizador se relaciona com o colonizado, e também vice-versa, o que 
promove uma naturalização dessa relação hierárquica não apenas para o opressor, mas 
também para o oprimido.
O poder da alteridade constrói imagens entre aqueles que são objeto do domínio 
colonial, nas quais eles internalizam essas ideias de hierarquia e inclusive passam a se 
identificar com elas, naturalizando as ideias de diferença racial e sua própria condição de 
“outros” e, portanto, inferiores aos europeus brancos colonizadores.
De acordo com Fanon, os povos colonizados seriam levados a internalizar e a naturalizar 
sua própria inferioridade em relação aos colonizadores brancos por meio do exercício de 
uma dominação psicológica, que seria parte indissociável do processo de dominação.
Portanto, a colonização implica destruir as referências e o próprio modo de pensar 
dos povos colonizados, impondo a esses povos a Língua, a Cultura, a Religião, o Sistema 
de Educação e a própria visão de mundo do colonizador.
Essa naturalização teria tornado mais fácil para os colonizadores justificarem e man-
terem seu domínio, inclusive com a participação dos povos colonizados nesses mecanis-
mos de controle.
O Pós-colonialismo, portanto, aponta que essa estrutura hierarquizada que constitui 
o Sistema Internacional, construída a partir do poder da alteridade e destacando pre-
tensas diferenças que relegam os “outros” a uma condição de subordinação ou inferior, 
continua a operar mesmo após o fim do domínio colonial formal.
O Pós-colonialismo interroga uma ordem internacional dominada pelos brancos euro-
peus e seus descendentes, o mundo ocidental, seus interesses e suas formas de ver o 
mundo, colocando em xeque narrativas tradicionais estabelecidas sobre a maneira como 
os Estados agem e o que os motiva.
Em última instância, o Pós-colonialismo dá um xeque-mate na própria noção sócio-
-histórica de que, de alguma forma, já teríamos deixado para trás o mundo moderno 
(técnico-científico, industrial, positivista, imperialista e colonial).
Isso nos obriga a fazer perguntas difíceis sobre como e por que uma ordem interna-
cional hierárquica emergiu, expandiu e continua a se perpetuar durante tanto tempo.
Da mesma forma, desafia as principais suposições e os principais conceitos sobre as 
Relações Internacionais, em especial sobre o poder, o que ele é e como ele realmente opera.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
A crítica Pós-moderna/Pós-estruturalista nas Relações Internacionais
Na presente obra, pode ser encontrada uma discussão tanto competente quanto didática do 
Pós-estruturalismo e do Pós-modernismo na Teoria das Relações Internacionais, seus temas 
principais e autores expoentes.
RESENDE, E. S. A. A crítica Pós-moderna/Pós-estruturalista nas Relações Interna-
cionais. Boa Vista: UFRR, 2010.
Inside/Outside International Relations as Political Theory
A presente obra é leitura fundamental para compreender o “dentro” e o “fora” nas Relações 
Internacionais em uma perspectiva pós-moderna.
WALKER, R. B. J. Inside/Outside International Relations as Political Theory. Cambridge 
University Press, 2011. (e-book)
Orientalismo – O Oriente como Invenção do Ocidente
A obra de Said coloca a raça como variável fundamental das Relações Internacionais ao 
expor a construção das narrativas e imagens que o Ocidente faz dos povos não ocidentais.
SAID, E. Orientalismo – O Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia 
das Letras, 2007.
 Filmes
1984
Apresenta uma Sociedade totalitária na qual não apenas o futuro, mas o presente e mesmo 
o passado são incertos. O controle da informação, as Tecnologias de controle, a guerra vir-
tual indissociável da guerra real e a dimensão psicológica da trama nos remetem ao mundo 
pós-moderno da realidade fluida.
https://youtu.be/T8BA7adK6XA
Blade Runner
É apresentada uma distopia pós-moderna na qual a Tecnologia levou o mundo a um futuro 
apocalíptico e sombrio em que a própria experiência do que significa ser humano é desa-
fiada por seres orgânicos de inteligência artificial, os replicantes, que rompem, alguns sem 
saber, a fronteira entre o humano e as máquinas;
https://youtu.be/eogpIG53Cis
Der Leone Have Sept Cabeças
Filme de um dos mais aclamados diretores brasileiros do chamado Cinema Novo, trata-se 
de um filme gravado durante o exílio da ditadura militar brasileira e filmado no então Con-
go-Brazzaville, após sua independência da França. O filme conta uma história alegórica, a 
partir de uma reencenação da famosa obra de Camões Os Lusíadas, sobre a dominação e 
a exploração da África e a luta pela libertação. Trata-se de uma história do colonialismo na 
África, do ponto de vista do terceiro mundo;
https://youtu.be/XeAwMIPSJls
27UNIDADE Perspectivas Pós-Modernistas das RIs
Currais
Nesta obra, explora-se a reconstrução de uma das narrativas suprimidas pelo binômio 
conhecimento-poder, que opera a partir da estrutura hieraquizada de raça sobre o mundo. 
A obra é um bom exemplo de como o pensamento colonial permeia as nossas relações 
sociais em todos os níveis, mesmo após o fim formal do domínio colonial, opondo uma elite 
urbana branca, rica e “avançada” a uma massa camponesa mulata, cafusa, rural, pobre e 
“atrasada”, o que leva à construção de campos de concentração de trabalho semi-escravo, 
denominados currais, para conter essa massa popular longe dos centros urbanos no Ceará, 
na década de 1930. Eses chegam a abrigar uma população móvel, com alta taxa de morta-
lidade e influxo de novos indivíduos, de cerca de 100 mil pessoas à época. É apenas mais 
um exemplo das narrativas apagadas e suprimidas sobre o Brasil “real” que não aprende-
mos na Escola, em que dominam as narrativas construídas pelo conhecimento-poder.
https://youtu.be/7ggT3iX-XQs
 Leitura
O Clima da História: Quatro Teses
Esta tradução do influente Artigo de Chakrabarty apresenta, a partir de quatro teses, uma 
discussão sobre as implicações da própria noção de antropoceno para a História humana.
https://bit.ly/3zRxw1v
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Referências
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DERIAN , J.; SHAPIRO, M. J. (ed.). International/intertextual relations: Postmodern 
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