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TEORIA CONTEMPORANEA DAS RELACOES INTERNACIONAIS

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1. DEBATES TEÓRICOS NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 
O primeiro departamento de Relações Internacionais foi criado em 1919, então, é compreensível que o primeiro 
grande debate teórico tenha sido marcado pela tônica entre realismo e liberalismo. 
O segundo grande debate teórico das relações internacionais – conhecido como tradicionalismo versus 
behaviorismo – esteve menos centrado nas temáticas analisadas e mais preocupado com os métodos científicos das 
pesquisas. 
O terceiro grande debate teórico, comumente intitulado debate neo-neo, contrapunha o neorrealismo e o 
neoliberalismo a partir das novas dinâmicas observadas e da necessidade de “atualizar” as bases clássicas. 
1.1. Debate neorrealismo versus neoliberalismo (1960 e 1970) 
O neorrealismo pode ser compreendido como uma reinterpretação da teoria realista. Enquanto o realismo 
compreende que a natureza humana está no centro da explicação para a guerra, o neorrealismo considera que as 
ações dos Estados são influenciadas pela estrutura anárquica do sistema internacional, que os limita e constrange. 
A ação dos Estados seria reflexo das circunstâncias nas quais eles estão inseridos. 
Já o objetivo geral do neoliberalismo era abandonar o idealismo da teoria liberal e desenvolver uma análise sobre a 
cooperação interestatal baseada na realidade e racionalidade. Para isso, os ‘’neoliberais’’ atestam o Estado como 
principal ator, no entanto com um conjunto de fenômenos complexos. A nova configuração das relações 
internacionais/mundo foi analisada e, denominaram a teoria da interdependência complexa, ou seja, a existência de 
uma relação de dependência mútua, porém assimétrica. Entre as características centrais da interdependência 
complexa, é possível citar: 
• existência de diversos canais de comunicação e negociação; 
• agenda ampla de questões; 
• uso cada vez menor da força como mecanismo de resolução dos problemas. 
A partir da afirmação sobre a possibilidade de relações conflituosas, a teoria neoliberal visa analisar os mecanismos 
de resolução desses conflitos e de promoção da cooperação: as instituições internacionais. 
É nesse cenário que se encontra o intitulado debate neo-neo, contrapondo duas teorias. 
Entre as críticas que o neorrealismo recebe, é possível destacar: 
• priorizar os Estados como principais atores do sistema internacional, o que marginalizaria os demais atores que 
também influenciam a política internacional; 
• priorizar a questão militar, desconsiderando em certa medida os âmbitos econômicos e sociais; 
• não considerar que os esforços de guerra teriam se tornado mais custosos com o aumento da globalização, não 
apenas do ponto de vista financeiro, mas também no que se refere ao capital político; 
• compreender-se como uma teoria sistêmica e completa das relações internacionais, de certa forma promovendo a 
reprodução do status quo. 
No que se refere às críticas que o neoliberalismo recebe, é possível destacar: 
• não considerar que as organizações e instituições internacionais seriam dependentes dos interesses dos Estados 
poderosos; 
• não considerar que, em um sistema anárquico, os Estados estariam mais preocupados com ganhos relativos do que 
com ganhos absolutos; 
• não considerar que as dificuldades nas negociações e barganhas entre os Estados poderiam criar empecilhos para o 
alcance de ganhos mútuos. 
1.2. Debate positivismo versus pós-positivismo (1980) 
Enquanto os positivistas julgavam de modo objetivo os comportamentos dos atores, os pós-positivistas 
“desconfiavam dos modelos científicos e criticavam a formulação de verdades objetivas sobre o mundo social”. 
Defendiam a interpretação histórica e textual, uma vez que as relações internacionais seriam construídas a partir das 
dinâmicas sociais. 
Observação: Ontologia - refere-se ao objeto que se está analisando. Epistemologia - refere-se à forma como o 
conhecimento é construído. Metodologia - refere-se aos métodos e técnicas de investigação. 
O positivismo pode ser exemplificado como criar uma teoria da política internacional igualmente suscetível de 
explicar as relações entre Estados, iluminar os dilemas éticos da ação diplomática, além de avaliar e prever as políticas 
externas das diferentes nações: 
• Existe apenas um único método científico, aplicável ao mesmo tempo às ciências naturais e às ciências sociais. 
• É possível distinguir entre os fatos e os valores, e as teorias são neutras em relação aos fatos que elas estudam. 
• Existem regularidades no mundo social passíveis de serem descobertas pelas teorias das ciências sociais. 
• É possível determinar a validade das explicações teóricas graças a sua confrontação aos fatos empíricos 
Enquanto os positivistas julgam ser possível explicar determinado objeto, os pós-positivistas trabalham com a noção 
de compreender esse objeto. 
‘’Teorias’’ pós-positivistas vão criticar as abordagens mais clássicas e, se entendem como um ponto de vista. 
1.2.1. Pós-positivismo nas relações internacionais 
É importante ressaltar a etapa do pós-positivismo, que foi no fim da Guerra Fria, onde marcou um momento de grande 
mudança nos estudos das relações internacionais. 
Criticam a utilização positivista de um método único de análise para temas tão complexos. 
Pensando nisso, alguns autores passam inclusive a questionar: por que não existe uma teoria internacional que não 
seja ocidental? 
Lembrete: Teorias positivistas buscam observar a realidade de modo objetivo e imparcial a partir de métodos 
científicos empírico-racionais. Teorias pós-positivistas argumentam a subjetividade das representações teóricas, uma 
vez que a realidade seria uma construção social; uma visão crítica sobre as noções de linearidade histórica, 
universalismo, padronização e neutralidade. 
2. TEORIA CRÍTICA 
As relações internacionais como área de estudo científico surgiram muito recentemente se comparadas com outras, 
como medicina. Com isso, a teoria crítica nas ciências sociais representou uma variação do pensamento marxista do 
início dos anos 1920. 
A teoria crítica nas ciências sociais apontava algumas limitações do marxismo mais ortodoxo, principalmente a 
noção de que a história seria determinada apenas pela lógica da luta de classes e pelas relações sociais de produção. 
Observação: Ideologia é o sistema de representações e ideias que correspondem à consciência que leva os indivíduos 
à ação e justifica sua forma de viver. Alienação é o processo em que os indivíduos deixam de perceber as estruturas 
sociais como resultado da ação humana, e passam a entendê-las como um dado da natureza que dificilmente pode ser 
transformado. 
O objeto de estudo nas ciências sociais, em última instância, é a vida em sociedade. E se o analista é um indivíduo 
que vive em sociedade, logo, não poderia haver imparcialidade. 
2.1. Robert Cox e a teoria crítica das relações internacionais 
O crescimento da influência da Teoria Crítica reflete a insatisfação dos estudiosos com as teorias dominantes diante 
de suas evidentes limitações na compreensão e análise das mudanças em curso na política internacional. 
O principal autor a realizar esse movimento de utilizar as bases da teoria crítica das ciências sociais para o campo das 
relações internacionais foi Robert Cox (1926-2018). 
Ao questionar a percepção realista do Estado como um ator unitário, Cox prefere trabalhar com a relação entre Estado 
e sociedade civil, destacando as mudanças nessa relação de acordo com os diferentes contextos históricos. 
O curso de Relações Internacionais durante muito tempo se resumiu ao estudo das inter-relações entre Estados, 
ignorando, ou ao menos marginalizando sobremaneira, os demais atores e dinâmicas. Atualmente, ambas as esferas 
estão profundamente interconectadas e os conceitos distintos de Estado e sociedade civil se tornaram quase 
puramente analíticos. 
Para Cox, existiriam dois tipos de teorias: 
 
Ao contrário das teorias de solução de problemas,a teoria crítica não aceita apenas as instituições sociais e as relações 
de poder, mas questiona suas origens, como e se elas podem atuar no processo de mudança dessa ordem. A teoria 
crítica seria a teoria da história, pois se preocupa não apenas com o passado, mas também com o processo contínuo 
de mudança histórica. 
Cox afirma que a teoria crítica abarca algumas premissas básicas: 
• Ter consciência de que a ação nunca é inteiramente livre, mas está inserida em uma estrutura. Isso significa que para 
compreender a ação humana é preciso analisar o histórico da experiência humana, que dá à necessidade de uma 
teoria. 
• Toda observação deve considerar a conjuntura que constitui o problema. Ou seja, deve ser consciente de que a tarefa 
de teorizar nunca pode ser concluída em um sistema fechado, devendo ser continuamente reiniciada. 
• Toda análise deve considerar que o contexto da ação se altera, sendo o objetivo teoria a compreensão dessas 
mudanças. 
• A conjuntura é formada por uma estrutura histórica, composta pela combinação particular de padrões de 
pensamento, condições materiais e instituições humanas que possuem certa coerência. Apesar de essas estruturas 
não determinarem a ação humana, elas constituem o contexto de hábitos etc. 
• Essa estrutura na qual a ação ocorre não deve ser analisada de cima, buscando seu equilíbrio ou reprodução, pois 
isso levaria novamente às teorias de resolução de problemas apenas analisando os elementos para equilíbrio ou 
reprodução da estrutura. Ela deve ser vista de baixo ou de fora, abrindo espaço para a possibilidade de transformação. 
2.2. Principais pressupostos da teoria crítica das relações internacionais 
2.2.1. Relação entre sujeito cognitivo e seu objeto de estudo 
A teoria crítica tensiona a ideia de isenção e imparcialidade do cientista, tendo em vista que ele faz parte do seu próprio 
objeto de estudo. Ainda assim, esse analista não poderia ser imparcial, pois seu objeto de estudo diz respeito às 
dinâmicas sociais e ele próprio vive em sociedade, ainda que com costumes distintos entre muitas outras coisas. 
2.2.2 Relação entre conhecimento e valores 
A teoria crítica aponta que a ciência produzida também está permeada por valores individuais e coletivos. Apesar de 
sua pretensa neutralidade, a busca por uma racionalidade técnica acabaria produzindo dominação e alienação. 
Por esse motivo toda análise teórica deve levar em consideração três fatores fundamentais: • Localização 
espaçotemporal: em que local geográfico e em que período histórico essa teoria está sendo desenvolvida? • 
Problemática: entre os múltiplos aspectos que compõem determinada temática, qual é o recorte escolhido? • 
Propósito: a teoria busca manter ou alterar o status quo? 
Cox não descarta a relevância das teorias de solução de problemas. Apenas afirma que, apesar de essas teorias 
contribuírem para a compreensão de como os sistemas relativamente estáveis funcionam, elas não dão conta do 
dinamismo e das mudanças na política internacional. 
2.2.3 Mutabilidade da realidade social 
Enquanto boa parte das teorias tradicionais compreendiam a realidade como algo dado e imutável, a teoria crítica 
procura identificar as possibilidades de mudança na realidade observada, levando em consideração o processo 
histórico de construção dessa realidade. 
2.2.4 Ampliação do conceito de hegemonia 
Segundo Gramsci, existiriam três níveis de consciência: 
 
Cox destaca a existência de uma relação vertical, em que os Estados mais ricos e poderosos influenciariam os mais 
pobres. Para isso, o autor resgata o debate de Gramsci sobre hegemonia e o transborda para a política internacional, 
promovendo uma ampliação do conceito. 
A noção de hegemonia para Gramsci está próxima do que entendemos atualmente como dependência. Passam a 
compreender a ordem mundial como uma estrutura histórica composta por três categorias: 
• Capacidades materiais: inclui os recursos físicos, além das capacidades produtivas, tecnológicas e até mesmo a 
organização burocrática do Estado. 
• Ideias: inclui tanto a comunicação intersubjetiva quanto as ideologias, afetando a conservação de hábitos. 
• Instituições: cristalização dos arranjos jurídico-políticos que influenciam diretamente a ação dos atores. 
Cox chega a destacar a importância das instituições internacionais para a estabilização e perpetuação de ordenamentos 
mundiais, uma vez que seriam um dos mecanismos pelos quais as normas universais de uma hegemonia mundial se 
expressam. Essas instituições: • Corporificam as regras que facilitam a expansão das ordens mundiais hegemônicas. • 
São elas próprias produtos da ordem mundial hegemônica. • Legitimam ideologicamente as normas da ordem mundial. 
• Cooptam as elites dos países periféricos. • Absorvem ideias contra-hegemônicas. 
3 CONSTRUTIVISMO 
Fortemente inspirado pelo debate presente nas ciências sociais. Entretanto, o construtivismo centra sua análise em 
algo que é trabalhado de modo mais tangencial na teoria crítica: o papel das ideias no processo social de construção 
da realidade. 
Ele surge no final da década de 1980, tendo em vista que, a partir do processo de descolonização à época, começa a 
florescer de modo mais robusto o desconforto sobre a sociedade internacional ter sido moldada pelas e para as 
potências ocidentais. 
O termo “construtivismo” foi introduzido por Nicholas Onuf, na obra World of our making, publicada em 1989, tanto 
no sentido de uma construção social dos significados quanto no sentido da construção social da realidade. 
Em outras palavras, afirmar que uma estrutura “constrange” os atores implica dizer que apenas ela possui efeitos sobre 
o comportamento deles, desconsiderando os efeitos que essa estrutura possui sobre as propriedades dos atores, bem 
como os efeitos desses atores sobre a própria estrutura. Dessa forma, o construtivismo possui três componentes da 
estrutural social: • condições materiais; • interesses; • ideias. 
Dessa forma, é interessante destacar o movimento dialético presente na teoria construtivista, compreendendo a 
racionalidade sempre de modo relativo aos interesses dos agentes, bem como a característica intersubjetiva das 
relações de poder. Longe de desmerecer as condições materiais, a perspectiva construtivista aponta que só elas não 
explicam a realidade. É necessário também levar em consideração as subjetividades e as formas como elas geram 
interesses. 
• A realidade não é predeterminada, mas sim socialmente construída. 
• As estruturas são definidas por ideias compartilhadas e não apenas por forças materiais. 
• Existe uma constituição mútua dos agentes e das estruturas, processo nomeado de coconstituição. 
• As identidades desempenham um importante papel na constituição dos interesses e das ações dos agentes. 
• Identidades e interesses são construídos por um processo de interação e socialização, ou seja, processo de 
aprendizado que molda seu comportamento com as expectativas da sociedade. 
3.1 Construção social da realidade 
Considerar apenas as condições materiais seria uma visão parcial e limitada da realidade, tendo em vista que elas não 
existem sem as ideias e interesses dos agentes que as criam. 
Alexander Wendt é um dos principais autores do debate construtivista nas relações internacionais. 
A política mundial seria menos determinada por uma estrutura objetiva de relações de forças materiais, e mais 
influenciada por forças cognitivas como as ideias, crenças, valores, normas e instituições compartilhadas 
intersubjetivamente pelos atores. 
Wendt sintetiza esse argumento afirmando que quinhentas armas nucleares britânicas são menos ameaçadoras aos 
Estados Unidos do que cinco armas nucleares norte-coreanas, porque os britânicos são amigos, os norte-coreanos não. 
Resgatando o próprio título do artigo de Wendt – “A anarquia é o que os Estados fazem dela”, publicado em 1992. 
Desse modo, o construtivista apresenta o conceito de coconstituição.Ou seja, a existência de um efeito reflexivo-
circular, em que, da mesma forma que a estrutura molda os atores, os atores também moldam e afetam a estrutura. 
3.2 Identidades, interesses e cultura 
As identidades precedem os interesses e se formam em processos relacionais. Assim como a realidade, os interesses 
não são autoevidentes; eles são produto de interpretação, de subjetividade. 
Quando agentes interagem entre si, eles precisam definir a situação antes de escolher um curso de ação. Essas 
definições são baseadas em dois aspectos (WENDT): • suas próprias identidades e interesses, que vão refletir crenças 
sobre quem eles são em certas circunstâncias; • a forma como eles imaginam que os outros vão agir, o que vai refletir 
as crenças sobre as identidades e interesses desses outros agentes. 
Para melhor compreender o conceito de identidade, vale a divisão proposta por Wendt: 
• Identidade de corpo: remete aos elementos específicos do Estado, como entidade social, que permite diferenciá-lo 
das outras estruturas sociais – empresa, grupo, família, tribo. Refere-se ao ator organizacional que governa. 
• Identidade de tipo: remete aos elementos relativos ao regime político do Estado, seu sistema econômico etc. Trata-
se de elementos de natureza parcialmente social, em relação a outros Estados. 
• Identidade de papel: concerne às propriedades que caracterizam as relações de um Estado com os outros Estados, 
que o percebem como uma potência hegemônica ou como um Estado satélite, por exemplo. 
• Identidade coletiva: diz respeito à identificação que existe entre dois ou vários Estados, considerando esse outro 
como parte de si mesmo, e passando a agir de modo não mais egoísta. 
Com o objetivo de compreender a forma como o conhecimento compartilhado influência nas RI, Wendt define três 
tipos de culturas possíveis entre os agentes: inimizade (hobbesiana); rivalidade (lockiana) e amizade (kantiana). 
• Inimizade: situação em que se percebe um outro ator como alguém que não reconhece nosso direito de existência 
autônoma e como alguém que não limita voluntariamente sua violência contra nós. Essa percepção do outro como 
inimigo poderia ter as seguintes implicações: nos levar a tentar destruí-lo ou escravizá-lo; orientar nossas ações pelo 
pior cenário; reforçar nossas capacidades militares relativas; e/ou não limitar nosso uso da violência. Lembrando que 
essa percepção do outro como o inimigo pode ser real ou apenas uma quimera, ilusória. 
• Rivalidade: também é uma situação em que se percebe um outro ator como alguém que pode ser violento, mas de 
uma maneira menos ameaçadora que um inimigo. Rivais esperam que o outro reconheça nossa soberania como um 
direito, de modo a não tentar nos conquistar ou dominar, mas sim alterar determinada dinâmica ou situação. Essa 
poderia ter as seguintes implicações: respeito à soberania, independentemente de o conflito estar em curso ou não; 
ganhos absolutos podem se sobrepor a perdas relativas; as ameaças não são existenciais; e/ou o uso da violência será 
de certo modo limitado. 
• Amizade: diferentemente das anteriores, é uma situação em que os atores assumem que os demais respeitarão duas 
regras: as disputas serão estabelecidas sem o recurso da guerra ou da ameaça de guerra; e as ações serão baseadas 
pelo princípio da ajuda mútua, ou seja, caso um deles seja ameaçado, os demais se unirão para a garantia da segurança. 
Ainda, vale ressaltar que esse conhecimento compartilhado que representa a cultura, segundo os teóricos 
construtivistas, poderia ser internalizado de três formas: 
 
3.2.1 O papel da linguagem 
A realidade intersubjetiva, existe e persiste graças à comunicação social. Se o pensamento depende das relações 
sociais, então os significados só existem na prática com o uso da linguagem nas comunidades. 
Alguns autores chegam a utilizar o conceito de comunidades imaginadas para afirmar que as nações não são apenas 
compostas pela existência física dos indivíduos, mas também por símbolos, práticas, instituições e discursos. Nesse 
aspecto, é possível resgatar as sistematizações de Karl Popper (1982) sobre a existência de três mundos. 
O mundo 1 corresponderia aos corpos, campos de forças físicas e organismos. O mundo 2 corresponderia ao mundo 
subjetivo das experiências conscientes, de nossos pensamentos objetivos e planos de ação. Já o mundo 3 seria o 
mundo da cultura, composto pelos idiomas, histórias, mitos, teorias explicativas, arquitetura e música. 
3.3 Socialização 
Como termo científico surgiu há mais de cem anos, tornando-se central na sociologia a partir do trabalho de Émile 
Durkheim. 
Os fatos institucionais surgem de modo coletivo a partir de “processos de socialização que envolvem a difusão de 
significados de país a país”. Nesse sentido, é importante também compreender os mecanismos de socialização, ou seja, 
os “processos intermediadores pelos quais as instituições internacionais podem levar os atores a aceitar normas, regras 
e modos de comportamento de uma dada comunidade”. 
Nesse sentido, é interessante destacar o papel das instituições internacionais como variável independente, as quais 
operam como gatilhos dos mecanismos de socialização. Existiriam, portanto, dois tipos de gatilhos. O primeiro abarca 
a noção de instituições internacionais como ambientes sociais, em que o simples fato de ser membro já evoca a 
socialização dos atores. Já o segundo enfoca as diferentes atividades das instituições internacionais em relação aos 
Estados que ainda não são membros, mas podem vir a querer ser. 
Segundo Hurrell, a socialização pode ocorrer de três formas: • pela coerção; • pela imposição hegemônica; • pelo 
envolvimento progressivo. 
É possível subdividir a teoria construtivista das relações internacionais em algumas vertentes, as quais, apesar de 
compartilharem premissas comuns, diferem em alguns aspectos. 
 
4 PÓS-MODERNISMO E PÓS-ESTRUTURALISMO 
A modernidade está baseada em princípios como: • linearidade histórica; • padronização; • universalismo; • 
cientificismo; • neutralidade; • eficiência; • produtividade; • etapismo. 
Em específico, alguns autores apontam que a ocorrência do Holocausto gerou uma fissura nesses pilares da 
modernidade, por ter sido um evento que ocorreu justamente na Europa, considerada o centro avançado do mundo, 
e também pelo fato de a ciência ter sido utilizada para promover segregação. Essa conjuntura, portanto, gerou 
ceticismo e fomentou a busca por modelos alternativos. 
4.1 A crítica pós-moderna 
Para os teóricos pós-modernos, a modernidade falhou ao fragmentar e compartimentar de modo restritivo toda a 
pluralidade que compõe o mundo, restringindo esses conhecimentos a “especialistas de competência estreita”. Lyotard 
chega a definir a pós-modernidade como a incredulidade nas metanarrativas. 
A crítica pós-moderna se refere à multiplicidade de realidades sociais coexistentes e a toda uma crítica aos conceitos 
de verdade, realidade, destino e consenso social. 
4.1.1 Pós-modernismo nas artes e na comunicação 
De modo que, a partir do questionamento sobre tentativas modernas de suspender a experimentação artística, 
questionasse também essa pretensa ordem unificada e excludente. 
Ao argumentar que a identidade moderna é algo extremamente vulnerável – baseada na superficialidade do consumo 
como aspecto essencial para garantir a própria existência do ser –, Baudrillard destaca como esse processo é esvaziado 
e efêmero. É o que o autor chama de hiper-realidade, ou seja, a criação de uma perfeição idealizada que geraria 
simulacros em vez de representar a realidade. 
Para o autor, a comunicação social se transformou em um nicho mercadológico em que tudo é material a ser 
consumido, alimentando o fascínio e criando um círculo vicioso em que ocorre um esvaziamento da vida para 
aumentar o controle social. 
Ao afirmar que a modernidade é caracterizada por cada vez mais informação e cada vez menos sentido, o autoraponta três hipóteses: a informação produz sentido, mas não consegue compensar a perda brutal de significado em 
todos os domínios; a informação não possui relação com o significado; ou então existe correlação rigorosa e necessária 
entre os dois, na medida em que a informação é diretamente destruidora ou neutralizadora do sentido e do significado. 
Em síntese, a crítica pós-moderna apresenta a contradição interna do capitalismo pós-industrial, em que os indivíduos 
foram transformados em produtos e a espetacularização é capaz de tornar tudo mercantilizável. 
4.1.2 Pós-modernismo nas ciências sociais 
O historiador brasileiro Nicolau Sevcenko afirma que o pós-moderno, antes de tudo, supõe uma reflexão sobre o 
tempo, discordando que ele seria homogêneo e linear. 
Em contraste à noção utópica moderna de igualdade perfeita produzida pela razão, o pós-modernismo se proporia 
a virar seu rosto para o passado e encarar as lacunas e os erros ocasionados. Uma espécie de “anamnésia”, ou seja, 
um processo de revisão dos traumas da modernidade, que haviam sido esquecidos ou abstraídos pelos pressupostos 
modernos. 
Ou seja, é importante destacar que essa crítica não significa um desprezo absoluto, mas sim um olhar que se pretende 
mais humilde e consciente sobre as limitações das análises filosóficas e sociológicas sobre a realidade, com múltiplas 
possibilidades de interpretações e não mais condensado em um regramento único. 
4.1.3 Regimes de verdade 
Regimes de verdade dizem respeito aos discursos que, em meio a diversas narrativas, são escolhidos e reproduzidos 
como os únicos verdadeiros. O conceito foi trabalhado por Michel Foucault. 
O que a modernidade entendia como “a Verdade” – com V maiúsculo – se tratava de um conjunto de procedimentos 
regulados para a produção, repartição, circulação e funcionamento dos enunciados. Ou seja, a definição do que seria 
verdade ou não estaria diretamente ligada a sistemas de poder, que a produzem e apoiam, e também ligada a efeitos 
de poder que ela induz e que a reproduzem. 
Foucault foi amplamente influenciado pelo perspectivismo de Friedrich Nietzsche, que defendia um debate para além 
do bem e do mal ao observar a existência humana. 
Em outras palavras, Nietzsche descontrói alguns dos preceitos fundamentais da modernidade, pois se não existe 
uma moral, mas sim a moral de cada indivíduo, não existe a verdade, apenas a verdade de cada indivíduo. 
FOUCAULT, destaca também o papel político do intelectual, em reconhecer a impossibilidade de ser completamente 
neutro, assim como a ciência produzida por indivíduos também é parcial, tendo em vista que se trata de um discurso 
afetado por essas múltiplas relações de poder. Exemplos ilustrativos desses regimes de verdade são: 
• Logocentrismo: termo que tem origem no idioma grego e significa centralidade do conhecimento; soberania da 
razão. Representa a tentativa de abarcar toda a complexidade existente através da otimização e da tecnificação do 
conhecimento, fazendo com que não haja espaço para subjetividades. 
• Eurocentrismo: representa um regime de verdade imposto de modo hierarquizado que reduz a história e política 
mundial a partir das conquistas marítimas. Insere a Europa como o centro do mundo, como região mais avançada e, 
portanto, fundamental para a constituição da sociedade moderna. 
De acordo com o autor, a verdade moderna apresentaria cinco características (FOUCAULT): 
• é centrada na forma do discurso científico e nas instituições que o produzem; 
• está submetida à produção econômica e ao poder político; 
• é amplamente difundida e consumida; 
• é produzida e transmitida sob o controle, não exclusivo, mas dominante, de alguns grandes aparelhos políticos ou 
econômicos; 
• é objeto de debate político e de confronto. 
4.2 Pós-modernismo nas relações internacionais 
Esse movimento crítico influencia sobremaneira as relações internacionais, “que foi construída a partir de parâmetros 
ocidentais de produção de conhecimento e, para além disso, segundo os pensadores mais críticos, foi formulada para 
pensar um mundo – o sistema de Estados – também criado pelo Ocidente”. 
Desse modo, compreendem que o conhecimento não poderia ser neutro, visto que “de um lado, a teoria não é 
independente da realidade que ela estuda; de outro, a realidade não é exterior à teoria que a analisa” 
4.2.1 Binarismos e hibridismo 
Resgatando as críticas nietzschiana e foucaultiana acerca dos regimes de verdade e do poder de nomeação, o pós-
modernismo nas relações internacionais questiona os binômios cartesianos, hierárquicos e excludentes. Ressaltam a 
impossibilidade de uma verdade única, uma vez que existiriam apenas verdades plurais e circunstanciais. 
Observação: Binarismo se refere a dois termos ou vertentes que são considerados opostos. 
Criticam as relações binárias e dicotômicas que baseavam as metanarrativas, em que um termo é considerado correto 
e o outro representaria aquilo que foge à regra, aquilo que está incompleto. 
Os pós-modernos procuram se distanciar dessa percepção universalista e unitária, para uma perspectiva mais 
relacionista e plural – trabalhando com verdades circunstanciais e relativas. O termo mais utilizado para esse 
movimento é hibridismo, ou seja, em vez de uma síntese que suprime o diferente, trata-se de uma coexistência que 
não anula o outro. 
4.3 Pós-estruturalismo nas relações internacionais 
O pós-estruturalismo também questiona a forma como certos fatos e crenças aceitos podem reforçar a hegemonia e 
o poder de atores particulares nas relações internacionais. Por esse motivo, os pós-estruturalistas encorajam o 
ceticismo com relação às narrativas que se pretendem universais. 
Seria realmente possível falar em teorias como se fossem caixas separadas umas das outras, desconsiderando suas 
inter-relações? 
A hipótese fundamental da perspectiva pós-estruturalista é que o mundo não pode ser observado de maneira 
objetiva, isto é, todas as teorias são componentes do mundo. Nesse sentido, se afastam da ideia ampla sobre as 
capacidades explicativas de uma teoria, voltando-se para as análises historicamente contingenciadas das relações 
entre as práticas sociais e o poder. 
5 PÓS-COLONIALISMO 
Está bastante associado às críticas pós-modernas e possui certa desconfiança quanto aos princípios da modernidade. 
Argumenta que, mesmo após os processos de independência, as relações de poder hierárquicas ainda são percebidas 
e reproduzidas. 
Entre os pressupostos básicos do pós-colonialismo nas relações internacionais é possível destacar a busca por mostrar 
elementos de continuidade em relação à experiência colonial. Ou seja, mesmo findada a colonização formal, os pós-
coloniais apontam a manutenção de um discurso de inferiorização da diferença. Inclusive com a manutenção dos 
binarismos hierárquicos que definiam os colonizadores de modo superior, enquanto os colonizados seriam seres 
primitivos. 
A perspectiva pós-colonial argumenta que essas práticas coloniais ainda estão em funcionamento, embora na 
contemporaneidade sejam utilizados novos termos -como desenvolvidos versus subdesenvolvidos etc-. 
Para tanto, os teóricos pós-coloniais trabalham com dois conceitos importantes: 
• Differánce: mudança de um binarismo colonizador-colonizado para um momento em que tal leitura binária não exista 
mais nesses moldes. Ou seja, busca perturbar os binarismos culturais traduzidos em “aqui” e “lá”. 
• Dupla inscrição: ideia de sobreposição das identidades; sujeito híbrido. Defendem a simultaneidade, a convivência 
de identidades que não resultam necessariamente em uma terceira identidade que condense as outras duas. 
Nesse sentido, vale relacionar essa ideia de identidade para o pós-colonialismo com a abordagem construtivista – na 
qual toda ação é dotada de significados, identidades e interesses. 
Por fim, cabe destacar que o pós-colonialismo não constitui um corpo de pensamento coeso, isto é, a chamada teoriapós-colonial abarca uma multiplicidade de perspectivas que torna complexo o esforço de definição ou generalização. 
Dessa forma, se há um elemento que pode definir a teoria pós-colonial é seu elemento inclusivo, que abre espaço para 
a emergência de novas e flexíveis análises. 
5.1 Quando é o pós-colonial? 
O objeto do pós-colonialismo não contempla apenas o processo de descolonização afro-asiático das décadas de 
1980 e 1990, mas toda resistência política, econômica e cultural dos povos do intitulado terceiro mundo contra a 
dominação ocidental. 
O uso do termo “pós” não sugere que os efeitos ou impactos do domínio colonial foram superados. Em vez disso, 
destaca o impacto que os históricos de colonização e imperialismo ainda possuem, tendo em vista que esses 
históricos moldaram um pensamento colonizado sobre o mundo, permitindo que as formas de conhecimento e poder 
ocidentais marginalizassem o mundo não ocidental. 
5.2 Colonialidade do saber: a invenção do outro 
Colonialismo refere-se a uma estrutura de dominação e exploração em que determinado povo utiliza seu controle da 
autoridade política, recursos de produção e trabalho para dominar outra população. Já o conceito de colonialidade foi 
introduzido por Aníbal Quijano, entre as décadas de 1980 e 1990. 
Jacques Derrida, afirmava que nós não temos acesso completo ao nosso passado; temos apenas narrativas 
selecionadas, manejadas e forjadas. 
Nesse sentido, a “invenção do outro” não representa apenas o modo como um certo grupo de indivíduos é 
representado mentalmente por outros, mas engloba também os dispositivos de saber e poder que servem como 
ponto de partida para a construção dessas representações. 
O resultado dessa invenção do outro é a própria invenção do que é cidadania, ou seja, cria-se um campo de identidades 
binárias que tornam viável o projeto moderno de governabilidade e exploração. 
5.3 Violência epistêmica e descolonização das mentes 
Essa relação entre conhecimento e disciplina permite afirmar que o projeto da modernidade está baseado no que 
Gayatri Spivak intitulou de exercício da violência epistêmica, ou seja, a violência da letra como uma forma de 
invisibilizar o outro, tirando dele sua possibilidade de representação própria. 
Em outras palavras, seria necessário um processo de “descolonização das mentes” para enxergar o poder externo que 
determina sua própria identidade e seu próprio comportamento. Para se libertar dessas imposições, primeiro é 
necessário reconhecer que elas existem, compreender como elas se formaram e se reproduzem, para em seguida 
repensar sua própria identidade a partir de escolhas próprias. 
5.3.1 A sociologia das ausências e das emergências 
É necessário demonstrar que algumas identidades foram apagadas ou amalgamadas ao longo do processo moderno 
de construção do conhecimento, de modo a legitimar as práticas coloniais e imperialistas. 
Ao discorrer sobre essa metanarrativa ocidental, Santos aponta que ela pode se mostrar de duas formas: 
• como uma razão metonímica, ou seja, se reivindica como a única forma de racionalidade e, por conseguinte, não se 
aplica a descobrir outros tipos de racionalidade; ou • como razão proléptica, ou seja, que não se aplica a pensar o 
futuro, porque julga saber tudo a seu respeito, concebendo-o como uma superação linear, automática e infinita do 
presente. 
Para o autor, a base dessa metanarrativa estaria pautada em cinco lógicas: 
 
Em contraponto a essa razão totalizante/excludente, Santos propõe que a sociologia das ausências se baseie em 
cinco ecologias: 
Em síntese, “o objetivo da sociologia das ausências é revelar a diversidade e multiplicidade das práticas sociais e 
credibilizar esse conjunto por contraposição à credibilidade exclusivista das práticas hegemônicas. 
A sociologia das ausências e a sociologia das emergências estão estreitamente associadas, estando a primeira 
relacionada ao campo das experiências sociais, e a segunda ao campo das expectativas sociais. 
6 FEMINISMO 
As teorias feministas de relações internacionais são classificadas no conjunto de teorias pós-positivistas. 
Antes de abordarmos de modo específico o feminismo nas relações internacionais, cabe analisar o feminismo como 
movimento social e político, uma vez que não é possível compreender o estabelecimento e os avanços das teorias 
feministas sem considerar o movimento social de luta por direitos e pelo fim da violência contra as mulheres. 
6.1 Movimentos feministas na sociedade 
A intitulada primeira onda do feminismo abarca a luta das mulheres brancas, principalmente na Inglaterra, por 
direitos iguais de cidadania. No início do século XIX, as suffragettes – como ficaram conhecidas – promoveram diversas 
manifestações na cidade de Londres, até conquistarem o direto ao voto em 1918. 
Devido a tais reivindicações de caráter individual, esse movimento de mulheres foi alocado dentro do que a 
literatura denomina feminismo liberal. 
A segunda onda do feminismo, abarcou os anos 1960 e 1970, foi caracterizada por demandas coletivas e libertárias. 
As demandas dessa onda eram diversas, incluindo: • direitos sexuais e reprodutivos, destacando-se o surgimento da 
pílula anticoncepcional; • luta contra a violência sexual; • fim da discriminação racial, a partir da consolidação do 
feminismo negro; • oposição aos governos ditatoriais. 
Enquanto o movimento feminista no intitulado norte global estava atento às pautas libertárias, na América Latina 
as mulheres organizavam-se em oposição à repressão e aos governos ditatoriais. 
A terceira onda teria ocorrido nos anos 1990, no contexto de redemocratização dos países latino-americanos e de 
questionamento sobre o caráter pretensamente universal do feminismo. Apesar de as mulheres negras já abordarem 
a questão racial há décadas, é nesse momento que se destaca a necessidade. 
Por fim, há uma discussão sobre a existência de uma quarta onda do feminismo, a partir dos anos 2010. O contexto 
que caracteriza essa nova onda é o de politização da sociedade, uso das mídias sociais como forma de denúncia e 
ocupação dos espaços públicos, principalmente os grandes centros urbanos. 
6.2 O feminismo nas relações internacionais 
Ao final da década de 1980 e início dos anos 1990 que perspectivas e teorias feministas começaram a ser 
estabelecidas. As análises internacionais baseiam-se em conceitos binários que estabeleceriam relações de poder 
entre os atores: • doméstico versus internacional; • soberania versus anarquia; • paz versus guerra; • Estado-nação 
versus sistema internacional; • racional versus irracional. 
Judith Ann Tickner é considerada uma das teóricas feministas pioneiras nas relações internacionais. O argumento de 
Tickner é que há diferenças ontológicas e epistemológicas entre as perspectivas feministas e os estudos convencionais 
da área. Essas divergências, em muitos casos, acabam dificultando o encontro entre as duas áreas. 
Lembrete: Ontologia refere-se ao objeto a ser estudado (o que se pretende conhecer?). Epistemologia refere-se ao 
estudo do conhecimento (como é construído o conhecimento?). Metodologia refere-se aos métodos e técnicas de 
investigação (como conhecer?). 
Para as teóricas feministas, o gênero é uma categoria essencial para análise da política internacional. O simbolismo de 
gênero permeia a construção de um conjunto de características associadas ao estereótipo da masculinidade – poder, 
racionalidade, autonomia, aquilo que é público – e, em sua oposição, aquelas características que seriam associadas à 
feminilidade – fraqueza, emoção, dependência e aquilo que é do âmbito privado. 
Para romper com essas barreiras na produção do conhecimento, o feminismo busca em outras áreas – como a 
psicologia, a antropologia e a filosofia – reflexões para entender as causas e consequências das opressões de gênero. 
6.2.1 O conceito de gênero e as teorias feministas 
Lene Hansen, analisou como os entendimentose percepções sobre gênero podem levar a epistemologias e 
metodologias feministas distintas. 
Uma primeira concepção é a do gênero como uma categoria biológica. Para algumas autoras feministas, o gênero 
refere-se às diferenças sexuais entre homens e mulheres. Esse entendimento leva a uma perspectiva epistemológica 
do feminismo racionalista, esse aproxima-se das teorias tradicionais de relações internacionais, nas quais o Estado é o 
objeto prioritário de análise. 
A segunda concepção sobre o gênero é a da abordagem epistemológica denominada standpoint, também conhecida 
como teoria da perspectiva feminista. Segundo essa abordagem, para além da vinculação do gênero com o sexo 
biológico, é preciso considerar que os significados sobre os corpos – homem e mulher – são construídos a partir de 
entendimentos que a sociedade possui sobre masculinidade e feminilidade. 
Por último, Hansen assinala a existência de uma abordagem que concebe o gênero como uma categoria social e 
discursivamente construída. Essa concepção refere-se a uma epistemologia pós-estruturalista. O feminismo pós-
estruturalista chama atenção para a forma como as diferenças de gênero, assim como as decisões da política 
internacional, são discursivamente construídas. 
É possível destacar duas possibilidades de trabalhar o gênero como categoria de análise. A primeira dessas 
possibilidades é denominada posição das mulheres, também intitulada “feministas de ponto de vista”. Tais estudos e 
trabalhos remetem a uma reflexão sobre a ausência das mulheres nos espaços tradicionais das relações internacionais, 
como a diplomacia, forças armadas etc. Uma das pioneiras no tema foi a Cynthia Enloe. 
Outra possibilidade de trabalhar o gênero nas relações internacionais seria a partir de análises que consideram essa 
categoria para além do individual, o que pode ser denominado poder de gênero. Além da discussão sobre as posições 
marginais ocupadas pelas mulheres na política internacional, as teóricas feministas também questionam como essas 
posições ligam-se ao poder de gênero. 
-Feminismo liberal 
De acordo com as feministas liberais, haveria um conjunto de barreiras, estabelecidas pelo Estado, que limitam a plena 
execução dos direitos individuais. Assim, as autoras e ativistas direcionavam suas demandas diretamente ao Estado, 
pois essa instituição seria a responsável por derrubar as barreiras – como a proibição do voto feminino –. 
O feminismo liberal estaria inserido no que Hansen denominou epistemologia do feminismo racional e o que Monte 
assinalou como feministas de ponto de vista. 
-Feminismo radical 
Traz maior criticidade ao Estado e à sociedade, afirmando a necessidade de desafiar e superar as normas masculinistas 
e heteronormativas presentes no sistema interestatal. 
Aproxima-se da epistemologia do feminismo standpoint e do poder de gênero, uma vez que todas essas perspectivas 
olham para como as relações de gênero são influenciadas pelos significados, socialmente construídos, sobre o que 
é masculino e o que é feminino. 
-Feminismo socialista 
Assim como as teorias marxistas nas relações internacionais, possui uma base de análise materialista. A opressão dos 
homens sobre as mulheres, ou seja, a fonte do patriarcado, se dá pelo controle dos primeiros sobre o trabalho 
reprodutivo das mulheres. A divisão e hierarquia presente no sistema capitalista entre trabalho produtivo, geralmente 
exercido pelos homens, e o trabalho reprodutivo, designado para as mulheres, atende a interesses masculinistas e 
garante a organização e perpetuação do capitalismo. 
-Feminismo pós-moderno 
São aquelas que apresentam a crítica mais contundente quanto à tentativa de categorização dos indivíduos. Para essas 
teóricas, ao delimitar as experiências dos indivíduos pelo gênero, incorremos numa simplificação e hierarquização das 
identidades e relações em sociedade. 
-Feminismo pós-colonial e decolonial 
Atentam-se para a relação entre as práticas imperiais colonialistas e as opressões e hierarquizações presentes na 
sociedade capitalista atual e na produção do conhecimento. Não obstante, o feminismo pós-colonial adiciona a esse 
contexto a categoria de gênero, a fim de observar as opressões vivenciadas pelas mulheres do terceiro mundo. 
-Ecofeministas 
Propõem uma análise ampla e interconectada das explorações e opressões existentes na sociedade e no sistema 
internacional. Segundo essa vertente, haveria uma interconexão entre o uso insustentável dos recursos naturais e as 
opressões vivenciadas pelas mulheres, quer no âmbito privado, quer no âmbito internacional. 
6.3 Feminismo e segurança internacional 
Teóricas feministas buscam desvendar a forma como as construções de gênero interferem no entendimento, nas 
políticas e ações de segurança. Discursos e práticas de política externa utilizam linguagem e imagens diferenciadas por 
gênero, a fim de legitimar certas ações e desacreditar outras. 
6.3.1 Tipos de violência e paz 
Um dos principais autores dessa literatura, denominada estudos da paz, é o sociólogo norueguês Johan Galtung. 
Num primeiro momento, o autor faz uma divisão entre violência estrutural (indireta) e violência pessoal (direta). 
Enquanto na violência direta há um indivíduo específico que comete um ato de violência contra um determinado 
objeto, na violência estrutural a manifestação da violência ocorre na construção de chances desiguais entre 
determinados grupos sociais e econômicos. 
Esses dois tipos de violência relacionam-se com a violência cultural, conformando o que Galtung denomina triângulo 
da violência. 
A reflexão sobre a paz positiva adquire um caráter normativo, pois é considerado algo necessário para a plena 
integração humana na sociedade e na política internacional. O fim das guerras e confrontos armados não é suficiente 
para obtermos um ambiente de paz completo. 
6.3.2 Violência e paz sob uma perspectiva de gênero 
A violência contra as mulheres deve ser compreendida como um fenômeno estrutural e cultural da sociedade, que tem 
causas mais profundas que o relacionamento. 
Nesse sentido e em outros, o objetivo de algumas teorias feministas é descontruir a imagem do Estado como o 
garantidor da segurança doméstica, como é estabelecido pelas teorias tradicionais de relações internacionais. 
O feminismo nos estudos de segurança internacional visa observar a insegurança das populações marginalizadas, 
em especial as mulheres. Além da análise do papel de mulheres e garotas em guerras e conflitos. Em vez de uma 
preocupação apenas com as causas da guerra, o feminismo foca no que ocorre durante esses conflitos e suas 
consequências. 
Lauren Wilcox discute a influência das dicotomias de gênero na teoria ofensiva-defensiva das relações internacionais. 
Em outras palavras, as autoras refletem sobre como os discursos e políticas de segurança estatais – que se justificam 
em nome da segurança – geram um ambiente de violência e insegurança para determinados indivíduos, em especial 
as mulheres. 
7 SECURITIZAÇÃO 
É uma abordagem que surgiu no âmbito dos estudos da escola de Copenhague e no contexto da chamada virada 
linguística, tendo como elementos centrais a importância da linguagem e do ato de fala na construção de percepções 
de ameaça. 
7.1 A escola de Copenhague 
Existem três vertentes teóricas que discutem o tema da segurança internacional: 
• Tradicionalista: marcada pelos pressupostos realistas, em que o Estado é a unidade básica de análise e que a 
segurança se refere apenas aos aspectos militares. 
• Crítica: que está ligada à escola de Frankfurt, na qual os estudos de segurança devem ajudar na emancipação 
humana, assim como se deve priorizar outros valores, como igualdade e liberdade. 
• Abrangente: busca expandir o conceito de segurança, sugerindo a incorporação de outras ameaças para além das 
militares, como as de viés político, econômico, ambiental e social. 
A escola de Copenhague estaria vinculada à vertente abrangente,uma vez que também aceita em seu conceito de 
segurança internacional a existência de ameaças oriundas dos setores políticos, econômicos, ambientais e sociais, e 
não apenas as derivadas do setor militar. 
7.1.1 A teoria da securitização 
Entre as principais contribuições da escola de Copenhague para os estudos de segurança internacional, vale atentar-
se para a reflexão sobre o uso da linguagem. 
Os teóricos apresentam três níveis de análise de uma determinada questão. O primeiro é quando esta é considerada 
uma questão não politizada, em que não há a necessidade de formulação de políticas para sua resolução. Num 
segundo nível, a questão é considerada politizada, e os Estados ou outros agentes passam a tratá-la como um problema 
de políticas públicas. Certas medidas de caráter político são, portanto, adotadas para solucioná-la. Por último, há o 
nível de questão securitizada, que é considerada uma ameaça à segurança, considera-se a necessidade de utilizar 
medidas emergenciais e extraordinárias para combater a ameaça. 
A securitização de um tema ocorre a partir de um discurso, ou seja, um ato de fala, que sinaliza a existência de uma 
ameaça e dá a ela um caráter de urgência. 
O processo de securitização demanda a existência de três variáveis: • objeto referente; • agente securitizador; • 
audiência. 
A efetivação do processo de securitização depende, portanto, da credibilidade que o agente securitizador possui e da 
capacidade de convencimento do discurso perante a audiência. 
7.1.2 Complexos regionais de segurança 
Outro grande marco da escola de Copenhague foi a elaboração da teoria do complexo regional de segurança, a qual 
demonstra a importância que os autores, em especial Barry Buzan e Ole Wæver, atribuem ao nível regional ao se 
analisar a segurança. 
A primeira delas é a neorrealista, que concebe o Estado como ator central, então, o poder. A segunda perspectiva 
apontada é a globalista, a qual possui abordagens culturais, transnacionais e político-econômicas internacionais. A 
terceira perspectiva, que foi a escolhida pelos autores, é a regional. De acordo com essa perspectiva, o fim da Guerra 
Fria e, consequentemente, da rivalidade entre as duas superpotências possibilitou que os demais países se 
atentassem aos seus próprios temas de segurança. 
Essa teoria assinala, portanto, a importância de um nível intermediário entre o global e o nacional. O complexo regional 
de segurança, é definido por relações de poder e por padrões de amizade e inimizade, que estão intimamente ligados 
a fatores históricos, como disputas territoriais e conflitos culturais entre civilizações. 
Em 1998, Buzan e Wæver reformularam o conceito. Com uma abordagem mais ampla, passou-se a considerar a 
atuação de outros atores, para além do Estado, na elaboração e desenvolvimento de questões de segurança. 
Os autores apresentam quatro formas de complexos regionais de segurança centrais: 
• Unipolar com um grande poder: o complexo regional de segurança da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. • 
Unipolar com um superpoder central: o complexo regional de segurança da América do Norte. • Unipolar com um 
poder regional: apontam não ter encontrado exemplos para esse tipo. • Região integrada por instituições (em vez de 
um único poder hegemônico): exemplificado pela União Europeia, a qual se encontra entre a classificação de uma 
região de comunidade de segurança ou um grande poder em nível global. 
7.2 Securitização e dessecuritização 
Vale ressaltar que o objeto referente não é limitado apenas ao setor militar. As ameaças podem ser observadas em 
outros quatro setores: • político; • econômico; • ambiental; • societal. 
Nesse sentido, Ole Wæver discorre sobre um processo inverso, o de dessecuritização. Ou seja, o processo de 
reconhecer que uma determinada questão foi equivocadamente – seja por intenção ou não –. Porém, não busca 
afirmar que aquele tema não merece ser pauta do debate público, mas sim que ele não é emergencial o suficiente 
para ser considerado uma ameaça. 
7.2.1 A securitização do terrorismo 
Lembrando dos discursos pós 11 de setembro. O movimento de securitização do combate ao terrorismo foi 
impulsionado também graças à composição ideológica do governo estadunidense. A existência de uma ideologia 
neoconservadora contribuiu para a construção de uma imagem dos Estados Unidos de defensores e guardiões de uma 
determinada ordem internacional e, consequentemente, para a condução de uma política externa agressiva. 
8 TEORIA VERDE 
Categorizam as diferenças entre terra, que seria o ambiente das coisas materiais, e mundo, que representaria o 
ambiente sociopolítico construído a partir da divisão dessas coisas materiais. 
É a partir desses questionamentos que o meio ambiente deixa de ser analisado apenas pelos vieses da geografia física 
ou da biologia, passando a incorporar os impactos causados pelos elementos políticos, econômicos, culturais e sociais. 
Reconhecem que, com a intensificação do uso de recursos naturais e a interferência cada vez maior dos seres 
humanos – diretamente influenciada pelo processo de acentuamento da globalização –, os conflitos socioambientais 
tendem a se acirrar. Logo, seriam necessários debates mais amplos e complexos sobre o tema. 
8.1 Regime internacional do meio ambiente 
O regime internacional do meio ambiente é composto por diversas instituições, desde Estados, ONGs e empresas 
transnacionais, até organizações internacionais – como a ONU – e comissões internacionais. Entre os documentos 
que guiam as normas e regras desse regime, podemos destacar a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a 
Mudança Climática, assinada em 1992, e o Protocolo de Quioto, assinado em 1997, o qual aborda o controle da 
emissão de gases nocivos que promovem o aquecimento global. 
É importante destacar que o direito internacional ambiental não é tão consolidado quanto o econômico. Enquanto 
determinados temas evoluíram bastante em função dos interesses dos atores, como mudanças climáticas, proteção 
da camada de ozônio, restrições à pesca de baleias, outros não conseguem atingir níveis de compromisso suficientes 
para se tornarem eficazes. 
8.1.1 Desenvolvimento sustentável 
Está relacionado ao processo capaz de atender as necessidades do presente sem comprometer a habilidade das 
gerações futuras de atender suas próprias necessidades. Essa definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio 
Ambiente e Desenvolvimento justamente com o objetivo de harmonizar o desenvolvimento econômico com a 
conservação ambiental. 
Pensando nisso, em 2015 a ONU propôs que seus Estados-membros se articulassem pelos próximos 15 anos em torno 
de uma agenda para o desenvolvimento sustentável. Comumente intitulada Agenda 2030, essa agenda é composta 
por 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS). 
Os temas podem ser divididos em quatro principais dimensões. A dimensão social, relacionada às necessidades 
humanas, de saúde, educação, melhoria da qualidade de vida e justiça. A dimensão institucional, que diz respeito às 
capacidades de colocar em prática os objetivos. A dimensão econômica, que aborda o uso e o esgotamento dos 
recursos naturais, a produção de resíduos, o consumo de energia etc. E a dimensão ambiental, que aborda a 
preservação e conservação do meio ambiente. 
8.2 Teoria verde das relações internacionais 
Tendo em vista que as questões ambientais abordam os interesses da própria natureza, e não apenas os interesses 
da humanidade na natureza, a teoria verde busca capturar essa orientação em termos políticos de valor e agência – 
ou seja, o que deve ser valorizado, por quem e como obtê-lo. Desse modo, a teoria verde pertence à tradição da 
teoria crítica, no sentido de que as questões ambientais evocam questões sobre as relações entre nós e os outros 
no contexto da comunidade e da tomada de decisão coletiva. 
A prevalência contínua de relações competitivas entre os Estados não conduz à cooperaçãoambiental ou encoraja o 
pensamento verde. No entanto, tem havido um desenvolvimento teórico e algum progresso prático, junto com uma 
vasta literatura que tem emergido, promovendo diferentes perspectivas teóricas para as diversas questões ambientais. 
Baseada no pensamento ecológico radical, a teoria verde faz uma revisão e reconstrução crítica da economia política 
internacional neomarxista, das teorias normativas e cosmopolitas das relações internacionais. Além disso, 
reinterpreta conceitos centrais para a área, como as noções de soberania, segurança, desenvolvimento e justiça 
internacional, possibilitando novos discursos. 
Alguns subdividem a teoria verde em uma ecopolítica crítica internacional, a qual abarca um campo de estudos que 
inclui análises sobre áreas negligenciadas da dominação e marginalização ambiental, tais como a dominação da 
natureza não humana, as necessidades das futuras gerações, e a distribuição desigual dos riscos ecológicos entre as 
diferentes classes sociais, Estados e regiões. 
Tendo em vista os três princípios que embasam a teoria verde das relações internacionais – ecocentrismo; limites 
do crescimento como causa da crise ambiental; e descentralização – é possível apontar que a teoria verde se divide 
em duas fases: 
• Primeira fase: procura demonstrar a irracionalidade das principais instituições sociais (mercado e Estado) e 
apresentar as virtudes da democracia direta e das comunidades sustentáveis como alternativa. 
• Segunda fase: maior pensamento crítico, expansão dos conceitos políticos e instituições com os problemas 
ambientais servindo de guia. 
8.2.1 Sociedades cosmopolitas 
Para compreender melhor a abordagem cosmopolita, vale resgatar a obra do sociólogo alemão Ulrich Beck (1944-
2015), intitulada Sociedade de risco. O livro representa uma das teorias sociológicas que mais impactou o século XX, 
não apenas na área de ciências sociais, mas também no âmbito jurídico e até na engenharia. Deu origem a toda uma 
vertente teórica baseada na modernidade reflexiva, tendo em vista a percepção pessimista do autor sobre a 
modernização. 
Diferentemente da percepção moderna universalizante, Beck argumenta que o futuro não estaria predeterminado 
e deveria ser refletido desde o presente. Ou seja, mais do que construído a partir de uma análise do passado, o 
pensamento e a ação no presente são construídos a partir dos riscos que ameaçam o futuro. E os riscos são sempre 
locais e globais. 
Posteriormente, Beck atualiza seu pensamento. Para além da primeira modernidade – caracterizada pelo pensamento 
em termos de Estado-nação e, portanto, com um caráter eminentemente territorial –, Beck propõe uma segunda 
modernidade, tendo em vista cinco processos: • globalização; • individualização; • revolução sexual; • desemprego; • 
riscos globais. 
O autor destaca que as vulnerabilidades locais embasam as desigualdades globais. Nesse sentido, Beck propõe uma 
nova interpretação sobre o conceito de nação, tendo em vista esse caráter global dos riscos. Em específico sobre os 
riscos climáticos; sugere a “cosmopolitização das sociedades”, que significa um processo de globalização desde dentro 
das sociedades nacionais, com transformações importantes nas identidades cotidianas, porque os problemas globais 
passam a ser parte de nosso dia a dia, e das estruturas de governança global.

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