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DOENÇAS RESULTANTES DA AGRESSÃO AO MEIO AMBIENTE - TUT04 Graduando do curso de Medicina pelo Centro Universitário Tiradentes - UNIT/AL: Artur Bruno Silva Gomes E-mail Institucional: artur.bruno@souunit.com.br Tutora: SUELI TUTORIA – UC XII PROBLEMA 03: Um passo mal dado.... OBJETIVOS: 1- Classificar os principais tipos de acidentes ofídicos (gênero e característica) Resumo da descrição morfológica das peçonhentas: Bothrops: Fosseta loreal presente, cauda lisa; Lachesis: Fosseta loreal presente, cauda com escamas arrepiadas; Crotalus: Fosseta loreal presente, cauda com chocalho; Micrurus: Fosseta loreal ausente, apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação. As falsas-corais são serpentes não peçonhentas, porém sem dentes inoculadores, e os anéis que, em alguns casos, não envolvem toda a circunferência do corpo. Manifestações Clínicas Acidente botrópico: Precoce (< 6 horas): Dor, edema e rubor no local e choque; aumento do tempo de coagulação e hemorragia nos casos graves: epistaxe, gengivorragia, e hemorragia digestiva; Tardio (> 6 a 12 horas): Bolhas, equimoses, necrose local, IRA nos casos graves. Acidente laquético: Similar ao acidente botrópico, associado à bradicardia e diarreia. Acidente crotálico: Precoce (< 6 horas): Ptose palpebral bilateral (fácies miastênica), oftalmoplegia, distúrbios de acomodação visual, fasciculações musculares e nos casos graves, mailto:artur.bruno@souunit.com.br paralisia da musculatura respiratória, velopalatina e dos membros, aumento do tempo de coagulação, raro hemorragias, mialgia generalizada, discreto edema local, urina avermelhada; Tardio (> 6 a 12 horas): Insuficiência renal aguda. Acidente elapídico: Ptose palpebral bilateral, oftalmoplegia, distúrbios de acomodação visual, paralisia da musculatura respiratória, velopalatina e dos membros, com alta incidência e de rápida instalação . 2- Descrever a epidemiologia, o quadro clínico, diagnóstico e tratamento dos diversos acidentes ofídicos. BOTHROPS - COBRA JARARACA São cobras peçonhentas, pertencentes ao gênero Bothrops, que apresenta cerca de 30 espécies, distribuídas por todo o território nacional. As espécies mais conhecidas são: jararaca, jararacuçu, caiçaca, urutu-cruzeiro, jararaca-do-rabo-branco. Esse grupo é responsável por cerca de 80% dos acidentes no Brasil e, por isso, de maior relevância epidemiológica. Características do animal: Possuem fosseta loreal (orifício entre o olho e a narina) e cauda lisa. Dependendo da espécie, seu tamanho pode variar de pequeno a grande porte, assim como a coloração e o desenho de sua pele. Habitam zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas, áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores. Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares. Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos. Fisiopatologia e Manifestações Clínicas ● Ações do veneno: v. botrópico possui três principais ações: proteolítica, coagulante e hemorrágica. Importante destacar que as cobras filhotes (< 40 cm de comprimento) possuem veneno de pouca ação proteolítica. ● Ação proteolítica ou necrosante: responsável pelas manifestações locais, tem patogênese complexa. Possivelmente, decorrem da atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases, da liberação de mediadores da resposta inflamatória, da ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e da ação pró-coagulante do veneno; ● Ação coagulante: a maioria ativa, de modo isolado ou simultâneo, o fator X e a protrombina. Possui ainda, ação similar à trombina, convertendo o fibrinogênio em fibrina. Essas ações produzem distúrbios da coagulação, caracterizados por consumo dos seus fatores, geração de produtos de degradação de fibrina e fibrinogênio, podendo ocasionar incoagulabilidade sanguínea. Este quadro é semelhante ao da coagulação intravascular disseminada, com plaquetopenia por consumo; ● Ação hemorrágica: decorrente da ação das hemorraginas que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associadas à plaquetopenia e alterações da coagulação. Quadro Clínico Manifestações locais: ● Dor e edema endurado no local da picada, de intensidade variável e, geralmente, de instalação precoce e caráter progressivo; ● Equimoses e sangramentos no ponto da picada são frequentes; ● Bolhas, associadas ou não a necrose, estão presentes nos acidentes graves com cobras adultas (maior fração proteolítica ). Manifestações sistêmicas: ● Sangramentos em ferimentos prévios, hemorragias em gengivas, epistaxe, hematêmese e hematúria. Em gestantes, há risco de hemorragia uterina; ● Náuseas, vômitos, sudorese, hipotensão arterial, hipotermia e choque; ● São síndrome compartimental, abcessos, necrose, choque e IRA. Complicações Complicações locais: ● Síndrome compartimental: é rara, caracteriza caso grave. Decorre da compressão do feixe vasculonervoso consequente ao grande edema e hematoma que se desenvolvem no membro atingido, produzindo isquemia da extremidade afetada. As manifestações mais importantes são dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor. Fasciotomia se faz necessário; ● Abcessos e celulite: a ação “proteolítica” do veneno favorece o aparecimento de infecções locais. As bactérias são os bacilos gram-negativos, anaeróbios e, mais raramente, cocos gram-positivos; ● Necrose: devido à ação “proteolítica” do veneno, associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores como infecção, trombose arterial, síndrome compartimental ou uso indevido de torniquetes. O risco é maior nas picadas em extremidades, podendo evoluir para gangrena e amputação. Complicações sistêmicas: Choque: é raro e aparece nos casos graves. É consequência de fatores, como a liberação de substâncias vasoativas, do sequestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias. Insuficiência renal aguda (IRA): pode decorrer da ação direta do veneno sobre os rins, da isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, à desidratação ou hipotensão arterial e ao choque. Exames complementares: Tempo de coagulação (TC) é de fácil execução e importante para elucidação do diagnóstico e evolução clínica: ● TC normal: até 9 minuto; ● TC alterado: de 10 a 30 minuto; ● TC incoagulável: acima de 30 minutos; Tempo de protrombina (TP), tempo de protrombina parcialmente ativada (TPPA): estar normais ou alargados; Hemograma completo: leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda e plaquetopenia de intensidade variável; CPK: elevada nos acidentes com manifestações locais; Ureia, creatinina, sódio, potássio: elevados na presença de insuficiência renal aguda e, também, de desidratação (insuficiência pré-renal); EAS: hematúria, proteinúria e leucocitúria. Tratamento Geral: ● Limpeza e antissepsia local para evitar infecção secundária; ● Manter segmento picado elevado e estendido; ● Analgésico para alívio da dor; ● Hidratação: controlar parâmetro pela diurese - 30 a 40 mL/hora no adulto, ≥ 1 mL/kg/hora na criança; ● Antibioticoterapia na presença de infecção local; ● Tratamento de suporte; Específico: Consiste na administração, o mais precocemente possível, do soro antibotrópico (SAB) por via endovenosa e, na falta deste, das associações antibotrópico-crotálico (SABC) ou antibotrópico-laquético (SABL). Classificação da gravidade e a soroterapia Recomendada pelo Protocolo do Ministério da Saúde do Brasil,a seguir. Leve: ● Manifestações locais (dor, edema e equimose): ausentes ou discretas; ● Manifestações sistêmicas (hemorragia grave, choque e anúria): ausentes; ● Tempo de coagulação (TC): normal ou alterado; ● Soroterapia (SAB/SABC/SABL): 2-4 ampolas EV. Moderada: ● Manifestações locais (dor, edema e equimose): evidentes; ● Manifestações sistêmicas (hemorragia grave, choque e anúria): ausentes; ● Tempo de coagulação (TC): normal ou alterado; ● Soroterapia (SAB/SABC/SABL):4-8 ampolas EV. Grave: ● Manifestações locais (dor, edema e equimose): intensas. ● Manifestações locais intensas podem ser o único critério para classificação de gravidade nos acidentes com cobra adulta. Nos acidentes com cobras jovens (menor fração proteolítica do veneno), considerar as alterações do coagulograma e manifestações sistêmicas na avaliação da soroterapia; ● Manifestações sistêmicas (hemorragia grave, choque e anúria): presentes; ● Tempo de coagulação (TC): normal ou alterado; ● Soroterapia (SAB/SABC/SABL): 12 ampolas EV. ● Tempo de coagulação (TC): Normal: até 10 minutos; Prolongado: de 10 a 30 minutos; Incoagulável: > 30 minutos. Se o TC permanecer alterado 24 horas após a soroterapia, está indicada dose adicional de duas ampolas de antiveneno. O soro antiveneno, diluído ou não, deve ser infundido em 20 a 60 minutos, sob estrita vigilância médica e da enfermagem. A freqüência de reações à soroterapia parece ser menor quando o antiveneno é administrado diluído. A diluição pode ser feita, a critério médico, na razão de 1:2 a 1:5, em soro fisiológico ou glicosado 5%, infundindo-se na velocidade de 8 a 12 mL/minuto, observando, entretanto, a possível sobrecarga de volume em crianças e em pacientes com insuficiência cardíaca. Prognóstico Geralmente é bom. A letalidade nos casos tratados é de cerca de 0,3%. Há possibilidade de ocorrer sequelas locais anatômicas ou funcionais quando a picada ocorre nas extremidades. LACHESIS - SURUCUCU Aspectos Gerais: Pertencentes ao gênero Lachesis. Compreende a espécie Lachesis muta com duas subespécies e, popularmente conhecidas por: surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo. Características: Maior serpente das Américas, podendo atingir até 3,5 metros. Possuem fosseta loreal (orifício entre o olho e a narina), escamas granulares, corpo alaranjado com manchas negras e cauda com escamas eriçadas. Encontradas em zonas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e em enclaves de matas úmidas do Nordeste. Acidentes são raros. Fisiopatologia e Manifestações Clínicas ● Ações do Veneno: possui ação proteolítica, coagulante, hemorrágica e neurotóxica. ● Ação proteolítica: os mecanismos que produzem lesão tecidual local parece ser os mesmos do veneno botrópico; ● Ação coagulante: ação tipo trombina; ● Ação hemorrágica: presença de hemorraginas; ● Ação neurotóxica: age através da estimulação vagal; Manifestações Locais: São semelhantes às descritas no acidente botrópico, predominando a dor e edema, que podem progredir para todo o membro; Vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico nas primeiras horas após o acidente; As manifestações hemorrágicas limitam-se ao local da picada; Manifestações Sistêmicas: ● Caracterizadas por síndrome vagal; ● Escurecimento da visão; ● Tonturas; ● Cólicas abdominais e diarreia; ● Hipotensão arterial; ● Bradicardia. Exames Complementares: ● Hemograma completo e plaquetas: leucocitose com neutrofilia. Plaquetopenia de consumo; ● Tempo de coagulação, PT, PTT: alargados; ● Ureia, creatinina e eletrólitos: podem estar alterados, dependendo das manifestações clínicas; ● CPK: pode estar elevada pela ação proteolítica do veneno; ● EAS: hematúria, proteinúria e hemoglobinúria. Os acidentes laquéticos são classificados como moderados e graves. Diagnóstico Diferencial: Os acidentes botrópico e laquético são muito semelhantes do ponto de vista clínico, sendo, na maioria das vezes, difícil o diagnóstico diferencial As manifestações da “síndrome vagal” irão auxiliar na distinção entre o acidente laquético e o botrópico, quando a cobra não é identificada. Tratamento Geral: ● Manter segmento picado elevado e estendido; ● Analgésico para alívio da dor; ● Hidratação venosa: controlar parâmetro pela diurese - 30 a 40 mL/hora no adulto; 1 a 2 mL/Kg/hora na criança; ● Reposição de eletrólitos, se necessário, na presença de diarreia e vômitos; ● Antibioticoterapia na presença de infecção local; ● Tratamento de suporte; ● Tratar as complicações locais. Específico: Soro antilaquético (SAL) ou antibotrópico-laquético (SABL), por via intravenosa, deverá ser utilizado de acordo com a presença de manifestações vagais. CROTALUS- CASCAVEL Aspectos gerais: Serpentes peçonhentas, pertencentes ao gênero Crotalus, espécie Crotalus durissus. Responsáveis por cerca de 7,7% dos acidentes ofídicos registrados no Brasil e da maior taxa de letalidade entre os acidentes ofídicos. Características do animal: Coloração marrom-amarelada e corpo robusto, medindo aproximadamente 1 metro. Possui fosseta loreal (orifício entre o olho e a narina) e apresenta caracteristicamente chocalho ou guizo na cauda. Não tem por hábito atacar e, quando ameaçada, vibra o chocalho emitindo ruído. São encontradas em campos abertos, áreas secas, arenosas, pedregosas e, raramente, na faixa litorânea. Não se localizam em florestas e no Pantanal. Fisiopatologia e Manifestações Clínicas ● Ações do veneno: peçonha crotálica é uma mistura complexa de proteínas e polipeptídeos responsáveis pelas ações neurotóxica, miotóxica e coagulante. ● Ação neurotóxica: Crotoxina é a neurotoxina pré-sináptica que age inibindo a liberação de acetilcolina na junção neuromuscular, causando paralisias motoras, incluindo paralisia da musculatura respiratória; ● Ação miotóxica: produz lesões em fibras musculares, gerando um quadro de rabdomiólise sistêmica e, consequentemente, mioglobinúria e insuficiência renal aguda (IRA); ● Ação coagulante: age na atividade da trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina. O consumo de fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea, porém as manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas. Quadro clínico: Manifestações locais: a dor pode estar ausente ou ser de pouca intensidade. Pode ocorrer parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, associado ou não a edema e eritema discretos no local da picada; Manifestações sistêmicas: ● Gerais: sudorese, vômitos, mal-estar, cefaleia, secura de boca, sonolência ou inquietação; ● Neurológicas: surgem nas primeiras horas após a picada e regridem 3 a 5 dias após o acidente. Caracterizada pela fácies miastênica evidenciada por ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face; oftalmoplegia, visão turva e/ou diplopia e midríase. Paralisia velopalatina, com dificuldade de deglutição, diminuição do reflexo do vômito, alterações do paladar e olfato, ocorrem com menor frequência; ● Musculares: mialgias generalizadas, rabdomiólise com mioglobinúria, que leva à necrose tubular aguda e, consequentemente, insuficiência renal aguda (principal complicação e causa de morte dos acidentes crotálicos); ● Distúrbios da coagulação: aumento do tempo de coagulação ou incoagulabilidade sanguínea (40% dos acidentes), sangramentos são raros e, geralmente, restritos à gengivorragia. Alterações laboratoriais: ● CK, LDH, AST e ALT elevadas devido à rabdomiólise; ● Leucocitose com neutrofilia; ● Ureia, creatinina, ácido úrico e potássio elevados e hipocalcemia na presença de insuficiência renal aguda; ● Tempo de coagulação alargado. Tratamento Geral: Limpeza e antissepsia local para evitar infecção secundária; Manter segmento picado elevado; Analgésico para alívio da dor; Hidratação adequada: fundamental para evitar insuficiência renal aguda, mantendo a diurese de 30 a 40 mL/hora no adulto e de 1 a 2 mL/kg/hora na criança; Diurese osmótica, induzida com manitol a 20% (5 mL/kg na criança e 100 mL no adulto) e alcalinização da urina com bicarbonato de sódio, mantendo o pH urinário acima de 6,5 com monitorização da gasometria arterial, estão indicados na presença de mioglobinúria, com o objetivo de diminuir a toxicidade renal e prevenir a insuficiência renal aguda; Na presença de oligúria está indicado o uso de diuréticos de alça, como a furosemida. E, na presença insuficiência renal aguda, deve se instalar um tratamento dialítico precoce; Antibioticoterapia na presençade infecção local; Específico: Soro anticrotálico (SAC), por via intravenosa, deve ser administrado o mais precocemente possível de acordo com a classificação do acidente. Na falta do SAC poderá ser utilizado soro antibotrópico-crotálico (SABC). A classificação do acidente crotálico quanto à gravidade e a soroterapia recomendada pelo Ministério da Saúde do Brasil. A frequência de reações à soroterapia parece ser menor quando o antiveneno é administrado diluído. A diluição pode ser feita, a critério médico, na razão de 1:2 a 1:5, em soro fisiológico ou glicosado 5%, infundindo-se na velocidade de 8 a 12 mL/min, observando, entretanto, a possível sobrecarga de volume em crianças e em pacientes com insuficiência cardíaca. ELAPIDAE - COBRA CORAL Aspectos gerais: Pertencentes à família Elapidae. O gênero Micrurus compreende 18 espécies, distribuídas por todo o território nacional. São serpentes venenosas e conhecidas popularmente por coral, coral-verdadeira ou boicorá. Existem serpentes não peçonhentas com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras e são denominadas falsas-corais. Características do animal: Apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos em qualquer tipo de combinação. Na região Amazônica e áreas limítrofes, são encontradas corais de cor marrom-escura (quase negra), com manchas avermelhadas na região ventral. Não possui a fosseta loreal ou lacrimal Atenção! Embora esta seja uma característica de cobras não venenosas, as corais são uma exceção. Não são agressivas e raramente causam acidentes. No entanto, são consideradas graves pelo alto risco de insuficiência respiratória. Fisiopatologia e Manifestações Clínicas Ações do veneno: é constituído por neurotoxinas que agem na junção neuromuscular de duas formas: ● Ação neurotóxica pós-sináptica: presentes em todos os venenos elapídicos, são rapidamente absorvidas e difundidas para todos os tecidos. As neurotoxinas competem com a acetilcolina nos receptores nicotínicos pós-sinápticos atuando de maneira semelhante ao curare. ● Ação neurotóxica pré-sináptica: bloqueia a liberação de acetilcolina impedindo a deflagração do potencial de ação. Esse mecanismo não pode ser antagonizado por substâncias anticolinesterásicas. Presente em apenas algumas corais (M. coralinus). Quadro clínico: Os sintomas podem surgir precocemente, em menos de uma hora após a picada. Paciente assintomático deve permanecer em observação clínica no por 24 horas, pois há relatos de aparecimento tardio dos sinais e sintomas. Manifestações locais: costumam ser discretas tendo em vista que o veneno é essencialmente neurotóxico. Marca das presas: podem ser encontrados dois ou mais pontos de inoculação, às vezes com o aspecto de arranhadura. É comum não encontrar marcas das presas, o que não afasta a possibilidade da inoculação da peçonha; Dor local discreta, geralmente acompanhada de parestesia com tendência à progressão proximal. Edema local é raro e, quando presente, costuma ser leve. Manifestações sistêmicas: o início das manifestações é variável e, de maneira geral, surgem poucas horas após o acidente (1-3 horas). Uma vez iniciadas, tendem a progredir e agravar caso não se institua o tratamento adequado. Caracterizada por síndrome miastênica aguda, semelhante à observada na miastenia gravis. ● Ptose palpebral bilateral, simétrica ou assimétrica, com ou sem limitação dos movimentos oculares, evoluindo para presença de fácies miastênica ou “neurotóxica; ● Dificuldade da acomodação visual, visão turva, evoluindo para diplopia; ● Oftalmoplegia, midríase, anisocoria e nistagmo; ● Dificuldade de deglutição e mastigação; ● Diminuição do reflexo do vômito e ptose mandibular; ● Dificuldade para se manter na posição ereta, para deambular, por diminuição da força muscular, podendo evoluir para paralisia dos membros; ● Dispneia restritiva e obstrutiva, respectivamente por paralisia da musculatura torácica intercostal e por acúmulo de secreções, podendo evoluir para paralisia diafragmática; Exames complementares: Não há exames específicos, a princípio, a serem solicitados. Nos pacientes com dificuldade respiratória, deve-se fazer a monitorização da saturação de oxigênio por oximetria de pulso e gasometria arterial. Tratamento Geral: Limpeza e antissepsia local para evitar infecção secundária; Analgésico para alívio da dor; Anticolinesterásicos: neostigmina na dose de 1-2 mg EV em adultos e de 0,01-0,04 mg/kg/EV em crianças. Em determinados casos, apenas uma dose é suficiente para a reversão completa dos sintomas. Havendo recorrência dos sintomas paralíticos, pode-se repetir a mesma dose, a cada 2-4 horas ou em intervalos menores; Atropina deve ser sempre empregada antes da administração da neostigmina. O objetivo é antagonizar os efeitos muscarínicos da acetilcolina, principalmente a broncorreia e a bradicardia. Específico: Em todos os acidentes por “corais-verdadeiras” com manifestações clínicas sistêmicas de envenenamento está formalmente indicado o soro elapídico (SAEl). As manifestações clínicas encontradas de acordo com a gravidade e as medidas terapêuticas recomendadas pelas novas diretrizes do Ministério da Saúde do Brasil (2017). SAEl EV: Soro antielapídico intravenoso. O soro antiveneno, diluído ou não, deve ser infundido em 20 a 60 minutos, sob estrita vigilância médica e da enfermagem. A frequência de reações à soroterapia parece ser menor quando o antiveneno é administrado de forma diluída. A diluição pode ser feita, a critério médico, na razão de 1:2 a 1:5, em soro fisiológico ou glicosado 5%, infundindo-se na velocidade de 8 a 12 mL/min, observando, entretanto, a possível sobrecarga de volume em crianças e em pacientes com insuficiência cardíaca. O uso de anti-histamínico e corticosteroides 15 minutos antes da administração do soro para prevenção de reação alérgica precoce é controverso, porém não é contraindicado e o seu uso fica a critério médico. 3- Citar os métodos de prevenção e primeiros socorros dos acidentes ofídicos Medidas iniciais: ● Higienização do local da picada, sem curativo oclusivo. ● Analgesia e tranquilização do paciente. ● Coleta de exames: HMG + U,Cr + eletrólitos + coagulograma + hepatograma + EAS + PCR + CK total + LDH. ● Medicação pré-soro. ● Soro específico com dose conforme a gravidade. ● Monitorização do paciente. ● Avaliação das complicações. ● Vacinação para tétano conforme o estado vacinal. Evitar torniquete, sucção, incisão e substâncias sobre o local da picada. Acidente Botrópico (Ofidismo) Administração precoce do Soro Antibotrópico (SAB) ou associações Antibotropicocrotálica (SABC) ou Antibotropicolaquética (SABL) por EV: Acidente leve: 2-4 ampolas EV; Acidente moderado: 4-8 ampolas EV; Acidente grave: 12 ampolas EV. Medidas gerais: ● Elevação e extensão do segmento picado. ● Analgesia para alívio da dor. ● Hidratação: manter a diurese de 30-40 mL/hora. ● Antibioticoterapia para Morganella morganii, Escherichia coli, Providentia e Enterococcus: ● Cloranfenicol 50-100 mg/kg/dia VO/EV de 6/6 horas; Ou associar: Clindamicina 450-900 mg EV de 8/8 horas + Gentamicina 5,1 mg/kg EV de 24/24 horas. ● Tratamento de complicações locais: Fasciotomia, debridamento de áreas necrosadas delimitadas e/ou drenagem de abscessos. Acidente Crotálico (Ofidismo) Administração precoce do Soro Anticrotálico (SAC) ou Soro Antibotropicocrotálico (SABC) por EV: Acidente leve: 5 ampolas EV; Acidente moderado: 10 ampolas EV; Acidente grave: 20 ampolas. Medidas gerais: Hidratação: Manter a diurese de 30 a 40 mL/hora; pode-se induzir a diurese osmótica com solução de manitol 20% (100 mL no adulto). Caso persista a oligúria, indica-se o uso de diuréticos de alça tipo furosemida por via endovenosa (40 mg/dose no adulto). Manter o pH urinário acima de 6,5 pela alcalinação da urina com a administração parenteral de bicarbonato de sódio, monitorizada por gasometria arterial. Acidente Laquético (Ofidismo) Administração precoce do Soro Antilaquético (SAL) ou Soro Antibotropicolaquético(SABL) por EV: 10-20 ampolas EV. Medidas gerais: ● Elevação e extensão do segmento picado. ● Analgesia para alívio da dor. ● Hidratação: manter a diurese de 30-40 mL/hora. ● Antibioticoterapia para Morganella morganii, Escherichia coli, Providentia e Enterococcus: ● Cloranfenicol 50-100 mg/kg/dia VO/EV de 6/6 horas; ● Ou associar: Clindamicina 450-900 mg EV de 8/8 horas + Gentamicina 5,1 mg/kg EV de 24/24 horas. ● Tratamento de complicações locais: Fasciotomia, debridamento de áreas necrosadas delimitadas e/ou drenagem de abscessos. Acidente Elapídico (Ofidismo) Administração precoce do Soro Antielapídico (SAE) ou Soro Antibotropicolaquético (SABL) por EV: 10 ampolas. Medidas gerais: Se sinais de insuficiência respiratória, intubação traqueal e ventilação mecânica + uso de anticolinesterásicos: Neostigmina 1 ampola EV em dose única. Dose de manutenção: 0,05-0,1 mg/kg EV de 4/4 horas (ou intervalos menores); Precedida da administração de Atropina 0,5 mg EV. 4- Esclarecer como ocorre o serviço de notificação compulsória Acidentes por animais peçonhentos e, em particular, os acidentes ofídicos foram incluídos, pela Organização Mundial da Saúde, na lista das doenças tropicais negligenciadas que acometem, na maioria dos casos, populações pobres que vivem em áreas rurais. Em agosto de 2010, o agravo foi incluído na Lista de Notificação de Compulsória (LNC) do Brasil, publicada na Portaria Nº 2.472 de 31 de agosto de 2010. Essa importância se dá pelo alto número de notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), sendo acidentes por animais peçonhentos um dos agravos mais notificados. A partir das análises dos dados do SINAN, a vigilância epidemiológica é capaz de identificar o quantitativo de soros antivenenos a serem distribuídos às Unidades Federadas, além de determinar pontos estratégicos de vigilância, estruturar as unidades de atendimento aos acidentados, elaborar estratégias de controle desses animais. LINK DE ACESSO: http://portalsinan.saude.gov.br/images/icon_pdf.png 5- Compreender a fisiopatologia da síndrome compartimental Síndrome compartimental Consiste na pressão aumentada do tecido dentro de um compartimento fascial apertado, o que resulta em isquemia do tecido. O primeiro sintoma consiste em dor exagerada, proporcional ao grau da lesão. Em geral, diagnóstico é dado pela medida da pressão compartimental. O tratamento consiste em fasciotomia. Ela é uma cascata de eventos que se autoperpetua. Inicia com o edema do tecido que normalmente ocorre após a lesão (por edema ou hematoma de partes moles). Se o edema ocorre dentro do compartimento fascial, normalmente, no compartimento anterior ou posterior da perna, há pouco espaço para expansão do tecido; dessa maneira, a pressão intersticial (compartimental) aumenta. À medida que a pressão compartimental excede a pressão capilar normal de cerca de 8 mmHg, a perfusão celular desacelera e com o tempo pode parar (8 mmHg é muito menor que a pressão arterial, o fluxo celular pode estar ocluído bem antes do pulso desaparecer). Conforme a isquemia progride, os músculos tornam-se necrosados, o que leva, às vezes, à rabdomiólise, infecções e hipercalemia, ameaçando a perda do membro e podendo levar ao óbito, caso não seja tratada. Hipotensão ou insuficiência arterial pode comprometer a perfusão tecidual mesmo com pressão compartimental levemente elevada, causando ou piorando a síndrome compartimental. Podem aparecer contraturas depois da cicatrização dos tecidos necrosados. Ela é fundamentalmente uma doença dos membros, sendo mais comum na parte inferior da perna e no antebraço. No entanto, a síndrome compartimental também pode ocorrer em outros locais (braço, no abdome e na região glútea). Etiologia Fraturas ● Contusões graves ou lesões por esmagamento ● Lesão de reperfusão após lesão vascular e reparo Causas raras incluem mordidas de cobra, queimaduras esforço severo, superdosagem de droga (heroína, cocaína), gesso, curativos apertados e outros fechamentos rígidos que limitem o edema e, assim, aumentem a pressão compartimental. A pressão prolongada de um músculo durante o coma pode causar rabdomiólise. Sinais e sintomas: O primeiro sintoma é ➢ Piora da dor É tipicamente desproporcional à gravidade da lesão aparente, sendo agravada por estiramento passivo dos músculos no interior do compartimento (no compartimento anterior da perna, por flexão plantar passiva do tornozelo e flexão do pododáctilo, o que estira os músculos do compartimento anterior). A dor, é um dos sintomas da isquemia do tecido, é seguida de outros quatro: parestesia, paralisia, palidez e pulso ausente. Os compartimentos podem estar tensos à palpação. Tratamento Fasciotomia O tratamento inicial é a remoção de estrutura que possa comprimir a região (gesso ou tala) do membro, ➢ a correção da hipotensão, a analgesia e a administração de oxigênio suplementar conforme necessário. Normalmente, a menos que a pressão compartimental caia rapidamente e os sintomas diminuam, é necessário fazer uma fasciotomia de urgência. A fasciotomia deve ser feita através de grandes incisões na pele para abrir todos os compartimentos da fáscia no membro e, assim, aliviar a pressão. Deve-se inspecionar cuidadosamente todos os músculos em termos de viabilidade, e qualquer tecido não viável deve ser desbridado. ➢ A amputação é indicada se a necrose for extensa. Pontos-chave ● Depois do início do processo que desencadeia a síndrome compartimental, a síndrome tende a se agravar. ● Considerar síndrome compartimental se a dor parecer desproporcional à gravidade da lesão e aumentar por estiramento muscular passivo dos músculos no interior do compartimento, ou se o compartimento estiver tenso. ● Medir a pressão compartimental para confirmar o diagnóstico; um resultado de mais de 30 mmHg ou cerca de 30 mmHg da pressão diastólica confirma. ● A menos que o quadro regrida rapidamente após o tratamento inicial, deve-se fazer a fasciotomia o mais rápido possível.
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