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[GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes PROBLEMA 06 – ANIMAIS PEÇONHENTOS – ENFERMIDADES - Animais Peçonhentos - animais que produzem peçonha/veneno na glândula venenosa e que apresentam condições naturais para injetá-las nas presas ou nos predadores, a partir de estruturas perfurantes, como dentes modificados, agulhão, ferrão, quelíceras, cerdas urticantes e nematocistos, ou seja, provocam acidentes ativos, buscando matar ou imobilizar a presa – ex.: serpentes, escorpiões, aranhas, lepidópteros (mariposas), himenópteros (abelhas, formigas e vespas), coleópteros (besouros), quilópodes (lacraias), peixes e cnidários (águas-vivas e caravelas); - Animais Venenosos – não apresentam condições para injetar o veneno na presa, podendo causar o envenenamento passivo, uma vez que o veneno pode ser retido no organismo ou brotar na superfície cutânea, assim o envenenamento ocorre a partir do contato (água-viva e lagarta), ingestão (mexilhão e peixe baiacu) ou compressão (sapo); - Veneno – mistura complexa de toxinas, enzimas e peptídeos sintetizados em glândulas venenosas especializadas, servindo como mecanismo de ataque ou defesa, visto que ao ser introduzido na vítima, provoca reações locais e sistêmicas; - Os acidentes envolvendo venenos de origem animal são um importante problema de saúde pública nos países tropicais e subtropicais, inclusive no Brasil, que apresenta cerca de 30 mil casos anuais de acidentes por serpentes, aranhas e escorpiões; - Ocorreram 173.630 acidentes por animais peçonhentos no Brasil em 2018, causados predominantemente por escorpiões (57%), seguidos de aranhas (17%) e cobras (15%); - Seus acidentes apresentam baixa letalidade, sendo os acidentes ofídicos os de maior letalidade; - Ocorrem predominantemente em Minas Gerais e São Paulo, principalmente nos meses de outubro a abril, ou seja, período mais quente em que os animais se encontram mais ativos; ACIDENTE OFÍDICO - Acidente causado pela mordedura de serpente peçonhenta, utilizando presas inoculadoras de peçonha; - Pode ser com ou sem envenenamento; - Associa-se a alterações locais na região da picada e sistêmicas, sendo que a maioria das picadas causam apenas traumatismo local, com dor, edema e equimose; - Apresentam grande importância médica, devido à sua frequência e à sua gravidade; - Seu diagnóstico é clínico-epidemiológico, não realizando exame laboratorial para confirmação do tipo de peçonha circulante; **pode ocorrer uma picada seca, com ponto de inoculação, mas sem inoculação de veneno, permanecendo assintomático** 1. EPIDEMIOLOGIA - Ocorrem cerca de 30 mil acidentes ofídicos por ano, sendo que 85% desses são causados por cobras peçonhentas; - O Brasil apresenta coeficiente de incidência de 13,5 acidentes/100.000 habitantes; - Ocorrem em sua maioria no Norte e Nordeste, com maior número de notificações no Pará; - A sua ocorrência se relaciona com fatores climáticos e com o aumento da atividade humana nos trabalhos no campo; - Sazonalidade – nos períodos de calor e chuva (setembro a março), as serpentes apresentam maior atividade metabólica, ocorrendo mais acidentes; - Mais predominantes em áreas rurais (78%), acometendo pessoas entre os 15 e os 45 anos (52,3%), do sexo masculino (70%); - O pé e a perna são atingidos em 70,8% dos acidentes, acometendo a mão e o antebraço em apenas 13,4% - reforça a necessidade do uso de equipamentos individuais de proteção (EPI), como botas e luvas de couro, nas atividades rurais, para a redução dos acidentes; - Sua letalidade varia conforme a região, mas em geral é inferior a 1%, estando associada a demora do atendimento médico e soroterápico; 2. IDENTIFICAÇÃO DAS SERPENTES - Importância: (1) possibilita a dispensa imediata dos pacientes picados por serpentes não peçonhentas; (2) viabiliza o reconhecimento das espécies de importância médica regional; (3) auxilia na indicação mais precisa do soro antiveneno; - Formas de Reconhecimento da Serpente: físico, descritivo, epidemiológico e critérios clínicos; - Reconhecimento Físico – o animal morto deve ser conservado pela imersão em solução de formalina a 10% ou em álcool comum, com frasco rotulado com os dados do paciente e a procedência - quando possível deve ser encaminhado para identificação por técnico treinado; - O reconhecimento por critérios clínicos é o que orienta a conduta na maioria dos acidentes; - Existem 4 principais tipos de serpentes peçonhentas no Brasil, sendo eles, em ordem decrescente de gravidade: crotálico, laquético, botrópico e elapídico; - Alguns dos outros diversos gêneros de menor importância médica, que causam acidentes de menor gravidade, são: Phylodrias (cobra-verde e cobra cipó), Clelia (muçurana e cobra-preta), Oxyrhopus (falsa-coral), Waglerophis (boipeva) e Helicops (cobra-d’água); **família Boidae – inclui a sucuri e a jiboia – os acidentes causados por essas não causam envenenamento** a. COBRA PEÇONHENTA [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes - Fosseta Loreal – orifício situado entre o olho e a narina, que representa um órgão sensorial termorreceptor, sendo responsável pela percepção das variações mínimas de temperatura, de modo a ser útil para detectar presas e predadores – é encontrado nos gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis, apresentando como exceção o gênero Micrurus (cobra coral); - Dentes Inoculadores – são bem desenvolvidos, móveis, localizados na porção anterior do maxilar e altamente especializados em inoculação da peçonha (dentição solenóglifa – forma um tubo por onde escorre a peçonha)– no gênero Micrurus (cobra coral), os dentes inoculadores são pouco desenvolvidos e fixos na região anterior da boca; - Cauda – (Bothrops) cauda lisa; (Crotalus) chocalho; (Lachesis) escamas eriçadas; 3. BOTRÓPICO - Causado por serpentes dos gêneros Bothrops e Bothrocophias, incluindo cerca de 30 espécies do território nacional, como a jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca do rabo branco, malha de sapo, patrona, surucucurana, combóia e caiçara; - Habitam zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos, como matas, áreas cultivadas e locais com facilidade de proliferação de roedores (armazéns, paióis, celeiros e depósitos de lenha); - Apresentam hábitos noturnos e comportamento agressivo se ameaçada, realizando botes sem produzir ruídos; - É o de maior importância e distribuição entre os acidentes ofídicos no Brasil, sendo responsável por 90% dos envenenamentos; a. AÇÕES DO VENENO - Ação Proteolítica – a atividade de proteases, hialuronidases e fosfolipases, a liberação de mediadores da resposta inflamatória, a ação das hemorraginas sobre o endotélio vascular e a ação pró-coagulante do veneno desencadeiam liponecrose, mionecrose e lise das paredes vasculares, causando edema, bolhas e necrose local – apresenta relação direta com a quantidade de veneno inoculado; - Ação Coagulante – (incoagulabilidade sanguínea) o veneno ativa a protombina, que convertem fibrinogênio em fibrina, de modo a consumir os fatores de coagulação e gerar produtos de degradação de fibrina e fibrinogênio, causando distúrbios de coagulação, como a incoagulabilidade sanguínea; (coagulação intravascular disseminada) o veneno ativa o fator X, ocasionando o consumo dos fatores V, VII e de plaquetas, de modo a gerar um quadro de coagulação intravascular disseminada, com formação e deposição de microtrombos na rede capilar, podendo contribuir para a insuficiência renal aguda; - O veneno pode alterar a função plaquetária, causando plaquetopenia; - Ação Hemorrágica – as hemorraginas provocam lesão na membrana basal dos capilares, que associadas à plaquetopenia e às alterações da coagulação, geram as manifestações hemorrágicas locais ou sistêmicas; **edema no local da picada – deve-se à lesão tóxica no endotélio vascular, podendo gerar edema maciço no membro 48 a 72h após o acidente** - Choque –pode ser relacionado à hipovolemia (perda de sangue ou plasma), ativação de substâncias hipotensoras, edema pulmonar e coagulação intravascular disseminada; - Insuficiência Renal – a formação de microtrombos pelas ações coagulantes e vasculotóxicas podem provocar isquemia renal com obstrução da microcirculação - pode ser relacionado à ação direta ou secundária a complicações com presença de choque; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Manifestações Locais (conforme a evolução): dor (instalação precoce e progressiva), equimose (pode progredir ao longo do membro acometido), edema endurado (primeiras horas), eritema discreto, marca de picada, sangramento no ponto da picada (nem sempre visível), linfadenite, cianose, equimose, bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico, enfartamento ganglionar e abscesso – pode apresentar complicações como necrose e infecção secundária, que podem se associar à amputação e/ou ao déficit funcional do membro; - Manifestações Sistêmicas: sangramentos em pele e mucosas (gengivorragia, sangramento em ferimento cutâneo preexistente, equimose a distância do local da picada), epistaxe, hematúria, hematêmese, hemorragias em outras cavidades, hipotensão (deve-se ao sequestro de líquido no membro picado ou hipovolemia devido ao sangramento), náuseas, vômitos, sudorese, insuficiência renal aguda e choque; **acidentes com filhotes de jararaca - podem não apresentar sintomas locais significativos, mas podendo gerar graves distúrbios de coagulação- como podem ser confundidos com acidentes por filhotes de cascavel (indicado pelo aumento gradativo de CK), deve-se evitar drogas intramusculares, realizando exames de controle (fibrinogênio, coagulograma, hemograma, CK total, inograma e função renal) de 6/6h em pacientes sintomáticos e a cada 12h após soro** Complicações - Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) – sua ocorrência depende da quantidade de veneno inoculada e do estresse agudo devido ao pânico – os mediadores liberados por macrófagos, mastócitos, neutrófilos e endoteliócitos atingem: (hipotálamo) gera anorexia, febre e sonolência; (hipófise) aumento dos níveis séricos de ACTH e glicocorticoides; (músculos esqueléticos) acelera o catabolismo e eleva os níveis séricos de ureia e creatinina; (fígado) eleva as proteínas positivas da fase aguda (proteína C-reativa e haptoglobina) e reduz as proteínas negativas (albumina e transferrina); (medula óssea) provoca neutrofilia; (parede vascular) aumenta a permeabilidade; - Síndrome Compartimental – compressão do feixe vásculo-nervoso, devido ao grande edema presente no membro atingido, gerando isquemia de extremidades – manifesta-se com dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor – rara; - Abscesso – o veneno botrópico apresenta ação proteolítica que favorece o aparecimento de infecções locais, causadas pelos germes patogênicos que provém da boca do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento – comumente causados por bactérias gram-negativos, anaeróbios – ocorre em 10 a 20% dos casos; - Necrose – causada pela ação proteolítcia do veneno, associada à isquemia local decorrente da lesão vascular e de outros fatores, como infecção, trombose arterial, síndrome de compartimento ou uso indevido de torniquetes – ocorre mais frequentemente nas extremidades, podendo evoluir para gangrena; - Choque – apresenta patogênese multifatorial, relacionada à liberação de substâncias vasoativas, sequestro de líquido na área do edema e perdas por hemorragias – raro; - Injúria Renal Aguda (IRA) – apresenta patogênese multifatorial, relacionada à ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária à deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque; - Letalidade de 0,3%; Classificação da Gravidade do Acidente - Acidente Leve – dor e edema local pouco intenso ou ausente, manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes, com ou sem alteração do tempo de coagulação (pode ser o único elemento diagnóstico) – forma mais comum do envenenamento, normalmente causado por filhote de Bothrops (< 40 cm); - Acidente Moderado – dor e edema evidente ultrapassando o segmento anatômico picado, presença ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas; - Acidente Grave – (quadro local) dor intensa, presença de bolhas e edema local endurado intenso e extenso, que pode atingir todo o membro, gerando sinais de isquemia local, devido à compressão dos feixes vásculo-nervosos; (quadro sistêmico) hipotensão arterial, choque, oligoanúria ou hemorragia intensa, definindo o caso como grave, independente do quadro local; c. DIAGNÓSTICO - Tempo de Coagulação (TC) – empregado para confirmação diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia; - Hemograma – comumente indica leucocitose com neutrofilia, desvio à esquerda, hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de intensidade variável; - Exame Sumário de Urina – proteinúria, hematúria e leucocitúria; - Outros exames laboratoriais podem ser solicitados dependendo da evolução clínica do paciente; - A insuficiência renal aguda pode ser identificada pela dosagem dos eletrólitos, uréia e creatinina; - Métodos de Imunodiagnóstico (ELISA) – detecta antígenos do veneno botrópico no sangue e em outros líquidos corporais; - Diagnóstico Diferencial com o Tipo Bothrops – identificação do animal ou a partir do desenvolvimento de manifestações vagais, características do tipo laquético; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes d. TRATAMENTO Tratamento Geral - O membro acometido deve ser mantido elevado e estendido; - Emprego de analgésico para alívio da dor; - Hidratação – paciente mantido hidratado, com diurese entre 30 e 40 ml/hora no adulto e 1 a 2 ml/kg/hora na criança; - Antibioticoterapia – indicado quando houver evidência de infecção – geralmente utiliza-se cloranfenicol ou a associação de clindaminicia com aminoglicosídeo; - Suporte, repouso, elevação do membro; Tratamento Específico - Soro Antibotrópico (SABr) – indicado prioritariamente nos acidentes botrópicos; - Soro Antibiotrópico e Antilaquético (SABL) – indicado para os acidentes laquéticos, na impossibilidade de diferenciação entre o botrópico e o laquético ou em acidente botrópico na falta do SABr; - Soro Antibotrópico e Anticrotálico (SABC) – indicado no tratamento de acidentes botrópicos ou crotálicos, em caso de impossibilidade de diferenciação entre os acidentes ou na falta de SABr e SACr; - O soro deve ser administrado o mais precocemente possível, por via intravenosa; - Se o tempo de coagulação permanecer alterado após 24h de soroterapia, indica-se dose adicional de 2 ampolas de antiveneno; - Monitorização contínua durante a aplicação do soro; - Sinais de Anafilaxia: urticária, náuseas, vômitos, rouquidão, estridor, broncoespasmo e hipotensão – podem ocorrer durante a aplicação do soro; - Reações Tardias: doença do soro, urticária, febre, adenomegalia – surgem 4 semanas após a administração do soro; Tratamento Complicações Locais - Fasciotomia – indicada quando houver síndrome de compartimento, podendo ser indicado transfusão sanguínea, plasma fresco congelado e crioprecipitado; - Debridamento de áreas necrosadas delimitadas e a drenagem de abscessos; - Cirurgia Reparadora – deve ser considerada em caso de perdas extensas de tecidos; 4. CROTÁLICO - Causado por serpentes do gênero Crotalus, como a cascavel, cascavel quatro ventas, boicininga, maracá, maracambóia; - Corresponde a 7,7% dos acidentes ofídicos no Brasil, mas apresenta maior coeficiente de letalidade devido à maior frequência de evolução para a insuficiência renal aguda (IRA); - Habitam áreas secas, arenosas e pedregosas, geralmente em campos abertos, não ocorrendo emflorestas e Pantanal; - Atacam quando extremamente excitadas, não atacando por hábito; - Apresentam o ruído do chocalho, permitindo seu reconhecimento; a. AÇÕES DO VENENO - Ação Neurotóxica – a crotoxina é uma neurotoxina de ação pré-sináptica, que atua nas terminações nervosas, inibindo a liberação de acetilcolina, de modo a causar o bloqueio neuromuscular gerador das paralisias motoras e respiratória; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes - Ação Miotóxica Sistêmica – a crotoxina e a crotamina apresentam ação mitotóxica, que produz lesões de fibras musculares esqueléticas (rabdomiólise), com liberação de enzimas e mioglobina para o soro, sendo essas posteriormente excretadas pela urina – ocasiona elevação dos níveis séricos de creatinina quinase (CK), desidrogenase láctica (DHL) e aspartato aminotransferase (AST); - Ação Coagulante – a atividade do tipo trombina converte o fibrinogênio em fibrina, assim o consumo de fibrinogênio, pode ocasionar a incoagulabilidade sanguínea; **como geralmente não há redução do número de plaquetas, quando ocorre manifestações hemorrágicas essas são discretas** - Ação Nefrotóxica – (indireta) a mioglobinúria causa obstrução tubular pelos cilindros de mioglobina; (direta) o miopigmento gera lesão tóxica dos túbulos – a rabdomiólise associa-se a fatores como desidratação, hipotensão arterial, acidose metabólica e choque, que podem contribuir para a instalação da lesão renal; - Ação Hepatotóxica – as análises microscópicas do fígado mostram lesões mitocondriais, com edema, desaparecimento das cristas, rarefação da matiz e perda do conteúdo mitocondrial – essas lesões podem provocar necrose do tecido hepático, tornando-se irreversível; b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Manifestações Locais: dor de pequena intensidade ou ausente, edema discreto, eritema no ponto de picada e parestesia local ou regional (persiste por tempo variável) – discretos e restritos ao local da picada; - Manifestações Sistêmicas Gerais: mal-estar, prostração, sudorese, náuseas, vômitos, sonolência, inquietação e secura da boca – aparece precocemente, permanecendo por 1 a 2 horas – pode se relacionar a estímulos de diversas origens, como o medo e a tensão emocional do acidente; - Manifestações Sistêmicas Neurológicas: fácie miastênica (fácie neurotóxica de Rosenfeld), com ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, alteração do diâmetro pupilar, incapacidade de movimentação do globo ocular (oftalmoplegia), visão turva (dificuldade de acomodação), diplopia (visão dupla), paralisia velopalatina, dificuldade de deglutição, diminuição do reflexo do vômito, alterações do paladar e olfato – surgem nas primeiras horas após a picada, devido à ação neurotóxica do veneno - manifestações neuroparalíticas com progressão craniocaudal, que regridem lentamente – exame neurológico: hiporreflexia global, comprometimento do par craniano II, III, IV e VI; - Manifestações Sistêmicas Musculares: mialgia (dor muscular generalizada), insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisias dos grupos musculares, mioglobinúria (a lesão da fibra muscular libera mioglobina), causando urina de cor avermelhada até o marrom (cor de coca- cola) entre 24 e 48h após o acidente; - Distúrbios de Coagulação – cerca de 40% dos pacientes apresentam incoagulabilidade sanguínea ou aumento do tempo de coagulação, gerando gengivorragia; Complicações - Parestesia Local – ocorre de forma duradora, mas é reversível após algumas semanas; - Injúria Renal Aguda (IRA) – ocorre com necrose tubular, de instalação nas primeiras 48 horas – principal complicação do acidente crotálico; Classificação da Gravidade do Acidente - Acidente Leve – sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de aparecimento tardio, sem mialgia ou com mialgia discreta; - Acidente Moderado – sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de instalação precoce, mialgia discreta e urina com coloração alterada; - Acidente Grave – sinais e sintomas neurotóxicos evidentes e intensos, com fácies miastênicas, fraqueza muscular, mialgia intensa e generalizada e urina escura; c. DIAGNÓSTICO - Alterações Laboratoriais: valores séricos elevados de creatinoquinase (CK – ocorre de forma precoce, com pico máximo em 24h após o acidente), desidrogenase lática (LDH – aumento mais lento e gradual, permitindo o diagnóstico tardio) aspartase amino transferase (AST), aspartase alanino transferase (ALT) e aldolase – causados pela liberação de mioglobina e enzimas; - Alterações Laboratoriais na Fase Oligúrica da Insuficiência Renal Aguda – elevação dos níveis de uréia, creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio e diminuição da calcemia; - Tempo de Coagulação (TC) – prolongado - empregado para confirmação diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia; - Alterações no hemograma – leucocitose com neutrofilia, desvio à esquerda e granulações tóxicas; - Exame de Urina – sedimento normal quando não há IRA, com proteinúria discreta, ausência de hematúria, presença de mioglobina (detectada pelo teste de benzidina, pelas tiras reagentes para uroanálise, por métodos específicos imunoquímicos); d. TRATAMENTO - Apresenta bom prognóstico nos acidentes leves e moderados e nos pacientes atendidos nas primeiras 6 horas após a picada; - Os acidentes graves apresentam prognóstico vinculado à existência de IRA, sendo mais reservado quando ocorre necrose tubular aguda de natureza hipercatabólica; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes Tratamento Geral - Hidratação vigorosa – busca prevenir a insuficiência renal aguda, sendo satisfatória se o paciente manter débito urinário de 1 a 2 ml/kg/hora na criança e de 30 a 40 ml/hora no adulto; - Solução de Manitol a 20% - induz a diurese osmótica, empregando 5ml/kg na criança e 100ml no adulto; - Diurético de Alça – furosemida por via intravenosa, 1mg/kg/dose na criança e 40 mg/dose no adulto – indicado caso persista a oligúria; - Bicarbonato – busca manter o pH urinário > 6,5, pois a urina ácida potencia a precipitação intratubular da mioglobina; - Correção dos distúrbios hidroeletrolíticos; Tratamento Específico - Soro Anticrotálico (SAC) – administrado intravenosamente, com dose variando de 5 a 20 ampolas conforme o quadro, sendo essa igual na criança e no adulto; - Soro Antibotrópico-Crotálico (SABC) – pode ser utilizado; 5. LAQUÉTICO - Causado por serpentes do gênero Lachesis, como surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucucu-de-fogo, malha de fogo e surucutinga; - Maior serpente peçonhenta das américas, atingindo até 3,5 metros, podendo estar presente na Amazônia, Mata-Atlântica e nas matas úmidas do Nordeste; - Como as serpentes são encontradas em áreas florestais, onde a densidade populacional é baixa e o sistema de notificação não é tão eficiente, existem menor número de casos relacionados a esses acidentes – cerca de 2% dos casos; a. AÇÕES DO VENENO - São serpentes de grande porte, injetando potencialmente grande quantidade de veneno; - Ação Proteolítica – seus mecanismos que produzem lesão tecidual são os mesmos do veneno botrópico; - Ação Coagulante – deve-se à fração do veneno com atividade tipo trombina; - Ação Hemorrágica – o veneno de Lachesis muta muta apresenta intensa atividade hemorrágica, relacionada à presença de hemorraginas; - Ação Neurotóxica – apresenta ação do tipo estimulação vagal, manifestando-se com bradicardia, diarreia, hipotensão arterial e choque; b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Manifestações locais e sistêmicas idênticas ao quadro do acidente botrópico; - Manifestações Locais: reação inflamatória intensa, edema, dor local que pode progredir para todo o membro, equimose, vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico e eventos hemorrágicos no local da picada; - Manifestações Sistêmicas Adicionais: alterações vagais, como náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarreia, hipotensão arterial, tonturas,escurecimento de visão, bradicardia e choque; Complicações - Pode apresentar as mesmas complicações locais do acidente botrópico, ou seja, abscesso, necrose, síndrome compartimental, infecção secundária e déficit funcional; Classificação da Gravidade do Acidente - Classifica-se em acidente moderado e grave, conforme a gravidade dos sinais locais e das manifestações sistêmicas; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes c. DIAGNÓSTICO - Tempo de Coagulação (TC) – empregado para confirmação diagnóstica e avaliação da eficácia da soroterapia – alterações na coagulometria surgem 30 minutos após a picada; - Outros exames que podem ser indicados conforme a evolução: hemograma, dosagens de uréia, creatinina e eletrólitos; - Eletrocardiograma Seriado – demonstra as alterações causadas pelo bloqueio neuromuscular irreversível; - Diagnóstico Diferencial com o Tipo Bothrops – identificação do animal ou a partir do desenvolvimento de manifestações vagais, características do tipo laquético; d. TRATAMENTO - Tratamento geral – medidas indicadas para o acidente botrópico; - Estabilização Hemodinâmica – volume, atropina e inotrópico – impede o choque; - Soro Antilaquético (SAL); - Soro Antibiotrópico e Antilaquético (SABL) – indicado para os acidentes laquéticos; **em acidentes laquéticos com ausência de soros específicos, o tratamento pode ser realizado com soro antibotrópico, mesmo que este não neutralize de maneira eficaz a ação coagulante do veneno laquético** - Monitorização obrigatória por 72h, devido à possibilidade de desenvolver hipotensão tardia após a 16ª hora, HDA, trombose mesentérica e AVC; 6. ELAPÍDICO - Corresponde a 0,4% dos acidentes com serpentes peçonhentas no Brasil, sendo o mais raro; - Causado por serpentes dos gêneros Micrurus e Leptomicrurus, como a coral- verdadeira/boicorá; - São animais de pequeno e médio porte, com tamanho em torno de 1 metro, que não apresentam fosseta loreal; - Apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos, em qualquer tipo de combinação; - Cobra Coral Falsa – serpente não peçonhenta, com o mesmo padrão de colocação das corais verdadeiras, mas desprovidas de dentes inoculadores – características: barriga branca e anéis levemente diferentes da verdadeira, que muitas vezes não envolvem toda a circunferência do corpo; - Comuns na região amazônica, podendo se encontrar corais de cor marrom-escura, com manchas avermelhadas na região ventral; a. AÇÕES DO VENENO - Neurotoxina de Ação Pós-Sináptica - a 3Ftx (three fingers toxins) é rapidamente absorvida pela circulação sistêmica e difundida para os tecidos, devido ao seu baixo peso molecular, atingindo a fenda pós-sináptica da junção neuromuscular, onde compete com a acetilcolina pelos receptores colinérgicos, ou seja, atua de forma semelhante ao curare – pode-se empregar substâncias anticolinesterásticas para prolongar a vida média da acetilcolina, melhorando a sintomatologia; - Neurotoxina de Ação Pré-Sináptica – a Fosfolipase A2 age na fenda pré-sináptica da junção neuromuscular, bloqueando a liberação de acetilcolina pelos impulsos nervosos, de modo a impedir a deflagração do potencial de ação – antagonizado pelas substâncias anticolinesterásicas; - Ação neurotóxica – capaz de ocasionar a síndrome da excitação vagal; b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Apresenta espectro amplo, variado conforme o tempo de exposição; - Os sintomas surgem precocemente, em menos de 1 hora de picada, mas devido à possibilidade de aparecimento tardio, os pacientes devem ser mantidos em observação por 24 horas; - Manifestações Locais: dor e parestesia discreta na região da picada, sem lesões evidentes; - Manifestações Sistêmicas: náuseas, vômitos, sudorese, fraqueza muscular progressiva, fácies miastênica ou neurotóxica, com ptose palpebral, oftalmoplegia, dificuldade para manutenção da posição ereta, mialgia localizada ou generalizada, paralisia do véu palatino (dificuldade para deglutir) e paralisia dos músculos respiratórios; Complicações - Insuficiência Respiratória Aguda – a paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a ventilação, podendo evoluir para insuficiência respiratória aguda e apnéia - pode ser imediata ou em 24h – costuma ser a causa de óbito neste tipo de envenenamento, podendo ocasioná-lo nas primeiras 5h; Classificação da Gravidade do Acidente - Todos os casos de acidente por coral com manifestações clínicas são considerados potencialmente graves; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes c. TRATAMENTO Tratamento Geral - Manifestações Clínicas de Insuficiência Respiratória – mantém o paciente ventilado por máscara e AMBU, intubação traqueal e AMBU ou ventilação mecânica; - Atropina – antagonista competitivo dos efeitos muscarínicos da acetilcolina - bloqueia os efeitos muscarínicos da acetilcolina, como a bradicardia e a hipersecreção – administrada antes da neostigmina, na dose de 0,05 mg/kg para crianças e 0,5 mg para adultos, em via intravenosa; - Anticolinesterásicos – como neostigmina – age prolongando a vida da acetilcolina, revertendo rapidamente o quadro respiratório e com ação pós-sináptica - indicada quando o veneno apresenta ação exclusivamente pós-sináptica – (teste) 0,05 mg/kg em crianças ou 1 ampola no adulto, por via intravenosa, com melhora do quadro neurotóxico nos primeiros 10 minutos; (terapêutica) se o paciente apresentar resposta, esse medicamento é mantido, com dose de manutenção de 0,05 a 0,1 mg/kg, intravenoso, a cada 4 horas ou em intervalos menores, precedida da administração de atropina; Tratamento Específico - Soro Antielapídico (SAE) – administrado por via intravenosa, na dose de 10 ampolas, para todos os acidentes; 7. COLUBRIDAE - Essa família inclui espécies do gênero Philodryas (P. olfersii, P. viridissimus e P. patogoniensis - cobra cipó ou cobra verde) e Clelia (C. clelia plúmbea – muçurana ou cobra preta); - A maioria desses acidentes não apresentam importância, pois causam ferimentos superficiais da pele, sem inoculação da peçonha, porém existem alguns relatos de quadro clínico de envenenamento; - Apresentam dentes inoculadores na porção posterior da boca (dificulta acidentes com alterações clínicas) e não apresentam fosseta loreal; - Para injetar o veneno mordem e se prendem ao local; a. AÇÕS DO VENENO - Seu veneno apresenta atividades hemorrágicas, proteolíticas, fibrinogenolítica e fibrinolítica, estando ausente as frações coagulantes; b. QUADRO CLÍNICO - Manifestações Locais: edema local, equimose e dor – semelhante aos acidentes botrópicos, mas sem alteração da coagulação; - Não apresenta complicações; c. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL - O tempo de coagulação pode ser útil para diferenciar envenenamentos botrópicos e laquéticos, uma vez que não se altera nos acidentes colubrídeos; d. TRATAMENTO - Realiza-se tratamento sintomático; - Estuda-se o emprego do soro antibotrópico, sugerindo antígenos comuns aos venenos, porém sem maiores conclusões sobre os benefícios da sua utilização; 8. TRATAMENTO a. CONDUTA INICIAL - Lavar o local da picada com água e sabão; - Manter paciente em decúbito; - Hidratação adequada; - Transportar o paciente para local com soro antiveneno e levar o animal se disponível ou tentar fotografar; - Imobilizar o membro, com elevação passiva e articulações estendidas; - Debridar ferida; - Profilaxia antitetânica – indicação conforme o histórico vacinal; - Medidas Contraindicadas: torniquete ou garrote (seu uso aumenta o edema e a gravidade da lesão local, e não reduz a incidência dos efeitos sistêmicos do veneno), cortar o local da picada, perfurar ao redor da picada, colocar folhas, pós, cafés ou outras substâncias contaminantes ou tóxicas; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes b. ANTIVENENO ESPECÍFICO - Realizado com a aplicação do soro antivenenoespecífico para cada tipo de acidente, conforme a gravidade do envenenamento; - Deve ser administrado em 10 a 30 min, sob monitorização contínua; - Reações Adversas – podem ser causadas, devido à natureza heteróloga dos antivenenos – não justifica a realização de testes de sensibilidade cutânea, pois esses retardam o início da soroterapia e apresentam baixo valor preditivo; 9. IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DOS ACIDENTES POR COBRA [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes ESCORPIONISMO - Acidente causado pela inoculação de toxinas, por intermédio do ferrão (aparelho inoculador) dos escorpiões/lacraus; 1. EPIDEMIOLOGIA - Acidente com animai peçonhento mais recorrente no Brasil; - Ocorre um aumento significativo do número de casos, com cerca de 8.000 acidentes/ano, representando cerca de 3 casos/100.000 habitantes; - Os estados com maior número de notificações são Minas Gerais e São Paulo, correspondendo a 50% do total dos casos brasileiros, apesar do aumento dos casos nos estados da Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas e Ceará; - Apresenta sazonalidade na região Sudeste, ocorrendo principalmente nos meses quentes e chuvosos; - 65% das picadas ocorrem nos membros superiores, acometendo mão e antebraço; - Possui letalidade de 0,58%, sendo esses óbitos geralmente associados aos acidentes com T. serrulatus, em crianças menores de 14 anos; 2. AGENTES CAUSAIS - Características Físicas do Tronco – (prosoma) dorsalmente coberto por uma carapaça indivisa (cefalotórax), em que se articula os quatro pares de pernas, o par de quelíceras e o par de pedipalpos; (mesosoma) apresenta 7 tergitos (segmentos dorsais) e 5 esternitos (segmentos ventrais); - Características Físicas da Cauda/Metasoma – formada por 5 segmentos, com o télson no final, sendo esse composto pela vesícula (2 glândulas que produzem o veneno) e o ferrão/aguilhão (inocula o veneno); - São animais carnívoros, que se alimentam de insetos, como baratas e grilos – podem viver vários meses sem alimento e sem água; **predadores dos escorpiões: lacraias, aranhas, formigas, lagartos, serpentes, sapos (principal, devido ao hábito noturno), aves e mamíferos** - Localização: áreas secas, biotas úmidos, áreas costeiras e regiões urbanas; - Hábitos: apresentam hábito noturno, costumando-se esconder durante o dia sob pedras, troncos, entulhos, telhas, tijolos, armários, calçados ou sob peças de roupas no chão; - Os escorpiões do gênero Tityus, das espécies T. serrulatus (escorpião amarelo), T. bahiensis (escorpião marrom), I. stigmurus (escorpião amarelo do Nordeste), são os de maior importância médica no Brasil, representando 60% a fauna escorpiônica neotropical; - Tityus serrulatus / Escorpião Amarelo – escorpião de 6 a 7 cm, com tronco marrom-escuro, pedipalpos, patas e cauda amarelados, cauda com serrilha dorsal nos 2 últimos segmentos e mancha escura no lado ventral da vesícula – apresenta maior prevalência na Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo, sendo a espécie que mais gera preocupação em Minas Gerais, devido à reprodução por partenogênese, à capacidade de dispersão e à potência do veneno (causa acidentes mais graves); [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes - Tityus bahiensis / Escorpião Marrom – escorpião de 6 a 7 cm, com tronco marrom-escuro, patas com manchas escuras, pedipalpos com manchas escuras nos fêmures e nas tíbias – apresenta maior prevalência em Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina; - Tityus stigmurus / Escorpião Amarelo do Nordeste – escorpião de 6 a 7 cm, com tronco amarelo-escuro, com triângulo negro no cefalotórax, faixa escura longitudinal mediana e manchas laterais escuras nos tergitos – apresenta maior prevalência nos estados da região Nordeste no Brasil; - Tityus cambridgei – escorpião de 8,5 cm, com tronco e pernas escuros, quase negros – apresenta maior prevalência na região Amazônica; - Tityus metuendus – escorpião de 6 a 7 cm, com tronco vermelho escuro, quase negro, com manchas confluentes amarelo-avermelhadas, patas com manchas amareladas, cauda da mesma cor do tronco, com espessamento dos últimos dois artículos – apresenta maior prevalência no Amazonas, Acre e Pará; 3. AÇÕES DO VENENO - O veneno escorpiônico é uma mistura complexa de sais neuropeptídios de baixo peso molecular e aminoácidos; - Apresenta efeitos complexos nos canais de sódio, produzindo despolarização das terminações nervosas pós-ganglionares, com liberação de catecolaminas e acetilcolina; - As catecolaminas e a acetilcolina determinam o aparecimento de manifestações orgânicas, com predominância dos efeitos simpáticos e parassimpáticos; - Efeitos da liberação de acetilcolina: aumento do fluxo de secreção lacrimal, nasal, brônquica, sudorípara e gástrica, desencadeia espasmos musculares, provoca miose e reduz o ritmo cardíaco; - Efeitos da Adrenalina e Noradrenalina: elevação da pressão arterial, arritmias cardíacas, vasoconstrição periférica, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão e choque; 4. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - As crianças menores de 7 anos apresentam maiores risco de complicações sistêmicas e de óbito, principalmente quando o acidente é causado pelo escorpião amarelo; - A intensidade das manifestações clínicas depende da quantidade de peçonha inoculada; - Os adultos apresentam quadro local benigno, mas as crianças são mais suscetíveis a desenvolver o envenenamento sistêmico grave; - O quadro de envenenamento é dinâmico, podendo evoluir para maior gravidade em poucas horas – o tempo entre o acidente e o início das manifestações sistêmicas graves é mais curto, em comparação aos acidentes ofídicos; - Manifestações Locais: dor local, com irradiação para o membro, de instalação imediata (principal sintoma – maior intensidade nas primeiras horas), podendo ser acompanhada de parestesia, eritema e sudorese local; - Manifestações Sistêmicas: hipo ou hipertermia, sudorese profusa, agitação psicomotora, tremores, hipertonia, náuseas, vômitos, sialorréia, hipertensão ou hipotensão arterial, arritmia cardíaca, insuficiência cardíaca congestiva, taquipnéia, dispneia, edema pulmonar agudo e choque – ocorrem principalmente em crianças, surgindo após minutos ou horas (2 a 3 horas) após o acidente, de modo que é uma indicação de escorpionismo, mesmo na ausência de história de picada ou de identificação do animal; - Óbito – relaciona-se com edema pulmonar agudo e choque; a. COMPLICAÇÕES - Choque Cardiogênico – o veneno estimula canais de sódio, de modo a desencadear a descarga de neurotransmissores adrenérgicos e dos metabólitos das catecolaminas no miocárdio, também envolvendo mediadores inflamatórios (interleucina-1-beta e prostaglandina-2), que juntos causam efeitos inotrópicos e hemodinâmicos, que causam a hipóxia, lesão celular, alteração da permeabilidade da membrana, vasoconstrição da microcirculação e/ou espasmo coronariano, culminando na disfunção miocárdica e no envolvimento pulmonar, relacionados ao edema agudo; b. CLASSIFICAÇÃO DA GRAVIDADE DOS ACIDENTES - Fatores que determinam a gravidade: espécie, tamanho do escorpião, quantidade de veneno inoculado, massa corporal do acidentado e sensibilidade do paciente ao veneno; - Os adultos costumam a apresentar quadro local benigno, enquanto as crianças são mais suscetíveis ao envenenamento sistêmico grave; - Caso Leve – dor local e parestesia; - Caso Moderado – dor local intensa, acompanhada de 1 ou + manifestações sistêmicas, como sudorese discreta, náuseas, vômitos ocasionais, taquicardia, taquipneia, sialorreia, agitação e hipertensão leve; - Caso Grave – manifestações clinicas do caso moderado, acompanhada de 1 ou + manifestações, como sudorese profusa, vômitos incoercíveis, salivação excessiva, alternância de agitação com prostração, bradicardia, insuficiênciacardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e coma; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes 5. DIAGNÓSTICO - Seu diagnóstico é clínico-epidemiológico, não realizando exame laboratorial para confirmação do tipo de veneno circulante; - Exames complementares podem ser indicados para acompanhamento de pacientes com manifestações sistêmicas; - Exames Laboratoriais: glicemia elevada nas formas moderadas e graves nas primeiras horas após a picada, amilasemia elevada em 50% dos casos moderados e 80% dos casos graves, leucocitose com neutrofilia em 50% dos moderados e 100% dos graves, hipopotassemia, hiponatremia, elevação da creatinofosfoquinase e da sua fração MB nos casos graves; - Eletrocardiograma – possíveis alterações: taquicardia ou bradicardia sinusal, extra-sístoles ventriculares, distúrbios da repolarização ventricular com inversão da onda T em várias derivações, presença de ondas U proeminentes, alterações semelhantes às do infarto agudo do miocárdio (ondas Q e supra ou infradesnivelamento do segmento ST), bloqueio da condução atrioventricular ou intraventricular do estímulo – essas alterações desaparecem geralmente em 3 dias, podendo persistir por 7 dias ou mais; - Radiografia de Tórax – aumento da área cardíaca e sinais de edema pulmonar agudo, unilateral; - Ecocardiograma – hipocinesia transitória do septo interventricular e da parede posterior do ventrículo esquerdo, associada à regurgitação mitral; - Técnicas de Imunodiagnóstico (ELISA) – detecta o veneno circulante nos pacientes com formas moderadas e graves de escorpionismo por Tityus serrulatus; - Tomografia Cerebral – pode demostrar alterações compatíveis com infarto cerebral, nos raros casos de pacientes com hemiplegia; - Diagnóstico Diferencial – realizado com o acidente por aranha do gênero Phoneutria (aranha-armadeira), que provoca quadro local e sistêmico semelhante ao do escorpionismo – essencial quando não há histórico de picada e/ou identificação do agente causal; 6. TRATAMENTO a. TRATAMENTO GERAL - O controle da dor é primordial para uma boa classificação do quadro, visto que dor intensa pode se associar a náuseas, taquicardia e sudorese; - Quadro Local – tratamento sintomático, baseado no alívio da dor por infiltração de anestésico sem vasoconstritor (lidocaína 2% - 1 a 2 ml para crianças e 3 a 4 ml para adultos) ou analgésico sistêmico (dipirona 10 mg/kg, 6/6 horas) – calor na temperatura corporal pode amenizar o sintoma, enquanto compressas frias ou água fria a exacerba; **opioides – podem provocar bradicardia, vômitos e prostação, atrapalhando a classificação final** - A evolução rápida entre o acidente e as manifestações sistêmicas graves, tornam indispensáveis a reversão do quadro de envenenamento e as medidas de suporte à vida, principalmente nas crianças; - Acidentes Leves, Paciente > 7 anos – realiza-se apenas tratamento sintomático, não sendo necessário o tratamento soroterápico; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes - Crianças < 7 anos – apresentam maior risco de complicações sistêmicas e óbito, sendo indicado o tratamento sintomático e o soroterápico, com 2 ampolas de soro, em menos de 1h de evolução – o tratamento deve ser feito com suporte avançado, em ambiente de CTI ou sala de emergência equipada, nas primeiras 3h após o acidente, permitindo aferir os sinais vitais a cada 30 min, devido à possibilidade de evolução rápida e letalidade aumentada em acidentes desta faixa etária; - Em casos moderados e graves, em caso de sintomas persistentes, pode-se empregar mais 2 ampolas de soro; - Sinais de insuficiência respiratória – indica a intubação precoce; - Choque – emprega-se aminas vasoativas; - Reações Adversas – podem ser causadas, devido à natureza heteróloga dos antivenenos – não justifica a realização de testes de sensibilidade cutânea, pois esses retardam o início da soroterapia e apresentam baixo valor preditivo; b. TRATAMENTO ESPECÍFICO - Soro Antiescorpiônico (SAEsc) - utilizado prioritariamente nos acidentes escorpiônicos; - Soro Antiaracnídio (SAAr) - utilizado quando não se pode diferenciar os acidentes entre a aranha do gênero Phoneutria e os escorpiões do gênero Tityus ou quando se falta o SAEsc; - Indicação: pacientes classificados como moderados ou graves; - Objetivo: neutralizar o veneno circulante ao disponibilizar títulos elevados de anticorpos circulantes, melhorando rapidamente a dor local e os vômitos, enquanto impede o agravamento das manifestações clínicas; - Deve ser realizado o mais precocemente possível, por via intravenosa, em dose adequada, conforme a gravidade do acidente; ARANEÍSMO - Acidente causado pela inoculação de toxinas, por intermédio das quelíceras (aparelho inoculador) das aranhas; - As aranhas são animais carnívoros, que se alimentam principalmente de insetos, como baratas e grilos; - Apresentam hábitos domiciliares e peridomiciliares; - Características Físicas: (cefalotórax) articula-se os 4 pares de pernas, 1 par de pedipalpos e 1 par de quelíceras, onde se encontra os ferrões para inoculação do veneno; (abdome); - Os gêneros de maior importância médica no Brasil são o Loxosceles, Phoneutria e Latrodectus, mas existem outras aranhas comuns no peridomicilio que podem causar acidente com picada dolorosa, mas que não apresentam potencial de repercussão sistêmica grave, ou seja, não se tornam um problema de saúde pública, como a família Lycosidae (aranha de grama / aranha de jardim) e as caranguejeiras; - Seu diagnóstico é clínico-epidemiológico, não realizando exame laboratorial para confirmação do tipo de veneno circulante; 1. EPIDEMIOLOGIA - Ocorre um aumento significativo do número de casos, principalmente nos estados do Sul e Sudeste; - Acontecem 1,5 casos de acidentes araneídicos por 100.000 habitantes; 2. LOXOSCELES / ARANHA MARROM - É a forma mais grave de araneísmo no Brasil; - A maioria dos seus acidentes ocorrem no Sul, no Paraná e em Santa Catarina; - Os acidentes acometem principalmente adultos, com predomínio em mulheres, de forma intramodiciliar, com distribuição centrípeta das picadas, de modo a atingirem mais coxa, tronco ou braço; - Principais causadoras de acidentes: L. intermedia (estados do sul do país), L. laeta (Santa Catarina) e L. gaucho (São Paulo); - Características Físicas: aranha com até 1 cm de corpo e 4 cm de envergadura das pernas, com desenho de violino do dorso; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes - Localização: constroem teias irregulares em locais que as abrigam da luz, como fendas de barrancos, sob cascas de árvores, telhas, tijolos, atrás de quadros e móveis, vestimentas; - Não são agressivas, picando quando comprimidas contra o corpo; a. AÇÕES DO VENENO - Seu veneno apresenta a enzima esfingomielinase-D que por ação direta ou indireta atua sobre os constituintes das membranas das células do endotélio vascular e hemácias, de modo a ativar as cascatas do sistema complemento, da coagulação e das plaquetas, desencadeando intenso processo inflamatório no local da picada, que é acompanhado pela obstrução dos pequenos vasos, edema, hemorragia e necrose focal; - A ativação dos sistemas complemento, de coagulação e das plaquetas participa da patogênese da hemólise intravascular presente nas formas mais graves de envenenamento; - O veneno da espécie L. laeta é mais ativo no desencadeamento de hemólise experimental, quando em comparação aos venenos de L. gaucho ou L. intermedia; b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A picada é quase sempre imperceptível; Forma Cutânea - Ocorre em 87 a 98% dos casos; - Apresenta instalação lenta e progressiva; - Picada pouco dolorosa (pode não ser percebida - assintomático nas primeiras 8 a 12 horas), evoluindo com dor progressiva, halo eritematoso em volta do ponto de inoculação e edema endurado, podendo esses serem exuberantesquando a picada ocorre em tecido frouxo; - Após 24 a 72 h do acidente a lesão pode se apresentar, como: (lesão incaracterística) bolhas com conteúdo sero-hemorrágico, edema, calor e rubor, com ou sem dor em queimação; (lesão sugestiva) enduração, bolha, equimose e dor em queimação; (lesão característica) dor em queimação, lesões hemorrágicas focais, intercalada com áreas de palidez (placa marmórea) e necrose seca; - A lesão cutânea em 7 a 12 dias pode evoluir para necrose seca (escara), que se destaca em 3 a 4 semanas, formando uma úlcera de difícil cicatrização; - Manifestações Sistêmicas: mal-estar, astenia, cefaleia, febre alta nas primeiras 24h, exantema mobiliforme, prurido generalizado, petéquias, mialgia, náusea, vômito, visão turva, diarreia, sonolência, obnubilação, irritabilidade, insuficiência renal aguda e coma; Forma Cutâneo-Visceral/Hemolítica - Ocorre hemólise intravascular intensa, evoluindo com anemia, icterícia, hemoglobinúria e coagulação intravascular; - Essas manifestações se instalam nas primeiras 24h após a picada; - A coagulação intravascular disseminada (CIVD) pode se manifestar com petéquias e equimoses; - Apresenta frequência variável entre 1 e 13%, sendo mais comum dos acidentes por L. laeta; - Seus casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda, de etiologia multifatorial por diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e CIVD – principal causa de óbito; Complicações - Necrose – a peçonha da Loxosceles apresenta esfingomielinase D, que ocasiona necrose no local da picada em mais da metade dos acidentes, com extensão e profundidade variáveis, que pode evoluir com ulceração – cicatriza em 2 a 6 semanas; - Anemia Hemolítica Aguda – a hemólise com consequente anemia ocorre em menos de 20% dos pacientes picados; - Rabdomiólise – necrose da musculatura esquelética local que ocorre nos acidentes em que as lesões locais são mais profundas; - Injúria Renal Aguda (IRA) – associa-se com a hemólise e rabdomiólise, ocorrendo na minoria dos casos; - Coagulação Intravascular Disseminada – raramente relatada; - Infecção Local – a infecção secundária no local da picada geralmente ocorre associada à necrose, podendo evoluir para celulite e sepse; - Complicações como IRA, coagulação intravascular disseminada e sepse podem causar quadros graves, com possível evolução para o óbito; Classificação da Gravidade do Acidente - Acidente Leve – lesão incaracterística, sem alteração clínica e laboratorial, com identificação da aranha causadora do acidente – paciente acompanhado por pelo menos 72h, para controle das mudanças das características da lesão e das manifestações sistêmicas; - Acidente Moderado – presença de lesão sugestiva ou característica, mesmo sem a identificação do agente causal, podendo ou não ocorrer alterações sistêmicas do tipo rash cutâneo, cefaleia e mal-estar; - Acidente Grave – presença de lesão característica e alterações clínico-laboratoriais de hemólise intravascular; c. DIAGNÓSTICO - Não existe exame diagnóstico específico; - Alterações Laboratoriais na Forma Cutânea – hemograma com leucocitose e neutrofilia; - Alterações Laboratoriais na Forma Cutâneo-Hemolítica - anemia aguda, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, queda dos níveis séricos de haptoglobina, elevação dos séricos de potássio e coagulograma alterados; - Quando há injúria renal aguda, ocorre elevação dos níveis séricos de ureia e creatinina; - Exame Anatomopatológico – intensa vasculite no local da picada, obstrução de pequenos vasos, infiltração de polimorfonucleares, agregação plaquetária com desencadeamento de edema, hemorragia e necrose focal, sendo que nos casos de hemólise, ocorre lesão das membranas eritrocitárias, por ativação do sistema complemento e por ação direta do veneno; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes d. TRATAMENTO - Manifestações Locais – antisséptico local e limpeza periódica da ferida (rápida cicatrização), analgésico (dipirona), aplicação de compressas frias (alívio da dor local), antibiótico sistêmico em caso de infecção secundária, remoção da escara após delimitação da área de necrose, podendo ser necessário o tratamento cirúrgico para manejo das úlceras e correção das cicatrizes; - Corticoides – prednisona ou prednisolona, via oral, na dose de 1 a 2 mg/kg/dia, até 80 mg/dia, em crianças e na dose de 40 mg/dia em adultos, por pelo menos 5 dias - indicados para evitar a progressão da lesão; - Dapsone (DDS) – modulador da resposta inflamatória para redução do quadro local, na dose de 50 a 100 mg/dia, via oral, por 2 semanas, em associação com a soroterapia – apresenta risco potencial de desencadear surto de metamoglobinemia, tornando necessário o acompanhamento clínico-laboratorial do paciente durante seu uso; - Em caso de anemia intensa, indica-se a transfusão sanguínea ou do concentrado de hemácias; - Tratamento Soroterápico – indicado em pacientes classificados clinicamente como moderados (5 amp) ou graves (10 amp) – utiliza-se preferencialmente o soro antiloxoscélico trivalente (SALox), sendo empregado o SAAr em caso de falta do SALox – deve ser realizado antes de 36h após a inoculação do veneno, devido a perda da eficácia da soroterapia após esse tempo; - Limitação ao Uso do Antiveneno – diagnóstico tardio já com necrose cutânea delimitada – recomenda-se medidas de suporte, com uso de antissépticos, lavagem com permanganato de potássio (KMnO4 – 1 comprimido em 4 litros de água) e curativos, até a remoção da escara, podendo ser necessário tratamento cirúrgico; - Reações Adversas – podem ser causadas, devido à natureza heteróloga dos antivenenos – não justifica a realização de testes de sensibilidade cutânea, pois esses retardam o início da soroterapia e apresentam baixo valor preditivo; 3. PHONEUTRIA / ARANHA ARMADEIRA / ARANHA MACACA / ARANHA DA BANANEIRA - Representam 42,2% dos casos de araneísmo no Brasil, predominando no Sul e Sudeste – seus acidentes ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílio, atingindo principalmente adultos, de ambos os sexos, nas mãos e pés; - Principais causadoras de acidentes: P. nigriventer (Goiás, mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina), P. bahiensis, P. keyserlingi (Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina), P. fera (região Amazônica), P. reidyi (região Amazônica), P. boliviensis, P. pertyi e P. eicktedtae; - Características Físicas: aranha que atinge 3 a 4 cm de corpo e até 15 cm de envergadura das pernas; - Apresentam hábito noturno e não constroem teia geométrica; - Os acidentes ocorrem dentro das residências, ao se calçar sapatos e botas ou ao manusear materiais de construção, entulho ou lenha; - Atacam quando encurraladas, assumindo posição de defesa, em que levantam as pernas traseiras, sentam no abdome, erguem as pernas dianteiras e os palpos, abre as quelíceras e tornam os ferrões visíveis, buscando picar; a. AÇÕES DO VENENO - O veneno causa a ativação e o retardo da inativação dos canais neuronais de sódio, podendo provocar a despolarização das fibras musculares e das terminações nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo, de modo a favorecer a liberação dos neurotransmissores acetilcolina e catecolaminas; - Alguns peptídeos do veneno podem induzir a contração da musculatura lisa vascular e o aumento da permeabilidade vascular, por ativação do sistema calicreína-cininas e de óxido nítrico, independentemente da ação dos canais de sódio; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Manifestações Locais: dor de início imediato (1% dos pacientes são assintomáticos após a picada), irradiada até a raiz do membro acometido, de alta intensidade nas primeiras 3/4 horas após a picada, edema, eritema, sudorese local, parestesia ao longo do membro,com ou sem visualização dos pontos de inoculação; - Manifestações Sistêmicas: taquicardia, hipertensão arterial, agitação psicomotora, vômitos, sudorese profusa, sialorreia, priapismo, hipotensão, choque, edema pulmonar agudo e óbito; Complicações - Raros casos evoluem de forma grave, sendo esses mais frequentes nas crianças; - As complicações são causadas pela intoxicação adrenérgica e colinérgica; - Pode ocorrer hipertensão arterial, vômitos persistentes, diaforese extrema, priapismo, edema pulmonar agudo e choque; - A morte é excepcionalmente rara; Classificação da Gravidade do Acidente - Acidente Leve – sintomatologia local, taquicardia e agitação secundária à dor – mais frequentes, ocorrendo em 91% dos casos; - Acidente Moderado – manifestações locais associadas com alterações sistêmicas, como náuseas, vômitos ocasionais, dor abdominal, sialorreia, ansiedade, sudorese discreta, hipertensão arterial, taquicardia, agitação psicomotora e visão turva – ocorrem em 7,5% dos casos; - Acidente Grave – sinais e sintomas do moderado, com 1 ou + das seguintes manifestações: sudorese profusa, sialorréia, vômitos frequentes, diarreia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque, edema pulmonar agudo, hipotensão arterial, arritmias cardíacas, insuficiência cardíaca, convulsões e coma – são raros, ocorrendo em 0,5% dos casos, comumente restrito às crianças; c. DIAGNÓSTICO - Apresenta alterações laboratoriais semelhantes às do escorpionismo; - Exames Laboratoriais: leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia e acidose metabólica; - Eletrocardiograma – taquicardia sinusal; - Deve-se monitorar as condições cardiorrespiratórias nos acidentes graves; - Diagnóstico Diferencial – o quadro de dor local nos acidentes por aranha Phoneutria e escorpiônicos são indistinguíveis, assim caso o agente não seja identificado, realiza-se o tratamento sintomático e se houver indicação de soroterapia emprega-se o soro antiaracnídio (SAAr); d. TRATAMENTO - A dor geralmente é o único sintoma desse acidente, comumente não demandando o uso de soroterapia específica; - Tratamento Sintomático – compressa morna no local da picada, analgésico sistêmico (dipirona) e infiltração de anestésico local ou troncular sem vasoconstritor (como a lidocaína a 2% - 3 a 4 ml em adultos e 1 a 2 ml em crianças), podendo ser repetido em intervalo de 60 a 90min, quando dor recorrente; **a resposta insatisfatória ao anestésico após 2 infiltrações, indica o uso de meperidina (dolantina), intramuscular, 50 mg a 100 mg para adultos ou 1 mg/kg para crianças, desde que não existam sintomas de depressão do sistema nervoso central** - Sintomas indesejados, como náusea, sudorese, taqui ou bradicardia e prostação, que mimetizam acidentes moderados ou graves, podem ser ocasionados pelo uso de opioides e pelo mal manejo da dor; - Soroterapia – indicação restrita do uso do SAARr para casos moderados (3 amp) a graves (6 amp) e em crianças – paciente internado para melhor controle dos dados vitais, parâmetros hemodinâmicos e tratamento de suporte das complicações associadas; **evita-se drogas anti-histamínicas, como a prometazina/fenergan, em crianças e idosos, devido aos efeitos tóxicos, que podem gerar sonolência, agitação psicomotora, alterações pupilares e taquicardia** - Os lactentes, pré-escolares e idosos devem ser mantidos em observação por pelo menos 6 horas; 4. LATRODECTUS / VIÚVA NEGRA / BROWN WIDOW - Ocorrem principalmente na região nordeste (Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Sergipe), acometendo majoritariamente pacientes do sexo masculino, entre 10 e 30 anos; - Principais causadoras de acidentes: L. geometricus (encontrada em todo país) e L. curacaviensis (Ceará, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e São Paulo); - Características Físicas: as fêmeas, são as únicas causadoras de acidentes, sendo pequenas, apresentam corpo de 1 cm de comprimento e até 3 cm de envergadura das pernas, com abdome globular, apresentando no ventre o desenho de ampulheta sob o abdome; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes **machos – apresentam cerca de 3 mm de comprimento e não causam acidentes** - Constroem teias irregulares entre as vegetações arbustivas e gramíneas, podendo apresentar hábitos domiciliares e peridomiciliares; - Não são agressivas, picando quando comprimidas contra o corpo; a. AÇÕES DO VENENO - O veneno apresenta a alpha-latrotoxina que atua sobre as terminações nervosas sensitivas, provocando quadro doloroso no local da picada; sobre o sistema nervoso autônomo, causando liberação de neurotransmissores adrenérgicos e colinérgicos; e sobre a junção neuromuscular pré-sináptica, alterando a permeabilidade aos íons sódio e potássio; b. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Manifestações Locais: lesões puntiformes com 1 a 2 mm entre si, dor local imediata após a picada (60% dos casos), de pequena intensidade, evoluindo para sensação de queimação (15 a 60 min após a picada), hiperestesia, placa urticariforme, enfartamento ganglionar regional, podendo formar pápula eritematosa e ocorrer sudorese localizada, em 20% dos pacientes; - Manifestações Sistêmicas Gerais: tremores (26%), ansiedade (12%), excitabilidade (11%), insônia, cefaleia, prurido, eritema de face e pescoço, distúrbios de comportamento e choque; - Manifestações Sistêmicas Motoras: dor irradiada para os membros inferiores (32%), contraturas musculares periódicas (26%), movimentação incessante, atitude de flexão no leito, hiperreflexia ósteo-músculo-tendinosa constante, tremores e contrações espasmódicas dos membros (26%), dor abdominal intensa (18% - simula abdome agudo), rigidez abdominal desaparecimento do reflexo cutâneo-abdominal, fáscies latrodectísmicas (contratura facial e trismo dos masseteres – 5%); - Manifestações Sistêmicas Cardiovasculares: opressão precordial, sensação de morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguida de bradicardia; - Manifestações Sistêmicas Menos Frequentes: (digestivas) náuseas, vômitos, sialorréia, anorexia e obstipação; (genitourinárias) retenção urinária, dor testicular, priapismo e ejaculação; (oculares) ptose, edema palpebral, hiperemia conjuntival e midríase; Complicações - Não existe comprovação definitiva de evolução para o óbito no Brasil, mas na Europa os quadros cursam com manifestações clínicas moderadas a graves, como: dor local, transpiração excessiva (diaforese), espasmos dos músculos da face e do tronco, cefaleia, dor abdominal intensa, vômitos, rabdomiólise, hipertensão, dispneia e convulsões; - Lesão Miocárdica Aguda – ocorre por toxicidade miocárdica direta, pela liberação de catecolaminas e citocinas, sendo extremamente rara; - Pode evoluir para o óbito, devido à falência cardíaca e/ou respiratória; Classificação da Gravidade do Acidente - Acidente Leve – dor local, edema local discreto, sudorese local, dor nos membros inferiores, parestesia em membros e tremores e contraturas; - Acidente Moderado - dor local, espasmos musculares, dores abdominais de leve a forte intensidade (mimetiza abdome agudo), sudorese generalizada, mialgia, hipertemia e sintomas neurológicos, como ansiedade, agitação, cefaleia, tontura, dificuldade de deambulação; - Acidente Grave - sintomas dos casos moderados, com taqui/bradicardia, hipertensão, taquipnéia/dispneia, náuseas, vômitos, priapismo, retenção urinária, fácies latrodectísmica, opressão precordial e sensação de morte iminente; c. DIAGNÓSTICO - Alterações Laboratoriais: leucocitose, linfopenia, eosinopenia, hiperglicemia, hiperfosfatemia, albuminúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria– inespecíficas; - Alterações Eletrocardiográficas: fibrilação atrial, bloqueios, diminuição da amplitude do QRS e da onda T, inversão da onda T, alteração do segmento ST e prolongamento do intervalo QT; **as alterações podem persistir por até 10 dias** d. TRATAMENTO - Realiza-setratamento sintomático e de suporte; - Cuidados Locais: antissepsia local, aplicação de gelo no local da picada inicialmente e aplicação de compressa de água morna posteriormente; - Dor Local – analgésicos e bloqueio ou infiltração anestésica local; - Analgésicos ou medicamentos como morfina, prostigmina, fenobarbital e fenitoína, se necessário; - Benzodiazepínicos - diazepan 5 a 10 mg para adultos e 1 a 2 mg/dose para crianças, podendo ser administrado intravenoso de 4 em 4 horas – empregados nos quadros de ansiedade; - Gluconato de Cálcio 10% - 10 a 20 ml para adultos e 1 mg/kg para crianças, intravenoso, lentamente, de 4 em 4 horas – empregados nos quadros de espasmos musculares; - Anticolinesterásico – neostigmina 0,5 a 1 mg, de 8 em 8 horas, endovenoso; - Clorpromazina – 25 a 50 mg para adultos e 0,55 mg/kg/dose para crianças, intravenoso, de 8 em 8 horas; [GABRIELA BARBOSA] Turma 74- Medicina Unimontes - Soro Antilatrodectus (SALatr) – indicado em casos graves, na dose de 2 ampolas por via intramuscular – ocasiona melhora no paciente entre 30 min e 3 horas; - Observação mínima por 24 horas; 5. MYGALOMORPHAE / CARANGUEJEIRAS / ARANHA DE ALÇAPÃO - Características Físicas: quelíceras perpendiculares, corpo coberto por pelos (quando estressadas raspam o dorso do abdome e liberal pelos), podendo variar de alguns milímetros até 20 cm de envergadura das pernas; - Não possuem veneno com capacidade tóxica para o homem; - Geralmente não picam; - Seus pelos urticantes causam irritação da pele e nas mucosas; a. TRATAMENTO - Controle da dor em caso de picada e da resposta irritativa e alérgena, causada pela inalação ou pelo contato com os pelos; - Dor – emprega-se analgésicos orais ou endevonosos; - Resposta Irritativa e Alérgena – (anti-histamínicos) empregados por via intramuscular ou via oral, em caso de pruridos e/ou quadros exantemáticos, podendo empregar prometazina 0,5 mg/kg até 50 mg IM, associada à ranitidina 1 mg/kg, até 50 mg, endovenoso; (corticoides) empregados por via endovenosa ou via oral, em caso de edemas e sintomas anafiláticos ou anafilactoides, podendo empregar hidrocortisona endovenosa, 10 mg/kg, até 300mg, devido ao seu pico rápido e meia vida curta; - Edema das Vias Aéreas – indica corticoide endovenoso e adrenalina intramuscular ou endovenosa 1 UI/kg, até 30 UI, por até 3 vezes; 6. LYCOSIDAE / ARANHA DE GRAMA / ARANHA DE JARDIM - São fontes frequentes de acidentes, mas não são um problema de saúde pública; - Aranhas errantes, que não constroem teia, sendo frequentemente encontradas em gramados e jardins; - Características Físicas: 3 cm de corpo e 5 cm de envergadura das pernas; 7. IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DOS ACIDENTES POR ARANHA REFERÊNCIAS - MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de Vigilância em Saúde. 3 ed. 2021. Cap 10 (pg 1020 – 1037); - MINISTÉRIO DA SAÚDE (FUNASA). Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos. 2001. Cap 1 (pg 9 – 36), Cap 2 (pg 37 – 44) e Cap 3 (pg 45 a 58); - SECRETARIA DO ESTADO DE SAÚDE DE MINAS GERAIS. Acidentes por Animais Peçonhentos em Minas Gerais: Identificação e Tratamento. 2014; - VERONESI. Tratado de Infectologia. 5 ed. 2015.
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