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Crise das Organizações Internacionais

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Ascendencia de governos autoritários no mundo
Seguidas crises
Trump eleito e no mesmo período o Brexit
Crise da democracia liberal no mundo 
Assim como o texto de Susan Sell, o texto de Herz e Hoffman, um dos primeiros a serem estudados na disciplina, apresentam um olhar otimista acerca das OIs no mundo, muito por terem sido retratados nos anos 90 e início do século XXI. Naquele momento era nítido o viés liberal disseminado no mundo, após a “vitória” da democracia liberal estadunidense em confronto com o socialismo soviético que terminara na última década do século, em 1991, além do fim da Guerra Fria e um sentimento de multilateralismo e cooperação bem latente. Não coincidentemente, para contribuir consideravelmente para a tendência internacional, em 1992 foi assinado o Tratado de Maastricht que deu início definitivo a União Europeia, o bloco de cooperação mais importante do mundo em termos de avanço e exemplo de multilateralismo (apesar do eurocentrismo e dos muitos erros do bloco, há de se ressaltar sua importância para a criação e desenvolvimento para outros blocos em todo o mundo).
De fato, é um grande desafio elencar todos os motivos para houvesse a crise das OIs e consequente descredibilização das mesmas, porém podemos elencar alguns das possíveis causas para tal. Primeiro fator importante para se destacar é a chamada a “Grande Recessão”, ou crise de 2008, ocasionada no setor imobiliário pela precipitada falência do tradicional banco de investimento norte-americano Lehman Brothers, fundado em 1850. Por ser originada nos EUA, principal apoiador até o momento das OIs, surgira ali uma dúvida acerca da efetividade das mesmas para conter crises desse tipo, já que essa fora considera até mais impactante que a “Grande Depressão” de 1929. Esse acontecimento gerou, por consequência, várias crises no mundo, regionais e nacionais o que contribuíram (não unicamente) para a ascendência de governos autoritários no mundo, como na Hungria, Polônia, Turquia e mais recentemente na Tunísia. Aliado a tais fatos, Donald Trump assume a presidência do governo em 2016, que fora o idealizador, fundador e mantenedor da ordem liberal no mundo e, consequentemente, das Organizações Internacionais, porém com um viés totalmente contra as mesmas, tendo embates, descredibilizando em cenário internacional e duvidando por muitas vezes desses órgãos, o que gerou um efeito cascata em todo o mundo, já que o principal apoiador das OIs agora duvidava, ignorava e descredibilizava as mesmas. No mesmo período, ocorria a movimentação denominada Brexit, a saída britânica da União Europeia, bloco de cooperação modelo até o momento. Apesar de só ser concretizada de fato no início de 2020, muito por conta de todos os trâmites legais e burocráticos que cercavam o processo, como a migração de povos não britânicos e desvinculação do bloco, desde o primeiro momento da idealização do processo, surgiram vários debates do mundo acerca da efetividade de um bloco econômico, já que o principal no mundo, agora começara a se desfazer (mesmo com a saída somente de um membro, este era o principal influente econômico e político no bloco). Isso sem dúvidas contribuiu ainda mais para a crise das Organizações Internacionais, pois colocava a dúvida em prática, proveniente de um dos países que ajudaram a fundar o próprio bloco. 
Além disso, um dos atores fundamentais do cenário internacional contemporâneo que vem para contrapor todo o modelo neoliberal de cooperação, é a própria China que vem crescendo 7% ao ano durante boa parte do século XXI e adquirindo ainda mais notoriedade no sistema, principalmente por causa da sua atuação massiva na economia mundial, além de sua posição influente em órgãos como o Conselho de Segurança ou até mesmo no BRICS. Como forma de quebrar com as antigas regras impostas pelos EUA e EU, a China com seu governo e resultados econômicos incentivem as demais nações a reformularem o que é imposto pelas grandes potências, principalmente através das OIs. As posições da China dentro do Conselho de Segurança e seu ganho de espaço nas demais instituições (OMC, OMS, FMI, BM) é vista como uma ameaça pelo ocidente que teme perder seu posto e influência sobre o Sistema Internacional. Fazendo uma ponte ao texto de Lima e Castelan acerca dos BRICS e também com a teoria decolonial presente no texto de Kataneksza, Ling e Shroff, os BRICS começam a interferir na estrutura internacional através de seu potencial econômico, com PIB significativo e com grande parte do mercado consumidor mundial, a união desses países é suficientemente capaz de propor reformas e contribuir para que haja um empoderamento das nações menores, contribuindo para lhes dar maior autonomia. A China sendo um importante ator internacional e se colocando a favor do multilateralismo e liberdade econômica (como ela mesma pratica também), o fato é que é nítido o seu interesse em ascender como a principal potência mundial novamente, levando em conta a sua influência ditatorial na Ásia além do medo das potências europeias da inversão de poder internacional do ocidente para o oriente, abala diretamente a atuação das OIs, por terem fundamentos majoritariamente liberais. 
Voltando o enfoque aos estudos decoloniais, por fim, é importante citar que o surgimento dos mesmos fora também durante os anos 90, coincidentemente (ou não) durante o otimismo acerca do neoliberalismo no mundo, com a primeira geração das TWAIL (Third World Approaches to Internacional Law). Esses debates possuem atuação diretamente no direito internacional, porém atacam diretamente a tendência decisória ocidental das OIs, ignorando totalmente a vontade e interesses dos países de terceiro mundo, explícito por exemplo na Conferência de Bandung de 1955. Essa teoria decolonial apresenta então, que ainda possuímos presença colonial no mundo, mesmo que de forma disfarçada e não totalmente perceptível, porém presente em decisões dos órgãos comerciais internacionais, ONU, TPI, etc. Isso motiva, direta e indiretamente, o surgimento de tratados bilaterais e multilaterais, além de blocos regionais altamente fortes, como é o caso do BRICS e de seu potencial, aqui já citado, criado em 2006, ainda durante o otimismo acerca das OIs, porém com o início da descredibilização e ascendência do movimento decolonial.
Com isso, todos esses fatores aqui citados possuem influência direta ou indireta na crise das OIs no sistema internacional, mesmo que uns possuem maior e outros menor grau de influência. Além disso, é importante citar que durante a pandemia do novo corona vírus, a OMS teve uma atuação muito considerável de aconselhamento mundial, mesmo com a ascendência do nacionalismo e autoritarismo de direita muito vigente, além de certa descredibilização dos próprios países membro, a organização possuiu notoriedade em sua atuação, o que incentiva ainda mais o debate acerca da efetividade das Organizações Internacionais daqui para alguns anos, dado, ainda, a ascendência constante da China e a crise quase permanente da democracia liberal estadunidense.

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