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Relações Internacionais Professora Esp. Margarete Campos Vieira Reitor Prof. Ms. Gilmar de Oliveira Diretor de Ensino Prof. Ms. Daniel de Lima Diretor Financeiro Prof. Eduardo Luiz Campano Santini Diretor Administrativo Prof. Ms. Renato Valença Correia Secretário Acadêmico Tiago Pereira da Silva Coord. de Ensino, Pesquisa e Extensão - CONPEX Prof. Dr. Hudson Sérgio de Souza Coordenação Adjunta de Ensino Profa. Dra. Nelma Sgarbosa Roman de Araújo Coordenação Adjunta de Pesquisa Prof. Dr. Flávio Ricardo Guilherme Coordenação Adjunta de Extensão Prof. Esp. Heider Jeferson Gonçalves Coordenador NEAD - Núcleo de Educação à Distância Prof. Me. Jorge Luiz Garcia Van Dal Web Designer Thiago Azenha Revisão Textual Beatriz Longen Rohling Caroline da Silva Marques Carolayne Beatriz da Silva Cavalcante Geovane Vinícius da Broi Maciel Jéssica Eugênio Azevedo Kauê Berto Projeto Gráfico, Design e Diagramação André Dudatt Carlos Firmino de Oliveira 2022 by Editora Edufatecie Copyright do Texto C 2022 Os autores Copyright C Edição 2022 Editora Edufatecie O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correçao e confiabilidade são de responsabilidade exclusiva dos autores e não representam necessariamente a posição oficial da Editora Edufatecie. Per- mitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP V658r Vieira, Margarete Campos Relações internacionais / Margarete Campos Vieira. Paranavaí: EduFatecie, 2022. 104 p. : il. Color. 1. Secretários – Relações internacionais. I. Centro Universitário Unifatecie. II. Núcleo de Educação a Distância. III. Título. CDD: 23. ed. 651.374 Catalogação na publicação: Zineide Pereira dos Santos – CRB 9/1577 UNIFATECIE Unidade 1 Rua Getúlio Vargas, 333 Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 2 Rua Cândido Bertier Fortes, 2178, Centro, Paranavaí, PR (44) 3045-9898 UNIFATECIE Unidade 3 Rodovia BR - 376, KM 102, nº 1000 - Chácara Jaraguá , Paranavaí, PR (44) 3045-9898 www.unifatecie.edu.br/site As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site Shutterstock. AUTORA Professora Esp. Margarete Campos Vieira ● Mestranda em Teoria Econômica pela Universidade Estadual de Maringá (UEM 2020/ 2021) ● Pós Graduação em Tecnologias aplicadas ao EAD ● Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá ● Pós graduação em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria e Instrutoria - Unicesumar, ● Pós Graduada em Engenharia de Produção (Incompleta) Unicesumar. ● Pós Graduação em Docência do Ensino Superior (Unicesumar) Atuo com Consultoria Empresarial desde 2008 e, com implantação e treinamentos em Gestão de Processos, mapeamento e melhoria de processos, Engenharia de Processos, Engenharia de produtos, PPCP (Planejamento, Programação e Controle da Produção), Logísticas e Gestão da Cadeia de Suprimentos, etc. Docente na UNIFCV (Centro Universitário Cidade Verde Maringá 2016 até o momento) ministrando disciplinas de: Sistema de Informação Gerencial, Administração e Estratégia de Marketing, Empreendedorismo, Diagnóstico Organizacional, Mercado de Capitais, História Econômica Geral, Logística e Cadeia de Suprimentos e Planejamento Programação e Controle de Produção, Gestão da Qualidade, Logística Internacional etc. Áreas de interesse: Organização Industrial e Estudos Industriais, economia brasileira, economia internacional, economia monetária, indústria de transformação, desenvolvimento econômico e inovação tecnológica. Macroeconomia e Microeconomia, mercado de capitais, gestão de processos industriais, qualidade e produtividade. CURRÍCULO LATTES: http://lattes.cnpq.br/4612802492948047 http://lattes.cnpq.br/4612802492948047 APRESENTAÇÃO DO MATERIAL Seja muito bem-vindo(a)! Prezado (a) aluno (a), se você se interessou pelo assunto desta disciplina, isso já é o início de uma grande jornada que vamos trilhar juntos a partir de agora. Proponho, junto com você, construir nosso conhecimento sobre os conceitos fundamentais da disciplina Relações Internacionais. Além de conhecer seus principais conceitos e definições, vamos explorar as mais diversas áreas de conhecimento e atuações das Relações Internacionais. Na unidade I conheceremos a conceituação geral e ambientação e com isso conhecer as origens das relações internacionais, pensamento político e o fundamento das relações internacionais. Vamos conhecer também a teoria da sociedade civil internacional e o funcionamento das relações internacionais. Já na unidade II ampliaremos nossos conhecimentos e você irá saber mais sobre os destaques internacionais. Além destes destaques você conhecerá ainda os principais marcos metodológicos, análise da Teoria das Relações Internacionais, bem como, os principais autores e suas correntes clássicas e as principais correntes e relações brasileiras. Na sequência na unidade III falaremos a respeito do GLOBALISMO. Nesta unidade destacamos o Brasil e as relações internacionais voltadas ao comércio, e também às relações internacionais e meio ambiente. Sendo assim, falaremos sobre os impactos das relações internacionais e os principais acordos internacionais brasileiro. E por último nesta unidade, trataremos do globalismo na era moderna. Na unidade IV, entenderemos o conteúdo dessa disciplina com o assunto Brasil e as relações internacionais e trazer temas de análise das relações internacionais contemporâneas, integração econômica: acordos multilaterais e acordos regionais/ plurilaterais.E para finalizar esta unidade vamos entender as ameaças e oportunidades empresariais e acordos comerciais e as cadeias globais de valor. Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e profissional. Muito obrigado e bom estudo! SUMÁRIO UNIDADE I ...................................................................................................... 3 Conceituação Geral e Ambientação UNIDADE II ................................................................................................... 24 Destaques Internacionais UNIDADE III .................................................................................................. 51 Globalismo UNIDADE IV .................................................................................................. 78 Brasil e as Relações Internacionais 3 Plano de Estudo: ● Origem das relações internacionais; ● Pensamento político e o fundamento das relações internacionais; ● A teoria da sociedade civil internacional; ● Funcionamento das relações internacionais. Objetivos da Aprendizagem: ● Conceituar e contextualizar a operação hoteleira e sua inserção na cadeia produtiva do Turismo; ● Definir Meio de Hospedagem (MH) e suas tipologias; ● Apresentar o Sistema de Classificação para empreendimentos hoteleiros vigente no Brasil; ● Estabelecer a importância do conhecimento de operação hoteleira para o profissional e demais áreas pertinentes à sua trajetória profissional. UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Professora Esp. Margarete Campos Vieira 4UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação INTRODUÇÃO Caro (a) aluno Você deve ter ouvido falar bastante sobre Relações Internacionais (RI) e a partir de agora, você entenderá melhor como as RI iniciaram, Para isso, vou resgatar um pouco da história para adentrar e chegar ao objetivo principal. Vou começar então, falando das últimas décadas do séculoXX marcadas pela intensificação das relações entre os povos, de uma maneira como nunca havia ocorrido anteriormente. Você observa que cada vez mais as distâncias ficam menores? Ou seja, você observa que a globalização trouxe e traz constantemente informações rápidas vindas de todo mundo e com isso, tempo e espaço perdem o significado que tinham para nossos pais e avós, e as pessoas de diferentes locais do globo tomam consciência de que “a menor distância entre dois pontos é uma tecla”. Porém, o século XXI chega trazendo também grandes conquistas: a velocidade do fluxo de informação está cada vez maior no mundo, em constante processo de internacionalização, que está integrado física e eletronicamente; é como tomar café em Londres e almoçar em Washington; as fronteiras perdem sua importância; o sistema internacional vê-se cada vez mais integrado; a tecnologia alcança milhões de pessoas, e não há limite ao conhecimento humano. O último século do segundo milênio presenciou uma evolução tecnológica e desenvolvimento industrial. Neste primeiro e-book, você irá viajar comigo para a história das relações internacionais, conhecer um pouco mais sobre como surgiram e os principais motivos desse surgimento. Sendo assim, vou apresentar a você, a origem das relações internacionais, em seguida o pensamento político e o fundamento das relações internacionais, além disso, apresento a teoria da sociedade civil internacional e finalizando, como é o funcionamento das relações internacionais. No final deste conteúdo, apresento a você algumas indicações de leituras e sites que poderá encontrar muitas outras informações sobre as relações internacionais. Convido você para iniciar nossa viagem pelas origens e história das relações inter- nacionais. 5UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 1. ORIGEM DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Caro acadêmico (a), você já parou para pensar como surgiram as relações internacionais? De acordo com a literatura da História de Relações Internacionais, tudo se iniciou na Grécia antiga, isso porque: (...) os embaixadores eram enviados esporadicamente em missões especiais a diferentes cidades-estados, a fim de entregar mensagens, intercambiar, ou seja, trocar mensagens e até mesmo oferendas. Sendo assim, estas ações encontram-se na origem da diplomacia. Mas, desde aquele tempo, o diplomata criava uma entidade política de acordo com seu perfil, diferenciando entre público e privado (MAGNOLI, 2013, p. 17). Com essa contextualização, os diplomatas italianos, lançaram as bases modernas e diplomáticas criando condições de anarquias prevalecentes no sistema das cidades-estados e com isso, traz sentido de falta de credibilidade das unidades políticas em razão, de que formaram o terreno histórico tanto para as guerras de conquistas territoriais quanto para práticas, comportamentos e políticas diplomáticas que estão presentes até o dia de hoje. Deste modo, foi se consolidando o uso dos embaixadores permanentes constituindo- se chancelarias estáveis, garantindo práticas diplomáticas e os acessos de privilégios e informações completas, estabelecendo assim o conceito das missões estrangeiras. A partir da época do tratado de Westfália1 , a Europa setecentista determinou a missão diplomática em defesa do interesse nacional com a missão do diplomata. 1Tratados de Westfália chamada Paz de Vestfália (ou de Vestefália, ou ainda Westfália), também conhecida como os Tratados de Münster e Osnabruque (ambas as cidades atualmente na Alemanha), designa uma série de tratados que encerraram a Guerra dos Trinta Anos e também reconheceram oficialmente as Províncias Unidas e a Confederação Suíça, O Tratado Hispano-Neerlandês, que pôs fim à Guerra dos Oitenta Anos, foi assinado no dia 30 de janeiro de 1648 (em Münster). Já o tratado de Vestfália, assinado em 24 de outubro de 1648, em Osnabruque, entre Fernando III, Imperador Romano-Germânico, os demais príncipes alemães, França e Suécia, pôs fim ao conflito entre estas duas últimas potências e o Sacro Império. O Tratado dos Pirenéus (1659), que encerrou a guerra entre França e Espanha, também costuma ser considerado parte da Paz de Vestfália. A Paz de Westfália estabeleceu os princípios que caracterizam o estado moderno, destacando-se a soberania, a igualdade jurídica entre os estados, a territorialidade e a não intervenção. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Paz_de_Vestf%C3%A1lia. Acesso em: 27 de jul. 2021. 6UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Com isso, a presença dos diplomatas estrangeiros nas capitais tornou-se um sinal de existência de uma sociedade de Estados que tem como principal característica as regras que constituem as estratégias nacionais. Portanto, o diplomata possui a representatividade de interesse de um Estado particular e peculiar, a diplomacia tem o símbolo da consciência geral de que há uma sociedade internacionalizada. Neste contexto, Hedley Bull apresentou a relevância e a permanência dos antigos símbolos da diplomacia Europeia no cenário atual. De acordo com Hedley bull, (1977, p. 183) verifica-se que atualmente a globalização levou aos Estados mais numerosos, mais divididos e assim, existe um ato simbólico com uma metodologia diplomática, que se destaca nas interações e também para uma aceitação universal entre as nações. Além da função que simboliza a diplomacia, Bull (1977) identificou outras quatro funções endógenas do sistema internacional. A característica principal da primeira função objetiva é facilitar a comunicação entre os líderes políticos entre os Estados. A essa função de mensageiro realizada pelos diplomatas, associa-se ao privilégio de imunidade e o direito de trânsito. Os Estados, geralmente, são olhados como uma sociedade internacional e não podem prejudicar as estratégias dos responsáveis pelo fluxo de mensagens. As negociações e acordos entre os Estados associados consistem, na principal característica que simboliza a diplomacia internacional. Esse papel de mediação tem como base o interesse dos representantes políticos de uma nação. A segunda das funções apresentadas por Bull (1977) é nomeada de mediação e persuasão, podendo ser vista como uma diferença entre a política externa em tempos normais, ou seja, em tempos considerados com estabilidade econômica, social e a política externa em tempos de crise, no qual o comportamento da mediação é voltado para estabilização. A terceira função entra com o papel da atividade de inteligência das unidades políticas, isto é, ao mesmo tempo em que se tem acesso a informações essenciais sobre os Estados, o diplomata precisa preservar a incerteza sobre as informações, não deixando certezas à tona. É importante reforçar caro aluno (a), que a dimensão de inteligência da diplomacia tem aceitação universal, pelo menos, enquanto as fronteiras que a desconectam da espionagem permanecem compreensíveis em razão de que, nem sempre essa fronteira é clara e, assim, acontecem cenas de expulsão de diplomata por acusação de espionagem. Como quarta e última função colocada por Bull (1977), a diplomacia tem por objetivo minimizar as fricções no relacionamento entre Estados. 2HEDLEY, Bull. The anarchical society: a study of world politics. London: The Macmillan Press, 1977, p. 183. 7UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Essa função de comunicação está ligada à utilização de integrações diplomáticas, que são instrumentos para estabelecimento de uma linguagem considerada mais popular, que esclarece regras no qual reduz o campo do exercício da vaidade das nações. Portanto, caro aluno (a), é importante salientar que na antiga Grécia, os Estados cultivavam relações econômicas e comerciais entre si em um alto grau, isso porque as Cidades-Estados tinham relações pacíficas entre si, porém, ao mesmo tempo, estavam em busca de poder e de posse de bens. É relevante rever o passado para o estudo das Relações Internacionais, pois a maiorparte dos eventos a estudar que são: estado, Balance of Power e Nação, se destacam no sistema internacional em toda a trajetória histórica. 8UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 2. PENSAMENTO POLÍTICO E O FUNDAMENTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS No tópico 1 (um), você conheceu um breve resumo da história das Relações Internacionais, você conhecerá o pensamento político e os fundamentos das relações internacionais. Por esse motivo caro aluno (a), inicio este tópico apresentando o pensamento contratualista, essa escola de pensamento se destaca por ser teoria política e filosófica, com a ideia de que existe um pacto ou contrato social, que tira o ser humano de seu estado de natureza e este, é inserido com interação com outros seres humanos em sociedade. Isso pode acontecer por uma linha liberal (Locke) ou realista (Hobbes). Essas duas linhas de pensamento são relevantes, por fornecer os fundamentos do pensamento político moderno e por exercer forte influxo sobre a teoria das Relações Internacionais. Partindo do panorama de que as Relações Internacionais apresentam dois eixos fundamentais, que são: realismo e liberalismo. Vamos analisar ambos a seguir, dentro das correntes de pensamento por ordem cronológica. Sendo assim, o realismo político segue a seguinte linha cronológica de desenvolvimento: ● Tucídides: concepção de equilíbrio de poder; ● Maquiavel: apresentação da moral política, razão de Estado e de governo. É considerado o pai da ciência política moderna; ● Hobbes: mostra o estatocentrismo (analisar o mundo pelo panorama e visão do povo) e sistema de estados anárquico; ● Carr: mostra uma crítica ao idealismo (tudo sendo um modelo ideal); 9UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação ● Morgenthau: apresentou aspectos do realismo, e além de tudo, analisou pressupostos do interesse nacional com aspectos de poder. ● Waltz: mostrou-se o neorealismo (por uma análise sistêmica). A partir destes pensamentos, a filosofia política apresentada por Maquiavel e Hobbes, foram os pensamentos base do realismo político nas relações internacionais, além do que, os princípios organizados teoricamente por Morgenthau e revisados por Waltz, vieram com a visão cuja lógica é a do conflito e poder e os pressupostos serão apresentados a seguir: ● Natureza humana é má; ● Centralidade do Estado cujo interesse é a sobrevivência e maximização de ganhos; ● O foco das relações internacionais é a busca do equilíbrio de poder; ● O Sistema internacional é analisado como anárquico, onde guerra e conflitos são latentes. A corrente liberal, por outro lado, pode ser esquematizada cronologicamente da seguinte forma: ● Locke apresenta o homem em estado de natureza bom; ● Montesquieu realiza uma importante divisão dos poderes e inclui princípios a organização do Estado, ou seja, executivo, legislativo e judiciário; ● Jeremy Bentham parte com análises e teorias do direito internacional; ● John Stuart Mill parte com fundamentos do liberalismo econômico e do livre comércio; ● Immanuel Kant, diante do iluminismo da época vem com o ideal federativo republicano; ● Woodrow Wilson criou um projeto político em relações internacionais, a partir de pensamentos da corte liberal-idealista da época; ● Keohane e Nye surgem com pensamentos do neoliberalismo e complementa com a teoria da interdependência complexa. Por isso, segundo Pecequilo (2004), os pressupostos gerais dessa corrente, seriam: ● Natureza humana é boa (o homem é pacífico e tende à cooperação); ● O sistema internacional é anárquico, mas regulado por leis e propenso à cooperação e comércio; ● Interdependência econômica, disseminação das democracias e instituições internacionais como fatores que geram a cooperação no meio internacional; ● Filosofia da paz e do progresso; ● Percepção de que a complexificação do sistema internacional faz com que, além dos Estados, as forças transnacionais e as organizações internacionais exerçam influência no sistema internacional (PECEQUILO, 2004, p. 115 - 156). Diante desses aspectos, percebe-se a preocupação com o fenômeno da guerra e a busca da paz, é a temática que deu origem ao estudo das relações internacionais. 10UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Desta forma, é uma área com uma linha de estudos que introduziu uma diversidade de tratados e reflexões filosóficas sobre o tema. Conforme Fonseca (2008), a percepção de Waltz está baseada no âmbito realista que objetiva ligar críticas ao institucionalismo liberal (nas décadas 1970 - 1980), cujo pilar político filosófico é, de um lado, o liberalismo (Locke, Adam Smith) e, de outro, o institucionalismo em relações internacionais, presente em Kant (importante pensador iluminista), no Abade de Saint-Pierre e o projeto da “paz perpétua” por meio de uma confederação de repúblicas. Diante dessa linha de pensamento, Waltz vai até Rousseau, já que este ligou considerações sobre o campo das relações internacionais por meio de sua leitura das apresentações de Saint-Pierre, considerado crítico ao liberalismo econômico. Compreendemos então que: “A possibilidade de guerra é, então, inerente a um sistema de soberanos”, havendo uma “dimensão sistêmica na explicação da origem das guerras”, é que Rousseau desacredita na viabilidade da proposta de “transformar, pela razão, o que foi iniciado pela fortuna, criando-se um ‘corpo político’ com as características de uma confederação de Estados”, pois, para Rousseau, “o importante é mostrar que o caminho possível para a paz perpétua deveria ser necessariamente levar em conta as relações de poder”. Trata-se de um realismo rousseauniano, que “anuncia uma compreensão estrutural do fenômeno da guerra: os Estado entram em conflito não porque sejam compostos de homens naturalmente agressivos, mas porque, ao serem formados, tornam-se agressivos para se preservar como Estados (FONSECA 2008, p. 316). Na visão de Fonseca (2008), a opção por Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Locke e Kant, demonstra, que a diversidade de abordagens a qual se refere às relações internacionais ao se apoiar em distintas matrizes, da filosofia política. Assim, existe uma heterogeneidade epistemológica como elemento chave da área de estudos, já que um mesmo fenômeno (seja a guerra/conflito ou a paz/cooperação) pode ser analisado e visto de formas diversas, do ponto de vista teórico metodológico escolhido para destrinchar o tema. 11UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 3. A TEORIA DA SOCIEDADE CIVIL INTERNACIONAL Caro aluno (a) até aqui, eu e você já conhecemos um bom começo sobre o assunto, Relações Internacionais, mas ainda há muitas informações e conhecimentos interessantes que irei tratar com você. Neste tópico, vou falar com você sobre a teoria da sociedade civil internacional. Segundo os estudos pesquisados por Pinheiro (1998), descreve-se que a sociedade civil, é o assunto mais estudado da teoria política clássica e também usado com frequência no discurso social/político atual. Porém, há uma diversidade de classificações feitas por autores diferentes, desde o período medieval por meio da tradução da Política de Aristóteles, a conceitualização tem sido revisada por muitos filósofos políticos ocidentais significativos, passando por Hobbes, Locke, Rousseau, Ferguson, Smith, Kant, Hegel, Marx, Gramsci e, contemporaneamente, Arato & Cohen. Por meio de uma perspectiva histórica, a conceitualização da sociedade civil, para Hobbes, Locke, Rousseau e Ferguson, por exemplo, era sinal de Estado. Ao contrário do “estado de natureza” que é visto, sob três linhas diferentes em relação à sociedade civil: 1) Família jusnaturalista; 2) Família ligada a Hegel; 3) Família ligada ao associativismo. 12UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Segundo Pinheiro (1998), o conceito de sociedade civil tinha uma ligação com o Estado, isso porque era visto como uma comunidade política com raízes nos princípios da cidadania. E atéo século XVIII, o foco dos autores como: Hobbes, Locke, Rousseau, Ferguson, Smith, Montesquieu e Hume, eram de estudar detalhadamente os caminhos da sociedade, para ressaltar o Estado de natureza e representar de maneira formal o governo com bases da lei, isto é, em uma sociedade civil. Diante dessa contextualização, o termo sociedade civil coloca um novo estágio na evolução do governo e da civilidade humana: “a ideia de um estágio pré-estatal da humanidade, inspira-se não tanto na antítese sociedade/Estado quanto na antítese natureza/ civilização” (BOBBIO, 1987, p. 27). Na apresentação de Pinheiro (1998), o primeiro filósofo político moderno a expor a questão das origens da sociedade de uma forma detalhada e profunda, foi Thomas Hobbes. Mas, outros autores nesta mesma linha da literatura, colocam o termo sociedade civis das ligações com o termo civilidade. Diante disso, vamos analisar nas palavras de Kaldor (2003), o conceito de civilidade: (...) respeito pela autonomia individual, baseada na segurança e na confiança entre as pessoas (...). (Civilidade) requer regularidade de comportamento, regras de conduta, respeito pela lei e controle da violência. Por isso, uma sociedade civil era sinônimo de sociedade cortês, uma sociedade, nas quais estranhos agem de uma maneira civilizada com relação aos outros, tratando cada um com respeito mútuo, tolerância e confiança, uma sociedade na qual o debate racional e a discussão se tornam possíveis (KALDOR, 2003, p. 17). Com essa autonomia individual apresentada por Kaldor (2003), pode-se identificar em Bobbio (1991), o processo de racionalização do Estado na teoria política moderna, que contém uma visão de modelo dicotômico que coloca o Estado com pontos positivos e negativos à sociedade pré-estatal ou anti-estatal. Desta maneira, conforme Pinheiro (1998), diante dessa vasta literatura, tem-se destaque do papel da propriedade privada no desenvolvimento de uma sociedade civil. Rousseau afirma, que “o primeiro homem que, tendo cercado um pedaço de terra, “(...) dizendo ‘isto é meu’ e encontrando pessoas simples o bastante para acreditar nele, foi o fundador real da sociedade civil” (ROUSSEAU apud COLÁS, 2002, p. 32). Locke, por sua vez, mostra que a sociedade civil está marcada por dualidades, com relação ao lugar da propriedade privada na gênese e no desenvolvimento da sociedade civil. Em Pinheiro (1998), estas distinções levaram a ver Locke como um teórico político do “individualismo possessivo”. Isso porque, o relacionamento de Locke com a propriedade privada, se direciona por outro caminho, o capitalismo agrário, transformações estas, que se encontram expressas em seu pensamento. 13UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Sendo assim, caro acadêmico (a), vale à pena destacar que foi precisamente esta transformação social, que surgiu a identificação da sociedade civil com uma categoria analítica da economia nas décadas seguintes. Ainda na visão de Pinheiro (1998), por volta do final do século XVIII, a associação da sociedade civil juntamente com a sociedade capitalista de mercado, foi ligada pela emergência da economia política. Através dos escritos de Adam Ferguson, Adam Smith e Karl Marx, é possível identificar a sociedade civil diretamente relacionada com a divisão do trabalho à produção em massa das commodities e uma continuidade das conexões de propriedade privada, caracterizadas pelo capitalismo moderno. Pinheiro (1998) ainda coloca, que em relação à abordagem da ideia de sociedade civil pelo Iluminismo Escocês, os pensadores Ferguson e Smith, por exemplo, tem muita ligação com conceitos como história, civilidade e sociedade. Mediante a isso, destaca-se que a convicção destes autores na visão de sociabilidade, acaba mostrando algo novo que não representa uma negação total da fase anterior. “Foi Locke, o primeiro a introduzir a noção de propriedade privada como uma condição para a sociedade civil” (KALDOR, 2003, p. 18). Com isso, Pinheiro (1998) coloca que Montesquieu diz que o homem nasce da sociedade. Deste modo, a questão então deixa de ser a sociabilidade e passa a levar a um entendimento profundo do porquê, e como as sociedades possuem distinções no tempo e no espaço. A resposta para esse questionamento no decorrer da história e diante de uma vasta literatura nos leva a ver que é um progresso da humanidade, que ocorre em variados momentos, com uma diversidade de cultura e costumes e isso leva a uma diferenciação das formas prévias de sociedade no que tange sociedade civil moderna, ou seja, para explicar a sociedade presente, fazia-se necessário examinar sua evolução e trajetória incluindo assim, dinâmica específica à história, percebe-se que há uma complexidade histórica para ser analisada e que cada região terá sua peculiaridade. Para Pinheiro (1998), o que leva a mudança e dinâmica histórica seria a propriedade, isto porque a propriedade é o elemento-chave para a distinção das nações (riqueza, terras, crescimento, etc.). Em resumo caro acadêmico (a), é por meio do modo de subsistência analisado no âmbito da propriedade privada, da divisão do trabalho e da troca de commodities, que as pessoas, os agentes, passariam a viver em uma sociedade civil. 14UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Percebe-se, assim, que os autores do Iluminismo Escocês colocam a sociedade civil como a sociedade de mercado capitalista. Para estes autores, a divisão do trabalho e a extensão do comércio levam a estabilidade, riqueza e prosperidade das nações, e essas são características fundamentais da sociedade civil, isto é, o Iluminismo Escocês possui uma representatividade sobre as transformações do entendimento político e econômico da sociedade civil. Pinheiro (1998) ainda afirma que a sociedade civil era constituída por associações, comunidades e corporações, que teriam um objetivo social considerado primordial na relação entre os indivíduos e o Estado. Com isso, o ângulo diferente da sociedade civil, algumas vezes está subordinado ao interesse universal do Estado e sua racionalidade. Assim, a sociedade civil é reconhecida como tendo uma relevante função dentro do projeto de uma Vida Ética. Ainda no que diz respeito à sociedade civil, para Pinheiro (1998), a sociedade civil funcionava como um espaço real de interação social e econômica entre indivíduos. Era instruído por três aspectos: 1. Um “sistema de necessidades”, ou seja, um sistema econômico; 2. Uma “administração da justiça”, que leva uma ideia do liberalismo, isto é, da liberdade individual; 3. E “a política e corporação”, que conduz esse sistema de necessidades e a administração da justiça. Portanto caro aluno (a) observa-se aqui, que o conceito de “sistema de necessidades” surgiu com os economistas escoceses. Desta forma, o pensamento hegeliano conduz que a sociedade civil é habitada por indivíduos donos de direitos, se remete à formulação lockeana. Assim, a apresentação de uma sociedade civil como produto de uma época histórica distinta e dinâmica, é exposta pelos iluministas. Portanto, os elementos que associam a sociedade civil têm caminhos representativos e éticos de interação entre os indivíduos em uma comunidade ampla, no qual os indivíduos são educados nas virtudes da vida civilizada. Por isso, é possível identificar duas inovações na teoria da sociedade civil de Hegel, analisando esses outros caminhos teóricos: 1. O reconhecimento da importância das associações, independentes como componentes fundamentais da sociedade civil, que desempenham o papel de mediadoras entre os indivíduos e o Estado – ou seja, em Hegel “a sociedade civil constitui o momento intermediário entre a família e o Estado (...)” (BOBBIO, 1991, p. 30). 2. Devido à importância que dá às dimensões comunais da existência humana, o conceito hegeliano de sociedade civil, reconhece a centralidade dos indivíduos conscientes e reflexivos na construçãoda sociedade civil moderna (COLÁS, 2002, p. 32). 15UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Como inovação teórica e conceitual, observa-se também uma inovação em relação com os teóricos anteriores, na medida em que Hegel chama de sociedade civil aquela, que seria a sociedade pré-política, isto é, existe uma fase da sociedade humana, que era até então nomeada de sociedade natural (BOBBIO, 1991). Em relação, à contribuição de Karl Marx, Pinheiro (1998) coloca a ideia de sociedade civil como uma resposta à Hegel e por outro lado de uma visão, de certa forma influenciada pelos teóricos políticos do Iluminismo Escocês. Isto porque existe uma associação desta, com a esfera de produção e pela discussão do aspecto histórico como ponto chave da modernidade. Marx faz uma definição de sociedade civil como luta de classes. Ou seja, como um “sistema de necessidades”, para Marx (1993, p. 53) “a sociedade civil é composta por massas separadas, formada por uma organização, sendo estas massas produtivas, burguesia e o proletariado”. Ainda na visão de Pinheiro (1998), a sociedade civil representa o desenvolvimento das relações econômicas que leva a determinação do momento político. Desta maneira, o Estado entra na visão do autor como uma ordem política, sendo um elemento dependente, e a sociedade civil, se classifica para ele como o reino das relações econômicas, ou melhor, o elemento dominante. Neste ponto é possível encontrarmos uma semelhança, que nos leva a emergência da sociedade civil. Esse ponto está na separação do âmbito privado da produção e da troca da esfera pública do Estado político. 16UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 4. FUNCIONAMENTO DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Sobre os funcionamentos das relações internacionais, Magnoli (2013) afirma que as teorias políticas clássicas, são adequadas para levar a um entendimento claro desse assunto, isso porque, concentram seu interesse nas relações internas aos Estados, entre o governante e a sociedade de maneira ampla. O estudo do funcionamento das relações internacionais, ou melhor, das relações estabelecidas entre os Estados, é atual e começou a se destacar no século XX. A preocupação com o sistema internacional de Estados foi incentivada, pela constituição progressiva de uma economia integrada, de âmbito mundial. As mudanças na produção e dos transportes de mercadorias típicas dos séculos XVIII e XIX eram chamadas de Revolução Industrial e nesse momento, surgiram novos estudos buscando entender o funcionamento das relações internacionais de maneira mais ativa. A própria análise do Estado foi cada vez mais influenciada para o entendimento do funcionamento das relações e do comércio internacional, isso porque era extremamente importante para evolução da nação, ou seja, pelo estudo do papel desempenhado por cada Estado no sistema geral e de suas peculiaridades, era possível desenvolver um funcionamento mais adequado. O vasto campo de estudo das relações internacionais não é definido de forma consensual. Uma diversidade de autores encara de modo distinto, o funcionamento das relações internacionais. Diante da vasta literatura, é possível detectar três tradições totalmente diferentes das teorias sobre as relações internacionais e seu funcionamento. 17UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação A primeira dessas tradições gerou a chamada, escola idealista, que veio do pensamento iluminista, apresentando a comunidade de normas, regras e ideias que tem como base, o sistema de Estados. Sua origem e pilar é a noção do direito natural que, aplicada ao sistema internacional, implica o conceito de justiça como dominante das relações entre os Estados. Para Magnoli (2013), no pensamento idealista, o uso eventual da força pelos Estados, encontra um argumento apenas quando orientado pelo desígnio da eliminação da força do interior do sistema, resguardando a justiça internacional das agressões de agentes, que não partilham as mesmas regras consensuais. Mediante a isso, a visão rousseauniana do contrato social, aparece com um contexto peculiar. Os Estados formam uma “comunidade internacional”, sobre um “contrato moral” que tem base na noção de justiça. Essa tradição filosófica foi uma resposta e também, reação moral aos horrores da Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918). As doutrinas e políticas formuladas nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha no final da guerra e no entreguerras, apresentam repúdio às práticas estabelecidas da “política da força” e mostram a vontade de submissão das relações entre os Estados, ao império da legislação. A escola idealista tem ligação com a ideia iluminista, isso porque possui um caminho de possibilidade de uma sociedade perfeita. Essa meta moral, nos leva ao caráter considerado reformista dos autores idealistas, que possuem a visão da adaptação do sistema internacional às exigências do direito e da justiça. Um exemplo seria o “Catorze Pontos”, do presidente americano Woodrow Wilson. A segunda tradição informa a escola realista. Sua ênfase, não entra em uma comunidade ideológica do sistema internacional, mas em seu âmbito conflitivo. As raízes dessas correntes de pensamentos encontram-se, em Maquiavel e Hobbes. Maquiavel colocou a relevância e primordialidade da força na prática política, que não está limitada por constrangimentos morais e conferiu uma legitimação aos interesses do soberano. Em sua linha de raciocínio, os fins selecionam e condicionam os meios. Hobbes, como Maquiavel, possui um lado de pessimismo em relação à natureza humana. Seus comentários sobre o sistema internacional possuem um caminho paralelo, entre as ligações estabelecidas pelos Estados e as conexões estabelecidas pelos indivíduos, na ausência de Leviatã. Com esse olhar, a escola realista coloca uma visão da ausência de um poder soberano e imperativo, para um bom funcionamento das relações internacionais. Magnoli (2013) coloca que as doutrinas realistas, formam a mais complexa tradição de política externa, desde que se ajustou o moderno sistema de Estados. 18UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação Deste modo, no plano acadêmico, a escola realista possui em seu desenvolvimento de pensamento, como reação aos fracassos da “política do apaziguamento”, que foi conduzida na Europa do entreguerras. Hans Morgenthau, autor de Politics Among Nations, foi o fundador do pensamento realista contemporâneo e apresentou a meta moral da reforma do sistema internacional, pela análise das condições objetivas, que mostram o comportamento dos Estados, os pensadores realistas deixaram como base em sua argumentação, ideias da anarquia inerente ao processo sistêmico, que tende ao equilíbrio de poder indo contra essa anarquia. As distinções entre os autores realistas a respeito dos instrumentos do comportamento dos Estados surgiram da corrente neo-realista, também nomeada como realismo estrutural, diferente da Morgenthau, que se contentou na definição do comportamento dos Estados como ânsia de poder, os neo-realistas possuem uma preferência para identificação da busca da segurança, como causa última da prática política no sistema internacional. Esse enfoque destaca o problema estrutural presente do sistema, que define os meios e maneiras, até mesmo graus da insegurança, experimentados por cada agente e indivíduo de forma isolada. No pós-guerra, o desenvolvimento de uma complexa rede de instituições internacionais, levou a uma linhagem de autores a rever a ideia de anarquia ligada ao sistema internacional. Esses autores, dentre os quais se destacam Robert Keohane, Joseph Nye e Stanley Hoffmann, estabeleceram, dentro do campo realista, uma corrente institucionalista. Os institucionalistas colocam um destaque na abrangência crescente do direito internacional, mostrando que as instituições que balizam a atuação dos Estados. O impacto da existência da rede de instituições internacionais, sobre umolhar de segurança e credibilidade de estratégias por parte do Estado, principalmente no cenário europeu, é a seção de maior destaque de investigação dessa linha de pensamento. Seu ponto crucial consiste na relevância da limitação da soberania e da paralela queda da insegurança, em razão dos compromissos institucionais. A terceira tradição é a denominada, escola radical. Suas raízes têm como base, o pensamento de Karl Marx e, por isso, a escola radical é também nomeada como: neomarxista. Vale ressaltar, que Karl Marx não produziu uma teoria do sistema internacional, mas da História e da revolução social. Ao contrário das tradições apresentadas anteriormente, seu objeto de pesquisa e de estudo, não se enquadra na cooperação ou no conflito entre Estados, mas no conflito entre as classes sociais. 19UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação O Estado é um elemento marginal no pensamento marxista e o funcionamento e objetivo dos Estados, surge como se fosse um meio para interesses econômicos, políticos e sociais de outros indivíduos. Contudo, principalmente com Lenin, a tradição marxista elaborou um pensamento sobre o funcionamento das relações internacionais. O contexto internacional das últimas décadas do século XIX e início do século XX levaram, à teorização leninista sobre o imperialismo. A expansão neocolonial das potências europeias na Ásia e na África, e as medidas semicoloniais dos Estados Unidos no Caribe, no Pacífico e no Extremo Oriente, estabelecem o foco das preocupações do russo. Lenin concentrou-se na obra Imperialismo, que era um destaque na época do britânico John Hobson. Deste modo, produziu uma versão marxista: Imperialismo levando um estágio superior do capitalismo. Nesta obra, houve influência do olhar e particularidades de pensamento de partidos e organizações de esquerda, o líder revolucionário russo, estabelecia interessantes ligações, interações teóricas e comportamentais entre a economia política do capitalismo, a luta pela divisão de mercados e o imperialismo neocolonial, porém, o argumento original de Lenin, tem a base na ligação entre a prática imperialista e a guerra entre potências. O imperialismo acaba abrindo caminhos para a guerra e também para a revolução social. A estrutura das teorias neomarxistas sobre o sistema internacional possui base, na análise das relações de subordinação econômica entre países em fases iniciais e desiguais de desenvolvimento industrial e tecnológico. Immanuel Wallerstein, um dos mais relevantes pensadores radicais e autor de The capitalist world economy, forneceu as bases conceituais para uma teoria dos sistemas mundiais. O foco dessa teoria está nos padrões de dominação e na rede de relações econômicas entre as sociedades, não na estrutura do sistema internacional de Estados. Ela traça a evolução do sistema capitalista, distinguindo áreas centrais e periféricas, procurando as raízes do desenvolvimento e do subdesenvolvimento. Os enfoques da escola radical possuem um interesse no pensamento dos fenômenos contemporâneos da globalização, podemos citar os fluxos de capital e mercadorias, os mercados financeiros, a internacionalização das corporações industriais e a configuração de blocos econômicos macrorregionais. Do ponto de vista metodológico, as análises neomarxistas, auxiliam principalmente para abrir caminhos de pensamento sobre os agentes do sistema internacional, que não são Estados, ou seja, os grupos econômicos e as corporações transnacionais, entre outras instituições. 20UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação SAIBA MAIS Termos e Conceitos Importantes Monarquias absolutas Monarquias europeias da Idade Moderna, assentadas sobre o fundamento do direito divino do rei, que coloca como subordinado à nobreza. O reinado de Luís XIV na França (1643- 1715) representou o apogeu do absolutismo. Reinos medievais São unidades políticas da Idade Média europeia, fundamentadas pela fragmentação do poder. Nesses reinos, o poder real diluiu-se, de forma horizontal, entre a nobreza feudal e subordinou-se, de forma vertical, à Igreja de Roma. Estado territorial Modelo de Estado que se originou da Idade Moderna, com o advento das monarquias absolutas europeias. Caracteriza-se pela constituição de aparatos burocráticos e militares centrais, e pela definição das fronteiras políticas. Tribunos da plebe Representantes dos plebeus, os cidadãos que não pertenciam à aristocracia patrícia, no governo da República romana. Modelo jusnaturalista Doutrina, segundo a qual existe um direito natural, anterior e superior ao direito positivo, que tem princípios de estabelecimento pelo Estado. Estado-Nação Modelo de Estado que emerge na Idade Contemporânea, com a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Caracteriza-se pelo princípio da soberania popular. Fonte: MAGNOLI, Demétrio. Relações internacionais. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2013. P.30. Disponível em: https://www.saraiva.com.br/relacoes-internacionais-teoria-e-historia-2-ed-2013-4912211/p. Acesso em 27 de jul. 2021. https://www.saraiva.com.br/relacoes-internacionais-teoria-e-historia-2-ed-2013-4912211/p 21UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação REFLITA “Só há dois tipos de relação sem conflito: as de subordinação e as que não existem.” Fonte: Marco Aurélio Garcia. 22UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação CONSIDERAÇÕES FINAIS Caro aluno (a) Chegamos ao final da unidade I, onde foi possível apresentar a você alguns conceitos importantes, referente a este rico assunto, Relações Internacionais (RI). Você estudou aqui os primeiros fatos referentes, à origem das relações internacionais, O pensamento político e o fundamento das relações internacionais, além disso, A teoria da sociedade civil internacional e para finalizar a unidade I, Funcionamento das relações internacionais. As Relações Internacionais surgem como, um domínio teórico da Ciência Política no período, imediatamente posterior à Primeira Guerra Mundial. Os estudos foram iniciados pelo Royal Institute of International Affairs, fundado em 1920, o pioneirismo no estudo exclusivo às relações internacionais. No mesmo período, a London School of Economics inaugurou um Departamento de Relações Internacionais, que posteriormente seria relevante para a construção de teorias da escola inglesa de relações internacionais. Observa-se que historicamente, as políticas de profissionalização do corpo diplomático só foram deflagradas, nos países pioneiros, na segunda metade do século XIX. Antes disso, os diplomatas eram recrutados de uma maneira restrita. Naquelas condições, a carreira desenvolvia-se de acordo com regras informais, dependentes, muitas vezes, de laços pessoais ou familiares. A herança dessa época está condicionada em hábitos e atitudes de solidariedade entre diplomatas de diferentes países e numa certa cultura aristocrática que se dissolve, aos poucos, sob o impacto da profissionalização. 23UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação MATERIAL COMPLEMENTAR LIVRO Título: Relações internacionais. 2 ed. Autor: Demétrio Magnoli. Ano: 2013. Editora: Saraiva. Disponível em https://app.saraivadigital.com.br Sinopse: Esta é uma obra de introdução ao campo das relações internacionais e está estruturada, para o estudo das escolas de pensamento em RI das teorias e os da conceitualização, que pretendem oferecer explicações para as políticas dos Estados, nas suas interações com os demais Estados. O seu foco é o sistema internacional a partir da Idade Moderna. Esta obra tem um foco na tradição da linhagem de autores históricos das relações internacionais. Assim, nesse livro, você verá as raízes dos tratados e das guerras, do conflito e da cooperação, e suas devidas peculiaridades para cada região, além disso, os contextos econômicos e culturais delineados. FILME/VÍDEO Título. A Passage to India (Passagem para a Índia, 1984). Ano: 1984. Sinopse: No final dos anos 20, Adela Quested (JudyDavis), uma rica inglesa de ideias liberais, viaja para fora do país pela primeira vez, indo à Índia para encontrar seu noivo. O choque cultural acontece, mas quando tudo parecia facilitar a integração, Adela acusa o jovem Dr. Aziz (Victor Banerjee) de tentativa de estupro durante um passeio até as cavernas de Maraba Link do trailer: https://www.youtube.com/watch?v=1wJiTsARqrE WEB Ministério das Relações Exteriores: http://www.mre.gov.br 24 Plano de Estudo: ● Principais marcos metodológicos; ● Análise da Teoria das Relações Internacionais; ● Principais autores e suas correntes clássicas; ● Principais correntes e relações brasileiras. Objetivos da Aprendizagem: ● Apresentar os principais marcos metodológicos; ● Analisar as principais teorias das Relações Internacionais; ● Estudar os principais autores e suas correntes clássicas; ● Estudar as principais correntes e relações brasileiras. UNIDADE II Destaques Internacionais Professora Esp. Margarete Campos Vieira 25UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 25UNIDADE II Destaques Internacionais INTRODUÇÃO Prezado (a) acadêmico (a) nesta unidade, será apresentado alguns destaques em pautado nas relações internacionais. É relevante sempre lembrar, que no final desta unidade você terá também algumas curiosidades e dicas de filmes e livros para complementar seus estudos. Para iniciar nossos estudos, iremos apresentar os principais marcos metodológicos, marcos estes, que foram importantes nos estudos das relações internacionais e você poderá entender melhor a importância deles, para os estudos propostos. Após apresentados os principais acontecimentos, será abordado algumas análises sobre as principais teorias das Relações Internacionais. E para aprimorar este estudo, convido você aluno (a), a estudar os principais autores e suas correntes clássicas. Entre estes autores, destacam-se alguns como: Sun Tzu, Tucídides, Tito Lívio e Maquiavel, Hobbes e Richelieu, respectivamente. Por fim, nesta unidade irei apresentar algumas, das principais correntes e relações brasileiras, em relação aos momentos políticos marcantes da época. Portanto, é importante destacar que o pensamento das Relações Internacionais buscou, nas referências clássicas que expliquem melhor os fatos. Sendo assim, destacaram- se vários autores em que o poder é o elemento central de suas teorias. Como já apresentado na Unidade I, para o realismo do século XX que estava se consolidando, diversas conceitualizações como sobrevivência, poder, estado de natureza e auto interesse, era o foco dado na leitura dos clássicos. Nas teorias realistas das relações internacionais, que exigem um caráter objetivo, empírico e detalhista, o Estado é colocado no elemento-chave do debate, pois se considera que o Estado é o ator principal das relações internacionais. Obrigado por continuar comigo e desejo bons estudos! 26UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 26UNIDADE II Destaques Internacionais 1. PRINCIPAIS MARCOS METODOLÓGICOS Prezado (a) acadêmico (a) neste tópico, você irá estudar sobre os principais marcos metodológicos, que são destaque na literatura das relações internacionais. Todo método opera por meio de um caminho conhecido, para a produção da ciência. Os primeiros registros do conhecimento sobre a natureza e a ciência partem das observações humanas ao longo dos tempos, conforme Castro (2012, p. 271): O método corresponde, nas pesquisas científicas em Relações Internacionais, à determinação de rota factível (dentre as várias trilhas disponíveis ao sujeito e seus interlocutores), para o processo de investigação. Tem duplos sentidos: atender ao próprio pesquisador na análise dos conceitos, na construção formal da pesquisa e no processamento das variáveis no bojo da mecânica da produção acadêmica e revelar ao público interessado (leitores em geral), os meios utilizados no desenho dos resultados encontrados. Método e conhecimento são aportes de construção para o processo científico. Método e ciência trazem complementaridades e necessitam de mútua correlação sob a égide de constante verificação ou testes (CASTRO, 2012, p. 271). Por isso, método e conhecimento não podem ser separados, assim não existe processo, nem cientificidade sem o devido método. Kuhn entende que a ciência normal, é metódica formada e reformada. Segundo Castro (2012, p. 271), as reflexões iniciais surgem de provocações importantes, para os estudos das metodologias, em relações internacionais: Será mesmo um caminho conhecido ou meramente um caminho apenas (re) conhecido pela comunidade acadêmica? O reconhecimento do caminho já amplamente trilhado anteriormente pelos sistemas de teorias (Popper) é uma forma, de inovação nas Relações Internacionais? Ao longo do tempo, acarretando, assim, os paradigmas aceitos perante uma comunidade científica. Assim, o método e sua sistematização formal, denominada de metodologia, vislumbram maneiras que possibilitam o avanço da produção científica e a elevação dos padrões de pensamento crítico e reflexivo (CASTRO, 2012, p. 271). 27UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 27UNIDADE II Destaques Internacionais Verifica-se que os métodos, seguem uma lógica formal posta e aceita como ponto organizado de partida e de chegada. Não há dúvidas quanto ao ponto de partida; o questionamento reside no caráter e no tipo de lógica formal, posta e aceita para tal. Conforme Castro (2012, p. 272) há alguns questionamentos relevantes: Haveria, objetivamente, lógicas formais que melhor atenderiam os ditames complexos das Relações Internacionais? Existem dados confiáveis para re- futar os saberes científicos da área internacional? Como se poderiam cons- truir parâmetros lógico-sistêmicos de validação da pesquisa em RI? Muitas dessas perguntas são aqui deixadas pairando no ar. De toda maneira, há uma estruturação racional (cartesiana) crítica inerente ao processo metódico para as ciências e humanas, como também para as ciências chamadas duras ou para as ciências da natureza. Tal construção racional é produto de longo processo histórico no campo da filosofia da ciência, do cognitivismo e da epistemologia (CASTRO, 2012, p. 272). 1.1 Do Método Dedutivo Cartesiano Ainda conforme Castro (2012), a construção da organização e da elaboração do método desloca-se, necessariamente, pela construção e reconstrução do discurso, havendo Descartes1 , seu principal desenvolvedor dessa convicção. O racionalismo cartesiano aparece de forma predominante, como um divisor de águas na filosofia renascentista, não somente pela apresentação do cogito (“penso logo existo”), mas, predominantemente, pela sistemática estabelecida sobre a constante refutação e sobre a dinâmica do questionamento como base da experiência da razão. O célebre fundador do racionalismo no século XVII recebeu educação formal jesuíta e exerceu expressiva influência em Spinoza e em Leibniz. Segundo o filósofo francês, há quatro etapas na construção racional-epistemológica da lógica formal dedutiva com sua cientificidade, assim expressa em sua obra Discurso do Método: O primeiro era o de nunca aceitar algo como verdadeiro que eu não conhecesse claramente como tal. [...] O segundo, o de repartir cada uma das dificuldades que eu analisasse em tantas parcelas, quantas fossem possíveis e necessárias a fim de melhor solucioná-las. O terceiro, o de conduzir por ordem meus pensamentos, iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para elevar-me, pouco a pouco, como galgando degraus, até o conhecimento dos meus compostos, e presumindo até mesmo uma ordem entre os que se procedem naturalmente uns aos outros. E o último, o de efetuar em toda parte relações metódicas tão completas e revisões tão gerais, nas quais tivessem certeza de nada omitir. (DESCARTES, 1999, p. 49 - 51). Descartes (1999) afirma que, a lógica formal do método dedutivo é estruturada por evidência, em sua análise, por síntese e assim, por último na enunciação.O método dedutivo é a indução do geral para o particular de maneira convergente. O método indutivo, por sua vez, alega que quando evidenciados, os dados particulares, geram ideias mais amplas e válidas. 1DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo, Nova Cultural, 1999. p. 49 - 51. 28UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 28UNIDADE II Destaques Internacionais Segundo ele, o método dedutivo assegura, que se as premissas são verdadeiras, como consequência, haverá uma conclusão verdadeira e as informações da conclusão, já devem estar contidas nas premissas. Ele ainda afirma que, no dedutivismo, para que uma conclusão seja falsa, uma das premissas também o será. Exemplo: “Todos os países que são continentais possuem grande estatura de poder internacional. Ora, o Brasil é um país continental, logo, o Brasil tem capital de força-poder-interesse (PI) de expressão internacional”: (LAKATOS, 2000, p. 63) Uma lógica diferente e inversa ao método dedutivo deverá ser posta em prática pelo método indutivo, como veremos a seguir. 1.2 Do Método Indutivo no Experimentalismo de Bacon Castro (2012) coloca que Francis Bacon (contemporâneo de Descartes), foi consi- derado, a mente criadora do “método experimental”, além de ter contribuído para o método da indução científica, como Galileu Galilei. Na medida em que Descartes destaca a dedução, como método de alcance de refutações e questionamentos, Galileu e Bacon consideram que o indutivismo (método científico que obtém conclusões gerais a partir de premissas individuais), é o melhor método para chegar à ciência, isto é, uma forma de levar de forma real o método indutivo, é sugerir, com base na observação ocorrida de acontecimentos da mesma natureza, uma conclusão para todos os objectos ou eventos dessa natureza. Na apresentação de Bacon (1999), a tese de que o método científico experimental deveria ter cinco elementos cardeais conforme se constata: (...) a experimentação, a formulação de hipóteses, a repetição, o teste das hipóteses e, finalmente, a formulação de generalizações e leis aplicáveis ao mundo real. O método dedutivo e indutivo são formas de estruturar as trilhas percorridas pela produção científica, na busca de respostas e nas explicações das muitas questões das ciências e, em particular, das Relações Internacionais. Sendo assim, se o processo de reflexão formal e construção metodológica for realizado de maneira imprecisa e imperfeita, os resultados obtidos trarão vieses, gerando, assim, falácias e ambiguidades. A metodologia deve conter, rigorosamente e aplicar o princípio da coesão e coerência, cotejando com objetividade e subjetividade interpretativa, pois assim será possível articular melhor os saberes internacionais, com suas construções multidisciplinares. Sendo assim, “o método e o sistema perfazem a essência do saber científico, no qual o sistema representa o aspecto de conteúdo e o método, o aspecto formal.” Desse modo, método, metódica, metodologia e ciência, são construções formais e partes integrantes de processo intrínseco, ao saber investigativo, que merecem observações e detalhamentos bem específicos para diferenciar suas esferas de abrangência e fronteiras (BACON, 1999, p. 37). Castro (2012) relata que, como ciência autônoma e sistematizada, as relações Internacionais possuem metodologias próprias, mesmo que esta seja baseada em fontes diversas do conhecimento humano. 29UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 29UNIDADE II Destaques Internacionais O reconhecimento do locus específico das Relações Internacionais é ofertado, por meio de se entender, que elas são uma ciência de vertente política, com inter e transdisciplinaridade, sendo defendidas como canais de argumentação e investigação dessa ciência. Seu nascedouro acadêmico-disciplinar como ciência humana, social e política – na escala ampliada dedutiva – revela que, de forma crescente, tem realizado uma necessidade de reconhecimento de sua autonomia através de um arcabouço metodológico próprio. Castro (2012) nos apresenta que para Bacon, existia um valor hierárquico do experimentalismo como base da intuição e da cientificidade dos objetos sociais. Observemos suas palavras a seguir: A melhor demonstração é, de longe, a experiência, desde que se atenha rigorosamente ao experimento. Se procurarmos aplicá-la a outros fatos tidos por semelhantes, a não ser que se proceda de forma correta e metódica, é falaciosa. [...] Dessa forma, ocorre que os homens realizam os experimentos levianamente, como em um jogo, variando pouco, os experimentos já conhecidos e, se não alcançam os resultados, aborrecem-se e põem de lado os seus desígnios. (BACON, 1999, p. 37 - 97). Bacon é referência para o indutivismo no processo experimental-teórico, sendo assim, a aplicação dessa metodologia para as Relações Internacionais, seria como um endosso de uma estratégia para verificar variáveis aplicadas ao método. Bacon (1999) reforça a essencialidade da confirmação das premissas, para validação das conclusões dos objetos analíticos das Relações Internacionais. Diante disso, no indutivismo, se todas as premissas são verdadeiras, a conclusão é, provavelmente, verdadeira, porém, pode ser ou não totalmente verdadeiras essas premissas estruturantes. A conclusão apresenta uma informação final, por meio da inferência que nem sempre está presente nas premissas. Por exemplo, os países em desenvolvimento que foram estudados recentemente, possuíam políticas cambiais de desvalorização de sua moeda nacional. Logo, todos os dez países que pertencem ao ASEAN, têm práticas de desvalorização cambial. Atualmente, tais assertivas carecem de profundidade, rigor e maior formalismo de observação e de metodologia, no que tange ao processo de verificação e testes de conclusão. 1.3 O Método Hipotético-dedutivo de Popper Castro (2012) esclarece que Karl Popper, é um veemente crítico do método indutivo por formular, que uma teoria deve considerar todo alicerce da construção anterior, bem como seus erros e acertos, além de entender que a ciência deve sempre ser submetida a testes dedutivos. 30UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 30UNIDADE II Destaques Internacionais O experimentalismo dedutivo é guiado pela formulação de um problema de maneira objetiva, e este gerará suposições e refutações, causando rejeição ou corroboração (aceitação), através de testes e verificação. Para Popper, o falseamento também deverá assumir papel importante como erro a ser evitado na elaboração e formulação de novas teorias. O método hipotético-dedutivo apresenta meios de construir, metodologicamente, a pesquisa em RI de maneira a desenhar o levantamento das variáveis (dependente e independente), por meio da formulação de um problema inicial. A problematização deve ser resultado de eventuais contradições, lacunas e conflitos de expectativas existentes na corrente teórica predominante, isto é, quando as principais correntes teóricas não conseguem, devidamente, responder às questões atuais do foco da pesquisa. Uma conjectura é então formatada para responder, tentativamente, ao problema inicialmente posto. O levantamento de hipóteses é essencial, para a resposta da problematização gerada por quem pesquisa e essas hipóteses devem ser verificadas por ferramentas estatísticas, levando em consideração os objetivos traçados no desenho da pesquisa e também dependem da amostragem. Com isso, testes diversos devem ser realizados pela observação, pela experimentação e pelas análises com vistas à aprovação ou rejeição da pesquisa. Se positiva, então uma nova teoria é formada. 31UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 31UNIDADE II Destaques Internacionais 2. ANÁLISE DA TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS Caro (a) acadêmico (a) neste tópico, você irá estudar a análise da História Diplomática e perceberá que ela revela características distintas e, isso é o que define o objeto e a metodologiausada pelos historiadores nas relações internacionais. Conforme Castro (2012) acredita-se que as relações internacionais, têm sido objeto de grande atenção por parte daqueles que se dedicam às Ciências Sociais. Esse interesse começou a se manifestar no início da década de 1990, quando o fim da Guerra Fria deu partida à intensa discussão a respeito do processo de globalização, e confirmou-se desde os ataques terroristas aos alvos norte-americanos, em setembro de 2001. Todos esses acontecimentos despertaram a atenção dos estudiosos das Ciências Sociais, pois, contribuíram decisivamente para a consolidação de uma ideia apresentada anteriormente, segundo a qual os Estados haviam se elevado a um grau de interdependência irreversível. Consequentemente passou a predominar a ideia, de que já não havia mais como diferenciar os processos internos dos externos, ou melhor, inevitavelmente, todas as decisões relativas a questões internas passavam a apresentar efeitos externos, enquanto as decisões relativas a questões externas acabavam produzindo efeitos internos. Por isso caro (a) acadêmico (a), o conhecimento da realidade, em todas as suas dimensões, passou a incluir, necessariamente, o conhecimento das relações internacionais. Segundo Lessa e Gonçalves (2007), o movimento intelectual decorrente dessa nova maneira de perceber as relações internacionais, mobilizou não apenas politólogos (especialistas em ciências políticas), economistas e juristas, mas também historiadores. Devido à sua complexidade, o conhecimento dos problemas internacionais contemporâneos requer a análise histórica. 32UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 32UNIDADE II Destaques Internacionais Deste modo, considera-se que não é o suficiente entender o funcionamento das instituições e a capacidade de codificação conceitual, de certos aspectos da realidade. Para a construção do conhecimento é necessário também, acrescentar a esse trabalho intelectual de interpretação da realidade, a articulação dos elementos ao longo do tempo. Quando examinados à luz de sua dimensão temporal, fenômenos sociais, políticos, econômicos e culturais, tornam-se acessíveis. Essa movimentação ao redor dos historiadores, para a produção de conhecimento acerca das relações internacionais teve como importante efeito, despertar a atenção dos estudiosos para a História das Relações Internacionais. De acordo com Lessa e Gonçalves (2007), os estudos históricos que por muito tempo ficaram adormecidos, voltam a ter uma posição importante. O caráter de urgência que passou a marcar o conhecimento sobre determinadas questões internacionais demonstrou que, sem o concurso da História das Relações Internacionais, os fenômenos do presente revelavam-se incompreensíveis. Por isso, quem se sente motivado a elevar seus conhecimentos referentes à História das Relações Internacionais para participar positivamente do debate sobre as questões internacionais contemporâneas, depara-se, no entanto, com a falta de literatura específica. Embora os historiadores estejam permanentemente empenhados em refletir sobre sua prática, procurando reformular teorias, métodos e técnicas de pesquisa, com vistas a produzir um conhecimento da história socialmente útil, a dimensão internacional da história tem sido objeto de preconceitos ou ignorada pelos historiadores. Com esse contexto, ainda assim, muitos têm produzido admiráveis trabalhos de pesquisa, que contribuem significativamente para o conhecimento das questões internacionais. Entretanto, essa prática não tem se traduzido numa explicitação das questões teóricas que envolvem seu trabalho. Por isso, a carência em ligação com essas questões relativas à História das Relações Internacionais, fixou como objetivo deste texto elaborar algumas notas introdutórias sobre o assunto. Caro (a) acadêmico (a) para você entender melhor as Relações Internacionais, é importante entender também uma breve história e conceitos da História Diplomática, que constitui o protótipo da História institucional. Seu desenvolvimento ocorreu no século XIX, coincidindo com a consolidação do moderno Estado-nação na Europa e nas Américas. Marc Ferro (1989) refere-se à História institucional, que visa demonstrar e legitimar a existência de instituições, organizações e regras. A instituição pode ser o Estado, uma Igreja ou um partido político. 33UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 33UNIDADE II Destaques Internacionais Por meio da história do Estado, por exemplo, consagram-se determinadas interpretações de processos políticos considerados decisivos para sua formação, são exaltadas figuras heróicas que deram a vida pela nação e, por fim, glorifica-se a nacionalidade, tornando-se única. No que diz respeito à História Diplomática, a instituição em questão é o Estado em sua dimensão externa. Portanto, sua luta para proteger sua nação dos inimigos que ameaçam sua soberania é privilegiada. Para o melhor entendimento dessa relação entre história diplomática e os Estados-nação, é conveniente definir o significado da palavra diplomacia. A palavra vem do verbo grego diploun, cujo significado é dobrar. Portanto, o significado original de diploma: peça oficial gravada numa placa dupla de bronze formando um díptico. No tempo do Império Romano, essa placa dobrada era usada como passaporte para as pessoas e salvo-conduto para as viaturas em trânsito pelas rotas imperiais. Mais tarde, o nome do diploma estendeu-se aos documentos oficiais, já não mais metálicos, que conferiam privilégios a seus portadores ou então, registravam os acordos realizados com as comunidades estrangeiras (MARC FERRO, 1989, p. 11). Devido ao acúmulo de grandes quantidades de tratados, os arquivos imperiais ficaram repletos de documentos pequenos, dobrados e redigidos de uma determinada maneira. Para conservar, decifrar e catalogar esses documentos, pessoas especialmente qualificadas passaram a ser empregadas: eram os letrados, que inauguraram assim as profissões de paleógrafo e arquivista. Segundo Harold Nicolson (1948) relata que: (...) até o fim do século XVII essas duas ocupações, foram denominadas res diplomática, que designavam tudo aquilo que se relacionava com os arquivos ou com os diplomas. Os diplomas são, portanto, os mais antigos documentos oficiais escritos. Os letrados – aos quais cabia a tarefa de zelar por sua conservação e interpretar corretamente seu conteúdo – eram os funcionários do Estado, habilitados a informar às autoridades tudo aquilo considerado necessário a respeito dos outros povos, com vistas a orientar a conduta destas em suas negociações. O grau de conhecimento acerca dos interlocutores e, consequentemente, o êxito nas negociações externas dependia, em grande medida, da qualidade da res diplomática (HAROLD NICOLSON, 1948, p. 24). A partir da mesma origem, consolidou-se o significado de diplomacia como “a maneira de conduzir os assuntos exteriores de um sujeito de direito internacional, utilizando meios pacíficos e principalmente a negociação” (PINO, 2001, p. 21). A História Diplomática é a história das relações do Estado com os outros povos, contada com base nos documentos oficiais do Estado (diplomas). Tendo a história brasileira como referência, José Honório Rodrigues apresenta a seguinte definição: A história diplomática investiga e relata a defesa dos direitos nacionais e as relações econômicas, sociais e políticas, que se codificaram em tratados e convenções. Compreende o exame das origens e dos resultados de nossas negociações diplomáticas, as reparações pacíficas de afrontas, às aquisições sem guerra de partes de nosso território, as incorporações definitivas à custa de argumentos históricos e geográficos de grandes trechos, objetos de litígio, como as questões das Missões e do Amapá (RODRIGUES, 1978, p. 169). 34UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 34UNIDADE II Destaques Internacionais Segundo Lessa e Gonçalves(2007) cabe ressaltar que a definição dada por Rodrigues é impecável. Isso porque o autor identifica com precisão “a defesa dos direitos nacionais” como elemento essencial da História Diplomática, de forma que demonstra inequivocamente, que todo o trabalho de pesquisa do historiador consiste em produzir o relato completo e preciso das negociações diplomáticas – o que depende do sucesso de seu esforço em decodificar as relações diplomáticas consubstanciadas em tratados e convenções. A História Diplomática ganhou forma no século XIX. Seu início foi praticamente determinado pela Revolução Francesa e suas consequências. Segundo o historiador francês Thobie (1986): (...) as mudanças que dela resultaram, estimularam as pesquisas e as reflexões, enquanto os Estados aperfeiçoavam o instrumento ministerial necessário para a eficácia de suas políticas exteriores e buscavam os meios de pôr os seus arquivos à disposição dos pesquisadores (THOBIE, 1986, p. 198). Sendo assim, a reação das monarquias europeias à Revolução Francesa e, logo em seguida, a tentativa de Napoleão Bonaparte de estabelecer um grande império francês na Europa, geraram uma crise internacional que durou mais de duas décadas (1792 - 1815). No plano político-ideológico, a Revolução Francesa e o projeto napoleônico descartaram o absolutismo, incorporaram o nacionalismo ao sistema internacional e criaram condições favoráveis, para a independência das colônias ibéricas nas Américas. Segundo Castro (2012), para estabilizar o quadro político europeu e garantir uma paz duradoura, as forças combinadas do Congresso de Viena (1815), tomaram uma série de medidas para apagar as profundas marcas produzidas pela intervenção napoleônica. Entre elas, as mais importantes foram: restaurar o poder dos príncipes, proteger a integridade dos Estados multinacionais e conter o processo das independências. Com base nos princípios da legitimidade dos príncipes, do concerto europeu e mediante a formação da Santa Aliança, as potências europeias conseguiram, pelo menos até a década de 1830, alcançar parcialmente seus objetivos. Conforme Castro (2012), a Primeira Guerra Mundial também aumentou o interesse pela História Diplomática, o que levou a atingir seu apogeu. O desenvolvimento e os resultados surpreendentes da guerra determinaram a exigência intelectual de encontrar uma explicação convincente para sua eclosão. A sociedade queria saber o que causou a catástrofe que custou tantas vidas e tantos danos. Assim, cabia aos historiadores, estabelecer as razões que levaram a sociedade europeia à perda da ilusão que, durante muito tempo, havia crescido a ponto de se tornar civilizada. Era o caso de se interrogar sobre a falência da diplomacia europeia, objetivada no colapso de seu sistema de alianças políticas, que romperá tão violentamente o equilíbrio do poder mundial. 35UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 35UNIDADE II Destaques Internacionais Segundo Castro (2012), no Brasil, a produção mais importante da História Diplomática ocorreu na primeira metade do século XX. As prioridades da produção brasileira eram formadas pelas questões de limites, Independência e República. Quantos aos historiadores europeus, a principal questão para os historiadores brasileiros, era a história da formação e consolidação do Estado brasileiro, em relação às suas relações com os demais países. Sendo assim, Castro (2012) escreve que a maioria das obras conhecidas da História Diplomática, foram produzidas após a Primeira Guerra Mundial. Isso se explica pelo impacto que a guerra provocou, que ao mesmo tempo gerou grande decepção em relação ao Velho Continente – que forma o paradigma civilizacional das elites brasileiras – e a necessidade de expressar a verdadeira identidade do Brasil. Além disso, colaborou significativamente para esse interesse pela história diplomática do Brasil a obra executada pelo Barão do Rio Branco, que, por meios apenas pacíficos – negociações diretas, compras e arbitragem – resolveu todos os problemas de fronteira do país, com as nações vizinhas. Embora os documentos sejam importantes, na construção da história, essa disciplina parte do princípio de que o objeto pesquisado é um dado da realidade que preexiste à ação investigativa do historiador. Cabe a ele limpar os arquivos e estabelecer a correta sequência dos acontecimentos de forma imparcial. Portanto, pode-se dizer que o objeto é a história do Estado em suas relações com os outros países, vinculada na forma de instrumentos jurídicos, como tratados, acordos, convenções, etc. O método utilizado é examinar os documentos em busca de evidencias de seu conteúdo. A História das Relações Internacionais é considerada um triunfo da História Diplomática justamente, porque elabora de maneira diferente tanto a definição do objeto como o uso da metodologia de pesquisa. Em termos de sentido, embora a História das Relações Internacionais não negligencie a importância da iniciativa dos Estados, requer a interpretação das influências geográficas, econômicas, culturais e ideológicas que condicionam a ação dos Estados em suas relações externas. Na expressão consagrada por estas, são as “forças profundas” que formam a estrutura na qual os “homens de Estado” agem. Isto é, são essas forças profundas que dão sentido às decisões tomadas pelos representantes oficiais do Estado, nas relações que mantêm com as demais nações e organizações internacionais. Por isso, caro (a) acadêmico (a), o processo de colaboração por parte do historiador, em primeiro lugar, começa com o desenvolvimento de uma hipótese de pesquisa. Após a pesquisa, elaboração de uma hipótese nasce do conhecimento empírico, ou seja, não científico. 36UNIDADE I Conceituação Geral e Ambientação 36UNIDADE II Destaques Internacionais Ou seja, a partir de seu interesse, estudo, curiosidade intelectual ou vivência relacionada com a questão que o historiador levanta a hipótese, que presidirá seu trabalho investigativo. A hipótese, por sua vez, consiste em uma afirmação categórica, por isso, pode ser destacada por algumas características importantes: ● Não pode ser formulada como uma pergunta; ● A hipótese é um a-priori que a pesquisa confirma ou refuta; ● É a partir de sua formulação que tem início, o trabalho científico propriamente dito; ● Isso porque a hipótese orienta o trabalho de seleção da documentação; ● É ela que estabelece o critério de validade dos documentos; ● Por si próprio, todos os documentos são iguais – sua importância ou irrelevância para uma determinada pesquisa depende, portanto, da hipótese com a qual o historiador trabalha. No entanto, neste estudo caro (a) estudante, considerando a História das Relações Internacionais, o documento tem um significado bastante amplo. Diferentemente da História Diplomática, que só reconhece a correspondência diplomática em suas diversas formas, como documento de pesquisa (memorandos, relatórios, memórias, despachos, tratados etc.), a história das relações internacionais considera documentos de pesquisa, todos os registros escritos (jornais, panfletos, livros, cartazes, biografias, cartas etc.) e depoimentos orais rela- tivos à intervenção dos agentes sociais, naquela realidade sob revisão da análise histórica. Uma vez selecionados os documentos, a tarefa do historiador é investigar. O documento nunca contém um único sentido – sua leitura pode possibilitar mais de uma interpretação. É a resposta dada à pergunta formulada pelo historiador, que torna o documento relevante ou inestimável para a comprovação da hipótese acima mencionada. Por essa razão, o interrogatório ao qual o historiador submete o documento, é decisivo para o resultado do estudo. Ou seja, a pergunta que qualifica a pesquisa e o que a torna relevante, são as ferramentas teóricas utilizadas pelo historiador. É o uso correto e criativo dos conceitos, que organiza as idéias contidas no