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Neuroplasticidade Neuroplasticidade É a capacidade dos neurônios de alterar sua função, seu perfil químico (quantidade e tipos de neurotransmissores produzidos) ou sua estrutura. (Woolf e Salter, 2000). A neuroplasticidade é uma capacidade inerente ao nosso sistema nervoso, nos acompanha a vida inteira desde a concepção (a formação do sistema nervoso) até a morte. Sofre modificações ao longo da vida, mas, não deixa de existir. Diz respeito não somente a como o sistema nervoso adapta-se frente a uma lesão, mas sobre adaptações ocorridas frente a qualquer experiência, situação, prática ou treinamento que o individuo for exposto, em qualquer fase da vida. Outro ponto importante é que a neuroplasticidade não é uma característica apenas frente à lesão, como esta descrita no segundo tópico, sendo uma capacidade que tanto nos permite aprender de qualquer experiência, quanto de quaisquer adaptações que se apresentam ao longo da nossa vida. A neuroplasticidade que ocorre após uma lesão do sistema nervoso é apenas um aspecto dessa característica. Pesquisas Existem varias pesquisas na área de neuroplasticidade que se dividem em pesquisas com foco metabólicos, neuroquímicas e morfológicas. Kolb & Whishaw (1989) a) Metabólicas: Fala de alterações metabólicas no mesmo hemisférico cerebral em que se localizam as lesões (ipsilaterais) quanto no hemisfério oposto (contralaterais). Então essas pesquisas focam em aspectos após a lesão, mas existem pesquisas metabólicas que indicam alterações no metabolismo cerebral no processo natural de aprendizado. b) Neuroquímicos: Processosmecanismos que aumentam a síntese de neurotransmissores, a liberação de neurotransmissores ou potencialização das respostas pós-sinápticas, em decorrência de situações estimuladoras, de aprendizagem ou de lesões. c) Morfológicas: Focam no estudo das modificações na estrutura das sinapses e neurônios e das células da glia – regeneração e ramificação de axônios, aumento do tamanho de corpos celulares, do numero de dendritos, do numero de neurônios e de sinapses. A plasticidade neural é uma capacidade que pode resultar muitas coisas positivas como recuperação de uma função perdida devido à lesão (plasticidade benéfica), mas pode também gerar funções mal adaptadas ou patológicas (plasticidade maléfica). Ambiente celular Tudo depende do ambiente celular em que são encontradas essas atividades. O ambiente celular envolve: • Neurônios. • Células da glia – São células que compõem o sistema nervoso e que vão ter várias funções importantes, inclusive no processo de neuroplasticidade. → Micróglia; → Macroglia (são as células maiores); o Ependimócitos – células que reveste as cavidades do SN, como os ventrículos; o Oligodendrócitos – células produtoras de mielina e ficam no SNC, e no SNP encontramos as células de SCHWANN; o Astrócitos – São células em forma de estrela e são fundamentais em todos os processos do desenvolvimento, maturação e função do SN. Interação neurônio-astrócito Os astrócitos são tão importantes, que existem vários estudos que indicam a relação neurônio-astrócito e mostra que essas interações permitem a sobrevida, crescimento axonal, interação sináptica e a proliferação das células. Mecanismo que levam a neuroplasticidade • Habituação • Aprendizado e memória • Recuperação após lesão • Neurogênese Habituação É o tipo mais simples de neuroplasticidade, que indica uma modificação rápida e transitória das respostas gerada por estímulos no SN. Habituação é a diminuição na resposta a um estimulo benigno repetido. • Em estudos inicias da postura e locomoção de animais: → Produzido por Charles Sherrington (neurofisiologista muito conhecido), final do século XIX. → Observou que a retração de um membro a um estímulo potencialmente doloroso cessava após várias repetições do mesmo estímulo. → A menor resposta decorria de uma diminuição funcional na eficácia sináptica. Ou seja, se você faz um estímulo no segmento qualquer, e esse estímulo pode gerar uma sensação de dor, como por exemplo, o grafite espetando o braço, a sensação é de que pode gerar dor, e a ponta fina geralmente estimula os nociceptores de dor, a primeira reação é tirar o braço do lugar, que é a retração do membro. Se o grafite continua espetando a pessoa percebe que não vai lhe furar, essa identificação de que apesar do estímulo ser doloroso ele não vai gerar uma lesão faz com que o sistema nervoso rapidamente se adapte e diminua a resposta, ou seja, vai diminuir a retração do membro em resposta ao mesmo estímulo. Então se o estímulo for repetido e não causar uma lesão vai causar uma redução da resposta. • Estudos posteriores confirmaram: → Diminuição da atividade sináptica entre os neurônios sensoriais e os interneurônios eram indicativos de uma habituação do sistema. • Os mecanismos celulares ainda não estão bem elucidados, entretanto com a habituação há: → Diminuição na liberação de neurotransmissores excitatórios, incluindo glumato. → Talvez, uma diminuição no Ca++ (cálcio) livre. Em geral, após alguns segundos de repouso, os efeitos da habituação não estão mais presentes, e pode-se evocar um reflexo em resposta a estímulos sensoriais. Com a repetição prolongada da estimulação há alterações estruturais mais permanentes, ou seja, o número de conexões sinápticas diminui. Exemplo: zumbido. Clinicamente, o termo habituação é aplicado a técnicas e exercícios usados em terapia ocupacional e fisioterapia que visam diminuir a resposta neural a um estímulo. Por exemplo, algumas crianças são extremamente reativas a uma estimulação na pele. Essa sensibilidade anormal a estímulos táteis é designada como defesa tátil. O tratamento para defesa tátil é pela estimulação da pele da criança por estímulos leves, aumentando-se então a intensidade dos estímulos numa tentativa de obter a habituação à estimulação tátil. Em pessoas com tipos específicos de distúrbios vestibulares, são executados repetidamente movimentos que induzem tonteiras e náuseas, igualmente com o propósito de obter a habituação ao movimento. Aprendizado e memória Ao contrário dos efeitos imediatos e reversíveis da habituação, o aprendizado e a memória envolvem alterações persistentes e duradouras na potência das conexões sinápticas. As técnicas de aquisição de neuroimagens revelam que regiões grandes e difusas do encéfalo evidenciam atividade sináptica durante as fases iniciais do aprendizado motor. À medida que ocorre a repetição de uma tarefa há uma redução no número de regiões ativas no encéfalo. Quando a tarefa é aprendida apenas regiões pequenas e distintas do encéfalo apresentam atividade aumentada durante a realização da tarefa. Ex: tocar um instrumento musical. O processo de aprendizado e memória envolve alterações persistentes e duradouras na potência das conexões sinápticas. A memória remota torna necessária a síntese de novas proteínas e o crescimento de novas conexões sinápticas. A repetição de um estímulo específico (fixa a informação) altera a excitabilidade neuronal e promovem o estabelecimento de novas conexões sinápticas. Foi identificado, no hipocampo, um mecanismo celular para formação da memória chamado de potencialização de longa duração (PLD). O hipocampo fica situado no lobo temporal. e é uma área do cérebro muito importante para o processamento de memorias que podem ser facilmente verbalizadas. Como por exemplo recordar nomes. A potencialização de longa duração é essencial para o aprendizado e para a recuperação neural após uma lesão. Além disso, a PDL pode contribuir para síndromes de dores crônicas. O mecanismo responsável pela potencialização em longo prazo depende da conversão de sinapses silenciosas em sinapses ativas. → A morfologia da membranapós-sináptica também se altera. → Inicialmente, o Ca++ entra na célula pós-sináptica, ativar os receptores. → A membrana pós-sináptica se remodela subsequentemente, gerando uma nova espinha dendrítica. → E essas alterações dependem de modificações genéticas na célula durante o processo de aprendizado e já se sabe que o cálcio é um regulador dessas atividades. Recuperação após lesão As lesões que danificam os axônios de neurônios causam degeneração, mas podem não ocasionar a morte da célula porque alguns neurônios tem a capacidade de regenerar seu axônio. Lesões que destroem o corpo celular de um neurônio levam, invariavelmente, a morte da célula. O corpo celular é estrutura do neurônio que gera toda a função do neurônio e todo o aporte nutricional e fisiológico. Após a morte de neurônios existem vários mecanismos de adaptação e recuperação. Então a recuperação por meio de alterações de sinapses específicas, da reorganização funcional do sistema nervoso central e de alterações na liberação de neurotransmissores em resposta à atividade neural. • Lesões dos axônios As lesões dos axônios acontecem prioritariamente no sistema nervoso periférico. Isso porque os axônios percorrem uma distância longa sem proteção óssea No sistema central tem a proteção da medula espinal feita pela coluna vertebral e a proteção do encéfalo feita pelo crânio. Quando o neurônio sai da medula ou do encéfalo, ele percorre uma distância até seu órgão alvo (músculo, pele ou glândulas) e esse trajeto o neurônio fica desprovido da proteção e pode sofrer uma lesão. As lesões podem acontecer por secção (corte do axônio) ou por estiramento extremo que rompe o axônio. Imediatamente após a lesão acontecem alterações e principalmente o citoplasma esvai-se pelas extremidades cortadas e os segmentos se retraem um com relação ao outro. Após a lesão tem o segmento proximal e distal. No segmento distal ocorre um processo chamado de degeneração walleriana. Essa degeneração é caracterizada pela perda da bainha de mielina da estrutura do axônio e isso faz com que todo o segmento distal seja destruído. → A bainha de mielina se retrai com relação ao segmento (sofre várias fragmentações). → O axônio intumesce e se rompe em pequenos segmentos. → Os terminais axônicos degeneram rapidamente. → Morte de todo o segmento distal. → Ação das células gliais favorecendo a limpeza área, tirando os restos das estruturas degeneradas. No corpo celular acontece a cromatólise central onde o corpo fica entumecido e o núcleo se desloca do centro. A célula pós-sináptica em contato com o terminal axônico também sofre degeneração e morte. • Brotamento Depois da recuperação da lesão ocorre o processo de brotamento que acontece no axônio e pode ser de dois tipos: → Colateral: ocorre quando um alvo denervado é reinervado por ramos de axônios intactos, ou seja, os neurônios vizinhos realizam brotamento colateral para atingir a célula que esta sem inervação. → Regenerativa: acontece quando o axônio e sua célula-alvo (um neurônio, músculo ou uma glândula) foram lesados. O axônio lesado envia brotos colaterais para um novo alvo. Ou seja, para manter o funcionamento daquele neurônio ele regenera o seu axônio na busca de uma célula-alvo integra. O crescimento de novo de axônios lesados é denominado brotamento. Todo esse processo vai acontecer especialmente no sistema nervoso periférico. Porque no SNP tem a produção do fator de crescimento de nervos (FNC) produzidos pelas células de Schwann. A recuperação é lenta – 1 mm de crescimento ao dia, ou cerca de 2,5 cm de recuperação em um mês. Se a célula-alvo for muito distante do segmento proximal fica impossível fazer o processo de brotamento. A brotação de axônios periféricos pode ocasionar problemas caso seja inervado por um alvo inadequado. Como por exemplo, podem inervar os músculos diferentes dos anteriormente inervados, acarretando movimentos não esperados à descarga dos neurônios. Esses movimentos não esperados de curta duração enquanto o indivíduo reaprende o controle muscular é denominado sincinesiais. Também pode acontecer nos sistemas sensoriais, onde a inervação de receptores sensoriais por axônios que inervavam anteriormente um tipo diferente de receptor sensorial pode ocasionar a confusão de modalidades sensoriais. No sistema nervoso central a recuperação da lesão nem sempre se da de uma forma completa muitas vezes porque o desenvolvimento de cicatrizes geradas pelas células da glia é um desenvolvimento muito rápido. E existe ausência de fator de crescimento nervoso No sistema nervoso central os oligodendrócitos não produzem o fator de crescimento nervoso em quantidade que é produzida no sistema nervoso periféricos. E ainda existe a produção de fatores inibidores do crescimento como, por exemplo, o fator inibidor crescimento de neuritos (NEGO) liberado pelos oligodendrócitos no SNC, mas não é liberado pelas células de Schawnn no SNP. Após uma lesão do sistema nervoso central é visto um mecanismo de adaptação sináptica que incluem a recuperação da eficácia sináptica, hipersensibilidade de denervação, hipereficácia sináptica e o desmascarar de sinapses silenciosas. Esses mecanismos não estão bem esclarecidos ainda, mas se acredita que tem relação com a atividade de receptores NMDA, alterações nos níveis de íons Ca++ e do neurotransmissor substância P. Outra coisa que tem se estudado é o óxido nítrico que é considerado um neuromodulador que pode estar envolvido no processo de adaptação sináptica. Reorganização funcional Os mapas corticais podem ser modificados por estímulos sensoriais, experiência e aprendizado e após lesões cerebrais. Exemplos de condições normais: Tocadores de instrumento de corda têm uma área maior que representa os dedos da mão esquerda, enquanto a mão direita apresenta apenas um mapa médio dos dedos. Quando existe lesão como amputações da parte superior do braço a área de representação da mão é reorganizada para a representação da face. A representação da face se expande para ocupar a área cortical adjacente que não recebe mais estimulação da mão. Um exemplo menos drástico é no pré-operatório de uma cirurgia para retirada de um tumor, quando o individuo era solicitado a realizar um movimento, o córtex motor no lado direito era a principal área ativada, mas, depois da ressecção do tumor, a mesma tarefa foi realizada com ativação em múltiplas áreas do cérebro, incluindo o lado ipsilateral. Neurogênese Figuras mitóticas (células que podem fazer mitose) foram descobertas delineando as paredes do ventrículo lateral e a zona subventricular do cérebro de ratos adultos. Essas células recém-chegadas na zona subventricular precisam migrar para dentro do parênquima cerebral e se diferenciar em neurônios maduros. Esses estudos, entretanto, não avaliaram se as células em mitose se tornavam células da glia ou neurônios, ou ainda se sobrevivem e formavam conexões. A plasticidade torna possível a recuperação de lesões ao sistema nervoso; o movimento ativo é, porém, crucial para a otimização da recuperação motora.
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