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5 O Aparelho Urogenital A nomenclatura oficial traz os órgãos urinários e reprodutivos juntos em um único título: aparelho urogenital. A principal justificativa para essa convenção tem como base a origem comum de certos elementos dos complexos de órgãos no mesoderma intermediário e parte adjacente do epitélio celômico. Além disso, os sistemas urinário e reprodutivo no adulto compartilham a porção final dos tratos que elimina seus produtos para o exterior; a parte em comum utilizada está limitada à uretra no macho e ao vestíbulo na fêmea. Devido à íntima associação no desenvolvimento dos sistemas urinário e reprodutivo, decidimos neste capítulo preceder a anatomia do animal adulto com uma revisão sobre o desenvolvimento. Aconselha-se ao leitor ainda não iniciado no tema que, antes de continuar a leitura, consulte as Figuras 5-1 e 5-2, onde está demonstrado um esboço do aparelho urogenital em cada sexo. Figura 5-1 Órgãos urinários e reprodutivos do macho (cão). 1, rim direito; 2, ureter; 3, bexiga urinária; 4, testículo; 5, epidídimo; 6, cordão espermático; 7, anel vaginal; 8, ducto deferente; 9, próstata; 10, corpus spongiosum (corpo esponjoso); 11, músculo retrator do pênis; 12, corpus cavernosum (corpo cavernoso); 13, glande do pênis; 13′, bulbo da glande; 14, osso peniano; 15, cavidade prepucial; 16, prepúcio; 17, reto. Figura 5-2 Órgãos urinários e reprodutivos da fêmea (cadela). 1, rim direito; 2, ureter; 3, bexiga urinária; 4, ovário; 5, tuba uterina; 6, corno uterino; 7, cérvix; 8, vagina; 9, uretra; 10, vestíbulo; 11, clitóris; 12, vulva; 13, processo vaginal; 14, reto. DESENVOLVIMENTO DO APARELHO UROGENITAL DESENVOLVIMENTO DOS ÓRGÃOS URINÁRIOS O mesoderma intermediário reflete de forma atenuada a segmentação que é tão evidente nos somitos adjacentes. Em pouco tempo, é formado em seu domínio caudal um espessamento longitudinal sólido contínuo (nefrogênico) de onde se originam, em uma sequência craniocaudal e temporal, três tentativas para a formação de um órgão excretor. A primeira tentativa constitui o pronefro, que é formado na presuntiva região do pescoço; apresenta existência transitória e não é funcional nos mamíferos. A segunda tentativa, o mesonefro, é formado nas regiões torácica e lombar, e é mais bem-sucedida; é funcional durante grande parte da fase embrionária. A terceira tentativa, o metanefro, é formada na região lombar e se torna o rim no adulto (Fig. 5-3). Figura 5-3 Diferenciação do mesoderma intermediário. 1, pronefro; 2, mesonefro, segmentado cranialmente, mas contínuo caudalmente; 3, metanefro; 4, ducto pronéfrico (posteriormente mesonéfrico); 5, broto uretérico; 6, úraco. Todas as três estruturas apresentam uma série de túbulos excretores como sua característica histológica essencial. No pronefro, uma extremidade de cada túbulo se dobra caudalmente para se encontrar com seu vizinho, e, dessa forma, um ducto pronéfrico contínuo é formado (Fig. 5-3/4), cuja extremidade caudal cresce em direção à cloaca, onde se abre. O ducto resiste à regressão dos túbulos pronéfricos e é adotado como o meio de drenagem dos túbulos mesonéfricos, que surgem nesse momento. Como os túbulos pronéfricos não são funcionais, suas peculiaridades de construção não necessitam ser descritas. Os túbulos mesonéfricos são muito mais numerosos. Cada um se parece com uma versão simples do néfron de um rim adulto em sua estrutura e função (Fig. 5-27). A extremidade cega é invaginada por um tufo de capilares para formar o mecanismo de filtração, enquanto a conexão da outra extremidade com o ducto pronéfrico, agora mais apropriadamente denominado ducto mesonéfrico, fornece uma saída para a urina que é formada. O mesonefro pode ser um órgão muito proeminente em seu apogeu, quando se projeta do teto do abdome (Fig. 5-4). Seu tamanho varia entre as espécies e é inversamente proporcional à permeabilidade (e, dessa forma, à eficiência excretora) da placenta. O mesonefro é suplantado pelo metanefro quando começa a regredir, processo que ocorre na direção craniocaudal. Partes, entretanto, permanecem para que lhes sejam atribuídas novas funções pelo sistema reprodutivo do macho (Fig. 5-5). Figura 5-4 Vistas ventral (A) e lateral (B) do assoalho abdominal em um embrião suíno de 2,5 cm. O ducto pronéfrico drena o mesonefro, e nesse momento é denominado, preferencialmente, ducto mesonéfrico. 1, gônada em desenvolvimento; 2, mesonefro; 3, ducto mesonéfrico; 4, ducto paramesonéfrico; 5, metanefro; 6, ureter. Figura 5-5 Desenvolvimento do metanefro a partir de dois primórdios (cordão metanéfrico e broto uretérico). Observar a gradual regressão do mesonefro. 1, metanefro; 2, broto uretérico (futuro ureter); 3, ducto mesonéfrico (deferente); 4, reto; 5, cloaca; 5′, membrana cloacal; 6, seio urogenital; 7, gônada; 8, remanescente do mesonefro (futuro epidídimo); 9, septo urorretal; 10, membrana anal; 11, membrana urogenital. O metanefro possui dois primórdios. Um é fornecido por uma evaginação, o broto uretérico, da extremidade inferior do ducto mesonéfrico próximo à sua abertura na cloaca. Esse broto cresce cranialmente para dentro do blastema metanéfrico constituído pela parte caudal do cordão nefrogênico (Fig. 5-3/5). A extremidade do broto passa por uma dúzia ou mais de divisões dicotômicas. Os ramos das últimas ordens se tornam os túbulos coletores do rim, enquanto aqueles das primeiras ordens são posteriormente reabsorvidos na expansão terminal do ducto de maneira variada, que é responsável pela forma específica da pelve e dos cálices renais. A porção externa da massa metanéfrica forma a cápsula e o interstício do rim, enquanto a condensação celular na parte interna dá origem aos cordões celulares que formarão os néfrons. Uma das extremidades de cada cordão celular faz contato com um ducto de conexão, e, uma vez ocorrida a canalização, uma passagem contínua é estabelecida (Fig. 5-6). A outra extremidade do néfron se torna invaginada por um tufo vascular oriundo de um ramo local da aorta, o que origina o glomérulo (Fig. 5- 27). Figura 5-6 Série de desenhos esquemáticos descrevendo as conexões entre os néfrons em desenvolvimento (1) e os ramos (2) do broto uretérico. Observe a divisão dicotômica do sistema de drenagem (broto uretérico). As passagens das vias urinárias inferiores são formadas pelas divisões horizontais da região cloacal do intestino posterior. A divisão é efetivada pelo crescimento caudal de uma crista de mesoderma presente no ângulo entre o intestino posterior e o broto alantoico. Essa crista, o septo urorretal, eventualmente alcança a membrana cloacal, que então é dividida nas partes dorsal (anal) e ventral (urogenital) (Fig. 5-5/9). O local da fusão corresponde ao corpo perineal. Quando a membrana anal se rompe, a passagem dorsal se torna o contínuo canal retoanal. Ruptura semelhante a da membrana urogenital origina uma passagem ventral com uma abertura separada para a superfície do corpo. Essa passagem urogenital se diferencia em uma parte cranial, a futura bexiga urinária e o alantoide, e uma parte caudal, da qual é formada a uretra. A bexiga urinária surge então como uma dilatação, que é continuada cranialmente pelo ducto alantoico e caudalmente pela uretra não dilatada. O ducto alantoico ou úraco (Fig. 5-3/6) é contínuo com a abertura umbilical para uma expansão extraembrionária (o alantoide), onde a urina se acumula e com o qual é descartada no momento do parto. A parte do ducto no interior do feto regride e finalmente é representada apenas por uma cicatriz no ápice da bexiga urinária. A parte caudal do primórdio é transformada em uretra — a uretra inteira no caso da fêmea, mas no macho apenas a curta uretra pélvica (a uretra peniana se desenvolve com o sistema genital). As posições definitivas das aberturas dos ductos mesonéfrico e metanéfrico resultam da incorporação de suas extremidades inferiores à passagem maior. O rearranjo traz a abertura do ducto metanéfrico (ureter) para a bexiga urinária, enquanto a abertura do ducto mesonéfrico (ductodeferente) fica situada mais caudalmente no seio urogenital (Fig. 5-5). Nesse processo, o mesoderma do ducto mesonéfrico origina o epitélio da região trigonal dorsal (pág. 183) da bexiga urinária, enquanto o epitélio da região remanescente é originado do endoderma do intestino posterior. As camadas externas da parede da bexiga urinária se diferenciam a partir do mesoderma local. DESENVOLVIMENTO DOS ÓRGÃOS REPRODUTIVOS MASCULINO* Embora o sexo genético do embrião seja determinado no momento da união dos gametas masculino e feminino, as fases iniciais da diferenciação morfológica dos órgãos genitais seguem um padrão indiferente que é comum aos dois sexos. Em ambos, o primórdio gonadal aparece como um espessamento do epitélio celômico na face medial do mesonefro. Ele se projeta como uma intumescência quando o mesênquima subjacente prolifera (Fig. 5-7, A/5). Os cordões de células que se desenvolvem a partir do revestimento epitelial penetram no interior da intumescência (Fig. 5-7, B/5). Esses cordões rapidamente incorporam as células germinativas primordiais que, surpreendentemente, apresentam origem distante no endoderma de uma porção restrita do saco vitelino, onde são identificadas por suas grandes dimensões. Elas chegam até a gônada por meio da migração sobre o intestino e seu mesentério; contudo, o transporte pela corrente sanguínea também parece ser possível. Figura 5-7 A, Desenvolvimento inicial da gônada indiferenciada. B, Invasão da gônada pelos cordões epiteliais, que então incorporam as células germinativas primordiais. 1, aorta; 2, tufo capilar (no néfron); 3, néfron (túbulo); 4, ducto mesonéfrico; 5, gônada; 6, ducto paramesonéfrico; 7, intestino. Uma indicação inicial de que a gônada se tornará um testículo é notada por uma marcante condensação mesenquimal (túnica albugínea) abaixo do epitélio celômico. Nesse momento, isolados do epitélio superficial, os cordões de células aumentam em tamanho e complexidade de arranjo (Fig. 5-8/3). Eles se conectam a um plexo ou rede (rete) no interior do testículo. Pelo outro lado, o plexo faz contato com a terminação cega de poucos túbulos que permaneceram após a regressão do mesonefro (Fig. 5-8, B/3-5). A diferenciação nos cordões de células permite a identificação de duas linhagens celulares. Uma origina as células de sustentação (Sertoli) dos túbulos seminíferos; a segunda, com a contribuição das células germinativas primordiais, origina o epitélio germinativo. Durante o desenvolvimento fetal, as células germinativas primordiais se diferenciam em gonócitos, que após o nascimento vão dar origem às espermatogônias. Na puberdade, as espermatogônias proliferam e sofrem diferenciação, fornecendo células que passarão pelos processos de meiose e espermiogênese para formar os gametas masculinos (Fig. 5- 39). Secções do testículo de um adulto demonstram cortes de túbulos seminíferos em vários planos. As paredes dos túbulos seminíferos contornados são revestidas por um epitélio germinativo estratificado consistindo em células em várias fases de diferenciação. As células de Sertoli (epiteliócitos de sustentação) nutrem as células germinativas. Células de um tipo adicional podem ser identificadas. Essas, as células de Leydig (endocrinócitos intersticiais), produzem a testosterona, um esteroide essencial para a contínua espermatogênese. Suas progenitoras, assim como aquelas das células de Sertoli e germinativas primordiais, presumidamente migram do mesonefro durante o desenvolvimento fetal para se incluírem em um interstício mesenquimal e, por volta da puberdade, quando o processo de espermatogênese é iniciado, uma segunda geração de células de Leydig se desenvolve. No final da fase fetal, a formação inicial dos cordões seminíferos é seguida pela canalização dos cordões para formar uma série de passagens que levam ao ducto mesonéfrico, que então se torna a saída para os gametas produzidos no testículo. As partes periféricas dos cordões se tornam os túbulos seminíferos, as partes centrais se tornam a rede testicular, e os túbulos mesonéfricos se tornam os ductos eferentes (Fig. 5-8, C). A primeira parte do ducto mesonéfrico se enrola e forma o ducto do epidídimo no denso tecido conjuntivo do órgão; o restante mantém um curso mais retilíneo e, assim como o ducto deferente (Fig. 5-5/3), se abre no interior da cloaca na região que se torna o seio urogenital (Fig. 5-5/6). A proliferação glandular do revestimento do ducto produz o espessamento ampular no sentido de sua terminação, enquanto na maioria das espécies, menos nos carnívoros, o brotamento subterminal cresce como a glândula vesicular (Fig. 5-9/5). Em algumas espécies, uma curta passagem final, o ducto ejaculatório, persiste; contudo, em outras espécies, ajustes finais fazem com que os ductos deferentes e vesiculares se abram separadamente. O aumento gonadal faz com que o testículo fique suspenso no interior de uma prega (mesórquio) que surge do mesonefro em regressão. O ducto é conduzido no interior dessa prega de suporte, cujo estiramento caudal inclina-se medialmente para formar, junto com seu vizinho, a prega genital do peritônio que auxilia na subdivisão da cavidade peritonial da pelve. Posteriormente, o testículo migra para fora do abdome (pág. 173) antes de iniciar a espermatogênese. Figura 5-8 Três fases do desenvolvimento dos testículos. A, Os cordões epiteliais são isolados do epitélio superficial por meio da formação da túnica albugínea. B, Os cordões epiteliais, a rede testicular e os túbulos mesonéfricos se interconectaram. C, Os cordões epiteliais se tornam os túbulos seminíferos, e o mesonefro é gradualmente transformado em parte do epidídimo. 1, epitélio celômico; 2, túnica albugínea; 3, cordões epiteliais, túbulos seminíferos; 4, rede testicular; 5, túbulos mesonéfricos, túbulos eferentes; 6, ducto mesonéfrico (posteriormente deferente); 7, ducto paramesonéfrico; 8, remanescente cranial dos túbulos mesonéfricos (ductos aberrantes); 8′, remanescente de 6 (apêndice do epidídimo); 9, remanescente caudal (paradídimo). Figura 5-39 Testículo (cão) (140×). 1, túbulos seminíferos (demonstrando a espermatogênese); 2, tecido intersticial com células produtoras de andrógenos (Leydig). Figura 5-9 Diferenciação do seio urogenital. Observe o desenvolvimento da próstata e das glândulas bulbouretrais e o aumento do tubérculo genital. Os ductos paramesonéfricos regredidos estão indicados pelas linhas pontilhadas. 1, testículo; 2, epidídimo; 3, ducto deferente; 4, gubernáculo; 5, glândula vesicular; 6, próstata; 7, glândula bulbouretral; 8, seio urogenital (uretra); 9, tubérculo genital; 10, bexiga urinária. A divisão da cloaca foi descrita (pág. 147). A parte caudal do seio constitui a parte pélvica da uretra. Brotamentos a partir de seu revestimento se diferenciam na próstata e nas glândulas bulbouretrais de maneira espécie-específica (Fig. 5-9). A maior parte da uretra do macho permanece no interior do pênis e apresenta uma origem diferente. Espessamentos surgem ao redor da margem da membrana urogenital na fase indiferenciada (Fig. 5-10). Um deles, ventral e mediano, constitui o tubérculo genital (fálico) ou intumescência (Fig. 5-10/1), que origina a maior parte do pênis; outros espessamentos de posição mais lateral contribuem para a formação do escroto. Uma prega urogenital adicional, que surge medialmente a cada intumescência escrotal, contribui para a formação do pênis. Um sulco se estende, inicialmente, ao longo da superfície dorsal do tubérculo genital e é gradualmente fechado pela aproximação e união dessas pregas urogenitais. Esse processo é complexo à medida que o revestimento da uretra peniana é fornecido por uma extensão do endoderma do seio urogenital, embora as intumescências iniciais apresentem uma cobertura ectodérmica. O corpus spongiosum (corpo esponjoso) da uretra peniana é diretamente contínuo ao tecido bulbar da uretra pélvica, enquanto o corpo cavernoso do pênis se forma no interior da intumescência genital. As intumescências laterais crescem e se juntampara dar origem ao escroto, que retém evidências de sua origem bilateral em sua rafe e septo medianos. Figura 5-10 Desenvolvimento da genitália externa masculina. 1, tubérculo genital; 2, prega cloacal; 3, prega urogenital; 4, intumescência lateral (escrotal); 5, ânus; 6, escroto; 7, oclusão do sulco para formação da uretra peniana; 8, glande do pênis. A diferenciação do sistema de ductos eferentes, glândulas acessórias e genitália externa do macho depende da presença da testosterona, o hormônio sexual masculino sintetizado pelo testículo em desenvolvimento. O testículo também sintetiza outros hormônios, como, por exemplo, o hormônio antimulleriano (AMH) e o fator semelhante à insulina 3 (descendina), respectivamente responsáveis pelo desaparecimento dos ductos de Müller e pelo crescimento do gubernáculo. Sem a exposição a esses três hormônios, o trato genital se desenvolve no sentido feminino. A remoção da hipófise por meio da decapitação durante o período fetal não interrompe a produção desses três hormônios pelos testículos (Fig. 5-11, A-B). Figura 5-11 A, Suíno (feto) (próximo do final da gestação), decapitado no útero 42 dias após a concepção. B, Feto demonstrado em A com a região inguinal dissecada para demonstrar o gubernáculo não afetado pela remoção da hipófise. 1, testículo; 2, gubernáculo. DESENVOLVIMENTO DOS ÓRGÃOS REPRODUTIVOS FEMININOS* As fases iniciais do desenvolvimento da gônada se assemelham às descritas para o macho. Posteriormente, os cordões de células se fragmentam em grupos celulares, cada um albergando uma célula germinativa imigrante. Os cordões penetram menos profundamente na gônada do que no macho. Os folículos primordiais são formados nessa fase. A formação da rede é menos pronunciada no ovário e, em função de nenhuma conexão ser estabelecida com os túbulos mesonéfricos, não é criada uma saída tubular contínua para os gametas (Fig. 5-12). Figura 5-12 Fases sucessivas do desenvolvimento do ovário. 1, epitélio celômico; 2, cordões epiteliais, penetrando (A) e regredindo (B); 3, segunda formação dos cordões sexuais (C); 4, folículos primitivos; 5, remanescente dos túbulos mesonéfricos; 6, ducto mesonéfrico; 7, ducto paramesonéfrico (D). Consequentemente, a ruptura folicular na superfície do ovário causa a liberação do gameta feminino por lise tecidual, um processo facilitado pela ausência de uma túnica albugínea espessa. A mesma característica permite a formação posterior dos cordões sexuais e o estabelecimento de folículos adicionais durante grande parte da vida pré-natal; de fato, em certas espécies, esse processo pode continuar por um período após o nascimento. Mesmo assim, ele eventualmente cessa, e o número de gametas femininos atinge então seu máximo; posteriormente, esse número é reduzido pela perda por atresia e, em menor extensão, por meio da ovulação. Na maioria das espécies, a descida dos ovários é muito limitada, sendo maior nos ruminantes, nos quais os ovários se deslocam caudalmente até o limite entre o abdome e a pelve. O sistema de ductos da fêmea é formado a partir dos ductos paramesonéfricos (Fig. 5-12/7), que apresentam apenas uma importância vestigial nos machos. Primeiramente, esses ductos se desenvolvem por invaginação do epitélio celômico lateral aos ductos mesonéfricos e, posteriormente, por crescimento ativo na direção do seio urogenital no interior das pregas genitais. De forma contrária, os ductos mesonéfricos regridem em uma sequência craniocaudal (Fig. 5-13), e apenas remanescentes permanecem no ligamento largo e na parede vaginal (ductos de Gartner, ducto epoóforo longitudinal), onde ocasionalmente são sede de processos anômalos. A parte cranial de cada ducto paramesonéfrico segue lateralmente ao ducto mesonéfrico, contudo este é cruzado em uma posição mais caudal, onde o primeiro se inclina para se juntar a seu contralateral (Fig. 5-14/6). A extremidade cranial de cada ducto paramesonéfrico permanece aberta para a cavidade peritonial (óstio abdominal da tuba uterina), mas a extremidade caudal do ducto fusionado inicialmente apresenta um fundo cego em contato com um sólido crescimento da parede dorsal do seio urogenital (Fig. 5-15). As tubas e os cornos uterinos, o corpo e a cérvix do útero se formam a partir dos ductos paramesonéfricos; suas porções caudais se unem em determinada extensão que varia entre as espécies, respondendo pelas variadas formas e proporções do útero no animal adulto (pág. 199) (Fig. 5-16). A prega genital de suporte se torna o ligamento largo com suas várias partes. O lume vaginal aparece no interior do sólido crescimento do seio urogenital, embora uma partição tecidual, o hímen, possa persistir próximo à junção dos ductos paramesonéfricos fusionados. O hímen está presente apenas nos animais virgens e raramente é bem formado nas espécies domésticas. Existe alguma discussão sobre a contribuição do epitélio urogenital e paramesonéfrico para o revestimento da vagina no animal adulto, e alguns sugerem que o limite pode dividir regiões com diferentes respostas às influências hormonais que são observadas em algumas espécies. Figura 5-13 Diferenciação do ducto paramesonéfrico e regressão do ducto mesonéfrico. 1, tecido intersticial do ovário; 2, folículos primitivos; 3, rede ovárica; 4, infundíbulo; 5, tuba uterina; 6, corno uterino (4, 5 e 6 se diferenciam do ducto paramesonéfrico); 7, remanescente dos túbulos e ductos mesonéfricos (epoóforo e paroóforo). Figura 5-14 Secções transversais (de cranial para caudal) da região caudal do abdome, ilustrando a formação da prega genital no embrião fêmea. 1, tubo neural; 2, notocorda; 3, aorta; 4, gônada; 5, ducto mesonéfrico (regredindo); 6, ducto paramesonéfrico (fusionado na secção caudal); 7, intestino; 8, prega genital. Figura 5-15 A fusão dos ductos paramesonéfricos combinados com um broto do seio urogenital forma a vagina. 1, reto; 2, parte caudal do seio urogenital (vestíbulo); 3, parte cranial do seio urogenital (bexiga urinária, uretra); 4, broto do seio urogenital; 5, ductos paramesonéfricos fusionados; 6, vagina; 7, cérvix do útero; 8, corno uterino. Figura 5-16 Diferentes graus de fusão dos ductos paramesonéfricos. A, Útero duplex (coelho). B, Útero bicorno (corpo pequeno: porca, vaca). C, Útero bicorno (corpo grande: égua). D, Útero simples (mulher). 1, infundíbulo; 2, tuba uterina; 3, corno uterino; 4, local de fusão dos dois ductos; 5, cérvix; 6, vagina; 7, vestíbulo. O seio urogenital se torna o vestíbulo com posteriores alterações relativamente pequenas. Crescimentos epiteliais formam as glândulas vestibulares de uma forma espécie-específica. Partes genitais externas são formadas a partir das mesmas estruturas, como descrito no macho; o tubérculo genital e as pregas laterais (intumescências) aparecem primeiro (Fig. 5-17).O primeiro origina o clitóris, enquanto as pregas laterais, que formam os grandes lábios da anatomia humana, regridem — com uma possível reserva para a cadela. Os lábios da vulva das espécies domésticas são formados pelas pregas urogenitais (Fig. 5-17/3), que surgem medialmente às intumescências laterais e correspondem aos pequenos lábios da mulher. Figura 5-17 Desenvolvimento da genitália externa feminina. 1, Tubérculo genital; 2, prega cloacal; 3, prega urogenital; 4, intumescência lateral; 5, ânus; 6, lábio vulvar; 7, clitóris. O PROCESSO DO DESCENSO TESTICULAR A descida dos testículos para uma posição escrotal é necessária na maioria dos mamíferos para que seja alcançada fertilidade normal. O processo depende da existência de uma condensação mesenquimal, o gubernáculo testicular, dentro de um descolamento da prega genital que orienta os testículos em direção e através do canal inguinal (Fig. 5-18). Em certo período crítico do desenvolvimento (que varia em tempo de acordo com a espécie), a parte distal do gubernáculo, que se estende através do canal inguinal até a virilha, aumenta considerável e rapidamente de tamanho (Fig. 5-19, A-B). O gubernáculo é invadido por uma extensão do revestimentoperitonial do abdome e, assim, o processo vaginal, que fornece o espaço onde os testículos se alojarão, é formado (Fig. 5-18/3). A invasão pelo processo vaginal divide o gubernáculo em três partes: a parte proximal (pars propria) é envolvida pelo revestimento peritonial interno (futura lâmina visceral) do processo; a segunda parte (pars vaginalis) circunda o revestimento peritonial externo (futura lâmina parietal) do processo; e a terceira parte (pars infravaginalis) fica distal à invaginação e, portanto, contínua às outras partes. A intumescência do gubernáculo começa distalmente, fazendo com que ele exerça uma pressão sobre a parede do corpo próximo ao anel superficial do canal inguinal. Isso desloca o testículo distalmente, em direção à entrada abdominal do canal. A intumescência, então, gradualmente, se estende proximalmente, e sua ponta, na parte adjacente ao testículo (e dentro do canal inguinal) apresenta-se tão espessa quanto o próprio testículo (Fig. 5-19, A-B). Nessa fase, um leve aumento na pressão intra-abdominal pode ser suficiente para expelir o testículo do abdome para dentro do canal inguinal, embora por, determinado período, o retorno para o abdome ainda seja possível. A descida está completa e irreversível quando o núcleo do gubernáculo regride (Fig. 5-20). A regressão bem cadenciada do gubernáculo é, portanto, tão indispensável para a descida normal quanto a intumescência inicial. Uma vez que a sincronização é crítica e o processo está sujeito a vários distúrbios, não é surpreendente que retenção abdominal e descidas anormais sejam relativamente frequentes. A falha dos testículos em aparecer na região da virilha é conhecida como criptorquidismo (testículos ocultos), e pode assumir várias formas: pode ser uni ou bilateral e apresentar os testículos retidos no interior do abdome ou presos no interior do canal inguinal. Como resultado das elevadas temperaturas às quais o testículo retido é exposto, a espermatogênese não é iniciada no momento da puberdade. Essa condição é claramente indesejada e, embora os animais com criptorquidismo unilateral possam ser férteis, eles devem ser retirados da reprodução, pois é uma condição geralmente hereditária. Figura 5-18 Representação esquemática dos testículos e do gubernáculo na prega peritonial onde o descenso testicular ocorre. 1, testículo; 2, gubernáculo; 2′, pars propria; 2″, pars infravaginalis; 2‴, pars vaginalis; 3, processo vaginal; 4, artéria testicular. Figura 5-19 Fases no processo da intumescência gubernacular. Os testículos e o gubernáculo já passaram pelo canal inguinal. Região inguinal em um filhote de cão recém-nascido. A, 1, testículo; 2, gubernáculo exposto. B, Testículos e gubernáculo de um feto suíno (110 dias). Figura 5-20 Fases sucessivas da regressão do gubernáculo em um feto suíno. Observar a migração do testículo causada por essa regressão. 1, testículo e epidídimo; 2, gubernáculo; 2′, pars propria; 2″, pars infravaginalis; 2‴′, pars vaginalis; 3, processo vaginal; 4, ligamento da cauda do epidídimo; 5, ligamento próprio do testículo. Estruturas similares são formadas no sexo feminino, contudo não se desenvolvem significativamente nos animais domésticos, exceto na espécie canina, na qual a existência de um processo vaginal nas fêmeas é ocasionalmente problemática (pág. 461). Em diversas espécies, quando uma gestação gemelar ocorre, a circulação dos dois fetos pode se comunicar, o que resulta não somente na troca de células, mas também de hormônios (Fig. 29-18). A influência hormonal do feto macho pode interferir no desenvolvimento do gêmeo feminino. Em bovinos, isso pode resultar no “freemartismo”, condição na qual os ovários e o sistema de ductos da fêmea são gravemente subdesenvolvidos ou ausentes. Pode resultar também no crescimento dos gubernáculos no gêmeo feminino (Fig. 35-8, A-B). Muito raramente, isso também pode ocorrer em fetos suínos femininos que se comunicam com fetos masculinos no interior do útero. ÓRGÃOS URINÁRIOS O sistema urinário consiste em um par de rins, órgãos que formam a urina a partir do sangue; os ureteres, que conduzem a urina a partir dos rins; bexiga urinária, onde a urina é armazenada até que seja convenientemente eliminada; e uretra, por onde finalmente a urina chega até o meio exterior. Como quase toda a uretra do macho também transporta os produtos reprodutivos, é comum descrevê-la juntamente com os órgãos reprodutivos. RINS Os rins têm a manutenção do meio interno como a sua principal tarefa. Eles realizam essa função por meio da filtração do plasma, inicialmente extraindo enorme volume de fluido antes de submeter esse ultrafiltrado a um processamento adicional, no qual as substâncias úteis são seletivamente reabsorvidas, os catabólitos são concentrados para a eliminação e o volume é ajustado pela conservação suficiente de água para manter a composição do plasma dentro de valores apropriados. Algumas informações podem dar uma ideia das dimensões dessa tarefa. Em cães de grande porte (e animais com tamanhos semelhantes), 1.000-2.000 L de sangue perfundem os rins todos os dias; os 200-300 L do fluido que são filtrados desse volume são posteriormente reduzidos por reabsorção até que apenas 1-2 L de urina permaneçam para ser eliminados. A função endócrina dos rins consiste na produção e liberação de dois hormônios: renina, que desempenha um papel importante na regulação da pressão sanguínea sistêmica, e eritropoetina, que influencia a eritropoiese. Ambos são sintetizados nos aparelhos justaglomerulares, regiões localizadas em íntima associação com as arteríolas, formadas pela união dos capilares glomerulares aferentes com as porções adjacentes dos túbulos contorcidos distais (pág. 222). Os rins são órgãos de consistência firme e coloração marrom-avermelhada cuja aparência varia consideravelmente entre os mamíferos (Fig. 5-21). A forma mais familiar, que introduziu o termo em forma de rim ou reniforme no vocabulário comum, é encontrada nos cães (Fig. 5-21, D), gatos e pequenos ruminantes. Os rins dos suínos (Fig. 5-21, C) são mais achatados, enquanto os dos equinos (Fig. 5-21, E) apresentam forma semelhante a um coração (cordiforme). Em contraste, os rins dos bovinos (Fig. 5-21, B) são muito diferentes e apresentam uma superfície profundamente fissurada, formando vários lobos. Maiores subdivisões são observadas nos rins de algumas espécies marinhas (Fig. 5-21, A), que se assemelham a um cacho de uvas e possuem seus lobos levemente fusionados e unidos principalmente por um “pedúnculo” ramificado. Figura 5-21 Rim de um golfinho (A), rim de uma vaca (B), rim de um porco (C), rim de um cão (D) e rim de um cavalo (E). Normalmente, os rins são encontrados pressionados contra o teto do abdome, um de cada lado da coluna vertebral e predominantemente na região lombar, embora geralmente se localizem mais à frente, sob as últimas costelas. Essa posição se altera com os movimentos do diafragma e eles se deslocam, a cada respiração, talvez a metade do comprimento de uma vértebra. Raramente são simétricos; nos animais domésticos, com exceção dos suínos, o rim direito é mais cranial do que o rim esquerdo, aproximadamente a metade de seu próprio comprimento. A extremidade cranial do rim direito comumente se aloja em uma fossa do fígado, o que auxilia a fixar sua posição. O rim esquerdo, sem esse alojamento, é mais móvel e mais propenso a deslocamentos no abdome. O rim esquerdo e penduloso dos ruminantes é deslocado para a metade direita do abdome devido ao grande desenvolvimento do estômago. De forma geral, os rins comprimidos contra o teto do abdome são amplamente retroperitoniais, enquanto aqueles suspensos em um nível mais baixo apresentam uma cobertura peritonial mais extensa (Fig. 5-22). Figura 5-22 Representação esquemática da posição dos rins em relação à cavidade peritonial. 1, intestino; 2, rim direito (retroperitonial); 3, rim esquerdo (intraperitonial: penduloso ou “flutuante”). Cada rim se localiza em uma fenda da fáscia sublombar, que também contémconsiderável quantidade de gordura (às vezes o suficiente para esconder completamente o rim). A gordura protege contra pressões deformantes dos órgãos vizinhos. Normalmente, a superfície do rim é ligeiramente convexa, com exceção de uma depressão na margem medial. Essa depressão leva a um espaço oculto (seio renal; Fig. 5-23) ocupado pela origem dilatada (pelve renal) do ureter, vasos e nervos que entram e saem do hilo renal, e gordura. Figura 5-23 Rim seccionado. Observe que a complexidade da pelve renal diminui da vaca ao cavalo. Vaca (amostra plastinada) (A), porco (B), cão (C), gato (D), cavalo (E). A organização geral do rim é demonstrada de forma mais conveniente em um corte que divida o órgão em uma “metade” dorsal e outra ventral. Tal secção demonstra que o parênquima é envolto por uma espessa cápsula fibrosa. Essa cápsula restringe a capacidade do rim de se expandir; o edema que ocorre em determinadas doenças tende, portanto, a comprimir o tecido e estreitar as passagens internas. A cápsula é facilmente removida de um rim saudável, contudo adere onde houve cicatrizações decorrentes de lesões anteriores. O parênquima está visivelmente dividido em um córtex externo e uma medula interna (Fig. 5-23). O córtex é reconhecido por sua coloração marrom-avermelhada e aparência finamente granulada. A medula consiste em uma zona externa escura e púrpura, de onde saem estrias (raios medulares) que se estendem até o córtex, e uma zona interna estriada radialmente, de coloração vermelho-acinzentada mais pálida, que se estende em direção ao seio renal. O arranjo macroscópico da medula apresenta diferenças marcantes entre as espécies. Em muitas delas, a medula apresenta um arranjo com diversas massas discretas, cada uma com um formato aproximadamente piramidal. Nos rins desse tipo, uma porção do córtex está associada a cada pirâmide e cobre sua base, a face direcionada à superfície externa. O ápice da pirâmide aponta em direção ao seio renal e forma uma papila que se encaixa a uma expansão em forma de cálice da pelve renal. Cada pirâmide medular, juntamente com seu córtex associado, constitui um lobo renal. Rins que apresentam essa organização são denominados multipiramidais ou multilobares. Em alguns rins multipiramidais, como os dos bovinos (Fig. 5-23, A), os limites entre os lobos são evidenciados pelas fissuras que penetram a partir da superfície; em outros, incluindo os dos suínos, não há evidência externa de lobação (Fig. 5-23, B). Todos os rins de mamíferos passam por uma fase multipiramidal durante seu desenvolvimento, embora na maioria das espécies o número de lobos seja drasticamente reduzido mais tarde (Fig. 5-24). Em algumas espécies, incluindo cão, equino e ovino, ao final do desenvolvimento todas as pirâmides se fundem para dar origem a uma massa medular única que confina o córtex à periferia, onde forma uma cobertura contínua. Mesmo esse tipo de rim unipiramidal ou unilobar retém alguma evidência de sua complexa ontogênese; leves erosões da junção corticomedular, evidenciadas pelas artérias que marcam os limites interlobares, demonstram onde houve a fusão das pirâmides. A fusão junta as papilas em uma crista comum (Figs. 5-25 e 5-26) que pode ser modelada para revelar sua origem composta, como é o caso nos cães e caprinos, mas não em equinos. Figura 5-24 Moldes de corrosão da pelve renal. A, Golfinho, observe a pelve renal ramificada com vários cálices. B, Vaca, observe os ductos papilares se estendendo a partir dos cálices. C, Porco, a pelve renal se torna confluente; observe novamente os ductos papilares. D, Cão, a pelve renal é uma cavidade, contudo observe as cristas entre as papilas renais. E, Equino, pelve renal simples e vários ductos papilares se abrindo na pelve renal. Figura 5-25 Molde de corrosão de um rim canino. A pelve renal e o ureter estão preenchidos por um plástico amarelo. Observe o denteamento na pelve correspondente à crista das papilas renais. As ramificações da artéria renal (vermelho) estão claramente visíveis. Figura 5-26 Molde de corrosão da pelve renal, artéria renal e veias renais de um caprino. As depressões das cristas das papilas renais estão claramente visíveis. As unidades funcionais nos rins são conhecidas como túbulos renais ou néfrons. Esses túbulos epiteliais são sustentados por um interstício de tecido conjuntivo, e estima- se a presença de centenas de milhares ou mesmo milhões deles nos rins de cães. A estrutura e a função dos néfrons estão mais apropriadamente descritas em textos de anatomia microscópica e fisiologia; apenas alguns pontos, principalmente aqueles visíveis a olho nu, serão mencionados aqui. Cada néfron tem início em uma expansão cega que é invaginada por um grupo de capilares conhecido como glomérulo (Figs. 5-27/1 e 5-28). O glomérulo e seu revestimento epitelial, juntos, formam o corpúsculo renal (Fig. 5-27/1′), uma estrutura grande o suficiente para ser observada a olho nu, especialmente quando os capilares estão congestos. Os corpúsculos estão espalhados pelo córtex e conferem a ele sua aparência granular fina. Figura 5-27 Desenho esquemático de um lobo renal. 1, glomérulo; 1′, corpúsculo renal; 2, túbulo contorcido proximal; 3, parte descendente do túbulo atenuado; 3′, parte ascendente; 4, túbulo contorcido distal; 5, túbulo coletor; 6, ducto papilar; 7, artéria renal; 8, artéria interlobar; 9, artéria arqueada; 10, artéria interlobular; 11, plexo capilar. Figura 5-28 Eletromicrografia de varredura de um molde de corrosão de glomérulo renal de rato. A parte restante do néfron forma um longo tubo diferenciado em vários segmentos sucessivos. O primeiro, o túbulo contorcido proximal, é muito tortuoso e está localizado próximo ao corpúsculo do qual se origina (Fig. 5-27/2). Essa parte se torna gradualmente reta e entra em um dos estreitos raios que penetram do córtex para a medula. O túbulo então forma uma longa alça em forma de grampo, a alça do néfron, (originalmente denominada alça de Henle) na medula. A primeira parte da alça, o ramo descendente, é relativamente estreita e corre pela medula até se aproximar da papila antes de voltar-se. O ramo ascendente é geralmente mais espesso, embora a alteração do calibre não coincida necessariamente com a mudança de direção e se volta para retomar o raio medular. Saindo do raio medular, o túbulo forma uma segunda parte convoluta ou parte contorcida distal que também está localizada próximo ao corpúsculo de origem (Fig. 5-27/4). Uma curta seção juncional, então, segue para se juntar a um túbulo coletor no interior do raio medular. Cada túbulo coletor (Fig. 5-27/5) que serve a vários néfrons segue pela medula antes de se abrir em um vaso maior, o ducto papilar, próximo ao ápice (Fig. 5-27/6). Vários grupos de ductos papilares desembocam na pelve renal. Os ductos papilares podem ser claramente demonstrados em amostras injetadas com resina (Fig. 5-24). As áreas perfuradas (cribriformes) onde desembocam estão confinadas aos ápices da papila independente ou a regiões específicas de uma crista comum. Variações na localização dos corpúsculos e no comprimento geral e proporção dos túbulos apresentam uma importância funcional que não deve ser discutida aqui. Cada rim é irrigado pela artéria renal, um ramo da aorta abdominal, que pode comportar mais do que um décimo do total do débito do ventrículo esquerdo! A artéria renal se divide em várias artérias interlobares (Fig. 5-27/8), que seguem as divisões, antigas ou existentes, entre as pirâmides renais na junção corticomedular. Esses vasos são proeminentes em secções macroscópicas do rim. Eles dão origem a ramos que se curvam sobre as bases das pirâmides, conhecidos como artérias arqueadas (Fig. 5-27/9). Essas, por sua vez, dão origem a diversas artérias interlobulares que irrigam as unidades ou lóbulos nos quais o córtex está dividido pelos raios medulares (Fig. 5-27/10). Cada artéria interlobular dá origem a muitos ramos que irão irrigar os glomérulos individuais. Os capilares glomerulares se juntam novamenteem um vaso emissário no polo distal do glomérulo, e esse então supre um plexo capilar adicional presente ao redor dos túbulos (Fig. 5-27/11). O fluxo sanguíneo através desse segundo leito capilar é contracorrente ao fluxo da urina. Os vasos que partem dos corpúsculos justaglomerulares (aqueles na camada mais interna do córtex) apresentam uma importância particular na irrigação da medula. Na verdade, a circulação renal é mais complexa do que descrita aqui e fornece oportunidades para circulação colateral. Entretanto, as artérias interlobulares são certamente artérias terminais funcionais, e as artérias interlobares são possivelmente artérias terminais funcionais. As veias, que terminam por desembocar na veia cava caudal, são, de modo geral, satélites. Os vasos linfáticos drenam para linfonodos da série lombar que acompanha a aorta. Os nervos simpáticos dos rins seguem pelo plexo celiacomesentérico e daí ao longo das artérias renais. As sinapses podem estar localizadas no gânglio principal ou em um menor (aorticorrenal) na região periférica do plexo. O nervo vago contribui para a inervação parassimpática. PELVE RENAL E URETER Nos bovinos, o ureter é formado pela união das passagens curtas que saem dos cálices e confinam as papilas renais individuais (Figs. 5-24, B e 28-27). Na maioria das espécies domésticas, o ureter tem início em uma expansão comum, a pelve renal, dentro da qual todos os ductos papilares se abrem — embora de forma diferente nas diversas espécies (Figs. 5-24 e 21-23). Poucas diferenças na anatomia pélvica são de significância prática. Contudo, em cães e gatos, a forma da pelve renal apresenta uma importância que falta nas outras espécies, que é sua pronta identificação nas radiografias. A pelve renal desses animais está moldada na crista renal e estende abas dorsal e ventralmente a ela. Cada aba apresenta várias expansões e recessos locais que são divididos entre si por projeções de tecido renal (Fig. 5-29). Os recessos adjacentes são separados por vasos interlobares. Figura 5-29 Radiografia da pelve renal de um cão. Observe os recessos pélvicos. O restante da parte tubular de cada ureter apresenta calibre bastante uniforme. Ele segue um curso sagital contra o teto abdominal, embora possa apresentar ocasionais mudanças abruptas de direção. Ao chegar na cavidade pélvica, o ureter se curva medialmente para adentrar a prega genital, no caso dos machos, ou o ligamento largo, no caso das fêmeas;ele conduz o ureter sobre a superfície dorsal da bexiga urinária, dentro da qual se abre próximo à região do colo (Fig. 5-30). No macho, o ureter passa dorsalmente ao ducto deferente correspondente. Figura 5-30 Radiografia da pelve renal, ureteres e bexiga urinária de um cão. O ureter penetra na parede da bexiga de forma acentuadamente oblíqua. O comprimento do percurso intramural evita o refluxo de urina para o ureter quando a pressão no interior da bexiga se eleva (Fig. 5-31). Isso não evita um preenchimento adicional da bexiga, pois a resistência é superada pelas contrações peristálticas da parede do ureter. A parede da pelve renal e do ureter possui uma camada adventícia externa, uma muscular média e uma camada mucosa interna. A cobertura muscular é bem desenvolvida e, embora seu movimento peristáltico auxilie no transporte da urina até a bexiga, pode entrar em espasmo quando provocada por irritação local como, por exemplo, a causada por cálculos urinários. Figura 5-31 Junção ureterovesical. Devido à sua passagem oblíqua pela parede, o ureter é comprimido à medida que a pressão intravesical aumenta. 1, ureter; 2, lume da bexiga urinária; 3, parede da bexiga urinária; 4, colo da bexiga urinária. BEXIGA URINÁRIA A bexiga urinária é um reservatório dilatável e, portanto, não apresenta tamanho, posição ou relações constantes. É pequena e globular quando completamente contraída, sendo então notável pela grande espessura de sua parede e insignificante extensão de seu lume. A bexiga contraída se apoia sobre os ossos púbicos, está confinada à cavidade pélvica nos grandes animais, porém se estende até o abdome nos carnívoros. Quando aumenta de tamanho, adquire forma de pera, apresentando um vértice cranial (ápice), um corpo intermediário e um colo caudal que se estreita até o óstio uretral interno na junção com a uretra. Embora a contínua distensão da bexiga faça com que uma parte crescente atinja o abdome, o colo permanece fixo na pelve por meio de sua continuação com a uretra (Fig. 5-32/11). Figura 5-32 Secção mediana da pelve bovina. 1, sacro; 2, primeira vértebra caudal; 3, interior do reto; 4, canal anal; 5, exterior do corno uterino direito; 6, interior do coto do corno uterino esquerdo; 7, cérvix; 8, vagina; 9, vestíbulo; 10, vulva; 11, exterior da bexiga; 12, uretra; 12″, divertículo suburetral; 13, forame obturador; 14, sínfise pélvica. Não há elevação imediata da pressão interna quando a bexiga começa a ser preenchida. Entretanto, em determinado momento, quando considerável volume é atingido, a pressão se eleva rapidamente; isso cria o impulso para eliminar a urina, um impulso obedecido sem hesitação em várias espécies. Em animais com adestramento doméstico, esse impulso pode desaparecer temporariamente caso seja frustrado, embora um desconforto seguido de dor possa ocorrer caso a bexiga esteja muito repleta. Em cães bem treinados, a distensão pode ser muito grande, fazendo com que o ápice da bexiga se desloque cranialmente ao umbigo e suas paredes atinjam a espessura de uma folha de papel, com risco de ruptura. Apesar de o contorno da bexiga distendida ser liso, o do órgão moderadamente distendido é irregular, uma vez que a baixa pressão interna permite que seja comprimida pelos firmes órgãos adjacentes (Fig. 5-30). Em grandes animais, a bexiga contraída é amplamente retroperitonial, porém a maior parte da superfície se torna intraperitonial quando o órgão está moderadamente expandido. Três pregas prolongam seu revestimento seroso até as paredes abdominal e pélvica (Fig. 5- 33). Os ligamentos vesicais laterais constituem o par de pregas que conduz os ligamentos redondos da bexiga; esses são vestígios das artérias umbilicais e mantêm um lume estreito por meio do qual certa quantidade de sangue chega até a parte cranial da bexiga. A terceira prega, o ligamento vesical mediano, está vazia no animal adulto, mas no feto dá suporte ao úraco, a continuação cranial constrita da bexiga que deixa o abdome pelo forame umbilical, antes de se expandir externamente no alantoide. O úraco e as artérias umbilicais se rompem no momento do nascimento; o úraco permanece na forma de cicatriz sobre o vértice da bexiga, enquanto as artérias umbilicais transformam-se nos ligamentos redondos. No animal adulto, as pregas unem o par ventral das diversas escavações nas quais a parte pélvica da cavidade peritonial está dividida (Figs. 22-6 e 22-7). Figura 5-33 Disposição peritonial na região caudal do abdome. 1, cólon; 2, útero; 3, bexiga urinária; 4, ligamentos vesicais laterais; 5, ligamento vesical mediano; 6, ureter; 7, ligamento largo do útero (mesométrio). As relações dorsais constantes da bexiga são com os órgãos reprodutivos e suas pregas de apoio: o útero e a vagina no ligamento largo, no caso das fêmeas; e o ducto deferente (e talvez as glândulas vesiculares) na prega genital, no caso dos machos. A bexiga urinária também pode fazer contato indireto com o reto por meio dessas pregas. A superfície ventral entra em contato com os assoalhos pélvico e abdominal. Outras relações intra-abdominais da bexiga são menos previsíveis e podem ser muitas quando a bexiga está totalmente repleta. A adesão frouxa da mucosa da bexiga e a sua capacidade de distensão permitem notáveis mudanças em sua aparência interior, com alteração do estado fisiológico. A superfície, muito pregueada quando o lume é menor, se torna bem lisa quando a bexiga está repleta. Entretanto, duas pregas não desaparecem. Elas partem dos orifícios em forma de fenda dos ureteres, convergem na saída da bexiga ese fundem para formar medianamente a crista uretral, que continua no interior da uretra pélvica (Fig. 5-34/5). O triângulo formado pelas aberturas uretéricas e uretral é denominado trígono vesical; aparentemente apresenta uma origem diferente do restante da parede da bexiga (pág. 169) e acredita-se que apresente sensibilidade aumentada (Figs. 5-34/4). O epitélio da bexiga é do tipo transicional. Figura 5-34 Interior da bexiga urinária. 1, cicatriz do úraco; 2, bexiga urinária; 3, ureter; 3′, orifício uretérico; 4, trígono vesical; 5, crista uretral; 6, uretra. A musculatura da bexiga está arranjada em três camadas que trocam fascículos. O músculo é provavelmente detrusor por completo — capaz de comprimir e esvaziar a bexiga — e não é capaz de formar um esfíncter interno, embora um seja frequentemente descrito. Muitos pesquisadores atualmente acreditam que, no lugar desse esfíncter, alguns feixes musculares se juntem para formar uma série de arcadas cujos ápices estão direcionados para o orifício; portanto, ocorre dilatação mais do que oclusão quando a musculatura se contrai. Caso isso seja verdadeiro, a continência depende da tensão passivamente exercida pelos elementos elásticos presentes na mucosa e da ação do esfíncter externo da uretra, estriado. Essa interpretação é consistente com a demonstração de que em determinadas espécies (canina, caprina) a parte proximal da uretra constitui parte do reservatório de urina, se expandindo à medida que a bexiga é preenchida. O limite funcional entre a bexiga e a uretra deveria, então, ser representado pelo limite cranial do músculo uretral dessas espécies. Fibras autônomas chegam até a bexiga por meio do nervo simpático hipogástrico e nervos parassimpáticos pélvicos; os últimos inervam o músculo detrusor. Fibras sensitivas são conduzidas através do nervo pudendo. A irrigação sanguínea é realizada principalmente pela artéria vaginal (ou prostática), contudo, como foi mencionado anteriormente, é suplementada pelas reduzidas artérias umbilicais. URETRA FEMININA A uretra na fêmea segue caudalmente no assoalho pélvico sob o trato reprodutivo. Passa obliquamente pela parede vaginal para se abrir ventralmente na junção da vagina com o vestíbulo (Fig. 5-35). Seu comprimento e largura variam consideravelmente entre as espécies; é evidentemente curta e larga nas éguas. Em alguns animais, como na vaca e na porca, ela se abre juntamente com o divertículo suburetral (Fig. 5-32/12′) e, em outros, como a cadela, em uma elevação. Ambos os arranjos dificultam o processo de cateterização da bexiga quando necessário. Figura 5-35 Órgãos pélvicos da cadela. A parede lateral pélvica e a parede lateral do vestíbulo foram removidas. 1, reto; 2, saco anal; 3, ânus; 4, útero; 5, vagina; 6, ureter; 7, bexiga urinária; 8, uretra; 9, vestíbulo; 10, clitóris; 11, vulva. Quando um divertículo está presente, está e confinado no músculo uretral, que circunda a uretra ao longo de grande parte de sua extensão. Os fascículos craniais dessa musculatura circundam a uretra, enquanto os caudais sustentam a uretra com alças em forma de U que surgem e terminam na parede vaginal. A contração dessa parte do músculo fecha a uretra, pressionando os dois órgãos juntos; essa ação também estreita a vagina. O músculo uretral obtém sua inervação somática por meio do nervo pudendo, porém o envolvimento parassimpático e simpático também está descrito. A submucosa uretral apresenta várias veias que constituem uma espécie de tecido erétil que pode contribuir para a continência, auxiliando na aposição da mucosa. À exceção desses aspectos, a estrutura da uretra é contínua àquela da bexiga. ÓRGÃOS REPRODUTIVOS MASCULINOS Os órgãos reprodutivos do macho incluem um par de gônadas, os testículos, responsáveis pela produção dos gametas (espermatozoides) e hormônios; um par de sistemas de ductos gonadais, cada um consistindo em um epidídimo e um ducto deferente, que transportam os produtos exócrinos dos testículos para a uretra; um conjunto de glândulas acessórias, que contribuem para o volume do sêmen; a uretra masculina, que se estende da bexiga até a extremidade livre do pênis e serve de passagem tanto para a urina quanto para o sêmen; o pênis, órgão copulatório do macho, responsável pela deposição do sêmen no trato reprodutivo da fêmea; e as adaptações da pele, o escroto e o prepúcio, desenvolvidos em estreita relação com os testículos e o pênis. TESTÍCULOS E SEUS ANEXOS Testículos Os testículos combinam componentes endócrinos e exócrinos dentro de uma cápsula comum. Os componentes endócrinos funcionam normalmente na mesma temperatura corporal, contudo, na maioria dos mamíferos, a bem-sucedida produção dos gametas requer uma temperatura poucos graus abaixo da temperatura do abdome. Então, embora os testículos se desenvolvam no abdome, eles posteriormente migram, descendo pelo canal inguinal até chegarem ao escroto (pág. 189), uma bolsa de pele e fáscias subjacentes localizada, variadamente, entre a virilha e o períneo. Aquela plausível, embora mais superficial, explicação da descida é falha em relação à capacidade de a espermatogênese ocorrer normalmente em temperatura corporal em alguns mamíferos (descritos como testicondos, p. ex., elefantes, hiraces), nos quais os testículos permanecem no interior do abdome durante toda a vida. Tal explicação é consistente com as alterações periódicas exibidas por vários pequenos mamíferos (principalmente entre roedores, insetívoros e morcegos) nos quais os testículos descem para o escroto durante a estação de acasalamento; após esse período, eles retornam para o abdome. Isso ocorre por meio da contração do envoltório muscular cremastérico encontrado nessas espécies. Os testículos são órgãos elipsoides sólidos cujo volume não tem relação fixa com o tamanho corporal. Dentre as espécies domésticas, são evidentemente pequenos em gatos e notavelmente grandes em carneiros e bodes. Sua orientação também varia. Apresentam seu maior eixo longitudinal na posição vertical nos ruminantes (necessitando de profundo e penduloso escroto), na horizontal nos equinos e cães, e inclinado em direção ao ânus em suínos e gatos. Essa diferença está diretamente relacionada à posição do escroto, que está localizado abaixo da parte caudal do abdome nos ruminantes, perineal nos suínos e gatos, e em uma posição intermediária nos equinos e cães (Fig. 5-36). Cada testículo está separadamente suspenso dentro do escroto pelo cordão espermático, um feixe de estruturas que inclui o ducto deferente, vasos e nervos confinados dentro de um duplo revestimento do peritônio. Figura 5-36 Posição perineal, intermediária e inguinal do escroto no gato (A), cão (B) e touro (C). 1, artéria testicular; 2, ducto deferente; 3, testículo; 4, sínfise pélvica. A superfície externa do testículo é lisa devido ao revestimento peritonial direto, com exceção da região dos polos e ao longo da margem pela qual está aderido ao epidídimo, uma estrutura formada pela parte convoluta inicial do sistema externo de ductos. O peritônio cobre uma cápsula espessada (túnica albugínea) composta principalmente por tecido conjuntivo denso, porém algumas vezes também por musculatura lisa. Os grandes ramos da artéria e da veia testiculares seguem no interior da cápsula, onde são visíveis em um padrão característico para cada espécie. O parênquima é contido sob leve pressão, responsável por sua protrusão por qualquer incisão realizada na cápsula. É provável que uma leve tumefação no parênquima possa ser acomodada pelo testículo, que assume uma forma mais globular; contudo, qualquer expansão significativa eleva a pressão intratesticular causando dor, que pode ser grave quando os testículos estão inflamados (orquite).* A cápsula emite septos e trabéculas que dividem o parênquima em lóbulos. Os septos não estão sempre evidentes; contudo, naquelas espécies nas quais são bem desenvolvidos, podem ser observados convergindo no sentido de um espessamento substancial (mediastino testicular); isso pode ser axialou deslocado no sentido da margem onde está o epidídimo. Figura 5-37 Secção mediana do testículo (touro). 1, mediastino testicular; 2, parênquima testicular. O parênquima macio, amarelado ou acastanhado consiste em túbulos seminíferos entremeados e tecido intersticial (Fig. 5-38). Esse último consiste em uma massa intersticial de células (Leydig) apoiadas em um delicado tecido conjuntivo, no qual estão presentes pequenos vasos sanguíneos e linfáticos (Fig. 5-39). As células intersticiais são as principais produtoras do hormônio esteroide androgênico. A maior parte do parênquima (60% em cachaços e garanhões, 90% em carneiros e touros) é formada por túbulos onde o processo de espermatogênese é conduzido. Figura 5-38 Secção longitudinal do testículo e epidídimo, esquemático. 1, túnica albugínea; 2, mediastino; 3, túbulos seminíferos; 4, túbulos retos; 5, rede testicular; 6, túbulos eferentes; 6′, ducto do epidídimo; 7, ducto deferente; 8, cabeça do epidídimo; 9, corpo do epidídimo; 10; cauda do epidídimo; 11, plexo pampiniforme. Cada túbulo seminífero (Fig. 5-38) é tão tortuoso e espiralado que as duas extremidades se abrem na rede testicular (Fig. 5-38/5), um plexo de espaços no interior do mediastino. No interior dos túbulos seminíferos, dois tipos celulares podem ser identificados: as células de Sertoli, que dão suporte e nutrem as células germinativas por meio da produção de hormônios e fatores de crescimento, e o epitélio seminífero (Fig. 5- 39). A rede é drenada por uma dúzia ou mais de ductos eferentes (Fig. 5-38/6) que penetram na cápsula para se unirem na cabeça do epidídimo. As funções endócrinas do testículo são realizadas pelas células intersticiais (Leydig), responsáveis pela produção de andrógenos, e pelas células de sustentação (Sertoli), responsáveis pela produção de inibina. Esses dois tipos celulares estão sob o controle pulsátil, contudo mais ou menos tônico, das gonadotrofinas (hormônio luteinizante [LH] e hormônio folículo estimulante [FSH], respectivamente) produzidos na hipófise (pág. 217). Entre outras funções, as células de sustentação produzem a ativina e a inibina, cujos nomes claramente indicam seus efeitos sobre a síntese e a liberação de FSH por meio de mecanismos que podem ser diretos ou mediados via hipotálamo. Os andrógenos claramente apresentam uma função local distinta, mas também são responsáveis pelas características sexuais secundárias, como maturação das glândulas sexuais acessórias, desenvolvimento musculoesquelético do macho, características cutâneas e até mesmo pela diferenciação pré-natal de certos núcleos cerebrais e medulares. Eles também são parcialmente responsáveis pelo típico comportamento masculino. Também exercem efeito de retroalimentação negativa sobre a secreção das gonadotrofinas hipofisárias; parte desse efeito de retroalimentação é realizada no hipotálamo. Durante o período fetal, uma produção ativa de andrógenos pode acontecer sem o controle da hipófise. Ainda durante esse período, as células intersticiais também são responsáveis pela síntese do fator semelhante à insulina 3, que está associado ao crescimento do gubernáculo e, portanto, à descida testicular. No período fetal, as células de sustentação produzem o AMH, que exerce um efeito inibitório sobre os ductos paramesonéfricos (pág. 171), causando o desaparecimento da maior parte do sistema de ductos femininos. EPIDÍDIMO O epidídimo é um órgão firme, formado por diversas voltas do ducto do epidídimo em uma matriz de tecido conjuntivo. Está anexado ao longo de uma das margens mais longas — dorsal no cão, caudomedial no touro — do testículo, e normalmente ultrapassa em certa distância os polos (Fig. 5-40). Convencionalmente, está dividido em três partes — cabeça, corpo e cauda — mas essa divisão arbitrária nem sempre corresponde às distinções funcionais. Figura 5-40 Testículo (cavalo). 1, cabeça do epidídimo; 2, corpo do epidídimo; 3, plexo pampiniforme. A cabeça (Fig. 5-38/8) está firmemente aderida à cápsula testicular e recebe os túbulos eferentes que, imediatamente ou após algumas voltas, se unem para formar um ducto mais largo, o ducto do epidídimo (Fig. 5-38/6′). O corpo pode não estar completamente aderido à superfície do testículo, e nesse caso, um espaço (bolsa testicular, homóloga à bolsa ovárica*) é criado (Fig. 5-41/3). A cauda está firmemente aderida ao testículo por meio de um ligamento (ligamento próprio do testículo) e também à camada parietal do saco peritonial por meio do ligamento da cauda do epidídimo (Fig. 5-41/7,8). A cauda finalmente afina e o ducto emerge para continuar como ducto deferente (Fig. 5- 41/4). O epidídimo apresenta aparência esponjosa nas secções, pois o ducto espiralado é inevitavelmente seccionado transversalmente várias vezes. Figura 5-41 Vista lateral do testículo direito de um garanhão. 1, testículo; 2, cabeça do epidídimo; 2′, corpo do epidídimo; 2″, cauda do epidídimo; 3, bolsa testicular; 4, ducto deferente; 4′, mesoductos deferentes; 5, plexo pampiniforme; 6, mesórquio; 7, ligamento próprio do testículo; 8, ligamento da cauda do epidídimo; 9, margem do corte da prega que conecta as lâminas visceral e parietal da túnica vaginal. DUCTO DEFERENTE O ducto deferente é ondulado na região onde surge, mas gradualmente torna-se retilíneo ao seguir em direção ao abdome (Fig. 5-42). Inicialmente segue medialmente ao epidídimo enquanto se encaminha em direção aos vasos testiculares, que formam o componente mais volumoso do cordão espermático. Os constituintes do cordão permanecem unidos à medida que passam pelo canal inguinal, contudo se dispersam no anel vaginal (Figs. 5-36 e 22-19). Nesse local, o ducto se volta caudomedialmente para passar sob o ureter antes de ganhar a superfície dorsal da bexiga urinária (Fig. 5-36); ele penetra na próstata antes de finalmente entrar na uretra, em uma região um pouco além da origem da uretra na bexiga. A parte abdominal continua sustentada pela prega peritonial (mesoducto), que se junta à parte contralateral para formar a prega genital, horizontalmente acima da bexiga. A maior parte do ducto apresenta aparência e estrutura uniformes; o lume é mais estreito em relação à espessura da parede muscular. Na maioria das espécies, a parte subterminal que fica sobre a bexiga urinária apresenta aumento fusiforme, ampola do ducto deferente ou glândula ampular (Fig. 5-51/4). Embora o termo sugira uma ampliação do lume, o espessamento é causado principalmente pela proliferação glandular na parede do ducto, em grande parte na mucosa pregueada local. Figura 5-42 Molde de corrosão (cão) da artéria testicular (vermelho), plexo pampiniforme (azul) e ducto deferente (amarelo). Figura 5-51 Glândulas reprodutivas acessórias do garanhão (A), touro (B), cachaço (C) e cão (D); vista dorsal. 1, ureter; 2, bexiga urinária; 3, ducto deferente; 4, ampola do ducto deferente; 5, glândula vesicular; 6, corpo da próstata; 7, glândula bulbouretral; 8, uretra; 9, bulbo do pênis. Na maioria dos mamíferos domésticos, uma segunda glândula acessória cresce a partir do ducto próximo à sua terminação. A glândula vesicular será descrita em uma seção mais à frente, contudo, por enquanto, pode ser observado que essa curta passagem comum é conhecida como ducto ejaculatório. Túnica Vaginal e Cordão Espermático O processo peritonial (túnica vaginal) que envolve o testículo é uma evaginação do revestimento do abdome através do canal inguinal. A estreita parte proximal que circunda o cordão espermático se alarga distalmente para formar uma expansão em forma de frasco abaulado no interior do escroto, que envolve o testículo e o epidídimo. As lâminas parietal e visceral da túnica estão ligadas por uma prega que se estende do anel vaginal até a cauda do epidídimo (Fig. 5-41).* A cavidade entre as lâminas parietal e visceral (Fig. 5- 43/9) apresenta normalmente apenas uma pequena quantidade de fluido seroso e se comunica com a cavidade peritonial do abdome por meio do anel vaginal, uma estreita abertura em forma defenda, localizada na abertura interna do canal inguinal. Às vezes, uma alça do intestino delgado ou outro órgão abdominal sofreherniação para dentro do processo peritonial pelo anel vaginal; essa complicação é normalmente encontrada no momento da castração. Vale ressaltar que, em crianças, o colo do processo peritonial normalmente fica obliterado logo após o nascimento, o que isola a cavidade próxima ao testículo. Figura 5-43 Secção transversa do cordão espermático e seus anexos imediatos, esquemático. 1, ducto deferente; 2, artéria testicular (espiralada); 3, plexo pampiniforme; 4, nervos e vasos linfáticos testiculares; 5, lâmina visceral da túnica vaginal; 6, lâmina parietal da túnica vaginal; 7, músculo cremaster; 8, fáscia espermática externa; 9, cavidade vaginal; 10, mesórquio; 11, mesoducto. O cordão espermático varia em comprimento e forma de acordo com a posição e a orientação dos testículos. É mais curto e mais compacto naquelas espécies que apresentam os testículos pendentes verticalmente na região inguinal. O volume do cordão é conferido pela artéria testicular e pelas veias testiculares, ambas bastante modificadas. A artéria é um ramo da aorta abdominal, e inicialmente segue em direção ao anel vaginal, onde os constituintes do cordão espermático estão reunidos. A parte mais distal é extremamente convoluta — uma contagem descreve não menos do que sete metros de artéria, contidos em 10 cm de cordão (Figs. 5-44 e 5-45, A-B). Essas figuras em particular, talvez, exagerem o arranjo usual, mas servem para enfatizar sua extravagância. As veias testiculares constituem uma elaborada malha, o plexo pampiniforme, dentro da qual as espirais da artéria estão entremeadas (Fig. 5-45, B); ao final, o plexo se reduz a uma única veia que segue na direção da veia cava caudal. Anastomoses arteriovenosas estão presentes entre a artéria testicular e seus ramos epididimários e as veias do plexo pampiniforme (Fig. 5-46). Uma generosa drenagem linfática passa para os linfonodos localizados próximos à bifurcação da aorta. Em algumas espécies, um pequeno linfonodo está presente próximo ao canal inguinal. A linfa transporta uma fração substancial da produção de hormônios do testículo. Os modestos nervos testiculares são de origem simpática. Figura 5-44 Molde de corrosão de vasos no interior e sobre o testículo e plexo pampiniforme (touro). Figura 5-45 A e B, Vascularização do testículo equino. Observe o trajeto dos ramos arteriais na superfície testicular. 1, artéria testicular (vermelho, se torna muito convoluta à medida que se aproxima do testículo); 2, parte do plexo pampiniforme. Figura 5-46 Molde de corrosão da artéria testicular. 1, espiral da artéria; 2, plexo pampiniforme; 3, anastomose arteriovenosa (plexo preenchido via essa anastomose). Escroto Variações na localização e na forma do escroto já foram mencionadas (Fig. 5-36). Externamente, um sulco mediano marca a divisão entre os compartimentos esquerdo e direito; geralmente denuncia uma evidente assimetria dos testículos. A parte mais baixa do escroto é moldada pelos testículos e se ajusta à medida que sua posição varia em função da temperatura ambiente (Fig. 5-47). Figura 5-47 Escroto de um touro. A musculatura na túnica dartos está contraída causando a elevação do escroto. A pele relativamente fina do escroto apresenta glândulas sudoríferas e sebáceas. Às vezes é glabra, contudo essa não é uma característica constante; de fato, o escroto do gato é coberto por pelos e densamente coberto por lã em certas espécies de ovinos. Quando não glabra, geralmente é pigmentada. A pele escrotal adere a uma firme camada fibromuscular (túnica dartos), que também se estende como um septo entre os compartimentos que separadamente alojam os testículos. Internamente à túnica dartos está presente uma fáscia (espermática) que pode ser separada em várias camadas, as quais se acredita corresponder às camadas da parede abdominal. A camada predominante é a fáscia espermática externa, que pode ser claramente separada da túnica dartos (Fig. 5-48). O estrato intermediário, frouxo, permite um movimento independente da túnica vaginal dentro do escroto; além de sua significância funcional (ver adiante), isso facilita a castração pelo método fechado (no qual os testículos são expostos dentro da túnica vaginal antes de o cordão ser rompido proximalmente). A densa fáscia espermática externa que sustenta a túnica vaginal também reveste o cremaster, um músculo delgado que passa para dentro docordão após se originar da margem caudal do músculo oblíquo interno do abdome. Figura 5-48 Vista cranial do escroto aberto de um touro; os revestimentos dos testículos foram parcialmente dissecados. 1, pele escrotal e dartos; 2, septo escrotal; 3, fáscia espermática externa; 4, lâmina parietal da túnica vaginal; 5, lâmina visceral (dissecada da superfície do testículo); 6, músculo cremaster; 7, lâmina visceral da túnica vaginal cobrindo as estruturas no cordão espermático; 7′; lâmina visceral no testículo; 8, ducto deferente; 9, cauda do epidídimo. Função Testicular Na maioria dos mamíferos silvestres, o período de acasalamento é sazonal e isso é refletido por alterações na morfologia e na atividade dos órgãos reprodutivos, em ambos os sexos. Um pouco dessa sazonalidade permanece entre os machos domésticos, nos quais o epitélio seminífero é ativo durante o ano todo, com pequenas variações na produção espermática. Embora o processo de espermatogênese não seja descrito, o leitor deve ser lembrado de que as divisões celulares seriadas e a maturação que formam o ciclo não são sincronizadas em todas as partes do epitélio seminífero. Em vez disso, segmentos adjacentes apresentam sucessivas fases; assim, uma secção longitudinal “afortunada” do túbulo demonstra diferentes fases do processo, ocorrendo como uma onda se espalhando ao longo de seu comprimento (Fig. 5-39). O processo de espermatogênese é influenciado pela temperatura e, como já relatado, não ocorre normalmente à temperatura corporal. O epitélio seminífero é danificado nos testículos que não foram capazes de descer até o escroto (criptorquidismo), e esses não são capazes de produzir espermatozoides. Alterações semelhantes são observadas naqueles testículos que desceram normalmente e posteriormente retornaram à cavidade abdominal, como também naqueles testículos que permaneceram dentro do escroto, mas que são superaquecidos por um incomum espessamento de pelos ou lã. Devido ao tecido intersticial ser menos suscetível à temperatura, a libido e a potência podem ser normais em animais criptorquidas que são inférteis. Vários fatores auxiliam na manutenção da temperatura endotesticular adequada. A posição exposta do escroto, a ausência de gordura no interior da fáscia escrotal e a posição intracapsular dos grandes vasos testiculares auxiliam a perda de calor por radiação (Fig. 5-49); a grande quantidade de glândulas sudoríferas permite a perda adicional de calor por evaporação na superfície cutânea. Talvez o mais importante seja o extenso contato entre os vasos no interior do cordão que pré-resfria o sangue no interior da artéria à medida que ela segue seu tortuoso caminho em relação ao plexo venoso (Fig. 5-45). Os mecanismos para a perda de calor são tantos que a temperatura testicular pode ser excessivamente reduzida em climas mais frios. Mecanismos inversos estão disponíveis. A contração da túnica dartos, diretamente sensível à alteração da temperatura, comprime e recolhe o escroto, reduzindo, dessa forma, a superfície exposta e também trazendo os testículos para o tronco, mais aquecido (Fig. 5-47). Os testículos também podem ser separadamente suspensos no interior do escroto por meio de contrações dos músculos cremaster, que tracionam a túnica vaginal; como são estriados, esses músculos reagem rapidamente para puxar os testículos para longe de estímulos potencialmente danosos. Figura 5-49 Artérias e veias testiculares na superfície do testículo bovino e do plexo pampiniforme. A castração demachos excedentes tem sido há muito tempo praticada para facilitar seu manejo ou promover qualidades especiais à carcaça. A pecuária moderna, os efeitos da seleção reprodutiva e as alterações nas necessidades do consumidor atualmente tornam possível levar animais de produção ao abate em idade mais precoce do que antigamente, e a necessidade da castração de rotina, assim como sua vantagem econômica, começa a ser questionada. A influência direta da castração sobre os órgãos reprodutivos é considerada com alguns detalhes em bovinos, espécie em que o assunto é mais conhecido, está na pág. 719. ÓRGÃOS REPRODUTIVOS PÉLVICOS Uretra Masculina A uretra do macho se estende de um orifício interno no colo da bexiga urinária até um orifício externo na extremidade livre do pênis. Dessa forma, pode ser dividida em uma parte interna ou pélvica e uma externa ou esponjosa; aqui, esponjoso se refere a um tecido altamente vascularizado que circunda a uretra quando ela deixa a cavidade pélvica. A parte esponjosa está amplamente incorporada no interior do pênis e é apropriadamente considerada como um componente do órgão. A parte pélvica é unida aos ductos deferentes e/ou aos ductos vesiculares (ou a um ducto ejaculatório combinado) a uma curta distância de sua origem na bexiga; a maior parte da uretra serve para eliminar tanto a urina quanto o sêmen. Embora a uretra pélvica apresente variações regionais e específicas, consiste essencialmente de um tubo mucoso sucessivamente revestido por uma submucosa vascular e uma túnica muscular. A membrana mucosa está disposta em pregas longitudinais durante seu estado inativo. A parte inicial também apresenta uma crista dorsal que continua do orifício uretral para terminar em um espessamento (colliculus seminalis). O colículo seminal apresenta em suas laterais os orifícios dos ductos deferentes, em forma de fenda, e aberturas menores, por meio das quais muitos ductos prostáticos eliminam suas secreções (Fig. 5-50/7). Aberturas semelhantes, porém mais distais, marcam a entrada dos ductos das outras glândulas acessórias (Fig. 5-50/8). A submucosa apresenta um moderado sistema de espaços conectores de sangue que é contínuo ao revestimento esponjoso, muito mais generoso, da segunda parte da uretra. O principal componente da cobertura muscular é o músculo estriado uretral que circunda o tubo. Figura 5-50 Vista ventral da bexiga urinária e uretra abertas de um garanhão. 1, ureter; 2, bexiga urinária; 3, orifício uretérico; 4, trígono vesical; 5, crista uretral e colículo seminal; 6, abertura do ducto ejaculatório; 7, múltiplas aberturas dos ductos prostáticos; 8, múltiplas aberturas dos ductos bulbouretrais; 9, glândula vesicular; 10, próstata; 11, glândula bulbouretral. A uretra está alojada em gordura e outros tecidos conjuntivos onde repousa sobre o assoalho pélvico. A superfície dorsal está relacionada ao reto e, com diferenças entre as espécies, às variadas glândulas acessórias reprodutivas; normalmente, apenas uma estreita faixa mediana de frente para a escavação retogenital está coberta pelo peritônio. A uretra é facilmente palpada pelo reto, um procedimento que pode estimular a atividade rítmica de sua musculatura. Glândulas Acessórias Reprodutivas O conjunto de glândulas é formado pelas ampolas, glândulas vesiculares, próstata e glândulas bulbouretrais, embora nem todas estejam presentes em todas as espécies (Fig. 5- 51). As ampolas do ducto deferente já foram suficientemente descritas. O par de glândulas vesiculares (Fig. 5-51/5) está presente em todas as espécies domésticas, com exceção dos cães e gatos. Cada broto surge da parte distal do ducto deferente no embrião e essa relação comumente persiste; nos suínos, a posterior incorporação do ducto ejaculatório à uretra faz com que as glândulas vesiculares desemboquem separadamente. Essas glândulas variam muito na aparência; nos equinos são grandes, externamente são lisas e em formato de bexiga, se assemelhando aos órgãos humanos que anteriormente eram denominados vesículas seminais. Esse termo é inapropriado, pois na maioria das espécies as glândulas sãonodosas, com paredes espessas e lume estreito e ramificado. As glândulas vesiculares localizam-se inteira ou parcialmente no interior da prega genital, lateralmente ao ducto deferente correspondente. A próstata (Fig. 5-51/6) está presente em todas as espécies domésticas. Em algumas, consiste em duas partes: uma está difusamente espalhada no interior da parede da uretra pélvica e a outra é um corpo compacto localizado externamente ao músculo uretral. As duas partes são drenadas por vários pequenos ductos. Os pequenos ruminantes apresentam apenas a parte difusa ou disseminada, e o equino apenas a parte compacta. Nos cães e gatos, a parte disseminada é vestigial, entretanto a parte compacta é muito grande e globular, tão desenvolvida que circunda completamente (cão) ou quase completamente (gato) a uretra. As glândulas bulbouretrais (Figs. 5-51/7 e 5-52) são pares, tubulares, apresentam epitélio secretor e repousam sobre a uretra, próximas à saída da pelve. São observadas em todas as espécies, menos nos cães (embora sejam vestigiais nos gatos). Nos equinos e ruminantes apresentam tamanho moderado, contudo nos suínos são muito grandes e aparecem como cilindros irregulares e alongados, localizados em ambos os lados da uretra. Elas podem ser drenadas por um ou vários ductos. Figura 5-52 Glândula bulbouretral (caprino) (HE; 70×), uma glândula tubular composta revestida por epitélio colunar secretor. 1, ducto coletor. Todas as glândulas maiores possuem cápsulas bem desenvolvidas e septos internos com musculatura lisa, responsável pela eliminação da secreção no momento apropriado. PÊNIS E PREPÚCIO O pênis está suspenso abaixo do tronco e está parcialmente contido entre as coxas, onde é ancorado ao assoalho pélvico pelo ligamento suspensório nas grandes espécies. Durante a fase quiescente, a extremidade livre está confinada dentro de uma invaginação de pele abdominal, o prepúcio, que se abre em locais variados atrás do umbigo. O órgão é principalmente formado por três colunas de tecido erétil (Fig. 5-53). Essas colunas são independentes caudalmente, onde constituem a raiz do pênis, contudo, suas partes principais estão unidas no corpo do pênis. Figura 5-53 Desenho esquemático dos componentes que constituem o pênis do equino na sua raiz e no seu ápice. 1, crura do pênis; 2, bulbo; 3, corpo esponjoso; 4, corpo cavernoso; 5, uretra; 6, bexiga urinária; 7, ureter; 8, ducto deferente; 9, glande. O par de colunas dorsais é conhecido como pilares do pênis (Fig. 5-53/1) em sua amplamente separada origem no arco isquiático. Os pilares convergem, se dobram para a frente e seguem abaixo do assoalho pélvico antes de se juntarem. Cada um consiste em um centro de tecido cavernoso confinado em um envoltório de tecido conjuntivo espesso (túnica albugínea), e o complexo é conhecido como corpo cavernoso (Fig. 5-53/4). Na parte proximal do corpo do pênis existe um septo entre os dois corpos cavernosos, contudo, na maioria das espécies, o septo diminui gradativamente e finalmente desaparece quando caminha distalmente em direção à glande do pênis. Nos carnívoros, o septo é completo. A estrutura unida apresenta ventralmente um sulco para acomodar o terceiro componente, a uretra contida por seu envoltório vascular, o corpo esponjoso (Fig. 5- 53/3). Os espaços sanguíneos no interior dos pilares e do corpo cavernoso se comunicam livremente. O corpo cavernoso não se estende até a glande do pênis, que é formada por uma expansão do corpo esponjoso. O corpo esponjoso tem início na saída da pelve como súbito aumento de tamanho do pequeno tecido esponjoso da uretra pélvica. Essa expansão constitui o bulbo do pênis (Fig. 5-53/2), uma estrutura bilobada que se afina para continuar como um tubo mais uniforme. O corpo esponjoso é mais delicado do que o corpo cavernoso, apresentando espaços sanguíneos maiores e separados por septos finos. Sua expansão cranial sobre a extremidade
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