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Programa ABC Cerrado Sistema Plantio Direto 30 horas 2019 - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural - SENAR 1a. Edição - 2019 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui viola- ção dos direitos autorais (Lei nº 9.610). A coleção ABC Cerrado é uma iniciativa do Senar com objetivo de manter disponível ao público rural os cursos elaborados no âmbito do Projeto ABC Cerrado e demais tecnologias sustentáveis de produção agropecuária preconizadas no Plano ABC. Fotos Banco de imagens do SENAR Banco Multimídia Embrapa iStock Shutterstock Informações e contato SENAR Administração Central SGAN 601 – Módulo K Edifício Antônio Ernesto de Salvo – 1º andar Brasília – CEP 70830-021 Telefone: 61 2109-1300 www.senar.org.br Presidente do Conselho Deliberativo do SENAR João Martins da Silva Junior Diretor Geral do SENAR Daniel Klüppel Carrara Diretora de Educação Profissional e Promoção Social Andréa Barbosa Alves Coordenadora de Programas Especiais Janei Cristina Santos Resende Coordenadora do Núcleo de Educação a Distância Ana Ângela de Medeiros Sousa Coordenador Técnico do Projeto ABC Cerrado Mateus Moraes Tavares Equipe técnica Senar Dyovanna Depolo de Souza Pinto Larissa Arêa Sousa Sumário Apresentação .......................................................................................................................... 4 Módulo 1: O Bioma Cerrado ..............................................................................................16 Aula 1: Caracterização do cerrado .................................................................................................18 Clima..................................................................................................................................................................19 Solo ....................................................................................................................................................................21 Topografia e Fitofisionomia ........................................................................................................................24 Aula 2: A colonização do cerrado ...................................................................................................26 Programas governamentais .......................................................................................................................30 Aula 3: Revolução Verde no Brasil .................................................................................................32 Atividade de aprendizagem .............................................................................................................36 Módulo 2: O Sistema Plantio Direto ................................................................................39 Aula 1: Sistema Plantio Direto (SPD) ............................................................................................41 Sistema Plantio Direto: princípios ............................................................................................................44 Sistema Plantio Direto: benefícios do SPD ...........................................................................................55 Aula 2: Boas práticas para a implantação do SPD .....................................................................68 Diagnóstico da área ......................................................................................................................................68 Calagem ...........................................................................................................................................................70 Gessagem ........................................................................................................................................................76 Práticas de conservação do solo ..............................................................................................................78 Atividade de aprendizagem .............................................................................................................85 Módulo 3: Implantação do SPD no Cerrado: Práticas, Manejo e Oportunidades ..90 Aula 1: Práticas de manejo e conservação ...................................................................................92 Adubação de culturas em sistemas já estabelecidos .........................................................................92 Adubação de sistemas ................................................................................................................................94 Manejo de plantas daninhas ......................................................................................................................95 Manejo de pragas ..........................................................................................................................................99 Aula 2: O SPD em sistemas integrados com a pecuária ou iLPF ......................................... 103 Aula 3: Oportunidades para conversão de áreas em SPD .................................................... 108 Plantio convencional em SPD................................................................................................................. 109 Pastagens ou pastagens degradadas em SPD ................................................................................. 112 Plantio Direto em SPD .............................................................................................................................. 115 Aula 4: Desafios e ações para fortalecer e desenvolver o SPD no cerrado ....................... 120 Atividade de aprendizagem .......................................................................................................... 127 Encerramento ..................................................................................................................... 132 Referências ......................................................................................................................... 133 Apresentação Bem-vindo(a) ao curso Sistema Plantio Direto! Você verá, neste curso, que o cerrado tem características de clima, solo e topografia que o tornam conhecido como a savana brasileira. A região, que abriga um bioma rico e bastante específico, teve sua colonização ini- ciada ainda no século 16, com a chegada dos portugueses, mas apenas com a mineração de ouro, no século 18, é que ela passou a ocorrer em maiores proporções. A mineração e a agricultura na região estão intimamente relacionadas, pois foi para suprir a alimentação das minas com menos custos que os trabalhadores passaram a cultivar alimentos. A partir daí, especialmente com a construção e instituição de Brasília como a nova capital do país, diversos esforços do governo foram despendidos para incentivar tanto a colonização como a agricultura no cerrado, que se tornou um importante produtor do agronegócio brasileiro. Siga em frente e acompanhe um pouco da história do cerrado! Ela é fun- damental para compreender a região, sua formação e as bases da agricul- tura da região. Fonte: CNA Brasil / Foto: Adriano Brito Apresentação 5 O curso está organizado em três módulos. Confira as aulas que compõem cada um. Aula 1 – Caracterização do cerrado Aula 2 – A colonização do cerrado Aula 3 – Revolução Verde no Brasil Módulo 1 – O Bioma Cerrado Aula 1 – Sistema Plantio Direto (SPD) Aula 2 – Boas práticas para a implantação do SPD Módulo 2 – O Sistema Plantio Direto Aula 1 – Práticas de manejo e conservação Aula 2 – O SPD em sistemas integrados com pecuária ou iLPF Aula 3 – Oportunidades para conversão de áreas em SPD Aula 4 – Desafios e ações para fortalecer e desenvolver o SPD no Cerrado Módulo 3 – Implantação do SPD no Cerrado: Práticas, Manejo e Oportunidades Este curso faz parte da Coleção ABC Cerrado – Tecnologias Sustentáveis de Produção Agropecuária no Bioma Cerrado. Essa coleção, que é com- posta de sete cursos,é fruto do Projeto ABC Cerrado, que foi implemen- tado durante os anos de 2014 a 2019. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse projeto? Apresentação 6 O Projeto ABC Cerrado O Brasil ocupa um lugar de destaque entre os maiores produtores de ali- mentos do mundo, além de ser um dos países que mais preserva o meio ambiente – consegue produzir em apenas 27,7% do seu território, en- quanto mantém 61% coberto com vegetação nativa. Mesmo assim, durante a 15ª Conferência das Partes (COP-15), em 2009, o País assumiu o compromisso de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). De lá para cá, a agricultura de baixa emissão de carbono (ABC) passou a receber uma atenção maior por parte do Governo e de diversas instituições, que criaram programas para incentivar o produtor rural brasileiro a adotar técnicas sustentáveis. O Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) participa dessas iniciativas que contribuem com a meta nacional de redução de emis- são de gases do efeito estufa pela atividade agropecuária. É o caso do Projeto ABC Cerrado, que disseminou práticas de agricultura de baixa emissão de carbono e estimula o produtor a investir na sua propriedade, para impulsionar a produtividade e a renda, ao mesmo tempo em que preserva o meio ambiente. Oito estados do bioma Cerrado participaram do Projeto: Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Piauí e Tocantins. O projeto foi desenvolvido em parceria com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com recursos do Programa de Investimento em Florestas (FIP) e o Banco Mundial. O SENAR atuou como responsável pela transferência de tecnologias aos produtores rurais do bioma Cerrado por meio de capacitação, pela formação de instrutores e de técnicos de campo, além de fornecer assistência técnica e gerencial à atividade rural, com foco em tecnologias preconizadas pelo Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (Plano ABC). Apresentação 7 Desde a sua criação, o SENAR levou aos agricultores e pecuaristas bra- sileiros os avanços da ciência e da tecnologia. Com esse curso, espera contribuir para o crescimento do seu empreendimento e da produção de alimentos com sustentabilidade. No ambiente virtual de aprendizagem (AVA), você poderá assistir ao vídeo que conta a história de sucesso do Senhor Alcides e de sua família que foram beneficiados pelo Projeto ABC Cerrado. Vale a pena conferir! Os Cursos A coleção ABC Cerrado é composta por um conjunto de sete cursos: Recuperação de Pastagens Degradadas Carga horária: 20 horas Sistema Plantio Direto Carga horária: 30 horas Florestas Plantadas Carga horária: 30 horas Apresentação 8 Integração Lavoura-Pecuária-Floresta Carga horária: 30 horas Tratamento de Dejetos Animais Carga horária: 20 horas Fixação Biológica de Nitrogênio Carga horária: 20 horas Mudanças Climáticas e Agricultura Carga horária: 20 horas Esses cursos foram desenvolvidos com o objetivo de levar a você e aos demais produtores do bioma Cerra- do a atualização sobre novas técnicas que favorecem a redução na emissão de gases de efeito estufa que pro- movem o aquecimento global, ao mesmo tempo que entregam ao produtor maior produtividade e retorno econômico na atividade. Apresentação 9 Fazenda Rio Novo Para facilitar sua compreensão dos assuntos e das técnicas abordadas nos sete cursos, apresentaremos o caso fictício da fazenda Rio Novo. Ela é de propriedade da família do Sr. Antônio e da Sra. Teresa e fica no esta- do de Goiás, em uma região onde predomina o bioma Cerrado. Todos dessa família vão se empenhar em adotar práticas sustentáveis na propriedade, que trarão maior produtividade e ainda contribuirão para re- duzir a emissão dos GEEs. Cada membro será o responsável principal por uma ação específica na fazenda e acompanhará os participantes dos dife- rentes cursos. Conheça um pouco dessa família. Antônio 76 anos Teresa 72 anos João 49 anos Carmen 47 anos Rogério 28 anos Natália 24 anos Mariana 20 anos Apresentação 10 Antônio 76 anos Ensino fundamental completo No final da década de 1960, Antônio herdou um pedaço de terra no interior de Goiás, região de Cerrado, e lá iniciou um discreto plantio de milho. Alguns anos mais tarde, passou também a criar gado na mesma propriedade. Sem muito estudo, viu sua propriedade crescer, fruto de seus esforços e de sua esposa, Dona Teresa. No entanto, junto com o crescimento da propriedade também veio a degradação das pastagens pelo gado e pelo manejo incorreto da própria pastagem. Hoje, o Sr. Antônio quer reintegrar as áreas degradadas pela pastagem ao pro- cesso de produção de alimentos. Com isso, quer evitar a abertura de novas áreas para a pastagem, o que é benéfico ao meio ambiente, além de trazer economia para o próprio bolso. Para isso, pretende aplicar práticas que recuperem a capacidade produtiva do solo degradado na fazenda Rio Novo. Você pode acompanhar essa empreitada do Sr. Antônio no curso Recuperação de Pastagens Degradadas. Teresa 72 anos Ensino fundamental completo Ao lado do Sr. Antônio, Teresa plantou as primeiras sementes de milho na pro- priedade Rio Novo ainda na década de 1960. Juntos, trabalharam duro para que essa propriedade crescesse e fosse produtiva. Ela é uma pessoa muito observadora e gosta de conversar com outros produ- tores da região. Sempre em contato com os vizinhos e “antenada” em tudo que acontece por ali. Apesar de não ter tido a oportunidade de estudar além do ensino fundamental, viu que seus vizinhos utilizavam uma técnica muito interessante para proteger o solo e evitar erosões. Quem sabe a técnica não daria certo na fazenda Rio Novo? Resolveu testar e... deu! Agora, Dona Teresa quer aprimorar ainda mais a aplicação da técnica para re- solver os problemas de conservação de água e solo, como a erosão na fazenda Rio Novo. Você pode conferir mais sobre a técnica e os resultados que ela ob- teve no curso Sistema Plantio Direto. Apresentação 11 João 49 anos Técnico agrícola João cresceu vendo seus pais, Antônio e Teresa, darem duro na fazenda Rio Novo e presenciou o grande crescimento da propriedade. Inspirado pela dedicação e amor dos pais pela terra, nunca passou pela sua cabeça deixar o campo para exercer outra atividade... Queria fazer a diferença no campo! Assim, ao terminar o Ensino Médio, matriculou-se em um curso técnico agrí- cola. Lá teve a ideia, junto com Carmen, hoje sua esposa, de plantar árvores comerciais de rápido crescimento na fazenda, como uma alternativa de renda para a família. Acompanhe o João no curso Florestas Plantadas. Carmen 47 anos Técnica agrícola Carmen conheceu seu marido João ainda na adolescência, no colégio onde es- tudavam. Ao se casar com João, mudou-se para a fazenda Rio Novo, de pro- priedade de seu sogro Antônio. Fizeram juntos o mesmo curso técnico agrícola, onde tiveram a ideia de plantar espécies florestais na propriedade. Para fazer a ideia dar ainda mais certo, Carmen tem se empenhado em integrar a lavoura e as pastagens à nova área florestal. Sempre cuidadosa, quer aumentar a renda da propriedade, mas sem descuidar da legislação ambiental vigente. Você pode acompanhar o passo a passo de suas ações no curso integração Lavoura-Pecuária-Floresta. Apresentação 12 Rogério 28 anos Engenheiro agrônomo Rogério é o filho mais velho do casal João e Carmen, primeiro neto de Antônio e Teresa. Apaixonado pela terra, formou-se engenheiro agrônomo. Durante a graduação, percebeu que o dejeto de animais pode se tornar uma potencial fonte de energia e até mesmo de renda. Por isso, tem se empenhado em tratar esses dejetos da forma correta na pro- priedade Rio Novo. Você pode aprender a técnica utilizada pelo Rogério no curso Tratamento de Dejetos Animais. Natália 24 anos Bióloga Natália é filha do casal João e Carmen e neta de Antônio e Teresa. Sempre mui- to curiosa, desde criança desejava ser “cientista”. Influenciadapelo ambiente em que cresceu, e enxergando uma oportunidade para colocar em prática toda a sua curiosidade sobre as plantas e animais, tor- nou-se bióloga. Seu Trabalho de Conclusão de Curso foi sobre o ciclo do nitrogênio na natu- reza. Com base nos amplos conhecimentos obtidos em seus estudos, tem de- fendido o plantio, na fazenda Rio Novo, de propriedade da família, de espécies que possibilitem a fixação de nitrogênio no solo. Isso permitirá uma melhora na fertilidade do solo da propriedade. Você também pode ter acesso a esses conhecimentos da Natália realizando o curso Fixação Biológica de Nitrogênio. Apresentação 13 Mariana 20 anos Estudante de Engenharia Ambiental Filha mais nova do casal João e Carmen, defende o meio ambiente com unhas e dentes, mas sem se descuidar do setor produtivo da fazenda! Está no terceiro ano da faculdade de Engenharia Ambiental e deseja especiali- zar-se na área de sustentabilidade no campo. Quer permanecer na propriedade Rio Novo da família, adaptando a produ- ção às mudanças climáticas e fiscalizando a adoção de práticas sustentá- veis por todos! O curso Mudanças Climáticas e Agricultura fala sobre esse assunto e apre- senta as práticas sustentáveis defendidas pela Mariana. A família do Sr. Antônio contará com a ajuda do Marcos, técnico do SENAR que atende à região. Você perceberá que, em diferentes momentos dos cursos, o técnico Marcos enviará dicas e orientações por meio de áudios. Portanto, ao se deparar com o ícone ao lado nos cursos, não deixe de ouvir suas valiosas dicas! Mas aqui na apostila vamos facilitar para você e colocar a transcrição dos áudios. Por isso que é tão importante você acessar o ambiente virtual de aprendizagem e passar por essa experiência de interação com o conteúdo. Apresentação 14 Recursos educacionais e interativos Ao longo do curso, você encontrará imagens, áudios e vídeos. O objeti- vo é tornar seu aprendizado mais interessante e prazeroso. Além disso, também se deparará com recursos interativos que ajudarão a aplicar da melhor forma os novos conhecimentos. No AVA, sempre que você vir um ícone com alguma animação, principalmente com setas, significa que uma informação será exibida ao clicar sobre ele. Não deixe de conferi-la, pois esses elementos fazem parte de uma experiência de aprendizagem completa! Outro exemplo de recurso interativo são as palavras destacadas, que exi- birão sua definição ou uma explicação extra quando forem acionadas. Veja como vai aparecer lá no AVA. A maioria dos solos no cerrado é muito antiga, bas- tante modificada pela ação de processos químicos e físicos, e possui baixa fertilidade, com sérias limita- ções à produção. Durante todo o curso, você terá a companhia da dona Teresa. Como você já viu, ela também é proprietária da fazenda Rio Novo, ao lado do seu marido, sr. Antônio. Ela implantou o Sistema Plantio Direto na propriedade e está sempre antenada com as novidades da região. Então, sempre preste muita atenção no que a dona Te- resa tem a dizer! Processos químicos e físicos Também chamados de intemperismo. Apresentação 15 Atividades de aprendizagem A navegação pelo conteúdo deste curso é sequencial e linear. Isso signifi- ca que você deve acessar o primeiro módulo e conferir todos as aulas. Ao final, você realizará a atividade de aprendizagem para, então, liberar o conteúdo do módulo seguinte. As atividades de aprendizagem têm o objetivo de verificar se você teve um bom aproveitamento em relação ao con- teúdo do módulo. Por isso é tão importante acessar o AVA e responder à atividade para liberar o módulo seguinte. Canais de comunicação Este é um curso autoinstrucional, mas isso não significa que você está sozinho nesta jornada! Durante seus estudos, você poderá utilizar os canais de comunicação dis- ponibilizados no seu AVA para esclarecer dúvidas técnicas com a monito- ria do curso. Os monitores dão o suporte necessário às dúvidas de cunho mais técnico relacionadas ao AVA e às regras de conclusão do curso. Siga em frente e bom estudo! Módulo 1: O Bioma Cerrado A região do cerrado brasileiro engloba o estado de Goiás, o Distrito Fe- deral e parte dos estados de Minas Gerais, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Tocantins, Maranhão, Piauí e Pará, além de peque- nas porções isoladas em Roraima, São Paulo e Paraná. São cerca de 2,04 milhões de hectares, ou 22% do território nacional, com densidade populacional de 8,8 habitantes por km², menos da metade da média nacional em 2000, que era de 19,9 habitantes/km². (MYERS et al., 2000; SANTOS et al., 2010.) Cerrado brasileiro e sua abrangência. Neste primeiro módulo, falaremos sobre as características do cerrado. Veja o que preparamos para cada aula deste módulo: Módulo 1 – O Bioma Cerrado 17 Aula 1 - Caracterização do cerrado • Clima • Solo • Topografia e Fitofisionomia Aula 2 - Colonização do cerrado • Colonização • Programas governamentais de colonização do cerrado Aula 3 - Revolução Verde no Brasil • Aspectos da Revolução Verde no Brasil • Segunda Revolução Verde Você pode buscar mais conhecimentos com a Embrapa! Visite a Unidade da Embrapa mais próxima de sua pro- priedade. Todas elas possuem biblioteca com muitas pu- blicações disponíveis para leitura, além de pesquisadores para poder conversar. No site da Biblioteca da Embrapa, também é possível en- contrar muitas informações. Acesse: • https://www.embrapa.br/biblioteca O serviço Informação Tecnológica em Agricultura (Info- teca-e) dá acesso a informações técnicas na forma de car- tilhas, livros para transferência de tecnologia, programas de rádio e de televisão editados com linguagem adaptada de modo que produtores rurais, extensionistas, técnicos agrícolas, estudantes e professores de escolas rurais, co- operativas e outros segmentos da produção agrícola pos- sam assimilá-los com maior facilidade. Visite: • https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br Você também poderá comprar livros publicados pela Em- brapa diretamente no site de comunicação. Acesse: • http://vendasliv.sct.embrapa.br/liv4/principal. do?metodo=iniciar Pronto(a) para começar a primeira aula? Módulo 1 – O Bioma Cerrado 18 Aula 1: Caracterização do cerrado O cerrado ocupa quase 25% do território brasileiro e está presente nos estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Bahia, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, São Paulo, Paraná e no Distrito Federal – segundo dados da Embrapa Cerrados e do Projeto Biomas. É um bioma que, em sua extensão, abri- ga um terço da biodiversidade brasilei- ra e 5% da flora e da fauna do planeta, sendo considerada a savana mais biodi- versa existente. Nesta primeira aula, veremos alguns dos elementos que compõem o bioma cerra- do e que são essenciais para o agronegó- cio: clima, solo, topografia e população. Siga em frente para conhecer o clima desse espetacular bioma brasileiro. Embrapa Cerrados Unidade Cerrados, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Bioma Um bioma é um conjunto de diferentes ecossistemas que possuem certo nível de homogeneidade. Ou seja, é o conjunto de comunidades naturais semelhantes de uma região (incluindo animais, vegetais, bactérias, o clima etc.) e a relação entre os elementos que a formam. Por exemplo, os animais, a vegetação, o solo, o sol, a chuva, o vento e tudo aquilo que encontramos no cerrado e a forma como esses elementos se relacionam compõem esse bioma. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 19 Clima Segundo a classificação de Koeppen (1948), o clima do cerrado é, na maior parte de seu território, do tipo tropical de savana (ou AW), com inverno seco e verão chuvoso. As mudanças dos padrões climáticos entre uma estação úmida e uma es- tação seca são consequências da localização continental da região, que fica entre 1.400 km e 2.000 km do Oceano Atlântico. Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Estação úmida Estação secaEstação úmida Considerando as divisões regionais, os climas pre- dominantes no domínio do cerrado são os Tropicais Megatérmico e o Mesotér- mico. A seguir, confira algu- mas das características que encontramos no cerrado. Tropicais Megatérmico Megatérmico apresenta estação chuvosa no verão, de novembro a abril, e estação seca no inverno, de maio a outubro. A temperatura média do mês mais frio é superior a 18ºC. Mesotérmico Mesotérmico ou temperado quente, apresentando temperatura média do mês mais frio entre -3°C e 18°C. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 20 A radiação solar no cerrado é geralmente bastante intensa, podendo reduzir-se devido à alta nebulosidade nos meses excessivamente chuvosos do verão. Por essa possível razão, em certos anos, outubro costuma ser mais quente do que dezembro ou janeiro. Como o inverno é seco, quase sem nuvens, e as latitudes são relativa- mente pequenas, a radiação solar nessa época também é intensa. Em agosto e setembro, essa intensidade pode reduzir-se um pouco, em virtude da abundância de névoa seca produzida pelos incêndios e pelas queimadas da vegetação, muito frequentes nesse período do ano (SETTE, 2005). Estações Temperaturas Radiação solar Estação das chuvas A grande extensão latitudinal altera a dis- tribuição sazonal, fazendo que a estação chuvosa no extremo meridional geralmen- te se inicie com um a dois meses de ante- cedência (setembro–outubro), enquanto no extremo norte ocorre um atraso (no- vembro e dezembro). (SETTE, 2005). Em geral, a precipitação média anual fica entre 1200 mm e 1800 mm. Ao contrá- rio da temperatura, a precipitação média mensal apresenta uma grande estacio- nalidade, concentrando-se nos meses de primavera e verão (de outubro a março). A ocorrência de geadas também é ob- servada na porção meridional e em áreas elevadas. Em meio a essa estação de chu- vas, acontecem curtos períodos de seca, chamados de veranicos. A temperatura média anual fica em torno de 22–23 graus Celsius. As máximas variam ao longo dos meses, podendo chegar a mais de 40 graus Celsius. Já as mínimas absolutas mensais variam bastante, atingindo valores próximos ou até abaixo de zero nos meses de maio, junho e julho, em algumas regiões. Estação de seca O início da estação seca também é anteci- pado em um a dois meses no sul (março– abril), enquanto no extremo norte o verão amazônico só se inicia em entre os meses de maio e junho (SETTE, 2005). A estação seca apresenta de três a cinco meses de duração. No início desse perí- odo, a ocorrência de nevoeiros é comum nas primeiras horas das manhãs, for- mando-se grande quantidade de orvalho sobre as plantas. Já no período da tarde, os índices de umidade relativa do ar caem bastante, podendo atingir valores extre- mamente baixos, próximos a apenas 15% (SETTE, 2005). Módulo 1 – O Bioma Cerrado 21 Lá na fazenda Rio Novo Uma das maiores limitações para a prática de uma agricultura avançada aqui na nossa região é distribui- ção desuniforme das chuvas. Os períodos de verani- cos estão cada vez mais prolongados e em momentos diferentes. Mesmo nos meses de dezembro e janeiro, que apre- sentam a maior intensidade de chuvas, é muito comum acontecer veranicos prolongados, podendo chegar a várias semanas sem chuva. Essa situação, aliada à alta radiação solar, à alta evapotranspiração potencial e à baixa capacidade de retenção de água dos solos, assim como às condições químicas limitantes e ao inadequado desenvolvimen- to radicular, podem causar sérios prejuízos às culturas sensíveis ao estresse hídrico. Evapotranspiração Perda de água do ecossistema para a atmosfera causada pela evaporação a partir do solo e pela transpiração das plantas. Siga em frente para conhecer mais dos solos presentes no cerrado. Solo Os solos do cerrado são bastan- te variados. Os latossolos repre- sentam aproximadamente 50% da área dos cerrados, sendo o restan- te coberto, principalmente, por ar- gissolos, neossolos (em especial os quartzarênicos), plintossolos, cam- bissolos, havendo ainda porções de chernossolos, gleissolos e outros. Quartzarênicos Em geral, são solos originados de depósitos arenosos, apresentando textura de areia ou areia franca ao longo de pelo menos 2 m de profundidade. Esses solos são constituídos essencialmente de grãos de quartzo, sendo, por conseguinte, praticamente destituídos de minerais primários pouco resistentes ao intemperismo. (SOUSA; LOBATO, 2018). Módulo 1 – O Bioma Cerrado 22 Solos do Brasil, com destaque para a região do cerrado. ARGISSOLOS CAMBISSOLOS CHERNOSSOLOS ESPODOSSOLOS GLEISSOLOS LATOSSOLOS LUVISSOLOS NEOSSOLOS NITOSSOLOS PLANOSSOLOS PLINTOSSOLOS ORGANOSSOLOS VERTISSOLOS LEGENDA Fonte: Embrapa. Os latossolos são os mais utilizados para a agricultura intensiva. A maior parte desses solos apresenta textura média ou argilosa. Entretanto, há ain- da latossolos de textura mais arenosa, os quais demandam especial aten- ção quando manejados para cultivos agrícolas ou mesmo com pastagens. Os latossolos mais arenosos têm valores de argila bem próximos aos neossolos quartzarênicos. A fração argila é dominada por caulinita, gibbsita caulinita, ghoetita e óxi- dos de ferro e alumínio. A predominância dessas argilas de baixa atividade é que determina o comportamento desses solos, especialmente com relação à Capacidade de Troca Catiônica (CTC), capacidade de retenção de água e adsorção de fosfatos. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 23 Uma das principais limitações da região de cerrado no Brasil é a baixa fer- tilidade natural dos seus solos, sendo o fósforo o nutriente mais deficitário. Além disso, os solos do cerrado são predominantemente ácidos, com altos teores de alumínio (Al) trocável. Assim, a calagem é a primeira prática de manejo para o cultivo de plantas não tolerantes à acidez. A grande maioria desses solos apresenta teores extremamente baixos de cálcio (Ca) e magnésio (Mg) trocáveis, evidenciando a im- portância da utilização de calcá- rios magnesianos ou dolomíticos nesses sistemas, com o objetivo de corrigir a acidez do solo e fornecer Ca e Mg às plantas (LOPES; GUI- LHERME, 1994). Sendo o nível de bases como Ca e Mg extremamente baixo, o Al trocável tende a ser o cátion dominante nesses solos; apesar da condição ácida, os valores absolutos para acidez trocável não são muitos elevados. Sabe-se que a produção da maioria das plantas sensíveis ao Al3+ é diminuída em solos com mais de 20% de saturação por Al. Nesse contexto, a grande maioria dos solos do cerrado se apresenta nesse nível, e boa parte com saturação por Al superior a 40%, ponto no qual a maioria das plantas cul- tivadas já começa a sofrer com a toxicidade do Al (KAMPRATH, 1967). Que tal compreender melhor as formações geográficas do cerrado? Siga em frente e entenda a topografia da região. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 24 Topografia e Fitofisionomia Estima-se que aproximadamente 50% da região sejam cobertos por ter- ras aráveis. Ao todo, são cerca de 1 milhão de km2. A mecanização agrícola nos solos dessa região é facilitada pela combina- ção de declives suaves com uma boa estabilidade de agregados do solo, bem como boas condições de profundidade e drenagem. Há uma relação intrínseca entre solo e topografia no cerrado. Veja a seguir. Altitude As altitudes variam desde 1000 m até menos de 200 m. Ada- moli et al. (1986) estimam que aproximadamente 73% da área de cerrado estejam entre as altitudes de 300 m e 900 m. Área plana Em áreas relativamente planas, onde o relevo é um fator de formação de solos passivos, eles tendem a ser mais profun- dos, visto que o processo de formação e evolução são maio- res que os processos de perdas de solo. Área plana movimentada Por outro lado, em regiões de topografia mais movimentada, dependendo das condições de cobertura e do processo ero- sivo, os solos tendem a ser mais jovens quando comparados àqueles de topografia mais suavizada. Chapadas De maneirageral, na região das chapadas, muito comuns no Planalto Central brasileiro, a ocorrência de solos mais intem- perizados é quase que uma regra. Nesses tipos de solos, em condições naturais, observa-se que as propriedades físicas, como a porosidade, a permeabilidade, a menor resistência do solo à penetração de raízes, a agregação etc. são normalmen- te melhores, ao passo que as condições químicas do solo ten- dem a ser restritivas, conforme descrito anteriormente. (OLI- VEIRA, 2009) Módulo 1 – O Bioma Cerrado 25 Chapadas As chapadas dão um visual bastante impactante ao cerrado e, mais do que isso, são áreas com topografia e solo com características bastante importantes de se conhecer. Nessas áreas ocorrem os solos mais velhos e pobres da paisagem, quase sempre sustentando a vegetação de cerrado. As partes rejuvenescidas, mais baixas, e na maioria das vezes mais decli- vosas, já apresentam solos mais jovens. Os solos mais novos, desde que os demais fatores de formação do solo sejam semelhantes, tendem a se localizar em relevos mais movimentados. Esse fato tem implicações dire- tas na facilidade de mecanização, na conservação do solo e na infiltração de água no solo, mostrando que cuidados adicionais devem ser tomados quanto ao uso e ao manejo do solo nessas condições. (OLIVEIRA, 2009). Módulo 1 – O Bioma Cerrado 26 Aula 2: A colonização do cerrado Para Funes (1986), a exploração do cerrado do Brasil central teve alguns marcos. A exploração é iniciada pelos portugueses, com a chegada da Bandeira de Antônio Macedo e Domingos Luiz Grau à região leste de onde hoje se encontra o Tocantins. 1590 a 1593 Acontece a real ocupação com a mineração de ouro. 1726 A ocupação e exploração do cerrado chega ao seu auge. 1750 Ocorreu o evento de transição entre a mineração e a agropecuária. A partir de 1750 Módulo 1 – O Bioma Cerrado 27 A transição da mineração para a agropecuária, no cerrado, ocorreu quando antigos mineradores tentaram diminuir os seus custos, cultivando os produtos de que mais necessitavam para alimentação em suas minas. No século XX, foi iniciado o período de substituição de exportação, e a parte sul do cerrado foi objetivo de políticas intermitentes de expansão de fronteiras, como a Marcha para o Oeste e a Fundação do Brasil Central nos anos 1940, bem como o processo de ocupação espontânea, especialmen- te nas áreas de mata, como “Mato Grosso de Goiás” (NEIVA, 1984). A produção e a interiorização resultaram na necessidade de muitos traba- lhadores, tanto nas minas quanto nas lavouras e em todas as outras ativi- dades, uma vez que em todas elas a mecanização era quase inexistente. As atividades demandavam quase que exclusivamente mão de obra braçal, o que alterou também o fluxo de pessoas na região. Apesar de a densidade demográfica mostrar valores crescentes, são ainda muito baixos, principalmente se comparados aos obtidos para o total do País. No Censo Demográfico de 2000, por exemplo, o Brasil apresentou uma densidade demográfica de 19,94 habitantes por quilômetro quadra- do, enquanto para a região do cerrado brasileiro foi de apenas 8,82. Só a população residente na região metropolitana de Goiânia e no Distrito Federal já totalizava mais de 3,69 milhões de pessoas, ou seja, 20,5% da população total do cerrado. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 28 Confira a evolução da população e a densidade demográ- fica na área do cerrado brasileiro. Ano População (em 1000) Densidade demográfica (hab./km²) 1872 221 0,11 1890 320 0,16 1900 373 0,18 1920 759 0,37 1940 1259 0,62 1950 1737 0,85 1960 3007 1,47 1970 5167 2,53 1980 7545 3,7 1991 12600 6,18 2000 18000 8,82 Fonte: Adaptado de Klink e Moreira (2002). A partir da década de 1950, com o surgimento de Brasília e de uma po- lítica de expansão agrícola por parte do Governo Federal, iniciou-se uma acelerada e desordenada ocupação da região do cerrado, em um modelo de exploração de forma fundamentalmente extrativista e, em muitos ca- sos, predatória. Segundo Felippe e Souza (2006), os resultados obtidos a partir na década de 1960 iniciaram a transformação dos solos do Cerrado, que, por meio da calagem, gessagem e uso de adubações, tiveram sua baixa fertilidade natural revertida ao longo dos anos. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 29 Investimentos governamentais em pesquisa e desenvolvi- mento tiveram notória influência no desenvolvimento da região, com destaque para a criação da Embrapa. Em 1973, o Governo começou um alto investimento em pesquisa nas áreas da agricultura e da pecuária por meio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embra- pa). Quando a Embrapa iniciou suas atividades, a região era considerada inadequada para agropecuária, e uma de suas maiores conquistas foi transformar o cerrado em ce- leiro nacional. Iniciou-se, assim, a agricultura comercial mecanizada e altamente produ- tiva que transformaria o cerrado em grande potência agrícola a partir de meados da década de 1980. A topografia predominantemente plana do cerrado, facilitando a mecani- zação, e a precipitação pluvial, que, apesar de concentrada, é adequada para a produção agrícola em pelo menos parte do ano, com grande esta- bilidade do clima, transformaram o cerrado em uma área de grande poten- cial agrícola (FELIPPE; SOUZA, 2006). Norman Borlaug, um cientista americano da área vegetal, frequentemente chamado de “pai da Revolução Verde”, disse ao The New York Times que “ninguém imaginou que esse solo seria produtivo”. O solo parecia ácido demais e pobre em nutrientes. Muitos programas do governo contribuíram para a colonização e o de- senvolvimento do cerrado. Siga em frente para conferir mais sobre esse assunto. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 30 Programas governamentais O processo de ocupação do Cerrado foi fortemente impactado, de forma positiva, pela construção de Brasília. As obras levaram ao aumento da po- pulação, e rodovias foram construídas, cortando a região para ligar a nova capital brasileira às demais grandes cidades do País. Apesar disso, o processo rural era basicamente ligado à pecuária exten- siva ou ao crescimento industrial estimulado pelos governos militares. Foi apenas no início da década de 1970 que o Governo brasileiro mirou suas atenções no cerrado com o objetivo de expandir suas fronteiras agrícolas. Com a possibilidade de mecanização, a região representava a possibilidade de se implantar uma agricultura moderna, altamente competitiva e voltada às commodities. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 31 Nesse período, algumas políticas governamentais estimularam a ocupação da região. Foram os chamados “projetos de colonização agrícola”, como o: • Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba; • Programa de Desenvolvimento dos Cerrados; • Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento dos Cerrados. A ocupação agrícola também começou com esses proje- tos, por meio da agricultura convencional, que na época era o sistema de produção mais desenvolvido tecnologi- camente e o único com produtos, processos, máquinas e implementos disponíveis. Ele se caracterizou pela mecanização intensa e pelo grande uso de capi- tal, de fertilizantes e de agrotóxicos. Mesmo com todo o investimento e a audácia dos programas governamen- tais, o cerrado brasileiro sempre teve poucos investimentos em infraes- trutura. Por conta disso, a população e o setor agropecuário da região en- frentam limitações e dificuldades desde o início da ocupação do território. Apesar de ter uma rede viária bem estabelecida, somente uma pequena parte é asfaltada, ainda assim, com más con- dições de conservação. Isso torna o transporte de insumos (fertilizantes, sementes e combustíveis) demorado e caro, além de prejudicar o escoamento de grãos e carne para os portos exportadores. As estradas ruins tornam os insumos e os produtos agropecuários caros na região, reduzindo a competitividade em relação aos produzidos em regiões que possuem melhores condiçõesde tráfego. Isso significa que ainda há excelentes possibilidades de melhorias para a infraestrutura do cerrado. A exploração das hidrovias e ferrovias, que agi- lizariam o transporte dos insumos agropecuários e também o escoamento da produção, é uma das oportunidades. Além disso, o acesso pleno à re- gião permite a expansão empresarial, gerando a possibilidade de implan- tação de indústrias de processamento, o que agregaria valor aos produtos. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 32 Aula 3: Revolução Verde no Brasil Revolução Verde foi definida por Goodman et al. (1990) como o conjunto de avanços no setor industrial agrícola e de pesquisas cientificas, nas áre- as da química, da bioquímica, da genética e da mecânica, ocorrido no final dos anos 1960 e início dos anos 1970. Seu principal fundamento era a melhoria da produtividade agrícola por meio da evolução nos produtos e nos processos convencionalmente utilizados. A revolução pregava a adoção de um conjunto de práticas que contavam com a utilização de variedades melhoradas geneticamente e mais bem adaptadas às regiões produtivas e, por outro lado, eram mais exigentes em fertilizantes e produtos químicos (GOODMAN et al., 1990). O sucesso produtivo da Revolução Verde é exemplificado pela comparação do crescimento da produção mundial de cereais: Módulo 1 – O Bioma Cerrado 33 Produção mundial de cereais Crescimento: 2,7 % ao ano Disponibilidade de alimentos por habitante 40% 1950 700 milhões de toneladas 1,8 milhões de toneladas 1985 Fonte: CMMAD (1991). Esse sucesso foi rapidamente cedendo lugar às preocupações com os im- pactos socioambientais e energéticos do modelo. No Brasil, a partir da década de 1970, a adoção de um novo padrão de agricultura representado pelo Primeiro Plano Nacional de Desenvolvi- mento ficou conhecida como Segunda Revolução Verde, baseada na agricultura moderna e mais sustentável, com a utilização de fertilizantes e corretivos, que foi a base para a adoção do SPD no País. A Segunda Revolução Verde começou por causa das elevadas perdas de solo por erosão, o que estava inviabilizando economicamente a agricultura em escala industrial. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 34 No Rio Grande do Sul e no Centro Sul do Paraná, por exemplo, a produção principalmente de soja e trigo acon- tecia com base na ausência de restos culturais, no fogo e no revolvimento do solo. Aliado às chuvas, isso gerou um resultado catastrófico que precisava urgentemente ser substituído. Como consequência da Revolução Verde, nos anos 1970, em meio à eu- foria do chamado “milagre econômico”, a adoção de um novo padrão tec- nológico na Segunda Revolução Agrícola significava o início da abertu- ra de um considerável mercado de máquinas, implementos, sementes e insumos agroquímicos. A estratégia agrícola expressa no Primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento era “desenvolver a agricultura moderna de base empresarial que alcance condições de competitividade internacional em todos os principais produtos” (NOVAES, 1993). O crédito agrícola teve um papel fundamental para uma melhor competitividade internacional. O Governo criou li- nhas especiais de crédito atreladas à compra de insumos agropecuários, mecanismo que ampliou a dependência do setor produtivo agrícola em relação ao setor produtor de insumos. A agricultura passaria a exercer uma nova função na criação de mercado para a indústria de insu- mos agrícolas. No entanto, o processo que ocorreu no Brasil no início na década de 1970 levou à intensificação do sistema produtivo agrícola com uso de grandes quantidades de fertilizantes, mecanização e poucas estratégias tecnoló- gicas sustentáveis. Todas essas ações elevaram muito o consumo de re- cursos naturais, como adubos e combustíveis, e implantaram um negócio baseado nas monoculturas e na alta mecanização. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 35 Dessa forma, a agricultura nacional operou por muito tempo de forma negativa, ambientalmente falando, consumindo recursos preciosos, especialmente o solo e nutrientes. Foram esses impactos que primei- ro despertaram nos pioneiros do plantio direto o interesse e a neces- sidade por uma agricultura mais sustentável. Você vai ver No próximo módulo, você vai compreender o Sistema Plantio Direto (SPD), seus princípios e os efeitos positivos no solo. Além disso, vai ver as boas práticas para implantar esse sistema na sua propriedade rural! Mas, antes, você deverá acessar o AVA e realizar a atividade de aprendi- zagem obrigatória. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 36 Atividade de aprendizagem Chegou o momento de verificar sua compreensão dos conceitos apresen- tados até aqui. Todas as atividades do curso serão baseadas na história que apresentaremos a seguir. Por isso, leia com atenção: A história do Seu João Seu João é proprietário da fazenda “Palmeiras” em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Essa fazenda, ele herdou de seu pai, assim como o amor ao cerrado e à agricultura. Seu João precisou aprender a lidar desde cedo com as exigências e necessidades da região: o latossolo de baixa fertili- dade natural, a alta lixiviação, o clima tropical sazonal, no qual as chuvas concentram-se na primavera e no verão, e o inverno é seco. Seu Francisco, o pai de João, criava gado nelore em sistema extensivo, deixava os animais soltos, sem controle do manejo da pastagem, nem su- plementava os animais. Na época que Seu João assumiu a fazenda, ele ouviu falar de uma cultura muito promissora: a soja. Decidiu, então, investir no cultivo dela, fez investi- mentos em maquinários e estrutura. Seu João estava sentindo-se no cami- nho certo, mas percebeu que a forma como estava produzindo monocultura de soja sob sistema convencional de preparo do solo ao longo dos anos não estava sendo benéfica para o rendimento do seu negócio, tampouco para a sustentabilidade dos recursos ambientais que ele usufruía. Assim, Seu João decidiu procurar ajuda do Senar, que é o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, e começou a frequentar palestras sobre técnicas conservacionistas do solo, foi a dias de campo e recebeu a visita da assis- tência técnica. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 37 As atividades aqui na apostila servem apenas para você ler e respondê-las com mais tranquilidade. Entretanto, você deverá acessar o AVA e resolver lá as questões. Você terá duas tentativas para realizar cada questão e só desbloqueará o próximo módulo depois que: 1. acertar as questões; ou 2. usar todas as suas tentativas. Questão 1 Seu João é proprietário de uma fazenda, que, em sua história, já está com mais de 50 anos de degradação do solo. Agora, seu João quer virar essa página e entender as necessidades da sua produção para tornar a agricul- tura mais rentável e sustentável! Seu João quer conhecer o solo de sua região e como pode melhorá-lo. Assinale a alternativa que melhor caracteriza os solos do cerrado visto que umas das principais limitações da região de cerrado é a baixa ferti- lidade natural. a) Solos pobres em fósforo, cálcio e magnésio, com altos teores de alumínio (Al) trocável. b) O ferro e o magnésio são os nutrientes mais limitantes. c) Solos com alta disponibilidade de fósforo, porém pobres em cálcio e magnésio. d) Embora haja pouca disponibilidade de fósforo, o pH fica próximo à neutralidade. Questão 2 Quando Seu João era criança, no início na década de 1970, chegou ao Brasil o que chamaram de revolução verde! Ele acompanhou de perto e viu crescer a intensificação dos sistemas produtivos agrícolas, que dispunha de um pacote tecnológico aos produtores: fertilizantes, maquinário, agro- químicos e poucas estratégias tecnológicas sustentáveis. Módulo 1 – O Bioma Cerrado 38 Como consequência, elevou-se muito o consumo de recursos naturais, como adubos e combustíveis, e os produtores implantaram um negócio baseado nas monoculturas e na alta mecanização. Com Seu João não foi diferente, pois produzia monocultura de soja com sistema convencional de preparo de solo.Qual(is) a(s) consequência(s) possível(is) que anos de monocultura pode trazer ao solo e ao meio ambiente? 1. Solos compactados. 2. Solos erodidos. 3. Redução da fauna natural do local. 4. Aumento da incidência de pragas e doenças. 5. Desequilíbrio ecológico e perda de biodiversidade. Assinale a alternativa que contenha as consequências corretas: a) Apenas 1, 2 e 3. b) Apenas 3, 4 e 5. c) 1, 2, 3, 4 e 5. d) Apenas 2, 3 e 4
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