Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Aline Rodrigues Bianchi Guinao Ana Daniele Leão Batista Maria Fernanda Silva Santos EDUCAÇÃO ESPECIAL NA MODALIDADE ONLINE EM TEMPOS DE PANDEMIA: A DIFICULDADE NO ENSINO À CRIANÇA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISMO Apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso – vídeo: https://youtu.be/FF6G_ejieJs Lins - SP 2021 UNIVERSIDADE VIRTUAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Aline Rodrigues Bianchi Guinao Ana Daniele Leão Batista Maria Fernanda Silva Santos EDUCAÇÃO ESPECIAL NA MODALIDADE ONLINE EM TEMPOS DE PANDEMIA: A DIFICULDADE NO ENSINO À CRIANÇA COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISMO Trabalho de Conclusão de Curso realizado para obtenção de Licenciatura em Pedagogia pela Universidade Virtual Do Estado De São Paulo (Univesp), Lins – São Paulo, sob orientação do professor Agenor Lucas Pereira De Mello Lins - SP 2021 GUINAO, Aline Rodrigues Bianchi; BATISTA, Ana Daniele Leão; SANTOS, Maria Fernanda Silva. Educação Especial na modalidade online em tempos de pandemia: A dificuldade no ensino à criança com transtorno do espectro autismo. 15f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Virtual do Estado de São Paulo. Orientador: Agenor Lucas Pereira de Mello. Polo de Lins, 2021. RESUMO O Transtorno do Espectro Autismo (TEA) é um transtorno no desenvolvimento neurológico que tem início nos primeiros anos até o fim da vida. Suas características segundo o American Psychiatric Association (2014) são dificuldades persistentes na comunicação, interação social, além de apresentar comportamentos repetitivos e estereotipados, os quais fazem com que seu repertório comportamental seja reduzido e/ou inadequado. Quando associado à educação, o TEA apresenta um cenário desafiador para os profissionais que irão conhecer e trabalhar o desenvolvimento da criança. Devido a pandemia mundial por COVID-19, esse então cenário teve mais um fator a ser considerado: o distanciamento social e todas as normas de segurança impostas. Esse trabalho tem por objetivo, através de revisão bibliográfica, estudar e entender essa realidade atual. PALAVRAS-CHAVE: Transtorno do Espectro Autista. Pandemia do Covid-19. Educação Especial. SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 4 A PANDEMIA MUNDIAL ................................................................................................... 5 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEA ........................................................................ 6 EDUCAÇÃO DA CRIANÇA COM TEA ............................................................................. 7 EDUCAÇÃO TEMPOS DE PANDEMIA – AS DIFICULDADES NO ENSINO DA CRIANÇA COM TEA ............................................................................................................... 8 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 13 REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 14 4 INTRODUÇÃO O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que se inicia nos primeiros anos de vida. De acordo com a American Psychiatric Association (2014), os critérios diagnósticos incluem dificuldades persistentes na comunicação, interação social, além da presença de comportamentos repetitivos e estereotipados, os quais fazem com que a sua escolaridade seja comprometida visto as suas limitações. Descoberto no final do ano de 2019, o vírus denominado Covid-19 tem provocado situações comparadas a situações de guerra, instaurando caos em muitos países. Além disso, considerado como uma das principais medidas de contenção, o distanciamento social têm causado problemas na saúde física, transtornos de natureza psicológica, além de um impacto direto na economia. Esse momento distanciamento social ressaltou a desigualdade social e econômica presentes em nosso país, uma vez que as aulas foram suspensas, sendo adotado as aulas onlines de forma a suprir o aprendizado, onde nem todas as crianças têm acesso a uma internet e/ou a um equipamento de qualidade. Nesse contexto, além das crianças “ditas normais”, as que dependem da educação especial também sentiram o impacto dessa mudança em suas rotinas. Ao falar especificamente de crianças com TEA, essas levam um tempo consideravelmente maior para processar mudanças de rotinas e informações, as quais, muitas vezes, são demoradas e há necessidade de suporte para o seu entendimento, sendo muitos os desafios para os cuidadores e professores para o ensino a esses indivíduos. Diante disso, o presente trabalho visa investigar e conhecer as dificuldades de aprendizagem da criança com TEA, decorrentes de suas particularidades e dos déficits comportamentais característicos do transtorno. Ainda, objetiva-se compreender como o quadro da pandemia presente no mundo a mais de um ano afetou o trabalho pedagógico dessas crianças, assim como quais alternativas podem ser adotadas para uma educação especial na modalidade online. O tema é de extrema importância, visto que as crianças com TEA já apresentam dificuldades quando inseridas nas aulas presenciais, além de apresentarem sofrimento intenso com alterações em sua rotina. Ainda, trata-se de um tema de pouca literatura publicada, motivo pelo qual, a pesquisa pode auxiliar professores com as estratégias encontradas para a educação desse público. Para isso, a metodologia utilizada será a revisão bibliográfica, utilizando para tanto o 5 acervo disponível na Univesp e artigos científicos publicados em Revistas Científicas, disponíveis no Google Acadêmico. A PANDEMIA MUNDIAL No final do ano de 2019 houveram as primeiras menções de casos do novo Coronavírus. A família coronavírus na realidade é bem comum e até o ano de 2019 suas variantes MERS-CoV e SARS-CoV afetavam apenas animais como camelos, gado, morcegos, entre outros mamíferos. O novo SARS-CoV-2 foi encontrado pela primeira vez em Wuhan na China e desde então, disseminado para o mundo de pessoa para pessoa. Os sintomas variam de nada, que são aqueles denominados assintomáticos até insuficiência pulmonar que pode levar à morte. Apenas 20% dos casos são graves, apresentando maior periculosidade na classe idosa e pessoas com doenças crônicas sendo elas pressão alta, obesidade, asma e entre outras. O alto contágio da doença e o fato de não ser possível saber como cada organismo pode reagir ao contato gerou grande caos mundial. Diversas medidas de contenção foram tomadas como o uso contínuo de álcool 70% nas mãos, limpeza constante com o uso de bactericidas em superfícies de constante contato coletivo, máscaras faciais, mas principalmente o distanciamento social que trouxeram uma sequência de outras complicações e agravantes em doenças físicas, aumento no índice de obesidade e sedentarismo, bem como transtornos psicológicos. Os eventos foram cancelados, as lojas fecharam, instaurando um quadro de crise econômica, e por fim, as escolas também fecharam, permanecem desta forma desde então, fato este que gerou o tema do artigo. No início de 2021, houve uma leve melhora nos quadros e relaxamento nas medidas de distanciamento, onde algumas escolas arriscaram a volta uma vez que as crianças eram entendidas como assintomáticas. Entretanto, em dois meses variantes anuais do vírus apareceram, agora cada uma com o nome do seu país de origem, sendo a variante brasileira um das mais agressivas, apresentando um aumento nos casos entreas crianças e por vezes, casos fatais. As pesquisas contabilizadas por fontes do governo estadual apontaram 12.534.688 casos até o dia 28 de Março de 2021, sendo 312.206 fatais. Tais dados levaram mais uma vez a adoção de medidas mais restritas para a segurança da população e fechamento das poucas escolas que tinham retomado as aulas presenciais. Até o período de desenvolvimento deste artigo, falava-se a respeito da terceira onda com a variante indiana. 6 BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEA Segunda a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2017 apud DIAS, SANTOS, ABREU, 2021), uma em cada 160 crianças têm TEA. Entretanto, outras pesquisas demonstram que o número de crianças diagnosticadas tenha aumentado consideravelmente de maneira global, mesmo que em países menos desenvolvidos, sua incidência seja desconhecida. Tem se percebido que nos últimos tempos o TEA tenha ganho notória divulgação na mídia, mas seus estudos se iniciaram em meados de 1943 com o psiquiatra Leo Kanner, que o descreveu a princípio como um distúrbio que se associava a esquizofrenia, o denominando como “distúrbio autístico do contato afetivo”, no qual o autismo severo era visto com a presença de obsessividade, estereotipias e ecolalias. Posteriormente, Kanner descreve o quadro como uma “psicose”, sem embasamento científico para tanto. Apenas em 1997, Ritvo o descreveu como um déficit cognitivo e como um distúrbio do desenvolvimento (DIAS; SANTOS; ABREU, 2021). De acordo com Paula e Peixoto, 2019, p. 3, o autismo: É caracterizado por problemas na comunicação, na socialização e no comportamento, geralmente diagnosticado entre 2 e 3 anos de idade. O autismo é um distúrbio do comportamento que consiste em uma tríade de dificuldades, são elas: dificuldade de comunicação, dificuldade de sociabilização e dificuldade no uso da imaginação. As definições do TEA foram se ajustando ao longo dos anos. Atualmente, o Manual de Diagnósticos e Estatísticos da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5) o denominou em Transtorno do Espectro Autista, pois o termo “espectro” traz a ideia de variação entre seus graus e a forma como se manifesta em cada indivíduo. De acordo com o DSM-V (APA, 2014, p. 31), o indivíduo apresenta: [...] déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, incluindo déficits na reciprocidade social, em comportamentos não verbais de comunicação usados para interação social e em habilidades para desenvolver, manter e compreender relacionamentos. Além dos déficits na comunicação social, o diagnóstico do transtorno do espectro autista requer a presença de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Já no Brasil, a Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10), organiza e classifica os diferentes tipos de autismo, o denominando como Transtorno Global do Desenvolvimentos, o separando em: Autismo Infantil, Autismo atípico 7 e Síndrome de Asperger (EVÊNCIO, 2010). Pesquisas demonstram a importância em identificar os sinais nos primeiros anos de vida, que chamem atenção a um desenvolvimento “atípico” do desenvolvimento, para que um tratamento precoce seja iniciado. Frente a isso, é de fundamental importância que as crianças acometidas com TEA tenham relações com seus pares para minimizar os comprometimentos em sua interação social. Essas interações ocorreram, principalmente, na educação infantil, onde serão estimuladas suas habilidades sociais, motivo pelo qual, torna-se essencial uma educação inclusiva de qualidade (DIAS; SANTOS; ABREU, 2021). Tal fato é corroborado pelos estudos de Evêncio (2020, p. 5), que expõe que “dentre as estratégias do rastreio diagnóstico do TEA, a escolarização representa um meio essencial de intervenção e estimulação do desenvolvimento de habilidades sócio cognitivas”. EDUCAÇÃO DA CRIANÇA COM TEA A Educação da criança com TEA sempre teve caráter desafiador, sendo os séculos XVII e XIX os percursores do reconhecimento dessa realidade, após a mudança do termo utilizado (“idiota”) para identificar a criança nessa qualidade. Atualmente, o Ministério da Educação tem dado direito e favorecimento ao acesso e à permanência dessa criança na escola. A história para garantir os direitos a inclusão da criança com TEA, é na realidade uma longa jornada, com a estimativa de aproximadamente 70 milhões de pessoas no mundo vivendo nessa realidade, sendo 2 milhões destas no Brasil. A criança com TEA têm problemas nas questões de socialização, comportamento e linguagem por isso, o tratamento da síndrome não se dá por meio de um profissional apenas, mas sim um conjunto, fazendo necessária a união de equipes multidisciplinares compostas de fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, neuropediatra, pediatras e enfermeiras para o atendimento dessas crianças. Existem diversos programas de inclusão disponíveis pelo Ministério da Educação que tem buscado proporcionar os direitos à criança com TEA, uma vez que essa criança deve ter acesso a educação formal, matrícula e de receber apoio especializado, independente das dificuldades. É no ambiente escolar que essa criança tem a experiência e preparação para a vida em sociedade. O professor atua como mediador, como facilitador do processo de ensino aprendizagem. A prática ativa do professor permite que o aluno com TEA seja 8 respeitado, incluído, valorizado. Permite ainda que este desenvolva habilidades e sua autonomia, diminuindo as dificuldades e o preconceito dentro da sala de aula (PAULA e PEIXOTO. 2019. p. 3). Quando fala-se em escola, a educação dessa criança vai além da presença em sala de aula, pois deve ser objetivado sua aprendizagem, o desenvolvimento de suas habilidades, superação dos limites e suas potencialidades, e, para o alcance desses objetivos são necessárias adequações nessa inclusão. Essa criança deve dispor de momentos de interação social, desenvolvimento das questões cognitivas, comunicação e outras habilidades que são possíveis no ambiente escolar favorável e estruturado à sua realidade. A inclusão no ambiente escolar é fator crucial para que a realidade da criança especial seja parte do cotidiano da sociedade de forma a tratar o preconceito. Ainda, esse espaço é responsável pelo desenvolvimento do conhecimento pedagógico, bem como, sociocultural, sendo de fundamental importância na inclusão dos direitos de todos. O atendimento à criança em sala de aula, em alguns programas, são compostos de um profissional exclusivo para seu acompanhamento, pois a síndrome é apresentada em três diferentes graus que se apresentam nas formas leve, moderado e severo, onde cada criança possui particularidades que devem ser respeitadas. Mas nem todas as escolas funcionam dessa maneira. Há uma série de dificuldades no ensino da criança com TEA, e estar em sala de aula não garante, necessariamente, a inclusão uma vez que o aspecto da comunicação desse aluno é apenas um dos pontos dificultadores. Ou seja, trata-se também da dificuldade de compreensão, momento de hostilidade que pode ser vivido pela criança, insegurança por parte do profissional que deve estar constantemente em atualização de seus métodos. O ensino a criança com TEA passa por muitos desafios, mas há muitas maneiras de tornar esse ensino eficaz e de qualidade, onde quando relacionado a mediação pedagógica, o processo de ensino aprendizagem desse aluno contempla uma criteriosa formação de conceitos e ações pedagógicas. Sendo assim, o ensino a criança com TEA é desafiador e detalhista mas de fundamental importância não apenas para o desenvolvimento da criança mas da sociedade como um todo que passa a ver os direitos e diferenças como cotidiano. EDUCAÇÃO TEMPOS DE PANDEMIA –AS DIFICULDADES NO ENSINO DA CRIANÇA COM TEA A educação inclusiva tem sido tema de pesquisas e debates durante muitos anos. No 9 início de março de 2020, com o advento da pandemia por COVID- 19 esse tema se mostrou ainda mais desafiador, pois o quadro de isolamento social instalado no mundo inteiro se fez necessário a fim de manter a população segura. O tema deste trabalho enfoca em como essa educação tem ocorrido na realidade de crianças com Transtorno do Espectro Autismo. As dificuldades até então apresentadas em sala de aula ocorriam em virtude das características da síndrome. A grande questão até então era como incluir essa criança em sala de aula uma vez que o grau de severidade é fator determinante no modus operandi na relação aluno-professor e aluno-tutor. O cenário de isolamento social trouxe uma nova questão ante as dificuldades dessa interação já que os procedimentos a partir de então se deram de forma remota via sistemas educacionais proporcionados pelas instituições de ensino e governo, bem como atividades e recomendações via whatsapp e outros meios de comunicação rápida disponíveis em forma online. Como ensinar a criança com TEA as questões sociais inclusivas e de desenvolvimento que são suas por direito por meio remoto? E como fazer essa educação acessível e possível de ser devolvida em conjunto com as famílias? Várias estratégias precisaram ser formadas de forma rápida e eficaz para dar continuidade às atividades educacionais que foram interrompidas repentinamente ainda no início do ano letivo de 2020. Respeitando as características repetitivas e/ou sistemáticas do TEA, manter a rotina foi a primeira medida sugerida pelos profissionais e adotada pelas famílias por diversos motivos, sendo para respeitar a condição da síndrome uma vez que pequenas mudanças do dia a dia tem a grande probabilidade de gerar desconforto e/ou até sofrimento as crianças nessa realidade (Brasil, 2015; Machado, 2019), ou para a incerteza do tempo de duração do isolamento social, uma volta repentina possivelmente geraria desconforto, e, quando, vindo de uma rotina bem estabilizada mesmo que em casa, esse desconforto seria, muito provavelmente, amenizado. Mas essa medida também se mostrou desafiadora uma vez que a convivência dentro das casas em tempo integral também se mostrou difícil mediante a convivência rotineira e afetiva em família, bem como o marasmo gerado pela falta de atividade diária. Evêncio (2020) desenvolveu uma pesquisa com profissionais especializados, os quais evidenciaram que o isolamento e distanciamento social, assim como a ausência do atendimento presencial se tornaram gatilhos emocionais para as crianças com TEA, que resultaram em uma dificuldade de aprendizagem nessas crianças. Ocorre que a mudança brusca de rotina fez com que as crianças autistas ficassem “desorganizadas” mental, o que provocaria tal dificuldade, sendo que é necessário que a família estimule suas habilidades para 10 que seu aprendizado não seja comprometido. Para isso, as famílias podem adequar o ensino em casa, estabelecendo para isso horários parecidos com que tinha quando frequentava a escola. Visto a flexibilização de suas atividades, é necessário que os pais também estabeleçam um objetivo educacional como meta por dia (NUNES, 2020). Ainda, de acordo com Brito et al. (2020, p. 2): Portanto, recomenda-se seguir, dentro do possível, a maior parte da rotina que a criança já vivenciava antes, mantendo-se os horários habituais de acordar, das refeições, de tomar banho, de usar o banheiro, de dormir e outros. Ao mesmo tempo, é necessário preparar cuidadosamente a criança ou o adolescente autista para as mudanças inevitáveis. Outra possibilidade é a criação de quadros contendo planejamento de todas as atividades do dia, que também podem conter imagens, como fotos e desenhos, de acordo com o entendimento da criança, que mostrem a ordem de suas tarefas. Essa previsibilidade traz conforto à criança reduzindo, consequentemente, seu estresse (BRITO, 2020). Fernandes et al. (2021) colocaram em Desafios cotidianos e possibilidades de cuidado com crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frente à COVID-19 a rotina como um elemento protetivo para a criança com TEA. ...considerando a sobrecarga emocional e de tarefas que as famílias estão enfrentando, o intuito não é criar novas demandas que poderiam sobrepesar ainda mais o cotidiano destas, mas, sim, amenizar as possíveis dificuldades e sofrimento que possam surgir devido a essa questão (FERNANDES, et al., 2021, p. 6). A Lei Federal nº 13.146 de Inclusão da Pessoa com Deficiência (BRASIL, 2015) ressalta que cada criança com deficiência tem que ter um Plano Pedagógico Individual (PPI), o qual contempla todos os objetivos de ensino da escola, de acordo com a faixa etária. Ter acesso a esse planejamento a ser realizado com o filho, pode auxiliar na construção da rotina de estudos do filho em casa. Entretanto Nunes (2020) destaca que a maioria das escolas não possui tal plano, sendo essa fragilidade evidenciada durante a pandemia. Outro ponto abordado foi a questão de como estresse gerado pelo isolamento social, o “confinamento domiciliar” necessário para segurança, gerou aumento na ansiedade e comportamentos agressivos e autolesivos. Apesar de não recomendado para a maioria da população, quando esses momentos se tornaram reais, foi sugerido passeios em lugares abertos e de pouca movimentação para caminhar e explorar ambientes diferentes do de casa. Essa recomendação trouxe, então, outras questões dificultosas como por exemplo, o uso da 11 máscara que se tornou elemento essencial no combate ao COVID-19. Em determinados casos, o uso é, de fato, inviável. Obrigar o uso pode provocar intenso sofrimento e crises e, nesse caso, é importante que os demais cuidados e medidas de controle e proteção sejam intensificados (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2020), considerando o grau da síndrome (leve, moderado ou severo), por motivos de comprometimento intelectual ou sensibilidade sensorial, ou outro, impossibilitou o uso da máscara. Por esse motivo, em 02 de Julho de 2020, foi sancionada no Brasil a Lei Federal n° 14.019, que dispensa o uso de máscara a pessoas com TEA e outras deficiências que impeçam o uso da forma adequada (Brasil, 2020). Porém o uso, quando uma possibilidade, pode ser adotado de forma mais branda, ou menos desconfortável, preferindo o uso de máscaras mais leves, seja com tecidos mais maleáveis ou diferentes amarrações e elásticos mais largos. Outra possibilidade para amenizar o estresse e a ansiedade causada pelo isolamento social é a utilização de atividades com foco em gasto energético ao mesmo tempo que há o estímulo das capacidades cognitivas, como por exemplo solicitar que a criança ajude a organizar a mesa para refeição, pedindo que coloque os utensílios necessários na quantidade proporcional às pessoas que vivem na casa. Tal atividade objetiva estimular sua capacidade de pensar, diferenciar, decidir e escolher os utensílios necessários, além de estimular a sua organização. Nessa atividade, seu gasto energético ocorre através dos movimentos necessários para executar a atividade (EVÊNCIO, 2020). Além dessa atividade, é possível trabalhar com balões, canudos, bolinhas de papéis, as quais irão estimular sua motricidade orofacial, através do enchimento dos balões, sua coordenação viso-motora e equilíbrio ao tentar jogar o balão em uma brincadeira, e sua coordenação motora fina através do amassar bolinhas de papéis. Em todas essas atividades, a criança irá se movimentar, o que também desencadeará gasto energético, além de tornar a atividade lúdica e mais prazerosa (EVÊNCIO, 2020). Uma matéria do portal G1, de 23 de Maio de 2021, foi redigida apresentando essas questões com depoimentos de momentoreais das famílias que se encontram nessa situação. “A pandemia piorou tudo, porque minha filha ficou sem escola, sem rotina, sem terapia. Sumiu tudo da vida dela. Tentei dar atividades em casa, mas ela começava a se agredir. Por causa da automutilação, ficou mais de uma semana internada”, conta Vanda Paiva, mãe de Sara, de 21 anos. (Tenente, Luiza. G1. 2021.) Diversos relatos semelhantes ao de Vanda e Sara estão disponíveis na matéria, os episódios de autolesão e agressividade trouxeram ainda o que as famílias definiram como um 12 retrocesso. As atividades recebidas via remoto são, em sua maioria, trabalhadas com ludicidade e de difícil compreensão para crianças com TEA, somado ao fator no qual as famílias ainda precisam conciliar a educação com seus trabalhos, manter as rotinas escolares se tornou ainda mais difícil. Algumas famílias, aquelas com possibilidades financeiras para tal, viram como uma possível solução contratar um pedagogo. Nesse contexto, é importante “respeitar o limite da criança autista no tocante às atividades da escola. Não adianta os pais forçarem a criança a responder as tarefas, se as mesmas não estão conseguindo” (EVÊNCIO, 2020). Ou seja, ao tentar pressionar a criança a cumprir as tarefas propostas, essa pode apresentar o comportamento agressivo mencionado acima. Tal ponto é corroborado por Brito (2020), o qual expõe que deve ser evitada rigidez e cobranças exageradas. Também, sugere que o acompanhamento deve ocorrer preferencialmente no mesmo horário em que a criança frequentava a escola, os vestir com o uniforme da escola, preparar a merenda e fazer uma pausa do recreio, de forma que sejam mantidos seus hábitos anteriores à pandemia. Nessa organização de rotina, também é importante que seja planejado o momento de brincar, de interagir, além do estudar, onde os pais devem conversar com a criança sobre assuntos diversos para essa se distraia e também haja o fortalecimento do vínculo afetivo para que possam esclarecer para a criança o momento pandêmico atual, de forma que ela compreenda os motivos de seu estudo estar sendo realizado remotamente (EVÊNCIO, 2020). Além disso, é fundamental que a criança continue seus atendimentos terapêuticos com os fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, etc, mesmo que videochamadas, na mesma intensidade que ocorriam antes da pandemia, de forma que não a criança não perca as habilidades adquiridas (BRITO, 2020). 13 CONCLUSÃO O Transtorno do Espectro Autista por si só traz grandes comprometimentos à criança, que apresenta dificuldades em sua comunicação, interação social e consequentemente a aprendizagem. Visto que o cenário pandêmico é atual, ainda é carente o referencial teórico que trate sobre as dificuldades encontradas na Educação Especial especificamente ao ensino da criança com TEA. Entretanto, os estudos encontrados são unânimes ao relatarem sobre a sobrecarga emocional que a mudança da rotina causou nas crianças, professores, pais e cuidadores. A educação da criança com TEA também foi desafiadora, visto os comprometimentos do transtorno. Nela, o professor atua como mediador e facilitador no processo de ensino e aprendizagem, permitindo que a criança seja respeitada, incluída e valorizada, desenvolvendo suas habilidades e autonomia. O cenário pandêmico fez com que a interação se tornasse reduzida, impactando diretamente no seu aprendizado. Nesse contexto, ao ser imposta a uma rotina diferente, percebeu-se que as criança com TEA têm se mostrado agressivas, ansiosas e com sérias dificuldades em acompanhar as atividades que têm sido propostas de forma online, mostrando um retrocesso em habilidades já aprendidas, além de serem impossibilitadas a interação social que poderia reduzir os seus comprometimentos sociais. A solução, embora pareça simples, também esbarra em problemas. Para que sejam amenizados as dificuldades encontradas, é necessário que seja estruturada a rotina da criança, de forma que seja parecida a que tinha nas aulas presenciais, mas os pais muitas vezes, visto a sua própria rotina, não conseguem acompanhar tão intensamente e/ou desprender o tempo necessário para que essa criança consiga realizar as atividades que estão sendo propostas. A família, mesmo em um cenário não pandêmico, é de fundamental importância para a educação dessa criança. Entretanto, estas também foram sobrecarregadas pela suspensão das aulas, pelo impacto direto em suas rotinas. Nesse contexto, além da atenção à criança, também se faz necessário atenção à família, de forma que esta seja orientada a melhor abordagem a essa criança, a qual deve ter seus limites respeitados, de forma que se sintam menos pressionadas e consequentemente menos agressivas e ansiosas. O presente trabalho foi de extrema importância, pois destacou o quanto, mesmo no cenário pandêmico, a família é base para a aprendizagem e manutenção das habilidades aprendidas pela criança com TEA. Embora seja difícil, a estruturação da rotina é o caminho chave para redução dos comprometimentos causados pela suspensão das aulas presenciais. 14 REFERÊNCIAS AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-5. Tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. ASSUMPÇÃO, Francisco B Jr; PIMENTEL, Ana Cristina M. Autismo infantil. São Paulo. 2000. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 44462000000600010&lng=pt&tlng=pt. BARBOSA, André Machado, et al. Os impactos da pandemia covid-19 na vida das pessoas com transtorno do espectro autista. Revista da Seção Judiciária do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, v. 24, n. 48, mar./jun. 2020, p. 91-105. BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Diário Oficial da União, p. 43, 2015. BRITO, Adriana Rocha, et al. Autismo e os novos desafios impostos pela pandemia da COVID-19. Rev. SOPERJ, 2020. Disponível em <http://revistadepediatriasoperj.org.br/detalhe_artigo.asp?id=1098>. Acesso em 10 jun 2021. DIAS, Adelaide Alves; SANTOS, Isabelle Sercundes; ABREU, Adams Ricardo Pereira de. Crianças com transtorno do espectro autista em tempos de pandemia: contextos de inclusão/exclusão na educação infantil. Zero-a-Seis, Florianópolis, v. 23, n. Especial, p. 101- 124, jan./jan., 2021. Universidade Federal de Santa Catarina. Disponível em <https://periodicos.ufsc.br/index.php/zeroseis/article/view/79005>. Acesso em 04 de jun 2021. EVENCIO, Katia Maria de Moura. Ensino em tempos de pandemia: orientações para o processo de ensino inclusivo das crianças com autismo. Conedu – VII Congresso Nacional de Educação. 2020. Disponível em <https://editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2020/TRABALHO_EV140_MD1_SA_ID 6542_30092020075511.pdf>. Acesso em 10 jun 2021. FERNANDES, A. D S. A. et al. Desafios cotidianos e possibilidades de cuidado com crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) frente à COVID-19. (2021). MACHADO, G. D. S. (2019). A importância da rotina para crianças autistas na educação básica. Revista Gepesvida, 1(9), 100-114. Recuperado em 04 de maio de 2021, de http://www.icepsc.com.br/ojs/index.php/gepesvida/article/view/337/171 NUNES, Júlia Machado. ENSINO REMOTO EMERGENCIAL E TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: Uma análise sobre lives realizadas durante a pandemia de COVID- 19. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Pedagogia). Universidade Federal do Rio Grande do Sul – Porto Alegre, 2020. PAULA, Jessyca Brennand de. PEIXOTO, Mônica Ferreira. A INCLUSÃO DO ALUNO COM AUTISMO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES. 15 2019. SECRETARIAS ESTADUAIS DE SAÚDE. CoronaVirusBrasil. Brasil, 2020. Disponível em: https://covid.saude.gov.br/TENENTE, Luiza. SEM AULAS PRESENCIAIS, ESTUDANTES NO ESPECTRO AUTISTA SOFREM COM MÁSCARAS, ATRASO NO DESENVOLVIMENTO E SURTOS DE AGRESSIVIDADE. G1. 2021. Disponível em https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/05/23/sem-aulas-presenciais-estudantes-no- espectro-autista-sofrem-com-mascaras-atraso-no-desenvolvimento-e-surtos-de- agressividade.ghtml
Compartilhar