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UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS FACULDADE DE ENGENHARIA ELECTROMECÂNICA Engenheiro Electromecânico. Paulo Barros UNIVERSIDADE ÓSCAR RIBAS MÁQUINAS ELÉCTRICAS Professor Eng.Paulo Barros Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 1 of 287 Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 2 of 287 DEDICATÓRIA Quem pensa claramente e domina a fundo aquilo de que fala, exprime-se claramente e de modo compreensível. Quem se exprime de modo obscuro e pretensioso mostra logo que não entende muito bem o assunto em questão ou então, que tem razão para evitar falar claramente (Rosa Luxemburg). Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 3 of 287 PREFÁCIO O presente trabalho foi escrito como suporte de um curso ministrado a engenheiros Electromecânicos e técnicos ligados, de algum modo à automação industrial. Ele enfoca os tipos de Máquinas Eléctricas e seus aspectos associados à automação. O trabalho é dividido basicamente em cinco grandes assuntos: 1. Introdução ao Magnetismo e Electromagnetismo; 2. Introdução aos sistemas de automatização e Máquinas Eléctricas. 3. Transformadores. 4. Máquinas de Corrente Contínua. 5. Máquinas de Corrente Alternada. Na primeira parte, falo do fundamento de corrente eléctrica, magnetismo e electromagnetismo, Corrente continua, Alternada Monofásica, Alternada Trifásica. Noções de sistemas trifásicos, Factor de potência, Campo magnético. Indução magnética. Fluxo electromagnético, Força electromagnética.. Na segunda parte, falo sobre a Introdução aos sistemas de automatização, Dispositivos de comando por intervenção Humana, Dispositivos de comando automático, Contactor translação e acessórios, Estrutura de um sistema automatizado. Na terceira parte, falo sobre a Introdução às máquinas eléctricas, Principio de funcionamento, Classificação das máquinas eléctricas, Transformadores, Transformador monofásico, Transformador trifásico, Simbologia, Ligações dos enrolamentos, Aplicação de utilização. Na quarta parte, falo sobre o Dínamo / Motor de corrente continua, Constituição, Principio de funcionamento, Classificação dos dínamos, Identificação dos terminais, Balanço energético, Regra dos três dedos mão direita, Função das lâminas, Obtenção de corrente continua, Comportamento do fluxo magnético, Estudo dos motores corrente continua. Na quinta parte, falo sobre Motores AC assíncronos e Síncrono, Motor assíncrono trifásico de rotor curto-circuito, Motor assíncrono trifásico de rotor bobinado, Tipos de arranques, Motor monofásico, Constituição das máquinas rotativa, Protecção dos motores, Dimensionamento das canalizações. Enfoca ainda o uso de computadores nesse processo. Consciente das limitações, apresento as minhas desculpas pelas omissões que detectarão e peço a vossa indulgência para a apresentação e para a paginação destes apontamentos. Apesar disso, espero que os leitores encontrem nestes apontamentos as linhas mestras para o primeiro contacto, simples, com a teoria das Máquinas e também, que deles tirem proveito para obterem boas classificações. Paulo Barros Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 4 of 287 Sumário 1. Noções Básicas da Teoria dos Circuitos ............................................................................. 8 1.1. Noção de Dipolo ........................................................................................................ 8 1.1.2. Corrente num Dipolo ........................................................................................... 9 1.1.3. Diferença de Potencial aos Terminais de um Dipolo .......................................... 9 1.1.4. Potência num Dipolo .......................................................................................... 11 1.1.6. Convenção Gerador ........................................................................................... 12 1.1.7. Componentes ...................................................................................................... 13 1.1.7.1. Introdução .................................................................................................. 13 1.1.7.2. Fonte de Tensão.......................................................................................... 13 1.1.7.3. Fonte de Corrente ...................................................................................... 15 1.1.8. Grandezas Alternadas Sinusoidais .................................................................... 17 1.1.9. Compensação do factor de potência .................................................................. 21 1.1.10. Sistemas Trifásicos ............................................................................................. 25 1.1.11. Ligação de Cargas.............................................................................................. 30 1.2. MAGNETISMO .......................................................................................................... 39 1.2.1. Campo Magnético e Linhas de Campo Magnético ........................................... 39 1.2.2. Fluxo Magnético ................................................................................................ 41 1.2.3. Densidade de Campo Magnético ....................................................................... 41 1.2.4. Classificação das Substâncias quanto ao Comportamento Magnético ............. 42 1.1.5. Permeabilidade Magnética ................................................................................ 43 1.2.6. Relutância Magnética ........................................................................................ 45 1.2.7. FENÔMENOS ELECTROMAGNÉTICOS ..................................................... 46 1.2.8. Campo Magnético criado por Corrente Eléctrica............................................. 47 1.2.9. Fontes de Campo Magnético ............................................................................. 48 1.2.10. Força Magnetizante (Campo Magnético Inductor) .......................................... 51 1.2.11. Força Magneto-Motriz....................................................................................... 52 1.2.12. Lei de Ampère .................................................................................................... 54 1.2.13. Força Eletromagnética....................................................................................... 54 1.2.14. Indução Eletromagnética ................................................................................... 56 1.2.15. CIRCUITOS MAGNÉTICOS ........................................................................... 60 1.2.16. Variação no tempo – Noção de força electromotriz .......................................... 68 1.2.17. Perdas em Materiais Ferromagnéticos .............................................................. 72 2. Conceito de Automação................................................................................................. 80 2.1. Contator ..................................................................................................................... 84 2.2.1. Contatores – aspectos construtivos, classificação e aplicações ......................... 84 Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 5 of 287 2.2.2. Classificação dos contatores .............................................................................. 85 2.2.3. Tipos de contatores ............................................................................................ 86 2.2.4. Circuitos eléctricos lógicos comcontatores ....................................................... 91 2.3. Dispositivos de Protecção e de Comando .............................................................. 94 2.3.1. Curto-circuito e protecção ................................................................................. 95 2.3.2. Disjuntores ....................................................................................................... 103 2.4. INTRODUÇÃO AOS MOTORES ELÉCTRICOS ............................................ 107 3. Transformadores ......................................................................................................... 117 3.1. Introdução............................................................................................................ 117 3.1.1. Valores nominais .......................................................................................... 119 3.1.2. Transformador Monofásico ......................................................................... 119 3.1.3. Princípio de funcionamento ......................................................................... 120 3.2. O TRANSFORMADOR IDEAL ......................................................................... 122 3.2.1. Circuito equivalente do transformador ....................................................... 125 3.3. O TRANSFORMADOR REAL .......................................................................... 129 3.3.1. Ensaio em vazio e em curto-circuito ............................................................ 131 3.3.1.1. Ensaio em vazio ........................................................................................ 132 3.3.1.2. Ensaio em Curto-circuito ......................................................................... 132 3.3.1.3. Transformador em carga ......................................................................... 133 3.3.2. Queda de tensão ............................................................................................... 135 3.4. Autotransformador ................................................................................................. 136 3.5. Transformadores em sistemas trifásicos ............................................................. 138 3.5.1. Banco de Transformadores Monofásicos .................................................... 138 3.6. Métodos mais comuns de refrigeração de transformadores ............................... 144 3.7. ASSOCIAÇÃO DE TRANSFORMADORES..................................................... 145 4. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA.............................................................. 154 4.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 154 4.2. Classificação das máquinas de corrente contínua............................................... 160 4.3. Princípio de funcionamento das máquinas de corrente contínua. O funcionamento do colector .............................................................................................. 162 4.4. Modelo matemático da máquina de corrente contínua. ..................................... 164 4.5. Balanço energético. .............................................................................................. 167 4.6. Obtenção da expressão do binário electromagnético. ......................................... 168 4.7. Características dos motores de corrente contínua .............................................. 169 5. Máquinas de Corrente Alternada ............................................................................... 181 5.1. Máquina Síncrona ............................................................................................... 181 Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 6 of 287 5.1.1. Máquina síncrona isolada da rede. .............................................................. 184 5.1.2. As características exteriores ........................................................................ 188 5.1.3. Máquina síncrona ligada a uma rede de potência infinita .......................... 190 5.1.4. Balanço energético ....................................................................................... 193 5.1.5. Funcionamento como gerador (ou alternador) ........................................... 195 5.2. Máquinas de Indução Polifásicas ........................................................................ 202 Descrição das máquinas de indução polifásicas.......................................................... 202 5.2.1. Obtenção de um circuito equivalente .......................................................... 205 5.2.2. Análise do comportamento da máquina assíncrona através de circuitos equivalentes ................................................................................................................. 208 5.2.3. Características do motor de indução ligado a uma rede eléctrica .............. 213 5.2.4. Ensaios do motor de indução ....................................................................... 217 5.2.5. Ajuste de velocidade das máquinas de indução. .......................................... 220 5.2.6. Arranque dos motores trifásicos de indução ............................................... 226 5.2.7. Motores Monofásicos ....................................................................................... 261 Bibliografia........................................................................................................................... 281 Projectos Da Disciplina de Máquinas Eléctricas .................................................................... 282 Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 7 of 287 Capítulo 1: Introdução ao Magnetismo e Electromagnetismo Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 8 of 287 1. Noções Básicas da Teoria dos Circuitos 1.1. Noção de Dipolo O electromagnetismo está presente na natureza, de diversas formas: electricidade estática, fenómenos de magnetização, queda de raios. Os fenómenos correspondentes podem ser descritos através de equações onde intervêm derivadas parciais das diversas grandezas em jogo; campo magnético, campo eléctrico…Em certas situações, a resolução destas equações, as equações de Maxwell, pode ser tão complexa que se tenha de recorrer a métodos numéricos (método dos elementos finitos, por exemplo) . À escala de frequência dos circuitos eléctricos estudados neste curso (frequências relativamente baixas), pode considerar-se não estarem presentes muitos dos fenómenos descritos pelas equações de Maxwell, pelo que o comportamento dos dispositivos eléctricos que serão estudados é bastante mais simples. Para esta gama de frequências, diz-se que os sistemas se encontram em regime quase-estacionário. Genericamente, estes comportamentos poderão ser descritos por duas grandezas: correntes eléctricas que circulam através dos terminais de acesso dos dispositivos e por diferenças de potencial aos seus terminais. Figura 1.1 - Multipolo (n-pólos) A diferença de potencial (ou tensão) uij entre um terminal i e um terminal j mede- se com recurso a um voltímetro, exprime-se em volt (símbolo V) e representa uma energia por unidade de carga. A corrente ik que entra (ou sai, segundo a convenção escolhida) do terminal k mede-se com recurso a um amperímetro, exprime-se em ampere (símbolo A) e representa a quantidade de carga que atravessa uma secção por unidade de tempo. Carga, ou mais precisamente carga eléctrica, é uma propriedade física das partículas sub-atómicas que constituem a matéria e pode tomar valores positivos,negativos. Não pode ser criada nem destruída. Uma carga eléctrica é representada pela letra q e exprime-se em Coulomb (símbolo C) Neste contexto, os componentes eléctricos mais simples são os dipolos. A maior parte dos multipolos pode-se decompor em dipolos elementares . Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 9 of 287 Figura 1.2 – Dipolo Um dipolo, caracteriza-se pela corrente i que o percorre e pela tensão u aos seus terminais. 1.1.2. Corrente num Dipolo Em regime quase-estacionário, pode afirmar-se que a corrente eléctrica é devida ao deslocamento de electrões (cargas) pelo que a corrente que entra no terminal A é igual à corrente que sai no terminal B. Figura 1.3 - Corrente num dipolo A corrente i que percorre um dipolo, corresponde à quantidade de carga eléctrica q que atravessa uma secção recta desse dipolo, por unidade de tempo: (1.1) corrente de um ampere (1 A) corresponde à passagem de 1 coulomb (1 C) por segundo. O sentido de referência da passagem de corrente, pode ser escolhido de forma arbitrária: se a corrente passa efectivamente no sentido escolhido, o seu valor (a sua intensidade) é positiva; se passa no sentido contrário, é negativa. NOTA: Tendo em conta que nos condutores metálicos habituais, os portadores de carga são electrões (cargas negativas), a passagem de A para B de uma corrente positiva de 1 A, corresponde, fisicamente, à passagem de B para A de um conjunto de electrões que totaliza, num segundo, uma carga de –1 C. 1.1.3. Diferença de Potencial aos Terminais de um Dipolo O trabalho produzido pela passagem de cargas através de um elemento, traduz-se por uma diferença de potencial entre os terminais desse elemento. A absorção pelo elemento, de uma energia eléctrica de um Joule (1 J) quando uma carga de um Coulomb (1 C) passa de A para B, resulta de uma diferença de potencial u de um volt (1V) medida entre A e B (o potencial VA do terminal A está 1 V mais elevado do que o potencial VB do terminal B). Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 10 of 287 Figura 1.4 - Diferença de potencial medida entre o terminal A e o terminal B Se, pelo contrário, o elemento fornece uma energia de um Joule (1 J) quando uma carga de um Coulomb passa de A para B, essa energia resulta de uma diferença de potencial u de um volt (1V) medida entre B e A (o potencial VA do terminal A está 1 V mais baixo do que o potencial VB do terminal B ). Figura 1.5 - Diferença de potencial medida entre o terminal A e o terminal B Quando o elemento absorve energia, o potencial do terminal de entrada da corrente é superior ao potencial do terminal de saída. Quando o dipolo fornece energia, o potencial do terminal de entrada de corrente é inferior ao do terminal de saída. A diferença de potencial aos terminais de um dipolo também se pode designar por tensão aos terminais desse elemento. O sentido de referência desta tensão, pode ser escolhido arbitrariamente: se o potencial do terminal “+” é, efectivamente, superior ao do terminal “-”, a tensão é positiva; caso contrário, é negativa. Figura 1.6 – Animação multimédia “Tensão aos terminais de um dipolo” Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 11 of 287 1.1.4. Potência num Dipolo Por definição de tensão aos terminais de um dipolo, a energia dW absorvida ou fornecida por um dipolo num intervalo de tempo dt é igual ao produto da carga dq que o atravessa, pela diferença de potencial u aos seus terminais: (1.2) Por definição de corrente que atravessa uma secção de um dipolo, tem-se: (1.3) Pelo que resulta que a potência p absorvida ou produzida pelo dipolo, vem: (1.4) Para saber se o produto ui corresponde a uma energia absorvida ou produzida, há que ter em conta os sentidos de referência escolhidos para a corrente e para a tensão aos terminais do dipolo. 1.1.5 Convenção Receptor Os sentidos de referência das tensões e correntes são escolhidos conforme se representa no esquema da figura 1.7. Figura 1.7 - Convenção receptor Com o sentido de referência escolhido para a tensão, uma tensão u positiva, significa que o potencial VA do terminal A é superior ao potencial VB do terminal B. Com o sentido de referência escolhido para a corrente, uma corrente i positiva corresponde a um movimento de cargas positivas de A para B pelo interior do dipolo. Sendo o potencial do terminal de entrada, superior ao do terminal de saída da corrente, o dipolo absorve potência eléctrica. O produto u i é positivo. Se u é positivo e i é negativo, o potencial do terminal de entrada da corrente é inferior ao do terminal de saída. O dipolo fornece potência eléctrica. O produto u i é negativo. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 12 of 287 Se u é negativo e i é positivo, a transferência de cargas faz-se do terminal ao potencial mais baixo, para o terminal a potencial mais elevado. O dipolo fornece potência eléctrica. O produto u i é negativo. Finalmente, se u e i são negativos, a transferência de cargas faz-se do terminal ao potencial mais elevado, para o terminal a potencial mais baixo. O dipolo absorve potência eléctrica. O produto u i é positivo. Com a convenção representada na Figura 1.7, um produto p = u i positivo, corresponde a uma absorção de potência eléctrica por parte do dipolo. Um produto p = u i negativo, corresponde ao fornecimento de potência eléctrica; neste caso, fala-se de convenção receptor. Habitualmente, esta convenção é escolhida para todos os dipolos que absorvam energia (resistências, indutâncias, condensadores, de facto, todas as cargas eléctricas, resistências de aquecimento, lâmpadas, motores, etc.). 1.1.6. Convenção Gerador Os sentidos de referência das tensões e correntes são escolhidos conforme se representa no esquema da Figura 1.8. Neste caso, alterou-se o sentido convencional da corrente. Figura 1.8 - Convenção gerador Com o sentido de referência escolhido para a tensão, uma tensão u positiva, significa que o potencial VB do terminal B é superior ao potencial VA do terminal A. Com o sentido de referência escolhido para a corrente, uma corrente i positiva corresponde a um movimento de cargas positivas de B para A pelo interior do dipolo. Sendo o potencial do terminal de entrada, inferior ao do terminal de saída da corrente, o dipolo fornece potência eléctrica. O produto u i é positivo. Se u é positivo e i é negativo, o potencial do terminal de entrada da corrente é superior ao do terminal de saída. O dipolo absorve potência eléctrica. O produto u i é negativo, segundo esta convenção. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 13 of 287 Se u é negativo e i é positivo, a transferência de cargas faz-se do terminal ao potencial mais elevado, para o terminal a potencial mais baixo. O dipolo absorve potência eléctrica. O produto u i é negativo. Finalmente, se u e i são negativos, a transferência de cargas faz-se do terminal ao potencial mais baixo, para o terminal a potencial mais elevado. O dipolo fornece potência eléctrica. O produto u i é positivo. Com a convenção da Figura 1.8 um produto positivo, corresponde a um fornecimento de potência eléctrica por parte do dipolo. Um produto negativo, corresponde à absorção de potência eléctrica; neste caso, fala-se de convenção gerador. Habitualmente, esta convenção é escolhida para todos os dipolos que forneçam energia (fontes de tensão e corrente, pilhas, baterias e outros geradores eléctricos,etc. 1.1.7. Componentes 1.1.7.1. Introdução Baseados no Princípio da Conservação da Energia, pode afirmar-se que uma fonte de energia eléctrica é um conversor (dispositivo ou máquina eléctrica) com capacidade para transformar um outro tipo de energia (química, mecânica, térmica, solar, potencial, cinética) em energia eléctrica. Como exemplos de fontes/conversores de energia eléctrica, tem-se: Pilha ou bateria - conversão de energia Química em energia Eléctrica Painel Fotovoltaico - conversão de energia Solar em energia Eléctrica Gerador - conversão de energia Mecânica em energia Eléctrica Motor - conversão de energia Eléctrica energia Mecânica Uma grande parte das fontes utilizadas em circuitos eléctricos, pode ser reversível isto é, o sentido do fluxo de conversão de energia pode ser invertido. Assim: Uma pilha ou uma bateria, quando estão a carregar, estão a converter a energia Eléctrica em energia Química Um gerador pode funcionar como motor quando converte em energia Mecânica a energia Eléctrica que absorve Um painel fotovoltaico é um exemplo de uma fonte não reversível pois, absorvendo energia eléctrica, não a consegue converter em energia solar. 1.1.7.2. Fonte de Tensão Uma fonte de tensão ideal independente1 é um dipolo com capacidade para impor uma diferença de potencial aos seus terminais, independentemente do valor da corrente que a percorre. A equação que caracteriza uma fonte de tensão ideal é: (1.5) designando-se, genericamente, por E(t) a força electromotriz da fonte. No caso de uma fonte de tensão contínua (DC), E(t) representa um valor constante. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 14 of 287 Figura 1.9 - Exemplos de fontes de tensão contínua e não contínua Os símbolos mais utilizados para representar uma fonte de tensão, são: Figura 1.10 - Fonte de tensão ideal Quando se liga uma fonte de tensão a um outro elemento passivo estabelece-se um percurso fechado onde circula a corrente i(t) . Figura 1.11 - Fonte de tensão ideal a alimentar um elemento passivo no entanto, a corrente que a fonte de tensão fornece, depende dos elementos que ela alimenta: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 15 of 287 uma fonte de tensão ideal pode ser deixada em circuito aberto, isto é, sem qualquer ligação aos seus terminais. Neste caso, são nulas a corrente i(t) que ela fornece e, consequentemente, a potência p(t) = u(t) i(t) ; os terminais de uma fonte de tensão ideal não podem ser ligados entre si por um condutor ideal (curto-circuito) pois essa situação corresponderia a anular a tensão do gerador; enquanto a fonte de tensão impõe u(t) = E(t) , o curto-circuito impõe u(t) = 0 duas fontes de tensão só podem ser ligadas em paralelo se tiverem valores iguais de força electromotriz; através da Lei das Malhas obtém-se E1(t) = E2(t) , que só é uma expressão verdadeira se as duas forças electromotrizes forem iguais. Figura 1.12 - Fonte de tensão ideal em vazio, em curto-circuito e duas fontes de tensão em paralelo 1.1.7.3. Fonte de Corrente Uma fonte de corrente ideal independente2 é um dipolo com capacidade para impor a corrente fornecida, independentemente da tensão que apresenta aos seus terminais. O símbolo para representar uma fonte de corrente, é: Figura 1.13 - Fonte de corrente não existindo símbolos específicos para representar uma fonte de corrente contínua (DC) ou alternada (AC). Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 16 of 287 A equação que caracteriza uma fonte de corrente ideal é: (1.6) Quando se liga uma fonte de corrente a um outro elemento passivo estabelece-se um percurso fechado onde circula a corrente i(t) Figura 1.14 - Fonte de corrente ideal a alimentar um elemento passivo no entanto, a diferença de potencial u(t) aos seus terminais, dependerá do elemento que a fonte alimenta: os terminais de uma fonte de corrente podem ser ligados entre si. Neste caso, são nulas a tensão aos seus terminais u(t) e, consequentemente, a potência u(t) i(t) que ela debita; uma fonte de corrente não pode ser deixada em circuito aberto, pois isso corresponderia a anular a corrente que ela fornece; deve sempre existir um caminho para que a corrente se feche; enquanto a fonte impõe i(t) = I (t) o circuito aberto impõe i(t) = 0 duas fontes de corrente só podem ser ligadas em série se impuserem o mesmo valor de corrente; através da Lei dos Nós obtém-se I1(t) = I2(t) que só é uma expressão verdadeira se os dois valores de corrente forem iguais. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 17 of 287 Figura 1.15 - Fonte de corrente ideal em curto-circuito, em vazio e duas fontes de corrente em série 1.1.8. Grandezas Alternadas Sinusoidais Introdução As funções alternadas sinusoidais são particularmente importantes para a análise de circuitos pois a maior parte dos sistemas de produção e distribuição eléctrica gera e transporta energia através de grandezas cuja evolução no tempo se pode considerar sinusoidal; a sigla, normalmente utilizada para designar esta forma de energia eléctrica é “AC” e deriva da designação inglesa Alternating Current. Figura 1.16 - (a) Grandeza alternada sinusoidal; (b) Grandeza Alternada não sinusoidal (c) Grandeza contínua A grande vantagem da alimentação em AC, comparativamente à DC (Direct Current) onde as grandezas têm uma evolução constante no tempo, verifica-se na eficiência do transporte de energia por esta se poder fazer a muito alta tensão de forma económica; a tensão alternada produzida numa central é elevada por um transformador que, consequentemente diminui, aproximadamente, na mesma proporção a corrente; as perdas R i2 são assim menores em alta tensão, do que seriam se a energia fosse transportada ao nível de tensão a que é produzida. Esta foi a principal razão porque os sistemas AC se impuseram face aos sistemas DC. O conceito de “grandeza contínua” em electrotecnia é diferente do conceito matemático de “grandeza contínua”; entende-se que uma “grandeza contínua” é uma grandeza cujo valor é constante no tempo. Definição Uma grandeza alternada sinusoidal, x(t) , pode ser descrita pela expressão matemática: (1.7) Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 18 of 287 sendo x(t) o valor instantâneo, XM a sua amplitude máxima, (ωt +ψ) a fase, ω a frequência angular que se expressa em radianos por segundo [rad / s] e ψ a fase inicial expressa em radianos. A frequência angular relaciona-se com a frequência f , expressa em ciclos por segundo ou hertz (Hz), através de: (1.8) A frequência pode ser expressa em função do período T , através de: (1.9) Todos estes parâmetros da sinusóide estão graficamente representados na figura seguinte Figura 1.17 - Representação gráfica de uma grandeza sinusoida1 Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 19 of 287 Figura 1.18 - Animação multimédia de uma grandeza sinusoidal Dadas duas grandezas sinusoidais com igual frequência, descritas pelas expressões: (1.10) designa-se por desfasagem entre as grandezas, a diferença de fases iniciais, (φ - γ). Figura 1.19 - Representação gráfica do desfasamento entre duas grandezas sinusoidais Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof:Paulo Barros Page 20 of 287 De acordo com o exemplo dado, diz-se que a grandeza x(t) está avançada (φ - γ) radianos, relativamente a y(t) . A afirmação dual também é válida: a grandeza y(t) está atrasada (φ – γ) radianos, relativamente a x(t). Valor Eficaz O conceito de valor eficaz de uma tensão ou corrente alternada sinusoidal está directamente ligado à potência associada a esse par de grandezas; é através do valor eficaz que se pode comparar a potência associada a grandezas AC com potências associadas a grandezas DC. Fisicamente, o valor eficaz de uma corrente alternada é o valor da intensidade de uma corrente contínua que produziria, numa resistência, o mesmo efeito calorífico que a corrente alternada em questão. Matematicamente, o valor eficaz, Xef , de uma grandeza periódica x(t) é determinado através de: (1.11) O caso particular de uma grandeza alternada sinusoidal expressa por x(t) = XM sin(ωt +ψ) , a expressão anterior conduz a: (1.12) Poder-se-á assim escrever: (1.13) Graficamente, o valor eficaz está relacionado com a área sob a curva que representa a evolução temporal do quadrado da grandeza, tal como se representa na figura seguinte. Figura 1.20 - Representação gráfica do cálculo do valor eficaz Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 21 of 287 O valor eficaz de uma grandeza altera-se com a amplitude, com perturbações na forma da onda, mas não é afectado por variação da frequência, nem da fase inicial. 1.1.9. Compensação do factor de potência Introdução Os motores e grande parte das cargas alimentadas pelas redes de energia eléctrica, são cargas de carácter indutivo, isto é, para além de consumirem energia activa, também são consumidores de energia reactiva. Figura 1.21 - Representação esquemática de um motor monofásico alimentado em corrente alternada Em termos de diagrama vectorial, tem-se: Figura 1.22 - Diagrama vectorial do esquema da Figura 1.21 sendo a Ῑa componente activa da corrente e Ῑr a componente reactiva. A presença da componente reactiva (devida à indutância) faz com que tensão e corrente aos terminais da fonte não estejam em fase; a corrente está atrasada φ relativamente à tensão. A fonte que alimenta este motor deverá ser capaz de fornecer as potências: (1.14) Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 22 of 287 ou seja, deverá ter, pelo menos, uma potência aparente de: (1.15) e ser capaz de fornecer uma corrente de amplitude eficaz I . Caso a fonte não tivesse de fornecer a energia reactiva (devida à presença da indutância), poderia ter uma potência aparente de apenas: (1.16) fornecendo uma corrente de amplitude eficaz Ia = I cosφ Esta solução é possível e implementa-se através da introdução, no circuito, de um condensador; este procedimento é conhecido por compensação do factor de potência. Os inconvenientes de não se proceder à compensação do factor de potência são: as fontes de energia eléctrica (os geradores das centrais eléctricas) e as linhas ao terem de produzir e transportar energia reactiva têm, forçosamente, de diminuir a energia activa produzida ou transportada, de forma a não ultrapassarem a sua potência aparente nominal, uma vez que: as linhas de transmissão têm maiores perdas pois, como não são ideais (resistência nula), mas antes caracterizadas por uma impedância não nula, as perdas associadas serão tanto maiores quanto maior for a corrente que as percorre: as quedas de tensão nas linhas são maiores pela mesma razão indicada no ponto anterior. Sistema monofásico – Compensação total No caso de um sistema monofásico, a compensação do factor de potência efectua- se com a montagem de um condensador em paralelo com a carga (e, portanto, com a fonte), tal como esquematizado na Figura 1.23. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 23 of 287 Figura 1.23 - Representação esquemática de um motor monofásico alimentado em corrente alternada, com condensador de compensação de factor de potência O valor da capacidade C deverá ser dimensionado para que o respectivo diagrama vectorial seja: Figura 1.24 - Diagrama vectorial do esquema da Figura 1.23 A corrente do condensador deverá compensar totalmente a componente reactiva do motor. A corrente absorvida pelo motor, Ῑ , não sofre qualquer alteração. As alterações residem na corrente fornecida pela fonte que, para além de ter diminuído a sua amplitude eficaz de Ῑ para I cosφ (reduzindo, assim, as perdas e as quedas de tensão nas linhas), também passou a estar em fase com a tensão na fonte (a fonte deixou de fornecer energia reactiva). A potência activa que a fonte fornece não sofreu qualquer alteração, porque a corrente da fonte é exactamente igual à componente activa da corrente antes da compensação. Com a introdução do condensador, procedeu-se à compensação total do factor de potência; do ponto de vista da fonte de energia, é como se o conjunto Motor+Condensador se comportasse como uma carga resistiva; é como se o condensador fornecesse toda a energia reactiva que o motor necessita absorver: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 24 of 287 Figura 1.25 - Representação esquemática das potências activa e reactiva antes e após a compensação A potência reactiva absorvida pelo motor é: (1.17) Como a potência reactiva fornecida pelo condensador, QC é: (1.18) a igualdade entre estas duas potência conduz a: (1.19) que deverá ser a capacidade do condensador para compensar totalmente o factor de potência. Sistema monofásico – Compensação parcial Os regulamentos não impõem a necessidade de uma compensação total do factor de potência, limitando-se a impor um valor mínimo para o factor de potência ( cosφf ). Para uma compensação parcial do factor de potência, partindo de um sistema que consome um determinado conjunto de valores iniciais de Si , Pi , Qi e cosφi ˂ cosφf , pretende manter-se a potência activa solicitada ao distribuidor de energia eléctrica, Pi , e, através da instalação de um condensador com um valor C na entrada da nossa instalação, conseguir solicitar à rede um valor menor de potência reactiva final, Qf , que assegure um valor de cosφf Partindo do valor de potência activa pretendida, Pi , e impondo cosφf , obtêm-se o valor final da potência aparente, a solicitar à rede: (1.20) Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 25 of 287 assim, como o respectivo valor da potência reactiva: (1.21) A diferença entre Qi e Qf deverá ser fornecida pelo condensador: (1.22) Deste modo, será possível calcular o valor de C , tal que: (1.23) 1.1.10. Sistemas Trifásicos Definição Os sistemas alternados sinusoidais são de particular importância na electrotecnia pois constituem a maior parte dos sistemas de produção e transporte de energia eléctrica. Um sistema trifásico de tensões alternadas sinusoidais fica completamente especificado pela sua frequência angular, ω = 2πf , ou pelo seu período, T , pela amplitude máxima, UM , ou pelo valor eficaz dessa amplitude, U , e pela fase na origem, φu . É descrito pelo conjunto de equações: (1.24) Em notação complexa o sistema de equações toma a forma: (1.25) Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 26 of 287 Figura 1.26. Sistema trifásico de tensões alternadas sinusoidais. Cada uma das grandezas deste sistema é designada por fase e a sua sequênciatemporal determina a sua numeração. A sequência de fases 123 é designada por sequência positiva e a sequência 132, por sequência negativa. Sistema Equilibrado O sistema trifásico diz-se que é equilibrado porque são idênticas entre si as amplitude das 3 fases, assim como o desfasamento entre elas. Quando tal não acontece, designa-se por sistema trifásico desequilibrado. Figura 1.27. Diagramas de exemplos de sistemas trifásicos desequilibrados. Uma das características dos sistemas trifásicos equilibrados é a soma das tensões das fases ser nula em qualquer instante. (1.26) Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 27 of 287 No diagrama das amplitudes complexas também se pode verificar que num sistema equilibrado de tensões se tem: Figura 1.28. Diagramas da soma das amplitudes complexas. Tensões Simples e Compostas Um sistema de tensões trifásico alternado sinusoidal pode ser entendido como um conjunto de 3 fontes monofásicas alternadas sinusoidais: Figura 1.29. Três fontes monofásicas alternadas sinusoidais O esquema da figura anterior pode ser redesenhado na forma esquematizada na figura seguinte: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 28 of 287 Figura 1.30. Fonte trifásica alternada sinusoidal. Os condutores 1, 2 e 3 são designados por condutores de fase e o condutor N por condutor de neutro. No entanto, aos terminais desta fonte não se têm, apenas, disponíveis 3 tensões alternadas sinusoidais de igual amplitude, como se verá seguidamente. Admita-se a existência de 3 malhas fictícias tal como se representa na figura. Figura 1.31. Fonte trifásica alternada sinusoidal e malhas fictícias. Substituindo as expressões de u1(t) , u2 (t) e u3(t) , obtém-se: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 29 of 287 (1.27) As tensões entre os condutores de fase constituem um sistema trifásico equilibrado de tensões; têm uma amplitude √3 superior à tensão entre os condutores de fase e o neutro e estão avançadas π/6 relativamente a estas. As tensões entre os condutores de fase, u12 (t) , u23(t) e u31(t) , designam-se por tensões compostas, enquanto as tensões entre cada condutor de fase e o neutro, u1(t) , u2 (t) e u3(t) , se designam por tensões simples. Quando não existe o risco de se confundirem valores eficazes e valores máximos, designa-se o valor eficaz da tensão simples por US e o de uma tensão composta por UC . Num sistema trifásico equilibrado a relação entre estes dois valores é: (1.28) O diagrama vectorial das amplitudes complexas das tensões simples e compostas, encontra-se representado na Figura 1.32 onde, por simplicidade gráfica, se admitiu que a fase na origem da tensão simples u1(t) era nula, isto é φu = 0. Figura 1.32. Diagrama vectorial das tensões simples e compostas do sistema trifásico. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 30 of 287 Uma fonte de tensão trifásica equilibrada pode, então, ser entendida como um conjunto de 6 fontes monofásicas: entre cada um dos condutores de fase e o neutro, existem 3 fontes monofásicas que apresentam um valor eficaz de U (tensões simples) e entre os condutores de fase, existem outras 3 fontes monofásica que apresentam um valor eficaz de √3U (tensões compostas). Figura 1.33 - Diagrama representativo das tensões simples e compostas do sistema trifásico. As tensões u1, u2 e u3 são tensões simples e as tensões u12 , u23 e u13 são tensões compostas; se as primeiras tiverem um valor eficaz de U , então as segundas têm um valor eficaz de √3U. Normalmente, um sistema trifásico designa-se pelo valor eficaz da sua tensão simples e composta ou, mais simplesmente, pelo valor eficaz da sua tensão composta. Assim, por exemplo, o sistema trifásico da rede portuguesa designa-se por 230V / 400V ou apenas por 400V. 1.1.11. Ligação de Cargas Ligação em ESTRELA Uma carga trifásica é um conjunto de 3 cargas monofásicas, isto é, 3 impedâncias. Cada uma das impedâncias é designada por fase da carga. Se estas 3 impedâncias forem iguais, designa-se por carga equilibrada; será uma carga desequilibrada, caso contrário. As cargas desequilibradas serão analisadas na secção Cargas Desequilibradas. Fig 1.34 - Cargas Monofásicas. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 31 of 287 Uma das formas de ligar as 3 impedâncias é, à semelhança do que se fez para as fontes, ligar cada fase da carga a uma fase da fonte, tal como se esquematiza na Figura 1.35 . Este tipo de ligação designa-se por ligação estrela. Figura 1.35 - Carga trifásica ligada em estrela Circulando em cada uma das malhas que inclui uma fase do gerador, uma fase da carga e se fecha pelo condutor de neutro, verifica-se que, a cada fase da carga,UF , (isto é, a cada uma das impedâncias da carga) fica aplicada a tensão da fase do gerador, isto é, uma tensão simples,US , (uma tensão entre o condutor de fase e o neutro). Carga ligada em estrela UF =US As amplitudes complexas das correntes (em valor eficaz) que circulam na carga são: (1.29, 1.30, 1.31) Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 32 of 287 Onde, por simplicidade, se admitiu que u1(t) tem uma fase inicial nula. Este conjunto de 3 correntes, tem a mesma amplitude e estão desfasadas entre si de 2π/3, pelo que constituem um sistema trifásico equilibrado de correntes. Assim sendo, a corrente no condutor de neutro será nula pois, aplicando a Lei dos Nós a qualquer um dos 2 nós do circuito, se obtém: (1.32) O diagrama vectorial das correntes e tensões nas fases de uma carga equilibrada ligada em estrela encontra-se representado na Figura 1.36. Figura 1.36 - Diagrama vectorial de tensões e correntes nas fases de uma carga equilibrada ligada em estrela Nesta situação de equilíbrio, o condutor de neutro pode ser retirado, mantendo-se as tensões nas fases da carga iguais às tensões nas fases do gerador. No caso de uma carga ligada em estrela, as correntes na linha de transmissão, I L , (correntes entre o gerador e a carga) são iguais às correntes nas fases da carga, I F , (isto é, as correntes que atravessam cada uma das impedâncias da carga). Carga em estrela I L = I F Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 33 of 287 Ligação em Triângulo ou Delta As 3 cargas monofásicas referidas na secção anterior podem também ser ligadas sequencialmente, formando um triângulo, como se esquematiza na Figura 1.37. Figura 1.37 - Carga Trifásica Ligada em Triângulo ou Delta Para alimentar esta carga com a fonte de tensão trifásica, liga-se cada um dos condutores de fase da fonte, aos vértices do triângulo formado pela carga, tal como se esquematiza na figura seguinte. Figura 1.38 - Fonte de Tensão trifásica a alimentar uma Carga Trifásica Ligada em Triângulo ou Delta Neste tipo de ligação, o condutor de neutro fica desligado. A tensão de cada fase da carga, UF (isto é, a tensão aplicada a cada uma das impedâncias da carga) é uma tensão composta, UC , (tensão entre duas fases da fonte) cujo valor eficaz é √3 US . Carga ligada em triângulo UF = UC Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 34 of 287 (1.33, 1.34, 1.35) Este conjunto de correntes forma um sistema trifásico equilibrado, desfasado φ do sistema de tensões compostas que está aplicado às fases da carga. Relativamente à carga ligada em estrela, cada fase da carga suportaagora uma tensão √3 vezes superior (tensão composta) pelo que, a amplitude a corrente que a percorre é, também, √3 vezes superior. O diagrama vectorial das tensões e correntes nas fases da carga encontra-se representado na Figura 1.39. Figura 1.39 - Diagrama vectorial das tensões e correntes nas fases de uma carga ligada em triângulo Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 35 of 287 Relativamente às correntes que percorrem as linhas de transmissão, a sua determinação tem de ser efectuada com recurso à Lei dos Nós (ver Figura 1.38). Em termos de amplitudes complexas em valor eficaz, obtém-se: (1.36, 1.37, 1.38) Cargas Desequilibradas Uma carga trifásica considera-se desequilibrada quando pelo menos uma das impedâncias é diferente das outras duas, ou no módulo, Z , ou na fase, φ. Um exemplo de uma carga desequilibrada é: (1.39) ou seja, uma carga que na fase 1 é representada por uma resistência, na fase 2 por uma indutância e na fase 3 por uma capacidade. Se esta carga for ligada, por exemplo, em estrela, e alimentada por um sistema trifásico equilibrado de tensões, cuja amplitude da tensão simples é , a corrente em cada uma das fases da carga (e também a corrente nas linhas, uma vez que são iguais), será, em valor eficaz: US Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 36 of 287 (1.40, 1.41, 1,42) Cujo diagrama vectorial está representado na Figura 1.40 e onde se admitiu que os módulos das impedâncias são todos diferentes, isto é, Figura 1.40 - Diagrama vectorial de uma carga desequilibrada Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 37 of 287 A corrente na fase 1 está em fase com a tensão na fase 1 porque a carga é representada por uma resistência; como na fase 2 a carga é representada por uma indutância, a respectiva corrente na fase está atrasada π/2 da respectiva tensão na fase da carga; finalmente, a capacidade que representa a carga da fase 3 faz com que a corrente na fase esteja adiantada π/2 relativamente à respectiva tensão na fase. Tanto através do diagrama vectorial, quanto através das expressões matemáticas das correntes nas fases da carga, se pode verificar que: (1.43) concluindo-se, assim, que o sistema de correntes não é equilibrado. Comparação entre cargas em Estrela e em Triângulo Cargas Equilibradas Ligadas em Triângulo, se terem deduzido as mesmas expressões: O que será CORRECTO concluir é que: Quer a carga esteja ligada em estrela, quer esteja em triângulo, as EXPRESSÕES para o cálculo das potências são as mesmas. Em cada um dos tipos de ligação, as tensões aplicadas a cada fase da carga são: a corrente na fase da carga será a respectiva tensão a dividir pela impedância (igual nos dois casos), pelo que se obtém: ou ainda, atendendo à relação UC = √3 US entre tensão simples e tensão composta: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 38 of 287 expressões das quais se pode já concluir que: Como as relações entre correntes na linha e na fase para os dois tipos de ligação são: I FY = I LY para a ligação estrela e IL∆ = √3 IL∆ , o conjunto de expressões anteriores pode escrever-se na forma: concluindo que, a corrente na linha quando uma carga é ligada em triângulo é 3 vezes superior à corrente na linha quando essa mesma carga é ligada em estrela. Como o valor da tensão composta não depende da forma de ligação, das expressões genéricas, conclui-se que, para uma mesma carga se tem: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 39 of 287 1.2. MAGNETISMO 1.2.1. Campo Magnético e Linhas de Campo Magnético Campo magnético é a região ao redor de um imã, na qual ocorre uma força magnética de atração ou de repulsão. O campo magnético pode ser definido pela medida da força que o campo exerce sobre o movimento das partículas de carga, tal como um elétron. A representação visual do campo é feita através de linhas de campo magnético, também conhecidas por linhas de indução magnética ou linhas de fluxo magnético, que são linhas envoltórias imaginárias fechadas, que saem do pólo norte e entram no pólo sul. A Figura 1.41 mostra as linhas de campo representando visualmente o campo magnético. Figura 1.41: Linhas de campo magnético. Assim, as características das linhas de campo magnético: são sempre linhas fechadas: saem e voltam a um mesmo ponto; as linhas nunca se cruzam; fora do ímã, as linhas saem do pólo norte e se dirigem para o pólo sul; dentro do ímã, as linhas são orientadas do pólo sul para o pólo norte; saem e entram na direção perpendicular às superfícies dos pólos; nos pólos a concentração das linhas é maior: quanto maior concentração de linhas, mais intenso será o campo magnético numa dada região. Uma verificação das propriedades das linhas de campo magnético é a chamada inclinação magnética da bússola. Nas proximidades do equador as linhas de campo são praticamente paralelas à superfície e a medida que se aproxima dos pólos, as linhas vão se inclinando até se tornarem praticamente verticais na região polar. Assim, a agulha de uma bússola acompanha a inclinação dessas linhas de campo magnético e se pode verificar que na região polar a agulha da bússola tenderá a ficar praticamente na posição vertical. Se dois pólos diferentes de ímãs são aproximados haverá uma força de atração entre eles, as linhas de campo se concentrarão nesta região e seus trajetos serão completados através dos dois ímãs. Se dois pólos iguais são aproximados haverá uma Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 40 of 287 força de repulsão e as linhas de campo divergirão, ou seja, serão distorcidas e haverá uma região entre os ímãs onde o campo magnético será nulo. Estas situações estão representadas na Figura 1.42. Figura 1.42: Distribuição das linhas de campo magnético. No caso de um imã em forma de ferradura, as linhas de campo entre as superfícies paralelas dispõem-se praticamente paralelas, originando um campo magnético uniforme. No campo magnético uniforme, todas as linhas de campo têm a mesma direção e sentido em qualquer ponto. A Figura 1.43 mostra essa situação. Na prática, dificilmente encontra-se um camponmagnético perfeitamente uniforme. Entre dois pólos planos e paralelos o campo é praticamente uniforme se a área dos pólos for maior que a distância entre eles, mas nas bordas de um elemento magnético há sempre algumas linhas de campo que não são paralelas às outras. Estas distorções são chamadas de espraiamento. Figura 1.43: Campo magnético uniforme e espraiamento. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 41 of 287 1.2.2. Fluxo Magnético O fluxo magnético, simbolizado por ɸ, é definido como a quantidade de linhas de campo que atingem perpendicularmente uma dada área, como mostra a Figura 1.44. A unidade de fluxo magnético é o Weber (Wb), sendo que um Weber corresponde a 1x108 linhas do campo magnético. Figura 1.44: Fluxo magnético : quantidade de linhas de campo numa área. 1.2.3. Densidade de Campo Magnético A densidade de campo magnético, densidade de fluxo magnético ou simplesmente campo magnético, cuja unidade Tesla (T), é uma grandeza vetorial representada pela letra B e é determinada pela relação entre o fluxo magnético e a área de uma dada superfície perpendicular à direção do fluxo magnético. Assim: onde: B: densidade fluxo magnético, Tesla [T] Φ: fluxo magnético, Weber[Wb] A: área da seção perpendicular ao fluxo magnético, metro quadrado [m2] 1T = 1Wb/m2 A direção do vetor B é sempre tangente às linhas de campo magnético em qualquer ponto, como mostra a Figura 1.45. O sentido do vetor densidade de campo magnético é sempre o mesmo das linhas de campo. Figura 1.45: Vetor densidade de campo magnético: tangente às linhas de campo. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 42 of 287 O número de linhas de campo magnético que atravessam uma dada superfície perpendicular por unidade de área é proporcional ao módulo do vector B na região considerada. Assim sendo, onde as linhas de indução estão muito próximas umas das outras, B terá alto valor. Onde as linhas estiverem muito separadas, B será pequeno. Observação: se as linhas de campo não forem perpendiculares à superfície considerada devemos tomar a componente perpendicular, como será estudado posteriormente. 1.2.4. Classificação das Substâncias quanto ao Comportamento Magnético As substâncias são classificadas em quatro grupos quanto ao seu comportamento magnético: ferromagnéticas, paramagnéticas , diamagnéticas e ferrimagnéticas. 1. Substâncias Ferromagnéticas: Seus imãs elementares sofrem grande influência do campo magnético indutor. De modo que, eles ficam majoritariamente orientados no mesmo sentido do campo magnético aplicado e são fortemente atraídos por um ímã. Exemplos: ferro, aços especiais, cobalto, níquel, e algumas ligas (alloys) como Alnico e Permalloy, entre outros. 2. Substâncias Paramagnéticas: Seus imãs elementares ficam fracamente orientados no mesmo sentido do campo magnético indutor. Surge, então, uma força de atração fraca entre o imã e a substância paramagnética. Exemplos: alumínio, manganês, estanho, cromo, platina, paládio, oxigênio líquido, etc. 3. Substâncias Diamagnéticas: Substâncias Diamagnéticas são aquelas que quando colocadas próximas a um campo magnético indutor proveniente de um imã, os seus imãs elementares sofrem uma pequena influência, de modo que eles ficam fracamente orientados em sentido contrário ao campo externo aplicado. Surge, então, entre o imã e a substância diamagnética, uma força de repulsão fraca. Exemplos: cobre, água, mercúrio, ouro, prata, bismuto, antimônio, zinco, etc. 4. Substâncias Ferrimagnéticas: O Ferrimagnetismo permanente ocorre em sólidos nos quais os campos magnéticos associados com átomos individuais se alinham espontaneamente, alguns de forma paralela, ou na mesma direção (como no ferromagnetismo) e outros geralmente antiparalelos, ou emparelhados em direções opostas. O comportamento magnéticos de cristais de materiais ferrimagnéticos pode ser atribuído ao alinhamento paralelo; o efeito desses átomos no arranjo antiparalelo mantém a força magnética desses materiais geralmente menor do que a de sólidos puramente ferromagnéticos como o ferro puro. O Ferrimagnetismo ocorre principalmente em óxidos magnéticos conhecidos como Ferritas. O alinhamento espontâneo que produz o ferrimagnetismo também é completamente rompido acima da temperatura de Curie, característico dos materiais Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 43 of 287 ferromagnéticos. Quando a temperatura do material está abaixo do Ponto Curie, o ferrimagnetismo aparece novamente. 1.1.5. Permeabilidade Magnética Se um material não magnético, como vidro ou cobre, for colocado na região das linhas de campo de um ímã, haverá uma imperceptível alteração na distribuição das linhas de campo. Entretanto, se um material magnético, como o ferro, for colocado na região das linhas de campo de um ímã, estas passarão através do ferro em vez de se distribuírem no ar ao seu redor porque elas se concentram com maior facilidade nos materiais magnéticos, como mostra a Figura 1.46. Este princípio é usado na blindagem magnética de elementos (as linhas de campo ficam concentradas na carcaça metálica não atingindo o instrumento no seu interior) e instrumentos elétricos sensíveis e que podem ser afectados pelo campo magnético. Figura 1.46: Distribuição nas linhas de campo: material magnético e não magnético. A blindagem magnética (Figura 1.47) é um exemplo prático da aplicação do efeito da permeabilidade magnética. Figura 1.47: Efeito da blindagem magnética na distribuição das linhas de campo. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 44 of 287 Portanto, um material na proximidade de um ímã pode alterar a distribuição das linhas de campo magnético. Se diferentes materiais com as mesmas dimensões físicas são usados, a intensidade com que as linhas são concentradas variam. Esta variação se deve a uma grandeza associada aos materiais chamada permeabilidade magnética, μ. A permeabilidade magnética de um material é uma medida da facilidade com que as linhas de campo podem atravessar um dado material. A permeabilidade magnética do vácuo, μ0 vale: A unidade de permeabilidade também pode ser expressa por [T.m/A], ou ainda [H/m]. Assim: H=Wb/A. A permeabilidade magnética de todos os materiais não magnéticos, como o cobre, alumínio, madeira, vidro e ar é aproximadamente igual à permeabilidade magnética do vácuo. Os materiais que têm a permeabilidade um pouco inferior à do vácuo são chamados materiais diamagnéticos. Aqueles que têm a permeabilidade um pouco maior que a do vácuo são chamados materiais paramagnéticos. Materiais magnéticos como o ferro, níquel, aço, cobalto e ligas desses materiais têm permeabilidade de centenas e até milhares de vezes maiores que o vácuo. Esses materiais são conhecidos como materiais ferromagnéticos. A relação entre a permeabilidade de um dado material e a permeabilidade do vácuo é chamada de permeabilidade relativa, assim: onde: μr: permeabilidade relativa de um material (adimensional) μm: permeabilidade de um dado material μ0: permeabilidade do vácuo Geralmente, μr ≥ 100 para os materiais ferromagnéticos, valendo entre 2.000 e 6.000 nos materiais de máquinas eléctricas e podendo chegar até a 100.000 em materiais especiais. Para os não magnéticos μr ≅ 1. A tabela 1 mostra uma relação simplificada dos valores de permeabilidade relativa dos materiais. A tabela 2 apresenta valores de permeabilidade magnética relativa para alguns materiais ferromagnéticos utilizados em dispositivos eletro-eletrônicos. Observação: devemos ter em mente que a permeabilidade de um material ferromagnético não é constante e seu valor depende da densidade de campo magnético a que está submetido. Esse assunto será estudado no item sobre curvas de magnetização. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 45 of 287 1.2.6. Relutância Magnética A relutância magnética é a medida da oposição que um meio oferece ao estabelecimento e concentração das linhas de campo magnético. A relutância magnética é determinada pela equação: onde: ℜ: relutância magnética, [Ae/Wb]; l: comprimento médio do caminho magnético das linhas de campo no meio, [m]; μ: permeabilidade magnética do meio, [Wb/A.m]; A: área da secção transversal, [m2]. A relutância magnética é uma grandeza análoga à resistência eléctrica (R) que pode ser determinada pela equação que relaciona a resistividade e as dimensões de um material: Podemos notar que a resistência eléctrica e a relutância magnética são inversamente proporcionais à área, ou seja, maior área menor resistência ao fluxo de cargas eléctricas e ao fluxo de linhas de campo. Estas grandezas são diretamente proporcionais ao comprimento do material. Entretanto a relutância é inversamente proporcional à permeabilidade magnética, enquanto a resistência é diretamente Máquinas EléctricasElectromecânica Prof: Paulo Barros Page 46 of 287 proporcional à resistividade eléctrica. Materiais com alta permeabilidade, como os ferromagnéticos, têm relutâncias muito baixas e, portanto, proporcionam grande concentração das linhas de campo magnético. Quando dois materiais de permeabilidades diferentes apresentam-se como caminho magnético para as linhas do campo, estas se dirigem para o de maior permeabilidade. Isto é chamado de princípio da relutância mínima. Na Figura 1.48, podemos perceber que o ferro, de alta permeabilidade, representa um caminho magnético de menor relutância para as linhas de campo, concentrando-as. Já o vidro, de baixa permeabilidade, não proporciona grande concentração das linhas de campo. Isso representa um caminho magnético de alta relutância. Figura 1.48: Campos magnéticos de alta e baixa relutância. 1.2.7. FENÔMENOS ELECTROMAGNÉTICOS Descoberta de Oersted Em 1820, um professor e físico dinamarquês chamado Hans Christian Oersted observou que uma corrente eléctrica era capaz de alterar a direção de uma agulha magnética de uma bússola. Para o experimento mostrado na Figura 1.49, quando havia corrente eléctrica no fio, Oersted verificou que a agulha magnética se movia, orientando-se numa direção perpendicular ao fio, evidenciando a presença de um campo magnético produzido pela corrente. Este campo originava uma força magnética capaz de mudar a orientação da bússola. Este campo magnético de origem elétrica é chamado de campo electromagnético. Interrompendo-se a corrente, a agulha retornava a sua posição inicial, ao longo da direção norte-sul. Figura 1.49: Experiência Oersted. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 47 of 287 Conclusão de Oested: Todo condutor percorrido por corrente eléctrica, cria em torno de si um campo electromagnético. Em decorrência dessas descobertas, foi possível estabelecer o princípio básico de todos os fenômenos magnéticos: 1.2.8. Campo Magnético criado por Corrente Eléctrica No mesmo ano que Oersted comprovou a existência de um campo magnético produzido pela corrente elétrica, o cientista francês André Marie Ampère, preocupou-se em descobrir as características desse campo. Nos anos seguintes, outros pesquisadores como Michael Faraday, Karl Friedrich Gauss e James Clerk Maxwell continuaram investigando e desenvolveram muitos dos conceitos básicos do eletromagnetismo. As linhas de campo magnético são linhas envoltórias concêntricas e orientadas, como mostra a Figura 1.50. O sentido das linhas de campo magnético produzido pela corrente no condutor é dada pela Regra de Ampère. A Regra de Ampère, também chamada de Regra da Mão Direita é usada para determinar o sentido das linhas do campo magnético, considerando-se o sentido convencional da corrente eléctrica. Figura 1.50: Linhas de campo magnético criado por uma corrente eléctrica: concêntricas. Regra de Ampère – Regra da mão direita: Com a mão direita envolvendo o condutor e o polegar apontando para o sentido convencional da corrente elétrica, os demais dedos indicam o sentido das linhas de campo que envolvem o condutor. Para a representação do sentido das linhas de campo ou de um vector qualquer perpendicular a um plano (como o plano do papel) utiliza-se a seguinte simbologia: : representa um fio, uma linha de campo ou um vetor com direção perpendicular ao plano, com sentido de saída deste plano. : representa um fio, uma linha de campo ou um vetor com direção perpendicular ao plano, com sentido de entrada neste plano. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 48 of 287 O campo magnético gerado por um condutor percorrido por corrente pode ser representado por suas linhas desenhadas em perspectiva, ou então com a simbologia apresentada, como mostra a Figura 151. Figura 151: Simbologia para representação do sentido das linhas de campo no plano. 1.2.9. Fontes de Campo Magnético Além dos ímãs naturais (magnetita) e os ímãs permanentes feitos de materiais magnetizados, é possível gerar campos magnéticos através da corrente elétrica em condutores. Se estes condutores tiverem a forma de espiras ou bobinas, pode-se gerar campos magnéticos muito intensos. Campo Magnético gerado em torno de um Condutor Rectilíneo A intensidade do campo magnético gerado em torno de um condutor retilíneo percorrido por corrente elétrica depende da intensidade dessa corrente. Uma corrente intensa produzirá um campo intenso, com inúmeras linhas de campo que se distribuem até regiões bem distantes do condutor. Uma corrente menos intensa produzirá poucas linhas numa região próxima ao condutor, conforme mostrado na Figura 1.52. Figura 1.52: Representação do campo magnético em função da corrente elétrica. O vector B que representa a densidade de campo magnético ou densidade de fluxo, em qualquer ponto, apresenta direção sempre tangente às linhas de campo no ponto considerado. Isso pode ser comprovado pela observação da orientação da agulha de uma bússola em torno de um condutor percorrido por corrente elétrica, como mostra a Figura 1.53. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 49 of 287 Figura 1.53: Vector campo magnético tangente às linhas de campo. A densidade de campo magnético B num ponto p considerado é diretamente proporcional à corrente no condutor, inversamente proporcional à distância entre o centro do condutor e o ponto e depende do meio, conforme mostrado na equação matemática: onde: B: densidade de campo magnético num ponto p, [T]; r: distância entre o centro do condutor e o ponto p considerado, [m]; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; μ: permeabilidade magnética do meio, [T.m/A]. Permeabilidade magnética no vácuo: Esta equação é válida para condutores longos, ou seja, quando a distância r for bem menor que o comprimento do condutor (r<<ℓ). Campo Magnético gerado no centro de uma Bobina Longa ou Solenóide Um solenóide é uma bobina longa obtida por um fio condutor isolado e enrolado em espiras iguais, lado a lado, e igualmente espaçadas entre si, como mostra a Figura 1.54. Quando a bobina é percorrida por corrente, os campos magnéticos criados em cada uma das espiras que formam o solenóide se somam, e o resultado final é idêntico a um campo magnético de um imã permanente em forma de barra. Podemos observar que as linhas de campo são concentradas no interior do solenóide. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 50 of 287 Figura 1.54: Representação do campo magnético gerado por um solenóide percorrido por corrente. Entre duas espiras os campos se anulam pois têm sentidos opostos. No centro do solenoide os campos se somam e no interior do solenóide o campo é praticamente uniforme. Quanto mais próximas estiverem as espiras umas das outras, mais intenso e mais uniforme será o campo magnético. A densidade do campo magnético (densidade de fluxo magnético) no centro de um solenoide é expresso por: onde: B: densidade de campo magnético no centro da espira circular, [T]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; l: comprimento longitudinal do solenóide, [m]; μ: permeabilidade magnética do meio, [T.m/A]. O sentido das linhas de campo pode ser determinado por uma adaptação da regra da mão direita, como ilustra a Figura 1.55. Figura 1.55:Regra da mão direita aplicada a uma bobina. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 51 of 287 Um Eletroímã consiste de uma bobina enrolada em torno de um núcleo de material ferromagnético dealta permeabilidade (ferro doce, por exemplo) para concentrar o campo magnético. Cessada a corrente ele perde a magnetização, pois o magnetismo residual é muito baixo. 1.2.10. Força Magnetizante (Campo Magnético Inductor) Se em uma dada bobina for mantida a corrente constante e mudado o material do núcleo (permeabilidade μ do meio), a densidade de fluxo magnético no interior da bobina será alterada em função da permeabilidade magnética do meio. Pode ser chamado de vector campo magnético indutor ou vetor força magnetizante (H) ao campo magnético induzido (gerado) pela corrente elétrica na bobina, independentemente da permeabilidade magnética do material do núcleo (meio). O vetor densidade de campo magnético na bobina pode ser dado por: Resolvendo: Definindo: O módulo do vetor campo magnético indutor ou vetor força magnetizante H numa bobina pode ser dado por: onde: H: campo magnético indutor, [Ae/m]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]; l: comprimento do núcleo magnético, [m]. O vector H tem as mesmas características de orientação do vetor densidade de campo magnético (B), porém independe do tipo de material do núcleo da bobina. Portanto, pode-se concluir que os vetores densidade de campo magnético e campo magnético indutor se relacionam pela equação: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 52 of 287 Isso significa que uma dada bobina percorrida por uma dada corrente produz uma dada força magnetizante ou campo magnético indutor. Ao variar o valor da permeabilidade magnética do meio (alterando o material do núcleo da bobina, por exemplo) a densidade de campo magnético varia para esta mesma bobina. Quanto maior a permeabilidade magnética μ do meio, o efeito da força magnetizante no núcleo será tanto maior, ou seja, maior a densidade de campo magnético induzida no núcleo. Portanto: Analogamente, podemos determinar a força magnetizante H produzida por um condutor rectilíneo: Deve-se ter em mente que a permeabilidade magnética de um material ferromagnético não é constante, é uma relação entre a força magnetizante e a densidade de fluxo magnético resultante, sendo esse comportamento dado pela curva de magnetização do material. Figura 1.56: Curva de magnetização para um determinado material ferromagnético. 1.2.11. Força Magneto-Motriz A força magneto-motriz (fmm) é definida como a causa da produção do fluxo no núcleo de um circuito magnético. Assim, a força magneto-motriz produzida por uma bobina é dada pelo produto, onde: fmm: força magneto-motriz, [Ae]; N: número de espiras do solenóide; Ι: intensidade de corrente no condutor, [A]. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 53 of 287 Se uma bobina, com um certo número de Ampère-espira (fmm), for esticada até atingir o dobro do seu comprimento original (dobro do valor de l), a força magnetizante (H) e a densidade de fluxo (B), terá a metade do seu valor original, pois: Finalmente, onde: H: força magnetizante ou campo magnético indutor, [Ae/m]; l: comprimento médio do caminho magnético, [m]. A relutância magnética é dada por: Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 54 of 287 onde: fmm: força magneto-motriz, [Ae]; ɸ: fluxo magnético, [Wb]; R: relutância magnética, [Ae/Wb]. 1.2.12. Lei de Ampère A Lei de Ampère expressa a relação geral entre uma corrente elétrica em um condutor de qualquer forma e o campo magnético por ele produzido. Esta lei foi é válida para qualquer situação onde os condutores e os campos magnéticos são constantes e invariantes no tempo e sem a presença de materiais magnéticos. Para um condutor retilíneo, equação é a mesma que determina a densidade de campo magnético em um dado ponto p em torno de um condutor retilíneo: 1.2.13. Força Eletromagnética Cargas eléctricas em movimento (corrente eléctrica) criam um campo eletromagnético, o que é visualizado pois este campo exerce uma força magnética na agulha de uma bússola. No sentido reverso, Oersted confirmou, com base na terceira lei de Newton, que um campo magnético de um ímã exerça uma força em um condutor conduzindo corrente. Quando cargas eléctricas em movimento são inseridas em um campo magnético, há uma interação entre o campo e o campo originado pelas cargas em movimento. Essa interação é manifestada por forças que agem na carga eléctrica, denominadas forças eletromagnéticas. Força Eletromagnética sobre um Condutor Retilíneo Para um condutor retilíneo colocado entre os pólos de um ímã em forma de ferradura (Figura 1.57), quando este condutor for percorrido por corrente uma força é exercida sobre ele. Esta força não age na direção dos pólos do ímã, mas na direção perpendicular às linhas do campo magnético. Se o sentido da corrente for invertido, a direção da força continua a mesma, mas há uma inversão no sentido da força exercida sobre o condutor. Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 55 of 287 Figura 1.57: Sentido da força eletromagnética sobre o condutor. Assim, um condutor percorrido por corrente elétrica submetido a um campo magnético sofre a ação de uma força eletromagnética. Se aumentarmos a intensidade da corrente I, aumentaremos a intensidade da força F exercida sobre o condutor. Da mesma forma, um campo magnético mais intenso (maior densidade B) provoca uma intensidade de força maior. Também pode ser comprovado que se o comprimento (l) ativo do condutor (atingido pelas linhas de campo) for maior, a intensidade da força sobre ele será maior. A intensidade da força eletromagnética exercida sobre o condutor também depende do ângulo entre a direção da corrente e a direção do vetor densidade de campo magnético, como mostra a Figura 1.58. Figura 1.58: Força eletromagnética sobre um condutor retilíneo. Portanto, considerando um condutor retilíneo de comprimento l sob a ação de um campo magnético uniforme B, percorrido por uma corrente elétrica de intensidade Ι e sendo θ o ângulo entre B e a direção do condutor, o módulo do vector força magnética que age sobre o condutor pode ser dado por: onde: F: força eletromagnética, [N]; Máquinas Eléctricas Electromecânica Prof: Paulo Barros Page 56 of 287 I: corrente elétrica, [A]; l: comprimento ativo do condutor sob efeito do campo magnético, [m]; B: densidade de campo magnético ou densidade de fluxo magnético [T]; θ: ângulo entre as linhas de campo e a superfície longitudinal do condutor [o ou rad]. Por essa equação, quando o campo for perpendicular à corrente (θ=90º) a força exercida sobre o condutor será máxima, e quando o campo e a corrente tiverem a mesma direção (θ=0º) a força sobre o condutor será nula. Assim, a direção da força é sempre perpendicular à direção da corrente e também perpendicular à direção do campo magnético. A direção e o sentido da força que o condutor sofre, são determinados com os dedos da mão direita dispostos ortogonalmente entre si para determinar a direção e o sentido da força eletromagnética. O polegar aponta na direção da corrente, o indicador na direção do campo magnético, o dedo médio irá apontar a direção da força, desde que esses três dedos façam um ângulo de noventa graus entre si. A figura 1.59 ilustra a situação descrita. Figura 1.59: Determinação do sentido da força eletromagnética. 1.2.14. Indução Eletromagnética Como visto, em 1820 Oersted descobriu que uma corrente elétrica produz campo magnético. A partir dessa descoberta, o inglês Michael Faraday e o americano Joseph Henry se dedicaram a obter o efeito inverso,
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