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FACULDADE BAIANA DE DIREITO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO ANA BEATRIZ DE SOUZA SOARES AVALIAÇÃO DEDICADA À MATÉRIA DE ARTE E DIREITO TURMA 2A 2021.2 SALVADOR, BA FACULDADE BAIANA DE DIREITO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO AVALIAÇÃO DEDICADA À MATÉRIA DE ARTE E DIREITO TURMA 2A Realização da prova I, apresentada à Faculdade Baiana de Direito e Gestão, como parte da atividade valorativa, da matéria Arte e Direito. Orientador: Daniel Nicory do Prado 2021.2 SALVADOR, BA 1) Segundo Todorov, a estrutura de toda narrativa policial tem duas histórias que se combinam e se desenvolvem: a história do crime (o que ocorre primeiro e gera o inquérito) e a história do inquérito (motivado pelo crime, posterior). Nesse sentido, podemos falar em três tipologias do romance policial: o romance de enigma, o romance sombrio e o romance de suspense. Quando o crime é menos importante que o inquérito, há o romance de enigma. Já quando o crime é mais importante que o inquérito, há o romance sombrio. E, por fim, quando o crime é mais ou menos igualmente importante ao inquérito, nota-se o romance de suspense. Fazendo uma análise do texto “Leyes de la Narración Policial”, as regras propostas por Jorge Luis Borges se aplicam à narrativa policial clássica. Na literatura policial clássica, a história começa a ser contada na investigação, e o crime vai ser descoberto como um quebra- cabeça. Os mandamentos previstos no artigo de Borges são: (1) limite discricionário das personagens, (2) declaração de todos os termos do problema, (3) avara economia dos meios, (4) primazia do como sobre o quem, (5) a modéstia/o pudor da morte e (6) a necessidade e maravilha na solução. Para Borges, a literatura policial deve ser fiel ao enigma e ao jogo policial. O primeiro mandamento define que cada personagem está limitado e bem escrito, ou seja, a literatura policial não pode trabalhar com um excesso de personagens. Enquanto isso, o segundo mandamento define que o texto policial deve deixar tudo disponível nas entrelinhas. O terceiro, por sua vez, define que a solução deve ser limpa e organizada, com texto mais simples e sem rebuscamento. Já o quarto, reflete a necessidade da preocupação com o modus operandi, e não com os criminosos, ou seja, o detetive deve descobrir “o como” sobre “o quem”. O quinto é sobre o fato de encontrar o cadáver, ao invés de testemunhar a cena. Por fim, o sexto mandamento diz respeito a uma solução que respeita a lei natural, não sendo algo maravilhoso. Dos mandamentos 1 a 5, se aplica o tipo de romance de enigma (sendo o crime menos importante que o inquérito). Já na regra 6, se aplica a categoria teórica do fantástico explicado de Todorov (literatura policial que desmistifica o mistério). 2) Um dos conceitos fundamentais da Poética Aristotélica é a catarse, ou katharsis, ou seja, a purificação espiritual, o dito efeito que a arte visa produzir no público. A catarse é, por definição, o diálogo direto com o público. Podendo variar, pode ser terror e compaixão na tragédia, ou riso e simpatia na comédia. Além das formas de catarse citadas, a própria comoção pode ser uma outra forma dessa purificação espiritual. A katharsis é parte intrínseca da arte; se for deixada de lado, pouco adianta uma obra com uma bela mensagem, ela deixa de ser arte. Assim, para a produção da catarse, há alguns recursos narrativos: (1) a peripécia (é a reviravolta, a mudança de sorte da personagem, a mudança da fortuna para o infortúnio ou vice-versa), (2) a descoberta (é o reconhecimento, são as revelações) e (3) o patético (é o sofrimento, patético é aquilo que vem de padecer). Fazendo uma análise fundamentada da narrativa “Vampiro da Rua XV”, uma canção de Maglore, é possível indicar alguns momentos de produção de catarse. A letra aborda um relacionamento amoroso que é descrito, metaforicamente, a partir do conceito de “vampiro”. Logo no início da canção, em “um tiro à queima-roupa e ele desapareceu”, já é notório um primeiro momento de catarse, visto que há a presença da descoberta e do patético enquanto recursos narrativos. A música já inicia com o tiro, esse ato súbito que pode ser, implícita ou explicitamente, interpretado como muitas coisas. Seguindo adiante, em “no meio de uma multidão, ninguém nem percebeu”, há um sentimento de padecimento (um dos recursos narrativos para produção de catarse) diante do sofrimento do personagem, reforçando a ideia de um sofrimento silencioso, mas profundo e intenso. Mais à frente, em “foi quando ele encontrou um velho amigo, que lhe perguntou porque ele nunca envelheceu”, há uma certa transição de tempo e, como recurso narrativo, temos uma revelação junto com a peripécia (reviravolta): então temos um personagem vivo? Já na estrofe seguinte, em “lembrou de uma garota que lhe deu seu coração” há uma nova descoberta, havendo o reconhecimento e a revelação de uma garota, uma nova personagem na história. No verso seguinte, em “não esqueceu que também o partiu em pedaços pelo chão”, a grande catarse é a revelação que o personagem, até então digno de certo padecer, é quem parte o coração recebido (pela garota) em pedaços. No final da estrofe, em “e condenava enquanto vivo o tanto que eles dois ainda teriam que sofrer”, percebe-se um novo trânsito no tempo, no qual há o patético diante do sofrimento deles. Nessa estrofe, o incidente é retratado em “antes de ser mordido”, retomando a ideia de vampiro. Além disso, uma nova reviravolta está na descoberta que o protagonista pode mesmo ser um morto, pois há a referência da expressão “enquanto vivo”. Na última estrofe, em “então, ela lhe disse que ainda lhe tinha muito amor”, há a peripécia como catarse, uma mudança de sorte no meio de tantas coisas ruins. No entanto, em “você me deu chance demais para provar que a gente nunca existiu” e na resposta “você nunca foi homem mesmo, você nunca passou de um vampiro”, há a grande revelação dos conflitos entre o casal, conflitos estes que foram os motivadores de todas as situações descritas desde “o tiro”.
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