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Prefácio Ser line e ganhar a vida operando no mercado é o sonho de muita gente e a realidade de algumas. A vida de um trader parece fácil, mas não é. Como qualquer outra profissão, a de trader exige conhecimento, disciplina e de- Jicação. Todos nós conhecemos a velha dica de "cortar os prejuízos logo e dei- xar os lucros crescerem". Parece simples e, na verdade, é. Para ser um su- .:esso no mercado não é necessário fazer mais nada. Só que, na prática, no .::alor do momento, nossas emoções tomam conta de nosso juízo. Existem três fases no desenvolvimento de um trader: ignorância, edu- cação e autoconhecimento. A fase inicial de ignorância é caracterizada por otimismo, ambição e uma ousadia destemida. O trader não sabe o que não sabe. Só vê o que quer ,er, só escuta histórias de sucesso e só pensa em ganhar muito. Seu otimis- mo o leva a pensar que, se Fulano consegue, ele também consegue. Não r:em medo de nada e confia que os desastres só acontecem a outras pessoas. Entra apostando na alta! Mais cedo ou mais tarde, a fase um termina, geralmente com prejuízos e decepção. O infeliz que sofreu somente decepção provavelmente sai do mercado jurando nunca mais voltar, mas aquele que ganhou antes de per- der é como um peixe que beliscou a isca. Já experimentou o gosto da vitó- ria., uma sensação sublime que dificilmente se esquece. Quer mais. Nosso peixinho já sabe, por experiência própria, que é possível, e até iácil, ganhar dinheiro. De fato, sabe que ganhar na Bolsa é somente uma questão de evitar os prejuízos e, com a técnica perfeita - o Santo Graal -, pode fazer justamente isso. Passa pela fase dois, a da educação, fazendo cursos, lendo livros, escrevendo programas e testando idéias. A duração da fase dois depende do que a pessoa realmente quer do mercado. Algumas pessoas só querem participar e se contentam em ficar nessa fase. Outras querem ganhar e, em algum momento, percebem que não existe uma técnica infalível e que muitos prejuízos são causados por faltas momentâneas de juízo e questões emocionais. Percebem que não po- dem dominar o mercado, mas podem dominar a si mesmos. Chegaram à fase três, o autoconhecimento. Minha história é típica de muitos traders. Comecei a investir em 1999. Foi fácil. Era só aplicar em qualquer empresa de tecnologia e ver o dinhei- ro multiplicar. Viciei-me. Um dia os preços pararam de subir. Não entendi, mas não me preocupei. Depois, começaram a cair, algo que não podia acontecer. Fiquei paralisado, como um coelho encarando a proximidade dos faróis de um carro, incrédulo, sem saber o que fazer. Apesar dos prejuízos, o mercado não me soltava. Tinha me seduzido com a promessa de dinheiro fácil. Mas essa promessa era como o pote de ouro no final do arco-íris. Era uma ilusão. Finalmente, usando técnicas fornecidas pela programação neurolin- güística, comecei a ver como meus pensamentos afetavam minhas ações. Também comecei a estudar, e devorava livros e mais livros sobre os merca- dos, técnicas de operar, sistemas, gráficos, indicadores e psicologia. Du- rante vários anos fiquei sentado em frente ao computador surfando a Internet, lendo e testando sistemas que eu mesmo escrevi. Este livro é o resultado de minha busca do Santo Graal. É baseado em uma série de entrevistas com traders veteranos. Pessoas normais como você e eu. Queria saber como pensavam, o que tinham em comum e o que faziam de diferente. Descobri que simplesmente seguiam a dica do segun- do parágrafo: cortar os prejuízos logo e deixar os lucros crescerem. Mas como faziam isso? Este livro é minha resposta a essa pergunta. Espero que ajude em seu autoconhecimento. Sumário CAPÍTULO 1 O mar e o mercado Introdução "Aqui há monstros!" Características de um náufrago O que é risco? Lidando com o risco Otimismo Conseqüências Margem de erro Estresse Reforço variável Decisões CAPÍTULO 2 Tripulação e a mente Modelagem Um modelo para modelar Modelando Congruência Ambiente Comportamento Capacidades e estratégias mentais 1 3 6 10 13 14 15 16 17 19 20 23 23 26 27 29 30 31 31 Emoções Crenças e valores Critério Identidade Missão e visão Três modelos Conclusão Ambiente Comportamentos Capacidades Emoções Crenças Identidade Missão e visão Resumindo Como pensamos Associado e dissociado Conteúdo e estrutura do pensamento Submodalidades Manipulando submodalidades Seqüências e estratégias mentais Estratégias mentais eficientes Controlando seus estados emocionais Mudando de perspectiva Lembrando ou imaginando o estado desejado Mudando de fisionomia Usando submodalidades e estratégias Forjando em frente apesar de tudo ... Pensamento crítico O metamodelo 32 33 34 36 36 37 47 47 48 48 49 50 50 50 51 52 53 56 58 62 64 66 68 68 69 70 70 70 71 72 Omissão: Explicitando o cenário e procurando mais informações 75 Padrão la: Omissão simples 75 Padrão 1 b: Omissão comparativa 76 Padrão 1 e: Falta de índice referencial 76 Padrão l d: Verbo inespecífico 77 Padrão l e: Nominalização 79 Generalização: Identificando limites e ampliando possibilidades 80 Padrão 2a: Quantificadores universais 80 Padrão 2b: Operadores modais de necessidade 81 Padrão 2c: Operadores modais de possibilidade 81 Padrão 2d: Execução perdida 82 Distorção: Semântica ruim, frases ambíguas e sem nexo 83 Padrão 3a: Pressuposições 83 Padrão 3b: Causa e efeito 84 Padrão 3c: Equivalências 85 Padrão 3d: Leitura mental 86 Despedace e desfrute! 87 Confiança 90 Conhecimento 90 Falta de estresse 90 Disciplina 90 Conhecimento 90 Quem sou eu? 91 Dinheiro e sucesso 91 Incerteza 92 Para urna auto-estima saudável 92 Estresse 94 Estresse na vida 94 Disciplina 98 Objetivos 98 Como formular objetivos 98 Regras para a boa formulação de seu objetivo 1 00 Ecologia - as vantagens e desvantagens de seu sonho 1 02 Os recursos necessários 102 As limitações 1 02 Motivação 1 03 Persistência 104 Autocontrole 104 Estratégia de criatividade de Walt Disney 105 Controlando estados internos 108 O consciente e o inconsciente 11 O Congruência e conflitos 111 O inventário de um estado 112 Para não agir emocionalmente 114 Tomar responsabilidade para o que está sentindo 115 Para resolver padrões repetitivos e autodestrutivos 116 Método 116 Nossos valores 122 Reconhecendo seus valores 125 Valores do trader Descobrindo sua hierarquia de valores Mudando valores Resolvendo conflitos CAPÍTULO 3 125 126 130 131 O barco e o sistema 13 7 Seu sistema 137 O que funciona para você? 138 Quanto capital você tem? 138 Quanto quer perder? 138 Quanto quer perder por operação? 138 Onde quer perdê-lo? 138 Quanto tempo você tem disponível? 139 Quanto risco quer assumir? 139 Seus objetivos 140 Sua visão do mercado 141 Suas preferências pessoais 141 O "0-0-D-A" Loop 142 O OODA Loop do Coronel Boyd 144 Boyd 1 : Orientação 144 Nossa percepção de valor 145 Pensamento relativo 148 Inclinação e percepção 150 Nossa percepção de valor no tempo 151 Inclinações comportamentais - a ilusão de inteligência 153 Inclinação de ter que entender tudo 154 Ilusão da previsão 154 Ilusão da primeira impressão 1 55 Inclinação ao perfeccionismo 155 Ilusão de que informação é poder 156 Inclinação ao excesso de confiança 156 Ilusão de controle 157 Ilusão da responsabilidade e segurança em números 157 Inclinação conservadora 157 Ilusão de representação 158 Inclinação para crer na lei de pequenos números 159 Inclinação da hipótese 160 Ilusão de que entendemos probabilidade e chance 160 Inclinação de ver rostos nas nuvens 161 - Inclinação do jogador Ilusão de que mais é melhor Inclinação ao otimismo Inclinação do kamikaze ou Bambi Inclinação à retrospecção Inclinação à superstição Inclinação ao status quo Inclinação a recuperar Conclusão Prejuízos Arriscando mais Falta de confiança no sistema Inabilidade de lidar com perdas Formas de enquadrarprejuízos Irreais Temporários Porcentagem Tempo Prejuízo explicado A realidade dos prejuízos Drawdown - prejuízo pico-fundo Boyd 2: Observação O sistema observa o ambiente ... ... e você observa o sistema ... ... e os resultados da interação do sistema com o ambiente Nada vive para sempre Vigie seu capital Média móvel Desvio-padrão Volatilidade Avaliação Seu sistema l - Estratégia de entrada 2 - Estratégia de saída Ostop-loss Trailing-stop Tempo-stop Stop-lucro Sempre dentro 162 162 163 164 165 166 167 167 168 168 168 169 169 170 170 170 171 171 172 173 173 174 174 175 176 176 177 178 178 178 179 179 179 180 180 181 182 182 182 3 - Estratégia de controle de risco 182 Diversificação 182 Reduzir sua alavancagem 183 Os números do sistema - estatística 184 Esperança matemática 184 Unidades de risco 186 Calculando o tamanho adequado para posições 187 Conclusões 192 Body 3: Decisões 1 94 Tipos de decisões 194 Direcionais 194 Estratégicas 194 Comportamentais e operacionais 194 Decisões intuitivas 194 Decisões analíticas 196 Tabela de vantagens e desvantagens 196 PNI - positivo, negativo, interessante 196 O burro de Buridan 196 OMatrix 196 Intuição educada 198 Como educar sua intuição 199 Boyd 4: Ação 200 Resultados da ação 201 Manter uma agenda diária 201 Como me sinto hoje? 201 O que vou fazer hoje? 201 O que está acontecendo nos meus mercados hoje? 201 O que está acontecendo com minhas posições abertas? 201 Para cada operação 202 Razões técnicas para entrar ou sair 202 Estado emocional 202 Stop 202 Resultado 202 Avaliação técnica do trade 202 Avaliação emocional do trade 202 Revisão periódica 203 Mãos à obra 203 - Capítulo 1 O mar e o mercado Introdução Para usar uma metáfora, vamos dizer que o trader é como o capitão de um barco. Da mesma maneira que todo bom capitão precisa de um bom bar- co e uma boa tripulação, todo bom trader precisa de um bom sistema e uma boa mente. O "barco" (sistema) pode ser um supertanque de 200m ou um bote inflável de borracha, e a "tripulação" (mente) pode variar en- tre o capitão, armado com seis latas de cerveja e uma vara de pescar, e os 6.000 marinheiros treinadíssimos do porta-aviões USS George H. W. Bush . Não importa que "barco" usa ou o tamanho da "tripulação", o im- portante é que ambos estejam adequados para cumprir os objetivos da "missão". Se você comprou este livro, suponho que já foi mordido pela facilidade com a qual algumas pessoas ganham dinheiro na Bolsa, e agora você tam- bém quer tentar sua sorte. Se for o caso, você vai precisar de uma tripula- ção tão bem preparada, motivada e "letal" quanto às centenas de homens e mulheres lutando dentro do mais moderno navio de guerra. E não se iluda, se você pretende operar no mercado, a guerra está aonde você vai! Na guerra, o vencedor geralmente acaba com um monte de prisionei- ros. A Convenção de Genebra exige que sejam bem tratados, e, hoje em dia, bons moços como os americanos não matam -tirando o ocasional tali- bã ferido ou o soldado canadense - ninguém. Até dão comida quente e ma- cacões laranjas de grife. O mercado financeiro é diferente. Não toma pri- sioneiros. E esquece de comida e roupa. Dada a chance, e sem um pingo de dor, tirará a camisa de suas costas e o deixará sem um tostão para comprar um misto-quente. 2 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Operar no mercado financeiro é como uma batalha naval sem as regras da Convenção de Genebra. Somente os melhores navios, com as mais trei- nadas, agressivas e motivadas tripulações sobrevivem, e mesmo assim nem sempre! Um só erro do capitão, ou um míssil inesperado, mesmo um sub- marino nuclear vai para o fundo do mar. A primeira parte deste livro fala desse mar, usando-o como uma analo- gia do mercado. Não são muitas páginas porque não há muito o que um ca- pitão possa fazer a respeito, somente aprender a lidar com ele. Nenhum capitão o controla, assim como nenhum trader, nem com tanto dinheiro quanto gotas de água nos sete mares e em todos os oceanos, controla o mercado financeiro. A segunda parte do livro é a maior. Refere-se à tripulação - a mente do investidor, seu "lado emocional". Já existem centenas de bons livros e cur- sos abordando o "lado técnico" e, em um deles, alguém disse que não são os sistemas que ganham dinheiro, mas os traders. Nós, então, nos concen- traremos no trader e em sua mente. O final do livro é sobre barcos: sistemas. Têm barcos de todos os tipos. Barcos rápidos e lentos. Barcos grandes e pequenos. Barcos com motor e sem. Barcos para divertir-se e para trabalhar. Assim como, algum enge- nheiro, em alguma parte, desenhou um barco para fazer exatamente o que é que o capitão quer fazer: passar uma tarde aterrorizando peixes perto da costa, ou trazer milhas de toneladas de bugigangas valendo R$1,99 para o Brasil. Da mesma maneira, existem milhares de tipos de sistemas - ou méto- dos - para operar no mercado. Você pode usar seus olhos e sua intuição ou um computador. Fazer day-trade, swing trade, scalpar ou operar com posições que duram semanas ou meses. Usar gráficos, indicadores, algo- ritmos matemáticos,_ "candle-sticks" ou pontos e figuras. Analisar balan- ços de empresas e notícias, seguir astrólogos, videntes, as dicas de "ex- pertos" nos jornais ou boletins na Internet. "Investir" ou "treidar". Com- prar ações, moedas, comprar ou vender contratos no mercado de futuros ou de opções, apostar nas diferenças entre preços com contratos de dife- rença, "spread-betting" ou simplesmente comprar um bom fundo e es- quecer de tudo. Não importa o que o capitão quer fazer, precisa de um barco para le- vá-lo entre o ponto A e o ponto B, entre onde está agora e onde quer estar em 20 minutos ou 20 anos. Se você, capitão, pretende "velejar" no mercado, é importante construir um bom barco e treinar bem sua tripulação. Esse é o objetivo deste livro. O mar e o mercado 3 11 Aqui há monstros!" O capitão tem uma bateria de equipamentos tecnológicos à mão. Tem rá- dio, radar, sonar, posicionamento por satélite, telex, fax, informação imediata sobre os ventos e os mares. Mesmo assim, e ainda hoje no século XXI, uma vez fora do porto e no mar aberto, ele enfrenta o grande desco- nhecido. Nos últimos 20 anos, mais de 200 supertanques, aqueles grandões de 200m que sempre conseguem naufragar perto dos litorais mais lin- dos, saíram de um porto para nunca mais voltar. Só em 2003, 211 na- vios desapareceram. Vinte e quatro deles tinham mais do que 100m de comprimento. O que aconteceu? E o que tem isso a ver com investimentos? Primeiro, esses barcos tinham as melhores informações e equipamen- tos de navegação disponíveis. Fizeram tudo "certo". Seguiam uma rota pré-planejada que provavelmente eles e/ou muitos outros haviam feito muitas vezes antes. Tinham tripulações experientes e barcos em boas condições projetados para fazer o que estavam fazendo e enfrentar as condições que esperavam enfrentar. Mesmo assim, lá em alto-mar, en- contraram algo que acabou com eles. O mesmo pode acontecer no mer- cado. A qualquer momento, quando você menos espera, algo "imprová- vel" pode destruí-lo. Bom, você não, mas seu dinheiro ou seu estado psi- cológico. Felizmente existe uma grande diferença entre o mar e o mercado. O trader pode sair do mercado a qualquer momento. Talvez não nas condi- ções que gostaria, e possivelmente mais pobre que antes, mas pelo menos vivo. A qualquer momento pode apertar o botão, ou chamar o corretor e gritar: "Vende!" (ou "Compra!"). O capitão doMünchen, um supertanque do tamanho de dois campos de futebol e meio, que todos disseram que era impossível afundar, e que afundou no dia 7 de dezembro de 1978, não ti- nha essa possibilidade. E, segundo, esses barcos não foram vítimas de OVNis, do Triângulo das Bermudas ou de polvos gigantes carnívoros. Foram afundados por on- das chamadas "tsunamis". Mas, você pergunta novamente,o que tem isso a ver com investir? Estou chegando ... O mar, como o mercado, geralmente se comporta como imaginamos. Podemos imaginar que a curva do tamanho das ondas segue uma "distri- buição normal". A grande maioria das ondas são de tamanho "médio", di- gamos, de três a oito metros. Poucas vezes esperaríamos ondas gigantes 4 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Distribuição "Normal" Sem onda Tamanho médio Tsunami como tsunamis, ou que o mar tivesse o aspecto de um espelho, sem onda nenhuma. Observe o diagrama. Na verdade, até recentemente, pensamos que tsunami era o produto de filmes de Hollywood ou de muito rum e alucinações inebriadas de mari- nheiros que passam muito tempo olhando para o mar. Mas, um estudo que durou três semanas e colheu mil imagens do mar por satélite encontrou 10 tsunamis de mais de 25 metros de altura. Dez. De 25 metros! Quase um prédio de dez andares! Assustador. De fato, calcularam que uma onda de tal tamanho só deve existir uma vez em cada 10.000 anos. Como explicar 10 em três semanas? Facilmente. No mar, como no mercado, o inesperado acontece mais que esperamos. A distribuição real não é tão "normal". Há "galos" nos extremos - eventos extraordinários que acontecem com mais freqüência que deveriam. Há pessoas que dizem que o mercado funciona de maneira aleatória, que as oscilações dos preços seguem um "random walk", como os passos de um bêbado voltando para casa ziguezagueando pela calçada. Dizem que podemos "perceber" tendências em sua trajetória descontrolada entre um lado da calçada e o outro, mas nos asseguram que não são. É simplesmente o bêbado tentando achar seu equilíbrio. Se o mercado fosse 100% aleatório, seria muito difícil, senão impossí- vel, ganhar dinheiro. Na melhor hipótese, o trader poderia empatar, mas, como teria que pagar seu corretor, acabaria perdendo. Até hoje ninguém de- senvolveu um sistema que ganhasse dinheiro jogando com números aleató- rios, por isso há tantas loterias. Somente o governo ganha toda semana! Por que será que alguns traders "parecem" ganhar consistentemente, então? Uma explicação seria que são sortudos. São os campeões de "jogar moedas". Num campeonato de um milhão de pessoas, uma vai tirar cara (ou coroa) 20 vezes seguidas. As outras 999.999 vão pensar que o ganha- dor é um deus, querer saber como o fez e que sistema usou. Ele, ou ela, O mar e o mercado 5 também pode começar a pensar que é um deus e procurar explicar como o fez. Possivelmente vai vender cursos do estilo: "Como ganhar um mi- lhão de dólares jogando moedas". Se traders ganham porque são sortu- dos, este livro não vale nada. Jogue-o no lixo e não perca tempo lendo-o. Uma outra explicação seria que os movimentos do mercado não são completamente aleatórios. Acho que ninguém que operou por mais de uma semana discutiria que o mercado passa muito tempo fazendo coisas "aleatórias". A maior parte do tempo ele ziguezagueia como nosso bêba- do, por cima e por baixo, "congestionado". Apesar dos esforços da CNN, Globo e dos exércitos de analistas e economistas a explicá-lo, ninguém sabe por que ABCD4 subiu 1 % ontem e caiu 1,2% hoje, quando nada ex- traordinário aconteceu nas últimas 24 horas. O mercado passa a maior parte do tempo não fazendo nada previsível e de repente - boom! - como uma tsunami, algo inesperado acontece e a Bo- vespa vai de 1 O. 000 a 25. 000 em um ano. A mentalidade "da manada" toma conta do mercado e cria uma tendência. Quando isso acontece, algumas pes- soas fazem duas operações no Índice Futuro, uma de compra e outra de ven- da e ficam muito, muito ricas. Outras passam o ano todo fazendo day-trade, entrando e saindo do mercado, só para empatar. Elas não ganharam nada, mas seus brokers compraram novos carros com as comissões! Como tsunamis no mar, tendências acontecem com mais freqüência que deveriam. Observe o gráfico abaixo, que compara os movimentos diários da Bovespa entre janeiro/2000 e agosto/2005 com movimentos aleatórios. 0 •ia o, eor.:================::::::::--------------~ ~ 50 Bovespa variações vs RandomWalk la > ~ 40W===========~-~.-----'-I.---------------J = 'lJ ~ 3Q-l--------------VI--Hfl-½ll-tlll-------------------l ~ 1l o 111 20-l---------------~++---+--IU-lll,4---------------i õ Médio= 0,05 oi Desvio padrão= 1,89 '5-10-1----------------f-l,-----~-lrll--+--------------i ~ Cb o o 6 'f 'f í o o q_ f 'r '? o o o o o ~ o a o o o o o o a f 1 i f o N M ~ ~ ~ ~ ro m o Variação Diária (%) --Bovespa variação diária. 01 /00-08105 · · · · · Distribuição normal com mesma média e desvio-padrão 6 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS As formas dos gráficos são similares, mas não são iguais. A da Bovespa é mais baixa e mais "gorda", mostrando claramente como eventos menos prováveis acontecem com mais freqüência que deveriam, se seguissem um "random walk". Operar é como surfar. Precisa-se de ondas. Podem ser grandes ou pe- quenas, mas tem que ter ondas. Operando com papéis, futuros ou opções, entrando e saindo de posições em minutos, dias ou meses, você precisa "sur- far" as tendências - os momentos não aleatórias - para ganhar dinheiro. Assim como uma onda tem que durar o suficiente tempo para um surfis- ta pegá-la, subir na prancha e gritar "yahool!" antes do "wipeout" inevitá- vel, uma tendência tem que mover o mercado o suficiente para que um tra- der perceba o movimento, abra uma posição e saia com um lucro que com- pense o esforço - e claro, que pague as mensalidades do carro do corretor! Recapitulando: 1. O mercado, assim como o mar, representa o desconhecido, o ris- co. São maiores que você. Existiram antes de você e existirão de- pois. Você é insignificante ao lado deles e não adianta querer do- miná-los. Vá com eles e não brigue contra suas forças. O mar pode afundar seu barco e o mercado, sua conta. 2. O mercado, assim como o mar, fará o que fará, independentemen- te do que você acha que deveria fazer. Não precisa entender "o porquê" de algo, só aceitar que "é" e aproveitar. 3. Sabemos o que o mar e o mercado fizeram e o que estão fazendo. Mas nunca podemos dizer com 100% de certeza o que farão. 4. Eles nem sabem que você existe e nem farão nada porque é o que você precisa naquele momento. Não se interessam por quem é, onde nasceu, a cor de sua pele, o que sabe, quantos diplomas tem ou quem é seu papai. Eles não querem "pegá-lo", nem vão provi- denciar o que acha que "merece" simplesmente porque você é você. Mas, se tem habilidade e paciência, conseguirá o que quer. 5. No mercado, como no mar, as coisas menos esperadas acontecem mais do que você esperaria. 6. Para sobreviver no mercado, como no mar, o trader precisa tomar muito cuidado, conhecer seus limites e os limites de seu "barco" e sua "tripulação". Não adianta querer velejar ao redor do mundo se você nunca saiu da baía de São Vicente. 7. Da mesma maneira que George Clooney foi para o fundo do mar no filme "Mar em Fúria", impaciência e avidez podem afundar o --- O mar e o mercado 7 barco de um trader, enquanto paciência, inteligência e cautela po- dem encher os porões com atum. 8. Diferentemente do mar, você pode sair do mercado no momento em que percebe que pisou na bola. No mar só resta rezar. 9. No mercado, como no mar, rezar não é uma boa estratégia por- que Deus raramente ouvirá suas orações acima do barulho da tempestade! Características de um náufrago Para um capitão, aventureiro, que pretende fazer mais do que levar alguns amigos para pescar, aos domingos, há certas características que podem ser fatais para ele, seu barco e sua tripulação. 1. No mar, capitães estressados afundaram muitas embarcações. Na terra, investidores estressados pagam as elevadas mensalidades das escolas privadas dos filhos de outros investidores menos estressa- dos. O estresse mata, literalmente. Numa situação estressante, quando sofremos muita pressão, a mente focaliza o "importante". Mas isso era interessante e útil na Idade da Pedra, tantoque, ao aparecer um jaguar, nossos antepassados que contemplavam a be- leza das flores, os cantos dos pássaros e os mistérios da vida, aca- bavam na "churrasqueira" neolítica. Aqueles que focalizavam a ameaça, e como escapar dela, reproduziram, multiplicaram e evo- luíram até produzir você! Hoje, esta habilidade instintiva de focalizar a ameaça e ignorar tudo no ambiente que não tem relevância à sobrevivência imediata ainda serve em muitas situações - para evitar um acidente de carro na estrada, por exemplo. Entretanto, em outras, atrapalha. Quan- do a empresa na qual você investiu seu 1J~ acaba de anunciar pre- juízos recordes, e o preço está caindo como uma pedra, focalizan- do na ameaça - sua pobreza inevitável - não ajuda você a tomar uma decisão inteligente. E é neste momento que você precisa abrir sua mente, coletar todas as informações disponíveis, prestar aten- ção aos detalhes, formar o "Big Picture" e tomar sua decisão de- pois de avaliar a situação com frieza absoluta. 2. Capitães pessimistas não fazem bons navegadores. Imagine Co- lombo, sentado na praia em Portugal, contemplando sua viagem até as Américas, pensando o seguinte: "Putz, é muito longe. E pa- 8 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS rece que vai chover. E se o barco afunda? Se pegarmos tempesta- de? Se acabar o vinho? E se o sal estraga meu cabelo? E se o mundo não é redondo e cairmos? E mesmo se fosse redondo, quem disse que a América realmente existe? E eu? Será que sou capaz?" Inves- tidores com uma visão negativa do mundo e de si não dão certo. 3. Do outro lado da moeda, imagine o que poderia ter acontecido se Colombo falasse para seu chefe a bordo: "Três meses de arroz com feijão?!? Para que você quer tudo isso? Chegaremos em uma sema- na ou eu não sou um português!" Além disso, pense na guerra do Iraque. Você se lembra do nosso bom amigo comandante ditador Sadam Hussein? Aquele do bigode, que prometeu dar um chute no traseiro de meio milhão de tropas americanas? O que aconteceu com ele? Vítima das próprias crenças infladas. O mercado também é uma espécie de guerra. Analisemos os dois lados. No canto "azul" temos ... você! "Sardinha!" Sentado aí em casa, com um Pentium PC, uma conexão banda larga e um serviço de cotações real-time, as poupanças (para as quais suou anos para ganhar), um diploma de "análise gráfica" e uma prateleira de livros traduzidos do inglês. E no canto "vermelho" (a cor do sangue - seu sangue!) temos os "tubarões" dos bancos e das corretoras, com seus PhDs, suas salas cheias de computadores dos mais rápidos e moder- nos do mundo, as centenas de relatórios que lêem a cada dia e o exército de escravos (analistas e economistas) que trabalha dia e noite somente para eles. Ah! Ia me esquecendo! Não mencionei os núlhões e milhões de dólares à sua disposição que, por sinal, não são deles, então o pior que pode acontecer com eles quando o pior acontece com seus fundos é que perdem seus trabalhos. Numa luta "justa", em quem você apostaria? Na sardinha ou nos tubarões? A luta entre Davi e Golias vem à mente. Golias sofria de um excesso de confiança, e Davi tinha algo que Golias não espe- rava -uma funda. O que você tem? Ao menos que desenvolva uma arma como a de Davi, o que pretende fazer contra os Golias dos mercados? Se você padece de um excesso de confiança, mais vale doar um cheque (assina, mas deixe o valor em branco) a um daque- les rapazes que trabalha na BMF. Dê para qualquer um que tem crachá e aquele olhar fundo e escuro de predador sem consciência - porque eles vão pegá-lo de qualquer jeito. 4. E um capitão com "problemas" tem uma grande chance de acabar nas pedras. Conflitos internos não são úteis na tomada de boas de- O mar e o mercado 9 cisões. E não estou falando de esquizofrenia ou doenças mentais precisando de medicamentos, mas dos conflitos que todos temos. Por exemplo, se quer ser rico, mas teme perder seus amigos ou que sua família pense que você é arrogante. Se gostar de risco, mas não de perder. Se quer seguir seu sistema, porém, na dúvida, fecha uma posição. Se ainda não recebeu sinal para sair, mas sai porque já tem R$1.000 de lucro e não quer vê-lo diminuir. Ou se sabe que preci- sa usar um sistema para operar, mas não tem paciência para desen- volver um ... você tem "problemas"! Também imagine que acaba de fazer um curso, e está ansioso para usar seus novos conhecimentos. Sabe que deve testá-los antes, mas não o faz porque não quer perder tempo nem oportunidades. Ou que analisou uma empresa e comprou ações. O preço está cain- do e sabe que deve vender, mas fazer isso seria admitir que errou, e tem certeza de que tem razão. Ou que testou seu sistema e sabe que dá lucro, mesmo com 60% dos trades perdendo e 40% ganhando. Você começa a operar e a primeira operação dá lucro, mas, quan- do as próximas quatro dão prejuízo, abandona o sistema. Ou, ain- da, agüenta bem perder R$10.000 na Bolsa, mas briga por um erro de R$1 O na conta de um restaurante. Este tipo de comportamento é um sinal de que tem conflitos internos a resolver. 5. Assim, como o capitão é o único responsável pelo navio, o trader é por sua conta. Se o barco afunda, perde um contêiner ou fica per- dido no oceano, a culpa é do capitão, e só dele. Um investidor que segue o conselho de seu corretor, de um bo- letim de investimentos, de uma dica de um amigo ou de um jornal e, como conseqüência, perde dinheiro é responsável pela perda. Tudo bem, a informação foi furada, e isso não é culpa do investi- dor, mas a parte importante - a decisão de aceitar a informação e agir - foi. Mesmo comprando um fundo que implode seis meses mais tarde, a responsabilidade para o prejuízo é do investidor. Ele não fez o que tinha de fazer para proteger seu capital e minimizar as perdas. Não concorda? Tudo bem. A culpa não é sua! Mas pen- se ... se a culpa não é sua, não tem nada que possa fazer para evitar que a coisa aconteça novamente. 6. O capitão que sai sem rota planejada, sem mapas, e sem bússola, está chamando desastre. Qualquer um concordaria que, no míni- mo, é um irresponsável e, no máximo, um imbecil. Da mesma ma- neira, um trader que não tem um sistema- um método objetivo - é como um capitão de um iate sem vela e timão. 10 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS 7. Cabral não encontrou o Brasil seguindo a manada. Fez algo dife- rente. Tudo bem, ele procurava a Índia e errou na navegação, mas valeu a tentativa. O que importa são os resultados. É melhor estar "errado" e lucrando do que "com razão" e sem lucro. 8. Os capitães dos maiores barcos são os mais organizados. Um inves- tidor desorganizado nas suas ações e pensamentos não pode com- petir com alguém da mesma inteligência que pensa e age de forma organizada. 9. E, se um barco a 3 0km/h leva 200 horas para velejar 6.000km, não adianta o capitão querer chegar mais rápido, só vai queimar os mo- tores, acabar com o combustível ou decepcionar os clientes. Além disso, 6 milhões de barris de petróleo não cabem num supertanque com capacidade para cinco, mesmo empurrando com força. Pro- meter entregar um contêiner de bananas maduras daqui a uma se- mana na Austrália é sem sentido. Ganhar Amir Klink na volta ao mundo imediatamente depois de terminar seu curso básico de Hobbycat é pouco realista. Tornar R$1.000 em 1 milhão em um ano também é difícil. Objetivos irrealistas acabam em frustração, impaciência, decisões ruins e estresse. Cuidado, disse objetivos "ir- realistas", não disse "grandes". Nada é impossível! O que é risco? Já dissemos que entrar no mar, ou no mercado, é ir em busca de risco, de um futuro desconhecido e imprevisível. Mas tem risco por todo lado. Faz parte da vida. Viver é um risco, so- bretudo em um país com assaltantes, traficantes e motoboys furiosos, sem mencionar moeda fraca, inflação galopante e economistas em Wall Street que pensam que "América do Sul" é um país e Buenos Aires, sua capital. "Não agir" às vezes compreende tanto risco quanto "agir". Se não nosarriscamos, o risco vem até nós. Não tem jeito de evitá-lo. Evitando um, o outro nos pega! Como o coitado do náufrago, que escapou da panela dos canibais para cair na fogueira. Talvez fogo seja preferível à água fervendo, e eis o problema do risco: é subjetivo. Geralmente, a escolha não é entre morrer queimado ou morrer escal- dado, mas se é melhor comer manteiga ou margarina, comprar um carro branco ou metalizado, ficar no trabalho atual ou aceitar aquela proposta de montar um negócio com um amigo. E como explicar o motoboy que ar- risca a vida a cada dia nas ruas de São Paulo, mas tem medo de viajar de O mar e o mercado 11 avião? Ou o investidor que tem medo de operar com minicontratos no ín- dice futuro, onde um grande lucro ou prejuízo seria R$500, mas dorme tranqüilamente enquanto seu fundo indexado oscila entre R$1.000 e R$2.000 diariamente? Avaliamos risco subjetivamente. Há risco que temos de enfrentar porque é inerente às atividades que fa- zemos em nosso dia-a-dia e risco que procuramos, podendo evitá-lo se de- sejamos. Pescadores "têm de" arriscar suas vidas no mar, motoboys, no trânsito de São Paulo e executivos, na ponte aérea. Assim como quem precisa sacar dinheiro de um caixa eletrônico à meia-noite ou viajar de carro enfrenta risco, o dono de uma bicicleta também enfrenta o risco de ser roubado. Desde nossos antepassados, que colocavam suas vidas em risco cada vez que saíam de suas cavernas, porque, se não saíssem, eles correriam o risco de morrer de fome, estamos obrigados, às vezes, a conviver com o risco se que- remos fazer algo. Mas podemos minimizá-lo. Assim, nossos antepassados saíam em bandos armados até os dentes; pescadores usam salva-vidas e não saem quando a meteorologia prevê um furacão. Motoboys dirigem com cui- dado e protegem seus cotovelos com seus capacetes, executivos, pegando a ponte aérea, evitam companhias cujos aviões caiam com freqüência, moto- ristas utilizam carros com airbags, ABS e barras laterais e o dono de uma bici- cleta usa corrente e cadeado. E quem saca dinheiro de um caixa eletrônico à meia-noite num bairro perigoso? Geralmente, podemos dizer que fazemos de tudo para minimizar nossa exposição aos riscos que conhecemos. E há outros riscos que enfrentamos com prazer. Como, por exemplo, um piloto de Fórmula 1 dirigindo seu carro a 300km/h, um piloto de asa delta fazendo um "loop", um surfista pegando ondas de 5 metros em águas infestadas por tubarões, um alpinista escalando o prédio mais alto do mun- do sem proteção ou um trader comprando 1 O contratos no índice futuro com margem emprestada de seu cunhado. Nestes casos, estamos nos pon- do na boca do leão por razões além da mera sobrevivência. Por que será? Ou não percebemos o risco (somos ignorantes) ou achamos que nossa ha- bilidade o reduziu a um nível aceitável. Mas devemos tomar cuidado porque nossa percepção é distorcida. Vemos o que esperamos, ou tememos, ver. Que tem isso a ver com o investidor ou trader? Imagine que você tenha R$100.000 para gastar. Qual dessas duas op- ções você escolheria? 1. Comprar um apartamento abaixo do preço do mercado por R$100.000 sabendo, com certeza absoluta, que conseguirá ven- dê-lo um mês mais tarde por R$109.000. 12 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS 2. Comprar 1.000 ações de BBDO4 por R$100 cada, calculando que exista uma chance de 80% de que subam para R$113 num mês (no qual você as venderia) e uma chance de 20% de que elas fiquem empatadas. Qual? Agora, digamos que comprou 1.000 BBDO4, achando que iria subir de R$100 para R$113. Infelizmente, no final do mês, estão valendo R$92. Você tem duas opções. Qual você prefere? 1. Vender imediatamente com R$8.000 de prejuízo. 2. Esperar umas notícias importantes que deveriam sair no dia seguin- te. Você calcula que tem uma chance de 10% de que as notícias serão boas e que o preço dará uma virada e voltará para R$100. Do contrário, o preço cairá rapidamente até R$90 onde você venderá. Qual? No primeiro caso, se você escolheu o apartamento e o dinheiro "na Bolsa", você está evitando o risco. Matematicamente falando, escolher o apartamento é irracional. De um lado, você tem um lucro garantido de R$9.000. Do outro, tem uma probabilidade de 80% de um lucro de R$13.000 e de 20% de nada, ou seja, um ganho esperado de [0,8 x 13.000] - [0,2 x O] = R$10.400. É "melhor" arriscar nas ações de BBDO4. Neste caso, enfrentando uma decisão entre o lucro seguro e o lucro provável maior, proporcionando uma aposta "inteligente", você percebeu o risco da aposta como algo negativo/indesejável. Preferiu não apostar. O medo de perder o que tinha influenciou a sua decisão. Você prefere perder uma oportunidade. No segundo caso, se você decidiu esperar as notícias na esperança de que a situação melhore, você percebe o risco como algo positivo/desejável. Matematicamente falando, esperar as notícias é irracional. O prejuízo seguro é de R$8.000, mas, se esperar as notícias, em média o prejuízo é de [0,9 X 10.000] - [0,1 x O] = R$9.000. É "melhor" aceitar o prejuízo e vender na hora. E, para evitar um prejuízo seguro, você está disposto a fazer uma apos- ta pouco inteligente, vendo o risco como algo que pode melhorar uma si- tuação desfavorável. O medo do prejuízo e seu desejo de sair ileso coloca- ram-no em mais perigo ainda. A lição aqui é que existe risco em toda parte. Evitá-lo em algumas situa- ções e procurá-lo em outras, pode aumentar ou diminuir seus lucros consi- O mar e o mercado 13 deravelmente. Um investidor que segue seus "instintos" nas situações aci- ma ganharia bem menos e perderia bem mais do que um investidor que pensa um pouco antes de agir. Resumindo: 1. Geralmente vemos risco como algo negativo a ser evitado. Às ve- zes é e, outras, não. 2. Risco é subjetivo. O que é arriscado para você pode não ser para mim. Muito depende de nossos conhecimentos e habilidades. 3. Risco é difícil de avaliar. Nossas emoções e instintos distorcem nossa percepção. 4. Voltando ao capitão: em lugar de se preocupar com todas as coisas terríveis que o mar pode fazer com seu barco, seria melhor prepa- rar-se para elas. Assim, ele não precisa evitá-las, saberá o que fazer se acontecerem. O investidor, em lugar de perguntar: "O que vai fazer o mercado hoje?", pode perguntar-se: "O que eu vou fazer hoje se o mercado fizer tal?". Lidando com o risco Vamos sair da água e falar um pouco do ar. Devo admitir que não sei gran- de coisa sobre barcos. Voar é ínerentemente arriscado. Sempre foi, sempre será. Não é natu- ral para um ser humano. Se Deus quisesse que o homem voasse, teria nos dado asas. Temos pés. Mas isso não nos impediu, e, hoje, voar - de avião comercial, claro -é uma das formas mais seguras de viajar. A probabilida- de de estar num acidente de avião é de 1 em 11 milhões! Compare isso com a chance de morrer num acidente de carro, que é de 1 em 5 .000. Agora, voar de paraglider não é tão seguro. Em 2002 houve 46 acidentes e 7 mortes reportados nos Estados Unidos. OK! Sete mortos não é nada com- parado com o número de mortos em um só acidente de avião, mas, compa- rando o número de pessoas que voam de avião a cada dia com o número de pessoas que voam de paraglider, ocorrerem 7 mortes em um ano é bastante. Numa calculadora de risco que achei na Internet, acabei de saber que, baseado no meu perfil de piloto, tenho uma grande chance de estar num acidente nos próximos cinco anos. Agora, para ter a mesma chance de estar num acidente de avião teria de voar todos os dias, durante 15.000 anos! Por que tanta diferença? Porque as empresas comerciais gerenciam os riscos muito melhor que os pilotos de paraglider. Elas investigam cada in- 14 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS cidente - não importa quão pequeno - detalhadamente, para aprender o que aconteceu, por que aconteceu e como evitar que aconteça novamente. Depois publicam o que encontram e circulam as informações. Esses relató- rios identificam as fontes de riscopara aqueles que ainda não vivenciaram as circunstâncias do acidente, assim permitindo que eles também possam tomar providências antes de algo acontecer. E, ao contrário, depois de quase quebrar o pescoço, alguns pilotos de paraglider se divertem contando a sua história para os amigos explicando como, graças a sua habilidade, e, sobretudo, à sorte, escaparam das mandí- bulas da morte. De fato, para eles, um incidente só é um incidente digno de investigação se resulta em um osso quebrado ou morte. Em geral, não gos- tam de falar muito de acidentes. É preferível fingir que não sabem de nada, cruzando os dedos e confiando que nada parecido acontecerá com eles. Algo como uma aterrissagem onde o piloto, freando para pousar, cai de mau jeito e torce o pé quando desvia de uma linha de pipa no último mo- mento, é simplesmente má sorte. Pode ter acontecido com qualquer um. O piloto explica que o acidente se deve a uma combinação de coisas sobre as quais não tinha controle. Não foi culpa dele, foi culpa da pipa. Claro ... As companhias aéreas pensam de outra maneira, levam tudo a sério. Quanto tempo um trader com uma atitude como o piloto de paraglider pode espe- rar sobreviver no mercado? Enfrentamos e gerenciamos riscos continuamente em nossas vidas. E como, geralmente, nada ruim nos acontece, nos achamos bons em fazê-lo. Na verdade não somos. Nem sabemos realmente o que é "risco". Intuitiva- mente pensamos que existe um vínculo entre "medo" e "risco". Quanto mais medo, mais arriscado. Mas será que o medo é um bom indicador? Se tivermos medo de altura, devemos voar mais perto do chão? No caso do paraglider, quanto maior a altitude, menor o risco. Não é uma queda que mata, é o contato com o chão! Agora, você, trader, será que o medo que sente quando pensa a respeito de uma oportunidade que observou no mer- cado é uma boa indicação do risco associado? E, mesmo se for o caso, será que deve evítar esta oportunidade e procurar uma que dê menos medo? Como saber? Interessante dílema ... Otimismo Outra coisa que complica nosso juízo é o otimismo. Temos a grande tendên- cia de subestimar o risco e superestimar as nossas habilidades. Sobretudo os pilotos de paraglider -que acham "seguro" voar a 1.000m de altura embaixo O mar e o mercado 15 de uma lona de náilon - e traders que acham que vão ficar milionários operan- do no mercado de futuros ou opções com pouco capital. Não há nada errado com o otimismo. Sem ele não haveria paragliders, porque os pilotos teriam medo de cair; e não haveria mercado, porque os traders teriam medo de per- der dinheiro. Otimismo é bom - quando se tomam em conta os riscos. Conseqüências O medo não é a melhor forma de avaliar um risco. Nem no mercado nem no ar. Uma forma bem mais útil de avaliar o risco é a de pensar em termos de probabilidades e conseqüências - a combinação da probabilidade de que algo aconteça e a conseqüência se acontecesse. Obviamente, é raro ter- mos informação suficiente para poder quantificar com muita precisão a probabilidade de encontrar uma turbulência que desinfla um paraglider, ou a de investir numa empresa que venha a falir de um dia para outro, mas geralmente sabemos se é "grande" ou "pequena". É muito mais fácil quantificar as conseqüências. Por exemplo, a proba- bilidade de encontrar uma turbulência mortal num dia ensolarado en- quanto voa num morro em frente à praia pode ser "pequena", mas as con- seqüências, fatais. Isso faz com que o risco seja importante. Por outro lado, a probabilidade de ter de pousar sem vento pode ser "grande", mas, como as conseqüências- raspar o joelho ou torcer o pé -são "pequenas", o risco também será. É igual no mercado: podemos não temer que uma empresa venha a falir do dia para a noite porque calculamos que a probabilidade seja minúscula. Mas, se colocarmos todo nosso dinheiro nela, e acontece, o risco é importante. É nosso dever fazer o possível para minimi- zar as conseqüências- diversificando o portfólio ou limitando os prejuízos. Vejamos uma história para ilustrar. Num jantar de pessoas de merca- do, todos os convidados sabiam que um famoso gerente de fundo manti- nha uma posição importante vendida. Uma jornalista lhe perguntou, como sempre fazem: "Que vai fazer o mercado?" O gerente respondeu que pro- vavelmente iria subir. Um colega ouviu, e disse: "Você tá louco? Acha que o mercado vai subir, mas está vendido?" O gerente respondeu: "Acho que provavelmente vai subir. Se subir, não será muito. Mas, se cair, vai ser feio." Para ele, a "probabilidade X conseqüências" de subir era menor que a "probabilidade X conseqüências" de cair. A posição mais "congruente" era vendida. Faz sentido? Calcular probabilidades é ótimo para riscos que conhecemos e enten- demos, mas a maioria dos acidentes de paraglider, de avião, de ônibus es- 16 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS pacial, de robô marciano e muitos desastres que acontecem com nossas fi- nanças pessoais é causada por riscos que desconhecemos. Como no caso do paulista, piloto de paraglider, que foi voar no Rio pela primeira vez. Não tinha ninguém voando, e o vento estava fraco e soprando, segundo ele, na direção certa. Ele achou que a falta de pilotos no ar era devido a condições não suficientemente desafiantes para os cariocas. Nem pergun- tou porque o céu estava vazio, e decolou. Uma hora mais tarde estava pen- durado numa árvore no meio de uma floresta com uma perna quebrada, enquanto um grupo de pilotos cariocas ajudava os bombeiros a retirá-lo juntamente com os restos de seu paraglider. O que acontecera? Ele calculou que o "risco" era pequeno, mas ignorou que as conse- qüências de um erro seriam grandes. Também desconhecia as rurbulências do lugar produzido por aquele vento fraco. Ele não sabia o que não sabia, e pagou por sua "ignorância". No mercado, experiência, informação e edu- cação podem reduzir a quantidade de riscos desconhecidos, mas nem sem- pre eliminá-la. Fique atento para as coisas que não sabe que não sabe, ou seja, não pense que sabe tudo. Então, como podemos analisar um risco quando nem sabemos que existe? Não podemos. Mas o trader pode controlar as conseqüências de riscos desconhecidos. O máximo que pode perder é o máximo que se dis- põe a perder. O trader controla este valor e pode limitar seus prejuízos fe- chando sua posição em qualquer momento. O piloto não tem as coisas tão fáceis. Quando está no ar, está arriscando sua vida. Margem de erro Uma outra opção de lidar com riscos desconhecidos é a de deixar uma mar- gem de erro. Um piloto de paraglider que nunca conseguiu pousar numa área menor que uma praia inteira deve pensar duas vezes antes de pular de um morro onde a área de pouso tem somente o tamanho de um campo de futebol. A despeito do que disse anteriormente, poucos barcos afundam por causa de ondas. Os engenheiros sabem que a maioria tem menos de 1 O me- tros, então constroem barcos capazes de lidar com ondas de 15. É por cau- sa desta "margem de erro" que o cabo de um elevador desenhado para le- var oito pessoas não estoura quando entram nove. "Sempre cabe mais um", sabem os passageiros. Igualmente, uma margem de erro evita que os aviões caiam do céu mesmo que todos os passageiros levem 25kg de baga- gem quando o limite é 20kg. O mar e o mercado 17 Born, minto. Ouvi que recentemente urn avião caiu nos Estados Unidos devido ao excesso de peso dos passageiros, e não da bagagem. Quando fizeram os cálculos, usaram urna média generosa de 80kg por passageiro, incluindo urna margem grande de erro. Hoje, devido a urna dieta de Coca-Cola e McDonald's, o peso médio de um passageiro americano subiu bastante, bem mais que os 80kg originais. Quem, 20 anos atrás, teria dito que íamos ter urna epidemia de obesidade? Percebeu outro risco desconhe- cido que corn as assunções que você fez para lidar com os riscos conhecidos hoje ficariam inválidas com o tempo? Quando se trata das vidas das pessoas, os engenheiros responsáveis geral- mente deixam urnamargem de erro importante. Disse geralmente. Há uma história famosa do Sr. Ford, o fabricante famoso de Fiestas e Escorts. Dizem que ele ordenou uma enquete para descobrir quais peças nos carros que ele fa- bricava nunca quebravam. Depois, ele reduziu as especificações, e também os custos delas. Não posso afirmar que esta história seja verídica, mas, vendo a quantidade de peças quebrando no meu carro, não duvido nada. Estresse Vamos a uma outra realidade do mercado. Um trader quer estrear seu novo sistema de "cruzamento de médias móveis" com o qual pretende se enriquecer no índice futuro. Para quem não sabe o que é um sistema de mé- dias móveis, o trader fica o dia todo, plantado na frente da tela, seguindo duas linhas coloridas. Uma média móvel do preço de 5 períodos e outra de 15. A média de 5 é mais nervosa e reage antes da média de 15. Ele compra quando a média de 5 cruza a média de 15 de baixo para cima e vende quan- do cruza de cima para baixo. Não usa um stop. Dessa forma, ele acha que mi ficar milionário em um mês. Bom, pelo menos em um ano. Para abrir uma conta em uma corretora, a BMF exige algo como R$30.000 de margem. O trader não é bobo, ele sabe que a margem repre- senta o mínimo que ele deve ter para operar e deposita R$50.000 com a corretora. Senta em frente à tela e espera o primeiro sinal de seu sistema. Calculou que o índice teria que perder algo como 5 .000 pontos para aca- bar com sua conta. Considera isso pouco provável e sente-se confiante. Também sabe que vai perder em pelo menos 50% dos trades, mas confia que os lucros compensarão os prejuízos e que o prejuízo médio será em torno de 300 pontos. Duvida que vai perder 5.000 pontos com 16 trades negativos seguidos. 18 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Um mês e 40 trades mais tarde, ele fecha sua conta com uma dor terrí- vel no estômago, R$30.000 de prejuízos - incluindo os R$7.000 em co- missões que pagou ao seu corretor. Este já viu a mesma coisa acontecer de- zenas de vezes e está muito triste por perder um ótimo cliente, mas muito agradecido com os R$7.000 que ganhou em, aproximadamente, 6 minu- tos e 40 segundos de trabalho ao telefone. Que aconteceu? OK, o sistema não era dos melhores, mas também não era ruim. Deu certo nos testes, e duas semanas depois de fechar sua conta, o trader viu o mesmo sistema entrar em sintonia com o mercado e ganhar 8.000 pontos. Onde errou? Errou no cálculo das conseqüências físicas do risco. Ele não saiu do mercado por causa do sistema nem por falta de di- nheiro, mas pela dor no estômago - o estresse. A probabilidade de enfrentar uma corrida de trades ruins não era grande, mas também não era insignificante, e ele sabia que podia acontecer. Mas as conseqüências-perder R$30.000-foram bem mais dolorosas que imaginara e o risco (probabilidade X conseqüências) maior que ele calculou. Não agüen- tou a pressão. Ignorando o que você pensa de seu sistema, o maior deslize foi o de não deixar uma margem de erro suficiente. Se tivesse financiado a conta com R$100.000, ele teria perdido somente 30% da conta, que de certa for- ma, dá menos "medo" que perder 60%, apesar de ser os mesmos R$30.000. Trinta por cento é um "drawdown" relativamente normal, mas um "draw- down" de 60% é assustador. Possivelmente, no caso de ter operado com R$100.000, ele teria ficado no mercado até o momento em que o sistema es- tourou e ganhou os R$120.000. Alternativamente, se R$50.000 era todo seu capital, poderia ter operado no mini, com contratos menores, em que o balan- ço final dos mesmos 40 trades não teria representado 60% de seu capital. É impossível eliminar todos os riscos de voar e de operar. A única forma seria ficar com os pés no chão ou deixar seu patrimônio num fundo DI. Já dis- se que a experiência, a informação e a educação reduzem a quantidade de ris- cos desconhecidos que os traders e os pilotos enfrentam. Da mesma maneira que um piloto morto não pode praticar mais, um trader quebrado, ou psicolo- gicamente destruído, perde a oportunidade de ganhar a experiência que tanto precisa para reduzir os riscos que enfrentará no futuro. Felizmente, é possível ganhar experiência aprendendo com erros dos outros. O mercado está cheio de traders que pisaram na bola e aprenderam como operar a pancadas. É estú- pido repetir erros que já foram cometidos, e, quando a oportunidade se apre- sentar, converse com quem já viveu situações adversas. Porém, aprender das experiências dos outros tem limites. Se não fosse o caso, todo o mundo seria um bom piloto ou trader simplesmente lendo livros. O mar e o mercado 19 Estudar os erros dos outros é útil em que nos ensina o que não fazer. Mas "não fazer" algo é bastante passivo, e ninguém teve sucesso "não fazendo" as coisas. Infelizmente, temos que aprender fazendo também e, isso expõe pilotos e traders à Terceira Certeza Humana. As duas pri- meiras são que temos de pagar impostos e vamos morrer. A terceira é que traders e pilotos vão cometer erros. Pilotos vão se machucar (ou pelo menos passar por algumas situações aterrorizantes), e traders vão perder dinheiro. Voando de uma forma conservadora, o piloto pode aprender com seus erros inevitáveis sem pagar um preço alto demais. Fazer uma manobra nova a 2.000m de altura sobre um lago é uma forma de ganhar experiência com um risco reduzido. No mercado, um trader que limita seus prejuízos inevitáveis com pequenas posições e stops também ganha experiências úteis. Entretanto, se o piloto fizesse a mesma manobra a 300m acima do chão, poderia ser a última experiência de sua vida. Para o trader, como vimos, operando um novo sistema com lotes gran- des no índice futuro é uma forma de destruir sua conta e arruinar sua saúde mental. Reduzir risco implica reconhecer limites e controlar um pouco aquele otimismo patológico de que alguns pilotos e traders padecem - pelo menos até que as evidências comprovem que sabem tanto quanto pensam! Finalmente, para que um erro possa se transformar numa experiência ou aprendizagem, tem de ser reconhecido como tal. Os pilotos bons dizem que a diferença entre um "incidente" e um "acidente" é a atitude. Eles ad- mitem seus erros, analisando suas ações e revivendo a situação até encon- trar formas alternativas de agir que poderiam evitar o mesmo incidente. Os pilotos ruins, ou "machões", não admitem cometer erros. Fazem tudo certo. Seus acidentes são causados por elementos fora de seu controle, como uma mudança imprevisível do vento. E como não têm controle do vento, não têm nada a analisar. E você, que atitude tem frente a seus prejuízos? Reforço variável Voar vicia. E depois de ganhar um pouco de dinheiro "fácil" na Bolsa o mercado vicia também. Por quê? Porque temos a mesma inteligência que as pombas! O psicólogo americano B. F. Skinner ficou famoso com seu tra- balho sobre condicionamento. Ele fechou pombas em caixas e deu comida para certos comportamentos. Inicialmente, ele premiou as pombas com comida cada vez que bicavam no lugar certo. Isso se chama "reforço contí- 20 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS nuo", e elas aprenderam rapidamente. Quando ele retirou a comida, as pombas aprenderam a não bicar mais. Logo ele tentou uma nova experiência, premiando as bicadas com uma taxa variável e dando comida de forma intermitente, em média, a cada X bicadas ou cada Y segundos. Isso se chama "reforço variável". Skinner fi- cou surpreso ao observar que essa premiação variável reforçou o compor- tamento desejado (bicar) tanto quanto a premiação contínua. Ou seja, as pombas aprenderam tão rapidamente quando não recebiam comida a cada bicada do que quando recebiam. De fato, as pombas premiadas com taxa variável bicaram mais vezes e mais rapidamente que as pombas premiadas com taxa contínua. E quando a comida foi retirada completamente, e nenhuma bicada re- sultou em comida, as pombas premiadas com taxa variável continuaram bicando muito mais tempo que as pombas premiadas com taxa contínua. Tiveram mais dificuldadea desaprender o comportamento aprendido. Curiosamente, quando trocamos pombas por pessoas e caixas por bin- gos, observamos exatamente o mesmo comportamento. Então, agora, pense em qual é qual a diferença entre um bingo, onde o jogador recebe um prêmio a cada X jogos, e a bolsa, onde o trader recebe um prêmio a cada X operações? Isso é o princípio do vício. Decisões Vamos falar um pouco de decisões. Um piloto experiente de asa-delta esta- va voando em condições moderadas usando um equipamento que conhe- cia bem. Preparava-se para pousar em cima do morro, um lugar onde ante- riormente ele havia feito vários pousos sem incidentes. Evitando as tecni- calidades da história, algo aconteceu e ele bateu contra o chão, quebrando a asa, o pé e quase o seu pescoço. Ele sobreviveu, e passou muito tempo pensando. Apesar de se lembrar de vários pousos no mesmo lugar onde ele sentia que "forçava a barra", no dia do acidente, não sentia assim. Tam- bém, já tinha pousado muitas vezes em outros lugares em condições bem mais difíceis e sem incidentes. Pensou e pensou, tentando em vão lembrar-se dos sinais ou evidências que podiam ter indicado que aquele pouso iria complicar-se. Finalmente, a única conclusão que lhe restou fora que aquele pouso não era diferente de todos os outros: era sempre perigoso. Apesar de o fato que dezenas de pou- sos prévios terminaram sem incidentes, e que ele nunca tinha percebido a situação como perigosa, sempre existia uma chance, digamos de 1 em 100, O mar e o mercado 21 de um acidente. Aquele "um" podia ter acontecido no primeiro vôo ou de- pois de 200. Aconteceu naquele dia. Também percebeu que muitos dos outros pousos que havia feito com outras asas, em condições mais desafiantes e em lugares diferentes também eram bem mais perigosos que ele calculou. Ele concluiu que o fator mais importante na segurança do piloto é a qualidade das suas decisões. Habili- dade, experiência e qualidade do equipamento simplesmente elevam os li- mites seguros, permitindo que um piloto hábil faça coisas mais difíceis. ~as segurança não é uma função da altura dos limites, é uma função de sua habilidade de ficar dentro deles. E essa habilidade é determinada exclusi- vamente pela qualidade de suas decisões. Então, quais são seus limites? Você está agindo fora ou dentro deles? E quão "boas" devem ser suas decisões? O piloto de asa-delta vai enfrentar um fluxo constante delas, e têm de ser quase perfeitas. E para decolar, qual seria o melhor momento, se tem altura suficiente para virar, se deve iniciar uma manobra de emergência para evitar uma co- lisão, se conseguirá planar até o pouso. O trader tem que tomar decisões si- milares. Se ele deve entrar, sair, quando, quanto e se existe uma certa im- previsibilidade associada com cada decisão de entrar no mercado. Nunca se tem certeza absoluta de qual será o resultado. Mesmo se você tiver 99% de certeza do resultado, vai errar 1 % do tempo. Qual será o resultado deste erro? Morte? Paraplegia? Prejuízo irrecuperável? Por hora, caímos numa cilada matemática. Nem todas as decisões ruins levam a conseqüências negativas. Posso errar e me safar. Igualmente, deci- sões boas podem nem sempre resultar em conseqüências positivas. Se a chance de ganhar é 60%, a coisa certa é apostar em ganhar - apesar de per- der 40% do tempo. Agora, se não sei as probabilidades e tomo 100 deci- sões num dia, sofrendo somente um prejuízo, posso deduzir que minhas decisões são boas, quase perfeitas. Mas, em um ambiente de probabilida- des, 5 0% dessas 99 podem ter sido ruins, simplesmente sem conseqüências negativas - como o piloto que decolou 100 vezes em condições perigosas, mas conseguiu pousar sem incidente em 99 delas. Confuso? Eu também. Digamos que você abre uma posição e que dá lucro. Como podemos saber se foi uma decisão boa? Como sabemos que não foi uma decisão pés- sima e que, por sorte, deu certo? Como novato, posso estar observando um trader fazer coisas altamente perigosas que, por "sorte", não dão conse- qüências negativas. Como vou saber o que é perigoso? Quando digo "sorte", quero dizer probabilidade. Se uma posição tem 30% de chance de perder R$1.000 e 70% de chance de ganhar R$100, 22 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS abrir a posição é uma decisão péssima, mas, 70% do tempo, não vou ver as conseqüências ruins. Entretanto, se tomo 100 dessas decisões, vou acabar perdendo (30 X 1000) - (70 X 100) ou R$23.000. Já mencionamos como é impossível calcular a probabilidade exata de uma operação. Mas seu sucesso ou fracasso não deveria depender de uma operação -deve depender de muitas delas, e, depois de fazer muitas, sem- pre seguindo as mesmas regras ou padrões, avaliar probabilidades fica mais fácil e confiável. Quando o trader pensa "sistemicamente", operações individuais têm pouca importância. O trader avalia a probabilidade do sis- tema dar certo, não de cada operação. Sabe que uma operação não é repre- sentativa do sistema e que uma decisão que "deu certo" não é necessaria- mente uma decisão boa, nem uma que deu errado, ruim. Voltando a nosso psicólogo Skinner, perceba que, de certa forma, a cada vez que fizer algo "errado", e receber um "prêmio", estará fortalecen- do a tendência de fazê-lo errado novamente. Está construindo o caminho da sua própria destruição. Pior ainda, como vemos decisões erradas darem certo, podemos pensar que estamos operando com uma eficiência maior do que a realidade. Por exemplo, digamos que meus resultados mostrassem que estou operando com 70% de acerto. Posso estar com 35% das operações dando certo por- que fiz a coisa certa e 35% dando certo, apesar de ter feito a coisa errada; 15% dando errado apesar de ter feito a coisa certa e 15% dando errado por- que errei. Se me engano assim, que chance tenho de sobreviver no mercado? Como evitarmos o problema de reforçar decisões ruins porque pare- cem ser decisões boas? Primeiro, usando a margem de erro que mencionamos. Saber que uma boa proporção das suas decisões pode estar errada lhe permite tomar pre- cauções e reduzir sua exposição ao risco. Digamos que nas suas últimas 50 operações, 20 deram prejuízo. Qual teria sido o resultado no seu capital se 30 dessem prejuízo? Ou se as 30 operações positivas dessem a metade do lucro? Teria sobrevivido? Tinha capital suficiente para agüentar? Ajuste sua exposição ao risco para que, se algo ruim acontece, não acabe com seu capital. Segundo, é importante questionar tudo o que se faz. Avalie seus sucessos quanto aos seus prejuízos. Espero que esteja percebendo como fica difícil avaliar um comportamento inconstante. Se suas ações são sempre diferen- tes, ou se não seguem regras daras e definidas, como avaliar os resultados? Capítulo 2 Tripulação e a mente Modelagem O mar é imprevisível e perigoso e, mesmo com o melhor navio que o di- nheiro pode comprar, seria loucura um capitão embarcar em uma viagem com uma tripulação despreparada e indisciplinada. Um capitão que não controla a tripulação dificilmente controlará o navio e um trader que não controla seus pensamentos dificilmente controlará suas ações. Neste caso, pouco importa ter um sistema brilhante se o trader não consegue segui-lo. Há alguns anos encontrei um livro escrito por um senhor aposentado detalhando o sistema que usava para operar. Ele começou apostando em cavalos, mas nunca conseguiu desenvolver uma forma consistente de ga- nhar dinheiro. Depois, um dia, ele leu um artigo sobre futuros no jornal e decidiu tentar sua sorte no mercado financeiro. Durante 20 anos seguidos, e começando com suas poupanças modestas, ele criou uma pequena fortu- na usando um sistema que ele mesmo desenvolveu. O sistema era simples, os dados vieram do periódico, e suas tabelas e cálculos eram feitos a mão em, no máximo, uma hora por dia. Por pura casualidade, conheci alguém que o conheceu, e como um grande cara de pau, pedi seu número de telefone, e liguei. - O que se tem de fazer para ser um bom trader?- perguntei. - Seguir meu sistema. - Mas gostaria de conversar com você a respeito de ... - Olha, não tenho nada para te dizer - ele cortou-, não sou ninguém 24 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS especial, nem sou excepcionalmente inteligente. Sou uma pessoa normal. Tudo o que posso te dizer está escrito no livro. Leia e siga as instruções. Só isso. Despediu-se e desligou na minha cara. Suponho que se você pergunta a qualquer pessoa com uma habilidade excepcional como faz o que faz, você vai ter uma resposta parecida. "Faça como eu faço. É simples." "Olha, não sei como te explicar como faço, só faço." Ou pior, empolgados, eles se lançam numa explicação complicada que você, ou não entende ou, quando segue as instruções ao pé da letra, não consegue o mesmo resultado. Digamos que quero jogar tênis. Posso copiar as ações e movimentos do número um mundial. Depois de um longo tempo de mímica, talvez minha técnica seja tão boa quanto a dele. Talvez até consiga copiar os gestos e mo- vimentos perfeitamente. Mas, num jogo, em quem você apostaria? Acha que ser número um é somente uma questão de movimentos e técnica? Igualmente, posso copiar um investidor rico, ficando junto a ele 18 horas por dia em frente à tela do computador vendo gráficos, lendo relatórios, fazendo cálculos e apertando botões para comprar e vender - mas vou ga- nhar dinheiro assim? Bom, provavelmente, se copiar exatamente o que ele faz. Mas vou poder operar sem ele? Claro que não. Existe uma dimensão interna, um conjunto de crenças, estratégias mentais e pensamentos que um observador não consegue ver. Talvez nem o trader saiba explicar por que faz o que faz. Muitas vezes uma habilidade é tão natural e bem aprendida, que é quase inconsciente - é como se a pessoa não soubesse o que sabe. H á quatro estágios na maest ria de uma habilidade. 1. Existe uma expressão em inglês: "Ignorance is bliss" - "A ignorân- cia é êxtase". Esse é o estado dos anteprincipiantes. Talvez desco- nheçam a existência de tal habilidade, ou conheçam, mas não têm interesse por ela. Alguns podem saber algo a respeito, e concluir que já sabem tudo. São ignorantes na sua ignorância - não sabem o que não sabem. São inconscientemente incompetentes. 2. Aqueles que se interessam e se informam chegam ao primeiro degrau. Percebem que existe algo a saber e, de repente, se dão conta de que não sabem nada a respeito. São conscientemente incompetentes. 3. Mais tarde, depois de estudar e praticar muito, o aprendiz já é bastante hábil. C oncen tran do-se, e fazendo com muita atenção, µa Tripulação e a mente 25 chega a ser competente. Sabe que sabe. É conscientemente com- petente. 4. Finalmente, nosso aprendiz atinge a maestria quando age sem pen- sar. A habilidade faz parte dele, como caminhar, falar, ou atar os cordões dos sapatos. Não sabe que sabe. É natural. Chegou ao quarto nível, a competência inconsciente. Infelizmente, como regra geral, as pessoas que têm mais a nos ensinar são inconscientemente competentes. Demonstram sua habilidade tão na- turalmente que nem sabem como o fazem. É por isso que os melhores pro- fessores não são sempre os melhores praticantes. O treinador de uma equi- pe de futebol, por exemplo, é conscientemente competente. Sabe ensinar, mas não é necessariamente o melhor jogador. Já conhece a piada da formiga e a centopéia? A centopéia, sendo maior e mais rápida, sempre comia a maior parte da comida. A formiga, sendo cruel e esperta, ficou com saco cheio de comer restos e decidiu vingar-se da centopéia. - Puxa cara, disse um dia. Admiro você tanto que nem imagina. Você é tão linda quando anda. Parece uma onda. Como é que consegue caminhar tão rapidamente sem pisar nos pés? Explique-me. Como é que faz? -Não sei. Nunca pensei. -Mas você faz tão bem. Tô doida para saber. Promete que amanhã vai me dizer! - Claro!, respondeu a centopéia, cheia de si. Desapareceu no bosque olhando para trás e contando ... - umdoistresquatrocincoseisseteoito ... No dia seguinte, a formiga a encontrou imóvel, olhos fixos nos pés, a língua de fora e o rosto roxo. - O que houve?, perguntou a formiga. - Não sei - respondeu a centopéia - mas desde ontem, cada vez que tento caminhar, acabo tropeçando em mim mesma! Está bem! Nunca farei parte da equipe de Casseta e Planeta. Só queria dizer que, se queremos aprender como uma "centopéia" anda, precisamos de um método para extrair as informações chaves sem nos perder com in- formações e explicações supérfluas. Talvez o que a centopéia acha impor- tante não é. Por exemplo, em um estudo de um grupo de gerentes de fun- do, a maioria deles disse que seguia dezenas de indicadores econômicos, fi- nanceiros e técnicos para tomar suas decisões. Certamente, eles prestavam muita atenção nessas informações, mas, quando se aprofundaram nos es- 26 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS tudos, tentando ver exatamente como os gerentes decidiram, os pesquisa- dores descobriram que, na hora "H" de agir, eles usavam somente os mes- mos cinco ou seis itens. O resto era supérfluo. Um modelo para modelar Precisamos de um método para estudar a experiência de uma pessoa, em nosso caso um investidor. Queremos "explorar" sua percepção do mercado. Cada pessoa tem um "mapa" do mundo. Esse mapa representa a ver- são da "realidade" da pessoa. Há tantas "realidades" quanto pessoas. Só você vê o mundo através dos seus olhos e o sente com seu corpo. Só você viveu o que viveu, experimentou o que experimentou e aprendeu o que aprendeu. Nem sua gêmea siamesa teria o mesmo ponto de vista. Seu mapa é individual, único e intransferível. Também é orgânico. Muda. Cresce. Dia após dia, desde bebê, cada nova experiência acrescentou um novo "país" no seu mapa. Hoje, adulto, a freqüência das "novas experiências" diminuiu, mas, sem dúvida, você continua acrescentando estradas, riachos e morrinhas de vez em quando. Resumindo, eu vejo o mundo de uma forma, e você o percebe de outra. Nossos "mapas" são similares em algumas áreas e diferentes em outras. Sei comer. Você também sabe - a menos que tenha encontrado um vendedor de produtos dietéticos e agora sobreviva com líquidos. Porém, gostamos de comidas diferentes. Eu, por exemplo, odeio tapioca. Outra coisa que sei fazer é falar. Você também, eu imagino. E, sem dúvida, você fala melhor do que eu! Nós dois sabemos ler, a menos que você tenha comprado este li- vro porque gostou dos desenhos. Essas partes de nossos mapas, experiên- cias e aprendizagens que temos em comum serão bem parecidas. Entretanto, você deve saber fazer algumas coisas que eu não sei fazer. Nada importante, claro! Certamente temos pensamentos diferentes ares- peito de religião, de política, de amizade, de sistemas de investimentos, de empresas e do significado do último reajuste de juros. Obviamente, não adianta discutirmos as nossas diferenças, porque você sempre estaria erra- do e eu sempre teria razão! Também, todos nós temos objetivos diferentes na vida, além de querer ser rico! Talvez rico para mim signifique ter um Mercedes, uma cobertura de luxo, roupa de marca e férias no Caribe, en- quanto para você significa ser feliz, ter dinheiro para pagar suas despesas, desfrutar de muitos amigos, boa saúde, passatempos divertidos e enrique- cedores que desenvolvam sua mente. Que superficial! Prefiro o Mercedes e a cobertura! -- Tripulação e a mente 27 Da mesma maneira, dois investidores podem ser podres de ricos, ape- sar de um deles jurar que análise fundamental é o único método que fun- ciona, e saber até os nomes dos poodles das mulheres dos presidentes das empresas nas quais investe, enquanto o outro usa gráficos e não conhece nada - somente os códigos das ações. Pergunte a qualquer jovem oficial da infantaria durante um exercício de guerra e com certeza ele dirá que o "mapa" que tem na mão é bem dife- rente do "território" sob seus pés. Um mapa somente "representa" a reali- dade - e somente uma versão dela, podem existir váriostipos de mapa - não "é" a realidade. Infelizmente, muita gente não sabe disso, e acha que sua versão é a "Versão Oficial" - e que todo o mundo pensa (ou deveria) igual. Isso causa muitas brigas. Você deve ter passado pela situação onde ti- nha certeza absoluta de que tinha razão sobre algo, ou que seu jeito era o melhor, e que quem não concordou com você quando era tão "óbvio" não batia bem da cabeça. E, no seu mapa, no contexto de sua vida, e vendo o as- sunto do seu ponto de vista único, é óbvio que sua forma de ver faz sentido para você. Por isso, quando queremos convencer alguém de algo, dizemos "tente ver da minha posição". Infelizmente, mesmo quando a outra pessoa tenta é quase impossível. Ela não conhece a sua lógica, suas pressuposições e não teve as mesmas experiências que você. Para realmente ver da sua po- sição, e pensar como você, teria que ter vívido sua vida. Suponho que seja óbvio dizer que, para ver as coisas de uma outra ma- neira, temos de mudar nossa perspectiva. E para fazer isso, temos de modi- ficar nossa lógica, as crenças e as pressuposições que fazemos. Aceitar que nosso "mapa" não é "o território" prepara o caminho para mudanças. Per- cebemos que existem outras formas de ver a mesma coisa e uma opinião não é mais uma questão de certo ou errado, ou seja, ego, é uma questão de flexibilidade e imaginação. Com uma mente aberta podemos explorar o mapa de uma outra pessoa. N ão temos que concordar com, ou aceitar , sua perspectiva. Somente experimentá-la e aproveitar do que há de útil nela. Se gostarmos, podemos adotá-la. Se não, não perdemos nada experimen- tando. Modelando Imagine dois finalistas num campeonato de tênis. Um é baixinho e fortão com uma personalidade fogosa. J agar agressivamente, perto da rede, to- mando riscos e pressionando seu oponente com a força e velocidade de seu jogo. O outro é alto e magro com uma personalidade calma e intensa. 28 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Nunca perde o controle e joga consistentemente, como um robô, do fun- do da quadra, esperando que seu oponente cometa um erro, antes de ata- car sem piedade. São estilos e personalidades completamente diferentes, no entanto, seus modelos terão elementos em comum. Imagino que ambos os jogado- res terão uma forma física quase super-humana. Seguramente dominam as técnicas mais importantes do jogo. Serão confiantes, ambos pensando que podem ganhar, e terão as identidades de campeões querendo ser os melho- res no mundo. Sobretudo terão a disciplina e a tenacidade de fazer o neces- sário para realizar este desejo. Não é diferente para traders. Dois traders podem ter modelos diferen- tes e ambos podem funcionar. Obviamente cada bom trader terá seu mo- delo, particular a ele, mas entre todos os modelos de todos os bons traders existirão elementos em comum, e é isso que queremos saber. Se forem ele- mentos comuns, são elementos importantes para um novo trader saber. Modelaremos três traders. Queremos saber como pensam, quais estra- tégias mentais usam, de quais perspectivas olham, quais crenças têm e quais pressuposições fazem. Queremos aprender o que é que esses traders têm em comum, e o que fazem diferente de nós. Para fazer isso vamos usar um método fundamentado nas idéias do an- tropólogo inglês Gregory Bateson e desenvolvido pelos americanos Ri- chard Bandler, John Grinder, Robert Dilts e David Gordon. Quando exibimos uma habilidade, comunicamos e influenciamos o ambiente com nosso comportamento. Nosso comportamento é definido por nossas capacidades e o que somos capazes de fazer. E o que aprende- mos a fazer depende de nossas crenças e valores. Nossa identidade é o con- junto dessas crenças e valores trabalhando juntos em um sistema único. Fi- nalmente, nossa visão e missão determinam quem somos. Definem a dire- ção de nossa vida. Perceba como as condições num nível influenciam o desenvolvimento do nível abaixo. Os elementos compartilhados entre modelos de diferen- tes pessoas podem estar em qualquer nível. Não se esqueça! Isso é somente um modelo. Não é "A Verdade" ou uma definição definitiva de "como as pessoas são". Há outras formas de modelar, talvez melhores que esta, e outras formas de explicar, provavel- mente mais corretas que essa. O que importa é que funciona, e somente podemos saber isso aplicando o que aprendemos. Também vale ressaltar que nosso objetivo não é "ser" a outra pessoa. Simplesmente queremos modelar sua habilidade e aprender como fazê-lo. --- Tripulação e a mente 29 Os elementos de uma habilidade Outros fatores VISÃO e ~ MISSÃO IDENTIDADE Capacitação '.'" Motivação Critério CRENÇAS EVALORES Não obstante, se não estamos conseguindo os resultados que queremos, algo em nós tem de mudar, e com mudanças vêm conseqüências, um preço a pagar. É bem possível que para ser um melhor trader temos que desenvol- ver novas capacidades, crenças, objetivos e talvez até uma nova identidade ou visão da vida. Estamos dispostos a fazer isso? Como sabemos que vale a pena? Já considerou os efeitos secundários que uma mudança grande em você pode causar na sua vida e nas pessoas a sua volta? Congruência Existe uma grande diferença entre o modelo de alguém que faz algo bem e de alguém que não - a congruência. Voltando à metáfora do barco, um 30 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS bom modelo é como um barco e uma tripulação desenhados, treinados e motivados para fazer exatamente o que estão fazendo. Todos os elementos trabalham juntos para conseguir o objetivo. Vejamos um navio de guerra americano. O desenho do barco será ae- rodinâmico, robusto e moderno, aproveitando-se de todas as inovações tecnológicas possíveis. As peças serão das especificações mais altas e com excelente manutenção. O barco terá suficientes combustível e provisões para a duração da viagem. Terá uma missão, mapas, uma rota claramente traçada e opções alternativas dependendo das condições do mar, do tempo e dos movimentos do inimigo. O capitão e a tripulação serão bem treinados e motivados, constante- mente participando de exercícios e recebendo treinamentos novos. Sabe- rão o que têm de fazer, como fazê-lo e por que o estão fazendo. Mais impor- tante que isso, cada membro da tripulação quererá fazer seu dever e fará parte de um time. Não haverá amotinados, rebeldes ou conflitos internos. Além disso, o capitão terá uma visão dara de onde ele vai e o que ele quer conseguir, e a passará para a tripulação. Ele manterá controle a cada momento e a tripulação o obedecerá sem questionar. Em uma batalha, cada peça e cada pessoa esquece de si e luta para ganhar. Agora, observemos um navio de guerra de um país do terceiro mundo. O modelo será antiquado ou, para poupar dinheiro, adaptado de uma outra função. As peças estarão enferrujadas e muitas estarão faltando ou quebra- das. Em alguns casos o navio poderia ser novinho, um dos mais modernos, mas, provavelmente, nem o capitão nem a tripulação terão recebido um trei- namento suficiente para usá-lo corretamente. A disciplina pode ser frouxa ou austera demais, resultando em erros ou conflitos de personalidade entre - membros da tripulação e os oficiais. Podem faltar motivação e comunica- ção, resultando em uma tripulação que trabalha, mas sem saber por quê. Talvez até o capitão não saiba exatamente aonde ele vai, ou como fazer o que tem que fazer, e acabe dando um "jeito", reagindo às situações em lugar de antecipar e preparar-se para elas. Em uma batalha, cada pessoa faz o me- lhor que pode, mas, quando a situação é desesperadora, é cada um por si. Em uma guerra, se pudesse escolher, em que navio preferiria lutar? Vejamos em um pouco mais de detalhes cada nível do modelo. Ambiente Todo comportamento acontece em algum ambiente em algum tempo. Onde e quando o trader exibe a sua habilidade? Tripulação e a mente 31 O ambiente do trader poderia ser dentro da BOVESPA ou da BMF, em um escritório ou um quarto da casa. Pode trabalhar sozinho, com colegas, à noite,
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