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10 anos
E COMO SUPERÁ-LAS
ES
As 25 crises do homem 
(e como superá-las)
As 25 crises do homem 
(e como superá-las)
 
Editor/Organizador: 
Luciano Andolini
 
Autores:
Guilherme Valadares
Luciano Andolini
Frederico Mattos
Alberto Brandão
Eduardo Amuri
Danilo Gonçalves
Débora Navarro
Rodrigo Cambiaghi
 
Capa/Projeto Gráfico:
Mariana Cavalcante
 
São Paulo
2017
06 Prefácio
11 Introdução 
16 O que é uma crise? 
19 Como paro de surtar? 
25 Fui traído 
32 Traí minha parceira e me sinto culpado
37 Perdi meu emprego e não consigo achar outro
46 Odeio meu trabalho (como mudar de carreira 
ou lidar com um trabalho ruim) 
55 Não sei controlar minhas finanças 
71 Não consigo parar de procrastinar 
81 Não consigo me dedicar a nada 
87 Estou ficando velho (crise de meia-idade) 
93 Sou virgem 
Índice
103 Não tenho mais ereções (estou ficando brocha)
111 Tenho ejaculação precoce
117 Tenho medo de dar em cima de alguém
123 Não sei fazer minha namorada gozar (ou: sou 
ruim de cama)
129 Sou tímido
136 Não tenho amigos
146 Tenho pinto pequeno
151 Sou feio
161 Será que sou gay?
165 Não sou hétero e sofro preconceito
170 Não consigo largar o vício (álcool, pornogra-
fia, games)
179 Vou ter um filho não-planejado (gravidez 
inesperada)
191 Me divorciei 
199 Não consigo esquecer minha (ou meu) ex
206 Meus pais morreram (luto por pessoas queri das)
224 Estou insatisfeito com meu corpo
230 Nada disso funcionou. E agora?
Índice
 Quase todos os dias eu e os demais editores do 
PdH recebemos emails com pedidos de ajuda.
Esses pedidos não chegam com grandes cerimônias. 
São diretos, íntimos, buscam solução rápida para os 
mais diversos problemas. Traições, filhos não plane-
jados, falências, doenças súbitas, luto, desejos e me-
dos reprimidos, sonhos.
 São a mensagem que um amigo enviaria no meio 
da madrugada, em um surto de sinceridade.
 E-mails nos perguntando como entrar na maço-
naria ou se tornar um garoto de programa (não, não 
é brincadeira). Outros nos questionando sobre como 
ajudar a esposa que enfrenta uma séria depressão. As-
pirantes a empreendedores em busca de rotas para seus 
negócios. E até mesmo emails como o de uma mãe que 
Prefácio
6
acompanha nosso trabalho e gostaria de ajudar o fi-
lho, cujo pai faleceu, a fazer sua primeira barba.
 É comum respondermos esses pedidos. Apesar 
de ser impossível dar conta de todos, com freqüên-
cia paro alguma tarefa importante para garantir que 
uma pessoa com a qual provavelmente nunca vou me 
encontrar não fique sem resposta.
 Cada vez que faço isso me recordo do espírito 
que deu origem ao PapodeHomem, lembro que já fui 
e posso voltar a ser a pessoa teclando na madrugada 
procurando respostas. 
 Crises não perdem permissão para entrar, elas 
arrombam a porta.
 Lá atrás, antes mesmo do nome “PapodeHo-
mem” existir, havia só um bando de sujeitos perdi-
dos trocando relatos pelo Yahoo Groups. Esse grupo 
cresceu, virou um fórum, tudo mantido por doações. 
Com centenas de homens de todo o Brasil, de diver-
sas idades e origens. 
 Unidos por estarem sozinhos.
 Todos queriam pertencer, encontrar luz para os 
sentimentos de inadequação e problemas que tinham 
vergonha de expor até mesmo para amigos próximos. 
Ser homem não é nada fácil, ainda que tenha seus 
muitos privilégios. Muitas de nossas dores e dificul-
dades ficam escondidas pelo teimoso hábito de nos 
manter em silêncio.
 O PdH nasceu desse lugar, de homens dispostos 
a quebrar o silêncio. 
PrefácioPrefácio
7
 Veio ao mundo pelas dores desses homens, como 
um espaço de acolhimento, escuta e aprendizado cole-
tivo. Não surgiu para ser um império de negócios, essa 
não é nossa vocação. É um projeto que flui e se trans-
forma, assim como as pessoas que o mantém vivo.
 Hoje, mais de dez anos depois, seguimos fazen-
do a mesma coisa — ainda que bem mais maduros.
Escutando, aprendendo e conectando histórias e sa-
beres para ajudar as pessoas a viver melhor.
O conteúdo desse livro transborda de nossa experi-
ência nas trincheiras, junta muito do melhor produ-
zido por nossa rede ao longo dos anos.
 É um estupendo trabalho de organização e edi-
ção de Luciano Andolini, editor, músico e veterano da 
casa. Carrega o afeto de incontáveis autores e autoras 
voluntários. E também vem com camadas de esforço 
de várias outras pessoas do time. Rodrigo cuidando 
da estrutura de divulgação, Bia das finanças, Mariana 
do design. Há muito carinho e trabalho duro envolvi-
do para entregar algo em cuja qualidade acreditamos.
 Por isso, espero que nosso esforço o alcance em 
boa hora.
 Tenho certeza que você atravessa um momento 
difícil e talvez esteja lendo esse prefácio com impa-
ciência. É provável que lide agora com uma ou mais 
crises dentre as vinte e cinco que listamos.
 Entretanto, acredito que crises são momentos 
preciosos e raros.
 Quando estamos na lona, nos permitimos soltar 
Prefácio
8
certezas e teorias desnecessárias que carregamos por 
toda uma vida. Ao escutar que alguém está mal, uma 
parte de mim se alegra e logo fica disponível para a 
pessoa. Sei que ali há mais espaço de escuta, vontade 
de superar a dor. E sei que também há confusão, an-
siedade, até mesmo desespero.
 Ou seja, um maravilhoso e arriscado oceano de 
possibilidades.
 Pra isso estamos aqui. Queremos ajudar você a mi-
nimizar os danos e evitar decisões ruins, que aprofun-
dem ainda mais seus obstáculos ou o joguem em pro-
fundos poços escuros. E temos a intenção de fazer com 
que possa não só atravessar a crise com rapidez, mas 
que, principalmente, saia do outro lado mais sábio, ma-
duro, leve, estável, lúcido, sem se levar tanto a sério. 
 Aspiramos que você possa cultivar autonomia 
emocional. Pois é inevitável que outras crises sur-
jam, é mera questão de tempo até o próximo tsunami 
aparecer. E tudo bem, a vida é assim.
 Esse livro não é uma bala de prata capaz de re-
solver seus problemas em alguns minutos de leitu-
ra. E nem de longe deve ser encarado como tal. É 
um parceiro em uma caminhada que necessita de sua 
presença. Um conjunto de atalhos acumulados cole-
tivamente por pessoas que atravessaram cada uma 
dessas crises várias vezes. 
 Mas no final das contas, são as suas escolhas, 
ações, força de vontade, resiliência, capacidade de se 
acolher e se colocar vulnerável, assim como sua pa-
Prefácio
9
ciência, é que vão fazer a diferença. 
 Como um professor no qual confio bastante costu-
ma dizer, “para ir rápido, ande devagar”. E para ir mais 
longe, vá acompanhado.
 Vamos juntos?
 
 Um fraterno abraço.
 
 Guilherme Valadares
Prefácio
10
https://papodehomem.com.br/para-comecar-a-meditar
 Podemos dizer que fábulas, contos e sagas, de 
um modo geral, são as histórias das crises humanas. 
 É só olhar: qualquer boa narrativa envolve um 
personagem central (ou herói) e a sucessão de even-
tos que o conduzem a uma crise e a consequente su-
peração dela ou não. 
 Por mais que esses acontecimentos muitas vezes 
sejam coloridos por efeitos especiais, ambientações 
e universos fantásticos ou escalas cósmicas de poder, 
aquelas histórias que ressoam em nós costumam ter 
base em dramas bem comuns. Seja em Star Wars, Se-
nhor dos Anéis, De Volta para o Futuro, Harry Potter, 
Homem Aranha ou Guardiões da Galáxia, há inúme-
ras alegorias para esses acontecimentos que vão nos 
desestabilizando e nos fazem suar a camisa e derra-
Introdução
11
mar lágrimas, dia após dia. 
 Para tomar um exemplo de identificação bem co-
mum entre os homens, não é o Rocky Balboa que é 
especial em si mesmo. Nós nos vemos no Rocky por 
que, se removermos o nome do personagem, há tanto 
ali de nós que, ao chegarmos ao fim do filme, gostarí-
amos que a nossa própria história terminasse daque-
le jeito, com o reconhecimento depois de umaluta 
difícil que não necessariamente terminou em vitória. 
 Mas sabemos que não é bem assim. Nem sem-
pre as pessoas estão dispostas a nos afagar depois de 
uma derrota. 
 Essa é apenas uma de muitas narrativas possíveis 
que vão sendo introjetadas na nossa mente e acabam 
não ganhando fruição. Terminamos com uma histó-
ria mal contada, um desfecho que não se encaixa ao 
que esperávamos da realidade. Então, sofremos.
 A Saga do Herói (explicada no livro O Poder do 
Mito, de Joseph Campbell), é utilizada quase como 
um framework em Hollywood nos dias de hoje e é 
bastante criticada por ser um modelo narrativo base-
ado nos mitos que foram forjados pelos homens, para 
contar as histórias dos homens de diversas tradições 
e povos. 
 Aqui, porém, esse foco no masculino acaba sen-
do útil. Ao observar as histórias contadas pela hu-
manidade, podemos concluir que não há nada de es-
pecial no nosso drama em particular. Essas histórias 
são contadas e nos emocionam repetidamente por-
Introdução
12
que esses dramas não mudam em essência, apenas 
em forma.
 De uma certa maneira, quando escrevemos no 
PapodeHomem sobre os diferentes dramas e alegrias 
dos homens, ao longo desses dez anos, pudemos iden-
tificar semelhanças e particularidades nas trajetó-
rias, dúvidas e crises de milhões de pessoas. Quando 
percebemos, estávamos respondendo quase todos os 
dias os mesmos emails sobre traição, derrotas emo-
cionais e dúvidas sobre como melhorar (ou evitar que 
piorem) diversos aspectos da vida.
 Então, se tanta gente passa pelas mesmas situ-
ações e se já nos repetimos tanto, talvez pudéssemos 
tentar algo além.
 Esse livro que agora você está lendo é a forma que 
encontramos de condensar a informação acumulada 
depois de mais de 7600 textos, inúmeras respostas a 
emails e discussões na caixa de comentários do site. 
É a nata de tudo o que já fizemos. 
 Óbvio que não dá pra cobrir tudo o que uma pes-
soa passa ao longo da vida em pouco mais de 200 pá-
ginas, mas dá pra pegar algumas das dúvidas e crises 
mais comuns e organizar de uma forma que pode ser 
útil ao maior número de pessoas possível.
 Esse livro é a forma que encontramos de facilitar 
com que você possa ajudar a si mesmo, mas também 
passar adiante o que descobriu e experimentou. 
 Selecionamos alguns dos melhores artigos do site, 
os adaptamos e editamos onde achamos necessário. 
Introdução
13
Além disso, escrevemos alguns artigos do zero, quan-
do achamos que faltava material que cobrisse aquele 
problema de forma efetiva. Assim, tentamos abranger 
as mais diferentes áreas da vida de um homem.
 O livro, portanto, é uma coletânea com diferentes 
vozes, com relatos de pessoas que passaram por essas 
situações e resolveram compartilhar o caminho que 
encontraram para sair dali.
 A ideia, de um modo geral, é tranquilizar quando 
cabe e oferecer caminhos, ampliar a visão. 
 Sabemos, claro, que há diferentes escalas para 
os diferentes problemas. Sabemos que as experiên-
cias aqui narradas podem não servir para o seu caso 
específico. Também temos noção de que há situações 
nas quais um livro não vai ser o suficiente. Portanto, 
não entenda essa publicação como uma bala de pra-
ta capaz de fazer você superar qualquer adversidade 
em todas as intensidades e peculiaridades. Contamos 
com seu senso crítico e com a sua capacidade de se 
inspirar nas ideias propostas para encontrar seu ca-
minho e desenvolver soluções próprias. 
 Além disso, é essencial ter em mente que às vezes 
(a maioria, se permite a sinceridade), você vai preci-
sar de família, amigos, médicos, psicólogos, psiquia-
tras. E tudo bem. 
 Aliás, encorajamos que você tenha um parceiro de 
transformação nessa trajetória para sair da sua crise 
pessoal. Na nossa experiência, é muito mais fácil lidar 
com crises se há uma rede de apoio ampla e forte. 
Introdução
14
 Uma das melhores formas de aproveitar esse livro 
é escolhendo um parceiro e testar, trocar insights, che-
car um com o outro os avanços, com abertura e hones-
tidade. Se tiver alguém que tope o desafio, não hesite. 
 Enquanto isso, no que puder contar conosco, es-
tamos aqui.
Introdução
15
 Os mitos heróicos dos quais tanto ouvimos fa-
lar, seja em filmes, histórias em quadrinhos, vide-
ogames, costumam ter como protagonistas homens 
fortes, destemidos, que enfrentam e vencem seus de-
safios com bravura. 
 Quando crianças, brincamos de ser esses perso-
nagens. Quando adultos, é isso que devemos nos tor-
nar. Ou, pelo menos, assim pensamos.
 Não é fácil confrontar essa expectativa com a re-
alidade. O mundo é uma máquina que parece ter sido 
feita para testar a nossa força. Que outra alternativa nos 
resta nessa batalha a não ser controlar, domar, vencer?
 Não saber a resposta tem um custo alto.
 Os motivos variam de indivíduo pra indivíduo. 
Pode ser que você tenha comprado algo que não vai 
O que é uma crise?
16
conseguir pagar. Talvez você tenha perdido o empre-
go. Quem sabe, você foi traído? Não tem amigos? Tra-
balha demais? Está brocha? Se sente feio?
 Sua vida pode estar perfeita e, de repente, nada 
mais está no lugar. E, por mais que o motivo de uma 
pessoa possa parecer tosco para perder a cabeça, pra-
ticamente qualquer coisa pode virar o gatilho para 
uma crise. Tudo vai depender de causas e condições 
feitas sob medida para você.
 Não há uma só pessoa na Terra que nunca tenha 
provado do amargo sabor de perder o chão, não sa-
ber mais o que está acontecendo e se desconectar da 
sua própria estabilidade.
 Não é como se essa possibilidade fosse uma ca-
racterística intrínseca aos homens, mas as crises têm 
um efeito especial neles. No caso, em nós.
 Somos campeões em contar nossas histórias com 
ares heróicos. Lutamos contra o câncer. Vencemos di-
ficuldades. Superamos desafios. Sequer temos outra 
maneira de narrar o que vivemos. O mito do herói é 
praticamente a única leitura que conseguimos fazer 
da realidade. Por isso, nos agarramos com todas as 
forças a essa identidade. O Vencedor. Basta ver o 
que se diz sem titubear nas rodinhas de conversa. 
“Homem é competitivo”; “Homem não foge de bri-
ga”; “Homem não abaixa a cabeça”. 
 Mesmo aqueles que se consideram perdedores 
natos não fogem do eixo. Suas narrativas só existem 
relativas a alguém que venceu. Ou, melhor dizendo, 
O que é uma crise?
17
dentro de um jogo.
 Podemos dizer que é uma grande brincadeira de 
sustentar pratos. O prato profissional, o do amor, o 
das amizades, o da família, o do carro próprio, da 
casa… você mesmo pode nomear. 
 E, se quer saber qual pode ser a sua crise de ama-
nhã, basta listar o que te deixa orgulhoso, feliz e sor-
ridente agora.
 Vamos entrar em crise na mesma medida à qual 
nos apegamos aos elementos que compõem nossa 
identidade hoje. 
 Quanto mais alimentamos expectativas, certe-
zas, planos infalíveis, mais vamos nos confrontar com 
a realidade. A esperança cega e desmedida é a faísca 
que nos leva ao sofrimento diante do movimento dos 
fatores externos.
 Sofrimento é uma palavra até um tanto abstrata, 
mas quando uma questão se transforma em crise, ela 
vira prioridade em um nível que nos faz perder com-
pletamente a noção de espaço. Uma atenção brutal a 
um determinado aspecto do presente. Dor.
 Nos tornamos uma coisa muito parecida com um 
rato em um lugar no qual não consegue encontrar a 
saída. Aceleramos, focamos intensamente na tarefa 
de tentar encontrar a saída. Com isso, passamos por 
cima de quem e do que for. Transformamos amigos 
em inimigos, gritamos, nos debatemos.
 Se há algo que conhecemos bem, é essa sensação. 
Todo mundo tem uma história dessas pra contar.
O que é uma crise?
18
 Uma das características fundamentais das crises 
é a perda da “visão”. Não vemos quem está ao nosso 
redor, nem o que está ao nosso alcance e que poderia 
perfeitamenteser usado como escada para a tal saída 
que tanto procuramos. Por isso, não é raro que a solu-
ção prática para um determinado problema seja muito 
evidente para quem olha de fora, mas esteja totalmen-
te fora do radar de quem está no meio do surto. 
 Pode não parecer, mas quando uma crise se ins-
taura há um momento de grande riqueza. Significa 
que os meios utilizados por aquela pessoa para sus-
tentar uma determinada identidade pararam de fun-
cionar. Um castelo caiu.
 De repente, seja qual for o aspecto que veio à fa-
lência dá lugar a espaço, uma tela em branco.
Como paro de surtar?
19
Você pode usar essa experiência e a abertura que sur-
ge com ela, para se fundamentar em bases muito mais 
amplas, lúcidas, para além da necessidade de susten-
tar pratos. 
 Claro, é essencial saber equilibrar os pratos cer-
tos de maneira eficaz, até para poder transitar mais 
calmamente pelo mundo. É importante, sim, saber 
como se relacionar, como trabalhar bem, como fazer 
amigos, como gerenciar seu dinheiro.
 Mas você nunca vai conseguir controlar tudo. 
Nem mesmo vai chegar perto. 
Por isso, é essencial estar aberto aos imprevistos.
Você pode se perguntar: “mas vocês não ensinam a 
superar as crises do homem”?
 Sim, esse livro é sobre isso. São 25 capítulos com 
dicas práticas para ajudar homens a lidar com crises 
pontuais. 
 Mas resolver é só uma das formas de se lidar 
com uma crise. Não necessariamente a melhor. Cer-
tamente a menos duradoura.
 Para que o resolver tenha uma base sólida, é im-
portante que venha acompanhado de mais três passos 
preliminares e, ao mesmo tempo, paralelos. Ou seja, 
você começa por aqui e segue com elas paralelamen-
te a qualquer problema que precise sanar.
 1) Prática de estabilidade:
 Você não vai a lugar nenhum se estiver se deba-
tendo. No meio do surto, é muito provável que tudo 
Como paro de surtar?
20
o que fizer só piore sua situação. Portanto, antes de 
qualquer coisa, é essencial parar, respirar fundo, ten-
tar recobrar um mínimo de lucidez e, então, partir 
para a sua lista de tarefas.
 Para cultivar estabilidade, existe uma prática 
reconhecida, a shamata. Um tipo de meditação que 
pode ser feita em silêncio e dá para cultivar como um 
hábito diário. 
 A instrução resumida grosseiramente seria:
 - Sente em uma postura ereta, porém confortável;
 - Coloque um despertador para 15 minutos;
 - Fique em silêncio e foque na respiração. Vá re-
laxando os músculos das pernas, dos braços e da face. 
 - Não tente não pensar. É normal que você se dis-
traia. Quando isso acontecer, apenas volte à instrução.
 - Quando o relógio tocar, finalize a prática e 
levante-se lentamente.
 Recomendamos que veja a instrução mais deta-
lhada conforme é ensinada nesse vídeo com o Lama 
Padma Samten. Aqui ele guia uma prática de medita-
ção que você pode usar para começar.
Como leitura, para aprofundar, recomendamos A re-
volução da atenção, de Alan Wallace. É um livro com 
uma abordagem secular, para quem eventualmente 
possa ter aversão às formas religiosas da prática.
 2) Prática de sabedoria:
 Não à toa nos fascinamos com as crianças. Não é 
que elas tenham alguma sabedoria especial, longe dis-
Como paro de surtar?
21
https://papodehomem.com.br/para-comecar-a-meditar/
https://papodehomem.com.br/para-comecar-a-meditar/
https://www.amazon.com.br/Revolu%C3%A7%C3%A3o-Atencao-Revelando-Poder-Focada/dp/8532636403/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1494896192&sr=1-1&keywords=a+revolu%C3%A7%C3%A3o+da+aten%C3%A7%C3%A3o&linkCode=sl1&tag=papod-20&linkId=3acdab65531bb34e9ff4ddead29b1501
https://www.amazon.com.br/Revolu%C3%A7%C3%A3o-Atencao-Revelando-Poder-Focada/dp/8532636403/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1494896192&sr=1-1&keywords=a+revolu%C3%A7%C3%A3o+da+aten%C3%A7%C3%A3o&linkCode=sl1&tag=papod-20&linkId=3acdab65531bb34e9ff4ddead29b1501
so. Elas são tão ou até mais autocentradas e ignoran-
tes do que nós. Porém, elas estão em uma posição na 
qual elas se permitem muito mais facilmente investi-
gar. Elas costumam ser curiosas, vivas, cheias de ener-
gia. Não raro elas fazem perguntas que nos deixam de 
cabelo em pé.
 Nós, adultos, perdemos muito dessa curiosidade. 
Tomamos por certas as respostas de perguntas que 
estamos longe de realmente conhecer. Quem somos? 
Onde estamos? O que realmente está acontecendo? 
 Não conhecemos nossas emoções, não sabemos 
como nos identificamos, como nos apegamos, enfim, 
como nos aprisionamos. Por que algo que nos faz tão 
felizes hoje pode nos fazer sofrer tanto amanhã? Não 
sabemos.
 Podemos começar a olhar e obter algumas dessas 
respostas. Podemos começar a entender como funcio-
nam as coisas, mas também como nós mesmos fun-
cionamos. Assim, podemos brincar mais, realmente 
nos envolver com os fenômenos. 
Para aprofundar, recomendamos esse livro: Nada de 
especial, de Charlotte Joko Beck.
 3) Prática de compaixão
 Quando você entra em uma crise e, posterior-
mente, consegue sair dela, o maior presente que você 
obtém não é o de, enfim, ter se livrado de um pro-
blemão mas, sim, que agora você tem meios práticos 
para ajudar outras pessoas. 
Como paro de surtar?
22
https://www.amazon.com.br/Nada-Especial-Charlotte-Joko-Beck/dp/8502014935/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1494896252&sr=1-1&keywords=Nada+de+especial+charlotte+joko+beck&linkCode=sl1&tag=papod-20&linkId=374bcca6a4a024b23ce00c497d97409a
https://www.amazon.com.br/Nada-Especial-Charlotte-Joko-Beck/dp/8502014935/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1494896252&sr=1-1&keywords=Nada+de+especial+charlotte+joko+beck&linkCode=sl1&tag=papod-20&linkId=374bcca6a4a024b23ce00c497d97409a
Sempre que olha uma pessoa e se pergunta “como 
posso ajudar?”, isso já é a compaixão dentro de você. 
No exato momento em que se faz essa pergunta, seu 
sofrimento já cessa um pouco. 
 Sair das crises envolve uma medida de ajudar 
as outras pessoas. Quanto mais você se prepara e se 
fortalece com essa motivação, mais forte você se tor-
na em relação aos seus próprios sofrimentos.
 Porém, há formas cada vez mais eficientes de exer-
cer essa ajuda. Não é preciso que você sofra todos os 
sofrimentos, um por um, até conseguir estender a sua 
mão. 
 Aqui entram os cultivos de todas as qualidades 
que nos tornam efetivamente capazes de ajudar. Em-
patia, amor, generosidade, alegria, equanimidade, lu-
cidez, estabilidade, acolhimento, relaxamento… a lista 
vai longe.
 Para aprofundar, recomendamos o livro Um co-
ração aberto, de Sua Santidade o Dalai Lama.
* * *
 Como já falamos, esses três processos nunca ces-
sam. Você continua com eles, independente de qual 
problema esteja enfrentando nesse momento e mes-
mo depois que ele estiver resolvido.
 Também é essencial manter em mente que uma 
rede ampla, repleta de relações de confiança, torna 
tudo mais fácil. Essas parcerias fazem com que a sen-
sação de remar pela vida seja bem mais leve. Portanto, 
Como paro de surtar?
23
https://www.amazon.com.br/Cora%C3%A7%C3%A3o-Aberto-Praticando-Compaix%C3%A3o-Cotidiana/dp/8533615655/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1494896301&sr=1-1&keywords=Um+cora%C3%A7%C3%A3o+aberto+dalai+lama&linkCode=sl1&tag=papod-20&linkId=b11cdb2a4dbdc190568530b76d938989
https://www.amazon.com.br/Cora%C3%A7%C3%A3o-Aberto-Praticando-Compaix%C3%A3o-Cotidiana/dp/8533615655/ref=as_li_ss_tl?s=books&ie=UTF8&qid=1494896301&sr=1-1&keywords=Um+cora%C3%A7%C3%A3o+aberto+dalai+lama&linkCode=sl1&tag=papod-20&linkId=b11cdb2a4dbdc190568530b76d938989
vale aprender a nutrir essas relações e torná-las parte 
da sua vida como um todo.
 Agora, sim, com as bases fundamentadas, vamos 
começar a atacar de forma direta e prática as crises 
do homem. 
Como paro de surtar?
24
 Pra algumas pessoas, é quando você se sente atra-
ído por alguém. Pra outras, ver pornô ou foto de cele-
bridade que desperte tesão ja é traição. Há quem não 
se importe se o parceiro ouparceira beije outra pes-
soa. Há quem não se importe se houver sexo, desde 
que não haja afeto. Enfim, a linha que define a trai-
ção não é muito clara. Vai variar conforme a pessoa, 
a época, o país…
 Mas uma coisa podemos considerar fato. Existe 
um sentimento de traição, com o qual é bastante di-
fícil de se lidar.
 Quando você percebe que a pessoa com quem 
construiu uma relação cruza essa barreira, o peito 
aperta, a boca seca, as pupilas dilatam, falta o ar, mil 
memórias vêm à cabeça, você sente que perdeu tem-
Fui traído
Por Luciano Andolini
25
po, que foi enganado. A dor costuma ser grande.
 Cuidado com a primeira reação
 Em situações de grande intensidade, é comum 
que homens apelem para uma emoção: a raiva.
 Sem querer soar óbvio, mas já soando, a raiva, 
em momentos críticos como esse é o pior inimigo pos-
sível. É difícil não sentir isso, afinal, aconteceu algo 
que você considera uma grande violação da sua con-
fiança. Porém, agir a partir dessa revolução interna 
inicial pode ser uma péssima decisão.
 Muita gente cai nos padrões usuais de ressen-
timento, histeria e vingança, que só pioram o que já 
não é simples.
 Muito cuidado, em especial, com a ideia de se vin-
gar. Expor a infidelidade aos amigos, colocar vídeos 
íntimos na internet (revenge porn), partir pra violên-
cia física, retribuir na mesma moeda. Nenhuma des-
sas atitudes é louvável e algumas são crime, passível 
de processo. Você pode virar caso de polícia se des-
controlar-se ao ponto de cometer algum desses atos.
 Além disso, é comum que a pessoa traída poste-
riormente se arrependa de ter explodido, machucan-
do ainda mais a relação.
 Quando a raiva chega ao nível do incontrolável, 
se sobrar apenas um resquício de lucidez, pode ser 
melhor o distanciamento. Pedir um dia ou dois antes 
de retomar uma eventual conversa para entender o 
acontecido.
Fui traído
26
 Não é culpa sua
 Passado o baque inicial, é comum cair num pa-
drão de investigação, de tentar entender os por quês. 
O passo seguinte talvez seja olhar pra si mesmo, sen-
tir-se mal, inadequado, incapaz e, em seguida, culpa-
do pelo que ocorreu.
 Não é como se houvesse algo que pudesse ser fei-
to pra impedir. Duas pessoas se atraíram e quiseram 
flertar, beijar, transar, etc. 
 Nem com a maior vigilância, com câmeras, com 
o melhor relacionamento do mundo, nem que fosse 
mesmo possível suprir todas as necessidades de al-
guém, nada poderia impedir. 
 Não há como controlar o curso do desejo de uma 
outra pessoa.
 Isso não significa que a pessoa não te ame
 Como pode uma pessoa amar a outra e trair? Sim, 
é possível.
 Você pode ter uma relação exemplar e, ainda as-
sim, sentir desejo e afeto por outras pessoas. Há inú-
meros modelos possíveis de relacionamento que en-
volvem ou não terceiros, nos quais as partes se sentem 
bem assim. Pode ser particularmente difícil de en-
tender quando tudo o que você aprendeu na vida foi 
o modelo monogâmico padrão, mas fidelidade não é 
indicativo nem prova de amor. 
 A traição é um evento muito mais comum do que 
se pensa. Uma pesquisa informal (ou seja, sem rigor 
Fui traído
27
científico, feita pela internet) realizada pelo instituto 
Tendencias Digitales e divulgada pelo O Globo, mos-
tra que 70,6% dos homens brasileiros afirmam já ter 
traído em algum momento da vida. Entre as mulhe-
res, o número é de 56,4%. 
 Ou seja, muitas pessoas traem e voltam para os 
seus casamentos, beijam seus filhos e esposa ou ma-
rido no final da noite e dormem. Será que dá pra afir-
mar que essa quantidade enorme de gente deixou de 
amar seus parceiros no momento em que traíram?
 No que diz respeito aos motivos, mil outras ne-
cessidades (que não são obrigação do parceiro em su-
prir) acabam aparecendo na frente da relação. Não, 
não estou falando de falhas de caráter (que, se for 
olhar por essa ótica, todos temos, já que ninguém 
passa a vida incólume de tomar atitudes das quais 
se arrependa depois), mas de crises de autoestima, 
inseguranças, tédio e até vontades justas, completa-
mente normais, como a de sentir conexão humana. 
 Duvida? Segundo o livro “The Truth About Che-
ating” (a verdade sobre a traição), citado nessa maté-
ria da revista Exame, 92% dos homens entrevistados 
que traem, não o fazem por que querem sexo, mas 
por que se sentem distantes das suas esposas e des-
valorizados em casa. 
 O amor não é linear e vem misturado com toda a 
bagunça interna das pessoas. No que diz respeito às 
relações, lógica, razão e lucidez são moedas raras.
Fui traído
28
https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/pesquisa-revela-que-brasileiros-sao-campeoes-de-infidelidade-disfuncao-sexual-2940842
https://www.amazon.com/Truth-about-Cheating-Stray-Prevent/dp/0470502134
https://www.amazon.com/Truth-about-Cheating-Stray-Prevent/dp/0470502134
http://exame.abril.com.br/ciencia/8-fatos-curiosos-sobre-a-traicao-nas-relacoes-amorosas/
http://exame.abril.com.br/ciencia/8-fatos-curiosos-sobre-a-traicao-nas-relacoes-amorosas/
 Pode ser que a relação não acabe
 Por mais que você peça um tempo pra colocar as 
ideias no lugar, vai chegar o momento de conversar e 
entender o que houve. 
 Pode ser que a emoção fale muito alto e a conver-
sa se transforme em uma briga, com trocas de ofen-
sas e barraco. Portanto, é útil respirar fundo, evitar 
agressões desnecessárias e criar um clima favorável 
ao mínimo de diálogo.
 Quando chega essa ocasião, é importante colo-
car todas as cartas na mesa, abrir os problemas da 
relação, tentar entender a dinâmica do casal, se há 
questões não ditas relevantes.
 Ainda que haja um imperativo, um discurso po-
pular que diz que homem não deve levar desaforo pra 
casa e “jamais tem que aceitar ser corno”, um pouco 
de lucidez cai bem aqui. Como já falamos, as coisas 
não são preto no branco. 
 É perfeitamente possível, inclusive, que a relação 
saia melhor de uma situação assim. Principalmen-
te se essa experiência for usada como escada para o 
crescimento mútuo e não como motivo para ampliar 
ainda mais o controle e o medo de se machucar.
 Pode ser que, sim, acabe
 Às vezes, a traição é mesmo um sinal de que já 
não é interessante continuar a relação. 
 Certas questões são muito difíceis de serem cor-
rigidas. Nós não somos máquinas cujas aflições po-
Fui traído
29
dem ser deletadas com o apertar de um botão. Não 
é sempre, mas de fato algumas vezes a traição é um 
sintoma de distanciamento, de que a conexão já não 
flui, que não há alegria.
 E também não há nada de errado com isso. 
 Há marcas que são fortes demais pra algumas 
pessoas. Cada um lida com suas dores da sua forma e 
no seu tempo.
 Dói, mas passa
 Um estudo liderado por Jaime Confer, da Uni-
versidade do Texas em Austin, aponta que a chance 
de um homem perdoar uma traição da namorada é de 
22% se for com outro homem. Porém, esse percentual 
aumenta para 50% se a traição for com uma mulher. 
 Ou seja, para um homem, a traição sobe em ter-
mos de “humilhação” se envolver um outro homem, 
tornando mais difícil o perdão.
 Isso se justifica facilmente se olharmos para a nos-
sa cultura, que incute nos homens a competitividade 
e a posse sobre a mulher. Quando envolve um outro 
cara, não é apenas uma traição, mas uma derrota.
 Como se já não fosse ruim o bastante, há ainda uma 
sensação de humilhação pública, um receio de se ver ex-
posto em uma falha em seu (suposto) papel de homem, 
de satisfazer e dominar plenamente uma mulher.
 Uma grande parte da dor envolve esses senti-
mentos de vergonha, culpa e posse. Às vezes, mais do 
que a traição em si.
Fui traído
30
http://www.edgeprovidence.com/index.php?ch=news&sc=&sc2=news&sc3=&id=124485
 Agora, esse sofrimento pode parecer terrível. Mas 
milhares de pessoas já passaram por isso e sobrevi-
veram. Suas vidas seguiram, seja dentro da mesma 
relação, com todas asdificuldades que isso pode im-
plicar, seja separando (o que também não é fácil).
 É verdade que a gente vê exemplos todos os dias 
de pessoas encarando a traição como um evento de-
vastador, insuperável. A internet, as novelas, filmes e 
livros, se alimentam de situações de histeria ao redor 
disso, mas esse drama todo não funciona bem quan-
do estamos falando da vida real. Afinal, aqui, você 
tem que limpar a sujeira que você faz depois que as 
brigas acabam.
Fui traído
31
 A traição é tão polêmica, mas tão frequente e co-
mum. É bem comum olharmos pra situação tomando 
as dores de quem achamos ser a vítima, mas como 
tudo na vida, a questão é bem mais complexa e mul-
tifacetada do que o maniqueísmo do nosso julgamen-
to costuma pintar.
 No que se refere aos desejos sexuais, podemos 
dividir as pessoas em dois tipos: as que alimentam os 
desejos de forma inadiável e as que treinam o adia-
mento dos desejos.
 Ambos precisam lidar com uma consequência 
positiva e negativa, afinal, vivemos num mundo am-
bíguo que estimula os desejos, mas ao mesmo tempo 
condena sua plena realização. 
 Na arte de gerenciar os próprios apetites, seja 
Traí minha parceira 
ou parceiro 
(e me sinto culpado)
Por Frederico Mattos
32
com ou sem adiamento, existem manobras saudáveis 
ou doentias. 
 No caso saudável, ocorre uma capacidade de se 
saciar sem exageros. O apreço pela qualidade é sufi-
ciente para reciclar a vontade.
 Já no lado doentio de quem opta pelo adiamento, 
há uma castração moral que abafa, aniquila, frustra 
e adoece o sujeito. Não raro os moralistas represen-
tam esse segundo grupo, que precisa de regras muito 
duras – sobre si e os outros – para garantir que im-
pulsos indomáveis fiquem bem presos na gaiola.
 No outro time, dos que não se contém, existe 
quem é saudável e filosoficamente sente que a libe-
ração dos desejos é um ato de abertura pessoal, por-
tanto, busca a saciabilidade sexual na diversidade de 
parceiros. Eles se contrapõem a uma cultura que se 
opõe radicalmente à não-monogamia, mas depois, 
quando encontram os seus pares ideológicos, tendem 
a ficar satisfeitos, ainda que lamentando não existir 
mais gente no mesmo barco.
 Há, finalmente, aqueles que buscam a realiza-
ção de seus desejos como expressão de um mal-estar 
interno e, na cama, como em outras esferas da vida, 
seguem como crianças insaciáveis, incapazes de se 
restringir por pura inconsciência do que desejam de 
fato. É como se o sexo fosse sua salvação, já que outros 
prazeres humanos estariam amordaçados por certa 
covardia. Por isso, buscam a realização compulsória 
de suas vontades quase como se fossem domestica-
Traí minha parceira ou parceiro
33
dos pelos seus desejos e não o contrário. Acreditam 
que isso é uma escolha mas, na verdade, já não sen-
tem liberdade diante de si mesmas.
 Trair é uma questão de caráter?
 Na questão da fidelidade, o que ocorre é um acor-
do – nem sempre claro – de exclusividade sexual e/
ou amorosa, restringindo os impulsos emocionais e 
sexuais que poderiam culminar numa traição. O gran-
de impasse é que nos relacionamentos não há clareza 
sobre os motivos pelos quais a fidelidade é exigida e 
também não é claro o tipo de manobra a ser feita para 
administrar a frustração de certos desejos.
 Então, não sei se eu poderia afirmar que trair 
está ligado à falta de caráter. Essa firmeza moral tem 
um elemento de escolha consciente mas, no caso des-
se último grupo, dos compulsivos (que a nossa cultu-
ra entende como natural no homem), a sensação de 
escolha é superficial. De resto, o que rege são forças 
obscuras.
 A compulsividade por sexo, doce, pular de pá-
ra-quedas, falar sem pensar, ou qualquer outra coisa 
do gênero, em muitos casos, pode ser simplesmente 
resultado de uma vida mal-sucedida que se anestesia 
em qualquer tipo de satisfação imediata. A compulsão 
está sempre na incapacidade efetiva para a recusa. O 
sujeito pode até querer não querer, mas na verdade 
não está habilitado para conter a si mesmo. Ou seja, 
precisa de treino emocional.
Traí minha parceira ou parceiro
34
 Dificuldade em sacrificar os desejos
 O ponto é que quando você se dispõe a namorar 
alguém que consegue adiar os seus desejos, escolhe 
ter pleno controle sobre como canalizá-los. Acordos 
são acordos. Há sempre uma privação mútua, um pre-
ço a ser pago e uma dose de angústia própria da con-
vivência humana. Há quem queira pagar e há quem 
não queira.
 A felicidade não parece ter a ver com conquistar 
tudo e realizar todos os seus desejos, mas sim com 
conseguir escolher, entre aqueles que estão disponí-
veis, quais tem mais profundidade e servem ao pro-
pósito de gerar bases mais sólidas.
Vivemos uma geração que vê na privação pessoal uma 
ofensa ou um fracasso. Você promete algo que sabe 
de antemão que não vai entregar e, mesmo assim, se-
gue forçando a barra. 
 A escolha de se relacionar com mais de uma pes-
soa sabendo que há um acordo, pode estar relaciona-
da a algum imperativo que você não se dispõe a en-
carar de verdade. Porém, a escolha de namorar uma 
mulher que está em desacordo com sua postura e de 
sacrificar o benefício da monogamia – sendo que você 
não pode ou não quer oferecer isso – é sua.
 A rotina sexual costuma ser uma desculpa para 
quem não quer se descobrir e desvendar a imensidão 
do relacionamento e do sexo. De modo geral, somos 
preguiçosos e não queremos nos colocar de formas di-
ferentes para variar nosso movimento interno. Espera-
Traí minha parceira ou parceiro
35
mos que um novo objeto de consumo nos faça olhar a 
vida de um jeito diferente. Isso pode até ser considera-
da uma pobreza de perspectiva.
 Portanto, da perspectiva de quem trai, existe me-
nos um problema moral em si, mas um desajuste de 
motivações. Você não é obrigado a se relacionar com 
uma pessoa só e ela não é obrigada a se relacionar 
com um homem que deseja isso. Então, se a posição 
de ambos é definitiva, o que talvez tenha de ser sa-
crificado é o relacionamento em benefício do desejo 
individual.
Traí minha parceira ou parceiro
36
 Você liga a televisão em um jornal e lá estão as no-
tícias nada animadoras, contando como o desemprego 
se agrava e vai impactando a vida de cada vez mais pes-
soas. A palavra que não pára de se repetir é: crise. 
 Em momentos de crescimento econômico já não 
é muito fácil conseguir emprego, mas em fases de con-
tração econômica como a que vivemos, o terror do 
desemprego só se agrava.
 Lidando com o baque
 Perder o emprego nesse contexto é um evento 
digno de preocupação.
 Quando isso acontece, a pressão interna já é alta 
e ainda é comum as pessoas fazerem perguntas que 
aumentam o seu constrangimento como “ué, não está 
Perdi o emprego e 
não consigo achar outro
Por Luciano Andolini
37
trabalhando?”, ou afirmações desdenhosas como “ah, 
mas tem vaga em todo lugar, você não trabalha por-
que não quer.”
 Mas, apesar do nível de estresse gerado pela si-
tuação e pelas cobranças das pessoas ao redor, essa 
pode ser uma oportunidade que se abre.
 Claro, sua urgência em relação ao problema vai 
depender de inúmeros fatores, principalmente do seu 
conforto financeiro e de eventuais direitos trabalhis-
tas que possam ou não estar amparando você. Ainda 
assim, é importante tentar não ceder ao desespero e 
aproveitar para olhar para si mesmo como pessoa e 
profissional para compreender o ponto no qual se está 
em relação à carreira, objetivos, qualificações e, claro, 
aspirações maiores para o futuro e vida pessoal.
 Uma ruptura como essa pode abrir a possibili-
dade de uma guinada almejada há muito tempo, uma 
mudança de carreira, uma pausa para estudo, para se 
abrir a novas oportunidades.
 O processo de encontrar um novo emprego pode 
partir dessa autoavaliação. Quanto mais honesta e 
profunda ela for, mais provável que o resultado sejauma mudança positiva, seja ela na forma da compre-
ensão dos erros e acertos cometidos até ali, seja pela 
construção de uma rota totalmente nova.
 Faça o feijão com arroz bem feito
 Quando bate a necessidade, o que mais ouvimos 
por aí é que você precisa ter um bom currículo, pre-
Perdi o emprego e não consigo achar outro
38
encher da maneira correta, assegurar-se de que está 
atualizado e é apropriado à vaga que procura. Falam 
também bastante sobre como proceder quando você 
passa da primeira etapa e se destaca na pilha de cur-
rículos e é chamado para uma entrevista.
 De fato, é difícil resumir em um artigo tudo o 
que é preciso para chegar àquele currículo de encher 
os olhos e para ter aquela postura na medida. Mas al-
guns esforços básicos precisam mesmo ser cobertos, 
não tem muito jeito.
 Assim, antes de partir para o pulo do gato na 
hora de achar um emprego, é essencial ter o feijão 
com arroz bem feito.
 Separei aqui uma lista de links que cobrem o bá-
sico de como preparar currículo e portar-se em entre-
vistas para você estar pronto.
 - Como preparar currículo para primeiro emprego 
(G1)
 - Como se recolocar no mercado (G1)
 - Modelos de currículo indicados pelo Catho
 - O blog Modelo e Sucesso do Catho (é uma boa 
fonte de informação)
 - 13 dicas para mandar bem na entrevista de em-
prego (do Vagas.com.br)
 Os grandes sites de emprego são interes-
santes, mas provavelmente sua vaga não vai 
vir de lá
 Não é como se não valesse a pena se candidatar 
Perdi o emprego e não consigo achar outro
39
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2013/07/veja-como-montar-um-curriculo-para-conseguir-o-primeiro-emprego.html
http://g1.globo.com/concursos-e-emprego/noticia/2015/09/esta-procurando-emprego-saiba-como-se-recolocar-no-mercado.html
http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/modelo-curriculo
http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/
http://www.catho.com.br/carreira-sucesso/
http://www.vagas.com.br/profissoes/dicas/13-dicas-para-mandar-bem-na-entrevista-de-emprego/
http://www.vagas.com.br/profissoes/dicas/13-dicas-para-mandar-bem-na-entrevista-de-emprego/
por meio de anúncios em sites de emprego. Pode ser, 
sim, que apareça uma vaga adequada, mas as chances 
são baixas. São poucas vagas para um número exorbi-
tante de candidatos.
 Pense que, ao se candidatar por essas platafor-
mas, você faz um contato frio e entra em uma pilha 
enorme de currículos que fica sujeita a alguém bater 
o olho e achar que as suas credenciais são interessan-
tes. Em um dia ruim, o avaliador pode simplesmente 
não dar a mínima pra um monte de gente perfeita-
mente capaz. Esse método tende a favorecer pessoas 
muito bem qualificadas. Se não é o seu caso, talvez 
valha a pena pensar em outras estratégias.
 Se quiser tentar, pode compensar investir em um 
perfil premium em um site como o Linkedin. O desta-
que extra e os recursos disponíveis na plataforma são 
úteis (como, por exemplo, saber quem visitou seu per-
fil). Um truque é atualizar diariamente seu perfil no 
Linkedin, assim, você vai pra timeline das pessoas e 
aumenta sua relevância, ganhando mais visibilidade.
 Grupos de Facebook focados em áreas e cidades 
também podem ser úteis. Uma busca com a sua área 
em mente tende a dar bons frutos.
 Outra ideia pode ser a de procurar em sites me-
nores, focados em determinados nichos e cidades. Por 
exemplo, se você for de Londrina e da área de publici-
dade ou TI, uma alternativa seria o Jobs Londrina.
 Vou deixar aqui uma lista com os principais si-
tes de emprego se você quiser tentar a sorte.
Perdi o emprego e não consigo achar outro
40
http://jobslondrina.com/
 - Linkedin
 - Catho
 - Infojobs
 - SINE (Esse tem uma abrangência enorme de 
vagas em todas as áreas)
 - Empregos.com.br
 - Vagas.com.br
 - Indeed.com.br
 - Trovit Brasil
 - CIEE (Ajuda estudantes a procurar estágio ou 
primeiro emprego)
 Exemplos de sites de emprego especializados:
 - Manager (Administração, indústria, comércio)
 - Jurídico Vagas (para estudantes, bacharéis em 
direito e advogados)
 - CVEngenharia (para a área de engenharia)
 - Carreira Fashion (moda)
 Não atire pra todo lado, mas nunca recu-
se uma entrevista
 Um erro comum é a pessoa começar a se candida-
tar a tudo quanto é vaga, no desespero pra conseguir 
qualquer coisa. A menos que a situação esteja realmente 
muito ruim e seja o único jeito, é bom manter-se focado 
no caminho que você pretende trilhar profissionalmen-
te (claro, de forma sensata, pesando a sua urgência).
 Porém, caso chamem para alguma entrevista, é 
importante ir. Mesmo que não seja contratado, cada 
Perdi o emprego e não consigo achar outro
41
https://www.linkedin.com/
http://www.catho.com.br/
https://www.infojobs.com.br/
https://www.sine.com.br/
https://www.sine.com.br/
https://www.empregos.com.br/
http://www.vagas.com.br/
https://www.indeed.com.br/
https://www.trovit.com.br/
http://www.ciee.org.br/portal/index.asp
http://www.ciee.org.br/portal/index.asp
http://www.manager.com.br/
https://juridicovagas.com.br/
https://juridicovagas.com.br/
http://www.cvengenharia.com.br/
http://www.carreirafashion.com.br/
entrevista é uma oportunidade de conhecer mais pes-
soas, fazer parte do círculo daquela empresa ou en-
trar no radar daquele grupo de recrutadores.
 É comum que recrutadores façam entrevistas que 
não contratam imediatamente, mas que depois aca-
bam recompensando, pois eles ficam com você em 
mente para vagas que podem até ser mais adequadas 
ao seu perfil. Além disso, eventualmente a pessoa que 
foi contratada no seu lugar pode se demitir e, abrin-
do a vacância, dependendo da sua performance, você 
pode ser o próximo da fila. Nunca se sabe.
 Sem contar que ser chamado para entrevistas é 
um ótimo sinal. Quando isso acontece, já é bastante 
positivo e, além de ajudar com a prática, pode me-
lhorar seu psicológico nesse momento sensível.
 Sua rede de contatos vale ouro
 Muitas vagas de emprego não vão para os sites 
como o Catho ou Vagas.com.br. É comum que boas 
contratações aconteçam por outra via: a indicação.
 E faz sentido. 
 Pense com a cabeça de um contratante. O que é 
melhor? 
 1) Encarar uma pilha de currículos de pessoas 
que você não faz a ideia de quem são e perder horas 
fazendo entrevistas, correndo o risco da pessoa ape-
nas ser muito boa em dizer o que você quer ouvir ou; 
 2) Receber boas indicações de pessoas agradá-
veis e que trabalham bem, já referenciadas pela ex-
Perdi o emprego e não consigo achar outro
42
periência de alguém em quem confia?
 Pensa, se nós já levamos tão a sério os reviews 
de produtos, restaurantes e hotéis, imagina quando 
vamos investir tempo e dinheiro contratando uma 
pessoa? É bastante razoável pensar que se você tem 
um amigo que teve uma boa experiência profissional 
com alguém, vai ouvir a opinião dele e ver o candida-
to com bons olhos de antemão.
 Então, é interessante comentar com as pessoas 
ao seu redor que você está desempregado e procura 
uma vaga nova. Essas pessoas acabam se tornando 
seus olhos pelo mundo. Elas procuram, torcem por 
você e, quando acham justo, fazem a ponte. Essas in-
dicações valem ouro.
 Quando o desemprego bate à sua porta, esse é 
o momento de encontrar amigos e antigos parceiros 
profissionais para bater um papo. 
 Vale conversar com pessoas que tenham empre-
sas, gente que trabalhe na mesma área que você gos-
taria de entrar, veja quem está trabalhando em novos 
lugares, quem está há muito tempo na mesma empre-
sa, funcionários públicos. Esses diferentes perfis po-
dem mostrar caminhos, oferecer alternativas e con-
selhos que você talvez não tenha considerado.
 E, se a sua sorte estiver alta, pode ser até que 
saia uma contratação de uma dessas conversas.Pode ser a sua chance de empreender
 Uma das alternativas para quem está desempre-
Perdi o emprego e não consigo achar outro
43
gado é simplesmente não procurar emprego. 
 Ao invés disso, talvez seja interessante pensar 
em empreender. 
 Hoje, a burocracia para abrir uma empresa está 
bem menor e há modelos de negócio que podem ser 
iniciados com pouco investimento.
 O Sebrae oferece o Empretec, uma metodologia 
desenvolvida pela ONU voltada para o desenvolvi-
mento de comportamento empreendedor, para aju-
dar as pessoas a identificarem novas oportunidades 
de negócio. Esse sistema é aplicado em 34 países com 
o objetivo de ajudar a desenvolver o mercado e criar 
emprego e renda nesses lugares.
 Caso você não possa fazer o curso presencial, o 
Sebrae também oferece uma plataforma de ensino à 
distância, com cursos online gratuitos. Há diversas 
alternativas para você aprender a abrir seu negócio 
sem sair de casa. Há, inclusive, material voltado para 
montar negócios simples e de baixo investimento para 
você começar o mais rápido possível como, por exem-
plo, o Aprender a Empreender e o portal de ideias, 
com guias para abrir bares, fornecedoras de marmi-
tas, minimercados ou lojas online. 
 Seguir como autônomo
 Ainda na linha de não procurar emprego, também 
é possível oferecer seus serviços como autônomo.
 Há sites nos quais você pode divulgar seus ser-
viços e entrar em contato com contratantes na sua 
Perdi o emprego e não consigo achar outro
44
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/sebraeaz/empretec-fortaleca-suas-habilidades-como-empreendedor,db3c36627a963410VgnVCM1000003b74010aRCRD
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ead
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ead
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ead/aprender-a-empreender,9fd04bbfa8c98510VgnVCM1000004c00210aRCRD
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-montar-um-bar,4f187a51b9105410VgnVCM1000003b74010aRCRD
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-montar-uma-fornecedora-de-refeicoes-em-marmita,be887a51b9105410VgnVCM1000003b74010aRCRD
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-montar-uma-fornecedora-de-refeicoes-em-marmita,be887a51b9105410VgnVCM1000003b74010aRCRD
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-montar-um-minimercado,64f87a51b9105410VgnVCM1000003b74010aRCRD
http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ideias/como-montar-uma-loja-virtual,00287a51b9105410VgnVCM1000003b74010aRCRD
região ou também para atuar remotamente.
 É mais comum conseguir trabalhos como free-
lancer pela internet para quem é da área de comuni-
cação ou TI, mas existe a possibilidade de oferecer 
outros serviços também via sites como o GetNinjas, 
que tem um espectro bem amplo de áreas.
 O Workana é outro site que divulga perfis de fre-
elancers, porém, voltado para profissionais de comu-
nicação, marketing, TI e design. 
 Para além dessas plataformas, assim como nas 
vagas tradicionais, o contato direto e grupos de Face-
book mais focados na sua área de atuação costumam 
ser mais efetivos.
* * *
 A perda de um emprego costuma vir carregada 
de sentimentos de frustração, medo de não conseguir 
outro tão cedo, enfrentar a falência financeira e co-
branças de familiares.
 Quando você está em uma empresa ou carreira 
por dez ou quinze anos, por exemplo, pode ser ain-
da mais desesperador ter de se adaptar a um mundo 
novo que se abre à sua frente.
 Mas, ainda que as circunstâncias não caminhem 
para aquilo que se planejou para si próprio, é inte-
ressante perceber que a melhor solução é aquela que 
funciona, independente da idealizações e julgamen-
tos de valor que se alimenta sobre a vida profissional.
Perdi o emprego e não consigo achar outro
45
https://www.getninjas.com.br/
https://www.workana.com/pt
 Conheço poucas pessoas realmente satisfeitas – 
ou não-frustradas – com um modelo de vida marcado 
por uma dedicação quase incondicional ao trabalho.
 Acordar às 6 da manhã, pegar um meio de trans-
porte muitas vezes desconfortável, voltar para casa por 
volta das 8 horas da noite e ainda enfrentar uma série 
de responsabilidades domésticas quando, finalmente, 
poderá dormir para enfrentar o replay no dia seguinte.
 Óbvias variações dessa rotina semanal exaustiva 
existem, mas a sensação de esgotamento é presente 
em praticamente todos que fazem parte do modelo 
tradicional de trabalho.
 Em raras ocasiões conheci alguém – que se diz 
– orgulhoso de uma rotina assim, e na maioria das 
vezes me revelaram em momentos mais íntimos que 
Odeio meu trabalho 
(como mudar de carreira ou 
lidar com um trabalho ruim)
Por Alberto Brandão
46
se posicionam dessa forma porque soa bem aos olhos 
alheio, transmite a impressão que todos os outros são 
preguiçosos e você é automaticamente enquadrado 
como parte de uma classe superior.
 Somos inseridos no mercado muito cedo e rece-
bemos pouca ou nenhuma instrução de como todo me-
canismo funciona. Muitas vezes, o que nos é dito vem 
de um ponto de vista de escassez, de medo ou sim-
plesmente não condiz com a nossa realidade. Assim, 
congelamos o mundo em uma noção equivocada e fo-
camos apenas em ganhar o sustento e não dar motivos 
para ser demitido.
 A parte triste de tudo isso é que pensamos bem 
pouco sobre o que o trabalho representa e como po-
demos assumir uma relação entre trabalhador e em-
presa de maior qualidade.
 Se você for minimamente como eu, não quer 
ter seu dia inteiro preenchido com tarefas sem fim e 
também não quer sentir que seu tempo está passan-
do em branco. 
 É um verdadeiro dilema perceber que estamos 
estressados e perdendo nossas vidas para um traba-
lho que não nos diz muita coisa, mas quando chega-
mos em casa precisamos lidar com pilhas de boletos 
para pagar. 
 É fácil, também, buscar soluções mágicas para 
resolver o problema e nos deixar levar por uma ilu-
são onde fazemos só o que gostamos e os conflitos 
deixaram de existir.
Odeio meu trabalho
47
 Como podemos resolver um dilema tão essencial 
para a sociedade moderna como esse? Existe uma for-
ma de sentir de que estamos vivendo plenamente e, 
ao mesmo tempo, não sofrer com as contas que vão 
chegando?
 Questione o modelo
 Quando vamos arrumar nosso guarda roupa, o 
primeiro passo é tirar tudo lá de dentro e jogar em 
cima da cama.
 Depois, você forma uma verdadeira bagunça 
onde não existe um processo claro de organização e, 
a partir disso, começa a definir uma ordem mais cla-
ra para as coisas.
 Realizar mudanças substanciais em nossa vida não 
é muito diferente e, normalmente, evitamos mudar por-
que nos obriga a lidar com a dor, bagunçar tudo que re-
conhecemos como concreto e desafiar nossas verdades.
 Se você não está satisfeito com o modelo de traba-
lho que leva, passe algum tempo questionando como 
chegou aonde está e o que pode estar errado.
Algumas perguntas que podemos nos fazer são:
 - O que realmente me deixa insatisfeito no meu 
trabalho?
 - Se pudesse mudar algo, o que seria?
 - Não gosto da minha área de trabalho ou da for-
ma que a empresa funciona?
 - Existem pessoas que trabalham como eu gosta-
ria? O que elas fazem?
Odeio meu trabalho
48
 - Se eu não estivesse fazendo o que faço, onde 
estaria?
 - Qual a ação mais simples que eu posso fazer 
para melhorar o cenário (Cursos? Treinamentos?)
 É claro que as perguntas acima são apenas al-
guns exemplos de como podemos colocar nosso pro-
blema no raio x e investigar o que não está encai-
xando. Cada situação vai ter suas particularidades e 
outras perguntas melhores vão se fazer necessárias.
 Mais do que seguir esse (ou qualquer outro) ro-
teiro, o importante aqui é questionar e buscar com-
parativos, simplesmente para entender que chegamos 
onde estamos por algum motivo, mas isso não signi-
fica que devemos ficar lá para sempre.
 Encontre significado
 Umdos mais comuns dilemas da juventude é a 
ideia de fazer o que gosta. Ou executar um trabalho 
que tenha algum significado especial.
 Não é segredo que quando gostamos muito do que 
fazemos ou encontramos algum significado maior na 
atividade, desempenhamos tal atividade com maior 
alegria e, claro, qualidade.
 O problema é que este é um luxo que poucos po-
dem se dar. Nem sempre dá pra largar tudo e traba-
lhar no emprego dos sonhos.
 Uma possível saída para quem não tem tanta es-
colha é desenvolver um significado extra para o tra-
balho, algo que ajude a ver o que faz todos os dias 
Odeio meu trabalho
49
com outros olhos.
 Existe um provérbio grego que diz “Como fazer 
um homem valorizar seu cavalo?”, “tirando o cavalo 
dele.” Pense um pouco: se você não tivesse o trabalho 
que tem, como seria sua vida?
 Pense nas pessoas que conhece nele e tudo o que 
você construiu com o que recebe neste emprego. Isso 
não é importante?
 Seu trabalho é facilitador de outros sonhos e re-
solve vários problemas que são essenciais. Uma vez 
supridas, tendemos a dar menos importância às nos-
sas necessidades básicas, mas deixar de tê-las garan-
tidas é um sofrimento e tanto, com potencial de pre-
judicar muitas outras áreas da vida em uma espécie 
de efeito dominó. Não à toa, o desemprego é visto 
como uma questão das mais urgentes.
 Da mesma forma que é possível olhar para cima 
e pensar em algo ideal para você, pode ser interessan-
te olhar para baixo e ver que existe um cenário muitas 
vezes bem pior, no qual você não gostaria de estar.
 Antes de mudar, por que não tentar re-
solver?
 Qualquer ambiente de trabalho possui proble-
mas. Identificar o que existe de errado no local onde 
estamos é natural e tudo o que incomoda tende a se 
destacar aos nossos olhos. A nossa reação é automá-
tica, preferimos fugir do que causa desconforto, ao 
invés de solucionar os problemas que existem. 
Odeio meu trabalho
50
 Como humanos, somos ansiosos por procurar 
regras e segui-las, mesmo que muitas vezes essas re-
gras sequer existam. Muito do que nos incomoda no 
trabalho não está definido a ferro e fogo, ou seja, é 
possível mudar.
 É interessante manter essa perspectiva em vis-
ta, saber que podemos resolver inúmeros problemas 
sem precisar romper logo de cara e modificar toda 
nossa vida por isso. 
 Para o nosso próprio bem estar (e dos outros, 
claro), é importante assumir a responsabilidade de 
sugerir ideias e modificar processos, mesmo que mui-
tas vezes não seja tão simples assim passar pela re-
sistência que pode se apresentar.
 Criar uma lista de todos os pontos que podem 
ser modificados para melhorar o seu bem estar den-
tro da empresa e listar um plano de ação para cada 
um desses itens para discutir com as partes envol-
vidas pode tirar um enorme peso das costas, sim-
plificando e transformando o ambiente em um local 
mais favorável.
 Tenha um projeto pessoal
 Se existe algo que faz parte constante da minha 
vida são meus projetos paralelos.
 Tenho dezenas de pequenas coisas que, mesmo 
quando meu emprego não entrega a satisfação espe-
rada, consigo olhar para tudo o que estou produzin-
do e extrair realização.
Odeio meu trabalho
51
 A ideia de ter satisfação pessoal com nosso tra-
balho formal é relativamente recente, e mesmo que 
eu ache importante, existem outras formas de sentir-
-se realizado quando o emprego não consegue pro-
porcionar.
 Lembre que muitas das vezes o trabalho dos nos-
sos sonhos precisa ser construído aos poucos.
 Entenda o que você quer
 Um outro problema quando falamos de trabalho 
é definir o que realmente importa.
 É muito fácil observar os atrativos que empre-
gos podem oferecer e não saber exatamente qual a 
sua prioridade.
 Algumas pessoas preferem segurança e estabili-
dade, outras não veem significado nisso. Eu prefiro 
ambientes mais relaxados e uma flexibilidade maior. 
Para mim, um salário alto não paga o estresse.
 É claro, existem também os gostam de dinheiro, 
possuem ambições mais altas e querem levantar uma 
boa quantia para melhorar a qualidade de vida.
 É importante entender que não precisa existir 
julgamento de valores sobre nenhuma dessas prio-
ridades. Cada um sabe onde seu calo aperta. O im-
portante é entender que dificilmente encontraremos 
todos os elementos positivos num mesmo lugar. Por 
isso, entenda muito bem o que precisa e siga seu ca-
minho até sua prioridade mudar.
Odeio meu trabalho
52
 O modelo dos seus sonhos não é perfeito
 Somos excelentes em romantizar cenários fu-
turos, esquecendo de adicionar a eles todos os pro-
blemas que estarão incluídos quando a fantasia se 
tornar realidade.
 Eu, por exemplo, sempre sonhei em trabalhar 
de casa, ter meu escritório e fazer tudo do meu jeito, 
sem preocupações. Passei uns bons anos trabalhan-
do assim, até quase enlouquecer e entender que meu 
lugar de produzir é junto com outras pessoas.
 Portanto, quando começar a sentir que em outra 
situação todos os problemas estarão resolvidos, res-
pire um pouco e faça uma pesquisa. Procure os deta-
lhes sobre a profissão e os problemas que elas têm. 
Converse também com gente que já está no lugar que 
gostaria de estar, descubra sobre os pontos negativos 
que você ainda não conhece, talvez isso ajude a acal-
mar um pouco as coisas.
 Sempre que estamos desconfortáveis tentamos 
buscar saídas fáceis e imaginamos universos que não 
condizem diretamente com os fatos.
* * *
 Trabalho ocupa uma fatia enorme do nosso tem-
po e é normal sentir frustração frequente com tudo 
o que se torna tão grande da nossa vida. No entanto, 
às vezes precisamos olhar com um pouco menos de 
emoção e assumir uma posição mais prática.
Odeio meu trabalho
53
 Não estou sugerindo que desista de seus objetivos 
e abandone o que sonha, mas pode ser interessante 
relaxar e perceber que a estrada ideal é construída 
aos poucos e, enquanto isso, é bom agir de forma um 
pouco mais objetiva.
Odeio meu trabalho
54
 Não é de se estranhar que muita gente ache o 
assunto educação financeira meio chato. Por vezes, 
acho que é mais culpa da abordagem do que do assun-
to em si: “anote todos os seus gastos”, “economize no 
cafezinho”, “poupe 20% do seu salário”. A intenção, 
na maioria dos casos, é das melhores, mas a verdade 
é que ainda nos falta jeito para tornar o tema mais 
atraente, mais conectado com todos as outras áreas 
da vida.
 Numa tentativa de tornar as coisas mais interes-
santes, sempre que trabalho com um grupo, experimen-
to propor que a turma atue em cima de uma situação 
real. Levo, para a sala de aula, a história de um cliente 
de consultoria financeira, cujo processo já foi finaliza-
do, e peço que a turma palpite, sem medo de errar.
Não sei controlar 
minhas finanças
Por Eduardo Amuri
55
 A proposta de hoje é exatamente essa, mas ao 
invés de trabalhar com um caso real, que talvez não 
tivesse relação com a maioria de nós, trabalharemos 
com um personagem criado a partir das respostas 
que obtivemos em uma pesquisa que fizemos para o 
PapodeHomem.
 Tomei a liberdade de complementar a persona-
lidade (e os dilemas) do nosso personagem, de modo 
que ele enfrente questões parecidas com as quais ob-
servei no meu dia a dia como consultor financeiro.
 Sem mais delongas, conheça o Francisco
 Francisco tem 31 anos e mora em São Paulo, ca-
pital. Recém-saído de um relacionamento longo, ago-
ra está solteiro e divide apartamento com um amigo 
em um prédio antigo, porém confortável, perto da 
importadora onde trabalha como analista desde que 
saiu da faculdade já há alguns anos.
 Ele buscou uma consultoria financeira porque 
sente que nos últimos anos não conseguiu tirar do pa-
pel os planos que traçou. Ganha R$ 4500 líquidos por 
mês, mais benefícios. Quando perguntei sobre os pla-
nos, me respondeu que “não é nada demais, é só enca-minhar as coisas mesmo”. Tem uma reserva financeira 
pequena, que estica e encolhe, dependendo da época 
do ano. Possui três contas bancárias: uma universi-
tária, uma que abriu por conta do estágio e outra que 
precisou criar quando entrou na empresa atual.
 Não é um cara de grandes luxos. “Por mês acho 
Não sei controlar minhas finanças
56
que vão uns R$ 200 de roupa, que eu geralmente par-
celo no cartão. Aí tem o mercado, a grana do final de 
semana, uma ou outra viagem o que, aliás, é algo que 
eu gostaria de fazer mais vezes...”.
 Perguntei quanto ele acha que custaria a viagem 
que ele mais gostaria de fazer e ele contou que nunca 
havia parado para fazer a conta de verdade, mas que 
se debruçaria nisso quando recebesse o décimo-ter-
ceiro. Ele também me disse que quitou recentemente 
o carro zero que comprou.
 “Foram doloridas 36 prestações que pareciam 
não acabar nunca. Agora não tenho grandes gastos, 
é mais os R$ 300 de gasolina mesmo. Isso porque no 
final de semana utilizo táxi, Uber ou Cabify.”
 Divide o apartamento com um amigo mas, mes-
mo gostando da convivência, sente que está na hora 
de morar sozinho e diz que: “inclusive, essa é uma 
das motivações para que eu me organize.” Paga R$ 
1500 por mês, o que inclui tudo. O Chico – já estamos 
ganhando intimidade – não sabe muito bem quanto 
paga por cada coisa (aluguel, condomínio, internet, 
luz…), só faz a transferência todo mês e seu colega 
cuida do resto.
 Antes de mim, ele conversava muito pouco sobre 
dinheiro. Esse não é um assunto trivial nos círculos 
em que frequenta. Às vezes alguém solta um comen-
tário, do tipo “cacete, tô muito ferrado de grana esse 
mês”, aí os outros balançam a cabeça, dizem “tá di-
fícil mesmo” e a vida segue. O assunto é tão velado 
Não sei controlar minhas finanças
57
que ele preferiu não contar para ninguém que havia 
procurado uma consultoria financeira.
 Partimos de onde?
 Logo no nosso primeiro encontro Chico chegou 
com uma planilha. Ela foi feita pelo primo há muitos 
anos e estava incompleta, desatualizada e em vias de 
ser enviada para a terra dos planejamentos esquecidos 
– lugar tristonho e melancólico, para onde vão todas 
as planilhas e aplicativos de controle de despesas que 
não receberam amor. Estava animadíssimo, querendo 
falar de todos os gastos e estranhou bastante quando 
falei que não precisaríamos dela naquele dia.
 Às vezes a gente pensa que o primeiro passo de 
todo o planejamento é sair listando gastos e anotando 
despesas, e essa é, na minha opinião, a razão pela qual 
a terra dos planejamentos esquecidos recebe milhares 
de novos habitantes todos os dias. Quando o planeja-
mento não tem um motivo relevante para existir, ele 
não se sustenta. O ato de preencher uma planilha ou 
um aplicativo, em si, é inútil. Se não houver um pro-
pósito para essa movimentação toda, ou seja, se o ob-
jetivo for apenas manter as coisas atualizadinhas, não 
há ânimo que dê conta. Podemos até começar empol-
gados, movidos por uma fagulha, mas é fato que em 
pouquíssimo tempo essa energia se esvai.
 Quando contei isso ao Chico ele fez uma cara 
de desespero. Me disse que já havia começado e pa-
rado algumas vezes, mas que achava que a culpa era 
Não sei controlar minhas finanças
58
da indisciplina e que por isso foi procurar (a minha) 
ajuda. A indisciplina tem lá seu papel nessa pequena 
bagunça, mas não é, nem de longe, a protagonista.
 Quanto mais palpável mensurável e estrutura-
do for esse objetivo, melhor. “Acho que não tenho 
nenhum objetivo para agora...”. Essa fala é bastante 
comum e compreensível e, de acordo com minha par-
ca experiência de vida, não há problema algum nela. 
Passamos períodos da vida sem grandes planos mes-
mo. De todo modo, o exercício é importante.
 “Quais planos que, de uma forma ou de outra, 
dependem de dinheiro, e você gostaria de realizar?”
 Muitas vezes somos levados a pensar que é pre-
ciso algo grandioso e, de preferência, altruísta, mas 
a verdade é que pode, sim, ser algo menor, munda-
no, prático, desde que seja genuinamente importan-
te. Não precisa ser um projeto social, uma grande 
mudança de carreira ou a casa própria com banheira.
 Chico comentou “Ah, tem essas viagens aí, né?”. 
É uma boa tentativa, mas dessa forma não serve, e 
não é porque esse plano não é audacioso o suficiente, 
é só porque está vago, solto, impreciso. Com um pou-
co de pesquisa e exercício, chegamos a algo melhor:
 “Quero conseguir viajar todos os anos. Daqui 9 
meses quero fazer uma viagem de 15 dias para Bue-
nos Aires, a viagem custará R$ 4500, já que a pas-
sagem custa por volta de R$ 1200 e eu devo gastar 
em torno de R$ 250 por dia, entre alimentação, la-
zer e hospedagem.”
Não sei controlar minhas finanças
59
 Enquanto falávamos da viagem, Chico abriu o 
mapa da Argentina, viu outras cidades que gostaria 
de visitar, deu uma olhada rápida em blogs especia-
lizados e a coisa toda ganhou um pouco mais de bri-
lho.
 Com ele animado por conta dos planos argenti-
nos, podemos começar a pensar em termos práticos. 
Eu geralmente organizo o processo em três etapas: 
estruturação, fotografia e quadrantes. Comentarei 
cada um deles de maneira breve.
 A logística importa
 A estruturação consiste, basicamente, em organi-
zar a logística financeira básica da vida. Para a maio-
ria dos brasileiros razoavelmente inseridos no sistema, 
isso está ligado ao banco e às demais instituições fi-
nanceiras. Salvo casos muito, muito específicos, é per-
feitamente viável com uma conta corrente e um cartão 
de crédito. Um e um. Só. Não mais do que isso.
 Fui bem categórico com o Chico e ele emendou 
uma desculpa atrás da outra:
 1. “Ah, mas a minha conta universitária não 
tem taxa.”
 2. “Ah, mas é bom ter pro caso de uma emer-
gência.”
 3. “Ah, mas esse cartão de crédito tem anuida-
de muito baixa.”
 4. “Ah, mas é que não dá pra confiar em um 
banco só.”
Não sei controlar minhas finanças
60
 Antes de responder a cada uma das justificativas, 
vale ressaltar a base: nossa energia é ridiculamente 
limitada. A parcela que dedicamos a gestão financei-
ra, então, é mais limitada ainda. Cada novo agente 
que colocamos no jogo consome nossos recursos (fi-
nanceiros e emocionais). Já que a disposição para li-
dar com as finanças é tão escassa, por que desperdi-
çar com coisas que agregam tão pouco?
 Sobre a justificativa 1 e 3, não é só a questão fi-
nanceira que está em jogo por aqui, certo? E outra, a 
conta e o cartão são gratuitos hoje, mas ninguém ga-
rante que seguirão assim para sempre.
 Chico comentou, orgulhoso, que ano passado re-
solveram cobrar a anuidade desse cartão, que ele li-
gou para reclamar e que estornaram o valor. Pergun-
tei quanto tempo ele ficou no telefone e ele disse “não 
muito, uma hora e meia, no máximo.”
 Uma hora e meia! Uma hora e meia de sono. Uma 
hora e meia de bar. Uma hora e meia de seriado no 
Netflix. Uma hora e meia de academia. Uma hora e 
meia de papo. Não é difícil pensar em empregos me-
lhores para essa uma hora e meia de vida.
 Sobre a 2 e a 4, eu entendo. Juro que entendo, mas 
não é boa coisa pautar nossa estrutura com base em 
um cenário de exceção. Tenha dois cartões de débito do 
mesmo banco, se você quiser. Escolha o banco que você 
se sentir mais confortável. Mas mantenha as coisas en-
xutas e aceite o risco: um cartão de crédito, uma conta 
corrente. Em um período de estresse e descontrole, vai 
Não sei controlar minhas finanças
61
ser ótimo ter que estancar um vazamento só.
 Chico levou pouco mais de uma semana para ajei-
tar as questões todas, mas deu certo, e ele aproveitou 
para negociar ainda mais a anuidade do cartão de 
crédito eleito, com o argumento de que haviam lhe 
oferecido uma série de opções com anuidade zero.
 Dito isso, vamos ao próximo ponto.
 Uma foto, pra entender o que está rolandoPedi que Chico pegasse uma folha de papel, uma 
caneta e comecei minha ladainha:
 “Finja que, durante os próximos 30 dias, todos 
os bancos ficarão fechados, que todas as maquininhas 
de cartão estão fechadas e que você não poderá pedir 
dinheiro para ninguém; você precisa fazer um saque 
hoje, que deve bancar seu próximo mês inteiro, as con-
tas fixas, as contas variáveis, tudo… anota no canto 
desse papel qual deveria ser o valor desse saque.”
 O diálogo a seguir aconteceu (hipoteticamente, 
amigos, não esqueçam do teatro) com o Chico, e acon-
tece com bastante frequência, na vida real:
 Chico: Vou pegar minha planilha pra consultar…
 Eu: Não, Chico, é só um chute, sem consultar a 
planilha.
 Chico: Mas eu não faço a mínima ideia…
 Eu: Tudo bem, é por isso que é um chute.
 Chico: Vou errar, eu acho...
 Eu: Tudo bem.
 Chico: Não sei nem por onde começar…
Não sei controlar minhas finanças
62
 Eu: Está tudo bem...
 Chico chutou R$ 4000. Perguntei se sobravam 
R$ 500 na maioria dos meses e ele me olhou com cara 
de dúvida. Comentei que, se o chute era R$ 4000 e o 
salário líquido era R$ 4500, deveria sobrar mais ou 
menos R$ 500 todos os meses. Ele riu e disse que se 
sobrasse R$ 500 todos os meses ele não estaria ali 
falando comigo.
 É bem legal perceber pra onde nossa mente vai 
quando precisamos dar o tal chute. Existem várias 
rotas possíveis. Tem gente que pensa no salário todo, 
tem gente que tenta elencar os gastos bem rapidamen-
te e faz a soma, tem gente que chuta um valor qual-
quer, sem nenhuma preocupação. Tem quem adote 
uma estratégia mais conservadora, e chuta pra cima, 
e tem quem tem medo de olhar pra essa questão, e 
chuta pra baixo. Todos são igualmente válidos, é só 
um começo de exercício.
 Pedi ao Chico que tentasse testar esse chute, co-
meçando pelos gastos fixos. Ele achou bem fácil, che-
gamos nisso aqui:
 - Casa: R$ 1500
 - Academia: R$ 80
 - Plano dental: R$ 20
 - Celular: R$ 170
 Somamos e chegamos em R$ 1770. Ele soltou um 
“meu deus, sou rico”. A parte fixa é sempre fácil. Per-
guntei pra onde ia o resto do dinheiro e ele disse que 
não fazia ideia. Até me escapou um riso porque isso 
Não sei controlar minhas finanças
63
é muito, muito normal. Foi quando pedi para que ele 
estimasse os gastos variáveis e ele travou.
 Estimar um mês de gasto variável é sempre mui-
to difícil. É muito tempo, acontece muita coisa, são 
muitos pequenos eventos. É sempre vantagem esti-
mar por semana e, mais do que isso, estimar por pe-
quenas categorias: Chegamos em algo assim (lembre-
-se que, por enquanto, é semanal):
 - Mercado: R$ 120
 - Final de semana: R$ 220
 - Jantar semana: R$ 80
 - Gasolina: R$ 80
 - Café e lanche: R$ 50
 - Uber: R$ 80
 Resumindo, são R$ 550/semana, logo, R$ 2200/
mês.
 “Ah, meu deus, é esse o problema, então.
 Soma esses R$ 2200 com os R$ 1800 e já dá 
R$ 4000…
 E eu nem coloquei as outras coisas...
 E eu nem tenho certeza sobre esse Uber, não faço 
ideia de quanto vem.”
 A ideia desse exercício é essa. É ter uma base de 
quanto custa um mês padrão, sem estripulias, sem 
os gastos extras, sem os imprevistos. Geralmente en-
cerro esse encontro passando uma “tarefa de casa”: 
refinar essa fotografia. É muito comum esquecermos 
alguns itens, e a ideia é tratar o planejamento como 
algo iterativo, a ser melhorado pouco a pouco.
Não sei controlar minhas finanças
64
 Ingrediente mágico: previsibilidade
 É comum dizermos por aí que “o dinheiro é uma 
angústia”. Vale a pena aprofundar um pouquinho essa 
afirmação. Pelo que percebo, uma das principais cau-
sas dessa angústia não é bem a falta ou a sobra, nem 
a burocracia, é a falta de previsibilidade.
 Por vezes cruzo com algum cliente cuja situação 
é bem complicada, e escuto algo como “Que coisa ma-
luca, né? Minha situação financeira atual é igual a mi-
nha situação financeira da semana passada, mas parece 
que estou mais tranquilo.” Não é nenhuma bruxaria. 
Adoramos nos sentir no controle – mesmo que esse 
controle seja bem relativo. Nós somos levados a acre-
ditar que gerir bem o dinheiro é anotar cada gastinho, 
e isso torna tudo bem difícil. Propus para o Chico um 
exercício mais simples, de previsão mesmo.
 Era quinta-feira e nos encontraríamos novamen-
te na quinta da outra semana. Perguntei quanto di-
nheiro ele tinha na conta bancária hoje, e quanto di-
nheiro ele teria na quinta-feira da semana que vem. 
 Ele achou o desafio muito absurdo, porque muitas 
coisas poderiam acontecer nesse intervalo de tempo, 
mas eu insisti (imaginar isso tudo está sendo bem di-
vertido pra mim).
 Resolvemos fazer o exercício em partes. Primei-
ro, claro, pegamos o saldo atual (jogo rápido, no pró-
prio internet banking). Em seguida, listamos quais 
os gastos fixos que aconteceriam dali até a semana 
que vem. Em seguida, concentramos os variáveis em 
Não sei controlar minhas finanças
65
uma linha só. Aqui está o grande lance. Concentrar 
os gastos variáveis em um lugar só torna tudo muito 
mais claro. Chegamos em algo assim:
 04/05: R$ 2350 (saldo atual)
 - R$ 1500 (aluguel)
 - R$ 79 (academia)
 - R$ 550 (variável da semana)
 11/05: R$ 221 (saldo projetado)
 Esse é um exemplo de planejamento financeiro 
para uma semana. Testamos por uma semana e a coi-
sa se perdeu (a vida não é fácil, amigos). Surgiu um 
gasto inesperado (um presente) e o Chico largou mão 
das contas. Refizemos o planejamento para a semana 
seguinte, dessa vez com outra estratégia.
 Reduzimos o variável para R$ 500 (porque so-
brou na primeira semana, ou seja, estava superes-
timado), acordamos que esses imprevistos (como o 
presente) não entrariam nos gastos variáveis e, para 
poupá-lo da obrigação de acompanhar o extrato, ele 
sacou os tais R$ 500. Todos os gastos variáveis (mer-
cado, final de semana, gasolina, etc) seriam pagos em 
dinheiro de papel.
 Conseguimos acertar as previsões, semana por 
semana.
 Amarrando as pontas
 Agora que nós simplificamos a estrutura, fize-
mos a fotografia e começamos a brincar com as pre-
visões de uma semana, o próximo papo é estender as 
previsões. É o que chamo de quadrante.
Não sei controlar minhas finanças
66
Na prática é muito simples: uma folha sulfite dividida 
em quatro. Cada quadrante representa uma semana. 
Chegamos nisso:
 
 O retângulo no início de cada quadrante é o saldo 
inicial. O retângulo no fim de cada semana é o saldo 
projetado. Chico deu uma resmungada nessa hora, 
perguntando se ele precisaria ficar fazendo isso to-
dos os dias. Eis então a minha promessa:
 “Com a fotografia e os quadrantes feitos, tudo 
o que você precisa é de 15 minutos por semana, não 
mais do que isso, para manter tudo em ordem e ga-
nhar esse alento de saber que, de maneira relativa, 
você tem as rédeas nas mãos.”
Não sei controlar minhas finanças
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 Tá, mas e aí?
 Chico ficou bem feliz com os quadrantes, a ideia 
de ter mais controle do que estava acontecendo agra-
dou, mas ficou decepcionado quando percebeu que os 
números estavam bem justos e ele nem havia coloca-
do a fatura do cartão de crédito na jogada (aliás, nes-
te primeiro momento, a fatura do cartão entra como 
uma linha única no quadrante respectivo).
 “Mas eu vou parar de usar o cartão de crédito 
pra sempre?”
 Respondi que ele não iria, mas que, por enquan-
to, até que ele ficasse bem malandro e hábil no pla-
nejamento, o crédito ficaria de lado. O cartão acaba 
trazendo pra vida financeira uma camada de comple-
xidade que, na minha visão, é dispensável. Passamos 
a trabalhar com nosso eu do futuro, e isso é sempre 
complicado. Além disso, perdemos a noção de finitu-
de do dinheiro, já que os limites do cartão são bem, 
bem generosos.
 É nessa hora (e só nessa hora) que pensamos 
nas mudanças necessárias para que o planejamento 
fique condizente com nossos

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