Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DISTÚRBIO ÁCIDO-BÁSICO · Problema clínico frequente cujo tratamento adequado depende do diagnóstico correto. Concentração iônica de hidrogênio e pH: · A concentração iônica de hidrogênio [H+] em soluções aquosas: pH. · pH: a potência do hidrogênio. · Função logarítmica de [H+]: pH = log (1 / [H+] = - log [H+]). · O pH normal do plasma é: 7,40 que corresponde a uma [H+] de 40 nEq/L. Classificação dos distúrbios acido-básicos: · [H+] no liquido extracelular é determinada pelo equilíbrio entre: - pressão parcial do dióxido de carbono (PCO2). - concentração de bicarbonato (HCO3) no liquido. · Esta relação é expressa: [H+] = 24 x (PCO2 / HCO3). · A razão PCO2 / HCO3 identifica os distúrbios acidobásicos primários e as respostas secundarias. Distúrbios acido-básicos primários: * A razão PCO2 / HCO3 identifica os distúrbios acidobásicos primários e as respostas secundarias * Alteração na PCO2 ou HCO3 alteração na [H+] do liquido extracelular. · Alteração na PCO2 alteração na [H+] distúrbio acidobásico respiratório: - aumento da PCO2: acidose respiratória. - redução da PCO2: alcalose respiratória. · Alteração em HCO3 alteração na [H+] distúrbio acidobásico metabólico: - redução HCO3: acidose metabólica. - aumento HCO3: alcalose metabólica. Anormalidades primárias no PCO2 Anormalidades primárias na concentração de HCO3- Acidose respiratória: aumento PCO2 Acidose metabólica: redução HCO3 Alcalose respiratória: redução PCO2 Alcalose metabólica: aumento HCO3 Respostas secundárias: · Na presença de algum destes distúrbios: resposta compensatória renal ou respiratória. · Visa minimizar as alterações na concentração do [H+]. · A resposta compensatória sempre acompanha a direção do distúrbio primário. · Objetivo das respostas secundárias: limitar alterações na [H+] produzidas por distúrbios acidobásicos primário. · Necessário alterar o outro componente da razão PCO2 / HCO3 na mesma direção: - se o problema primário for uma elevação na PaCO2 (acidose respiratória) a resposta secundaria irá envolver um aumento em HCO3, ou seja, limitar a alteração na [H+] produzida pela elevação na PaCO2. · Respostas secundárias não devem ser chamadas de “respostas compensatórias” não corrigem totalmente a alteração na [H+] produzida pelo distúrbio acidobásico primário. Respostas aos distúrbios ácido-básicos metabólicos: · A resposta a qualquer distúrbio acidobásico metabólico envolve: - alterações no volume-minuto mediada por quimiorreceptores que se localizam no corpo carotídeo da bifurcação da carótida no pescoço. - hipo ou hiperventilação. Resposta na Acidose Metabólica (redução de HCO3-): · AUMENTA volume-minuto: AUMENTA frequência respiratória = HIPERVENTILAÇÃO. · REDUÇÃO subsequente na PaCO2. · Essa resposta se manifesta dentro de 30 a 120 minutos. · PaCO2 esperada = (1,5 x HCO3) + 8 PaCO2 que eu gostaria que o paciente tivesse. · Outras fórmulas são possíveis (ex: PaCO2 esperada= 40-(1,2x [24-HCO3 atual]). Resposta na Alcalose metabólica (aumento de HCO3-): · REDUÇÃO volume-minuto e AUMENTO PaCO2 = HIPOVENTILAÇÃO. · As respostas não são tão vigorosas como na acidose metabólica quimiorreceptores periféricos não permanecem muito ativos em condições normais, de maneira que é mais fácil estimular do que inibir. · PCO2 esperada = HCO3 + 15. · Outras fórmulas são possíveis (ex: PaCO2 esperada= 40+(0,7x [HCO3 atual-24]). Respostas aos distúrbios acidobásicos respiratórios: · A resposta secundaria a alterações na PaCO2 ocorre nos rins. · Necessário ajustar a absorção de HCO3 nos tubos proximais. · Resposta renal é lenta: dois ou três dias. · A resposta secundária tardia separa os distúrbios acidobásicos respiratórios em agudos e crônicos. · Distúrbios respiratórios crônicos: elevação maior de bicarbonato secundário. Distúrbios respiratórios agudos: · Alterações agudas na PaCO2 produzem pouco efeito sobre o HCO3 plasmático. · Para acidose respiratória aguda: HCO3 aumenta 1 mEq/L quando a PCO2 aumenta 10mmHg. · Para alcalose respiratória aguda: HCO3 diminui 2 mEq/L quando a PCO2 diminui 10mmHg. Distúrbios respiratórios crônicos: · Resposta renal a elevação na PaCO2 aumento na reabsorção de HCO3, elevando sua concentração plasmática. · Resposta renal a queda na PaCO2 redução na reabsorção de HCO3, diminuindo sua concentração plasmática. · Para acidose respiratória crônica: HCO3 aumenta 4 mEq/L quando a PCO2 aumenta 10mmHg. · Para alcalose respiratória crônica: HCO3 diminui 5 mEq/L quando a PCO2 diminui 10mmHg. INTERPRETAÇÃO ACIDOBÁSICA EM ETAPAS: · Estágio I: identificação do distúrbio acidobásico primário. · Estágio II: avaliação das “respostas compensatórias”. · Estágio III: utilização de “hiatos” para avaliar a acidose metabólico. Estágio I: identificação do distúrbio acidobásico primário · Referencia dos valores: pH = 7,36 a 7,44; PCO2 = 36 a 44 mmHg; HCO3 = 22 a 26 mEq/L. · EXEMPLO 1: pH arterial = 7,23 e a PaCO2 = 23 mmHg. - pH e PaCO2 reduzidos distúrbio metabólico primário: acidose metabólica primar. · Para definirmos um distúrbio misto na gasometria, a única coisa que precisamos definir é se a resposta compensatória foi ou não adequada! · EXEMPLO 2: pH arterial = 7,42 , HCO3 =9 mEq/L e PaCO2 = 15 mmHg. - pH está normal, porém, HCO3 MUITO baixo e PaCO2 reduzido. - Acidose Metabólica: HCO3 baixo. - Alcalose respiratória: PaCO2 baixa. - ou seja, DISTÚRBIO MISTO. · Acidose metabólica com HCO3 = 9 mEq/L, a PaCO2 esperada seria 1,5x HCO3 + 8 = 1,5 + 9 + 8 = 21 mEq/L. · Na alcalose respiratória o HCO3 esperado diminui 2 mEq/L quando a PaCO2 diminui 10mmHg Portanto, PCO2 diminuiu 20 mmHg (35-15), logo o HCO3 esperado seria diminuindo 4 de 22, ou seja, de 18 mEq/L. Estágio II: avaliação das respostas compensatórias e determinação se há desequilíbrios acidobásicos adicionais · Distúrbio metabólico primário: - PaCO2 medida for mais elevada que esperado há uma acidose respiratória secundária. - PaCO2 medida for inferior ao valor esperado há uma alcalose respiratória secundária. - níveis normais ou quase normais de HCO3 distúrbio é agudo. - nível de HCO3 anormal necessário determinar HCO3 esperado para um distúrbio respiratório crônico. · Acidose respiratória crônica: - HCO3 inferior ao esperado resposta renal será incompleta. - HCO3 for superior ao nível esperado alcalose metabólica secundaria. · Alcalose respiratória crônica: - HCO3 superior ao esperado resposta renal será incompleta. - HCO3 inferior ao esperado acidose metabólica secundária. Estágio III: utilização de “hiatos” para avaliar a acidose metabólica · Aplica-se aos pacientes com acidose metabólica. · Ajuda a localizar a causa subjacente da acidose. · Hiato Aniônico (ânion gap): estimativa da abundância relativa de ânions não medidos. · Determina se a acidose metabólica foi causada por: - acúmulo de ácidos não voláteis (p. ex., acido láctico) - perda primária de bicarbonato (p. ex., diarreia). · Para se atingir o equilíbrio eletroquímico: A concentração de ânions (carga negativa) deve ser igual à concentração de cátions (carga positiva). - Eletrólitos medidos rotineiramente: Na, CL e HCO3. - Cátions não-mensurados (UC, do inglês unmeasured cations). - Anions não-mensurados (UA, do inglês unmeasured anions). · Ânion gap: diferença entre as concentrações séricas de cátions (Na+ e K+ ) e ânions (Cl- e HCO3 - ). · Pelo fato de não poder haver nenhuma diferença efetiva, pelo princípio da neutralidade elétrica. · Esta medida reflete os chamados íons “não mensuráveis”. · Equilíbrio eletroquímico expresso pela equação: HA = Na - (CL + HCO3). · Medida da abundância de ânions não-medidos. · Valor de referência para o HA 7 ± 4 mEq/L. · Usado para identificar o mecanismo subjacente da acidose metabólica. · Ajuda a identificar a condição clinica subjacente. · Hiato aniônico elevado: por acúmulo de ácidos não mensurados (acidose láctica). · Hiato aniônico normal: por perda primária de bicarbonato(p. ex., diarreia). · Para que serve o ânion gap? Para orientar a etiologia da acidose metabólica e como controle de tratamento de algumas acidoses metabólicas. ACIDOSE METABÓLICA: Acidose Láctica: · O lactato é o produto final do metabolismo da glicose (glicólise), formado pela redução de piruvato em uma reação catalisada pela desidrogenase láctica. · Em condições aeróbias, a produção diária de lactato é de 1.500 mmol. · Principais sítios produtores: músculos esqueléticos, (25%), pele (25%), eritrócitos (20%), cérebro (20%), intestino (10%). · Em condições inflamatórias: síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) os neutrófilos ativados são fontes adicionais de lactato. · A concentração de lactato no plasma é igual ou inferior a 1 mmol/L. · A remoção de lactato do plasma é feita pelo fígado (60%), pelos rins (30%) e coração (10%). · O ácido láctico é o produto final da glicólise: - age como ácido forte perde o H. - existe como um íon de lactato com carga negativa. · Aumento do lactato diminuição do pH. Causas de hiperlactatemia: · Síndromes de choques clínicos: choques hipovolêmicos, cardiogênicos e sépticos. · Deficiência de tiamina: insuficiência cardíaca com alto débito, encefalopatia de Wernicke, neuropatia periférica e acidose láctica. · Agentes farmacológicos: metformina, agentes antirretrovirais, adrenalina, nitroprussiato. · Síndromes tóxicas: intoxicações com cianeto, monóxido de carbono e propileno glicol. · hiperlactatemia: lactato> 4 mmol/L. CETOÁCIDOS: · CETOGÊNESE: Nas situações em que não houver carboidratos disponíveis para produção de energia metabólica os triglicerídeos se decompõem em tecido adiposo (lipólise) para gerar ácidos graxos que são transportados e metabolizados no fígado formando três corpos cetônicos: acetoacetato, β-hidroxibutirato e acetona. · Essas cetonas são liberadas pelo fígado e podem ser usadas como combustíveis oxidativos por órgãos vitais, como o coração e o sistema nervoso central. · O metabolismo oxidativo das cetonas produz 4 kcal/g que é uma produção de energia maior do que as 3,4 kcal/g produzidas pelo metabolismo da glicose. · A concentração normal de cetonas no sangue é desprezível (0,1 mmol/L) níveis sanguíneos de cetonas aumentam dez vezes depois de apenas três dias de jejum. · A acetona não é um cetoácido, mas provoca um hálito com “odor de frutas” em pacientes com cetoacidose. · O acetoacetato e o β hidroxibutirato são ácidos fortes dissociam rapidamente e reduzem o pH. CETOACIDOSE DIABÉTICA: · Pacientes diabéticos insulino-dependentes. · Os fatores precipitantes mais comuns de cetoacidose diabética são dosagem inadequada de insulina e presença de alguma enfermidade como infecção. · A taxa de mortalidade em casos de CAD varia de 1 a 5%. · Características: Níveis glicêmicos acima de 250 mg/dL, [HCO3] < 18 mEq/L, pH plasmático < 7,30, Hiato aniônico elevado e Evidências da presença de cetonas no sangue ou na urina. · Características: Glicosúria, diurese osmótica, Desidratação, Taquipneia e Hálito cetonico. CETOACIDOSE ALCOÓLICA: · A cetoacidose alcoólica: distúrbio acidobásico complexo. · Alcoólatras crônicos. · Surge um a três dias após um período de ingestão intensiva de álcool. · Diversos mecanismos: - ingesta reduzida de nutrientes produção aumentada de cetonas. - oxidação hepática do etanol formação de β hidroxibutirato. - desidratação reduz a excreção de cetonas na urina. · Tratamento: - infusão de soluções salinas contendo dextrose. - glicose ajuda a retardar a produção hepática de cetonas. - o volume infundido promove a excreção renal das cetonas. · A cetoacidose geralmente melhora dentro de 24 horas. · Outras deficiências de eletrólitos: corrigidas conforme necessário. · Suplementação tiamínica. ALCALOSE METABÓLICA: · Define-se alcalose metabólica: - elevações na concentração de bicarbonato (HCO3) no líquido extracelular (> 26 mEq/L). - não são respostas adaptativas à hipercapnia. · Alcalose metabólica primária: AUMENTO do pH = AUMENTO da concentração plasmática do bicarbonato [HCO3 ] = Associada a uma hipoventilação compensatória (aumento da PaCO2). · Essa condição pode ser devido: - perda de íons de hidrogênio (H+) do líquido extracelular. - ganho em íons de bicarbonato no líquido extracelular. - redução no volume extracelular. · Após desenvolvida a alcalose metabólica, é mantida por redução na excreção de HCO3 na urina resultante de aumento na reabsorção de HCO3. · Esses ajustes renais são promovidos pela depleção de cloro, hipocalemia e aldosterona. Mecanismos renais: · Os rins desempenham um papel na manutenção da alcalose metabólica diminuindo a excreção de HCO3 na urina. · O bicarbonato é filtrado e quase que totalmente reabsorvido nos túbulos renais. · A maior parte (90%) do HCO3 filtrado é reabsorvida nos túbulos proximais. · O remanescente é reabsorvido por células especiais que se localizam nos ductos coletores. · O sítio distal é o ponto principal onde ocorre o aumento na reabsorção de HCO3 na alcalose metabólica. · Depleção de cloro: Desempenha um papel na promoção da alcalose metabólica aumentando a reabsorção de HCO3 e inibindo sua secreção. · Hipocalemia: Promove alcalose metabólica aumentando a reabsorção de HCO3 inibindo sua secreção no néfron distal. · Aldosterona: mineralocorticóide produzido no córtex suprarrenal promove a reabsorção de HCO3 no néfron distal. · As condições clínicas que produzem esses distúrbios em pacientes de UTI: - Depleção de volume: reduções no volume extracelular promovem alcalose metabólica depleção de cloro. - Perda de ácido gástrico: secreções gástricas são ricas em H+, CL- e K+. - Diuréticos: tiazídicos, e os “de alça” promovem alcalose metabólica por meio da depleção de cloro e de potássio * Ação principal desses diuréticos: aumentar a perda de sódio na urina perde também uma quantidade equivalente de cloro. * A elevação de sódio luminar também promove perda de potássio pela urina por meio da bomba de troca de Na+ e K+ nos túbulos renais distais. · Manifestações clínicas: - Neurológica: depressão da consciência, convulsões generalizadas, parestesias e espasmo carpopedal. - Hipoventilação com elevação subsequente na PaCO2. · CAUSAS HIPOVOLÊMICAS, NORMOVOLEMICAS E EXÓGENAS. · ACIDÚRIA PARADOXAL (PH URINÁRIO BAIXO) PELOS VÔMITOS INCOERCITIVOS. A concentração urinária de cloro é usada para classificar a alcalose metabólica como responsiva ao cloro ou resistente: · Alcalose responsiva ao cloro: é caracterizada por concentração baixa de cloro urinário indicando depleção de cloro - Condições que produzem esse tipo de alcalose metabólica: perda de secreções gástricas, terapia com diuréticos e depleção de volume. - É acompanhada de depleção de volume melhora com infusão de solução salina isotônica. · Alcalose resistente ao cloro: caracteriza pela concentração elevada de cloro urinário. - Causada pelo excesso de mineralocorticoides (aldosteronismo primário). - Não melhora com infusões de solução salina isotônica. - Depleção grave de K+: o excesso de mineralocorticoides promove perda urinária de potássio, de modo que a hipocaliemia é comum nos casos de alcalose metabólica resistente ao cloro. · O tratamento deve ser direcionado para a doença de base. · Incluir medidas que diminuam a perda de H+ reposição volêmica com solução fisiológica 0,9% e reposição de potássio. Avaliação do paciente com distúrbio ácido – básico: · A história e o exame físico: para a suspeita clínica e realização do diagnóstico etiológico do distúrbio ácido-básico. · Deve-se atentar para os seguintes dados durante a avaliação: antecedentes de DM, IRC, DPOC, ICC medicamentos em uso. · Observar o padrão respiratório do paciente: taquipneia (sinal de compensação de acidose metabólica)– respiração de Kussmaul. · Avaliar nível de consciência: agitação psicomotora, ansiedade. · Avaliar presença de situações que podem levar à hipovolemia: como diarreia, sangramentos, hiperglicemia, febre, uso excessivo de diurético. GASOMETRIA: · A gasometria arterial é o exame mais importante para o diagnóstico do distúrbio ácido-básico. · Diante de um distúrbio ácido-básico, exames para o diagnóstico etiológico: função renal, sódio, potássio e cloro fósforo e albumina lactato arterial, glicemia cetoácidos (urina e/ou sangue) em algumas circunstâncias: perfil toxicológico radiografia de tórax e ECG. VCM – VITÓRIA CORREIA MOURA
Compartilhar