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Exames laboratoriais: introdução Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Reconhecer a importância dos exames laboratoriais para a prática médica e classi� car os tipos de exames. Descrever as fases de realização dos exames laboratoriais e as possíveis variáveis que podem interferir em cada etapa. Identi� car os riscos no ambiente laboratorial e os mecanismos para preveni-los. Introdução A promoção da saúde é realizada de forma multidisciplinar. Vários pro- fissionais de saúde, como médicos, fisioterapeutas, nutricionistas, bio- médicos, farmacêuticos, entre outros, atuam para atender da melhor forma as necessidades das pessoas e melhorar a qualidade de vida da população. Os laboratórios de análises clínicas, geralmente coordenados por biomédicos e/ou farmacêuticos bioquímicos, têm papel fundamental no auxílio de diagnóstico de patologias, no monitoramento de terapias, na prevenção de doenças e na vigilância epidemiológica. Dessa forma, os exames laboratoriais constituem uma importante ferramenta de pro- moção à saúde. Neste capítulo, você vai aprender sobre a relevância dos testes la- boratoriais para a prática médica, os tipos de exames realizados em laboratórios de análises clínicas, as etapas de execução dos testes e os principais aspectos de biossegurança laboratorial. U N I D A D E 4 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 1 27/11/2017 10:48:57 Exames laboratoriais na prática médica O surgimento de sinais e sintomas geralmente são indicativos de que alguma coisa não vai bem no organismo. Nesse contexto, visitas ao médico são cruciais para a investigação de disfunção, dano ou infecção em algum dos sistemas biológicos. Há ocasiões em que o médico é capaz de chegar a um diagnóstico conclusivo somente com o conhecimento sobre a epidemiologia da doença, o relato das queixas do paciente e com o exame físico. Porém, muitas vezes a avaliação clínica isolada do paciente não fornece informações sufi cientes para o fechamento do diagnóstico. Visto isso, o profi ssional de saúde geralmente solicita exames laboratoriais com o propósito de obter informações mais precisas sobre o estado de saúde do paciente. Portanto, é importante ter em mente que os exames laboratoriais são complementares aos dados clínicos e epidemiológicos, cabendo ao laboratório a confi rmação da hipótese formulada pelo médico ou a quantifi cação de um resultado esperado. Os exames laboratoriais constituem uma importante ferramenta de promo- ção da saúde. Os resultados dos testes realizados em laboratórios de análises clínicas contribuem para: 1. Auxiliar e/ou estabelecer o diagnóstico de patologias: os testes labora- toriais fornecem informações sobre a funcionalidade e a integridade de órgãos e tecidos e sobrea presença/ausência de patógenos e a condição nutricional. Baseado nos dados contidos no laudo do exame, o médico tem suporte para avaliar com mais precisão e confiabilidade uma pos- sível manifestação de doença. 2. Estabelecer prognóstico de diversas patologias: na prática das análises clínicas, é comum o uso de biomarcadores para prognosticar e/ou es- tadiar doenças. Biomarcadores são indicadores biológicos usados para mensurar o grau de severidade de patologias ou apontar a presença de doença. Os biomarcadores podem ser dosados em amostras de fluidos biológicos, como sangue, soro e urina, e também em tecidos. O Antígeno Prostático Específico, mais conhecido como PSA, é um exemplo de biomarcador que auxilia no diagnóstico e no estadiamento do câncer de próstata. O PSA é uma enzima produzida nas células epiteliais da próstata que se encontra em níveis alterados no soro de pacientes com neoplasia prostática. 3. Prevenir doenças: a partir dos exames laboratoriais, é possível esta- belecer medidas para evitar o aparecimento de condições patológicas. Pode-se tomar como exemplo a prevenção da toxoplasmose em recém- Exames laboratoriais: introdução2 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 2 27/11/2017 10:48:58 -nascidos. Durante o pré-natal, a gestante realiza uma série de exames laboratoriais, dentre eles a dosagem de anticorpos anti-Toxoplasma gondii. Tal exame tem a finalidade de estabelecer o risco de o bebê ser infectado pelo patógeno causador da toxoplasmose. Caso a mãe apresente determinados tipos de anticorpos contra o protozoário, o bebê não apresenta risco de ser infectado pelo patógeno durante a gestação. Porém, se a gestante não apresentar anticorpos contra o protozoário, isso indica que o feto tem chance de contrair a doença. Dessa forma, estabelecem-se medidas para impedir que a mãe entre em contato com o protozoário causador da doença, como medidas de higiene e menor convívio com gatos, a fim de prevenir o contágio intrauterino pelo Toxoplasma gondii. 4. Acompanhar e avaliar a eficácia do tratamento estabelecido: os exames laboratoriais permitem o acompanhamento de doenças e a análise da conduta terapêutica estabelecida. Um exemplo é a avaliação periódica de pacientes que fazem uso de medicamentos para trombose por meio do exame de RNI. Tal exame indica se os objetivos do tratamento estão sendo atingidos e se há a necessidade de ajuste de dose para o paciente. 5. Constatar cura da patologia: é frequente que médicos estabeleçam cura para a doença ou condição por meio de dados relatados no laudo do exame laboratorial. 6. Realizar screening de doenças: laboratórios de análises clínicas permi- tem fazer exames de triagem, ou seja, exames utilizados no reconhe- cimento de doenças que ainda não produziram sinais e sintomas e na identificação de risco de desenvolver determinada doença. Os exames de triagem geralmente requerem exames adicionais para confirmar ou refutar o diagnóstico. 7. Realizar levantamentos populacionais: a partir do resultado dos exames laboratoriais, é possível elaborar relatórios epidemiológicos, auxiliando no direcionamento de políticas de saúde pública. Tais relatórios são construídos principalmente em laboratórios centrais (LACENs), que, por sua vez, têm papel ativo na vigilância epidemiológica. Classificação dos principais exames laboratoriais Os exames laboratoriais podem ser classifi cados de acordo com o tipo de análise. Os exames bioquímicos constituem uma grande parcela das análises realizadas em laboratórios de análises clínicas. Esses testes têm como obje- tivo dosar analitos no soro ou plasma do paciente que refl itam a atividade e a 3Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 3 27/11/2017 10:48:58 integridade dos sistemas biológicos, além de possibilitar a detecção de defi ci- ências nutricionais. Amostras de urina também são utilizadas como espécime biológico em alguns exames bioquímicos. A análise da urina, ou urinálise, faz uso de indicadores físico-químicos e componentes microscópicos para determinar principalmente a função renal. Adicionalmente, liquor, líquido ascítico, líquido amniótico, líquido sinovial, líquido pleural e secreções como secreção uretral e vaginal e esperma podem ser empregados nas análises bioquímicas. Os exames bioquímicos são, em sua maioria, automatizados. Os exames hematológicos utilizam o sangue total como amostra biológica e buscam avaliar essencialmente a morfologia e a quantidade dos elementos sanguíneos, ou seja, das hemácias, dos leucócitos e das plaquetas. O hemo- grama é o exame hematológico clássico que apresenta todas essas informações. Para a obtenção de informações sobre estágios maturacionais das células sanguíneas em formação na medula óssea, realiza-se o mielograma a partir da amostra de aspirado de medula óssea. O coagulograma é outro exame que se enquadra nas análises hematológicas. Esse exame avalia os níveis dos fatores de coagulação a partir de amostras de plasma. Os exames hematológicos também são passíveis de automação, porém a análise microscópica manual ainda é frequente nos grandes laboratórios e de suma importânciana correta avaliação do sangue do paciente. Os exames parasitológicos normalmente utilizam amostras de fezes para a pesquisa de parasitas intestinais como helmintos e alguns tipos de proto- zoários. Apesar de haver esforços para diminuir o contato do profissional do laboratório com esse tipo de amostra, os exames parasitológicos são, em sua maioria, realizados manualmente. As análises imunossorológicas buscam identificar antígenos ou anticorpos específicos para determinada doença infectocontagiosa ou anticorpos autoimu- nes em soro. Algumas análises também podem ser realizadas em amostras de liquor. Grande parte dos exames soroimunológicos são passíveis de automação. Por fim, os exames microbiológicos têm a finalidade de pesquisar mi- crorganismos causadores de doenças nos mais diversos tipos de amostras biológicas. Nesse caso, o espécime deve ser coletado de acordo com o sítio da possível infecção, evitando, quando possível, a contaminação da amostra com a microbiota residente. Infecções urinárias constituem a maioria das suspeitas diagnósticas de amostras enviadas ao setor de microbiologia do laboratório. Portanto, pode-se dizer que grande parte dos espécimes biológicos recebidos são urinas. Similarmente, caso a suspeita diagnóstica for meningite, a amostra a ser enviada para a análise microbiológica será o liquor. Outro exemplo é o caso da hemocultura, em que amostras de sangue são incubadas em cul- Exames laboratoriais: introdução4 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 4 27/11/2017 10:48:58 tura para o diagnóstico de sepse. Portanto, as amostras enviadas ao setor de microbiologia devem ser representativas do processo infeccioso investigado e coletadas evitando-se contaminação com áreas adjacentes. É importante lembrar que o laboratório de microbiologia clínica é subdividido em virologia, bacteriologia e micologia. Os exames microbiológicos são, em grande parte, realizados manualmente. Alguns tipos de análises, como identificação de microrganismos e hemocultura, podem ser automatizados. Amostras de soro são diferentes de amostras de plasma. O soro é formado a partir de amostras coletadas sem anticoagulante, ou seja, é a parte líquida do sangue após a coagulação do sangue no tubo. Já o plasma é originado a partir de amostras coletadas com anticoagulante. Nesse caso, como o sangue não coagula, todos os fatores de coagulação estão em níveis ótimos para serem dosados. Por esse motivo, o plasma é a amostra ideal para a realização do coagulograma. Etapas de execução dos exames laboratoriais A execução dos exames laboratoriais inclui três etapas: etapa pré-analítica, etapa analítica e etapa pós-analítica. Para que os resultados dos exames realiza- dos tenham um alto índice de confi abilidade, é necessário que haja um rigoroso controle de qualidade. Nesse contexto, a padronização do laboratório clínico é essencial para prevenir, detectar, identifi car e corrigir erros ou variações que possam ocorrer em todas as fases de realização do teste. A etapa pré-analítica envolve todos os fatores que antecedem o proces- samento da amostra biológica, desde a solicitação do exame pelo médico até o início da análise do material. O preparo do paciente, o preenchimento da ficha ea coleta,o transporte e o armazenamento do espécime coletado fazem parte de fatores pré-analíticos que podem interferir no resultado do exame. Cerca de 70% dos erros laboratoriais ocorrem na fase pré-analítica em razão da dificuldade de monitorar e controlar tais fatores, visto que a maioria deles ocorre fora do laboratório. Antes da coleta de qualquer material biológico para a realização dos exames laboratoriais, é importante conhecer e, se possível, 5Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 5 27/11/2017 10:48:59 controlar e eliminar algumas variáveis que possam interferir nos resultados. Os fatores pré-analíticos podem ser divididos em variações intrínsecas e va- riações extrínsecas. A primeira inclui raça, idade, sexo e gravidez, enquanto a segunda abrange dieta, jejum, exercício físico, uso de tabaco e/ou etanol, uso de medicamentos, postura, tempo de torniquete, horário da coleta, erros de identificação, contaminação de amostra e presença de interferentes na amostra (soro hemolisado ou ictérico, etc.). Os interferentes pré-analíticos podem reduzir consideravelmente com o treinamento das equipes envolvidas no atendimento, na coleta, notransporte e na correta orientação ao paciente quanto ao preparo e controle eficiente dos processos. O Quadro 1 exemplifica as principais variações pré-analíticas. Gravidez A gravidez é um período em que é observada uma modificação no padrão de produção hormonal. A alta concentração de hormônios da fertilidade no sangue é acompanhada de mudanças na produção de várias substâncias, como hormônios da tireoide, proteínas, enzimas e catalisadores/inibidores da coagulação, metabólitos e eletrólitos. Idade Crianças não apresentam os mesmos valores de referência em relação a indivíduos adultos para vários analitos. Em recém-nascidos, por exemplo, há o aumento fisiológico do número de hemácias e dos níveis de bilirrubina. Atividade física A atividade física tem efeitos transitórios e, a longo prazo, sobre os testes laboratoriais. As mudanças transitórias incluem aumento dos níveis de ácidos graxos e elevação da formação de lactato. Já os efeitos a longo prazo da atividade física abrangem o aumento das atividades das enzimas musculares, como creatinoquinase (CK), aspartato aminotransferase (AST) e lactato desidrogenase (LDH); albumina, ferro e sódio podem diminuir. Postura A postura corporal no momento da coleta do sangue pode influenciar na dosagem de alguns analitos. Alterações repentinas na posição do paciente podem causar variações na concentração de analitos como albumina, colesterol, triglicerídeos, cálcio, hemoglobina e leucócitos. Quadro 1. Principais variáveis pré-analíticas. (Continua) Exames laboratoriais: introdução6 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 6 27/11/2017 10:48:59 Quadro 1. Principais variáveis pré-analíticas. Dieta Após as refeições, ocorrem efeitos fisiológicos que podem interferir em vários exames laboratoriais. Nesse sentido, é comum observar soro ou plasma lipêmicos oriundos de coletas após as refeições. Tais amostras são evidenciadas por meio da turbidez característica, que, por sua vez, pode interferir em algumas determinações bioquímicas. Adicionalmente, o elevado consumo de proteínas pelo paciente antes da coleta pode resultar em níveis elevados de ureia, amônia e uratos plasmáticos. É importante que o paciente seja instruído, caso haja a necessidade de se fazer uma dieta prévia para a coleta da amostra. Uso de medicamentos O uso de medicamentos pode produzir interferências in vivo e in vitro. A primeira se relaciona com a atuação do medicamento no organismo do paciente, provocando uma alteração fisiológica. A segunda é produzida pela interação do medicamento nos processos de dosagem do analito. Os pacientes mais idosos, mais obesos e do sexo feminino são mais sujeitos às interferências medicamentosas. Jejum É fundamental que o jejum recomendado para cada exame seja respeitado. Após as refeições, ocorre aumento na concentração sanguínea de vários constituintes bioquímicos, como glicose, colesterol e triglicerídeos. A lipemia fisiológica, ou seja, o aumento da concentração de lipídeos no sangue, é observada até seis horas após a refeição e pode interferir em métodos de análise bioquímicos, principalmente os colorimétricos. Além disso, os valores de referência para os analitos são determinados estatisticamente em uma população considerada sadia e em jejum. Aplicação do torniquete O uso do torniquete resulta na saída de fluidos plasmáticos para o compartimento extravascular, causando a concentração de alguns analitos no sangue. A aplicação do torniquete por mais de dois minutos pode provocar o aumento dos níveisde cálcio, potássio, colesterol, triglicerídeos e lactato, além de causar uma diminuição no pH. Hemólise A hemólise, ou seja, o rompimento das hemácias dentro da amostra de soro ou plasma, representa a causa mais frequente de rejeição de amostra de sangue no laboratório de análises clínicas. A hemólise é evidenciada por meio de aparência avermelhada. Quando intensa, (Continuação) (Continua) 7Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 7 27/11/2017 10:48:59 Quadro 1. Principais variáveis pré-analíticas. (Continuação) A etapa analítica envolve todos os fatores que participam do processa- mento da amostra biológica dentro do laboratório. Para que o exame reflita, de fato, o estado de saúde do paciente, é importante que a limpeza do material utilizado, e a execução do procedimento analítico e os métodos empregados estejam dentro dos padrões estipulados pela gestão do controle de qualidade. A utilização de material obtido por um processo de limpeza adequada para uso em laboratório clínico é fundamental para a qualidade dos resultados, pois a introdução de contaminantes pode inibir ou potencializar as reações de modo indesejável. Além disso, os profissionais do laboratório devem ser devidamente treinados para evitar erros durante o processamento da amostra biológica. Pipetagem, adição de reagentes, incubação e leituras manuais e em equipamentos devem ser padronizadas para a análise correta. Outras variá- veis que podem interferir na fase analítica são: calibração e manutenção dos equipamentos, grau de pureza da água, temperatura ambiente, estabilidade da amostra e dos reagentes, análise de interferentes dentro da amostra e troca de amostras. Adicionalmente, é importante que os métodos utilizados nas análises obedeçam aos critérios de confiabilidade, como exatidão, precisão, sensibilidade e especificidade. Exatidão é a propriedade do método analítico de fornecer resultados próximos de seu valor real na amostra. Já a precisão reflete a capacidade de um procedimento analítico em repetir o mesmo valor quando este é executado várias vezes, simultaneamente ou não. A sensibilidade metodológica é a propriedade do método de detectar pequenas diferenças na concentração do analito. Por fim, a especificidade reflete a capacidade do método de mensurar/detectar somente o que se propõe a medir/identificar. causa elevação nas dosagens de alguns analitos, a exemplo da bilirrubina, desidrogenase láctica (LDH), potássio, creatinoquinase (CK), alanina aminotransferase (ALT), aspartato aminotransferase (AST) e magnésio. Variação cronobiológica As amostras biológicas devem ser colhidas preferencialmente durante a manhã, no horário das 7h às 9h. Ao decorrer do dia, os níveis de uma variedade de analitos sanguíneos podem sofrer variações. A influência do ritmo circadiano pode ser observada na variação do cortisol, por exemplo, que aumenta durante o dia e diminui à noite. Exames laboratoriais: introdução8 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 8 27/11/2017 10:49:00 Com a finalidade de garantir a qualidade, nessa etapa são utilizadas amostras de controle interno na rotina laboratorial, que, por sua vez, são responsáveis por avaliar a precisão. Periodicamente, amostras de controle externas também são utilizadas, porém com o objetivo de avaliar a exatidão. A etapa pós-analítica consiste na análise de dados e na liberação do laudo. Nessa etapa, é importante interpretar corretamente os resultados, verificar se os valores encontrados nas amostras de controle interno estão dentro dos limites preestabelecidos pelo fabricante ou pelo próprio laboratório, calcular de forma correta as concentrações (quando aplicável) e emitir o laudo com todos os dados relevantes, como: nome do paciente, idade, sexo, nome do médico, CRM, data, tipo de exame, material empregado e observações per- tinentes. Os resultados devem conter o nome do método e valor encontrado, acompanhado de unidade e valores de referência. Quando for aceita amostra de paciente com restrição (uso de medicamentos, por exemplo), essa condição deve constar no laudo. É fundamental que o laboratório defina os limites de risco e os valores críticos ou de alerta para analitos cujo resultado necessite de imediata ação médica. Na etapa pós-analítica, o profissional responsável pela liberação do laudo obrigatoriamente deve analisar e criticar os resultados obtidos nos diversos setores do laboratório, com a finalidade de verificar se existe coerência entre os diversos exames laboratoriais. A interpretação do laudo requer o domínio da clínica e da epidemiologia da doença, bem como o conhecimento da metodologia laboratorial. Nesse contexto, os valores de referência são de grande valia para a análise do resultado do exame. Eles permitem comparar o valor mensurado no teste com valores observados em uma população saudável. É fundamental que os valores de referência utilizados sejam referentes a uma população com a mesma faixa etária, o mesmo sexo e os mesmos fatores genéticos e étnicos do paciente em questão. Embora a análise dos testes laboratoriais usando os valores de referência facilite a interpretação do laudo, a classificação do paciente como saudável ou doente não é tarefa simples. Isso porque o conceito de “saúde” é relativo, sendo necessário o estabelecimento de padrões que nem sempre são aplicáveis para todos os indivíduos. É importante ressaltar que os valores de referência podem mudar de acordo com a metodologia escolhida. 9Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 9 27/11/2017 10:49:00 Biossegurança em laboratórios de análises clínicas Profi ssionais que atuam no ambiente laboratorial estão sujeitos a uma série de riscos. Dentre eles, estão: risco de acidentes, riscos ergonômicos, riscos físicos, riscos químicos e riscos biológicos. A biossegurança é defi nida como o conjunto de medidas para a segurança, a minimização e o controle de riscos nas atividades de trabalho biotecnológico das diversas áreas das ciências da saúde e biológicas. Nos laboratórios de análises clínicas, é obrigatório o uso de mapa de risco, que é uma representação gráfi ca de um conjunto de fatores presentes nos locais de trabalho, capazes de acarretar prejuízos à saúde dos trabalhadores. No Brasil, as ações para garantir a biossegurança em laboratórios clínicos é regulamentado pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da RDC nº 302, de 13 de outubro de 2005. Além disso, a Anvisa disponibiliza no ambiente eletrônico manuais contendo os cuidados a serem seguidos para alcançar a segurança laboratorial e como proceder em caso de acidente. Adicionalmente, o Brasil tem uma regulamentação específica para a manipulação de organismos geneticamente modificados (OGMs). Em 1995, a partir do Decreto nº 1.752, houve a formalização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e a definição das suas competências no âmbito do Ministério da Ciência e Tecnologia. Dez anos mais tarde, a Lei nº 11.105/05, de 24 de março de 2005, estabeleceu regras para o trabalho com DNA recombinante, incluindo pesquisa, produção e comercialização de organismos geneticamente modificados. Essa Lei também trata de células- -tronco embrionárias (BRASIL, 2005a; 1995; 2005b). Os riscos de acidente, representados pela cor azul no mapa de risco, incluem os fatores que podem afetar a integridade e o bem-estar do profissional, bem como colocá-lo em situação de perigo. Arranjo físico inadequado, máquinas e equipamentos sem proteção e probabilidade de incêndio ou explosão são exemplos de fatores que trazem riscos de acidentes ao trabalhador. Os riscos ergonômicos, representados pela cor amarela, estão relacionados à utilização de equipamentos inadequados, à postura imprópria e à má acomodação no posicionamento para a execução das funções. Considera-se riscos físicos, identificados pela cor verde no mapa de risco, as exposiçõesdos trabalhadores às mais variadas formas de energia, como ruído, vibrações, temperaturas extremas, pressões anormais, radiações ionizantes e também exposição a materiais cortantes e pontiagudos. Os riscos químicos, representados pela cor vermelha no mapa de risco, são referentes ao contato do profissional Exames laboratoriais: introdução10 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 10 27/11/2017 10:49:00 com substâncias, compostos ou produtos que são capazes de causar danos ao entrar no organismo, seja pela via respiratória (fumos, poeiras, gases, névoas, vapores, etc.), pela via cutânea ou pela ingestão. Finalmente, considera-se risco biológico, representado no mapa de risco pela cor marrom, a exposição a microrganismos patogênicos, como bactérias, fungos, vírus, parasitos, entre outros. Tais agentes podem provocar danos à saúde do ser humano, sendo capazes de causar infecções e respostas inflamatórias, reações alérgicas, efeitos tóxicos, respostas autoimunes e formação de neoplasias e malforma- ções. Microrganismos geneticamente modificados ou não, culturas de células, parasitas, toxinas e príons são considerados agentes biológicos. O risco biológico é classificado de acordo com a patogenicidade do agente para o homem, a virulência, os modos de transmissão e a disponibilidade de medidas profiláticas e de tratamentos eficazes: 1. Classe de risco I: baixo risco individual e comunitário. Microrganismos enquadrados nesse grupo têm pouca probabilidade de causar doenças em homens e animais. Exemplos: Lactobacillus spp. e Helminthospo- rium spp. 2. Classe de risco II: risco individual moderado e risco comunitário li- mitado. O agente patogênico pode provocar infecção individual, po- rém, existem medidas eficazes de tratamento e prevenção. Exemplos: Schistosoma mansoni. 3. Classe de risco III: elevado risco individual e baixo risco comunitário. A exposição ao agente patogênico pode culminar em enfermidades humanas graves, havendo o risco de propagação de um indivíduo in- fectado a outro de forma direta. No entanto, dispõe-se de profilaxia e/ ou tratamento. Exemplo: Mycobacterium tuberculosis. 4. Classe de risco IV: elevado risco individual e comunitário. O agente patogênico provoca doença grave em homens e animais e propaga de um indivíduo infectado a outro, de forma direta ou indireta. Não existem, atualmente, medidas profiláticas eficazes e tratamento. Exemplo: vírus que causa ebola. Os riscos biológicos mais frequentes de um laboratório, suas vias de trans- missão e respectivas fontes de exposição devem estar descritos no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA) em cada laboratório de análises clínicas. O PPRA descrito na Norma Regulamentadora (NR) nº 9 do Ministério do Trabalho tem como objetivo o controle de riscos por meio da redução ao mínimo de exposição dos trabalhadores do serviço de saúde. Ele visa à preser- 11Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 11 27/11/2017 10:49:00 vação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio de antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham a existir no ambiente de trabalho, levando em conta a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. Para garantir a segurança do profissional do laboratório, é necessário seguir as normas de biossegurança e aplicar as boas práticas de laboratório. Nesse contexto, é fundamental o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) como jaleco, luvas, touca e óculos de proteção, bem como o uso de Equipa- mentos de Proteção Coletiva (EPCs), como cabines de segurança biológica, chuveiro de emergência e lava-olhos. Além disso, existem outras recomen- dações que visam a atingir segurança ocupacional no laboratório clínico. As boas práticas de laboratório incluem: lavar as mãos antes de iniciar o trabalho e após a manipulação de agentes químicos, material potencialmente infectante, mesmo que tenha usado luvas de proteção; utilizar apenas sapatos fechados no laboratório; descontaminar todas as superfícies de trabalho diariamente e quando houver respingos ou derramamentos; depositar agulhas em recipientes rígidos, à prova de vazamento e embalados como lixo patológico; não comer, beber, fumar, mascar chiclete ou usar cosméticos dentro do laboratório; não guardar objetos de uso pessoal no laboratório, etc. Para conhecer melhor as recomendações de biosse- gurança no laboratório de análises clínicas, acesse o link a seguir (BRASIL, 2013). https://goo.gl/ujJZEq Os exames laboratoriais desempenham um papel imprescindível na promo- ção da saúde. Os testes realizados nos principais segmentos dos laboratórios de análises clínicas devem refletir com exatidão o que ocorre internamente no organismo do paciente. Dessa forma, deve-se garantir a qualidade dos exames por meio da minimização de interferentes em todas as etapas de execução do teste. A segurança dos profissionais de saúde deve ser assegurada por meio das boas práticas de laboratório e da aplicação das normas de biossegurança. Exames laboratoriais: introdução12 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 12 27/11/2017 10:49:01 https://goo.gl/ujJZEq 1. Os exames laboratoriais constituem uma importante ferramenta de promoção da saúde. Assinale a alternativa que aborda corretamente o papel dos exames laboratoriais no diagnóstico de patologias. a) Na maioria dos casos, apenas o exame físico do paciente é suficiente para a conclusão diagnóstica. b) Os resultados dos exames laboratoriais analisados isoladamente são suficientes para o fechamento de um diagnóstico confiável. c) O resultado dos exames laboratoriais, o exame físico, o relato das queixas do paciente e o conhecimento da epidemiologia da doença permitem fechar um diagnóstico confiável. d) Os exames laboratoriais são importantes para a prevenção de doenças, o monitoramento da terapia, o screening de doenças, os levantamentos populacionais e o estabelecimento de prognósticos, mas não é relevante no diagnóstico de patologias. e) Os exames laboratoriais são ferramentas pouco utilizadas para confirmar ou refutar uma suspeita diagnóstica. 2. A unidade laboratorial é dividida principalmente em bioquímica, hematologia, soroimunologia, microbiologia e parasitologia. Assinale a alternativa que descreve corretamente as análises que são executadas no setor de soroimunologia. a) Quantificação e análise morfológica dos elementos sanguíneos. b) Pesquisa por antígenos ou anticorpos específicos para determinada doença. c) Dosagem de analitos no soro, como íons e enzimas. d) Pesquisa por estruturas parasitárias em amostras de fezes. e) Identificação de microrganismos causadores de doença. 3. Cada tipo de teste laboratorial requer sua amostra biológica ideal. Os exames hematológicos, por exemplo, têm como principal espécime biológico o sangue. Já a escolha das amostras dos exames microbiológicos depende do sítio de infecção pelo microrganismo em questão. Assinale a alternativa que correlaciona de forma correta a amostra biológica ideal do teste microbiológico de acordo com a suspeita diagnóstica. a) Suspeita diagnóstica de infecção urinária – amostra de sangue total. b) Suspeita diagnóstica de gastroenterite – amostra de soro. c) Suspeita diagnóstica de tuberculose – amostra de escarro. d) Suspeita diagnóstica de sepse – amostra de urina. e) Suspeita diagnóstica de pneumonia – amostra de fezes. 13Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 13 27/11/2017 10:49:02 4. A realização de exames laboratoriais compreende três fases: pré-analítica, intra-analítica e pós-analítica. Cada fase tem fatores que podem interferir no resultado final do exame. Assinale a alternativa que correlaciona corretamente a etapa de realização do exame com o seu possível interferente. a) Etapa pré-analítica: uso de vidraria empoeirada. b) Etapa pré-analítica:amostra condicionada inadequadamente durante o transporte para o laboratório. c) Etapa intra-analítica: aplicação prolongada do torniquete, alterando a concentração de constituintes do soro. d) Etapa intra-analítica: laudo não contendo o nome e o CRM do médico. e) Etapa pós-analítica: emprego de metodologia que não tem suficiente sensibilidade para dosagem do analito. 5. A atividade do profissional de saúde dentro do laboratório apresenta alguns riscos. Assinale a alternativa que melhor descreve o conceito de biossegurança. a) Biossegurança é o conjunto de medidas para a segurança, a minimização e o controle de riscos nas atividades de trabalho biotecnológico das diversas áreas das ciências da saúde e biológicas. b) Biossegurança consiste basicamente no uso de EPIs, como luvas, jaleco, touca e óculos, e de EPCs, , como cabine de segurança biológica. c) Biossegurança é definida como o conjunto de medidas para diminuir os riscos biológicos e químicos dentro do laboratório de análises clínicas. d) Biossegurança é o conjunto de medidas e precauções que visam a diminuir as variáveis pré-analíticas, analíticas e pós- analíticas, que podem interferir no resultado do exame. e) Biossegurança consiste no uso de EPI e de EPCs e na análise do mapa de risco. Exames laboratoriais: introdução14 U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 14 27/11/2017 10:49:02 BRASIL. Decreto nº 1.752, de 20 de dezembro de 1995. Regulamenta a Lei nº 8.974, de 5 de janeiro de 1995, dispõe sobre a vinculação, competência e composição da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, e dá outras providências. Brasília, DF, 1995. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1752. htm>. Acesso em: 21 nov. 2017. BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Brasília, DF, 2005b. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm>. Acesso em: 21 nov. 2017. BRASIL. Manual de Microbiologia Clínica para o controle de infecção relacionada à assistência à saúde: módulo 1 biossegurança e manutenção de equipamentos em laboratório de microbiologia clínica. Brasília, DF: Anvisa, 2013. BRASIL. RDC 302, de 13 de outubro de 2005. Regulamento Técnico para funcionamento dos serviços que realizam atividades laboratoriais, tais como Laboratório Clínico e Posto de Coleta Laboratorial. Brasília, DF: Anvisa, 2005a. Disponível em: <https:// www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/rdc-302- -de-13-de-outubro-de-2005>. Acesso em: 21 nov. 2017. Leituras recomendadas BAHIA. Secretaria da Saúde. Manual de Biossegurança. Salvador: UFBA/Instituto de Ciências da Saúde, 2001. BURTIS, C.A; ASHWOOD, E.R.; BRUNS, D. Tietz: fundamentos de Química Clínica. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier,2008. ERICHSEN, M. S. et al. Medicina laboratorial para o clínico. Belo Horizonte: Coopmed, 2009. LOPES, H. J. J. Garantia e controle da qualidade no laboratório clínico. Belo Horizonte: Gold Analisa Diagnóstico, 2003. 15Exames laboratoriais: introdução U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 15 27/11/2017 10:49:02 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1752. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm http://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/legislacao/item/rdc-302- U4_C21_Farmacologia aplicada_NOVO.indd 16 27/11/2017 10:49:02 Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: