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EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

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Programa de Pós-Graduação EAD
UNIASSELVI-PÓS
EDUCAÇÃO EM 
DIREITOS HUMANOS NA 
EDUCAÇÃO BÁSICA
Autora: Mara Regina Zluhn
 
341.481
Z827e Zluhn, Mara Regina
 Educação em direitos humanos na educação básica / 
 Mara Regina Zluhn. Indaial : Uniasselvi, 2013.
 132 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830-681-6
 1. Direitos humanos. 2. Educação.
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel
Equipe Multidisciplinar da
Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller
 Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald
 Profa. Jociane Stolf
Revisão de Conteúdo: Profa. Célia Regina Appio
Revisão Gramatical: Profa. Camila Thaisa alves Bona
Diagramação e Capa:
Centro Universitário Leonardo da Vinci
Copyright © Editora UNIASSELVI 2013
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
Sou Pedagoga, Especialista em Orientação 
Educacional e Mestre em Educação e Cultura. Já 
atuei na Educação Infantil, na Educação Básica, 
em Cursos de Graduação e Pós-Graduação, tecendo 
minha prática docente numa perspectiva interdisciplinar. 
Atualmente trabalho como docente no Ensino Superior, 
em Cursos de Especialização - lato sensu, em Formações 
e Capacitações docentes e sou Orientadora Educacional 
na Rede Estadual de Ensino de Santa Catarina. Minhas 
experiências na Educação Básica, relacionadas com as 
vivências no Ensino Superior, me possibilitam tecer uma 
extensa trama de refl exões acerca do processo educacional, 
porém, como Paulo Freire (1996) afi rma, educador e 
educandos são sujeitos de um mesmo processo, se 
educam, se avaliam e crescem juntos. Assim, me 
considero uma eterna aprendiz e nessa condição, 
quero convidá-lo (a) para iniciarmos nossas 
refl exões acerca de um tema tão inquietante e 
necessário no nosso cotidiano escolar: direitos 
humanos, violência e avaliação escolar.
Mara Regina Zluhn
Sumário
APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 
CAPÍTULO 1
DireitoS HumanoS e CiDaDania ..................................................... 9
CAPÍTULO 2
ViolênCiaS na eSCola ................................................................ 57
CAPÍTULO 3
aValiação Da aprenDizagem eSColar ........................................ 105
APRESENTAÇÃO
Caro(a) pós-graduando(a):
Quero desejar-lhe as boas vindas nesta nova disciplina, almejando que 
os conceitos aqui elaborados, as sínteses efetuadas e as reflexões realizadas 
possam contribuir para que as relações interpessoais e as vivências da escola 
sejam pautadas na paz, no respeito e na equidade.
Neste momento da história, apesar de todas as evoluções científicas e 
tecnológicas, do aumento do nível de escolaridade das pessoas, do nosso país ter 
se desenvolvido significativamente nas questões econômicas, ainda convivemos 
com muitas situações de injustiça, miséria, discriminação e violência.
Não podemos omitir que parte desses problemas atravessa os muros 
da escola e, com muita frequência, professores são ameaçados, alunos são 
espancados, escolas são destruídas. Talvez a escola, até bem pouco tempo 
atrás, fosse uma das últimas instituições sociais preservadas das ações 
violentas que permeiam o meio social. No entanto, os tempos mudaram, e 
assim como nas ruas, no trânsito, nas casas, o meio escolar passa a integrar 
as estatísticas de violência, deixando gestores, professores, pais e alunos 
preocupados e em busca de soluções para preservar esse ambiente, que tem, 
por excelência, o papel de educar.
Muitos estudos e pesquisas destacam a importância da educação para 
favorecer a cultura da paz, da não violência e da solidariedade. Sabemos que 
muitos dos nossos alunos provêm de situações sociais e familiares adversas e 
caóticas, e que acabam por reproduzir na escola aquilo que vivem em seus lares. 
Na grande maioria das vezes, os pais estão distantes da vida escolar de seus 
filhos e a escola se vê só e incapaz de resolver todos os conflitos que a assolam.
A Educação Básica em Direitos Humanos aparece como uma alternativa para 
que possamos buscar respostas para os inúmeros conflitos existentes no cotidiano 
das nossas unidades escolares. Embora a Declaração dos Direitos Humanos 
tenha sido aprovada em 1948, os estudos acerca dos seus encaminhamentos 
continuam mais atuais do que nunca, tendo em vista a premência de provocar 
discussões e estudos sobre a temática.
Ao entender-se que a escola é o germe de modificação do indivíduo, que traz 
em si a essência dessa modificação, por meio das suas potencialidades, temos 
que colocá-lo no centro desse processo e pensar em uma educação que possa 
valorizá-lo, respeitá-lo em suas diferenças e mostrar que o seu futuro pode ser 
construído com base na cidadania. 
Nosso texto estará dividido em três capítulos: no primeiro faremos uma breve 
conceituação acerca dos direitos humanos, destacando alguns fundamentos 
da cidadania e da democracia, bem como das políticas sociais de proteção às 
crianças e adolescentes. No segundo capítulo iremos aprofundar as formas de 
violência presentes na sociedade, e de maneira mais peculiar aquelas presentes 
no cotidiano escolar, e no terceiro e último capítulo iremos discutir o papel da 
avaliação da aprendizagem na perspectiva da educação para os direitos humanos, 
apresentando os seus fundamentos teórico-práticos. 
Estou muito grata em poder compartilhar com você esses momentos de 
estudo e reflexão. 
Seja bem-vindo (a)!
A autora.
CAPÍTULO 1
DireitoS HumanoS e CiDaDania
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Compreender alguns conceitos de educação em direitos humanos;
 Conhecer os elementos básicos para a introdução dos estudos sobre direitos
humanos, ressaltando o signifi cado humano e social;
 Reconhecer os marcos normativos estabelecidos pelas Políticas Públicas
através dos diversos programas, projetos e agendas (Programas Nacional,
Estaduais e Municipais de Direitos Humanos, o Estatuto da Criança e do
Adolescente – ECA, as legislações de combate à discriminação racial e à
tortura, bem como as recomendações das Conferências Nacionais de Direitos
Humanos e Programa Mundial para a Educação em Direitos Humanos);
 Direcionar a educação para o pleno desenvolvimento humano e às suas
potencialidades, na defesa do meio ambiente, dos outros seres vivos e da
justiça social.
10
Educação em direitos humanos na educação básica
11
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
ConteXtualização 
Caro (a) pós-graduando (a), neste primeiro capítulo abordaremos alguns 
conceitos referentes aos Direitos Humanos e cidadania, pois entendemos que 
a escola, enquanto uma das mais importantes organizações sociais, constrói, 
através das relações que se estabelecem no seu interior, inúmeros princípios 
concernentes a uma sociedade mais justa e igualitária.
Em contrapartida, somos protagonistas de um cenário de violências, 
indisciplina e afrontamentos que deixam os (as) professores (as) perplexos (as), 
em busca de respostas para garantir uma prática pedagógica permeada por 
valores de respeito, de diálogo e de tolerância.
Para pensarmos uma educação baseada nos Direitos Humanos, 
devemos iniciar falando em Cidadania e Integração Social. O que signifi ca ser 
cidadão na sociedade brasileira? E no mundo globalizado, quando sabemos que a 
grande parte da população vive à margem dos benefícios vitais? E na sua escola, 
como se vive a cidadania?
Para garantir a igualdade e a equidade entre os indivíduos, o Estado 
estabeleceu ao longo da história várias políticas sociais de proteção às crianças 
e adolescentes. De certa forma, as escolas se sentem refénsdessas legislações, 
não conseguindo, em muitos casos, estabelecer relações de parceria para 
enfrentar as suas difi culdades. Assim, faz-se necessário aprofundar essa temática, 
no sentido de buscar propostas e encaminhamentos que sustentem a prática 
pedagógica na busca de um espaço educativo que contribua para a construção 
de um presente mais solidário e de um futuro permeado por sonhos e valores 
de uma sociedade efetivamente mais justa e igualitária, numa ação conjunta de 
todos os órgãos sociais.
Se considerarmos que a escola é um espaço de circulação de culturas, 
de diferenças, de singularidades, devemos garantir que os direitos humanos 
se transformem na base das nossas relações e que a falta de entendimento, a 
ausência de escuta do outro, a destruição, a morte amplamente divulgados pelos 
adultos e pela mídia se transformem em objeto de diálogo e refl exão, colocando o 
presente numa situação crítica, para que nossas crianças e adolescentes possam 
manter a esperança da solidariedade, da generosidade e da justiça social a partir 
de práticas diárias do meio escolar, pois entendemos que não basta ensinar 
os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é necessário 
vivenciá-los.
12
Educação em direitos humanos na educação básica
eDuCação em DireitoS HumanoS: 
FunDamentoS teÓriCo-
metoDolÓgiCoS
Não se deve nunca esgotar de tal modo um 
assunto, que não se deixe ao leitor nada a fazer. 
Não se trata de fazer ler, mas de fazer pensar.
(MONTESQUIEU, do Espírito das leis, livro Xi, capítulo XX)
Vamos iniciar nossos estudos refl etindo sobre o sempre atual tema dos 
Direitos Humanos e Cidadania: para uns esse assunto pode mostra-se útil e 
necessário, para outros pode parecer dispensável e supérfl uo, depende da ótica 
que você vê. Antes de aprofundarmos nossa discussão, convido-o (a) para ler o 
seguinte texto :
O FRIO PODE SER QUENTE?
As coisas têm muitos jeitos de ser.
Depende do jeito da gente ver.
[...]
Por que será que numa noite a lua é tão pequena 
e fi ninha e outra noite ela fi ca tão redonda e gordinha 
para depois fi car de novo daquele jeito estreitinha?
Depende do quê?
Depende do dia que a gente vê.
Que comprido que é o rabo de uma vaca. Mas se uma 
mosca sentar lá em cima do focinho não adianta nem tentar. O 
rabo fi ca curtinho e só dá para abanar até o meio do caminho.
Quem já se queimou num pedaço de gelo e sentiu 
muito frio depois de um banho quente, não pode se espantar 
do frio poder queimar e o quente também esfriar.
13
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Uma árvore é tão grande se a gente olha lá para cima. Mas 
do alto de uma montanha ela parece tão pequeninha. Grande 
ou pequena depende do quê? Depende de onde a gente vê.
O domingo é tão curto, os outros dias duram tanto. Nas horas 
eles são iguais, a diferença deve estar naquilo que a gente faz.
O amanhã de ontem é hoje, o hoje é o ontem de amanhã. 
Dentro dessa complicação, quem tem uma explicação? Dá até para 
imaginar se o amanhã nunca chega. E também para pensar hoje, 
ontem, amanhã depende do quê? Depende do jeito que você vê.
Como será que pode uma colher cheia de doce parecer 
tão pouquinho que não dá nem para sentir? E cheia de 
remédio fi car tanto que não dá nem para engolir?
O pouco pode ser muito. O quente pode ser frio. Será que 
tudo está no meio e não existe só o bonito ou só o feio?
O comprido pode ser curto, o fi no pode ser redondo. 
Parece mesmo que no fi m o bom pode ser ruim. E 
neste caso por que não o ruim pode ser bom?
Curto e comprido. Bom e ruim. Vazio e cheio. Bonito e feio. 
São jeitos das coisas ser. Depende do jeito da gente ver.
Ver de um jeito agora e de outro depois. Ou, 
melhor ainda, ver na mesma hora os dois.
Fonte: Masur (2009, apud CORBETTA, 2011, p.6)
Muito bem.... podemos afi rmar que o modo como compreendemos o mundo 
que nos cerca depende do modo como o vemos, das nossas histórias de vida, 
dos nossos valores, observações e experiências. Da mesma forma, o modo 
como percebemos a educação será defi nido a partir da tendência pedagógica 
que escolhemos para pautar nossa prática, das teorias que baseiam nossas 
opções teóricas e pedagógicas, dos recortes do conhecimento que fazemos 
para defi nir os conceitos científi cos e as competências para o desenvolvimento 
de aprendizagens signifi cativas, geradoras de novas aprendizagens e 
propiciadoras da formação do cidadão consciente e agente de mudanças.
14
Educação em direitos humanos na educação básica
Diante de todos esses fatores, qual o seu olhar diante de uma proposta de 
educação baseada nos direitos humanos na educação básica? Quais óculos você 
irá escolher para analisar essa temática? Serão uns óculos bem escuros, para 
combinar com todas as obscuridades da questão, ou serão uns óculos coloridos, 
que representem as possibilidades e questionamentos?
Figura 1 - Qual o seu olhar?
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/byumN>. Acesso em: 30 jun. 2012
Antes de prosseguirmos, convido-o (a) a fazer uma viagem pelo tempo. Você 
reconhece algumas das fi guras abaixo:
Figura 2 - Equipamentos eletrônicos do passado
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/byuQT>. Acesso em: 03 jul. 2012
15
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Qual foi sua reação: riso, saudade, curiosidade? Se você nasceu nas 
décadas de 60 / 70 deve estar cheio de lembranças e se você for mais jovem, 
deverá estar rindo desses objetos de “museu”. 
Como nossos alunos do século XXI reagiriam se fossem postos à frente 
desses equipamentos? Saberiam manuseá-los? Demonstrariam interesse em vê-
los em funcionamento?
E se fi zéssemos uma breve seleção dos equipamentos tecnológicos 
presentes no cotidiano de muitos deles, quais seriam?
Figura 3 - Equipamentos eletrônicos da atualidade
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/bzwii>. Acesso em: 03 jul. 2012.
São muitas opções, não é? E dentro de pouco tempo, quais 
serão as novas tecnologias que estarão disponíveis? Quais as 
novas frentes de trabalho que existirão? Quais as competências 
que serão exigidas pelo mercado de trabalho? E assim 
poderíamos listar muitos questionamentos que nos assolam diante 
da complexidade e velocidade do desenvolvimento científi co e 
tecnológico.
Estamos diante de um novo contexto social e de um novo aluno, que é 
bombardeado em seu dia a dia por novidades tecnológicas, apelos consumistas, 
cenas de violência exacerbadas e que absorvem todas essas informações de 
forma imediata, refl etindo-as em sua forma de ser, de entender e de se relacionar 
com as pessoas e o mundo a sua volta.
Assim, junto com as tecnologias, diversas outras modifi cações estão 
presentes no nosso cotidiano, trazidos pelos ventos da modernidade: imediatismo, 
consumismo, superfi cialidade das relações, excesso de tarefas, jornada de 
trabalho ampliada, entre tantas outras que poderíamos elencar. 
16
Educação em direitos humanos na educação básica
Como educadores, temos que ter conhecimento da realidade sociocultural 
da nossa clientela, suas contradições, confl itos, necessidades e desafi os. A partir 
do momento em que conhecemos a realidade da comunidade onde a escola 
está inserida, podemos desenvolver o respeito às características e as diferenças 
individuais, desenvolvendo a habilidade de nos relacionarmos de forma mais 
humana e solidária, trabalhar cooperativamente e em função dos interesses e 
necessidades dos alunos, pois não podemos imaginar um projeto de educação 
em direitos humanos único e infl exível, que deva ser aplicado uniformemente nas 
diferentes realidades sociais brasileiras.
Vamos voltar ao texto de abertura desse capítulo: o frio pode ser quente? As 
coisas têm muitos jeitos de ser. Depende do jeito da gente ver [...].
Qual a escola que você vê: um ambiente repleto de problemas, com pessoas 
descontentes e insatisfeitas, com defasagens salariais, pais ausentes, difi culdades 
de aprendizagem, falta de recursos materiais, instalações físicas inadequadas? 
Ou você a enxerga como possibilidade para modifi car a vidade muitas crianças e 
jovens, transformando-se em um caminho de mudança social e cultural?
Para pensarmos uma escola democrática e cidadã, temos que ir muito 
além de uma prática pedagógica engessada e baseada no formalismo, onde 
predominam as tarefas de planejar, executar e avaliar os conteúdos de ensino. 
A escola atual tem mostrado diariamente que não está mais dando conta dos 
desafi os da contemporaneidade, por isso somos chamados a repensá-la. 
Gostaria de chamá-lo (a), inicialmente, para resgatarmos um documento 
que foi elaborado em 1948 e cujas prerrogativas ainda mantêm-se válidas, atuais 
e desafi adoras. Você sabe do que se trata? Nessa década sabemos que se 
defl agrou a Segunda Guerra Mundial, foram estabelecidas a ONU, a OTAN, o 
FMI, o Banco Mundial, foi criado o primeiro computador e em 10 de dezembro de 
1948 foi aprovada, pela ONU, a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Trata-se de um documento muito comentado, citado e noticiado. Porém, 
quero lhe fazer uma pergunta: você já fez a sua leitura? Como educador, que 
tal conhecê-lo na íntegra? Lembre-se de que estamos trabalhando na ótica de 
construir novos olhares para a realidade escolar, por isso, vamos colocar uns 
“óculos 3D” e tentar visualizar o cotidiano escolar no interior de cada artigo 
que segue?
17
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Você pode acessar o documento em:
 http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/
ddh_bib_inter_universal.htm
Figura 4- Declaração Universal dos Direitos Humanos
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/bzxh7>. Acesso em: 06 ago. 2012.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Artigo I 
Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. 
São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas 
às outras com espírito de fraternidade. 
Artigo II 
Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as 
liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de 
qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião 
política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, 
nascimento, ou qualquer outra condição. 
18
Educação em direitos humanos na educação básica
Artigo III 
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança 
pessoal.
Artigo IV 
Ninguém será mantido em escravidão ou servidão, a escravidão 
e o tráfi co de escravos serão proibidos em todas as suas formas. 
Artigo V 
Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo 
cruel, desumano ou degradante.
Artigo VI 
Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, 
reconhecida como pessoa perante a lei. 
Artigo VII 
Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer 
distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção 
contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e 
contra qualquer incitamento a tal discriminação. 
Artigo VIII 
Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais 
competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos 
fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela 
lei. 
Artigo IX 
Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. 
Artigo X 
Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência 
justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, 
para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer 
acusação criminal contra ele. 
19
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Artigo XI 
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser 
presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada 
de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido 
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão 
que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional 
ou internacional. Tampouco será imposta pena mais forte do que 
aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.
Artigo XII 
Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na 
sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques 
à sua honra e reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei 
contra tais interferências ou ataques.
Artigo XIII 
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência 
dentro das fronteiras de cada Estado. 
2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o 
próprio, e a este regressar.
Artigo XIV 
1.Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar 
e de gozar asilo em outros países. 
2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição 
legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos 
contrários aos propósitos e princípios das Nações Unidas.
Artigo XV 
1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 
2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, 
nem do direito de mudar de nacionalidade.
20
Educação em direitos humanos na educação básica
Artigo XVI 
1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer 
restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair 
matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em 
relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 
2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno 
consentimento dos nubentes.
Artigo XVII 
1. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade 
com outros. 
2.Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XVIII 
Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência 
e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença 
e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela 
prática, pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em 
público ou em particular.
Artigo XIX 
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; 
este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e 
de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer 
meios e independentemente de fronteiras.
Artigo XX 
1. Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação 
pacífi cas. 
2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.
Artigo XXI 
1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu 
país, diretamente ou por intermédio de representantes livremente 
escolhidos. 
21
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do 
seu país. 
3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; 
esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por 
sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que 
assegure a liberdade de voto.
Artigo XXII 
Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à 
segurança social e à realização, pelo esforço nacional, pela 
cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos 
de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais 
indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua 
personalidade.
Artigo XXIII 
1.Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de 
emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção 
contra o desemprego. 
2. Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual 
remuneração por igual trabalho. 
3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remuneração 
justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, 
uma existência compatível com a dignidade humana, e a que se 
acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social. 
4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles 
ingressar para proteção de seus interesses.
Artigo XXIV 
Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação 
razoável das horas de trabalho e férias periódicas remuneradas.
Artigo XXV 
1. Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz 
de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive 
22
Educação em direitos humanos na educação básica
alimentação,vestuário, habitação, cuidados médicos e os 
serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de 
desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de 
perda dos meios de subsistência fora de seu controle. 
2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência 
especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do matrimônio, 
gozarão da mesma proteção social.
Artigo XXVI 
1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, 
pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução 
elementar será obrigatória. A instrução técnico-profi ssional será 
acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no 
mérito. 
2. A instrução será orientada no sentido do pleno 
desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do 
respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. 
A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade 
entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as 
atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 
3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de 
instrução que será ministrada a seus fi lhos.
Artigo XXVII 
1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida 
cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar do processo 
científi co e de seus benefícios. 
2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e 
materiais decorrentes de qualquer produção científi ca, literária ou 
artística da qual seja autor.
Artigo XXVIII 
Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em 
que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração 
possam ser plenamente realizados.
23
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Artigo XXIV 
1. Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, em que o 
livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 
2. No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará 
sujeita apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente 
com o fi m de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos 
direitos e liberdades de outrem e de satisfazer às justas exigências 
da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade 
democrática. 
3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, 
ser exercidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações 
Unidas.
Artigo XXX 
Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser 
interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou 
pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer 
ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades 
aqui estabelecidos.
Fonte: Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/
ddh_bib_inter_universal.htm>. Acesso em: 06 ago. 2012.
Temos que considerar que o documento é datado, por isso não dá conta 
de algumas especifi cidades da atualidade, como por exemplo as questões 
da sustentabilidade, do papel da mulher no mundo contemporâneo, do 
desenvolvimento acelerado das tecnologias, deixando um contingente de mão-
de-obra excedente, o direito a diversidade cultural e as diferenças, entre outros. 
Porém, como aponta Alencar (1998, p. 28): 
[...] é preciso conhecer os direitos humanos não como um 
dogma, como um conjunto de artigos prontos, acabados, 
defi nitivos. A Declaração cinquentenária é muito boa, merece 
ser lida, conhecida, vivida e cumprida, mas tem lacunas – 
resultantes da época em que foi escrita, de sua temporalidade. 
Por isso, celebrar e valorizar a Declaração Universal dos 
Direitos Humanos [...] é entender que ela precisa ser acrescida, 
complementada, aperfeiçoada. Além de cumprida, é óbvio.
24
Educação em direitos humanos na educação básica
Devemos refl etir, porém, que ao longo da história da humanidade 
nem sempre houve a preocupação com o bem estar, igualdade e 
segurança dos povos. De acordo com Alencar (1998, p.21):
A noção de direitos humanos está diretamente ligada ao 
contexto de cada época. Quando não havia escrita e a fala 
humana ainda se estruturava com sons guturais, primais, os 
‘direitos humanos’ eram inexistentes como conceito e como 
prática: a luta pela sobrevivência era bruta, dura, e favorecia 
os mais fortes. E assim foi durante séculos.
Alguns acontecimentos marcaram a história e entre muitas 
transitoriedades, avançou-se no reconhecimento da humanização. 
Podemos citar o cristianismo, com o seu princípio de amor ao próximo, 
a luta da burguesia contra os senhores feudais e a aristocracia 
absolutista, a Revolução Francesa de 1789, que pregava a igualdade, 
liberdade e fraternidade entre os homens, as Constituições Nacionais 
que foram elaboradas nos diversos países do planeta e as diversas 
legislações complementares que surgiram para garantir a paz entre 
os povos.
Desta forma, diversos fatores são responsáveis pelo 
estabelecimento dos direitos humanos em diferentes momentos 
da história da humanidade, entre eles fatores sociais, históricos, 
fi losófi cos, econômicos, que por sua vez estão em constante processo 
de modifi cação, de acordo com as exigências e aprimoramento 
intelectual e cultural da sociedade. Neste sentido, Bobbio (1992, 
p.24) afi rma que “o problema fundamental em relação aos direitos do 
homem, hoje, não é tanto o de justifi cá-los, mas o de protegê-los”. 
O QUE É EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS?
Segundo Tavares (2007, p.488), a educação em diretos 
humanos por sua vez, é o que possibilita sensibilizar e conscientizar 
as pessoas para a importância do respeito ao ser humano, 
apresentando-se na atualidade, como uma ferramenta fundamental 
na construção da formação cidadã, assim como na afi rmação de tais 
direitos. Sua fi nalidade é a de atuar na formação da pessoa em todas 
as suas dimensões a fi m de contribuir com o desenvolvimento de sua 
condição de cidadão e cidadã, ativos na luta por seus direitos, no 
cumprimento de seus deveres e na fomentação de sua humanidade.
As questões da 
sustentabilidade, 
do papel da 
mulher no mundo 
contemporâneo, do 
desenvolvimento 
acelerado das 
tecnologias, 
deixando um 
contingente de 
mão-de-obra 
excedente, o direito 
a diversidade 
cultural e as 
diferenças, entre 
outros.
Bobbio (1992, 
p.24) afi rma que 
“o problema 
fundamental em 
relação aos direitos 
do homem, hoje, 
não é tanto o de 
justifi cá-los, mas o 
de protegê-los”.
25
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Diante da história da humanidade e de seus diversos momentos, a educação 
em direitos humanos sempre se mostrou necessária e relevante. Podemos buscar 
em Tavares (2007, p.488) o seu conceito:
A educação em diretos humanos por sua vez, é o que 
possibilita sensibilizar e conscientizar as pessoas para a 
importância do respeito ao ser humano, apresentando-
se, na atualidade, como uma ferramenta fundamental na 
construção da formação cidadã, assim como na afi rmação 
da tais direitos.[...] A fi nalidade maior da EDH, portanto 
é a de atuar na formação da pessoa em todas as suas 
dimensões a fi m de contribuir ao desenvolvimento de sua 
condição de cidadão e cidadã, ativos na luta por seus 
direitos, no cumprimento de seus deveres e na fomentação 
de sua humanidade.
Se você quiser aprofundar essa temática, não deixe de 
ler o livro a “A era dos extremos- o breve século XX”, de Eric 
Hobsbawn. O autor divide a história do século XX em três “eras”, 
vale a pena conferir. 
 HOBSBAWN,E. A era dos extremos: o breve século XX. 
1914- 1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Atividade de Estudos: 
1) Qual a sua impressão sobre a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos? Após 64 anos, a declaração se mantém atual? Em 
nossas escolas vivemos situações cotidianas que se refl etem 
nesse documento?
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26
Educação em direitos humanos na educação básica
CiDaDania, integração SoCial e 
DemoCraCia
A escola não pode ser considerada somente como transmissora de 
conteúdos, mas como local privilegiado de aprendizagens e vivências cidadãs e 
democráticas, e quando falamos na defesa, na efetivação e na universalização 
dos direitos humanos, precisamos considerar os seres humanos/ nossos alunos, 
enquanto seres sociais, inseridos em uma organização social, onde devem ser 
asseguradas as condições para que ele se desenvolva e tenha condições de viver 
com dignidade, igualdade e justiça. 
No entanto, temos que ressaltar que o conceito de igualdade não signifi ca que 
todos tenham de ter as mesmas características físicas, intelectuais ou psicológicas, 
tampouco os mesmos hábitos e costumes. Este conceito está imbuído das 
diferenças culturais entre os povos, pois, mesmo tratando-se de pessoas diferentes, 
continuam iguais como seres humanos, apresentando as mesmas necessidades e 
faculdades essenciais a todos. Dallari (2004, p.15) afi rma: 
O respeito pela dignidade humana deve existir sempre, em 
todos os lugares e de maneira igual para todos. O crescimento 
econômico e o progresso material de um povo têm valor 
negativo se forem conseguidos à custa de ofensas à dignidade 
de seres humanos [...].
Comparato (2007) faz uma importante refl exão acerca da autonomia 
do ser humano, destacando que o mesmo deve ser considerado como 
um fi m em si e não como um meio para determinar a consecução de um 
objetivo. O autor afi rma (2007, p. 22): “[...] todo homem tem dignidade 
e não preço, como as coisas. A humanidade como espécie, e cada ser 
humano em sua individualidade, é propriamente insubstituível: não tem 
equivalente, não pode ser trocado por alguma coisa”.
Considerando então que o homem não pode pensar somente em si 
e que os seus fi ns devem também considerar os fi ns dos outros, ele torna-
se eminentemente social e precisa dos seus pares para viver. A fragilidade 
humana está diretamente relacionada com a necessidade da solidariedade. 
Com exceção de alguns eremitas e pessoas que optam pela clausura, estamos 
diariamente nos relacionando com inúmeras pessoas, ligados a elas por nossas 
necessidades materiais (alimentos, roupas, remédios, educação etc.). Porém, 
também necessitamos de comunicação intelectual, afetiva e espiritual, pois, 
o amor, o afeto, a fé, a esperança e mais uma extensa lista de necessidades 
compõem essa maravilhosa e complexa criatura: a fi gura humana.
O respeito 
pela dignidade 
humana deve 
existir sempre, 
em todos os 
lugares e de 
maneira igual 
para todos.
27
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Como você defi ne as formas atuais de relações interpessoais? 
Houve alguma alteração na forma das pessoas se relacionarem?
Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a 
individualidade do ser humano. Hoje, vemos inúmeras situações em que as 
pessoas estão “on line” durante 24 horas do dia, utilizando-se dos mais diversos 
recursos tecnológicos para manter-se em conexão com sua extensa rede de 
amigos virtuais.
Há locais em que as pessoas entram, sentam-se em uma mesa, 
ligam seus computadores e permanecem por longo tempo navegando 
em seu mundo paralelo, enquanto nas mesas ao lado a cena se repete. 
Casais que saem para se divertir, mas não se esquecem de verifi car 
seus aparelhos a cada minuto, a fi m de detectar novas mensagens ou 
manter-se atualizados acerca das últimas informações. Jovens que 
quando se encontram de fato, não conseguem estabelecer diálogos, 
pois seu repertório linguístico está empobrecido. 
Bem, embora estejamos vivendo um momento de transição nas 
relações sociais, os direitos humanos continuam mais indispensáveis 
do que nunca, pois devido ao vertiginoso desenvolvimento dos centros 
urbanos e seus índices populacionais, as regras de convivência são 
fundamentais e precisam ser cada vez mais especializadas, para dar 
conta de tamanha diversidade.
Bobbio nos ajuda a pensar essa transitoriedade quando afi rma:
[...] os direitos do homem, por mais fundamentais 
que sejam, são direitos históricos, ou seja, 
nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas 
por lutas em defesa de novas liberdades contra 
velhos poderes, e nascidos de modo gradual, não 
todos de uma vez e nem de uma vez por todas 
(BOBBIO, 1992, p.5).
Imagine a sua cidade, o seu bairro, o seu edifício sem um regulamento que 
disciplinasse as ações dos seus usuários? Teríamos uma nova versão da Torre de 
Babel, não é? Toda regra é importante, porque ela defi ne o que uma pessoa pode 
ou não fazer, porém é importante que ela venha respaldada por um princípio, que 
é o que explica os motivos, as razões de determinada regra existir. 
Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a Há uma característica da pós–modernidade que destaca o isolamento e a 
Os direitos do 
homem, por mais 
fundamentais 
que sejam, são 
direitos históricos, 
ou seja, nascidos 
em certas 
circunstâncias, 
caracterizadas 
por lutas em 
defesa de novas 
liberdades contra 
velhos poderes, 
e nascidos de 
modo gradual, 
não todos de 
uma vez e nem 
de uma vez por 
todas (BOBBIO, 
1992, p.5).
28
Educação em direitos humanos na educação básica
Assim, a escola também conta com suas normatizações: é obrigatório o uso 
do uniforme, o aluno poderá contestar, dizendo que não quer usar o uniforme 
porque é feio, a cor é horrorosa, o modelo é ultrapassado. Porém, temos que 
argumentar com os princípios que sustentam essa regra: o uso do uniforme é 
obrigatório por uma questão de segurança (todos são capazes de identifi car um 
aluno da escola X, o que facilita o reconhecimento e a segurança dos mesmos no 
caminho da escola. A escola parte do princípio da igualdade, assim, todos devem 
vir uniformizados, a fi m de não haver destaque de um ou outro aluno. Com os 
diversos apelos de ordem sexual, manter a discrição da vestimenta é fundamental 
no ambiente escolar e assim por diante). O aluno passará a cumprir a regra 
porque entendeu o seu signifi cado e não somente pela exigência estabelecida.
Dallari (2004, p. 30) afi rma, em relação a um conjunto sistemático e 
harmonioso de regras:
Desde a Antiguidade, especialmente na Grécia, vem sendo 
procurada a ordem mais conveniente para a convivência 
humana. Aristóteles observou que a sociedade pode ser 
governada por um só indivíduo, por um grupo de indivíduos 
ou por muitos, considerando essa última forma, que está mais 
próxima da moderna concepção de democracia, a mais justa 
e conveniente.
Diante dessas regulamentações e das refl exões que fi zemos até aqui, 
podemos concluir que todos os segmentos da sociedade acabam sendo 
imbuídos de uma função social, não somente o Estado, mas também a família, 
a igreja, a mídia, as ONG’s precisam revestir-se de uma consciência ética 
coletiva, buscando o consenso através do diálogo como forma de promover 
e valorizar os direitos numa perspectiva que valorize as singularidades e as 
diferenças.
Atividade de Estudos: 
1) No seu curso de graduação você estudou sobre a função social 
da sua escola? Tente relembrar esses conceitos e os articule com 
os princípios que compõem a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos. É possível fazer essa relação? 
 Em sua opinião, a escola consegue executar o que está previsto 
na sua função social?
29
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
 Pesquise no PPP e veja se esta questão foi contemplada. Caso 
não haja referência ao tema, leve essa discussão para a próxima 
reunião pedagógica.
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Depois de compreender a realidade escolar em que está inserido, você 
considerou que a escola precisa ser vivida em bases democráticas e para isso 
precisa reconhecer e valorizar a diversidade, a pluralidade e o multiculturalismo 
previstos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, não perdendo de vista a 
sua principal fi nalidade, que é a elaboração de novos conhecimentos. 
Para isso, a garantia de uma gestão participativa, através dos órgãos 
colegiados, da elaboração coletiva do PPP, da manutenção dos canais de diálogo, 
constitui-se em importantes caminhos de democratização e de efetivação da 
função social da escola, que tem como maior objetivo formar e não segregar.
30
Educação em direitos humanos na educação básica
Muito bem, caro(a) pós-graduando (a), se temos uma sociedade organizada 
por meio de códigos, regulamentações e leis baseados nos direitos fundamentais 
da pessoa humana, conjugando-se aspectos individuais e sociais inerentes a 
cada ser, estaremos favorecendo o desenvolvimento da cidadania, que é um dos 
fundamentos da democracia.
Segundo o sociólogo Herbert de Souza (Betinho) (apud OLIVEIRA, 2008, p. 89):
[...] cidadão é um indivíduo que tem consciência dos seus 
direitos e deveres e participa ativamente de todas as 
questões da sociedade. Tudo o que acontece no mundo 
acontece comigo. Então eu preciso participar das decisões 
que interferem na minha vida. Um cidadão com um 
sentimento ético forte e consciente da cidadania não deixa 
passar nada, não abre mão desse poder de participação 
[....].
É importante sabermos que a noção de cidadania é anterior à 
Idade Moderna, ela teve suas origens na Grécia e em Roma antigas. 
Com a queda do Império Romano (476 d.C.) desapareceu o conceito 
de cidadania na Europa.
Na Idade Média, não havia cidadãos. Os senhores feudais 
tinham servos da gleba (feudo), as cidades tinham burgueses, a igreja 
comungantes e o rei vassalos e súditos. Com a Revolução Americana 
(1776) e a Francesa (1789), o conceito de cidadania voltou a ocupar 
um lugar central na vida política.
A partir de então, ampliou-se e aprofundou-se cada vez mais o seu 
conceito, até agregar todos os indivíduos das sociedades democráticas 
modernas.
Você se considera um cidadão? Consegue expressar suas ideias 
livremente? Você devolve um produto com defeito e recebe o dinheiro 
de volta? Vive a sua opção sexual sem sofrer discriminação? Por outro 
lado, respeita as leis de trânsito, não joga papel na rua, desliga o celular 
durante uma reunião?
E você, como educador (a), consegue viver a cidadania na sala de aula, 
exercitando os princípios da igualdade e equidade com seus alunos (as)? 
Fica atento (a) para mobilizar comportamentos solidários, pois considera que 
os princípios da ética e da moral são mais facilmente incorporados quando 
vivenciados, discutidos e refl etidos no dia-a-dia? E as políticas públicas de 
valorização do magistério, têm destinado a devida importância ao reconhecimento 
social e fi nanceiro do professor?
Cidadão é um 
indivíduo que 
tem consciência 
dos seus direitos 
e deveres 
e participa 
ativamente de 
todas as questões 
da sociedade.
Na Idade Média, 
não havia 
cidadãos. Os 
senhores feudais 
tinham servos da 
gleba (feudo), as 
cidades tinham 
burgueses, 
a igreja 
comungantes e 
o rei vassalos e 
súditos.
31
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Milton Santos (1997) denomina algumas dessas questões como situações 
de marginalidade dos direitos de cidadanias mutiladas. Segundo ele, cidadão é o 
indivíduo que tem a capacidade de entender o mundo, a sua situação no mundo e 
de compreender os seus direitos para poder reivindicá-los.
Bem, caro (a) educador (a), como viver a democracia e a cidadania no 
cotidiano escolar? Uma das respostas possíveis está na transversalização 
dessas temáticas com os conteúdos previstos no seu planejamento, permitindo 
a aderência dos mesmos a todas as esferas da vida do aluno, evitando o 
entendimento de que somente na sala de aula e na escola, mediante a supervisão 
da professora, o mesmo precise apresentar um comportamento adequado ao seu 
papel de cidadão, revestidos de direitos e deveres.
Sabemos que no Brasil ainda temos avanços e recuos, progressos e 
retrocessos quanto à implantação dos direitos de cidadania e democracia, devido 
a uma herança histórica que estabelece distinções, discriminações e preconceitos, 
não só no plano material, mas também cultural, social, de raça, sexo e idade. O 
princípio de que todos são iguais perante a lei não suprime os problemas sociais 
que ainda vivemos em nosso país.
Muitos desses problemas se refl etem diretamente na ação pedagógica da 
escola, pois os fi lhos vivem e sofrem as mazelas causadas pelo desemprego, 
falta de moradia, falta de alimentação, entre tantas outras difi culdades. A escola 
é parte integrante da sociedade e não consegue viver apartada dela, seus muros 
não conseguem impedir o refl exo das desigualdades, violências e tragédias. Por 
isso, precisamos conhecer a comunidade na qual a escola está inserida (quem 
são esses homens e mulheres que vivem aqui? Qual sua formação? Qual seu 
emprego? Seu nível salarial? Suas ambições e sonhos?).
Somente a partir desse perfi l poderemos adequar nossa prática pedagógica 
para atender as suas necessidades e especifi cidades, já que os conhecimentos 
construídos na escola devem contribuir para a formação do aluno cidadão que 
está previsto no Projeto Político Pedagógico. Paulo Freire (1983, p. 22) nos ajuda 
a pensar sob essa ótica quando diz: “A leitura do mundo precede sempre a leitura 
da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele”.
Conhecer e discutir a realidade da comunidade na qual a escola está inserida 
é importante, porém temos que ter o cuidado para não cair num esvaziamento 
pedagógico, fazendo recortes de conhecimento e cultura que são essenciais para 
o nosso aluno (a), pois deve ser dada a ele (a) a oportunidade de conhecer e 
saber muito mais do que as coisas do seu meio. Eliot (1947, apud FORQUIN, 
1993, p.32) considera que:
32
Educação em direitos humanos na educação básica
[...] na nossa precipitação por querer que todos estudem, 
reduzimos nossos níveis de exigência e abandonamos cada 
vez mais o estudo destas matérias que servem para transmitir 
os elementos fundamentais de nossa cultura – ou ao menos 
parte da cultura que é transmissível escolarmente [...].
Assim, temos que considerar que estamos vivendo um momento 
de reestruturações e reavaliações culturais e sociais, de mutações 
importantes nas experiências coletivas (o Brasil é atualmente a 8ª 
economia mundial). Temos que adequar nossa prática pedagógica, 
dando ênfase aos conteúdos historicamente construídospela 
humanidade e retirando extratos, para fi ns didáticos, de uma educação 
que expresse as verdades humanas e seus dilemas fundamentais, 
com vistas para a implantação de uma escola democrática e cidadã, 
já que nas sociedades contemporâneas a escola é o principal lugar 
de estruturação de concepções de mundo e da consciência social, 
de consolidação de valores, da formação para a cidadania, de 
constituição de sujeitos sociais e de desenvolvimento das práticas 
pedagógicas. 
De acordo com o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2004), 
para atingir esse objetivo, a educação básica deve incorporar o 
incentivo a estudos e pesquisas sobre as violações de direitos 
humanos no sistema de ensino (confl itos, violências e discriminações, 
dentre outros temas); e desenvolver ações fundamentadas em 
princípios de convivência para que se construa uma escola livre de 
preconceitos, violência, abuso sexual, intimidação e punição corporal, 
incluindo procedimentos para a resolução de confl itos e modos de 
lidar com a violência e perseguições/intimidações entre os estudantes. 
É na escola que se formam valores, atitudes e práticas de respeito 
aos direitos humanos e, neste contexto, a educação para diversidade 
é fundamental. 
Quero convidá-lo para um momento de descontração e, 
para isso, vamos assistir ao vídeo “Representação social dos 
direitos humanos”, que tem como ponto de partida o olhar de um 
taxista que acredita que «os direitos humanos só servem para 
ajudar os bandidos». O programa mostra as origens históricas 
deste pensamento e como a informação pode mudar esta visão. 
Advogados, professores e sociólogos contam como a Declaração 
dos Direitos Humanos foi criada e explicam sua importância para 
a humanidade.
A educação básica 
deve incorporar o 
incentivo a estudos 
e pesquisas sobre 
as violações de 
direitos humanos no 
sistema de ensino 
(confl itos, violências 
e discriminações, 
dentre outros 
temas); e 
desenvolver ações 
fundamentadas 
em princípios de 
convivência para 
que se construa 
uma escola livre 
de preconceitos, 
violência, abuso 
sexual, intimidação 
e punição 
corporal, incluindo 
procedimentos 
para a resolução 
de confl itos e 
modos de lidar 
com a violência 
e perseguições/
intimidações entre 
os estudantes.
33
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Acesse o seguinte endereço eletrônico: http://univesptv.
cmais.com.br/etica-valores-e-cidadania/evc-representacao-social-
dos-direitos-humanos.
polÍtiCaS SoCiaiS De proteção ÀS 
CriançaS e aDoleSCenteS 
Só se educa em direitos humanos quem se humaniza e só é
possível investir completamente na humanização 
a partir de uma conduta humanizada.
Ricardo Ballestreri
Figura 5 - Crianças e adolescentes do século XXI
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/bzBJ5>. Acesso em: 1 jul. 2012. 
São inúmeras as modifi cações percebidas nas crianças e adolescentes 
de hoje. Com frequência, os adultos afi rmam que elas já “nascem falando” e 
vão desenvolvendo uma compreensão fantástica acerca das coisas que as 
cercam, porém está cada vez mais complexo educá-las, pois facilmente elas 
tornam-se indisciplinadas e sem limites. Os (as) professores (as), por sua vez, 
afi rmam que sentem saudades daquela escola do passado, na qual os alunos 
eram disciplinados e respeitavam ordenadamente as regras estabelecidas. 
34
Educação em direitos humanos na educação básica
Mas podemos aqui fazer um questionamento: as crianças eram obedientes por 
acreditarem e concordarem com os valores educativos da época, ou obedeciam 
por medo e coação? 
Com o avanço da ciência, das pesquisas e da tecnologia, passou-se a 
conhecer muito melhor o desenvolvimento infantil e vários elementos foram 
substituindo a forma de educar, muito diferentes da submissão, da disciplina e do 
formalismo de tempos passados. 
Por outro lado, novas políticas públicas foram implantadas para dar conta de 
todas as modifi cações da infância e adolescência, exigindo que os paradigmas 
educacionais também estejam em constante processo de análise, a fi m de atender 
as especifi cidades dessa nova geração. Não podemos acreditar que, diante de 
tantos avanços em todas as áreas do conhecimento, tenhamos regredido no 
nosso papel de educar, o que talvez esteja faltando é um certo equilíbrio entre as 
coisas boas do passado e os ranços que devem ser descartados, para dar lugar a 
novas possibilidade de ver e viver o mundo.
Esse nosso saudosismo acaba mascarando uma série de barbáries que eram 
cometidas contra as crianças e adolescentes no passado. Basta fazer um breve 
retrospecto na história para lembrar-nos da forma como as crianças eram tratadas 
por seus pais e professores. As escolas eram regidas por severos códigos de 
conduta e, ao menor sinal de transgressão, os castigos eram aplicados (orelha 
de burro, palmatória, cheirar parede, ajoelhar no milho, cadeira do pensamento, 
humilhações etc.). Você já se perguntou sobre os efeitos desses atos? Eles 
são capazes de educar as crianças para uma relação humana de respeito e 
solidariedade?
Atualmente, as diversas políticas públicas e legislações tentam resguardar as 
crianças e adolescentes das violações dos seus direitos, porém muitos ainda vivem 
em um mundo cercado de violência, maus-tratos, exclusões e privações e acabam 
reproduzindo no contexto escolar comportamentos da sua vida social e familiar. 
De acordo com Martins (2011, p. 20-21), podemos citar o conjunto de 
ordenamentos legais que constituem as políticas de educação, prevenção, 
atenção e atendimento às violências, para que você possa conhecer todos os 
recursos que a escola pode contar para lidar com as situações de confl ito no seu 
cotidiano:
35
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Quadro 1 - Ordenamentos legais que constituem as políticas de 
educação, prevenção, atenção e atendimento às violências
Declaração Universal dos Direitos Humanos
Declaração Universal dos Direitos da Criança
Constituição Federal de 1988
Constituição do Estado de Santa Catarina
Estatuto da Criança e do Adolescente/ECA, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/ LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996
Programa Nacional de Direitos Humanos/ PNDH-3, instituído pelo Decreto Presidencial nº 7.037, 
de 21 de dezembro de 2009
Programa Mundial para a Educação em Direitos Humanos (2004)
Plano Nacional de Direitos Humanos / PNEDH ( 2009)
Lei Estadual nº 14.651/2009, que institui o programa de combate ao Bullying
Resolução nº4/2010, que define as diretrizes curriculares nacionais gerais para a Educação 
Básica
Resolução nº 7/2010, que fixa as diretrizes curriculares nacionais para o Ensino Fundamental de 
9 (nove) anos
Lei nº 11.340, de 07 de agosto de 2006/ Lei Maria da Penha
Lei nº 11.525, de 25 de setembro de 2007, que inclui o conteúdo dos direitos das crianças e dos 
adolescentes na Lei nº 9394/96/LDB
Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, 
Travestis e Transexuais/LGBT 2009
Plano Nacional de Educação/PNE 2011 a 2020
Fonte: Martins (2011, p. 20-21).
Considerando as políticas públicas de atendimento à criança e ao 
adolescente, devemos ter um olhar sobre seu processo evolutivo. Iniciaremos 
com a Constituição da República Federativa do Brasil (SANTOS, 1990, p.07), em 
seu Capítulo I, Art. 5º, que afi rma: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção 
de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes 
no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e 
à propriedade”.
Já o tratamento mostra-se diferenciado aos direitos das crianças e 
adolescentes. A Constituição Brasileira seguiu a tendência da Convenção dos 
Direitos das Crianças (aprovada pela Assembleia das Nações Unidas em 1989), 
que estabelece: 
36
Educação em direitos humanos na educação básica
A obrigatoriedade dos Estados em assegurarem a toda 
criança sujeita à jurisdição, sem discriminação de qualquer 
tipo, independentede raça, cor, sexo, língua, religião, opinião 
política ou outra origem nacional, étnica, ou social, posição 
econômica, impedimentos físicos, nascimento ou qualquer 
outra condição da criança, seus pais ou representantes legais, 
os direitos nela previstos (MORAES, 2003, p.55).
Um marco histórico para a promoção de justiça social às crianças e jovens 
brasileiros foi o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL. Acesso em 2 ago. 
2012), Lei nº 8.069, de 1990, que trouxe muitos avanços e direitos como, por 
exemplo: “o direito de toda criança brasileira à vida, à saúde, à alimentação, à 
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária” (Art.4). 
Figura 6 – Estatuto da criança e do adolescente
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/bzE2S>. Acesso em: 17 ago. 2012.
Vamos conhecer a Lei?
Acesse: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm>.
Na década de 1980, que antecede a promulgação do ECA, houve um 
movimento internacional para estudar, revisar e ampliar códigos referentes 
aos direitos da criança. No Brasil não foi diferente, e por meio de uma intensa 
mobilização social, que envolveu a sociedade civil, profi ssionais das mais diversas 
áreas, estudantes, ativistas, entre outros, que contribuíram para pensar esse 
momento histórico em relação aos direitos das crianças, implantou-se esse novo 
paradigma na construção de uma política pública para crianças e adolescentes.
37
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Fonseca; Terto Junior; Alves (2004, p. 106) assinalam que: 
Fala-se tanto nos ‘direitos das crianças’ a partir do ECA. Será 
que foi a primeira vez na história que surgiu essa noção? [...] 
Parece que muitas pessoas acreditam na força mágica das 
palavras – como se o mero fato de falar da criança enquanto 
‘sujeito de direitos’ pudesse trazer uma mudança revolucionária 
na vida dos jovens brasileiros. Aprender que tais conceitos 
existem no mínimo desde o início do século passado, traria, 
pelo contrário, a realização de que existe uma vasta gama 
de interpretações possíveis desses conceitos, e que suas 
consequências dependem antes de tudo da particular fi losofi a 
política que subjaz em determinado momento.
Vejam que o conceito acima remete a uma importante refl exão: antes do ECA 
havia uma série de outras regulamentações, que ao longo do tempo foram se 
esgotando e necessitando de novas versões e ampliações. Deste modo, o ECA 
é fruto de uma trajetória histórica e procura transpor as contradições e confl itos 
existentes nas relações humanas. Desta feita, segundo Bazílio & Kramer (2003), 
o Estatuto da Criança e do Adolescente introduziu mudanças signifi cativas em 
relação à legislação anterior, o chamado Código de Menores, instituído em 1979. 
Crianças e adolescentes passam então a ser considerados cidadãos, com 
direitos pessoais e sociais garantidos, desafi ando os governos municipais a 
implementarem políticas públicas, especialmente dirigidas a esse segmento. No 
Brasil, defi nitivamente substituiu-se o termo “menor” por “criança e adolescente”, 
já que menor traz a ideia de uma pessoa sem direitos. Esta palavra foi banida do 
vocabulário de quem defende os direitos da infância, a fi m de evitar relembrar o 
direito penal do menor e toda a carga discriminatória negativa, por quase sempre 
se referir a crianças e adolescentes autores de atos infracionais. 
Com o reordenamento político do país e a ampliação dos 
espaços de discussão sobre os direitos da população 
brasileira, foi posta em cheque a legislação dirigida à 
infância e juventude, conhecida como Código de Menores. 
Tratava-se de um conjunto de leis que tinha a atenção 
dirigida apenas sobre uma parcela da população infanto-
juvenil, justamente aquela oriunda das camadas mais 
desfavorecidas do país. O sentido geral desse código 
era disciplinar condutas para crianças e adolescentes 
pobres, que vivessem em condições precárias (os 
chamados “carentes”) e aqueles que fossem reconhecidos 
pela transgressão às normas sociais (os “infratores”). 
Conhecida como “Doutrina da Situação Irregular”, servia 
para discriminar e segregar crianças e adolescentes já 
estigmatizados por suas condições de pobreza (GRANDINO, 
Biblioteca Digital. Acesso em: 20 jul. 2012 ).
38
Educação em direitos humanos na educação básica
Bazílio (2003, p. 30) lembra que o Estatuto da Criança e do Adolescente 
propõe a transformação de dois grandes eixos de atendimento/educação de 
crianças e adolescentes:
[...] um primeiro grupo de ações denominadas “medidas 
protetivas”, o qual busca resgatar ou dar oportunidade de 
correção de trajetória de vida, priorizando aquisição de direitos 
básicos que foram violados – realizadas em grande parte por 
conselhos tutelares. O segundo eixo descreve um conjunto 
de procedimentos denominados ‘medidas socioeducativas’, 
de acordo com os quais o adolescente em confl ito com a lei 
(anteriormente denominado de autor de ato infracional) teria 
possibilidade de reorganizar sua existência numa dinâmica 
prioritariamente educativa.
Ao ser promulgado, o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a criação 
de Conselhos Tutelares e de Direitos, órgãos destinados a garantir a execução 
do que é preconizado pela lei. De acordo com dados da Secretaria Especial de 
Direitos Humanos (BRASIL, 2007. Acesso em 20 jul. 2012):
[...] mais de 90% dos municípios brasileiros já contam com 
CMDCA’s e Conselhos Tutelares. O cenário é favorável, 
quando se analisa a implementação desses órgãos no País. 
Mas, quando se avalia a atuação dessas instâncias, em termos 
de infraestrutura e competência técnica, a precariedade ainda 
é grande.
Mesmo com a implantação dos Conselhos Tutelares em todos os municípios 
brasileiros, existem, contudo, muitos problemas a serem sanados. Os avanços 
dos conselhos continuam sendo impedidos por culturas técnicas e administrativas 
que mantêm práticas ultrapassadas. A falta de estrutura física, a ausência de 
capacitações e/ou qualidade dos treinamentos oferecidos, as questões referentes 
à representação política dos conselheiros, a ausência das redes de proteção (o 
que impede o devido encaminhamento do caso), a burocracia, o corporativismo, o 
clientelismo e o fi siologismo seguem impedindo a participação e a transparência 
que o novo direito da infância e da juventude exige. Também o acesso aos 
recursos fi nanceiros é um entrave importante para a implantação das políticas 
necessárias (VIEIRA, 2012). 
Percorrendo a linha do tempo no que se refere à temática dos Direitos da 
Criança e do Adolescente, em 2006 houve a aprovação do Plano Nacional de 
Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência 
Familiar e Comunitária e do Sistema Nacional Socioeducativo (Sinase). De acordo 
com a Secretaria Especial de Direitos Humanos (BRASIL, 2007. Acesso em 20 jul. 
2012), os dois documentos buscam solução para direitos garantidos pelo Estatuto, 
mas que ainda encontram difi culdades para sua efetivação. 
39
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Apesar dos inúmeros avanços, estudos mostram que apenas 10% do 
Estatuto têm sido implementado e cumprido nesses últimos anos, tendo em vista 
os inúmeros problemas sociais e educacionais que necessitam ser combatidos, 
o que nos permite dizer que o ECA ainda passa por um lento processo de 
assimilação pela sociedade e pelo Estado. 
Diante das várias críticas que se mantêm sobre o ECA, a mais comum 
de todas refere-se à opinião de que a lei trouxe um afrouxamento dos deveres 
destinados às crianças e adolescentes, fazendo uma apologia aos seus direitos. 
Grandino (Biblioteca Digital. Acesso em: 20 jul. 2012) contrapõe:
A leitura atenta da lei permite compreender que ali não estão 
artigos que fragilizam a autoridade dos adultos em relação 
às crianças e adolescentes, mas que o empenho necessário 
para garantir seus dispositivos está no interior das 
instituições que trabalham com essa população: a família, 
a escola, as organizações sociais e ofi ciais, entre outras. 
Trata-se depoder consolidar os modos condizentes aos 
contextos democráticos, de participação, reconhecimento 
de todos como sujeitos de direitos e, principalmente, de 
fortalecimento das instâncias de mediação. Mais ainda, 
trata-se de fortalecer os adultos, que carregam pesadas 
responsabilidades em relação aos mais novos, sem serem 
reconhecidos, no mais das vezes, como sujeitos de direitos 
também.
Digiácomo (Biblioteca Digital. Acesso em 20 jul. 2012) faz sua análise da 
seguinte maneira:
Os pais que se mostrarem omissos no cumprimento de tal 
DEVER, estarão sujeitos a duras sanções, previstas no 
próprio Estatuto e legislação correlata, sempre lembrando que 
cabe a cada um de nós impedir que crianças e adolescentes 
tenham ameaçado ou violado seu DIREITO À EDUCAÇÃO, 
que compreende o DIREITO A RECEBER LIMITES de seus 
pais ou responsável, que no entanto não podem abusar dos 
meios de correção e disciplina, sob pena de incorrer no crime 
de maus-tratos, previsto no Código Penal (que é de 1940).
As críticas ao Estatuto da Criança e Adolescente, na maioria das vezes, 
surgem pelo desconhecimento da lei e pela falta de preparo das pessoas em 
garantir a sua aplicação.
[...] também se enganam aqueles que pensam ter o Estatuto 
de qualquer modo interferido no relacionamento pai-fi lho, 
no sentido de impedir este de exercer sua autoridade em 
relação aquele. Longe disso, o Estatuto, sempre com respaldo 
na Constituição Federal, REAFIRMA o DEVER dos pais 
em EDUCAR seus fi lhos, o que evidentemente extrapola 
os conteúdos curriculares das escolas e abrange o “pleno 
40
Educação em direitos humanos na educação básica
desenvolvimento da pessoa” e “seu preparo para o
exercício da cidadania” (art. 205 da C.F.), estando aí incluído 
o ESTABELECIMENTO DE LIMITES e o ensino de lições 
elementares de CIDADANIA e relacionamento interpessoal, 
o que compreende o respeito às leis e ao próximo. 
(DIGIÁCOMO).
Desta feita, a família e a escola devem ter muita clareza do seu papel 
educativo, ambos devem resgatar sua autoridade, estabelecer limites e 
sustentar regras e princípios que regem as relações sociais, a fi m de que 
possam ter uma convivência mais harmoniosa, capaz de levar a resolução dos 
confl itos. 
Diante das citações acima, fi ca claro que a família não pode eximir-se da 
sua função educativa, repassando para a escola e para os Conselhos Tutelares a 
responsabilidade de educar seus fi lhos. No senso comum, criou-se a ideia de que 
os pais não podem mais exercer autoridade sobre os seus fi lhos, não podem fazer 
exigências, impor regras, estabelecer limites, a ponto de que alguns afi rmam: 
“Não sei mais o que fazer com meu fi lho! A escola tem que dar um jeito, senão vou 
entregá-lo para o Conselho Tutelar”.
Vimos que a lei é bem clara quando afi rma que a família não pode omitir-
se do seu papel educativo, sob pena de ser punida pelo próprio Estatuto da 
Criança e do Adolescente. Desta forma, podemos refl etir que respeito, disciplina 
e limites se constroem e não se impõem. Se desde pequeno o bebê não 
mantém a convivência com seus pais, não cria vínculos com os mesmos. Ao 
crescer, vai buscar na televisão, no vídeo-game, no computador e nos amigos 
suprir a ausência dos pais, que estão sempre envolvidos em seus crescentes 
compromissos profi ssionais, em sua jornada de trabalho ampliada e 
nos demais acontecimentos sociais e culturais.
Ao tornarem-se adolescentes, muitos pais não conhecem seus 
fi lhos: não sabem das suas preferências, das suas ansiedades, dos 
seus problemas, dos seus sonhos. Há casos em que vão se dar conta 
de uma situação de confl ito somente quando são chamados pela escola 
e fi cam atônitos dizendo: “Mas lá em casa ele é um anjo”.
Os pais precisam reconhecer que a sua ausência não pode ser 
preenchida com presentes, breves passeios ao Shopping ou com 
concessões inadequadas. A verdadeira educação se inicia desde o 
nascimento, com o acompanhamento constante das diversas etapas de 
evolução da criança, para que possa se estabelecer uma relação de 
reciprocidade e respeito, e acima de tudo, que a família possa estar 
unida para enfrentar todos os desafi os que a vida lhe impõe.
A participação 
das famílias 
se estende ao 
cotidiano escolar, 
pois a escola 
não pode ser 
responsabilizada, 
sozinha, por 
educar as 
crianças e 
adolescentes, 
já que estes 
são papéis 
complementares.
41
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
Desta maneira, a participação das famílias se estende ao cotidiano escolar, 
pois a escola não pode ser responsabilizada, sozinha, por educar as crianças e 
adolescentes, já que estes são papéis complementares. Não podemos continuar 
com o dedo indicador apontado, buscando culpados para a indisciplina, a violência 
e o baixo rendimento escolar. Cada segmento deve responsabilizar-se por suas 
obrigações e, se cada um cumprir o seu papel, todos poderão caminhar juntos, 
como parceiros, na tarefa de educar nossos futuros cidadãos.
Para aprofundarmos a discussão da participação da família 
na escola, sugiro que você assista ao vídeo “Família & Educação”, 
disponível no seguinte endereço eletrônico: http://www.youtube.
com/watch?v=3NJEp3M1Jjo.
Atividade de Estudos: 
1) A relação entre escola e família está muito fragilizada. Os pais, na 
sua maioria, estão ausentes e omissos da vida escolar dos fi lhos. 
A escola, por sua vez, sente-se sozinha e incapaz de exercer 
tantos papeis e enfrentar confl itos de todas as ordens.
 Convido (a) a acessar os sites da Escola de Pais e da Escola 
Virtual para Pais e pensar em uma ação que possa contribuir com o 
acompanhamento dos pais na vida escolar de seus fi lhos.
 http://escolavirtualparapais.com.br/ava/
 http://www.escoladepais.org.br/index.php/sobre-a-epb
 Boa leitura!
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Educação em direitos humanos na educação básica
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DireitoS HumanoS e eDuCação: 
aBorDagem interDiSCiplinar e 
multiDimenSional
Figura 7- Educação em direitos humanos
Fonte: Disponível em: <http://migre.me/bzEEU>. Acesso em: 01 jul. 2012.
A educação em direitos humanos se confi gurou de forma mais 
estruturada no Brasil a partir da segunda metade da década de 80, 
junto ao processo de (re)democratização do país. Neste contexto, o 
reconhecimento e a afi rmação dos direitos humanos emergiram como 
importantes instrumentos para a construção de uma cidadania ativa.
Atualmente vivemos sob o paradoxo de popularizar e universalizar 
os direitos humanos frente às cotidianas e sangrentas violações que 
assistimos ao vivo na mídia e que são amplamente exploradas por 
A educação em 
direitos humanos 
se confi gurou 
de forma mais 
estruturada no 
Brasil a partir da 
segunda metade 
da década de 
80, junto ao 
processo de (re)
democratização 
do país. 
43
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
todos os meios de comunicação, naturalizando-as e mostrando quão frágeis se 
constituem os mecanismos que zelam pela efetivação dos direitos.
Desta forma, a escola e seus atores necessitam pensar sobre essa realidade 
social repleta de fragilidades, que precisam ser expostas e refl etidas, a fi m de que 
possamos implantar projetos e programas que nos coloquem no lugar do outro, 
estendam pontes entre as milharesde ilhas egocêntricas, que nos permitam 
visualizar para além da nossa geografi a individual. No entanto, esse ideal só 
será alcançado quando todos os agentes pedagógicos (escolas, igrejas, Ong’s, 
Estado, empresas privadas, movimentos sociais, entre outros) sejam capazes de 
pensar em uma pedagogia para os direitos humanos.
A partir dessa necessidade, surge a seguinte pergunta: como 
implementar uma proposta educativa para os direitos humanos na 
Educação Básica? Que metodologia adotar? Quem pode colaborar? 
Como envolver as pessoas?
Primeiramente, vamos analisar o percurso histórico da trajetória de 
implantação de uma educação em direitos humanos, por isso, passaremos a 
uma breve revisão dos principais documentos normativos que permearam esse 
movimento O grande divisor de águas foi a Declaração Universal dos Direitos 
Humanos (1948), já abordada anteriormente, que, em seu artigo XXVI, trata 
especifi camente do direito à educação.
Na sequência, a Conferência Mundial de Direitos Humanos, proclamada 
em Viena, no ano de 1993, defi ne o objetivo da paz mundial pela educação, 
bem como destaca a importância de treinamentos e capacitações para atuar 
nessa área. Solicita a todos os Estados e instituições que incluam os direitos 
humanos, o direito humanitário, a democracia e o Estado de Direito como 
matérias dos currículos de todas as instituições de ensino dos setores formal 
e informal.
A Constituição da República de 1988 discutiu o tema sob a mesma ótica, 
defi nindo em seu Art. 205. “A educação, direito de todos e dever do Estado e da 
família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando 
ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e 
sua qualifi cação para o trabalho” (BRASIL, 1988).
44
Educação em direitos humanos na educação básica
A Lei nº 9.394/1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB 
(BRASIL,1996) também trouxe algumas referências que ligam-se à educação 
em direitos humanos. Em seu art. 1º, o termo educação abrange os processos 
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no 
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e 
organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.
Com relação aos princípios, fi nalidades da educação e dever de educar, a 
LDB (BRASIL,1996) defi ne em seus art. 3º, IV, X, XI): a) respeito à liberdade e 
apreço pela tolerância; b) valorização da experiência extra-escolar; c) vinculação 
entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Dando continuidade, podemos destacar o Plano Nacional de Educação em 
Direitos Humanos – PNEDH, que traça diversos programas para a promoção da 
educação em direitos humanos. Esse é um importante marco regulatório para a 
efetivação de uma prática pedagógica focada nos direitos humanos. 
Esta nova perspectiva educacional de interpretação dos 
fenômenos sociais, culturais e políticos proposta é um 
estímulo à confi guração de sociedades democráticas abertas, 
pautadas em uma nova consciência capaz de compreender a 
condição do mundo humano, defi nindo novos caminhos para 
a construção da cidadania. Este processo resgata as duas 
esferas do ser humano: o conhecimento racional, empírico e 
técnico de um lado, e o simbólico, poético, mágico e mítico 
de outro. É no entrelaçamento destas duas dimensões que a 
educação para a cidadania encontra seu ancoradouro e sua 
potencialidade em relação ao futuro (BRASIL, 2003, p.12).
O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos apresentou meios 
de concretização da educação em direitos humanos, possibilitando o início de 
um trabalho sistemático e institucionalizado para possibilitar e promover uma 
educação voltada para a promoção da igualdade, da justiça, da solidariedade, da 
cooperação, da tolerância e da paz.
O PNEDH apresenta, inicialmente, seus objetivos e linhas gerais de ação 
para, em seguida, distribuir as metas e ações propostas em cinco eixos: educação 
básica; educação superior; educação não-formal; educação dos profi ssionais dos 
sistemas de justiça e segurança e educação e mídia. 
O documento aponta os seguintes princípios para a Educação Básica:
• a educação básica, como um primeiro momento do processo educativo ao 
longo de toda a vida, é um direito social inalienável da pessoa humana e dos 
grupos socioculturais;
45
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIACapítulo 1
• a educação básica exige a promoção de políticas públicas que garantam a 
sua qualidade;
• a construção de uma cultura de direitos humanos é de especial importância em 
todos os espaços sociais. A escola tem um papel fundamental na construção 
dessa cultura, contribuindo na formação de sujeitos de direito, mentalidades e 
identidades individuais e coletivas;
• a educação em direitos humanos, sobretudo no âmbito escolar, 
deve ser concebida de forma articulada ao combate do racismo, 
sexismo, discriminação social, cultural, religiosa e outras formas de 
discriminação presentes na sociedade brasileira;
• a promoção da educação intercultural e de diálogo inter-religioso 
constitui componente inerente à educação em direitos humanos;
• a educação em direitos humanos deve ser um dos eixos norteadores 
da educação básica e permear todo o currículo, não devendo ser 
reduzida à disciplina ou à área curricular específi ca (BRASIL, 
2003, p.17).
Diante da importância do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, 
vamos passar a analisar algumas das suas linhas de ação:
Quadro 2 – Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos – linhas de ação
Universalizar o acesso e a permanência das crianças e adolescentes na escola com equidade e 
qualidade.
Estimular experiências de interação da escola com a comunidade que contribuam na formação 
da cidadania democrática.
Apoiar e incentivar as diversas formas de acesso e inclusão aos estudantes com necessidades 
educacionais especiais.
Inserir, efetivamente, a leitura e a discussão do Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (Lei 
nº 8.242/91) nos projetos pedagógicos a serem elaborados nas escolas.
Desenvolver projetos culturais e educativos de luta contra a discriminação racial, de gênero e 
outras formas de intolerância.
Apoiar e incentivar a inserção das questões do meio ambiente no currículo escolar.
Trabalhar questões relativas aos direitos humanos e temas sociais nos processos de formação 
continuada de educadores, tendo como referência fundamental as práticas educativas presentes 
no cotidiano escolar.
A educação em 
direitos humanos 
deve ser um dos 
eixos norteadores 
da educação 
básica e permear 
todo o currículo, 
não devendo 
ser reduzida à 
disciplina ou à 
área curricular 
específi ca
46
Educação em direitos humanos na educação básica
Promover e produzir materiais pedagógicos orientados para educação em direitos humanos, 
assim como sua difusão e implementação. 
Incentivar programas e projetos pedagógicos, junto aos sistemas de ensino, que busquem 
combater a violência doméstica com crianças, adolescentes, jovens e adultos.
Apoiar e incentivar a produção e manifestação cultural dos jovens. 
Garantir a formação inicial e continuada aos profissionais da educação básica na perspectiva 
dos direitos humanos.
Promover experiências de formação dos estudantes como agentes promotores de direitos 
humanos. 
Introduzir a perspectiva da educação em direitos humanos como componente da formação 
inicial dos educadores.
Fonte: PNEDH (BRASIL, 2003, p.18).
Acesse o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos no 
endereço eletrônico abaixo:
 http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_co
ntent&view=article&id=14772%3Aeducacao-
em-direitos-humanos&catid=194%3Asecad-
educacao-continuada&Itemid=640 .
A questão que surge quando refl etimos sobre esse tema é muito comum: será 
realmente possível pensarmos em uma educação para os direitos humanos em 
uma sociedade tão dividida, individualista e pautada nos princípios capitalistas?
Talvez um dos caminhos possa ser reconhecido através das recomendações

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