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CCJ0005-WL-AMMA-02-aula_2-O estudo do discurso político

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CIÊNCIA POLÍTICA 
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CIÊNCIA POLÍTICA 
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TEMA: O estudo do discurso político. 
Uma problemática do discurso político 
como processo de influência social. A 
identidade do sujeito político: a questão 
da legitimidade. 
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2. O que é o discurso político? 
Apresentar o objetivo do discurso político, tal seja: o de 
influenciar ou buscar adesão sempre de um maior 
número de pessoas. Como também compreender o que 
seria legitimidade: comando reconhecido como não 
arbitrário 
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2.1. O estudo do discurso político. 
A Análise do Discurso é uma disciplina nova que nasce da 
convergência das correntes lingüísticas e os estudos sobre a 
retórica greco-romana. A definição de Análise do Discurso 
chama as noções da Lingüística textual na qual os elementos 
da frase podem ser relacionados a múltiplos sensos 
lingüísticos, extralingüísticos e sociais, possibilitando-nos 
vislumbrar quais seriam as intenções nos discursos, com os 
seus ditos e não ditos; e como estes discursos são organizados 
sempre pelos três lugares formadores de sentido: a doutrina, a 
retórica e os elementos de justificação ou de legitimação. 
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2.2. Uma problemática do discurso político como processo 
de influência social. 
"O sujeito, ser individual, mas também social necessita de 
referências para se inscrever no mundo dos signos e significar 
suas intenções. Logo, apóia-se numa memória discursiva, numa 
memória das situações, que vão normatizar o comportamento das 
trocas linguageiras, de modo que se entendam e obedeçam aos 
“enjeux” (expectativas) discursivos, que persistem na sociedade e 
estão a guiar os comportamentos sociais, de acordo com 
contratos estabelecidos. Ex. Um discurso político pode se realizar 
como um debate, um comício, uma entrevista, um texto escrito, 
um papo amigável do candidato, com direito a tapinhas nas 
costas etc. Cada realização vai exigir uma forma diferente que 
está de acordo com a situação." CHARAUDEAU, Patrick. 
Discurso Político. São Paulo: Contexto, 2006, p.47. 
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2.3. A identidade do sujeito político: a questão da legitimidade. 
“Legitimidade não é legalidade: se os indivíduos das classes mais 
desfavorecidas em matéria de cultura reconhecem quase sempre, ao menos 
da boca para fora, a legitimidade das regras estáticas propostas pela cultura 
erudita, isso não exclui que eles possam passar toda sua vida, de facto, fora 
do campo de aplicação dessas regras sem que estas por isso percam sua 
legitimidade, isto é, sua pretensão a serem universalmente reconhecidas. A 
regra legítima pode não determinar em nada as condutas que se situam em 
sua área de influência, ela pode mesmo só ter exceções, nem por isso define 
modalidade da experiência que acompanha essas condutas e não pode deixar 
de ser pensada e reconhecida, sobretudo quando é transgredida, como regra 
das condutas culturais que se pretendem legítimas. Em suma, a existência 
daquilo que chamo legitimidade cultural consiste em que todo indivíduo, 
queira ele ou não, admita ou não, está colocado no campo de aplicação de 
um sistema de regras que permitem qualificar e hierarquizar seu 
comportamento do ponto de vista da cultura.” BOURDIEU, Pierre. Campo 
Intelectual e Projeto Criador. In: Problemas do Estruturalismo. Rio de Janeiro: 
Zahar Editores, 1968, p. 128. 
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2.4. LEGITIMIDADE 
A idéia de legitimidade que se trabalha nesta aula articula o 
conjunto de procedimentos simbolicamente combinados pelos 
detentores da dominação em fazer crer aos dominados que sua 
imposição não é arbitrária. Adequa-se, assim, ao atendimento 
de um ideal da coletividade de que aqueles que estão 
ordenando podem efetivamente fazê-lo. 
Já a legalidade representa o poder de facto por estar vinculada 
aos critérios normativos impostos, independente de sua 
associação com a legitimidade, sendo efetivo e até em certos 
casos ilegítimo. 
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A compreensão das formas de dominação legítimas deriva da 
sociologia weberiana, que as aponta para três tipos específicos: o 
domínio legal, que é de caráter racional e fundamenta-se na 
crença da lei; o domínio tradicional, que se baseia na crença da 
tradição e costumes; e o domínio carismático, que está no bojo de 
um movimento messiânico. 
A dominação carismática ocorre quando há o reconhecimento e 
confiança, por parte dos súditos, na liderança e nas qualidades 
sobrenaturais e excepcionais do senhor, que se prontifica a usá- 
las para cumprir uma missão que revoluciona a ordem tradicional 
estabelecida. 
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A dominação tradicional está ligada à “autoridade do ontem 
eterno, isto é, dos mores santificados pelo conhecimento 
inimaginavelmente antigo e da orientação habitual para o 
conformismo. É o domínio exercido pelo patriarca e pelo príncipe 
patrimonial de outrora.” 
Finalmente, há o domínio em virtude da legalidade, em virtude da 
fé, na validade do estatuto legal e da competência funcional, 
baseada em regras racionalmente criadas. Nesse caso, espera- 
se obediência no cumprimento das obrigações estatutárias. É o 
domínio exercido pelo moderno servidor do estado e por todos os 
portadores do poder que, sob esse aspecto, a ele se 
assemelham. (WEBER, 2002:56). 
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Existe dominação legal quando um sistema de regras, que é 
aplicado judicial e administrativamente de acordo com princípios 
verificáveis, é válido para todos os membros do grupo associado. 
Para Max WEBER as funções de mando são essencialmente 
políticas e baseadas na legitimidade. No Estado moderno o poder 
político fundamenta-se na legitimação legal relacionando 
ordenamentos jurídicos e definição do governante. As bases de 
legitimidade, que pontuam efetivas ações governamentais, 
servem de categorias para promover a concordância da 
sociedade ao poder político instaurado, assim, por exemplo, os 
modelos democráticos baseiam-se na legitimidade por sufrágio 
universal e do livre consentimento da maioria. 
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A reflexão weberiana obrigatoriamente nos leva ao conceito de 
Estado. 
O que é um estado? Sociologicamente, o estado não pode ser 
definido em termos de seus fins. Dificilmente haverá qualquer 
tarefa que uma associação política não tenha tomado em suas 
mãos, e não há tarefa que não se possa dizer que tenha sido 
sempre, exclusivamente e peculiarmente, das associações 
designadas como políticas. Hoje o estado, ou, historicamente, as 
associações que foram predecessoras do estado moderno. Em 
última análise, só podemos definir o estado moderno 
sociologicamente em termos dos meios específicos peculiares a 
ele, como peculiares a toda associação política, ou seja, o uso da 
força física. (...) o estado é uma comunidade humana que 
pretende com êxito, o monopólio do uso legítimo da força física 
dentro de um determinado território. (Weber). 
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O Estado como detentor da soberania visa operar pelo 
monopólio do poder coercitivo, dependendo sua 
legitimidade do reconhecimento coletivo. Concretiza-se 
a partir do império da lei, onde as ações de governo 
estão subordinadas a uma Lei Maior e Suprema, a 
Constituição. 
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2.5.HABITUS 
Habitus é uma categoria criada por Pierre BOURDIEU para definir 
a estruturação de um raciocínio próprio, e de uma cultura em 
ação. Define, as relações e as práticas dos agentes sociais e 
seus campos, de forma a legitimar e criar o campo sobre o qual 
agem. Segundo Bourdieu é um conhecimento adquirido, uma 
cultura específica e também um haver, um capital de um sujeito 
transcendental na tradição idealista. O habitus ou a hexis é uma 
habilidade incorporada, quase postural de um agente em ação. 
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Esse modo depensar específico dos agentes de um 
campo de poder é historicamente construído, evoluindo 
em novas formas de adaptação e reforço de suas 
convicções, sem, contudo serem atingidos seus 
princípios essenciais. Ele procura ser maleável aos 
anseios dos agentes impedidos de adentrar ao campo, 
a fim de que possam se manter as relações de poder 
como legítimas. 
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2.6. CAMPO DE PODER 
Outra noção importante, por complementar a de habitus, é a de 
campo de poder. Campo é um espaço social de relações de 
forças, traduzidas na disputa de poder entre os agentes sociais, 
sendo dotado de regras e conhecimentos específicos (habitus) 
para a estruturação das relações de poder. 
Um campo em sua estruturação interna estabelece valores e 
objetivos próprios, sendo reconhecidos como metas a serem 
alcançadas na disputa entre os agentes sociais. Sua organização 
dá-se por padrões de pensamento e matrizes de educação 
recebidos por investimentos possíveis de situar os agentes dentro 
do campo munidos do reconhecimento de sua hierarquização e 
lógica de mobilidade interna. Tais investimentos ou capitais para 
a inserção nos campos são de três ordens: econômica, cultural e 
social. 
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A primeira ordem caracteriza-se como a fonte econômica que 
detém um agente ou classe econômica situada. 
A segunda representa as formas de conhecimento e educação 
(muitas vezes providas desde crianças pelas famílias), que 
estrategicamente preparam as mentes nas lógicas específicas de 
cada campo. 
Finalmente, o capital social, suportado pelos anteriores capitais, 
está nos recursos aplicados ao reconhecimento como membro do 
grupo, obtendo acesso às oportunidades, aos eventos e a uma 
rede de relações institucionalizadas interativas. 
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Da soma desses capitais chega-se ao habitus, 
cujo sistema significa a estrutura interna do 
campo, que garante aos agentes auferir lucro 
com o retorno dos investimentos aplicados, 
traduzindo a razoável possibilidade de avaliação 
das forças envolvidas no campo para se obter 
vitórias nas disputas. 
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2.7. LUGARES DE PRODUÇÃO DE SENTIDO DO DISCURSO 
POLÍTICO 
O primeiro topos é aquele da doutrina política, que consiste no 
sistema de pensamento, resultado de uma atividade discursiva 
que faz o papel de fundadora de um ideal político referível à 
construção das opiniões. Assim, este topos se refere a uma 
dogmática política, não atrelada aos atores especificamente. 
Refere-se sim, para usar uma denominação “bourdieuniana”, ao 
habitus e ao capital simbólico dos integrantes do campo político. 
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O segundo lugar caracteriza-se como uma dinâmica de 
comunicação dos atores políticos. Refere-se a razão ideológica 
de identificação imaginária da “verdade” política. Os atores do 
campo político fazem parte das diversas cenas de vozes 
comunicantes de um enredo permeado pelo desafio retórico do 
reconhecimento social, isto é, o consenso, a rejeição ou a 
adesão. Suas ações realizam vários eventos: audiências públicas, 
debates, reuniões, e hoje principalmente, a ocupação do espaço 
midiático. Os atores precisam de filiações, e por esta razão, 
estabelecem organizações, que se sustentam pelo mesmo 
sistema de crença política articuladora de ritos e mitos pela via 
dos procedimentos retóricos. 
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O terceiro topos situa-se nas influências do discurso sobre as 
instituições, que formam uma cultura política, isto é, o discurso 
político que não se mantém fechado no campo político, mas 
influencia todas as instituições culturais. Este lugar da produção 
do discurso estabelece as relações entre os atores de dentro do 
campo e os de fora, revelando opiniões produtoras de conceitos 
que expandem a cultura relacionada a esse tipo de discurso. 
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2.8. Caso Concreto 
Tema: Discurso Político e Legitimidade 
Leia, atentamente, os trechos do texto “O discurso de Bologna” de 
Benito Mussolini, traduzido por Rafael Mario Iorio Filho, e responda: 
Quais são as estratégias e elementos articulados por Benito Mussolini 
para tentar estabelecer o seu discurso como legítimo? Justifique a sua 
resposta. 
 (...) Poderia dizer-lhes socraticamente que se alguém deve se conhecer, eu 
também conheço e devo conhecer a mim mesmo. Como nasceu este 
fascismo, em torno ao qual é assim vasto de paixões, simpatias, de ódios, de 
rancores e de incompreensões? Não nasceu somente da minha mente ou do 
meu coração: não nasceu somente daquela reunião que no ano de 1919 nós 
tivemos em uma pequena sala em Milão. Nasceu de uma profunda, e perene 
necessidade desta nossa estirpe ariana e mediterrânea. (...) 
(...) Nós sentimos então, nós que não éramos os madalenos pedintes; nós que 
tínhamos a coragem de exaltar sempre a intervenção e as razões da jornada 
de 1915 (...) nós que quisemos uma paz vitoriosa, nos sentimos de repente, 
apenas cessada a exaltação da vitória, que o nosso objetivo não terminara. 
(...) Tínhamos vencido, nós tínhamos vencido por todos, tínhamos sacrificado 
a flor da nossa juventude, e pois se vinha a nós com as contas dos agiotas. 
(...)AULA 2 
(...) Haverá o sangue de um italiano na Itália (...) porque ao final 
sentíamos vivos e vitais aqueles vínculos da raça que não liga 
somente os italianos de Zara a Raguza e a Cattaro, mas que une 
também aos italianos do Canton Ticino (...) a esta grande família 
de cinqüenta milhões de homens que nós queremos unificar em 
um mesmo orgulho de raça, queremos que entre o espírito e a 
matéria, entre o cérebro e o braço se realize a comunhão, a 
solidariedade da estirpe. (...) 
(...) Havia dado motivos a exasperação e a justas dores de 
grande parte do povo italiano. Também agora, nós Fascistas 
temos a coragem de defender certas ações que com a medida da 
moral corrente não são, talvez, defensáveis. 
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(...) Se esqueceria meu espírito tenacíssimo e a minha vontade 
algumas vezes indomável. Eu, todo orgulhoso dos meus quatro 
mil votos, e quem me viu nestes dias sabia com tanta 
desenvoltura aceitasse esta responsabilidade eleitoral, disse: a 
batalha continua! Porque eu acreditava firmemente que dia 
haveria de chegar em que os italianos se saberiam 
envergonhados das eleições de 16 de novembro (...). Mas ainda 
não acabou o advento deste Fascismo, desse movimento jovem, 
construtor e heróico. Eu sozinho algumas vezes, eu que reivindico 
a paternidade desta minha criatura. (...) 
(...) Mas a vocês deve se explicar o fenômeno da ira e da 
incompreensão dos socialistas. Os socialistas tinham constituído 
na Itália um Estado no Estado (...). Nós somos os primeiros a 
reconhecer que uma lei do Estado deve dar as oito horas de 
trabalho e que deve haver uma legislação social correspondente 
às exigências dos novos tempos. (...). 
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2.9. Sugestão de gabarito do caso concreto: 
O discente deverá abordar em sua resposta que Mussolini 
apela ao sentimento nacional italiano, a crítica ao Socialismo 
e ao sentimento de corpo e raça italiana, para alcançar 
adesão ao seu discurso. Sugira que ele faça uma pesquisa 
do que foi o movimento político fascista italiano, e quais 
teriam sido as suas influências no Brasil, como por exemplo, 
na era Vargas e no integralismo. 
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