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Resenha do Artigo "PENSANDO O IMPENSÁVEL : VICTOR SCHOELCHER E O HAITI, DE DALE TOMICH.

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3 
 
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ 
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
FACULDADE DE HISTÓRIA 
DISCIPLINA: HISTÓRIA DAS REVOLUÇÕES 
DOCENTE: KARL HEINZ ARENZ 
DISCENTE: EUNICE CAROLINE SOUZA DOS SANTOS ( 201808640089)
 
RESENHA DO ARTIGO: PENSANDO O “ IMPENSÁVEL” : VICTOR SCHOELCHER E O HAITI, DE DALE TOMICH.
 
 
 
BELÉM
2021
Resenha
TOMICH, Dale. Pensando o “impensável”: Victor Schoelcher e o Haiti. Mana, Rio de Janeiro, v.15, n.1e, p. 183- 212, 2009.
Pensando o “impensável”: Victor Schoelcher e o Haiti, é um artigo publicado no ano de 2009, pela revista Mana, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Apesar do intervalo da publicação e a escrita dessa resenha, o texto além de mantém-se atual pela qualidade, pela clareza, pelo conteúdo erudito, revela-se uma fonte inspiradora para quem deseja enveredar pelos campos de estudo sobre a Revolução Haitiana, ao tratar de questionar a interpretação do Antropólogo Michel Rolph Trouillot , sobre o caráter impensável do levante haitiano, através da análise do relato do abolicionista Victor Schoelcher, publicado em 1843. 
O acerto ao empreendimento deste artigo, só seria possível a alguém que conhece bem o território a ser desvendado. Dale Wayne Tomich, é professor de sociologia e História, na Universidade de Binghamton. Além de ser um pesquisador dedicado a escravidão nas colônias francesas, referência nos estudos sobre a segunda escravidão e contribuir para o debate sobre as relações estabelecidas nos espaços escravistas nas américas do século XIX, possui uma vasta produção em periódicos científicos, autor, entre outros livros, de A escravidão no circuito do açúcar: Martinica e a economia mundial, 1830-1848 (1990) , e Através do prisma da escravidão: Economia mundial (2004). 
O objetivo central do artigo resenhado é discutir e questionar a interpretação de Trouillot, sobre o impensável do levante Haitiano. O uso do termo “ impensável “ contribui para outra forma de incompreensão pelo ocidente, pois elimina o movimento de qualquer consideração de contextos e processo históricos e políticos que constituem a resistência, além de ser negligenciado, ignorado, distocido e obliterado pela narrativas historiográficas ocidentais. Tomich questiona o argumento de Trouillot, e aponta que a revolução Haitiana, foi pensável no seu tempo. Para Tanto, é analisado, alguns ensaios e o terceiro capitulo ( Na Unthinkable History – Uma história impensável), do livro silenciando o passado: poder e a produção da História de Trouillot(1995). E contrapondo é analisado o relato e a obra colonies éstrangères et Haiti(1843), de Victor Schoelcher.
O artigo segue a estrutura simples de um trabalho acadêmico, em resumo, introdução, desenvolvimento, conclusão, referências. Sendo dividido em seis partes: a primeira parte, Haiti: uma revolução impensável? (p.183-186), é apresentado um resumo sobre as principais ideias de Trouillot sobre revolução haitiana. Segundo o autor, a revolução haitiana tratava-se de uma revolução inconcebível, impensável, mesmo enquanto acontecia. O desenvolvimento do seus argumentos, de sua reflexão, parte acerca de como a Europa Branca, os principais pensadores, inclusive os defensores da revolução Francesa, entendia ontologicamente o lugar de pessoas negras, de escravos africanos, como incapazes de realizarem uma revolta, de se organizarem estrategicamente em um governo para garantir a sua liberdade. Essa construção visionária acerca do outro é constitutiva da forma como a revolução no Haiti, é aprendida enquanto acontece e de como entra para a História. Não se trata, assim, de afirmar que os europeus do século XVIII deveriam ter visto o levante haitiano de outro modo, defende Trouillot, é sim que eles ontologicamente não poderiam fazê-lo, pois não tinham os instrumentos de pensamento — problemáticas, conceitos, métodos e técnicas — necessários para conceitualizá-la.
Na segunda parte, intitulada - Abstrações violentas: impensabilidade, estruturas narrativas e narrativa Histórica (p.187-194). Dale Tomich, critica a interpretação de Trouillot especialmente pela forma em que este utiliza os conceitos e como este constrói a ontologia do ocidente em seus argumentos:” um conjunto de categorias fixas, isoladas, imutáveis e internamente homogêneas”. Esse tipo de abordagem excluiria os processos de aprendizagem e de transformação das estruturas cognitivas pela experiência histórica. Outro erro apontado é a oposição radical de duas ontologias que não apresenta nenhuma combinação, relação ou dialogo: de um lado, a do pensamento ocidental moderno aliada as suas práticas coloniais e, de outro, a dos escravos, únicos capazes de conceitualizarem a liberdade. Nessa parte também é apresentada o interesse de Tomich, o que pretende fazer que é de entender a Revolução Haitiana depois que ela aconteceu. por isso ele analisar Schoelcher em relação ao argumento de Trouillot, já que o seu republicanismo está na linhagem direta do Iluminismo.
Na terceira parte, com título - Victor Schoelcher (p.194-197), é apresentado quem era Victor Schoelcher(1804-1893), um francês, filho de comerciante que viajou para vários lugares da América, e ver de perto a escravidão, a maneira como os negros são tratados, e ser tornar um defensor contra a escravidão brutal e o tráfico de escravos. E apresentado suas principais ideias sobre a escravidão, o colonialismo, e as principais obras, entre elas estão: De l’esclavage des noirs et de la legislation coloniale, (1833); Abolition de l’esclavage: examen critique du préjugé contre la couleur des africains et des sang-mêlés(1840), Des colonies françaises. Abolition immediate de l’esclavage (1842) e Colonies étrangères et Haïti (1843).
Na quarta parte, O Relato de Schoelcher sobre a sociedade Haitiana (p. 197-202), pontua que Schoelcher foi o primeiro abolicionista a viajar para o Haiti e conseguiu ver as condições do Haiti após a revolução em primeira mão e se comunicar com várias figuras no Haiti, incluindo a viúva de Jean-Jacques Dessalines e líderes da oposição, como Hérard Dumesle. Sobre o que presenciou no Haiti, e como foi sua viajem ao local, foi escrito em sua obra Colonies étrangères et Haïti(1843). A partir do momento em que desembarcou, Schoelcher foi confrontado com uma dura realidade. Pobreza, negligência, corrupção e desmoralização eram dominantes. A decepção estava em toda parte. Dale Tomich, procura resumir, os principais pontos sobre o relato de Schoelcher sobre a sociedade Haitiana, que organiza seu pensamento construindo o seu entendimento da malaise do Haiti em termos da oposição entre liberdade (liberté) e escravidão. Em sua visão, liberté é ao mesmo tempo condição e instrumento para o progresso social, a medida dos êxitos da Revolução do Haiti e a meta que a sociedade deve se esforçar para alcançar. Ele defende o feito histórico das massas negras. Foram elas que conquistaram sua liberdade contra probabilidades esmagadoras.
 Na quinta parte, Toussaint Louverture e a Revolução Haitiana(p.202-205), é pontuado a crítica de Schoelcher a Boyer e à posição estrutural dos mulatos informa sua interpretação da Revolução. Em sua avaliação, os cólons queriam independência da França, os petits blancs queriam igualdade, os mulatos queriam direitos políticos e os escravos, no início da revolução, estavam brutalizados demais para sequer ter a ousadia de demandar liberdade (Schoelcher 1973: II, 91). Entretanto, enquanto a luta entre os três outros grupos evoluía, os negros entraram na luta pela liberdade (liberté) (Schoelcher 1973: II, 98- 99). Para Schoelcher, a figura-chave é Toussaint Louverture, cuja liderança considera decisiva para acontecer o levante, ele é Moisés que liderará seu povo à terra prometida. Louverture é criticado pelo seu autoritarismo, como Schoelcher critica o governo despótico dos mulatos, Para Schoelcher, a antipatia entre mulatos e negros é a grande falha que compromete o Haiti. Sua solução para o problema é encorajar os mulatosa abrirem mão dos domínios do poder porque é impossível para eles “dirigir a carruagem.
Por fim, Como considerações finais (p.205-207), Dale Wayne Tomich, conclui o presente texto que a narrativa de Victor Schoelcher sobre o Haiti no início dos anos 1840 demonstra um notável esforço em “pensar” a situação sem precedentes no Haiti, pois ele reconhece os negros escravizados de Saint Domingue como os autores de sua própria emancipação e da independência do Haiti. Apesar da violência de sua luta, ele defende fielmente os êxitos das massas haitianas e sua capacidade de vencer o legado de degradação da escravidão e de progredir rumo à civilização. 
Enfim, trata-se de um texto bastante explicativo, bem fundamentado, seja em relação a quantidade de informações trazidas, ou quanto a metodologia empregada. Fato é que o texto vale a pena a ser lido, pela forma como as informações  são entrelaçadas, pela leveza com que a narrativa nos guia, sem tornar-se tedioso, tanto é que instiga a querer saber mais sobre a Revolução Haitiana, sobre Victor Schoelcher, sobre Trouillot.

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