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Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento AULA 1 O Plano Individual de Atendimento: concepção e regulação Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento 1. O que é o PIA Em poucas linhas pode-se definir o Plano Individual de Atendimento (PIA) como um instrumento pedagógico que orienta as práticas junto ao adolescente em cumprimento de medida socioeducativa de acordo com a Lei 12.592 de 18 de janeiro de 2012, que segue o proposto em 2006 pelo Sinase – Sistema Nacional de Medidas Socioeducativas. Pedagogicamente o PIA organiza e direciona o modo como o serviço de MSE atuará junto ao adolescente e sua família dentro do prazo estabelecido pelo poder judiciário para o cumprimento da MSE. Para tanto, são estabelecidas metas (com estimativa de prazos) em diversas áreas da vida do adolescente (eixos) que devem ser cumpridas durante o processo de cumprimento da MSE ou mesmo após o seu término. O cumprimento da medida deve estar atrelado ao alcance das metas estabelecidas no PIA. Nesse sentido, a execução do PIA deve ser acompanhada pela equipe de referência do adolescente, que oferecerá suporte, orientação, além de medidas que possibilitem o atingimento das metas. Além da equipe de referência e do adolescente, o alcance das metas poderá 2 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento depender também de outros atores, sejam eles do grupo familiar, comunidade ou mesmo de outros setores do campo da proteção social. Para o estabelecimento das metas devem ser consideradas as necessidades atuais do adolescente, assim como o estabelecimento de prioridades quando as necessidades forem muitas. Portanto, para o cumprimento das metas, devem ser estabelecidos objetivos a curto, médio e longo prazo. É importante que o estabelecimento do cronograma para consecução dos objetivos leve em consideração o prazo da MSE. É importante ressaltar ainda que o PIA é individual. Ou seja, deve respeitar a história de vida pessoal do adolescente e sua singularidade. Para que essa singularidade seja alcançada, é esperado uma relação dialógica entre a equipe de referência e o adolescente durante todo o período de cumprimento da MSE. É necessário trabalhar o estabelecimento de vínculos e de uma relação de confiança entre os mesmos. Considera-se que se o PIA construído for de fato efetivo, o cumprimento das suas metas excede o tempo da medida, continuando a projetá-las e reinventá-las para além da MSE. O compromisso de ambos: 3 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento equipe e socioeducando, é fundamental para efetivação de um bom PIA. O Plano Individual de Atendimento (PIA) é um documento essencial para o processo de acompanhamento de crianças e adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas ou sob medida protetiva de acolhimento institucional. Ele é um instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente. Seu conteúdo é individualizado e tem a finalidade de nortear, através de metas e objetivos, o processo socioassistencial ofertado, coerente com uma visão integral do sujeito fundamentada em estratégias de ações intersetoriais. Nesse curso nos delimitaremos a pensar o PIA do serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto a partir da experiência do município de Natal, RN. Ressalta-se que o PIA das medidas socioeducativas deve estar de acordo com o que preconiza o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), instituído pela lei 12.594 de 18 de janeiro de 2012, do qual destaca-se seu caráter interdisciplinar e intersetorial. 4 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento Saiba mais Conforme o artigo 52 da lei do SINASE: “o cumprimento das medidas socioeducativas, em regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade ou internação, dependerá de Plano Individual de Atendimento (PIA), instrumento de previsão, registro e gestão das atividades a serem desenvolvidas com o adolescente.” O PIA do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto, que pode estar sentenciado ao cumprimento de Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade (ou às duas medidas concomitantemente de forma cumulativa), deve levar em consideração três aspectos primordiais da socioeducação, que são: proteção, educação e responsabilização. A proteção se refere ao fato de que a medida socioeducativa tem o objetivo de proteger o adolescente da situação de risco que, a partir de um olhar histórico-social, relacionam-se à proximidade com situações e contextos de violência, drogas, pobreza, falta de garantia ao acesso aos direitos sociais básicos, deve ser voltada aos esforços que são empreendidos para garantir acesso a saúde, educação, 5 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento qualificação profissional, trabalho, lazer e demais direitos sociais básicos. A dimensão da educação se refere à qualidade ético-pedagógica da medida, pois é preciso pensar em ações que possibilitem uma formação cidadã, pautada em valores importantes para uma boa convivência familiar e comunitária. Por fim, a responsabilização, diz respeito a conscientização de que o ato infracional cometido gera dano para terceiros e para sociedade e que, portanto, precisa ser reparado assim como não pode ser repetido. Ou seja, a responsabilização busca estratégias para que o adolescente se defronte com a situação e possa refletir criticamente sobre ela. Nessa direção, o PIA deve se configurar através do planejamento de ações que visem a proteção do adolescente, sua garantia ao acesso a direitos sociais básicos, a mudança da sua trajetória e construção de uma perspectiva de vida próspera. Importante destacar que o PIA, apesar de ter sua construção mediada pela equipe técnica do serviço de acompanhamento socioassistencial, e contar com a participação da família, obrigatoriamente no caso de menores de idade, é um documento pertencente ao adolescente cabendo a ele a sua autoria principal. 6 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento Atenção Sobre a participação familiar, o Parágrafo único do Artigo 52 do SINASE diz: “O PIA deverá contemplar a participação dos pais ou responsáveis, os quais têm o dever de contribuir com o processo educacional do adolescente, sendo esses passíveis de responsabilização administrativa, nos termos do Art. 249 da Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), civil e criminal”. A materialização do PIA se dá através da construção de um documento escrito, no qual se registram as informações principais sobre o adolescente, traçando seu perfil, bem como seus objetivos e metas de vida a serem trabalhados no processo de acompanhamento socioeducativo. Não existe um formato oficial delimitado, cabendo a cada serviço determinar como se dará a construção do documento. Um detalhe importante a ser observado é que conforme artigo 56 do SINASE, o PIA deverá ser elaborado no prazo de 15 dias a partir do ingresso do adolescente no serviço de medidas socioeducativa em meio aberto: Artigo 56: “Para o cumprimento das medidas de prestação de serviços à comunidade e de liberdade assistida, o PIA será 7 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento elaborado no prazo de 15 (quinze) dias do ingresso do adolescente no programa de atendimento”. Essaquestão do prazo é um ponto que deve ser constantemente debatido e refletido entre a equipe de medidas socioeducativas e o órgão de justiça, pois, ainda que se considere a urgência da elaboração do PIA, sabe-se que um PIA fidedigno à realidade do adolescente e factível, só poderá de fato ser viabilizado no decorrer do processo de acompanhamento, através da formação de vínculo e de maior abertura e conhecimento acerca das características pessoais do adolescente e sua família. Portanto, é importante frisar que apesar do curto prazo de elaboração inicial do documento, o PIA é um instrumento que deve ser constantemente atualizado. Outro aspecto que deve ser destacado é que, por se tratar de um serviço que executa determinações judiciais, o serviço de medidas socioeducativas precisa ter acesso aos autos do processo do adolescente para elaboração do PIA, conforme disposto no artigo 57 do SINASE como pode ser lido a seguir: 8 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento Atenção “Para elaboração do PIA, a direção do respectivo programa de atendimento, pessoalmente ou por meio de membro da equipe técnica, terá acesso aos autos do processo de apuração do ato infracional e aos dos procedimentos de apuração de outros atos infracionais atribuídos ao mesmo adolescente”. A importância de ter conhecimento sobre os autos do processo diz respeito ao acesso a informações importantes sobre o ato infracional para que a equipe possa pensar estratégias de acompanhamentos pertinentes à realidade do adolescente, tendo assim mais êxito no processo de responsabilização, assim como no de proteção e garantia dos direitos. No entanto, destaca-se que as informações relativas aos autos do processo são sigilosas e, portanto, exigem do profissional grande atenção à ética profissional. Em suma, o PIA é um processo de construção, ou mesmo de reconstrução e ressignificação de projetos de vida, desde que sejam reais e possíveis de serem realizados, que transformem as vidas dos adolescentes e que possa desarticulá-los da prática de atos infracionais. A seguir, serão apresentadas as características básicas do PIA. 9 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento 2. Características básicas: composição e processo de elaboração De acordo com o SINASE (Artigo 54), devem constar no PIA: I - Os resultados da avaliação interdisciplinar; II - os objetivos declarados pelo adolescente; III - a previsão de suas atividades de integração social; IV - atividades de integração e apoio à família; V- formas de participação da família para o efetivo cumprimento do plano individual; VI - as medidas específicas de atenção à sua saúde. O PIA trata sobre objetivos e metas de vida de um adolescente/jovem em específico. Portanto, é preciso identificar quem é esse adolescente. Informações sobre o perfil do sujeito devem compor a primeira parte do documento, trazendo informações como nome, data de nascimento, filiação, endereço, assim como informações sobre sua história de vida e trajetórias em outros serviços socioassistenciais, como por exemplo: Unidades de Acolhimento ou Unidades de Internação. Além disso, informações sobre a medida socioeducativa em questão devem vir em seguida, pois é preciso contextualizar a produção do PIA com o contexto de vida específico que o motivou. Muito mais que uma situação burocrática, isso dá sentido e significado mais realista à produção do 10 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento documento buscando envolver o adolescente no processo. Essa singularidade só é possível com a participação efetiva do adolescente desde os momentos iniciais do cumprimento da medida (Teixeira, 2014). 3. Eixos e intersetorialidade Para garantir a intersetorialidade no acompanhamento de medidas socioeducativas em meio aberto, os objetivos e metas do PIA devem abarcar as mais diversas pastas das políticas sociais existentes, como saúde, educação, cultura, esporte lazer, trabalho e qualificação profissional, assim como outros elementos envolvidos nesse processo buscando assegurar a convivência comunitária e a cidadania do jovem em cumprimento de MSE. Por isso, de maneira geral, a organização das informações necessárias ao PIA pode ser realizada a partir de eixos centrais na garantia de direitos. Nesse sentido, discutiremos a convivência familiar comunitária, a educação e a escola, a saúde e esporte, cultura e lazer, pensados de acordo com o conteúdo mínimo que deve constar no PIA de acordo com o SINASE, enfatizando suas possibilidades e desafios no que diz respeito ao 11 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento cumprimento de medidas socioeducativas em Meio Aberto. a) Convivência familiar e comunitária A convivência familiar e comunitária é um direito reservado a toda criança e adolescente a ser criado junto a sua família original e excepcionalmente, se necessário, em família substituta. Esse direito é afirmado no capítulo 19 do Estatuto da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990). A família na contemporaneidade deve ser compreendida de forma ampla e devido a sua complexidade de dinâmicas, exige das políticas públicas a noção de atendimento integral com base intersetorial. No que diz respeito ao jovem em cumprimento de MSE, muitas vezes esse já possui mais de 18 anos, tendo em vista que a medida pode ser cumprida até os 21 anos, e quando se trata de jovens maiores de 18 anos, que muitas vezes já constituíram família (cônjuge e filhos). Ainda assim, as equipes de acompanhamento das MSE devem estar atentas a salvaguardar esse direito, e independente dos tipos de família, seus funcionamentos e dinâmicas, devem pensar estratégias para que esse jovem possa viver bem junto a sua família, assim como em meio a 12 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento comunidade, criando e fortalecendo vínculos e suas redes de apoio, importantes para o empoderamento dos sujeitos envolvidos e consequentemente fortalecendo fatores de proteção importante para o afastamento de contexto de ato infracional. Para tanto, é preciso identificar aspectos ligados às suas relações familiares, relações com a vizinhança assim como o território de maneira geral, cuja postura da equipe técnica deve ser sempre de abertura às novas possibilidades e desprovidas de qualquer atitude preconceituosa. Além da identificação e caracterização do seu núcleo familiar de convivência, mapear as relações com amigos, vizinhos e o próprio mapeamento do território são fundamentais nesse sentido. É com base nisso que o acompanhamento da MSE deve levar em consideração a territorialidade do jovem, e uma das estratégias necessárias para isso é garantir que o equipamento de referência para o cumprimento esteja próximo ao território de moradia do jovem. Dessa maneira, a equipe tem mais condições de articular o fortalecimento da convivência comunitária, pois através do mapeamento do território é possível identificar elos de fortalecimento e proteção existentes na comunidade, assim como 13 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento identificar fatores de risco e, a partir disso, planejar ações contextualizadas. Dica Aspectos importantes que podem surgir a partir da reflexão sobre a convivência familiar e comunitária: Pontos positivos dessa relação; pontos negativos; O que posso melhorar?; Como melhorar essa relação (mudanças comportamentais pessoais, mudanças no comportamento de terceiros).b) Educação e Escola No artigo nº 53, o ECA assinala que toda criança e adolescente têm direito a educação, usufruir de pleno desenvolvimento, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, sendo observado ainda o acesso ao ensino público gratuito, além do respeito por parte dos educadores. A educação é mais um dos eixos considerados como fundamentais para a elaboração de metas e objetivos do PIA. Educação é um direito básico e deve fazer parte da vida de todas as crianças e adolescentes. É um instrumento de emancipação social e de construção de consciência 14 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento crítica. Além disso, é um elemento fundamental no processo de aquisição de habilidades importantes relacionadas aos processos de formação e qualificação profissional. Através da inserção escolar, o jovem pode se qualificar de maneira mais proveitosa visando a sua inserção no mercado de trabalho, facilitando assim o processo de geração de emprego e renda que na maioria dos casos se torna fundamental para o socioeducando e sua família. Atenção É importante destacar o papel da escola, não apenas na sua função conteudista, mas sobretudo no que diz respeito ao seu potencial de ser um espaço de formação de valores e de aprendizado de condutas e atitudes que vislumbram a construção de um mundo melhor. A partir da experiência dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto de Natal, RN avalia-se que boa parte dos socioeducandos tem uma relação difícil com o contexto escolar em que, já no início do acompanhamento identifica-se: evasão escolar e/ou baixa escolaridade. É preciso que no ato da construção do PIA a situação escolar do 15 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento adolescente seja discutida e avaliada conjuntamente para que se possa compreender quais são as dificuldades existentes para que assim possam ser planejadas ações para saná-las. Na identificação de problemas referentes ao contexto escolar, por exemplo, é necessário ampliar o diálogo junto aos trabalhadores da escola para compreender melhor a questão e assim pensar estratégias, visando a garantia adequada e respeitosa do seu acesso à escola. Sendo assim, é importante que a equipe MSE mantenha um diálogo estreito com a comunidade escolar, conforme apontam as Diretrizes Pedagógicas: Escolarização e Profissionalização (2014), com as escolas, sobretudo com as que são próximas das residências dos socioeducandos, procurando colher as informações sobre sua frequência escolar, sua participação em atividades escolares. Além disso, é de fundamental importância que os profissionais da escola busquem se qualificar constantemente para que tenham mais condições de intervir de forma sistemática sobre as demandas que possam incidir no contexto escolar referente aos adolescentes. 16 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento c) Saúde Saiba mais Segundo a portaria Nº 1.082, DE 23 DE MAIO DE 2014, que redefine as diretrizes da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei, em Regime de Internação e Internação Provisória (PNAISARI), no CAPÍTULO II, Art. 4º: “Ao adolescente em conflito com a lei, em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto e fechado, será garantida a atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), no que diz respeito à promoção, prevenção, assistência e recuperação da saúde, nas três esferas de gestão.” Além disso, o Governo Federal, por meio dos ministérios da Cidadania e da Saúde, elaborou a Nota Técnica Interministerial nº 42, que dita orientações para que o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) atuem juntos para ampliar a atuação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde de Adolescentes em Conflito com a Lei (PNAISARI). O documento trata de questões específicas ao meio aberto e reúne diretrizes para organização, articulação e oferta dos serviços de saúde da atenção básica, para que o atendimento aos adolescentes em cumprimento de Liberdade Assistida ou Prestação de Serviços à 17 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento Comunidade de forma ampliada, qualificada e ágil com o objetivo de garantir a integralidade da assistência à saúde do adolescente. É importante que os Centros de Referência Especializados em Assistência Social (CREAS), equipamento onde se concentram as equipes de referência no atendimento socioeducativo em meio aberto na maioria dos municípios brasileiros, saibam identificar no território, os equipamentos de saúde necessários para o atendimento das demandas de saúde dos adolescentes e suas famílias, assim como proponham acompanhamento, a supervisão, as discussões de caso em conjunto, que podem ser necessárias para definição das metas de PIA. O trabalho em parceria com a saúde, é necessário para o alcance de metas relacionadas ao crescimento e desenvolvimento físico e psicossocial do adolescente, à sua saúde bucal, mental, ao tratamento e prevenção ao uso de álcool e outras drogas, educação em saúde, prevenção de violências e assistência, e outros serviços a depender das demandas e necessidades de cada um. Nos dias atuais é importante estar atento às condições de saúde mental de adolescentes, pois segundo dados da Organização Mundial de 18 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento Saúde (OMS), as condições de saúde mental são responsáveis por 16% da carga global de doenças e lesões em pessoas com idade entre 10 e 19 anos; metade de todas as condições de saúde mental começam aos 14 anos de idade, mas a maioria dos casos não é detectada nem tratada; Em todo o mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre adolescentes; o suicídio é a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos e; portanto, as consequências de não abordar as condições de saúde mental dos adolescentes se estendem à idade adulta, prejudicando a saúde física e mental e limitando futuras oportunidades. A promoção da saúde mental e a prevenção de transtornos são fundamentais para ajudar adolescentes a prosperar. Ademais, adolescentes com baixas condições de saúde mental são, por sua vez, particularmente vulneráveis à exclusão social, discriminação, estigma (afetando a prontidão para procurar ajuda), dificuldades no aprendizado, comportamentos de risco, problemas de saúde física e violações dos direitos humanos. No campo da saúde mental, é importante que as ações de saúde 19 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento mental planejadas atendam às necessidades dos adolescentes; evitem a institucionalização e a medicalização excessiva; priorizem abordagens não farmacológicas e sobretudo respeitem seus direitos. Assim como na educação, além da garantia ao acesso a esses serviços, as equipes MSE devem ficar atentas monitorando o processo e avaliando-o continuamente. d) Esporte, Cultura e Lazer O acesso a atividades esportivas, culturais e de lazer são um direito a ser oferecido para crianças, adolescentes e jovens. O artigo 59 do ECA preconiza que “os municípios, com apoio dos estados e da União, estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas para a infância e a juventude”. Dica No ato de construção do PIA é fundamental identificar gostos e preferências do adolescente relacionados a atividades esportivas, culturais e de lazer,como saber se pratica algum esporte ou se gostaria de praticar, ou se gosta de música, cinema ou teatro, ou se por acaso tem interesse de conhecer essas atividades, assim como saber sobre o que o adolescente gosta de fazer no seu tempo livre. 20 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento Identificado isso, é importante através do mapeamento do território, saber quais recursos a comunidade possui em termos de oferta de ações ligadas a esse campo e como inserir o jovem de acordo com suas demandas e necessidades. Atividades esportivas, culturais e de lazer, são importantes para o desenvolvimento físico, e psicológico saudável de crianças e adolescentes, e exercem um papel fundamental na melhoria do bem estar e qualidade de vida, no combate e prevenção à violência, na melhoria das condições de saúde mental, no combate e prevenção ao uso de álcool e outras drogas, no favorecimento da manutenção de estilos de vida saudáveis, no fortalecimento dos vínculos socioafetivos, funcionando assim como importantes fatores de proteção para adolescentes, contribuindo para a redução do envolvimento em situações de criminalidade. Dada a importância das atividades de esporte, cultura e lazer na vida dos socioeducandos, faz-se necessário refletir sobre a necessidade de democratização dos espaços urbanos da cidade, para facilitar o acessos 21 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento dos jovens. No PIA é importante que essa análise seja feita, observando as particularidades de cada adolescente e o seu território. e) Trabalho e Qualificação Profissional O ECA no seu artigo 69 afirma que a profissionalização é um direito do adolescente. Entre as ações direcionadas para os adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa estão as ações de qualificação profissional. Importante ressaltar que a concepção de trabalho que deve estar presente nas ações do PIA deve apresentar princípio educativo, pois para muitos jovens em cumprimento de medidas socioeducativa, os atos ilícitos são considerados uma forma de obtenção de renda. É preciso esclarecer ao jovem que o trabalho envolve não só obtenção de renda, mas também se refere a valores, princípios éticos e compromisso social, promove dignidade e possibilita a construção de um sujeito ativo na sociedade. Sobre o eixo de trabalho e profissionalização, o SINASE considera que a formação profissional envolve orientação sobre a forma de estruturação e funcionamento do mercado de trabalho e conscientização sobre os direitos trabalhistas. Nesse sentido, as ações de 22 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento qualificação profissional constituem um dos itens necessários para a ressocialização do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa. Portanto, as ações de qualificação profissional voltadas para jovens em cumprimento de medidas socioeducativas devem apresentar uma metodologia que abarque a proposta de formação integral dos adolescentes e que valorizem os saberes acumulados na sua vida pessoal e profissional, para que assim possam ser realistas. Importante também, que a equipe e os setores envolvidos estejam atentos às demandas atuais referentes ao mercado de trabalho local. Para a elaboração de metas relacionadas a esse eixo é importante que a equipe esteja atenta a necessidade de firmar convênios e parcerias com empresas públicas e privadas a fim de garantir a inserção dos socioeducandos no mercado de trabalho; assim como garantir que os cursos profissionalizantes utilizem uma pedagogia que valorize o saber popular dos educandos, e que fomente práticas participativas e coletivas, sempre abordando temas relacionados à formação integral do trabalhador, além de cuidarem para que seus critérios de inserção não sejam 23 Técnicas de Elaboração, Monitoramento e Avaliação do Plano Individual de Atendimento excludentes, tendo em vista a baixa escolarização de boa parte dos socioeducandos. As estratégias de inserção do adolescente no mercado de trabalho devem voltar-se também a sua família, tendo em vista a importância desta como um potencial fator de proteção na vida do socioeducando. Atenção Importante lembrar que é necessário dialogar com o adolescente sobre seus interesses, sonhos e anseios relacionados ao mercado de trabalho. A imposição de cursos e temas ligados ao campo profissional impostos pela equipe não é interessante dentro de um processo de construção participativa como o PIA. 24
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