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Resumo AD2 e AP2 Aula 16 O Brasil regional e o complexo do Nordeste Objetivos: • Compreender a diversidade socioespacial do complexo nordestino. • Analisar a influência do desenvolvimento do regionalismo nordestino no fortalecimento de sua cultura. • Apresentar os estereótipos criados ao longo da história e suas implicações. • Analisar os interesses que se escondem na manutenção da seca como questão histórica e irremediável. A FORMAÇÃO DO COMPLEXO NORDESTINO O IBGE, ao definir a divisão regional de 1969 (em cinco regiões), caracterizou a região nordeste segundo seus aspectos sociais e econômicos, individualizando-a, mais uma vez, a partir de sua pecuária de baixo rendimento, da presença da cultura canavieira, dos altos índices de pobreza e da estagnação econômica. Já o complexo nordestino, definido a partir da inclusão da análise dos aspectos geográficos da região, acabou determinando uma diferenciação com relação à divisão estipulada pelo IBGE. Segundo a proposta de divisão do território brasileiro baseado nas regiões geoeconômicas, criadas pelo geógrafo Pedro Pinchas Geiger, em 1967, o complexo nordestino passou a ser composto pelos estados e partes dos estados. Assim, parte de alguns estados passaram a compor outros complexos, como é o caso da metade oeste do estado do Maranhão, que passou a integrar o complexo amazônico por possuir características semelhantes às desta área, e o norte de Minas Gerais, que possui um clima semi-árido e uma economia estagnada, mais próxima da realidade nordestina do que da realidade do Centro-Sul, região a qual pertence na divisão do IBGE. VOCÊ SABE COMO NASCEU O NORDESTE? O termo Nordeste foi usado, inicialmente, para designar a área de atuação da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS), criada em 1919, entendida como a parte do Norte sujeita às estiagens. Até o início da década de 1920, Norte e Nordeste ainda eram sinônimos, diferenciando-se crescentemente a partir daí, com a identificação cada vez maior do Nordeste com o problema da seca. Mas, você sabia que o Nordeste já foi a região mais rica do país? Essa enorme riqueza, usufruída por todos, surgiu com a monocultura canavieira apoiada no trabalho escravo e no latifúndio. Sua produção começa com a formação das sesmarias e a ocupação do litoral e do vale do São Francisco, que se deu à custa do genocídio de vários povos indígenas. Os pequenos agricultores também existiam desde os tempos coloniais, e seu número cresceu substancialmente após a abolição, sob a forma de moradores, parceiros e arrendatários. A abolição multiplicou também o número de posseiros, pois muitos escravos migraram para áreas mais distantes e pouco povoadas, desenvolvendo uma economia de autoconsumo. A modernização ocorrida no após a Segunda Guerra Mundial intensificou a exploração e a expropriação dos trabalhadores rurais, dando origem aos movimentos camponeses no Nordeste, originando a desagregação do CAMPESINATO nordestino. CAMPESINATO É uma denominação que só surge no Brasil em meados do século XX, quando se formam as organizações de trabalhadores rurais voltadas para a reivindicação de direitos. OS VÁRIOS NORDESTES Hoje, pode-se afirmar que dentro do Nordeste há vários nordestes. Podemos dizer que no Nordeste há quatro realidades distintas, separadas em quatro diferentes áreas: • Zona da Mata: área que cobre praticamente todo o litoral e vai do Rio Grande do Norte ao sul da Bahia; possui um clima quente e úmido, com chuvas abundantes, predominantes nos meses de junho a agosto. Essa área já foi praticamente toda coberta pela mata Atlântica, por isso recebeu a denominação de Zona da Mata. Quase toda a floresta foi derrubada para dar lugar à produção canavieira, a atividade mais tradicional da região. Nela também se concentra uma alta densidade demográfica, e é onde se localizam duas das três metrópoles regionais do complexo, Recife e Salvador. Essa faixa do litoral também se caracteriza por abrigar uma considerável população pobre, formada, em sua maioria, pelos migrantes que abandonaram o sertão. A Zona da Mata é uma das áreas de maior índice de concentração da terra no Nordeste e também no Brasil, associada à tradicional produção canavieira. • Agreste: essa área corresponde à zona de transição entre o litoral úmido e o sertão semi-árido. Caracteriza- se por um clima semi-úmido, pelos cultivos alimentares e pela criação de gado. A densidade demográfica é bastante elevada e a estrutura da terra é marcada pela presença do minifúndio. • Sertão: em direção ao interior, o sertão será reconhecido prontamente pela presença do clima semi-árido e da vegetação da caatinga. Além disso, ocupa a área mais extensa do interior do complexo nordestino. É a área que coincide, de maneira geral, com o POLÍGONO DAS SECAS. Entretanto, o problema do sertão não é, ao contrário do que se costuma dizer, a falta de chuvas (gira em torno de 250 a 600mm anuais), mas sim de sua distribuição, que é muito irregular. As chuvas se concentram numa única estação do ano, no chamado inverno, que vai de dezembro a maio. Quando a seca vem, ela apenas agrava as já precárias condições sociais, porque os pequenos proprietários não têm como se prevenir, ao contrário dos grandes que dispõem de recursos para a construção de poços, açudes e até barragens para estocar água. Por isso, historicamente, essa é a parte do Nordeste que mais fornece migrantes (chamados retirantes) para o litoral nordestino e para o restante do país. Não podemos deixar de destacar que é no sertão nordestino que se localiza (em grande parte de seu percurso), o Rio São Francisco, um facilitador dos transportes, fornecedor de água para consumo e irrigação, além de produtor de energia, devido a sua característica de ser um rio de planalto. • Mata dos Cocais ou Meio-Norte: essa área é formada pelo Maranhão e pelo Piauí. No entanto, vale lembrar que o oeste do Maranhão não pertence ao complexo nordestino e sim ao amazônico. Na verdade, trata-se de uma área de transição entre o sertão (clima árido e VEGETAÇÃO XERÓFILA) e a Amazônia (clima úmido e vegetação de florestas). Nessa área se desenvolvem atividades mais tradicionais, como a pecuária, a extração do BABAÇU, a agricultura de subsistência, ao lado de atividades mais modernas e recentes, como a agricultura comercial e a extração mineral, instalada no complexo minero metalúrgico, associado ao Projeto Grande Carajás do Pará. O QUE SABEMOS SOBRE O NORDESTE? A idéia que temos do Nordeste foi incentivada principalmente pela mídia. Essa idéia não é decorrente de discriminação, mas de uma idéia de Nordeste que se apóia na própria construção que as elites nordestinas fizeram dela. O problema da seca foi decisivo para se pensar o Nordeste como um recorte “natural”, climático, um meio homogêneo, ou seja, o Nordeste (todo ele) sofre com os mesmos problemas, originados pela seca. Conseqüentemente também pensamos na sociedade nordestina de maneira homogênea. Assim, perpetuou-se ao longo do tempo a idéia de que o Nordeste é sinônimo de seca, miséria, injustiça social, violência, fanatismo, folclore, atraso social e cultural. No entanto, esses estereótipos podem ser facilmente quebrados quando nos debruçamos na análise das quatro áreas diferenciadas do Nordeste, vistas anteriormente. COMPLEXO NORDESTINO: DE ESPAÇO HEGEMÔNICO A ESPAÇO PERIFÉRICO O Nordeste é considerado o pólo inicial da economia no Brasil, iniciada no período colonial. Essa economia foi articulada com base na força da economia açucareira instalada no litoral e, com o desenvolvimento do complexo algodão-pecuária, no sertão, além da criação de um expressivo segmento de agricultores familiares no agreste. Enquanto a produção canavieira do litoral era apoiada na escravidão, no sertão, o complexo algodão-pecuária desenvolveu-se apoiado no trabalho livre. O controle econômico, social e militar do território pela Coroa Portuguesa impedia a constituição de um mercado interno que desse autonomia à região,fazendo com que ela dependesse sempre das importações. Nem a incorporação do semi-árido, como espaço de produção mercantil (que integrou os espaços da região da mata e do sertão) foi suficiente para livrar o Nordeste das relações sociais e políticas submetidas ao capital mercantil, representadas pelos comerciantes portugueses e pela burocracia militar da Coroa. Com a crise da dominação colonial, abre-se o espaço para o desenvolvimento do regionalismo nordestino, e o seu povo passa a contestar a dependência da região, com a série de rebeliões ocorridas no Nordeste ao longo da metade do século XIX, demonstradas no boxe. O Nordeste, como espaço periférico, se inicia com a crise da economia açucareira e as oscilações da produção algodoeira da região, o que fez com que a região se tornasse cada vez mais submissa ao Centro- Sul. O papel da seca na configuração natural do Nordeste influenciou definitivamente na sua transformação em espaço periférico, dependente do Centro-Sul. O Nordeste se transformou na grande área de expulsão demográfica. De lá saíram vários fluxos de migração para o território brasileiro, atraídos: • pela extração da borracha na Amazônia; • pela mineração em Minas Gerais; • pela cafeicultura no Rio de Janeiro e em São Paulo; • pela modernização (principalmente industrial) no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Vale lembrar que migrações não são oriundas de escolha individual, mas do resultado de estruturas sociais, econômicas e políticas injustas. Observe que as debandadas nordestinas acompanhavam sempre o desenvolvimento de um novo ciclo produtivo fora de sua região, que representava para muitos prover o sustento mínimo de suas famílias. O Nordeste acabou se configurando no cenário nacional como a “região problema”, a região das perdas econômicas, demográficas e políticas, pois muitos foram os motivos. Veja quais os principais problemas enfrentados pelo complexo nordestino, que acabaram lhe rendendo essa definição: • declínio da agropecuária, iniciado pela cana-de-açúcar; • as perdas demográficas, devido à expulsão da população para todas as regiões; • o aumento da dependência em relação ao Centro-Sul; • o baixo nível de renda da população, assim como de escolaridade e qualidade de vida sendo que a mortalidade infantil é altíssima. O NORDESTE COMO SINÔNIMO DE FOME E POBREZA Esse é outro quadro que se pinta do Nordeste. O senso comum “seca e pobreza” faz parte do imaginário sobre a região Nordeste. O primeiro registro de seca é de 1559, no interior da Bahia. Mas não é possível estabelecer uma relação direta entre seca e pobreza, nem tampouco associá-las ao Nordeste, porque boa parte dessa região não sofre com os problemas da estiagem. A deficiência das PRECIPITAÇÕES PLUVIOMÉTRICAS no Nordeste não é absoluta, nem crônica, mas episódica e plenamente superável a partir da utilização dos recursos hídricos existentes no seu subsolo. Quando a seca é colocada como sua causa principal, deixa-se de lado as inegáveis vantagens econômicas e políticas que ela traz para alguns setores e reduz-se à mera fatalidade climática o subdesenvolvimento e a opressão social dessa região do Brasil, como veremos no item "Indústria da seca". Josué de Castro foi um dos mais importantes intelectuais brasileiros a trabalhar o tema da fome no Nordeste. Em seu livro Geografia da fome, de 1946, o autor afirma, em sua critica sobre a questão, que “uma das características dos povos subdesenvolvidos é que a maioria padece de fome”. Ele procurou demonstrar que o problema da fome nesses países e, em particular, no caso do Nordeste, é fruto de distorções econômicas, ou seja, a fome é um fenômeno artificial criado pelo homem ou, mais precisamente, por “certos tipos de homens”. A INDÚSTRIA DA SECA A pecuária nordestina cumpriu o importante papel de interiorizar a ocupação do território, porque foi empurrada para o sertão pela expansão da cana no litoral. Inicialmente o sertão foi espaçadamente ocupado, não só pelos criadores de gado, mas também por uma parcela de pequenos agricultores. Por isso, quando o problema da seca começa a ser registrado, o impacto social é bastante reduzido, até porque os poucos habitantes do sertão, naquela época, tinham a possibilidade de se deslocarem periodicamente para as áreas mais úmidas. Com o adensamento populacional e a decadência da pecuária no sertão, no final do século XVIII, as secas passaram a assumir aspecto de calamidade pública. Coincidentemente o fenômeno natural acabou, no caso do Nordeste, atuando sobre as classes sociais mais despossuídas, já que o litoral estava ocupado pelos grandes proprietários de terras, produtores de cana. Os maiores atingidos são os agricultores sem terra, sem água, donos apenas de sua força de trabalho. A expressão “indústria da seca” foi criada nos anos 1950 por Antonio Callado. Em 1909 foi criada a Inspetoria de Obras Contra a Seca, transformada, em 1919, em Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (DNOCS) e, ainda, o Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, em 1945. Esses órgãos realizam estudos e centram suas ações na construção de açudes e barragens. A delimitação do Polígono das Secas, que, conforme vimos anteriormente, possuía quase 1 milhão de km², foi revista e, atualmente, os técnicos afirmam que a área atingida pela seca é bem menor. Houve um redirecionamento e foram excluídas as localidades nas quais a estiagem é temporária. Veja alguns dos impactos dos investimentos que foram feitos ao longo da história por vários órgãos (como o DNOCS) e outras instituições criadas para tentar resolver o problema da seca no Nordeste. Os impactos desses investimentos levam a crer que sempre houve um direcionamento político nas ações governamentais: • 76% dos açudes construídos ficaram no Ceará, estado que controlou politicamente o DNOCS durante décadas; • sempre houve ênfase nas obras de armazenamento de água, o que pouco contribuiu para resolver o problema que estava centrado no acesso e na distribuição; • 18 mil dos 25 mil poços perfurados foram construídos dentro de propriedades privadas, assim como metade dos 800 açudes; • embora o acesso público a esses poços seja garantido por contrato, na prática, o que se verificou foi um total controle privado, com cercamento, vigilância e até cobrança de ingresso, para pesca por exemplo. A Sudene foi outro importante órgão criado em 1959, com a oposição da maior parte da bancada nordestina no Congresso, contrariada com a concepção proposta por Celso Furtado, de mudança da política de combate à seca para reformas estruturais, dentre as quais a reforma agrária, a industrialização e o apoio à produção de alimentos. Em 1964, com o Golpe Militar, a Sudene foi desmantelada e passou a estar submetida aos interesses dos grandes grupos econômicos nacionais e estrangeiros, mais até do que à oligarquia regional nordestina. Sem dúvida que a seca é uma questão política, pois, embora os termos coronelismo, currais eleitorais e voto de cabresto não sejam criações nordestinas, adequam-se até hoje às práticas políticas dominantes nas áreas rurais do Nordeste. Historicamente o Nordeste tem sido o fornecedor de mão-de-obra para o capitalismo brasileiro, seja para a industrialização do Sudeste, para a “conquista do cerrado” ou para a “ocupação da Amazônia”. OS PÓLOS “MODERNOS” DO COMPLEXO NORDESTINO A Sudene destinou a maior parte dos seus investimentos à indústria e, como conseqüência, formaram-se modernos centros industriais no Nordeste. No entanto, apenas uma parcela muito reduzida da população nordestina foi beneficiada, pois as indústrias ficaram concentradas nas maiores cidades, como Salvador, Recife e Fortaleza e, em função dos seus elevados níveis tecnológicos que permitem a automatização das funções, absorveu pouca mão-de-obra local. O parque industrial nordestino e a produção fabril desenvolveram-se muito durante o período dos governos militares. No entanto, os lucros e benefícios não foram apropriados pela maioriada população e nem ficaram no próprio Nordeste. As grandes empresas, os monopólios, os oligopólios, aproveitando-se das facilidades governamentais materializadas pelos incentivos fiscais dados por ocasião de sua implantação, puderam expandir seus negócios, consolidar sua posição no mercado nacional e, ainda, remeter lucros para fora do país. A região pouco ou quase nada recebeu em termos de investimentos sociais. O Nordeste se destaca em sua indústria extrativa mineral do Rio Grande do Norte e de Sergipe, de onde se extraem petróleo, gesso, gipsita, sal etc. Já as cidades de Recife, Salvador e Fortaleza se destacam através da indústria do turismo, do lazer e da alimentação. Além disso, o complexo possui importantes pólos tecnológicos, como o Pólo Petroquímico de Camaçari, na Bahia; e as indústrias têxtil e calçadista, do Ceará e de Pernambuco. O NORDESTE TEM FOME... E EXPORTA ALIMENTOS A modernização da agricultura de exportação se desenvolveu paralelamente à ampliação da fome na região. A modernização caminhou lado a lado com o aumento da concentração fundiária e não alterou significativamente as relações de produção. O aumento do número de trabalhadores agrícolas se deu paralelamente à redução do valor da produção no que tange à participação do Nordeste no conjunto do país. Isso significa que o trabalhador agrícola nordestino é pior remunerado do que trabalhadores que vivem em outras regiões do país, como no Sul e no Sudeste. O Nordeste passou a ter a maior PEA (população economicamente ativa) rural do país. Esse fato se deu, em grande medida, porque a indústria cresceu sem gerar empregos em escala correspondente. Foi de forma mais acentuada do que o ocorrido no restante do país, pois a modernização implicou uma redução da ocupação industrial, provocando maior seletividade do emprego no setor. Para se ter uma idéia, os trabalhadores do Nordeste ganham, em média, a metade do salário pago aos trabalhadores do Sudeste. Tudo isso apesar de o Nordeste estar entre as regiões que mais recebem recursos da União. No caso do Nordeste, há uma defasagem muito maior dos indicadores sociais em relação aos econômicos, gerados, em grande parte, pelo processo extremamente desigual e excludente de sua modernização agrícola e industrial. Esse é considerado um grande “enigma” nordestino: a modernização foi desacompanhada de transformações nas estruturas sociais. Os indicadores mostram claramente a deterioração das condições de vida no Nordeste. A pobreza regional se mostra tanto pelo baixo nível de renda, como pela precariedade de infra-estrutura sanitária, pela deficiência calórica, pela menor esperança de vida ou pelas elevadas taxas de analfabetismo. Para concluir: apesar do avanço da economia regional, houve um crescimento real da pobreza, que foi muito mais acentuado do que em outras regiões do país. Aula 17 O Brasil globalizado Objetivos: • Analisar a organização da economia global e a forma pela qual o Brasil foi inserido nesse processo. • Avaliar o apogeu do Brasil como potência econômica regional e o nível de inserção do país na economia global. • Avaliar as conseqüências sociais dessa inserção, principalmente após a aplicação do projeto de desenvolvimento neoliberal dos anos 1990. A inserção do Brasil na economia mundial é um fato. Já somos considerados um país de “Primeiro Mundo”, quando se analisam os indicadores econômicos. Nesse aspecto, o Brasil encontra-se bastante distante dos países menos desenvolvidos e muito próximo dos países de Primeiro Mundo. O MUNDO SE TORNOU GLOBAL O sistema capitalista, ao longo do tempo, sofreu mutações sempre que houve necessidade de atingir novos limites na busca da reprodução do capital. Para isso, inovou em suas fases, sempre aderindo a novos elementos que lhe permitissem ampliar os ganhos. Aumentou, cada vez mais, investimentos no avanço do conhecimento das técnicas e provocou uma concentração intensa do capital, responsável pela formação dos monopólios e oligopólios (poucas empresas dominando o mercado). Na década de 1970, em função do capitalismo, o mundo mergulhou em mais uma crise, dessa vez deflagrada pelo aumento do preço do petróleo, que chegou a custar US$ 80 o barril. Não podemos esquecer que o petróleo era a fonte energética fundamental das sociedades no início do século XX, o que explica a grande dependência do mundo em relação a ele. Da globalização surgiram os mercados comuns, que passaram a romper as barreiras externas materializadas pelas fronteiras entre os países. Para garantir essa retomada de forças do sistema capitalista e permitir a ampliação dos mercados comuns, exigiu-se uma ampliação ainda maior da interdependência entre as nações, que passaram a modificar sua forma de atuação na economia. A primeira providência foi diminuir, cada vez mais, o papel do Estado como interventor da economia, ou seja, o Estado, que dominava os setores estratégicos da produção, como energia, transportes e comunicações, teve sua participação diminuída e substituída pela iniciativa privada. O Estado foi considerado um entrave, um forte obstáculo para as novas necessidades do capitalismo e para as relações econômicas entre os agentes privados. Por isso, foram relegadas a ele as funções de apenas: • regular o mercado; • formular políticas de desenvolvimento; • orientar a distribuição de renda, pondo fim ao ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL. A palavra de ordem nessa nova fase da economia global passou a ser competitividade. Os investimentos privados passaram a ter, em áreas antes destinadas ao Estado, a possibilidade não só de implementar os serviços, mas também de atuar diretamente nos setores ditos estratégicos, tendo liberdade para investir e estimar, cada vez com mais eficiência, a viabilidade de seus investimentos. Em outras palavras, a iniciativa privada tomou para si o papel de grande investidor e aumentou consideravelmente seus lucros, enquanto o Estado passou a cumprir papel de coadjuvante no processo de desenvolvimento econômico dos países. A economia mundial passou a ser dirigida por uma nova fase do sistema capitalista, chamada neoliberal, em que a competitividade tornou-se atrelada diretamente ao acesso a novas tecnologias, que, por sua vez, tiveram seu desenvolvimento atrelado aos grandes investimentos em pesquisa e à diversificação dos ramos produtivos. A INSERÇÃO DO BRASIL NA ECONOMIA GLOBAL O Brasil não ficou imune às transformações do sistema capitalista mundial, pois também estava mergulhado na crise econômica do final da década de 1970 e os governos militares escolheram se alinhar à economia mundial, internacionalizando a nossa, na esperança de obter mais investimentos e tirar o país da crise. Do início do século XX (quando o país iniciou a sua industrialização) até a década de 1970, época de maior crescimento industrial, a economia brasileira foi uma das que mais cresceram em todo o mundo. Porém, os anos 1970 e 1980 se caracterizaram como anos difíceis para a economia nacional e exigiram mudanças radicais na forma de atuação dos governos brasileiros. Mesmo assim, a ação do Estado como investidor na economia nacional era bastante representativa. Foi no período dos governos militares (1968-1985) que houve o melhor desempenho da economia nacional dos últimos 100 anos. Sabemos que esse dinamismo foi conseguido, principalmente, através de uma forte política de arrocho dos salários dos trabalhadores e um acelerado endividamento externo, sem falar, é claro, de muito autoritarismo e cerceamento dos direitos individuais. Só após os anos 1990 é que, efetivamente, as idéias neoliberais passaram a atuar mais livremente no país, eliminando quase que totalmente as práticas do capitalismo de Estado na economia. Assim, foram impostas inúmeras políticas que passaram a dar um novo rumo à economia nacional e inseriram definitivamente o país na economia global; dentre elas: • incentivo às privatizações de importantes empresas pertencentes ao Estado; • eliminação dos monopóliosestatais em setores estratégicos, como o de energia elétrica e o de telecomunicações; • atração e abertura aos investimentos externos; • flexibilização, cada vez maior, das relações trabalhistas. Temos inúmeros casos de empresas estatais brasileiras, dos mais diversos setores da economia, que foram privatizadas na onda neoliberal. Dentre alguns exemplos, temos a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e o Sistema Telebrás. Segundo alguns analistas, a onda de privatizações agradou apenas aos oligopólios internacionais, na medida em que concentravam capitais em setores estratégicos. Muitas privatizações, nos moldes que aconteceram, não produziram os efeitos esperados, que, na teoria, significava gerar empregos e renda e enxugar a máquina do Estado. Para serem vendidas à iniciativa privada, as grandes empresas públicas passaram a ser consideradas grandes “vazadouros” do dinheiro público, empresas ineficientes e que não davam lucro, gerando apenas prejuízos à nação. A FORMAÇÃO DA POTÊNCIA REGIONAL O Brasil, assim como os demais países da América Latina, os países da África e da Ásia, era reconhecido como um país agroexportador periférico, pois ocupava na economia mundial a condição de exportador de produtos primários (alimentos e matérias-primas) para as áreas centrais da economia mundial. Em troca, recebia dos países centrais produtos manufaturados, capital e tecnologia. Essa situação começou a mudar para muitas nações, inclusive para o Brasil, após a Segunda Guerra Mundial, quando se concretizou a nossa industrialização (iniciada nos anos 1930). Assim, passamos a ser reconhecidos como um país em que a industrialização dominou a economia. Para ampliar a nossa participação no mercado externo e projetar o Brasil como potência econômica regional, foi necessário investir em estratégias que fortalecessem o país no continente e que, para tanto: • dessem ao país presença econômica e política na região da bacia do Prata, visando neutralizar a força econômica da Argentina, o nosso maior rival no continente; • colocassem o Uruguai, o Paraguai e a Bolívia sob a influência brasileira. Essa estratégia foi posta em prática por meio da implantação de um sistema de transporte rodoferroviário direcionado para o litoral brasileiro, permitindo que Bolívia e Paraguai escoassem seus produtos, já que estes não são banhados pelo mar; • realizassem a modernização do porto de Paranaguá, transformando-o em porto de livre comércio exterior para o Paraguai; • constituíssem, através do consórcio Paraguai-Brasil, a usina hidrelétrica de Itaipu, no rio Paraná, que permitiu ao Paraguai tornar-se auto-sufi ciente na produção de energia elétrica; • controlassem boa parte do mercado financeiro uruguaio pelo Banco do Brasil e pela ampliação dos vínculos econômicos entre os dois países; • ampliassem a integração rodoferroviária que ligava o Uruguai a várias cidades gaúchas que fazem fronteira com o país. Todas essas mudanças só foram possíveis pelos investimentos feitos em tecnologia, apesar de o Brasil ser considerado um país que investe muito pouco nesse setor, se comparado a outros países mais desenvolvidos. Só na década de 1980 é que os antagonismos existentes entre os dois grandes rivais do continente, Brasil e Argentina, deram lugar aos entendimentos e à cooperação econômica, culminando com a criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1991, liderada por esses dois países. Após os anos 1980, o Brasil aumentou significativamente suas exportações de produtos manufaturados. Atualmente, mais da metade das vendas de produtos brasileiros ao estrangeiro é de produtos transformados industrialmente. A crise que explodiu nos anos 1980 foi apenas o reflexo do modelo de desenvolvimento gerado após o golpe (1964), que foi classificado como excludente e concentrador, responsável por levar à marginalização social uma grande parcela da população brasileira. O BRASIL COM UM PÉ NO PRIMEIRO MUNDO E OUTRO NO TERCEIRO Nos anos 1990, o país mergulhou na inserção da economia nos ditames neoliberais. Era preciso reajustar a economia às novas leis capitalistas. Os novos governos liberais, inclusive o Brasil, implementaram reformas institucionais e uma política macroeconômica rígida. A nova lei consistia em ampliar a abertura das economias para a economia global, o que trouxe para os países uma dependência financeira internacional ainda maior. O neoliberalismo se caracterizou, sobretudo, pelo alto grau de desindustrialização e desnacionalização e pelo caráter violentamente antipopular. Ao longo da década de 1990, tornaram-se cada vez mais claras as fragilidades do “modelo de desenvolvimento neoliberal”, e as ilusões e a euforia iniciais acabaram se esvaindo. Atualmente, volta à tona o debate sobre o problema do crescimento econômico e da desigualdade social. Nessa década, muitos países entraram em sucessivas crises: a Argentina, em 1990, o México, em 1994, e o Brasil, em 1998. Em 2001, de novo a Argentina e o Brasil entraram em crise, e esta se refletiu imediatamente nos países mais pobres. Na América do Sul, a pobreza atingiu cerca de 44% da população, enquanto o desemprego duplicou durante a década de 1990. Há diferenças consideráveis nos padrões de vida existentes dentro de um mesmo país. Enquanto há acumulação de riqueza de um lado, há a inexistência de posses de outro. Essas discrepâncias sociais são fruto da distribuição inadequada dos benefícios propiciados pelo desenvolvimento científico e tecnológico da sociedade moderna. Num país como o Brasil, essas diferenças, que também são gritantes, estão expressas embaixo dos viadutos ou nas calçadas, na discriminação dos indivíduos devido a cor, idade, sexo, grau de instrução, religião, trabalho ou nível de renda. A globalização apareceu como um fato novo, promissor e irrecusável, que impunha uma política de abertura e interdependência irrestrita como único caminho de defesa dos interesses nacionais. Na prática, o que houve foi uma transnacionalização da nossa estrutura produtiva e dos centros de decisões políticas do nosso país, o que provocou uma fragilização do Estado e da economia brasileira, que ficaram ainda mais dependentes do capital privado internacional. Como conseqüência, o Brasil acabou ocupando posição de grande inferioridade no mercado global, se o compararmos com os países mais ricos do mundo, apesar do alto número de exportações. Aula 18 O Brasil e a ALCA Objetivos: • Demonstrar como se constituiu a ALCA e o que ela representa para os países americanos. • Identificar quais as conseqüências da inserção do Brasil na ALCA. • Avaliar a criação da ALCA e o respeito à soberania nacional. Com a globalização, as economias nacionais têm se deparado com os debates sobre a constituição de novos acordos comerciais. É o caso do Brasil, que já faz parte do Mercosul e agora discute a sua inserção na Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Os acordos internacionais e a formação de blocos econômicos têm influência direta sobre as políticas nacionais e as condições de vida presentes e futuras das sociedades. Mas, esse tipo de assunto é ainda pouco debatido no Brasil, pois a grande maioria do povo sequer toma conhecimento da sua existência. O QUE É A ALCA? Trata-se da Área de Livre Comércio das Américas, ou seja, um acordo comercial promovido pelos Estados Unidos e do qual devem participar todos os países de norte a sul do continente americano, com exceção de Cuba, devido à rejeição dos EUA. A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) pretende ser o maior bloco econômico do planeta, reunindo os 34 países do continente americano – que somam um Produto Interno Bruto de quase US$ 11 trilhões e mais de 808 milhões de habitantes. Só para se ter uma idéia da dimensão deste acordo, a União Européia, que demorou quase 30 anos para entrar em vigor, conta com metade da população e cerca de US$ 2 trilhões a menos de PIB. A criação do acordo prevê unir a economia do hemisfério, aumentando a integraçãosocial e política entre os países, tendo como modelo os moldes de livre comércio embutidos no NAFTA. Em 1990, o ex-presidente norteamericano George Bush anunciou a iniciativa de criar a ALCA, motivado, inicialmente, pelo crescimento significativo da influência do Japão nos mercados das Américas e pela evolução do processo de unificação da Europa, que fortaleceu o mercado comum europeu. Em dezembro de 1994, na 1ª Cúpula das Américas, realizada em Miami, 34 países do hemisfério ocidental, liderados pelos Estados Unidos, decidiram concluir até 2005 as negociações para a criação da ALCA. Em 1998, aconteceu a 2ª Cúpula das Américas, realizada em Santiago, no Chile. Nela, foi criado um Comitê de Negociações Comerciais, composto por vice-ministros do Comércio de cada país. Também foram estabelecidos nove grupos de trabalho para tratar das principais áreas de negociação do acordo. Veja quais são essas áreas e quais seus objetivos e os verdadeiros interesses existentes: • serviços como educação, saúde etc.: “estabelecer matérias para liberalizar progressivamente o comércio em serviços”, ou seja, os acordos relativos a serviços limitariam a ação dos governos em todas as políticas públicas e facilitariam o acesso das empresas multinacionais a todos os serviços públicos; • investimentos: “estabelecer uma estrutura legal, justa e transparente visando incentivar o investimento por meio da criação de um ambiente estável e previsível que proteja o investidor”, ou seja, conceder poderes às empresas do hemisfério, permitindo-lhes contestar todos os regulamentos e atividades do governo; • agricultura: “eliminar os subsídios de exportação dos produtos agrícolas que afetam o comércio no hemisfério”, ou seja, impedir que medidas nacionais restrinjam as atividades comerciais, como por exemplo, a proibição aos transgênicos; • contratos públicos do governo: “aumentar o acesso aos mercados de contratos públicos nos países da ALCA”, ou seja, abrir todos os contratos, serviços e bens públicos a licitações competitivas de empresas de todos os países que comporão a ALCA; • acesso ao mercado: “eliminar todas as tarifas (impostos aplicados nas fronteiras) e obstáculos não tarifários. Nesse caso, pode se eliminar uma norma de defesa do meio ambiente ou de defesa da saúde; • direitos de PROPRIEDADE INTELECTUAL: “fomentar e garantir a produção adequada e eficaz dos direitos de propriedade intelectual”, ou seja, garantir o patenteamento de plantas, animais e sementes, dando direitos às empresas privadas em relação às comunidades locais, a sua herança genética e aos medicamentos tradicionais; • subsídios, antidumping e direitos de compensação: “examinar maneiras de aprofundar as matérias existentes estabelecidas no Acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre subsídios e Medidas de Compensação e conseguir um entendimento (...) visando não criar obstáculos injustificados ao comércio no hemisfério”. A OMC estabelece limites quanto ao que os governos podem ou não SUBSIDIAR. A OMC tem sido fortemente criticada pelos países pobres por favorecer os países ricos, tanto no setor agrícola, quanto no de armamentos; • política de competição: “garantir que os benefícios do processo de liberação da ALCA não sejam prejudicados por práticas comerciais anticompetitivas”. Na prática, os Estados latino-americanos deveriam dissolver seus monopólios ainda existentes, como é o caso da Petrobras, no Brasil, de modo a conceder às empresas multinacionais o direito de entrar no país, destruir as companhias nacionais e estabelecer um novo monopólio, só que agora privado e protegido pela nova legislação; • resolução de disputas: “fundar um mecanismo justo, transparente e eficaz para a resolução de disputas entre os países da ALCA (...) se utilizando de arbitragem e de outros mecanismos alternativos de solução das disputas”. Esse juizado decidirá se a prática ou política de um país é um obstáculo para o comércio. Isso poderia, inclusive, anular leis, políticas e programas internos de um país. A formação de uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) certamente se tornará o tema central da agenda de política externa do Brasil num futuro próximo, porque o interesse dos Estados Unidos (principal interessado na ALCA) está relacionado com a continuação do crescimento das importações dos países da América Latina e do Caribe. O QUE O BRASIL PERDE E GANHA COM A ALCA? O discurso defendido pelos Estados Unidos e por alguns setores brasileiros favoráveis à implementação da ALCA é o de que, ao tirar as barreiras que hoje existem em relação à liberdade de comércio e aos investimentos entre os países das Américas, a economia tenderá a crescer. Isso significa a geração de empregos e a melhora das condições de vida dos países pobres do continente. Mas há indicações de que praticamente todos os setores da economia do Brasil perdem mais do que ganham aderindo à ALCA, nas condições até agora propostas, principalmente no segmento de produtos industrializados e de serviços. Para os defensores desse projeto, a ALCA criaria o paraíso do consumo, com o fim de qualquer restrição à circulação de mercadorias, serviços e capitais. Outro argumento é de que a ALCA incentivaria o “livre comércio” entre as nações. Conforme demonstram vários estudos, é impossível existir comércio justo entre países com diferenças tão gritantes. Você já experimentou comparar a realidade brasileira com a norte-americana? Ou a realidade boliviana com a norte- americana? Para você ter uma idéia, os EUA controlam quase 80% do PIB do continente. Brasil e Canadá detêm, cada um, cerca de 5%. México e Argentina aparecem em seguida, num patamar em torno de 3% cada um. A partir daí, todos os demais países da região respondem por uma parcela ínfima no PIB continental. Portanto, diante de tanta diferença, a tendência natural é de que os EUA se apoderem de vez da economia latino-americana, causando falências de empresas e demissões em massa. Diante destes fatos, soam precisas as conclusões de Osvaldo Martínez, diretor do Centro de Investigações da Economia Mundial e Prêmio Nacional de Economia em Cuba: “A ALCA não é mais do que um projeto norte-americano para criar um acordo de livre comércio entre a economia dos Estados Unidos, a mais rica e poderosa do planeta, e as economias latino-americanas e caribenhas, subdesenvolvidas, endividadas, dispersas e cujo Produto Interno Bruto, somado, é quase dez vezes inferior ao dos EUA. Podemos dizer que não é, nem mais nem menos, do que um projeto de integração entre o tubarão e as sardinhas.” Segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), a adesão à ALCA é suicídio. Se a ALCA for implantada, pelo menos 11 dos 22 setores industriais irão à falência, pois não têm como competir com a tecnologia norte-americana. Nesse caso, a criação da ALCA significará a destruição do que resta das empresas brasileiras, o aumento do desemprego, que já é enorme, e o aumento do número de pessoas e famílias que irão para a miséria, pois como competiremos com os Estados Unidos? Eles detêm 22% da riqueza mundial, enquanto todos os outros países americanos, juntos, produzem apenas 1%. Portanto, quem não tiver dinheiro para pagar vai ficar sem atendimento médico-hospitalar, sem direito à educação, sem condições de pagar os serviços de água e luz. A Previdência Social passará para a iniciativa privada e, depois de alguns anos de arrecadação poderá ir à falência. O IMPERADOR DO CONTINENTE Bem, primeiro você deve lembrar que os EUA são a maior economia do continente e uma das maiores do mundo. Assim fica claro entender porque os EUA têm pressionado tanto os países das Américas para que o acordo da ALCA seja assinado logo. O Brasil, considerado a maior economia da AMÉRICA LATINA, tem sido o principal negociador do acordo frente às tentativas de imposições dos norte-americanos. Isso se justifica devido à representatividade dos dois países no continente. Além dos Estados Unidose do Brasil (dois países de porte continental) terem as duas maiores economias, eles têm também as duas maiores populações no conjunto das Américas do Norte, Central e do Sul, ou seja, os dois mais promissores mercados consumidores. Estes dois países respondem por cerca de 80% do PIB desta região (os Estados Unidos representam três quartos, e o Brasil responde por cerca de 5% do PIB regional). O que os países mais fortes procuram é, além de qualidade e preço baixo, um outro critério essencial para a compra das nossas mercadorias: que elas não prejudiquem os lucros e o crescimento da produção no interior do primeiro mundo. Para entender isso, é só relembrar os pontos selecionados para serem discutidos nos Grupos de Trabalhos, responsáveis por estabelecer as regras para cada ponto de interesse dos países envolvidos, vistos anteriormente. São todos pontos que facilitam ainda mais a entrada de qualquer país na economia dos países componentes do acordo. O presidente dos EUA, George W. Bush, recebeu do Congresso poderes especiais para negociar acordos comerciais com os demais países. Os deputados e senadores, sabendo que só poderão aceitar ou rejeitar em bloco o resultado das negociações, já deixaram claro que não irão abrir mão dos subsídios à agricultura e de uma longa série de impostos que continuarão encarecendo nossos produtos em relação aos que saem da economia norte-americana. Essa integração, especialmente se for acelerada, levará também à redução de direitos sociais e trabalhistas, reforçando o desemprego e a precarização das condições de trabalho, já que as empresas terão de enfrentar maior competição reduzindo custos rapidamente. Um governo comprometido, de fato, com os interesses do povo brasileiro deveria ter por objetivo resistir ao máximo à implantação da ALCA e, enquanto isso, batalhar pelo fortalecimento e pela ampliação do Mercosul. Segundo alguns críticos da ALCA, entre os principais objetivos da Área de Livre Comércio das Américas está o de transformar o nosso continente num grande escoadouro para as mercadorias que andam encalhadas nos armazéns das empresas norte-americanas. Para fazer com que a economia norte- americana saia da crise em que mergulhou e retome o caminho do crescimento, se faz necessária uma vigorosa ampliação do mercado consumidor. Só assim os EUA poderão garantir parte dos recursos que precisam para recuperar sua economia e alimentar a política armamentista com a qual pretendem expandir o seu domínio sobre as demais nações do globo. O eliminar os impostos que o Brasil aplica a vários itens comprados no exterior, o resultado imediato seria a impossibilidade de vender parte significativa da nossa produção até mesmo no mercado interno. Em pouco tempo, a competição em condições de tamanha desigualdade levaria à quebra ou à sensível redução da nossa indústria e da própria agricultura, além de aumentar a dependência do país em relação às economias mais fortes do continente. A QUESTÃO DA SOBERANIA Todo estado é soberano, salvo os estados-membros de uma federação que abdicam de parte de sua soberania, pois não possuem personalidade de direito internacional. Abdicam também de uma parcela da sua soberania interna, pois estão totalmente submetidos à Constituição Federal. A soberania se exterioriza em seu grau máximo na Constituição Federal, e decorre, portanto, dos ditames da Lei das leis. Então, quando se diz que “todo poder emana do povo”, estamos dizendo que só o povo pode abdicar da soberania, ou seja, sem uma manifestação popular convocada (um plebiscito popular) seria impossível a assinatura de um tratado com um estado que não seja latino-americano, a não ser que se trate de acordos comerciais, e, ainda assim, com respeito e igualdade entre as partes. O que chama logo a atenção, quando se trata de discutir a nossa integração em um bloco econômico ou numa associação de mercado livre, são os itens relacionados à independência nacional e à igualdade entre estados, inseridos na Constituição Federal. Por isso, falar de tratados internacionais significa falar de soberania nacional. Qualquer país que assine um acordo desses não pode abdicar da independência nacional, nem desrespeitar a igualdade entre estados. Assim, no caso da ALCA, a primeira dificuldade seria exigir dos Estados Unidos a queda das barreiras referentes aos produtos brasileiros. E isso parece impossível visto que o Congresso dos EUA tem dito que a sua função é proteger os produtores nacionais. Mas, a proteção ao mercado interno, no caso do Brasil, é algo que está implícito na nossa Constituição. 1. O próprio texto da Constituição diz que “o mercado interno integra o patrimônio nacional e será incentivado 2. A livre circulação de mercadorias, bens e serviços prevista com o acordo da ALCA trará, automaticamente, a adoção do dólar como moeda corrente no continente. 3. Na maioria dos países latino-americanos, os direitos trabalhistas são mais avançados do que nos Estados Unidos, ao passo que, com o acordo, a base das relações trabalhistas será a dos Estados Unidos. Isto quer dizer que os trabalhadores latinos perderão muitos direitos já conquistados. 4. A integração do continente a um processo de submissão comercial e cultural certamente afetará o uso dos idiomas locais, a cultura nacional e, inclusive, os hábitos alimentares de cada país. 5. Com a integração e o fim do protecionismo nacional, ficarão facilitados o controle e o domínio da biodiversidade existente na Amazônia por parte das empresas transnacionais. (Adaptado de CAMPANHA NACIONAL CONTRA A ALCA, 2002.) De modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e socioeconômico, o bem-estar da população e a autonomia tecnológica do País, nos termos da lei federal”. Portanto, enquanto não caírem as barreiras sobre os nossos produtos de exportação e não se criarem garantias de que nossa soberania será mantida, não haverá possibilidade constitucional de se firmar o tratado da ALCA. Aula 19 A ocupação do território fluminense – Recôncavo da Guanabara: defesa, disputa e ocupação Objetivos: • Caracterizar as diferentes etapas da ocupação do espaço fluminense. • Identificar as transformações ocorridas no território fluminense, de acordo com a atividade econômica dominante no país. • Apontar os efeitos da industrialização no crescimento econômico e nas transformações espaciais do Rio de Janeiro. • Reconhecer as características da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, seu processo de formação e situação atual. O estado do Rio de Janeiro tem características bastante peculiares, como, por exemplo, o fato de corresponder a uma das menores unidades políticas de nossa federação – 43.900km2 – e apresentar uma das mais altas densidades demográficas do país – mais de 300 hab./km2. Vamos ver como se concretizam essas singularidades no espaço geográfico. OS “CAMINHOS” DA FORMAÇÃO DO TERRITÓRIO FLUMINENSE O Rio de Janeiro possui um território com características próprias, a mais marcante delas é o fato de ter passado por vários “ESTADOS JURÍDICOS”. O Rio de Janeiro já abrigou a capital do país, de 1763 até 1960, quando o Distrito Federal se transferiu para Brasília. Entre 1960 e 1975 constituiu o estado da Guanabara (a cidade do Rio de Janeiro era capital de si mesma), quando ocorreu a fusão deste com o antigo estado do Rio de Janeiro, que tinha como capital Niterói. Assim, só em 1975 foi institucionalizado o território do atual estado do Rio de Janeiro. Com a anexação do estado da Guanabara ao antigo estado do Rio de Janeiro, Niterói perdeu seu status político-administrativo e passou a exercer apenas a função de sede municipal, sofrendo um esvaziamento considerável de sua economia. Mas, no geral, diz-se que a constituição desses inúmeros estados jurídicos, que outrora separaram a atual cidade do Rio de Janeiro do restante do estado, provocou uma cisão espacial que marcou para sempre a história do estado. Pode-se dizer que a constituição dos diferentes estados jurídicos pelosquais o Rio de Janeiro passou se iniciou quando a faixa litorânea do estado do Rio de Janeiro foi descoberta, nas primeiras expedições que exploraram o litoral brasileiro. Com a divisão do Brasil em capitanias hereditárias, ainda no século XVI, a atual área do Rio de Janeiro abrangia as capitanias de São Tomé e São Vicente. Essa parte do litoral atraiu a cobiça dos franceses que, em 1555, invadiram a baía de Guanabara e fundaram a França Antártica. Para conseguir expulsar os franceses e marcar a posse do território, a expedição de Estácio de Sá iniciou o povoamento, com a fundação da cidade do Rio de Janeiro. No início do século XVII, foram doadas muitas sesmarias em terras do Rio de Janeiro, onde se cultivava a cana-de-açúcar e se criava o gado. Foi nesse período que as capitanias que formavam parte das terras do atual estado do Rio de Janeiro foram reunidas em uma só capitania, dando origem à capitania do Rio de Janeiro. Mas foi apenas no século XVIII, com a descoberta do ouro na região das Minas Gerais, que o Rio de Janeiro adquiriu maior importância no contexto nacional. Até então, o Rio de Janeiro era apenas mais uma das províncias que servia aos interesses da Coroa. Após a descoberta do ouro, foi aberto o chamado “Caminho Novo” que passou a ligar Minas Gerais ao Rio de Janeiro. Quando a cidade do Rio de Janeiro se tornou o principal porto de saída do ouro em direção à Metrópole, ela foi alçada à capital do Brasil (em 1763), substituindo Salvador no cargo de capital do vice- reinado. A chegada da Família Real, em 1808, e sua pronta instalação na cidade do Rio de Janeiro, apenas serviu para fortalecer a nova função da cidade. No novo caminho do ouro, surgiram centros urbanos na área do atual estado do Rio de Janeiro, como Vassouras e Paraíba do Sul. Todas funcionavam em torno das atividades auríferas, mas, com o esgotamento das lavras e de sua decadência, no início do século XIX, a população teve de se voltar para as atividades agropecuárias. Foi o que aconteceu na Baixada Campista, que acabou se especializando na lavoura canavieira. No século XIX, ocorreu também a expansão do cultivo do café, que se iniciou no Rio de Janeiro, ocupou várias áreas de baixada em torno da baía de Guanabara e as encostas mais próximas. Usando mão-de-obra escrava, o café passou da Baixada Fluminense para o Vale do Paraíba. Alguns portos – como Angra dos Reis e Parati – ligados ao Vale do Paraíba por caminhos estreitos, que desciam a Serra do Mar, alcançaram grande prestígio econômico. Esses portos entraram em decadência quando a ferrovia passou a levar as exportações para o porto do Rio de Janeiro e para o de Santos. Com a era cafeeira, o Rio de Janeiro se firmou não só como capital política e administrativa, mas também como capital econômica e cultural. OS EFEITOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO NO ESPAÇO FLUMINENSE O crescimento industrial no Brasil até 1930 caracterizava-se pela concentração espacial no Sudeste. No censo de 1920, 65,3% da produção industrial brasileira concentrava-se nessa região e, desse total, o Rio de Janeiro participava com 28,2%. Nessa época, o Rio de Janeiro possuía: • expressivo mercado consumidor, pois a cafeicultura tinha atraído grande contingente populacional e formado numerosa classe média urbana; • grande contingente de mão-de-obra; • rede ferroviária eficiente para a época; • energia elétrica – o grupo Ligth and Power Company eletrificou a cidade em 1905; • uma significativa rede bancária e comercial. Além disso, nessa época, o Rio de Janeiro já contava com cerca de 1 milhão de habitantes (São Paulo tinha apenas 100 mil), pois abrigava a capital e o maior porto do país. O Rio de Janeiro abre, portanto, o século XX como a capital do principal produtor de café do mundo. No entanto, foi necessário resolver certas contradições espaciais para que pudesse concretizar sua importância no contexto nacional e mesmo internacional. O prefeito Pereira Passos realizou uma grande reforma urbana (1902-1906), a maior transformação já feita até esse momento no espaço carioca. A nova sociedade que se desenvolvia, de certa forma, exigia mudanças, tais como: • o aparecimento de um novo e elitista meio de transporte, o automóvel, que não condizia com as carroças e animais que circulavam no centro da cidade; • a presença das sedes dos poderes político e econômico no centro da cidade, que contrastava com os quarteirões de cortiços habitados por trabalhadores urbanos pobres; • a população expulsa dos cortiços e aquela que era atraída para a cidade pelo desenvolvimento industrial e pelos empregos na construção civil passaram a ocupar, efetivamente, os subúrbios menos assistidos pelo estado e fizeram da favela uma alternativa de moradia próxima aos locais de trabalho. Assim, o espaço geográfico do Rio de Janeiro, como nos demais centros industriais do mundo, passou a ser organizado para atender à nova ordem social, ou seja, às duas novas classes sociais do país, a burguesia industrial e o operariado. Criaram-se vilas e bairros que separavam nitidamente patrões e empregados. Nessa época, surgiram os bairros de São Cristóvão, Laranjeiras, Gávea e Bangu. Muitos trabalhadores viviam em cortiços ou em favelas e, assim, o poder econômico estabeleceu uma segregação espacial marcante. Após a Segunda Guerra Mundial, a expansão metropolitana ocorreu em direção às rodovias BR- 040 (Rio–Petrópolis–Juiz de Fora), BR-116 (trechos da Rio–São Paulo e, mais tarde, Rio–Magé– Teresópolis) e à Baixada de Jacarepaguá, povoando a Baixada de Sepetiba com os núcleos de Campo Grande, Santa Cruz, Itaguaí e Mangaratiba. De 1930 até o final dos anos 1950, começou o processo de parcelamento e venda de terras férteis da Baixada Fluminense e da região do município de São Gonçalo, anteriormente usadas no cultivo da laranja e outras culturas. O crescimento da periferia metropolitana realizou-se sem qualquer planejamento ou investimentos em equipamentos e serviços de infraestrutura básicos que pudessem acompanhar o crescimento da população e do PARCELAMENTO FUNDIÁRIO. A partir da década de 1950, houve maior controle do governo do estado sobre as áreas centrais da capital e uma política de remoção de favelas, especialmente daquelas localizadas em bairros nobres, o que acelerou ainda mais o processo de ocupação da periferia metropolitana, que passou a abrigar também a população expulsa das áreas mais nobres da capital. A REGIONALIZAÇÃO DO ESPAÇO FLUMINENSE O espaço regional fluminense, a partir da influência de diversos fatores, passou a ser reconhecido pela existência de várias sub-regiões, cada uma delas com características próprias. Essa divisão foi estabelecida pelo CIDE (Centro de Informações e Dados do Estado do Rio de Janeiro) que é um órgão vinculado ao Governo do Estado e que possui, entre suas principais atividades, o levantamento de informações e a tabulação de dados estatísticos. Esse órgão estabeleceu uma regionalização com o principal objetivo de planejamento e execução de políticas públicas por parte do Governo do Estado. A REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO: DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL E CRESCIMENTO POPULACIONAL RUMO À PERIFERIA A configuração territorial que surge com a fusão dos antigos estados da Guanabara e do Rio de Janeiro, em 1975, corresponde a uma área dominada pelo porte da região metropolitana. Pelo Censo Demográfico de 2000 (IBGE), a população da região metropolitana representa 75,6% da população estadual. As regiões metropolitanas brasileiras foram criadas por lei aprovada no Congresso Nacional, em 1973, que as definiu como “um conjunto de municípios contíguos e integrados socioeconomicamente a uma cidade central, com serviços públicos e infra-estrutura comum”. Assim, a região metropolitana do Rio de Janeiro surgiu como conseqüência da expansão industrial e do natural deslocamento de grande contingente populacional em direção à periferia metropolitana. As atividades industriais e alguns serviços se espalharam em direção à BaixadaFluminense e para o lado oriental da baía de Guanabara, onde se destacam hoje os municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Sobre as características da expansão urbana a partir dos eixos rodoviários, podemos dizer que: • no eixo I, a expansão ocorre em direção aos municípios de Itaguaí e Mangaratiba, antes dominados pela atividade rural, mas que hoje vêm recebendo atividades como a indústria e o turismo; • no eixo II, a expansão se dá em direção à Baixada Fluminense, com alta densidade demográfica, principalmente de população de baixa renda e predomínio de atividades secundárias e terciárias; • no eixo III, a expansão se verifica rumo aos municípios de Niterói, São Gonçalo e Região dos Lagos, onde o turismo e a atividade industrial se destacam. A expansão da metrópole pelo Recôncavo da Guanabara (área em torno da baía de Guanabara) ocorreu principalmente ao longo das vias de circulação (rodovias, ferrovias) que facilitavam o contato com a metrópole. A NATUREZA QUE O HOMEM DESTRÓI As características naturais da região metropolitana e os problemas ambientais decorrentes de sua ocupação são uma importante questão a ser tratada quando buscamos entender as transformações ocorridas no espaço original dessa área do estado. A maioria dos rios que deságuam na baía de Guanabara tem suas nascentes na serra do Mar. Quando as águas desses rios descem pelos terrenos inclinados das escarpas da serra (suas águas ainda são cristalinas) e encontram as áreas de baixada, acabam recebendo grande quantidade de poluentes. Essa é uma das causas da atual situação de degradação da baía de Guanabara, que apresenta um forte ASSOREAMENTO dos rios e alto índice de contaminação das águas da baía. A contaminação se dá tanto pelos sedimentos fluviais, como pelo esgoto domiciliar e industrial, produzido numa área com elevado número de habitantes e estabelecimentos produtivos. Outra riqueza abundante outrora, no território fluminense, são as florestas. Muito se fala hoje da Mata Atlântica, a floresta que recobre as encostas da serra do Mar voltadas para o oceano Atlântico e uma das poucas formações naturais citadas especificamente pela Constituição Brasileira, em seus dispositivos sobre proteção ambiental. A Mata Atlântica abriga uma grande variedade de árvores e arbustos. Desde o período colonial, essa mata foi, em parte, devastada em busca de madeiras nobres para a construção de casas, igrejas e engenhos. Mas a grande devastação veio com a construção de ferrovias e rodovias ligando o planalto ao litoral, por ocasião da expansão da urbanização, principalmente. Outro objetivo do desmatamento hoje é a procura de plantas para fins de ornamentação, como orquídeas, samambaias, folhagens, xaxim. A DESORDEM SOCIAL Atualmente, são quase 11 milhões de habitantes que ocupam os 17 municípios da região metropolitana. Ela concentra 74% da população do estado e 68% de seu Produto Interno Bruto (PIB). Na capital, estão, portanto, 54% da população e 76% do PIB da região. Mas, na prática, a região metropolitana funciona como se fosse uma cidade única, indiferente às divisas geográficas. Veja o exemplo: em Nilópolis, São João de Meriti e Belford Roxo (municípios da região metropolitana), 20% da população exercem alguma atividade profissional ou estudam fora do município; e essa é uma realidade comum a praticamente todos os municípios que compõem a região metropolitana. O Grande Rio é, portanto, uma grande metrópole, a segunda mais industrializada do país. Entretanto, essa magnitude espacial, que cresceu sem ordenamento e planejamento, trouxe à região metropolitana problemas imensos, como podemos destacar a seguir: • desigualdade na distribuição da renda; • altos índices de criminalidade; • favelização em ritmo crescente, sem saneamento básico; • agravamento da poluição da baía de Guanabara; • falta de políticas integradas, sobretudo, nas áreas de saúde e transportes. Os municípios da região metropolitana têm uma série de problemas comuns, como a violência e a deficiência no sistema de saúde pública ou a falta de redes de esgoto e outras infra-estruturas básicas. Valas a céu aberto são uma realidade nessa região. Dados do IBGE mostram que 37% dos domicílios (1.185.572) não contam com rede de esgoto. Em Seropédica, o percentual chega a 88,7%, e nos municípios de Guapimirim, Itaboraí, Magé e Tanguá, ultrapassa os 70%. Mesmo na cidade do Rio de Janeiro e em Niterói, mais de 20% das casas não têm saneamento. Atualmente, verifica-se uma tendência à homogeneização da periferia metropolitana, em especial nos municípios de Nova Iguaçu, Duque de Caxias e São Gonçalo. Tais municípios registram um crescimento significativo nos setores industrial, comercial e de serviços, o que tem favorecido o surgimento de uma classe média originária da própria periferia. Essa camada social vem buscando novos padrões de moradia, tendo sido comum a construção de condomínios e edifícios residenciais de custo mais elevado, assim como o surgimento de shopping centers na região das antigas cidades-dormitório. Constata-se a migração de famílias da classe média da cidade do Rio de Janeiro para alguns municípios periféricos, em função da alta dos aluguéis e do preço da terra na capital. Desse modo, constata-se que a expansão da atividade industrial para o entorno da cidade do Rio de janeiro, que levou à formação da região metropolitana do Rio de Janeiro (atualmente formada por 17 municípios) apresenta inúmeros contrastes e problemas comuns. Mesmo com as recentes mudanças na constituição da região metropolitana, com a transferência de Maricá (que pertence agora à região das baixadas litorâneas), Mangaratiba e Itaguaí (que agora fazem parte do litoral sul ou Costa Verde), os problemas não desapareceram, nem sequer diminuíram. Essa mudança é uma tentativa de desvincular a imagem dessas áreas da região Metropolitana e vinculá-las a uma imagem turística, pronta para ser explorada economicamente. Aula 20 As baixadas litorâneas e a baixada campista: turismo, cana-de-açúcar e petróleo Objetivos: • Identificar as características do quadro natural das baixadas litorâneas. • Reconhecer os principais problemas ambientais da baixada litorânea, explicando suas causas e conseqüências. • Apontar as atividades econômicas que propiciaram a ocupação das baixadas litorâneas, nas diferentes épocas. • Reconhecer as causas das mudanças ocorridas nas baixadas litorâneas e na baixada campista, através do tempo. • Apontar os problemas ambientais e socioeconômicos ocasionados pelas transformações que ocorreram na baixada campista. O território do estado do Rio de Janeiro, além de apresentar um quadro físico bastante diversificado, possui características que permitem individualizar determinadas áreas, em virtude do processo de ocupação no passado e das atividades econômicas que se desenvolvem atualmente. Algumas áreas se desenvolveram e adquiriram identidade a partir de atividades agropecuárias. Novos contrastes se estabeleceram decorrentes de uma agropecuária tradicional que domina uma parte das áreas rurais do estado, como é o caso da cana-de açúcar, e outra de caráter moderno, com culturas que requerem técnicas mais aprimoradas, como a horticultura e a fruticultura. Em algumas áreas já encontramos a atividade canavieira bastante modernizada. A urbanização foi também fator que estabeleceu diversidades regionais, à medida que o povoamento se espalhou ao longo de eixos que partiam da metrópole ou de outros centros secundários. AS BAIXADAS LITORÂNEAS: PLANÍCIE, RESTINGAS, MANGUEZAIS As planícies das baixadas são formadas de sedimentos, ou seja, materiais transportados pelos rios – argila – ou pelo mar e pelo vento – areia. A argila formou uma faixa de terra hoje coberta pelo mar. Mais tarde, as grandes massas de gelo continental derreteram e o nível dos oceanos subiu, permitindo que as águas batessem diretamente nas rochas, desgastando-as. Grandes quantidades de sedimentos foram sendo depositadassobre os terrenos argilosos, até formarem as faixas ou cordões de areia, desde a serra até o mar. Em algumas áreas, ocorreu a formação de restingas que correspondem a faixas de areia depositadas pelo mar ao longo da costa, separando um “mar interno” do grande mar externo. Muitas vezes o mar interno se transforma numa lagoa. As restingas constituem os aspectos mais típicos do litoral fluminense e dão lugar a uma paisagem característica de lagoas – antigas baías – fechadas por areia. Assim se formaram as lagoas Feia, Araruama, Saquarema e Maricá. Essas lagoas ficam separadas do mar pelas restingas. Toda a baixada é cortada por inúmeros rios, de modo geral oriundos das escarpas da serra do Mar. Esses rios, ao chegarem à planície da baixada, mudam completamente de aspecto. Enquanto descem pelos terrenos inclinados das escarpas da serra, suas águas são cristalinas, pois eles avançam sobre a rocha e correm com grande velocidade, transportando cascalhos e pedras de tamanho grande. Quando alcançam a planície, não há mais declividade e os rios correm lentamente, só transportando sedimentos muito finos como argila, restos vegetais, limos, que vão se depositando em seu leito. Por essa razão, na planície, o fundo dos rios, em vez de pedregoso, é lodoso. Esse lodo, assim como a própria água, é carregado de húmus do solo das florestas. Se esse rio passa por uma região mais baixa, como uma antiga lagoa junto ao mar, a mistura com o sal produz a coagulação e a precipitação desse material fértil. Assim se formará um sedimento muito nutritivo, porém mole como um mingau, que chega a ter dezenas de metros de profundidade. Nesses terrenos, cresce o manguezal onde, graças à riqueza em nutrientes, se desenvolvem camarões, tainhas, lagostas, mariscos. A fauna do manguezal é muito variada, mas os animais característicos dessas regiões são os diversos tipos de caranguejos ali encontrados. Podemos encontrar os marinheiros, pequenos caranguejos esbranquiçados que se alimentam de folhas, os uçás, variação de caranguejo que os CAIÇARAS apelidaram de chama-marés, pois parecem acenar para o mar, chamando a maré para cobri-los, e, finalmente, há os guaiamus, que chegam a medir até 30cm e vivem em buracos cavados no lodo, e são muito apreciados. A venda de caranguejos do mangue é o meio de vida para muitos habitantes do litoral fluminense e de outras regiões no Brasil. O manguezal constitui um dos ecossistemas mais ricos do planeta. As raízes elevadas de suas árvores mostram a adaptação ao fluxo e refluxo das marés. Os manguezais encontrados às margens das baías e lagoas sofreram grande devastação pelo variado aproveitamento econômico e pela especulação imobiliária. As áreas de mangue são usadas para a obtenção de madeira utilizada na construção civil, lenha para uso doméstico e ainda nas OLARIAS. Com a retirada ou aterro dos manguezais, há deslizamentos nas margens das baías e lagoas, acelerando o processo de assoreamento. AS ATIVIDADES ECONÔMICAS QUE TRANSFORMARAM AS BAIXADAS LITORÂNEAS No estado do Rio de Janeiro há a predominância da metrópole carioca, de onde partem eixos de urbanização para outras áreas. Pode ser identificado um eixo urbano litorâneo centrado na Região dos Lagos, que vai da região metropolitana do Rio de Janeiro até Macaé. Os principais elementos do dinamismo dessa área foram o turismo, a reativação da pesca e da MARICULTURA, algumas indústrias e, em grande parte, a exploração de petróleo na plataforma continental. Até essas atividades se organizarem ou se reorganizarem, como é o caso da pesca, as baixadas litorâneas viveram algumas décadas de baixo nível de crescimento econômico que acabou se revertendo em condições de vida pouco favoráveis, o que não significa que as novas atividades tenham efetivamente dado mais benefícios à população, em geral. Na regionalização turística do estado, adotada pela Turisrio, as baixadas litorâneas correspondem, em sua maior parte, à Costa do Sol, que inclui Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios e Iguaba Grande. Cabo Frio é o centro turístico mais importante. Os municípios de Búzios e Arraial do Cabo, que se emanciparam recentemente, assim como São Pedro da Aldeia e Saquarema, possuem, além das praias, uma arquitetura colonial significativa, herança do período colonial brasileiro, quando a região era explorada economicamente com a pecuária, a agricultura e a pesca. Na cidade de Araruama são encontradas as reservas de salinas (ou seja, uma área de concentração de sais dissolvidos, presentes em águas interiores, como é o caso das lagoas) existentes no estado do Rio de Janeiro. O mar é, portanto, a fonte de recursos financeiros, seja através do turismo ou através da pesca ou ainda pela exploração do petróleo. No entanto, a pressão da especulação imobiliária pelos terrenos de frente para o mar tem empurrado os pescadores para longe da costa, levando-os a abandonar a atividade pesqueira e a se dedicar a atividades comerciais ou de prestação de serviços. O pescado também está diminuindo, na medida em que o aumento do turismo, com a construção de hotéis, pousadas e outros estabelecimentos de exploração turística, interfere na dinâmica local dessa parte da costa. No século XIX, grande parte da população de Cabo Frio se dedicava à pesca. Com a indústria do sal veio também a possibilidade da salga do peixe e da exportação do mesmo. A libertação dos escravos e o declínio da agricultura transferiram muitos negros para a pesca, aumentando a quantidade de mão-de-obra utilizada nessa atividade. A pescaria avançou tanto que no início do século XX a cidade já possuía até algumas fábricas de conservas de camarão. Atualmente, são várias as modalidades de pesca realizadas nessa parte da costa. A pesca interior é realizada na lagoa de Araruama, onde ocorre também a aqüicultura, ou seja, a criação de peixe e camarão no ambiente aquático. Essa lagoa tem recebido poluentes, principalmente esgoto in natura despejado em suas águas, já que os municípios situados às suas margens como Araruama, Iguaba Grande, São Pedro da Aldeia e Cabo Frio possuem uma rede de tratamento de esgoto insuficiente para o grande número de habitantes da região. Como se sabe, o crescimento populacional apresenta índices elevados na região onde se desenvolve o turismo. Os resultados desse crescimento são catastróficos para quem sobrevive das atividades ligadas aos ambientes aquáticos. A pesca marítima é realizada mais freqüentemente na área de RESSURGÊNCIA existente nessa parte do litoral, já que esse é um fator favorável à sua realização, especialmente em Arraial do Cabo. Apesar desse grande potencial, há um fator de risco em função do crescimento da pesca predatória, que se utiliza de redes de malha fina, não respeitando o período da desova das espécies. Com aumento do uso da tecnologia para essa prática, tem se verificado um declínio considerável de peixes disponíveis próximos à costa. Assim, a pesca de arrasto elaborada por algumas empresas e pescadores autônomos, que não respeitam as épocas de reprodução, pode se constituir num dos mais fortes fatores de diminuição do pescado nessa região, comprometendo a sobrevivência de muitas famílias, direta ou indiretamente. A pesca de subsistência, praticada pela classe mais desfavorecida ainda em moldes artesanais, com embarcações de pequeno porte que retiram o pescado do mar e comercializam o produto com as firmas instaladas na área ou diretamente com a população, é a que mais tem sofrido com a concorrência das grandes empresas pesqueiras, como a empresa Brás Fish, que possui capital binacional. A pesca modernizada gera empregos e propicia interações que ligam a produção de pescado em Cabo Frio até mesmo ao mercado estrangeiro, através das exportações. Entretanto, grande parte da população local não consegue se integrar nessa modalidade de pesca (que exige altos investimentos), nem nas atividades ligadas ao turismo. VAMOS CONHECER AGORA UM POUCODA BAIXADA CAMPISTA A região da baixada campista corresponde à porção nordeste do estado do Rio de Janeiro, constituindo a parte setentrional da baixada fluminense. Recebe também a denominação de Norte Fluminense, de acordo com a regionalização proposta pelo CIDE, a que já nos referimos. Atualmente essa região é formada por nove municípios: Campos dos Goitacases, Cardoso Moreira, São Francisco de Itabapoana, São Fidélis, São João da Barra, Quissamã, Carapebus, Conceição de Macabu e Macaé A PAISAGEM NATURAL FAVORECEU A CULTURA CANAVIEIRA A região em estudo é formada por uma extensa planície com sedimentos fluviais e marinhos, a exemplo do que explicamos no processo de formação geral das baixadas. À medida que avançamos para o interior, a PLANURA dá lugar a tabuleiros sedimentares, com topografia suave, e mais para oeste aparecem colinas e os primeiros patamares da serra do Mar. Essa característica da planície sedimentar favoreceu não só o cultivo da cana-de-açúcar, como também as pastagens. PRIMEIRO A PECUÁRIA... DEPOIS A CANA-DE-AÇÚCAR No século XVII os portugueses partiram de Macaé – fundada em 1619 no litoral – para a exploração dos campos dos goitacases – área habitada pelos índios da tribo homônima. A ocupação dessa área foi feita com a utilização do gado trazido de Cabo Verde e dos Açores. À medida que a cana-de-açúcar começou a ser cultivada, ela ocupou as terras próximas do litoral e empurrou o gado para o interior. Na baixada campista foram doadas muitas terras antes pertencentes à metrópole, e foram construídos muitos engenhos pelos novos ocupantes das terras, que passaram a se dedicar às atividades ligadas à agropecuária. Quando a vila de São Salvador de Campos foi fundada, em 1676, já existia ali uma considerável agroindústria canavieira. A partir da década de 1970, com a modernização da agricultura no Brasil, ocorreu uma ligação maior do setor canavieiro com o industrial, determinando profundas mudanças socioespaciais no Norte Fluminense: • uma forte especialização agrícola; • o aumento da concentração fundiária, ou seja, da terra; • a proletarização, ou seja, a transferência do campo para os trabalhos urbanos; • a intensificação da urbanização. É fundamental acrescentar que a sociedade campista acabou se organizando “em torno” da atividade canavieira por muitas décadas. Essa atividade acabou sendo bastante danosa para a sociedade fluminense em geral e para a região campista em particular, pois essa atividade se caracteriza por ser concentradora da terra e da renda, por não gerar empregos em número significativo ou gerar empregos mal remunerados e que oferecem condições “desumanas”. Só para se ter uma idéia, a região de Campos possui o maior número de acampamentos de sem terra do estado. Além disso, a cidade de Campos possuiu uma periferia extremamente pobre, onde os índices de mortalidade infantil e de mortes violentas são altíssimos. Estruturou-se, portanto, no Norte Fluminense, o CAI SUCROALCOOLEIRO. Atualmente a região participa com, aproximadamente, 90% da produção canavieira do estado. Apenas Campos dos Goitacases, já produziu mais de três milhões de toneladas desde a década de 1970, apesar da emancipação dos municípios de Italva e Cardoso Moreira. DO MITO DO ÁLCOOL À ILUSÃO DO PETRÓLEO Os dois marcos recentes na ocupação do espaço na baixada campista foram: • a criação do Proálcool (Programa Nacional do Álcool) em 1972; • a exploração do petróleo na plataforma continental – bacia de Campos, a partir de 1986. Com o Proálcool, que incentivou o uso do álcool como combustível, a região passou a ter 19 usinas de açúcar, apresentando um aumento exagerado na capacidade do parque industrial. Permanecem em atividade apenas oito delas e mesmo assim verifica-se uma capacidade ociosa das mesmas. Após um período de “expansão acelerada” do Proálcool, entre 1980 e 1985, veio uma fase de desaceleração e crise no programa (1986-1995). Essa crise acabou repercutindo na organização industrial da região. Muitas usinas faliram ou simplesmente viram seus equipamentos se tornarem obsoletos. Atualmente, as grandes unidades agroindustriais que possuem instalações e equipamentos mais modernos acabam levando as usinas menos modernizadas à falência, captando seus fornecedores. Esse fato ocorre principalmente em Campos, onde havia várias usinas próximas umas das outras. As usinas de Quissamã e Carapebus, menos modernas, conseguem se manter ativas, apenas porque são as únicas em seus municípios. Em São Fidélis existe ainda uma única usina ativa. Já a participação do petróleo foi um fato novo na economia dos municípios do Norte Fluminense, pois a economia canavieira era tradicional na região. A exploração do petróleo gerou o pagamento de royalties às prefeituras de vários municípios que têm relação direta ou indireta com essa atividade. A arrecadação dos royalties acabou gerando, inclusive, movimentos de emancipação, já que antigos distritos dos principais municípios passaram a ter arrecadação própria. Macaé é um exemplo de município onde a exploração do petróleo determinou mudanças na configuração territorial, que ocorreram a partir do desmembramento de Quissamã e Carapebus. O município de Macaé perdeu extensas áreas dedicadas ao cultivo da cana-de-açúcar, mas cresceu muito rapidamente com a instalação de uma sede regional da Petrobras, passando a apresentar funções diversificadas e exercendo maior centralidade regional. A crise do setor sucro-alcooleiro se caracterizou: • pelo fechamento de usinas que tiveram dificuldade para obter fornecedores de cana-de-açúcar; • pela liberação dos preços do açúcar, do álcool e da cana, com o fim das subvenções, ou seja, do auxílio financeiro do governo; • pela grande expressividade do CAI sucro-alcooleiro em São Paulo, que superou largamente o do Norte Fluminense; • pela modernização da agricultura, com a implementação de avanços tecnológicos que não promovem o desenvolvimento social, pois levam muitos trabalhadores e pequenos produtores à exclusão social e ao desemprego. Uma das opções surgidas para os que foram excluídos da atividade canavieira foi a fruticultura. Trata-se de uma atividade agrícola que valoriza as experiências anteriores em outras lavouras e que acaba gerando muitos empregos temporários e permanentes. Isso impede o deslocamento do homem do campo para as áreas urbanas, em busca de emprego em setores como o da construção civil, que o leva muitas vezes à marginalização social. A opção pela fruticultura (iniciativa do governo do estado que é considerada muito tímida e pouco significativa frente ao contingente de agricultores sem opção) não conseguiu apaziguar os enormes problemas sociais da região, em grande parte gerados e intensificados pela atividade canavieira. A solução mais coerente seria aumentar os investimentos na realização de uma reforma agrária mais efetiva, com projetos voltados para os assentamentos rurais e iniciativas concretas de manutenção do homem no campo. Observa-se uma mudança, ainda que pequena, na urbanização da baixada campista, que vem se desenvolvendo em eixos, como o da estrada do Açúcar, que liga Campos ao farol de São Tomé. Ao longo dessa rodovia aparecem distritos como Santo Amaro, Mussurepe, São Sebastião de Campos e Tocos, onde existem usinas, algumas já desativadas. Todas as mudanças são de grande importância, alterando estruturas antigas presas, muitas vezes, ao processo de colonização. Essas transformações podem trazer novas possibilidades para a população, mas podem também tornar-se excludentes, na medida em que uma parte dos habitantes não consegue se integrar nas novas formas de atividades econômicas, pois lhes faltam qualificação profissional e recursos para obter essa qualificação. Os avanços tecnológicos, na maioria dos casos, têm contribuído para aumentar as desigualdades socioeconômicas, privilegiando uma elite já favorecida anteriormente. Encontramos exemplos para essa argumentação nos pescadores da área de Cabo
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