Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Manoel Almendra – Medicina ETIOLOGIA A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma condição respiratória comum caracterizada por limitação do fluxo aéreo. É uma doença comum, evitável e tratável, caracterizada por sintomas respiratórios persistentes e limitação do fluxo de ar que é devido a anormalidades das vias aéreas e / ou alveolares geralmente causadas por exposição significativa a partículas ou gases nocivos. A limitação crônica do fluxo de ar que caracteriza a DPOC é causada por uma mistura de doença das pequenas vias aéreas (por exemplo, bronquiolite obstrutiva) e destruição do parênquima (enfisema), cujas contribuições relativas variam de pessoa para pessoa. A inflamação crônica causa mudanças estruturais, estreitamento das pequenas vias aéreas e destruição do parênquima pulmonar. Uma perda das pequenas vias aéreas pode contribuir para a limitação do fluxo de ar e disfunção mucociliar, uma característica da doença. (HAN, DRANSFIELD, MARTINEZ, 2020) FATORES DE RISCO: O tabagismo é o principal fator de risco para a DPOC. Fatores como deficiência de alfa-1 antitripsina, história pregressa de tuberculose pulmonar e/ou asma e constantes modificações do ar em decorrência de fontes energéticas oriundas da queima de biomassa (fonte enérgica da combustão de matéria orgânica) e da industrialização estão sendo relacionadas ao aumento da DPOC no mundo. (RUFINO e COSTA, 2013). FISIOPATOLOGIA: A DPOC possui dois componentes principais, a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. Ambos podem acometer o mesmo paciente e resultar em um agravamento de seu quadro clínico. A bronquite crônica e o enfisema pulmonar são primordialmente desencadeados por um processo inflamatório importante na região do pulmão, ocasionando uma cascata de complicações, se não tratado precocemente. O enfisema pulmonar é resultado de alterações da estrutura distal do bronquíolo terminal, a partir de destruição da parede alveolar e por dilatação dos espaços aéreos, Manoel Almendra – Medicina diminuição do recolhimento elástico e hiperinsuflação pulmonar. (REMOLI, 2021) INFLAMAÇÃO: As células inflamatórias que são recrutadas na DPOC liberam substâncias como elastase, colagenases e produtos oxidantes, que superpostos aos oxidantes inalados da fumaça do cigarro, atuam modificando os componentes da matriz extracelular. Assim, o pulmão adquire um novo modelo, deformado (estiramento e desaparecimento dos tabiques alveolares formando espaços aéreos maiores e compressões brônquicas associadas a áreas de hiperinsuflação), irreversível e que leva ao prejuízo de uma das mais primitivas funções da vida, que é o próprio ato respiratório. (RUFINO e COSTA, 2013) LESÕES ESTRUTURAIS: O mecanismo inflamatório da DPOC envolve diferentes células, interleucinas e produtos oxidantes que formam um caldo inflamatório e oxidativo que se relaciona com a matriz extracelular, modificando o arranjo da estrutura pulmonar e de seus componentes, como as fibras elásticas e o músculo bronquiolar. (RUFINO e COSTA, 2013). As alterações patológicas predominantes da DPOC são encontradas nas vias aéreas, mas também são observadas no parênquima pulmonar e na vasculatura pulmonar. Vias aéreas - Anormalidades das vias aéreas na DPOC incluem inflamação crônica, aumento do número de células caliciformes, hiperplasia da glândula mucosa, fibrose, estreitamento e redução do número de pequenas vias aéreas e colapso das vias aéreas devido à perda de amarração causada pela destruição da parede alveolar no enfisema. Entre os pacientes com bronquite crônica que apresentam hipersecreção de muco, um número aumentado de células caliciformes e glândulas submucosas aumentadas são tipicamente observados. A inflamação crônica na bronquite crônica e enfisema é caracterizada pela presença de linfócitos T CD8 +, neutrófilos e monócitos / macrófagos CD68 +. Manoel Almendra – Medicina Parênquima pulmonar - o enfisema afeta as estruturas distais ao bronquíolo terminal, consistindo nos bronquíolos respiratórios, ductos alveolares, sacos alveolares e alvéolos, conhecidos coletivamente como ácino. Essas estruturas, em combinação com seus capilares e interstício associados, formam o parênquima pulmonar. A parte do ácino que é afetada pela dilatação ou destruição permanente determina o subtipo de enfisema. O enfisema acinar proximal (também conhecido como centrolobular) refere- se à dilatação ou destruição anormal do bronquíolo respiratório, a porção central do ácino. É comumente associada ao tabagismo, mas também pode ser observada na pneumoconiose dos trabalhadores do carvão. Enfisema panacinar refere-se ao aumento ou destruição de todas as partes do ácino. O enfisema panacinar difuso é mais comumente associado à deficiência de alfa-1 antitripsina, embora possa ser observado em combinação com o enfisema proximal em fumantes. Enfisema acinar distal (também conhecido como paraseptal), os ductos alveolares são predominantemente afetados. O enfisema acinar distal pode ocorrer sozinho ou em combinação com enfisema acinar proximal e panacinar. Quando ocorre isoladamente, a associação usual é pneumotórax espontâneo em um adulto jovem. (HAN, DRANSFIELD, MARTINEZ, 2020) MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS: Dispneia em repouso ou ao esforço, tosse com ou sem produção de expectoração, limitação progressiva da atividade. (HAN, DRANSFIELD, MARTINEZ, 2020) Manoel Almendra – Medicina COMPLICAÇÕES: A DPOC, em alguns casos, pode evoluir para pneumonia, tuberculose, neoplasias, pneumotórax entre outras complicações, mas essas são as principais. DIAGNÓSTICO: As manifestações clínicas são sugestivas para o diagnóstico de DPOC, principalmente se houver histórica clínica indicativa de DPOC. Mas o diagnóstico é confirmado por meio de espirometria - demonstra limitação do fluxo de ar- e ausência de uma explicação alternativa para os sintomas e limitação do fluxo de ar. (HAN, DRANSFIELD, MARTINEZ, 2020) Além disso, pode-se solicitar também outros exames que podem contribuir para o diagnóstico de DPOC, como Raio-X de tórax (PA e perfil), ECG, Tomografia Computadorizada – avaliação do parênquima pulmonar. (MARCHIORI et al, 2010) Sinais radiográficos: hiperinsuflação, retificação do diafragma, aumento do espaço aéreo retroesternal, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, costelas amplamente espaçadas, formações bolhosas, achados vasculares (escassez de vasos sanguíneos, hipertensão arterial pulmonar – aumento do calibre das artérias centrais e aumento de VD) Manoel Almendra – Medicina DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: Entre os pacientes que apresentam dispneia, tosse e produção de expectoração na meia idade ou mais tardiamente, o diagnóstico diferencial é amplo, como insuficiência cardíaca, DPOC, doença pulmonar intersticial, doença tromboembólica, asma obstrutiva crônica, bronquite crônica com espirometria normal, obstrução das vias aéreas, bronquiectasia, tuberculose, entre outras. (HAN, DRANSFIELD, MARTINEZ, 2020) TRATAMENTO: Oxigenioterapia: O objetivo da oxigenoterapia é manter a PaO2 > 60mmHg e a SpO2 > 90%, para prevenir a hipóxia tecidual e preservar a oxigenação celular. A oxigenoterapia é fundamental no tratamento hospitalar de exacerbações da DPOC. Uma vez iniciada a suplementação de oxigênio, deve-se realizar gasometria arterial 30-60 minutos após, para garantir oxigenação satisfatória sem retenção de CO2 ou acidose Terapia broncodilatadora: Os β2- agonistas de curta duração são geralmente os broncodilatadores preferidos para tratamento das exacerbações da DPOC. Os broncodilatadores aqui considerados serão os β2 de curta duração(salbutamol, fenoterol e terbutalino) e o anticolinérgico. Os β2 de curta duração por via inalatória são considerados como a medicação broncodilatadora de escolha para tratamento das agudizações da DPOC. Corticoide sistêmico: Os corticoides sistêmicos, por via oral ou intravenosa, são benéficos no tratamento de exacerbações da DPOC. Eles diminuem o tempo de recuperação, melhoram a função pulmonar (VEF1), melhoram a hipoxemia (PaO2) mais rapidamente e podem reduzir o risco de recaída precoce, as falhas no tratamento e a duração de internação. Antibioticoterapia: Segundo o GOLD, o tratamento antimicrobiano deve ser administrado quando: 1) Pacientes com os três sintomas: aumento da dispneia, aumento no volume do escarro e aumento Manoel Almendra – Medicina da purulência do escarro. 2) Pacientes com pelo menos dois dos sintomas acima, se pelo menos um deles for aumento da purulência do escarro. 3) Paciente com exacerbação grave que requer ventilação mecânica (invasiva ou não invasiva). (MARCHIORI et al, 2010) PREVENÇÃO: Deve-se adotar algumas medidas para prevenir a DPOC, como cessação do tabagismo, vacinação contra a gripe sazonal, contra o COVID e pneumocócica. Além de realizar reabilitação pulmonar, exercício físico, suplementação de Vitamina D, entre outros. (STOLLER, 2021) Para a prevenção das exacerbações da DPOC, o essencial e primordial é a cessação do tabagismo, com o uso de terapias comportamentais, medicações (bupropiona) ou terapias de reposição de nicotina (goma de mascar, adesivos transdérmicos de nicotina) que auxiliem o doente na luta contra o vício. O uso da oxigenoterapia evita o desenvolvimento de hipertensão arterial pulmonar e cor pulmonale. Educação e reabilitação pulmonar com fisioterapia respiratória também previnem exacerbações da doença. Já foi comprovado que o uso de algumas medicações na fase estável da doença, como os β2 agonistas de longa duração, os anticolinérgicos de longa duração e os corticoides inalatórios isoladamente ou em associação com os β2 agonistas de longa duração (3), associa- se à redução das exacerbações. (MARCHIORI et al, 2010). REFERÊNCIAS: - HAN, M. K., DRANSFIELD, M. T., MARTINEZ, F. J. Chronic obstructive pulmonary disease: Definition, clinical manifestations, diagnosis, and staging. UpToDate. 2020. - MARCHIORI, Roseane Cardoso et al. Diagnóstico e tratamento da DPOC exacerbada na emergência. Rev AMRIGS, v. 54, n. 2, p. 214-23, 2010. - REMOLI, Beatriz. Classificação e quantificação das diferentes formas da dpoc pela tc de tórax. 2021. - RUFINO, Rogério; COSTA, Cláudia H. da. Etiopatogenia da DPOC. Pulmão RJ, v. 22, n. 2, p. 9-14, 2013. - STOLLER, J. K., COPD exacerbations: Prognosis, discharge planning, and prevention. UpToDate. 2021.
Compartilhar