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1 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO DPOC Definição Doenças pulmonares obstrutivas são entidades clinicopatológicas que têm em comum obstrução crônica ao fluxo aéreo, em qualquer nível da árvore respiratória. Condição que é caracterizada pela progressiva obstrução ao fluxo de ar, em grande parte irreversível, normalmente com aparecimento clínico em pessoas de meia- idade ou idosos com um histórico de consumo de cigarros. A obstrução ao fluxo é em geral progressiva, embora parcialmente reversível, e pode se acompanhar de hiper-reatividade das vias aéreas. Comumente os termos usados para esta condição no passado incluíam bronquite crônica e enfisema. A bronquite causa estreitamento e obstrução da luz de pequenas vias aéreas, enquanto o enfisema é responsável por destruição de septos alveolares e perda do recolhimento elástico pulmonar. A consequência funcional em ambas as doenças é, pois, limitação ao fluxo aéreo. O enfisema é definido patologicamente pelo aumento anormal dos espaços aéreos, devido à destruição e deformação das paredes alveolares. A bronquite crônica é definida clinicamente como tosse persistente e produção de expectoração e patologicamente como o alargamento anormal das glândulas mucosas no seio da vias aéreas centrais cartilaginosas. Fatores de risco Tabagismo, inclusive fumo passivo; Poluição; Alérgenos variados; Agentes ocupacionais; Estados pós-infecciosos; Genética: Está relacionado a uma grave deficiência de α1-antitripsina; Idade: Normalmente, a DPOC aparece em pessoas de meia-idade ou idosos; Poluição do ar intradomiciliar: Lenha, excremento animal, resíduos de colheita e carvão incinerados em locais abertos ou em fogões com mau funcionamento; Poluição do ar exterior: Altos níveis de poluição do ar urbano são perigosos para indivíduos com doenças cardíacas e pulmonares; Infecções respiratórias: Uma história de grave infecção respiratória na infância tem sido associada com redução da função pulmonar e aumento de sintomas respiratórios no adulto. Estresse oxidativo: Quando o equilíbrio entre oxidantes e antioxidantes se desloca a favor dos oxidantes – um excesso de oxidantes e/ou um esgotamento de antioxidantes – ocorre o estresse oxidativo. Este, além de produzir efeitos 2 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO prejudiciais diretos nos pulmões, também ativa mecanismos moleculares que iniciam as inflamações pulmonares. Fisiopatologia Bronquite crônica: Definida clinicamente como tosse persistente com produção excessiva de muco na maioria dos dias de um período de três meses, por pelo menos dois anos consecutivos. Tosse e expectoração são caracteristicamente mais intensas pela manhã e nos meses de inverno. (Indivíduos com tosse produtiva sem sinais de obstrução ao fluxo aéreo apresentam bronquite crônica simples). Etiopatogenese: causada pela exposição prolongada a agentes irritantes inalados, sobretudo produtos do tabaco (a grande maioria dos bronquíticos crônicos é fumante), além de poluentes atmosféricos. Inflamação das vias aéreas e do parênquima pulmonar secundária a esses agentes é a grande responsável pelas alterações estruturais, clínicas e funcionais observadas nos doentes. Os principais achados que caracterizam o processo inflamatório na bronquite crônica são descritos a seguir: ↑ de linfócitos T (principalmente CD8+) : estão relacionados à lesão do parênquima pulmonar e ao recrutamento de neutrófilos. Nos pacientes com bronquite crônica, o número de linfócitos T CD8+ nas vias aéreas mostra relação inversa com o FEV1 (volume expiratório forçado no primeiro segundo) ↑ macrófagos: liberam mediadores ( TNF-α, IL-8 e LTB4 ) que induzem a quimiotaxia de neutrófilos. ↑ neutrófilos: libera elastase, que contribui para a hipersecreção brônquica. Células epiteliais: liberam mediadores que participam do recrutamento e adesão de neutrófilos. Esse estado de inflamação resulta em: Lesão crônica do epitélio respiratório, com perda de células ciliadas e metaplasia mucosa e/ou escamosa, além das alterações reológicas do muco, comprometem significativamente os mecanismos de clearance ciliar, o que favorece infecções. Além de tosse e hipersecreção de muco, que são constantes na bronquite crônica, outras manifestações aparecem com a continuidade do hábito de fumar, como dispneia, hipercapnia, hipoxemia e cianose. Hipertensão pulmonar, cor pulmonale e insuficiência cardíaca direita são complicações tardias da bronquite crônica. 3 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO Enfisema pulmonar: Definido como o aumento anormal e permanente do tamanho dos ácinos pulmonares associado a destruição dos septos alveolares, sem fibrose evidente. De acordo com a distribuição anatômica das lesões, o enfisema é classificado em quatro tipos: centroacinar ou centrolobular, pan-acinar ou panlobular, parasseptal e irregular. 1. No enfisema centroacinar ou centrolobular, comumente associado ao hábito de fumar e à bronquite crônica, a porção central do ácino pulmonar, junto ao bronquíolo respiratório, está acometida, poupando os alvéolos distais. 2. No enfisema pan-acinar ou panlobular, geralmente relacionado à deficiência da α1-antitriprisina, todo o ácino está aumentado, tornando difícil a distinção entre alvéolos e ductos alveolares. As lesões são mais graves nas bases pulmonares. 3. O enfisema parasseptal ou acinar distal acomete a porção distal do ácino. É mais comum nas regiões superiores do pulmão e surge em áreas adjacentes a fibrose, cicatrizes ou atelectasia. Este enfisema é causa frequente de pneumotórax espontâneo em indivíduos jovens. 4. O enfisema irregular ou paracicatricial, muitas vezes assintomático, envolve o ácino de forma irregular e está associado a cicatrizes de processos inflamatórios antigos. A teoria mais aceita para a patogênese do enfisema é o mecanismo protease- antiprotease, segundo a qual o enfisema resulta do desbalanço entre proteases e antiproteases, com predomínio de proteases, o que resulta em destruição dos septos alveolares: Agentes irritantes estimulam uma reação inflamatória local, que envolve o recrutamento de neutrófilos. Estes, junto com os macrófagos, são os principais produtores de enzimas proteolíticas no trato respiratório baixo; Macrófagos produzem metaloelastases e neutrófilos serinoelastases. Essas enzimas causam destruição da elastina e, consequentemente, dos septos interalveolares; Além disso, agentes oxidantes (radicais livres de O2) liberados no processo inflamatório inativam as anti-proteases (principal: α1-antitripsina) e com isso, aumentam a atividade das proteases. Esse processo leva à: Dilatação permanente dos alvéolos, sacos e ductos alveolares Perda da elasticidade pulmonar (o que ↑ o volume residual) Redução do leito capilar (por destruição dos septos) Redução da superfície de trocas (provocando dispneia) 4 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO No fluido que reveste o epitélio respiratório, existem várias antiproteases. A mais abundante é a α1-antitripsina (α1-AT), que possui a maior atividade antielastase no parênquima pulmonar. Por essa razão, deficiência da α1-AT pode resultar em enfisema. Os mecanismos principais de ação do fumo no desenvolvimento do enfisema envolvem atividade de células inflamatórias e ação lesiva de agentes oxidantes. No parênquima pulmonar de fumantes, encontra-se maior número de neutrófilos e macrófagos alveolares. O fumo, portanto, atua por aumentar as proteases e reduzir a atividade das antiproteases. Portanto, o enfisema pulmonar parecer resultar da interação de fatores constitucionais (deficiência de α1-AT) e ambientais (fumo e outros irritantes da mucosa respiratória), que atuam sinergicamente e levam à destruição tecidual característica da doença. No enfisema, o tórax fica fixadoem posição inspiratória, com aumento do diâmetro anteroposterior (tórax em tonel). As costelas acham-se levantadas, os espaços intercostais estão alargados e a cúpula diafragmática encontra-se abaixada, em posição inspiratória. As repercussões fisiopatológicas do enfisema relacionam-se a alterações da função respiratória e da circulação pulmonar. A insuficiência respiratória é provocada por: 1) redução do fluxo aéreo, sobretudo na expiração, por causa da obstrução de bronquíolos e da diminuição da elasticidade pulmonar causada pela perda do componente elástico dos septos alveolares; 2) dificuldade de acesso do ar inspirado às paredes alveolares, pelo aumento do ar residual; 3) redução da superfície de trocas pela destruição dos septos alveolares. Por causa da redução do leito capilar (pela destruição septal), da compressão dos capilares septais pelo aumento do ar residual e da vasoconstrição arteriolar decorrente da hipóxia e hipercapnia, pode haver hipertensão pulmonar. Em consequência de tudo isso, as manifestações clínicas principais do enfisema são dispneia, tosse, chiado e sobrecarga do coração (cor pulmonale). Caracteristicamente, os pacientes apresentam expiração forçada e prolongada, tórax em tonel e emagrecimento. Resumindo: Inflamação causa: (1) Lesão das pequenas vias respiratórias, remodelamento das vias aéreas → bronquite → aumenta a resistência das vias respiratórias. (2) Destruição do parênquima, perda do acoplamento alveolar, diminuição do recolhimento elástico → enfisema → causa fechamento precoce das pequenas vias respiratórias durante a expiração. Resultado: obstrução das vias respiratórias → DPOC 5 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO Manifestações clinicas da DPOC Tosse Produção de escarro (expectoração) Dispneia aos esforços. Também ocorrem episódios de piora aguda desses sintomas (exacerbações). Exame físico (casos graves): tórax em formato de barril, diafragma rebaixado, fase expiratória prolongada, uso de musculatura acessória da respiração, sons respiratórios diminuídos ou uma variedade de roncos, sibilos e estertores. As bulhas são normalmente hipofonéticas DPOC avançada podem ser caquéticos, com perda de massa muscular e de gordura subcutânea. Diagnostico Clínico: Paciente com dispneia (progressiva, piora com exercício físico, persistente), tosse crônica (intermitente e pode ser seca) ou produção de muco, e/ou uma historia de exposições a fatores de risco para a doença (principalmente fumaça de tabaco, poeiras e produtos químicos ocupacionais, fumaça proveniente de fogão à lenha). OBS: Para avaliação da dispneia pode-se utilizar: - Escala mMRC: avalia intensidade da dispneia, varia de zero a quatro. Considerar se a pontuação for ≥ 2. - Questionário COPD Assessment Test (CAT): Mede o impacto da DPOC na qualidade de vida. Considerar se pontuaçao for ≥ 10. 6 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO O diagnóstico deve ser confirmado por meio da espirometria: VEF1/CVF < 70% (pós broncodilatador) = confirma diagnóstico de DPOC Diagnóstico diferencial Asma, insuficiência cardíaca congestiva, bronquiectasia, tuberculose, bronquiolite obliterante. Testes adicionais Radiografia do tórax: É valioso para excluir diagnósticos alternativos e estabelecer a presença de comorbidades significantes como insuficiência cardíaca. Tomografia computadorizada de tórax: Não é recomendada de rotina. Pode ser útil no diagnóstico diferencial. Além disso, se um procedimento cirúrgico for considerado, a TC é necessária para avaliar a distribuição do enfisema. Gasometria arterial: Deve ser realizado em pacientes estáveis que possuam VEF1 < 50% do previsto ou com sinais clínicos sugestivos de insuficiência respiratória ou falência ventricular direita. Uma maneira útil de selecionar pacientes para gasometria arterial é medir a oximetria de pulso e indicá-la aos pacientes que tiver SaO2 < 88%. Resultado da Gasometria Arterial: PaO2 ≤ 55mmHg ou SaO2 ≤ 88% : indica-se oxigenioterapia PaO2: 55mmHg – 60mmHg + hipertensão pulmonar|ICC|policitemia: indica-se oxigenioterapia 7 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO Tratamento 1. Não farmacológico: Cessação do tabagismo e redução da exposição aos agentes irritantes. Imunizações: A vacinação anual para influenza é recomendada para todos os pacientes com DPOC, visto que reduz a hospitalização e a mortalidade. Também recomenda-se anti-pneumocócica. A vacinação diminui a morbidade e mortalidade da doença. Reabilitação pulmonar: Fisioterapia para aumentar da tolerância ao exercício. 2. Farmacológico O tratamento medicamentoso é feito com base nos grupos de gravidade, que variam de A a D, definidos pela avaliação do doente, com base nos sintomas (através de questionário CAT ou mMRC) e o número de exacerbações. 8 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO Avaliação do tratamento: Tratamento das exacerbações: Leve: resolve apenas com broncodilatadores. Moderada: necessita de corticoide sistêmico. Grave: há necessidade de hospitalização, mesmo que apenas na emergência. Baseado em: 1) Broncodilatadores de curta ação (β2-agonistas) com ou sem um anticolinérgico. Preferir a nebulização. 2) Corticoide sistêmico (prednisolona 40mg/dia) durante 5-7 dias. 3) Antibióticos para os doentes com mudança na quantidade e/ou aspecto das secreções, bem como naqueles com quadro grave com indicação para ventilação mecânica. Duração: 5-7dias. (Geralmente o tratamento inicial consiste em: amoxilina+ clavulanato, macrolídeos ou tetraciclinas). 4) Ventilação não-invasiva. Oxigênio necessário para manter uma saturação > 92- 94%. 5) Ventilações invasivas. 6) Opções cirúrgicas: Cirurgia de redução do volume pulmonar e transplante de pulmão: podem ser feitas em pacientes gravemente incapacitados pela DPOC e que não possuem morbidades. Broncodilatadores: São medicamentos que aumentam o VEF1 ou modificam outras variáveis espirométricas, geralmente por ação no tônus da musculatura das vias aéreas. Utilizados para alívio dos sintomas. Incluem: agonistas β2- 9 Julia Florenzano Soares – GT2 PNEUMO adrenérgicos de ação curta (salbutamol) e de ação longa (salmeterol, formoterol), anticolinérgicos (brometo de ipratrópio, tiotrópio), teofilina (entrando em desuso). A terapia broncodilatadora combinada é melhor que qualquer um dos dois separado. Corticosteroides: O inalado produz melhora na função pulmonar e do estado de saúde respiratória do paciente com DPOC. Corticosteroide inalado combinado com β2-agonista de ação longa inalatório fornece benefício adicional sobre o da monoterapia. Também pode ser prescrito o corticosteroide sistêmico. Oxigênio-terapia: é indicada geralmente no estágio III (DPOC grave), para pacientes que possuem: Saturação periférica de O2 (SPO2) < 88% ou pacientes com gasometria arterial (PaO2) < 55mmHg, ou em pacientes com presença de insuficiência respiratória crônica (hipertensão pulmonar, edema periférico, policitemia) + SPO2 entre 88 e 92% ou pacientes com gasometria entre 55 e 60mmHg.
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