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Ambulatório - Labirintopatias Crise vertiginosa A tontura que se apresenta clinicamente de forma súbita e intensa é denominada vertigem aguda ou crise vertiginosa. Geralmente é um sintoma que indica uma inade-quação funcional entre os sistemas vestibular, visual e somatossensorial. Pode ser um sintoma induzido por uma estimulação fisiológica sobre o sistema sensoriomotor in-tacto (tontura do movimento ou das alturas) ou por uma disfunção em algum dos sistemas envolvidos com o equilíbrio corpóreo, especialmente o sistema vestibular. A crise vertiginosa pode ser única ou recorrente, de curta ou de longa duração (dias), dependendo da causa e do grau de compensação vestibular alcançado pelo paciente. Na vertigem aguda ou crise vertiginosa, a tontura apresenta-se intensa, de caráter rotatório, acompanhada de manifestações neurovegetativas (mal-estar, náusea, vômito, palidez, taquicardia, sudorese), nistagmo espontâneo e alteração do equilíbrio corpó-reo. Pode representar uma situação clínica bastante desconfortável para o paciente e seus familiares, em razão do intenso mal-estar provocado pela tontura/vertigem, pelas manifestações neurovegetativas e pela alteração do equilíbrio corpóreo. Nessa fase, o paciente costuma apresentar-se ansioso e preocupado em relação à gravidade da sua doença e à incapacitação física que pode desenvolver. O paciente pode ter a sensação de morte iminente e procurar serviço de emergência médica por achar que está apresen-tando um infarto do miocárdio ou acidente vascular encefálico. Os quadros vestibulares periféricos agudos costumam ser ricos em sinais e sinto-mas, com a presença de tontura associada às manifestações neurovegetativas, por ve-zes intensas, nistagmo espontâneo e nistagmo semiespontâneo que se intensificam ao olhar em direção ao lado comprometido (lei de Alexander). Geralmente, o nistagmo tem direção horizontal ou horizontorrotatória. A presença de sintomas auditivos é mais comum nos quadros vestibulares periféricos do que nos centrais, porque há maior inti-midade anatomofuncional entre os sistemas auditivo e vestibular nas regiões da orelha interna e conduto auditivo interno. Os quadros vestibulares centrais agudos manifestam-se, na maioria das vezes, com tontura inespecífica (sensação de desequilíbrio), de fraca intensidade, sem manifesta-ções neurovegetativas ou auditivas. O nistagmo espontâneo pode apresentar direção horizontal, vertical ou oblíqua. Outros sinais neurológicos podem estar presentes (sín-cope, alteração de pares cranianos e/ou da função cerebelar, paresias, plegias, parestesias etc.), facilitando o diagnóstico topográfico da lesão. Alguns quadros centrais podem mimetizar quadros periféricos, dificultando o diagnóstico. O médico deve valorizar a história clínica, os antecedentes pessoais e todos os achados do exame físico. Na lesão vestibular aguda unilateral, o paciente apresenta vertigem geralmente inten-sa, mesmo em repouso, decorrente da assimetria de atividade neural nos núcleos vesti-bulares provocada pelas diferenças de funcionamento entre os lados direito e esquerdo do sistema vestibular. O paciente apresenta piora dos sintomas vertiginosos durante o movimento da cabeça e/ou do corpo e desequilíbrio para deambular, que pode ser in-tenso. Os sinais clínicos dessa assimetria da função vestibular são nistagmo espontâneo, inclinação cefálica, torção ocular, inclinação corpórea, desvio da marcha, desequilíbrio e queda. Nessa fase, o paciente pode apresentar nistagmo após a agitação da cabeça e um sinal ao teste de impulso cefálico (após uma rotação cefálica horizontal imprevisível na direção do labirinto lesado, ocorre o aparecimento de uma sacada de compensação na direção oposta). Na lesão vestibular aguda bilateral assimétrica, os principais sintomas estão relacio-nados ao equilíbrio corpórea e à marcha. Além da sensação de desequilíbrio ao deam-bular, pode ocorrer dificuldade de estabilização do campo visual (oscilopsia) durante o movimento cefálico. Os pacientes habitualmente têm sensação de tontura, que aumenta drasticamente com o movimento corpóreo e diminui ou desaparece quando estão sen-tados, deitados ou com a cabeça apoiada. Na lesão vestibular bilateral simétrica, não há vertigem típica ou nistagmo espontâ-neo. Os sinais clínicos mais evidentes são encontrados nos testes de Romberg, Romberg sensibilizado e prova de Unterberger-Fukuda, nos quais os pacientes apresentam equi-líbrio corpóreo bastante alterado com os olhos fechados Doença de Ménière A crise vertiginosa da doença de Ménière geralmente manifesta-se como uma afecção cocleovestibular unilateral, em que o sintoma inicial costuma ser uma plenitude aural, seguida de diminuição da audição, zumbido e vertigem, além de desequilíbrio corpóreo, náuseas e vômitos.4 A vertigem pode persistir por horas e a maior parte dos sintomas vai diminuindo gradualmente, até desaparecer em alguns dias. O nistagmo espontâneo está presente na crise aguda e é mais comumente observado batendo em direção à orelha sã. As crises podem ocorrer tanto durante o dia quanto à noite, inclusive durante o sono e, nestes casos, os pacientes são despertados por vertigem e mal- estar. Com a evolução clínica, a afecção tende a tornar-se bilateral em pelo menos 50% dos casos.1 A sensação de instabilidade corpórea pode persistir por alguns dias ou semanas. Pode não haver recuperação total do equilíbrio existente na fase pré-crise, dependendo do estágio da doença. Além disso, a perda auditiva e o zumbido que, em geral, são in-termitentes nas fases iniciais, podem tornar-se permanentes com a evolução da doença de Ménière. Os sintomas auditivos precedendo as crises vertiginosas são denominados aura ou pródromo, mas nem sempre estão presentes. Esses sintomas sinalizam o início da crise, possibilitando a instituição precoce de medicação antivertiginosa. Há quadros atípicos que podem apresentar manifestações monossintomáticas, com sintomas exclusivamen-te vestibulares ou exclusivamente auditivos, provavelmente pelo fato de a hidropisia endolinfática predominar ou limitar-se a determinadas regiões do labirinto anterior ou posterior, mais comuns nos estágios iniciais da doença de Ménière. Vertigem postural paroxística benigna A vertigem postural paroxística benigna (VPPB), considerada uma das vestibulopa-tias periféricas mais comuns, pode acometer indivíduos em todas as idades, sobretudo adultos e idosos, sendo pouco frequente em crianças. Caracteriza-se tipicamente por crise de vertigem súbita e recorrente, desencadeada pelo movimento da cabeça ou do corpo, com duração de segundos a minutos, podendo ser acompanhada de náuseas, vômitos, pa-lidez e sudorese. São encontrados também sintomas atípicos, como tontura não rotatória à mudança de posição da cabeça ou do corpo, mal-estar ou náuseas posicionais. Após a crise de vertigem, podem persistir tontura não rotatória, desequilíbrio, náusea, oscilopsia, entre outros sintomas. A crise de VPPB não se acompanha de sintomas auditivos, porém o paciente pode referir hipoacusia, plenitude aural ou zumbido, quando a afecção estiver associada a outras vestibulopatias (doença de Ménière, vestibulopatia de origem metabó-lica ou hormonal, migrânea e insuficiência vertebrobasilar). Na VPPB, partículas de carbonato de cálcio provenientes da mácula utricular flutuam livremente no ducto semicircular (ductolitíase) ou encontram-se aderidas à cúpula da ampola (cupulolitíase), o que promove alteração na densidade da endolinfa e leva à verti-gem pela movimentação cefálica. Pode acometer qualquer canal semicircular, mas o pos-terior é o mais afetado, provavelmente pela posição mais inferior (ação da gravidade).5O nistagmo de posicionamento pode estar presente nas síndromes vestibulares centrais. Alguns aspectos são importantes para diferenciar nistagmo de posicionamento periférico do nistagmo de posicionamento central: latência, duração, direção do nistag-mo, fatigabilidade, velocidade crescente- decrescente e presença de vertigem concomi- tante. Na VPPB típica, verifica-se latência entre o posicionamento da cabeça e o apareci-mento da vertigem e do nistagmo; a vertigem e o nistagmo diminuem gradualmente de intensidade após alguns segundos; há diminuição da intensidade ou desaparecimento do nistagmo e da vertigem com a repetição da manobra. A vertigem é a característica mais importante da VPPB. É desencadeada pela mu-dança na posição da cabeça, tem curta duração, é de intensidade variável e acompa-nhada por sintomas neurovegetativos. A maioria dos pacientes a descreve com dura-ção de segundos, intensidade acentuada e com frequência diária (Figuras 34.3 a 34.5), ocorrendo sobretudo no período matinal. Em ordem decrescente de ocorrência, os principais movimentos provocadores da vertigem são: levantar da posição deitada (82,8%), modificar a posição da cabeça quando deitado na cama (78,5%), deitar-se (75,3%), hiperextensão cervical (69,9%), girar a cabeça (55,9%) e levantar-se da po-sição sentada. Três formas de VPPB são descritas de acordo com o tempo da evolução clínica e o padrão de recorrência: autolimitada, recorrente ou persistente. Na forma autolimitada, os sintomas desaparecem em semanas ou meses. Na forma recorrente, os pacientes apre-sentam crises vertiginosas intercaladas por intervalos assintomáticos. Na forma persisten-te, os sintomas não desaparecem em um período de pelo menos 1 ano.15 Neurite vestibular Vertigem intensa e súbita, com duração de dias, semanas e até meses. Caracteriza-se por alteração vestibular que se manifesta com vertigem intensa e de longa duração (maior que 24 horas), de episódio único, sem sinais e sintomas auditivos ou neurológicos e sem doença da orelha média. A neurite vestibular manifesta-se como crise vertiginosa prolongada com duração de dias e intensa, associada a nistagmo espontâneo horizontorrotatório, desequilíbrio postural, náuseas e vômitos, sem sintomas auditivos ou neurológicos associados. O paciente tende a cair para o lado da orelha lesada e apresenta grande dificuldade para ficar em pé ou caminhar. Inicialmente, as tonturas são constantes e, após alguns dias, com a melhora do quadro, passam a ser precipitadas sobretudo pela movimentação rápida da cabeça.1,2 A neurite vestibular também pode ser referida como vertigem epidêmica, labirintite aguda, para-lisia vestibular, neuropatia vestibular, neuronite vestibular e, ainda, vertigem epidêmica da infância, quando mais raramente acomete crianças A vertigem e os sintomas neurovegetativos são intensos nos primeiros dias, o que obriga o paciente a permanecer acamado por um ou mais dias. Nesse período, é possí-vel detectar o nistagmo espontâneo na direção contrária ao lado lesado, que é melhor observado com lentes de Frenzel. A sensação inicial da rotação também ocorre em dire-ção contrária à lesão, enquanto a torção ocular e a desestabilização corpórea (presença de queda ao teste de Romberg) ocorrem em direção ao lado lesado. Após 3 a 5 dias do início da crise, o nistagmo espontâneo tende a ser suprimido pela fixação ocular, mas, dependendo do grau de acometimento do nervo, pode permanecer por 2 a 3 semanas e ser visualizado com as lentes de Frenzel ou com o desvio do olhar para o lado contrário à lesão. Após 1 a 6 semanas, os pacientes geralmente estão livres dos sintomas, pois recu-peram a função vestibular pelo mecanismo de compensação central e pela realização de exercícios de reabilitação. Nos pacientes em que a função vestibular não foi totalmente restabelecida, pode ocorrer oscilopsia e desequilíbrio com os movimentos rápidos da cabeça.2 Os testes de agitação cefálica e do impulso cefálico encontram-se alterados, o que está frequentemente associado à hipofunção vestibular unilateral. O quadro clínico é caracterizado por: tontura rotatória intensa associada a náusea e vômito; desequilíbrio intenso com tendência à queda para o lado do nervo acometido; nistagmo espontâneo e semiespontâneo na direção contrária ao lado acometido; ausência de sinais e sintomas auditivos; ausência de sinais e sintomas neurológicos. Fístula perilinfática A fístula perilinfática manifesta-se como vertigem aguda, perda auditiva flutuante, zumbido, plenitude aural e distúrbios da marcha e do equilíbrio, por vezes recorrente, que podem durar horas a dias, geralmente desencadeados por situações de transferência de pressão ambiente para a orelha interna. O quadro clínico pode estar limitado exclusivamente às queixas vestibulares ou au-ditivas. A tontura pode ser rotatória, associada a nistagmo espontâneo, ou tontura não rotatória, acompanhada de oscilopsia, sensação de flutuação e marcha atáxica. Alguns pacientes detectam o início da crise por meio da sensação de plenitude aural ou por um estalo percebido na orelha. O barotrauma é a etiologia mais comum da fístula perilinfática, podendo ser de-sencadeado por exercícios físicos, como levantar peso, espirro, viagem para locais de al-titude elevada, manobra de Valsalva, mergulho etc. A fístula perilinfática também pode ser congênita, geralmente associada a malformações da orelha interna, secundária a traumatismo cranioencefálico, trauma otológico com fratura da cápsula ótica, cirurgias otológicas (estapedotomia, mastoidectomia, implante coclear), processo inflamatório com erosão labiríntica (otite média crônica simples ou colesteatomatosa) ou, ainda, espontânea, sem causas aparentes. O barotrauma também pode levar à crise vertiginosa sem causar fístula perilinfática. É decorrente de variações na pressão ambiente, tanto por elevação, como ocorre no mergulho, nas câmaras pressurizadas e nas explosões, como por diminuição, nos voos e câmaras de altitude. Algumas afecções podem alterar o funcionamento da tuba auditiva e predispor ao barotrauma, como resfriado, rinossi-nusite, polipose nasal, tumores nasais, hipertrofia adenoidiana e rinite alérgica. Alguns sinais clínicos são sugestivos, mas não exclusivos da fístula perilinfática e nem sempre estão presentes, como o sinal de Hennebert, fenômeno de Tullio e teste vascular. O sinal de Hennebert é positivo quando, ao se produzir pressão positiva no meato acústico externo com otoscópio pneumático ou à imitanciometria, ocorre desvio ocular, nistagmo, oscilopsia, vertigem ou desequilíbrio. O fenômeno de Tullio está pre-sente quando sintomas vestibulares como vertigem, nistagmo, oscilopsia e desequilíbrio são induzidos pelo som de alta intensidade. O teste vascular para fístula perilinfática é positivo quando, ao se comprimir as veias jugulares, ocorrer nistagmo ou tontura por aumento da pressão intracraniana, que se transfere para o labirinto comprometido. Vertigem pós-trauma cranioencefálico A vertigem pós-trauma cranioencefálico pode ocorrer por vários mecanismos, in-cluindo acidentes automobilísticos, trauma na prática de esportes, quedas, acidentes de trabalho, ferimentos por arma de fogo ou arma branca e contusões. Tontura, cefaleia e desequilíbrio são comuns e podem persistir por meses após o trauma. Pode ocorrer por lesão no labirinto (comoção labiríntica), nervo vestibular ou estruturas encefálicas (micro-hemorragias e alteração na arquitetura neuronal). Secundários ao trauma, po-dem ainda ocorrer VPPB, fístula labiríntica, paralisia facial, perda auditiva neurossenso-rial e/ou condutiva, zumbido, vertigempostural fóbica, síndrome de Ménière, síndrome de Wallenberg (secundária à dissecção de artéria vertebral) e síndrome vestibular central causada por concussão na região dos núcleos vestibulares ou vias vestibulares centrais. A VPPB pós-traumática é a forma de vertigem mais comum após trauma cranioencefálico, podendo manifestar-se dias, semanas ou meses após a injúria e ser uni ou bilateral. Outra forma de apresentação da vertigem pós- trauma cranioencefálico ocorre pelo traumatismo por “chicotada” (whiplash), no qual ocorre lesão na junção cervicocrania-na por aceleração/desaceleração da cabeça no impacto, provocando bruscas hiperfle-xões e/ou hiperextensões cervicais. De acordo com a localização da lesão pós-traumá-tica, são citados quatro tipos de síndrome da chicotada: síndrome cervical, síndrome cervicobraquial, síndrome cervicomedular e síndrome cervicoencefálica. Ototoxicidade A causa tóxica mais comum de vertigem aguda é o álcool etílico. Geralmente, a intoxicação alcoólica aguda causa deficiência labiríntica bilateral, levando a ataxia da marcha, tontura, desequilíbrio e vertigem postural. O efeito de intoxicação com álcool no sistema vestibular ocorre cerca de 30 min após a ingestão, quando níveis de 25 a 40 mg/dL são atingidos. O álcool difunde-se na cúpula e na endolinfa em velocidades diferentes, criando um gradiente de densidade. A cúpula torna-se mais leve do que a endolinfa, tornando-se sensível à gravidade, o que pode alterar os padrões de ativação das células ciliadas e causar vertigem e nistagmo posicionais.1,14 491 Essa fase tem duração de 3 a 4 horas. Após esse período, o álcool difunde-se na endolinfa até que as densidades da cúpula e da endolinfa fiquem iguais; 3 a 5 horas após a interrupção da ingestão de álcool ocorre uma fase livre de sintomas. Após 5 a 10 horas, o álcool difunde-se ainda mais na endolinfa, tornando a cúpula mais pesada e criando novamente um gradiente de densidade. Iniciam- se novamente a vertigem e o nistagmo posicionais, que persistem até que ocorra eliminação de todo o álcool. Nessa fase, pode surgir cinetose.2 Substâncias químicas e alguns medicamentos são conhecidos pelos efeitos ototóxi-cos. O quadro clínico é variável, desde quadros vestibulares agudos intensos a leve dese- quilíbrio, perda de audição e zumbido. Oscilopsia por redução do ganho do reflexo vestí-bulo-ocular bilateral é comum nesses pacientes. As principais drogas vestibulotóxicas são antibióticos, diuréticos com ação na alça de Henle, salicilatos, agentes antimaláricos, an-ticonvulsivantes, anti- heparinizantes, quimioterápicos, betabloqueadores e anfetaminas. Os antibióticos vestibulotóxicos mais comuns pertencem à classe dos aminoglicosídios, como a gentamicina, a estreptomicina e a tobramicina.2 A gentamicina pode levar a perda aguda, bilateral e simétrica da função vestibular, com permanência de sinais e sintomas vestibulares; no entanto, há casos de perda de função vestibular unilateral. Na avaliação da função vestibular, pode haver marcha atáxica, acentuada hipor-reflexia ou arreflexia bilateral à prova calórica e à pesquisa do nistagmo per-rotatório. Menos comuns são os casos de perda de função vestibular unilateral. A avaliação au-ditiva pode demonstrar perda neurossensorial bilateral e simétrica, inicialmente nas frequências agudas e, dependendo do grau de agressão, as demais frequências vão sendo atingidas. A audiometria de altas frequências e as otoemissões acústicas podem ser úteis para detectar o envolvimento precoce do sistema auditivo nos estados de risco para a audição, como na quimioterapia oncológica. Migranea vestibular A migrânea é uma afecção comum; seu sintoma- chave é a cefaleia e frequentemente encontra-se associada à vertigem. Assim, as formas de migrânea que se manifestam com vertigem têm sido referidas como migrânea vestibular (MV), vertigem migranosa ou migrânea associada à vertigem.3 Essa forma de migrânea pode mimetizar várias doen-ças, como ataques isquêmicos transitórios (AIT), crises epilépticas, paroxismia vestibu-lar, doença de Ménière e vertigem postural paroxística benigna (VPPB). A migrânea é uma cefaleia primária, ou seja, não atribuída a outro transtorno. É uma afecção comum, podendo ser até incapacitante. Está incluída na classificação da Sociedade Internacional de Cefaleia (SIC), sendo dividida em dois subtipos: migrânea sem aura e com aura. Enfatizando-se a MV, ressalta-se que se trata de uma síndrome caracterizada pela cefaleia do tipo migrânea, acompanhada de crises de vertigem posicional ou espontânea, com duração de segundos a dias. É considerada a causa mais comum de vertigem espon- tânea recorrente.18,19 Não está atualmente incluída na classificação de migrânea da SIC. ndo a classificação da SIC, a migrânea com aura, mais especificamente o subtipo migrânea do tipo basilar, a vertigem paroxística benigna da infância (VPBI) e o infarto migranoso são os tipos de migrânea que estão envolvidos com fenômenos otoneurológicos,24 como descrito a seguir. Migrânea: migrânea sem aura; migrânea com aura: o aura típica com cefaleia migranosa; o aura típica com cefaleia não migranosa; o aura típica sem cefaleia; o migrânea hemiplégica familiar (MHF) síndromes periódicas da infância comumente precursoras de migrânea: o VPBI; migrânea retiniana; complicações da migrânea: infarto migranoso; provável migrânea. Diagnóstico Na maioria das crises vertiginosas, a história clínica e o exame físico são suficientes para permitir o diagnóstico de um acometimento agudo do sistema vestibular e a locali-zação da afecção (periférica e/ou central). As características da tontura (duração, intensidade, frequência, recorrência, fatores de melhora e piora, fatores desencadeantes, sintomas associa- dos etc.), o interrogatório sobre os diversos aparelhos, os antecedentes pessoais e familiares e os hábitos são fundamentais para direcionar o raciocínio clínico na identificação da causa. O exame físico deve constar da avaliação otorrinolaringológica, que inclui otoscopia, rinoscopia, oroscopia e palpação cervical. Diante de um paciente com crise vertiginosa, o médico deve, também, pesquisar a presença de nistagmo espontâneo, semiespontâ-neo, posicional ou de posicionamento, avaliar equilíbrio estático (prova de Romberg e Romberg sensibilizado), equilíbrio dinâmico (prova de Unterberger-Fukuda e avaliação da marcha), nível de consciência, força muscular, sensibilidade, reflexos neurológicos, pares cranianos e função cerebelar (diadococinesia, metria, marcha). Diagnóstico diferencial: Frente a um paciente com vertigem aguda, o médico deve realizar o diagnóstico diferencial entre causas vestibulares e não vestibulares. Se a suspeita diagnóstica for um distúrbio vestibular, a topografia periférica (labirinto e nervos vestibulares), central (núcleos vestibulares e conexões no SNC) ou mista deve ser identificada, considerando os quadros clínicos mais comuns, descritos anteriormente neste capítulo. O diagnóstico diferencial com causas não vestibulares inclui afecções cardiovasculares, neurológicas, proprioceptivas, visuais e psicogênicas. Exames complementares: audiometria tonal e vocal, impedanciometria, potencial evocado auditivo de tronco encefálico, eletronistagmografia/vectoeletronistagmografia/ videonistagmografia, autorrotação cefálica, posturografia, potencial evocado miogêni-co vestibular e avaliação hematológica – hemograma, glicemia de jejum ou curva gli- coinsulinêmica, dosagensde lipídios, dosagens hormonais (TSH, T4 livre), avaliação das funções renal e hepática, testes sorológicos (VDRL e FTA- ABS) e provas reumato-lógicas.28 Alguns exames de imagem podem ser solicitados, na dependência do quadro clínico, como a RM de encéfalo e conduto auditivo interno, para avaliar a orelha in-terna, conduto auditivo interno, ângulo pontocerebelar, cerebelo, tronco encefálico e hemisférios cerebrais (investigação de inflamações, hemorragias, áreas de infarto ou de desmielinização);29 tomografia computadorizada (TC) de mastoides e crânio para avaliar a cápsula ótica nos quadros de otospongiose, traumas cranioencefálicos, na sus- peita de fístula perilinfática e de quadros isquêmicos centrais;10,30 angiorressonância ou arteriografia das artérias cervicais e intracranianas e/ou ultrassonografia com Doppler das artérias carótidas e vertebrais na suspeita de IVB ou outras afecções vasculares. Tratamento O paciente em crise vertiginosa deve receber suporte médico, muitas vezes em am-biente hospitalar, em razão dos intensos sintomas que o afetam. A vertigem aguda, na maioria das vezes, é acompanhada de sintomas neurovegetativos importantes e, às ve-zes, incapacitantes, constituindo uma situação de urgência médica. O paciente deve ser admitido preferencialmente em ambiente hospitalar, colocado em situação de conforto, iniciando-se as estratégias terapêuticas que incluem acesso venoso, hidratação, repouso e uso de medicação antivertiginosa e antiemética por via parenteral. Nas crises, únicas ou recorrentes, supressores vestibulares e antieméticos para o alívio sintomático mais rápido da vertigem, náuseas e vômitos são fundamentais. Al-guns benzodiazepínicos, anti-histamínicos, anticolinérgicos e antidopaminérgicos são os principais supressores vestibulares e antieméticos28 (Tabela 33.1). Medicamentos por via oral (VO) só podem ser administrados nas crises vertigino-sas nos casos em que o paciente não apresenta vômito. Os benzodiazepínicos atuam no sistema cerebelar gabaérgico, inibindo a resposta do núcleo vestibular. Assim, atuam como supressores vestibulares, além de possuírem efeito ansiolítico. No entanto, se usados por tempo prolongado, podem retardar a com-pensação vestibular, e seu uso deve ser limitado às crises. Em adultos, utiliza-se o dia-zepam na dose de 10 mg, a cada 8 ou 12 horas, por via intramuscular (IM) ou intrave-nosa (IV).28,31 Os efeitos adversos estão relacionados à sua propriedade depressora do SNC, incluindo letargia, sedação excessiva, incoordenação motora, confusão e perda de memória. É contraindicado em gravidez e lactação. Os anti-histamínicos são potentes antivertiginosos e antieméticos, representados pela meclizina (25 e 50 mg), dimenidrinato (100 mg), associação de dimenidrinato (50 mg) e cloridrato de piridoxina (50 mg), prometazina (25 mg), cinarizina (25 e 75 mg) e flunari-zina (10 mg), para emprego VO, na fase aguda, pós-crise e/ou crônica das vestibulopatias. São drogas que antagonizam os receptores de histamina (antagonista H1) periféricos e centrais, inibem o reflexo do vômito, pois bloqueiam o estímulo periférico, principal-mente do sistema vestibular e diminuem a ação da histamina nos núcleos vestibulares. No entanto, deve-se ter cuidado com o uso em pacientes com glaucoma ou doença pros-tática, por seus efeitos anticolinérgicos. Na crise aguda, podem ser usados em associação com benzodiazepínicos, sendo recomendados para adultos e adolescentes a associação de dimenidrinato (30 mg), cloridrato de piridoxina (50 mg), glicose (1.000 mg) e frutose (1.000 mg) por via endovenosa (EV) lenta a cada 4 ou 6 horas, ou a associação de dime-nidrinato (50 mg ) e piridoxina (50 mg), IM; meclizina a cada 6 ou 8 horas, dimenidrinato a cada 6 ou 8 horas; associação de dimenidrinato e cloridrato de piridoxina a cada 6 ou 8 horas; prometazina a cada 12 horas; cinarizina a cada 8 ou 12 horas; e flunarizina (10 mg) a cada 12 ou 24 horas, podendo ser usados quando for possível a administração VO. Para crianças com mais de 30 dias de vida, a dose recomendada de dimenidrinato (associa-do à piridoxina) é de 1,25 mg/kg de peso, IM ou VO, a cada 6 a 8 horas. A prometazina possui efeito anti- histamínico, anticolinérgico e antidopaminérgico, além de propriedade antiemética e ansiolítica.28 Por sua versatilidade de administração e baixa taxa de efeitos extrapiramidais, torna-se bastante efetiva para o tratamento agudo da doença de Ménière na dose de 50 mg, IM, a cada 8 ou 12 horas. Os antidopaminérgicos são representados pela metoclopramida e domperidona. Em baixas doses, levam à vasodilatação renal, mesentérica, coronariana e cerebral. Ini-bem a estimulação dos quimiorreceptores da zona de gatilho e diminuem a ação da serotonina nos núcleos vestibulares. Os quimiorreceptores da zona de gatilho são res-ponsáveis pela estimulação química no centro do vômito. Deve- se ter cuidado com seu uso em altas doses ou por tempo prolongado por causa dos efeitos extrapiramidais e da disfunção endócrina. A metoclopramida pode ser usada na crise vertiginosa por via oral e parenteral, na dose de 10 mg a cada 8 horas para adultos e não deve exceder 0,5 mg/ kg/dia nas crianças, devendo-se iniciar o tratamento com doses mais baixas. Já a dom-peridona pode ser utilizada na dose de 10 mg, VO, 3 vezes/dia (15 a 30 min antes das refeições e ao deitar), para adultos, e de 0,25 mg/kg/dose, 3 vezes/dia, para crianças. A ondansetrona (4 e 8 mg, VO, IM, IV) é um potente antagonista da serotonina, inibindo o reflexo do vômito e a ação da serotonina nos núcleos vestibulares. Em casos de vertigem, náuseas ou vômitos refratários, seu uso é recomendado na dose de 8 mg, IM ou IV, a cada 8 horas.28 Pode ser utilizada em crianças, sendo recomendados 4 mg/dose naquelas acima de 12 anos ou com mais de 40 kg de peso. Nas crianças de 2 a 11 anos, recomenda- se 0,1 mg/kg/dose, 3 vezes/dia. Muitas doenças otoneurológicas apresen-tam tratamentos específicos: doença de Ménière ou hidropisia endolinfática: supressores vestibulares e antieméti-cos.32 usam corticosteroide, VO ou intratimpânico, para diminuir a severidade das crises e promover melhora da audição.33 Em decorrência da teoria imunogênica da doença de Ménière, alguns autores As crises agudas severas da doença de Ménière po- dem ser tratadas com corticosteroide oral (prednisona) por 5 a 14 dias ou IM em dose única (fosfato dissódico de dexametasona – 4 mg, ou a associação de dipropio-nato de betametasona – 5 mg – com fosfato dissódico de betametasona – 2 mg).28 Para a prevenção da crise vertiginosa, a associação de betaistina (24 mg), meclizina (50 mg) e domperidona (20 mg) é efetiva e segura, quando administrada VO, na fase de aura da doença de Ménière;34 neurite vestibular: corticosteroide VO (prednisona) ou IV (metilprednisolona) e antiviral (aciclovir); VPPB: manobras de reposicionamento: manobra de Epley, manobra liberatória de Semont, manobra de Lempert.5 Nos pacientes sem condições clínicas de realizar a manobra terapêutica, a administração prévia (60 min antes da manobra) de cina-rizina (75 mg) ou flunarizina (10 mg) associada à domperidona (10 mg, VO) pode ser útil; quadros associados à migrânea: sumatriptano, VO ou subcutâneo (SC) – 4 mg (abortivo das crises migranosas) ou naratriptano; infarto ou acidente vascular encefálico isquêmico: terapia antiplaquetária; esclerose múltipla: drogas para atenuar o processo inflamatório, como corticoste-roides, imunossupressores, carbamazepina para as crises paroxísticas, reabilitação vestibular, fisioterapia motora e suporte psicológico. Logo após ocontrole da tontura e das manifestações neurovegetativas com a medi- cação via parenteral (VP), os medicamentos podem ser administrados VO. Neste caso, os medicamentos mais utilizados são a meclizina, o dimenidrinato, a cinarizina, a flu-narizina, o clonazepam e a betaistina. A meclizina é eficaz na vertigem aguda e também na fase pós-crise, quando o pa-ciente não apresenta mais o nistagmo espontâneo e as manifestações neurovegetativas, mas permanece com tontura intensa e equilíbrio corpóreo prejudicado, atrapalhando-o na realização das atividades do dia a dia. Pode ser administrado na dose de 25 mg, a cada 6 ou 8 horas, VO. Pode gerar sonolência, geralmente menos intensa que a provocada pelo dimenidrinato. Outras reações adversas incluem secura de vias aéreas superiores e visão borrada. Deve-se ter cautela no uso da meclizina em pacientes com hipertrofia prostática, obstrução gastrointestinal, glaucoma de ângulo fechado e doença pulmonar obstrutiva crônica. Tem sido muito útil na prevenção da tontura intensa e sintomas neurovegetativos durante a realização das manobras terapêuticas da VPPB. Nesses ca-sos, recomenda-se que o paciente comece a fazer uso da meclizina na dose de 25 mg, a cada 8 horas, pelo menos 24 horas antes da manobra terapêutica. O dimenidrinato também pode ser prescrito na dose de 50 mg, VO, a cada 8 horas. A utilização deve ser limitada a poucos dias, para se evitar o retardo da compensação vestibular. A cinarizina e a flunarizina são bloqueadores de canais de cálcio, anti-histamínicos e apresentam ação inibidora colinérgica central e antivasoconstritora nos vasos labirínticos. São mais eficazes na fase pós-crise que na crise propriamente dita, em relação ao controle da tontura. A flunarizina também é utilizada nos casos de migrânea vestibular em adultos e crianças. A cinarizina pode ser administrada na dose de 12,5 ou 25 mg, a cada 8 horas, e a flunarizina, na dose de 5 ou 10 mg/dia. As reações adversas incluem aumento de peso, sonolência, depressão, parkinsonismo, constipação intestinal e alterações hormonais.28 O clonazepam é um benzodiazepínico anticonvulsivante e ansiolítico, inibidor do áci-do gama-aminobutírico nos núcleos vestibulares. Pode ser administrado na dose de 0,25 (SL) ou 0,5 mg (VO), 1 a 2 vezes/dia. A reação adversa mais comum é a sonolência. A betaistina é antagonista potente de receptor H3 e agonista leve de receptor H1. Como antagonista H3, aumenta os neurotransmissores nas terminações nervosas, entre eles a serotonina, que, no tronco encefálico, inibe os núcleos vestibulares. Como agonis-ta H1, provoca vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e aumento do fluxo sanguíneo no labirinto. A betaistina é o medicamento de primeira opção no tratamento da fase pós-crise da doença de Ménière. Esse medicamento permite associação com ou-tros antivertiginosos, o que potencializa o efeito desejado sobre a tontura. Além disso, a betaistina não interfere com o processo de compensação vestibular. Recomenda-se seu uso na dose 16 mg, a cada 8 horas, ou 24 mg, a cada 12 horas. Doses mais elevadas podem ser necessárias em casos refratários a tratamento.36 Os eventos adversos mais comuns são desconforto gástrico e cefaleia. A betaistina deve ser evitada em pacientes com asma brônquica, úlcera péptica e feocromocitoma.28 A recuperação funcional do sistema vestibular ocorre graças à compensação vesti-bular central. As estratégias terapêuticas se baseiam na farmacoterapia e nos exercícios vestibulares que estimulam a compensação central. Os exercícios devem ser iniciados o mais precocemente possível.37 Sendo assim, alguns protocolos de reabilitação vestibular devem ser recomendados na crise vertiginosa, como os exercícios de adaptação do refle-xo vestíbulo-ocular.38 Esses exercícios são fáceis de ser executados pelos pacientes.39 LABIRINTITE Inflamação do labirinto. Vertigem aguda intensa prolonada associada a náuseas, vômitos.
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