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Fichamento A Construcao do Patrimonio

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DISCIPLINA: Memória e Patrimônio Cultura
PROFESSOR(A): Adriana Mortara Almeida
ATIVIDADE: Fichamento (Fonseca, Maria CL. A construção 
do patrimônio)
	ALUNO: Vinícius Rocha Figueiredo
Referência: 
FONSECA, Maria Cecília Londres. A construção do patrimônio: perspectiva histórica. In: ___. O Patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2009. p. 51-78.
---
A questão do patrimônio encontra-se em uma encruzilhada que envolve tanto o papel da memória e da tradição na construção das identidades coletivas, quanto os recursos que os Estados modernos têm recorrido para objetivar e legitimar a ideia de nação. Permeando essas dimensões está a consideração do uso simbólico que diferentes grupos sociais fazem de seus bens quanto a conservação ou destruição, na elaboração das categorias de espaço e tempo.
A civilização ocidental é regulada por duas noções que se articulam nas categorias de tempo e espaço, a noção de história e a de arte. Nesse sentido, os bens que constituem o patrimônio cultural são propostos como marcas do tempo no espaço. A primeira, como reelaboração do passado, a segunda como fruição in praesentia.
O conceito de patrimônio histórico e artístico nacional foi definido no final do século XVIII. Mas foi somente quando o Estado assumiu, em nome do interesse público, a proteção jurídica de determinados bens que passaram a ter a capacidade de simbolizar a nação, que o conceito foi definido.
Os principais valores culturais atribuídos aos bens patrimoniais são o valor artístico e o valor histórico. O Decreto-Lei n.º 25, de 30.11.37, por exemplo, menciona também valores arqueológicos, etnográficos, paisagísticos, etc. Estes, de fato, são tributários das noções de história e arte.
François Choay é o autor de Le Culte moderne des monuments, publicado pela primeira vez em 1903 sob o título Der moderne Denkmalkultus. Ele diz que a percepção da especificidade da questão do valor na abordagem dos bens considerados monumentos históricos e/ou artísticos só se tornou possível a partir de uma postura inovadora. Essa mesma postura se iniciou com Alois Riegl, ligado, assim como Panofsky, Wõlfflin e Gombrich, à iconologia anglo-saxã
Riegl foi capaz de distinguir traços que seriam considerados universais, de formas culturais específicas da civilização ocidental-cristã. É esse olhar distanciado que possibilita a desconstrução das noções de monumento, monumento histórico, preservação e o mapeamento de sua história.
Para Riegl, o ato de erguer monumentos - entendido como uma obra criada pela mão do homem e construído com o objetivo preciso de manter a memória de uma ação ou de um destino sempre presente e vivo na consciência das gerações futuras - pode ser identificado em as épocas mais remotas da humanidade. Segundo Françoise Choay, o monumento é muito semelhante a um universal cultural. Esse tipo de monumento, visando à rememoração celebrativa, é chamado por Riegl monumento "intencional".
Durante a Antiguidade e a Idade Média, este seria o único tipo de monumento conhecido. A partir do Renascimento começou a perder importância, sendo atualmente pouco frequente. O próprio termo monumento mudou de significado e passou a ser entendido como monumento histórico e artístico. Essa atribuição de valor, ao contrário do que acontece com os monumentos intencionais, é a posteriori, e só acontece a partir do momento em que, na cultura ocidental, as noções de arte e história adquirem alguma autonomia. autonomia. No contexto da história, que Le Goff considera "a forma científica da memória coletiva, a noção de monumento passa a ser pensada na sua relação com a noção de documento. 
Também a noção de preservação deve ser entendida nessa dupla dimensão, de invariante de variante cultural. As noções modernas de monumento histórico, de patrimônio e de preservação só começam a ser elaboradas a partir do momento em que surge a ideia de estudar e conservar um edifício pela única razão de que é um testemunho da história e/ou uma obra de arte.
A preservação de monumentos é uma atividade necessariamente seletiva, uma opção constante entre conservar e destruir (ativa ou passiva, no sentido de não impedir a destruição). O processo dessa atribuição de valores será exercido por determinados agentes, e segundo determinados critérios, que orientam, os legitimam e consequentemente, os preservam.
É justamente nesse processo – que tem uma dimensão explícita, regulada, como, no caso do Brasil, a inscrição de bens nos Livros do Tombo, que se refere às relações de poder entre os agentes envolvidos com a preservação. - que se manifestem os conflitos de interesse em causa.
É no sentido de tentar apreender esses focos de conflito, que se manifestam tanto entre os diferentes grupos sociais envolvidos com a questão quanto no interior da atividade institucional, que a autora orienta a análise da prática de preservação exercida no Brasil, em nível federal, nas décadas de 1970-1980, a partir dos trabalhos de Alois Riegl (1984), de André Chastel, Jean-Pierre Babelon (1980) e de Françoise Choay (1992). Os autores chamarão a atenção não apenas para as condições de transformação das noções de monumento histórico, patrimônio e preservação, mas também para as tensões presentes no processo de preservação.
Tanto Riegl quanto Chastel e Babelond detectam o sentimento de piedade religiosa e de devoção às relíquias, característica da civilização europeia, origem do sentimento de apego a bens simbólicos que evocam a ideia de pertencimento a uma comunidade ainda que imaginária.
Na Idade Média, a aristocracia projetava em seus castelos e em outras representações de suas linhagens um sentido de continuidade. Por esse motivo, esses bens também foram objeto de preservação. Esse status atribuído a certos bens materiais implica, como no caso dos bens religiosos, uma forma de propriedade coletiva.
O que chamamos de patrimônio só se constituirá efetivamente como corpus de bens a serem cultuados, preservados e legados a uma coletividade em função de valores leigos. Por outro lado, como mostram Chastel e Babelona, ​​a preservação, embora sentida como uma necessidade por determinados indivíduos ou grupos, manifestou-se até o final do século XVIII, apenas em iniciativas isoladas. formadoras do que chamam o "sentido do patrimônio".
Desde o Renascimento, foi a ideia de nação que veio garantir seu status ideológico. O Estado nacional passou a assegurar através de práticas específicas, a sua preservação. As categorias que vão embasar a constituição do chamado patrimônio histórico e artístico passaram a ser formuladas e aplicadas aos bens.
Era necessário, portanto, que a noção de monumento - em seu sentido moderno - fosse formulada, como monumento histórico e artístico. A noção de patrimônio poderia tornar-se uma categoria socialmente definida, regulada e delimitada, e adquirir o significado de um patrimônio coletivo especificamente cultural.
Françoise Choay considera que o advento deste olhar distanciado e estético, liberto das paixões medievais, ocorre por volta da primeira metade do século XV. Até então, só era possível abordar a cultura antiga, pagã, re-semantizando-a, retraduzindo-a em termos cristãos. Os prédios antigos que não haviam sido destruídos eram reutilizados, ou tinham seus elementos aproveitados em outras construções.
Foi no século XV que ocorreram as primeiras medidas de preservação, realizadas pelos papas através de bulas, visando a proteção de edifícios e brasões antigos. Também nesse momento, no tratamento dos vestígios da antiguidade greco-romana, houve o cruzamento de três discursos: o da perspectiva histórica.
O interesse pelas antiguidades, que então começava a surgir, foi objeto de dois tipos de abordagem: a alfabetizada, pelos humanistas, que as consideravam como ilustrações de textos antigos. A noção de monumento histórico surgiu, portanto, com as antiguidades. A descoberta das antiguidades é também a da arte como atividade autônoma, desvinculada de sua tradicional ligação coma religião cristã.
A atividade dos antiquários desenvolveu-se por toda a Europa, produzindo abundante iconografia e inúmeras coleções. O estilo gótico tornou-se o símbolo das antiguidades nacionais, embora tenha apenas um valor histórico. Já na Grã-Bretanha, devido ao triunfo da Reforma e à penetração tardia do estilo italiano na arquitetura, esse estilo ainda estava vivo.
A trajetória da pesquisa antiquária pode ser exemplificada seguindo o trabalho de Montfaucon. Na Inglaterra, esse tipo de atividade, intensificado como reação ao vandalismo religioso da Reforma, durou até o início do século XX. Na França, porém, essas sociedades entraram em declínio quando, após a Revolução, no final do século XVIII, o Estado assumiu e passou a centralizar a preservação.
O amor pela arte e pelo conhecimento histórico não foi suficiente para implementar, de forma sistemática e definitiva, a prática da preservação. Devia haver ameaças concretas de perda de monumentos, já valorizados como expressões históricas e artísticas. Uma mística leiga ligada a um interesse político definido - o culto da nação - de modo que a preservação dos monumentos se tornou um interesse público.
Até o século XVIII, ações deliberadas voltadas à preservação de monumentos eram pontuais e, quando ocorriam, eram realizadas pelos segmentos sociais dominantes. Na Inglaterra, o vandalismo reformista, que destruiu igrejas e principalmente imagens, levou as sociedades antiquárias a assumir esse papel. Na França, algumas iniciativas, em Paris, visavam evitar a destruição de edifícios por terem sido identificados na fisionomia da cidade.
Na França, no final do Antigo Regime, a monarquia tomou iniciativas para dar acesso às suas coleções através da criação de museus. Com a instauração de um novo Estado, em 1789, e a derrubada do poder da aristocracia e da Igreja, a questão assumiu dimensões mais complexas. Havia o problema econômico de administrar os bens confiscados dos nobres e do clero.
Os atos de vandalismo, que se intensificaram após a prisão do rei em Varennes, repugnavam aos estudiosos. Por isso, desde 1789, o governo revolucionário tentou regular a proteção dos bens confiscados. Esses bens, que, para a Comissão de Artes, criada em 1793, a história consulta, as artes estudam, observa o filósofo, nossos olhos se deleitam em fixar.
A construção do que chamamos de patrimônio histórico e artístico nacional partiu, portanto, de uma motivação prática - o novo estatuto da propriedade dos bens confiscados. Um novo foi adicionado aos critérios tipológicos dos antiquários: a distinção entre bens móveis e imóveis. Para o primeiro foram criados museus, para o segundo apresentou-se o complexo problema da reutilização. 
A noção de patrimônio foi inserida, portanto, no projeto mais amplo de construção de uma identidade nacional, e passou a servir ao processo de consolidação dos Estados-nação modernos. Nesse sentido, cumpriu inúmeras funções simbólicas: 
1. reforçar a noção de cidadania, na medida em que se identificam no espaço público bens que não sejam exclusivamente bens privados.
2. A noção de patrimônio contribui para objetivar, tornar visível e real, essa entidade ideal que é a nação, também simbolizada. “A necessidade de proteger este património comum reforça a coesão nacional”, afirma David.
3. Os bens patrimoniais funcionam como documentos, como provas materiais de versões oficiais da história nacional, que constrói o mito da origem da nação e uma versão da ocupação do território, visando legitimar o poder vigente. Os bens patrimoniais caracterizam-se desde o início pela sua heterogeneidade.
4. a conservação desses bens- onerosa, complexa e frequentemente contrária
a outros interesses, públicos e privados - é justificada por seu alcance pedagógico, a serviço da instrução dos cidadãos.
Durante o período revolucionário, o valor nacional dos bens teve precedência sobre todos os outros valores. A preservação como atividade sistemática só se tornou possível, portanto, porque o interesse cultural se somou a um interesse político e uma justificativa ideológica. No entanto, como a história tem demonstrado desde então, não é fácil administrar conflitos entre interesses imediatos e interesses específicos de preservação.
A gestão de conflitos entre interesses imediatos e interesses específicos de preservação não é fácil. As denúncias de Quatrème de Quincy em suas Lettres à Miranda (1989) são prova disso. A controvérsia entre John Ruskin e Viollet-le-Duc sobre a forma e o significado da preservação dos monumentos também é uma prova.
O historiador Guizot propôs a criação do cargo de Inspetor de Monumentos Históricos em 1830. Prosper Mérimée, ao assumir o cargo em 1832, percorreu toda a França, realizando um notável trabalho de inventário. Ele percebeu que, apesar das boas intenções dos revolucionários convencionais, apenas alguns intelectuais eram sensíveis ao valor cultural dos monumentos.
A estrutura institucional montada nesse período perduraria até meados do século XX, baseada na ideia mestra de Mérimée de descobrir o país através de sua paisagem histórica. No período romântico, o distanciamento das obras do passado, manifestado pela primeira vez no Renascimento, assumiu, devido à Revolução Industrial, uma segunda mediação, mais drástica.
O interesse dos historiadores por antiguidades se extinguiu. As obras antigas tornaram-se objeto de uma apreciação eminentemente estética. As viagens continuaram a ser o meio privilegiado de acesso a esses bens, mas agora eram viagens pitorescas e não propriamente científicas. Como documento histórico, tornou-se primordialmente vinculado e utilizado pelo Estado.
O nacionalismo cultural deve sua fundação acima de tudo a Herder. Foram predominantemente artistas, poetas e pensadores que exploraram essa imagem emocional da nação. O sentimento nacional desenvolveu-se com ênfase em aspectos culturais típicos. Na França, por outro lado, prevaleceu o nacionalismo político, desenvolvido em torno da ideia de civilização.
A conservação de monumentos na França assumiu um caráter eminentemente museológico. O ideal de modernização e progresso difundido pela ideologia estatal deu à preservação um compromisso com o conhecimento. Nos países anglo-saxões, entre os principais agentes de preservação, predominava o culto ao passado e a valorização de seus vestígios como relíquias.
John Ruskin viu na arquitetura um meio de conservar o passado, não apenas em suas produções materiais e modos de vida, mas também em suas virtudes morais. Já em 1854, Ruskin propôs a criação de uma organização europeia de proteção de monumentos históricos. Para Ruskin, os vestígios do passado tinham o valor de relíquias, portanto, valiam por si mesmos.
Viola-le-Duc considerou que a verdadeira arquitetura nacional francesa era a do século XIII. Suas obras foram posteriormente severamente criticadas, especialmente com base nos conceitos expressos na Carta de Veneza, e só recentemente foram objeto de reavaliação. Restaurar um edifício é restaurá-lo a um estado completo que talvez nunca tenha existido. A restauração torna-se assim uma recriação legítima, ou restauração interpretativa.
Camillo Boito considerou que o caráter acrescentado, adventício, ortopédico da obra refeita deve ser ostensivamente marcado, não devendo de forma alguma passar por original. Para Françoise Choay, a doutrina de Viollet-le-Duc visava devolver ao monumento seu valor de documento integral.
O Culto Moderno dos Monumentos foi publicado na Áustria em 1903. Alois Riegl procurou analisar a questão dos monumentos históricos não do ponto de vista do Estado, ou como representações da nacionalidade. A análise de sua teoria dos valores atribuídos aos monumentos históricos, apresentada no pequeno, mas denso livro, fornece ricos indícios para refletir sobre a questão da preservação.
A legitimação da proteção dos bens culturais pelo Estado via nacionalismo vem declinando, juntamente com essa ideologia, nas últimas décadas. Este ângulo do problema se apresenta atualmente, inclusive,sem escapatória, aos agentes de preservação. Para Riegl, todo monumento tem, necessariamente, uma dimensão histórica e uma dimensão estética.
No Renascimento, as noções de histórico e artístico estavam entrelaçadas e fundamentadas em uma forma de conhecer e avaliar a Antiguidade. O homem renascentista identificou nas grandes figuras da antiguidade clássica seus legítimos ancestrais. Pela primeira vez, estabeleceu-se um sentido de relação entre temporalidades distantes.
A noção de arte, no Renascimento, baseava-se no princípio de que haveria um cânone artístico ideal, objetivo e universalmente válido, identificado nas produções da Antiguidade. Essa ideia, que voltará ciclicamente na história dos estilos artísticos, só será superada definitivamente, segundo Riegl, no início do século XX.
O valor da velhice deriva, mas distingue-se do valor histórico. Riegl percebe que, para nós modernos, o interesse despertado por certas obras decorre menos de seu poder de lembrar fatos ou personagens notáveis, e mais de indicar, sobretudo por seu estado material, o caráter de antigo, evocativo de um tempo passado.
Riegl diz: O valor histórico, indissociavelmente ligado ao fato individual, teve que ser progressivamente transformado em valor de desenvolvimento. Embora baseado na sensibilidade romântica, o valor da velhice só se difundiu no século XX. Esta profecia foi plenamente realizada tanto na evolução das ciências históricas, como na crítica da história factual.
A difusão do valor da velhice também teve consequências importantes no tratamento dos monumentos em termos de seu aspecto material, ou seja, nas atividades diretamente voltadas para sua conservação e restauração. Se, pelo valor histórico, o monumento importa como documento de referências externas a ele, é fundamental para sua leitura que seja mantido intacto. Essa concepção, que inspirou a Carta de Veneza, elaborada em 1964, contraria os princípios da Carta de Atenas, de 1933.
Na segunda metade do século XX, começou a surgir um novo imperativo para as políticas patrimoniais, com repercussões nos critérios de conservação e restauro. Essa expansão do consumo de bens culturais tornou mais evidentes as expectativas estéticas, por parte desse público, em relação ao que Riegl chamou de 'valor da novidade'
O conflito entre valor histórico e valor da velhice ocorre basicamente em um ambiente restrito. Por outro lado, o conflito entre o valor da velhice - que implica uma quase intocabilidade do bem e a sacralização de tudo o que é velho - envolve setores mais amplos da sociedade e acaba atingindo outras esferas das políticas públicas.
A utilização dos monumentos não é apenas um imperativo económico, é também essencial à sua percepção, mesmo quando prevalece o valor da velhice. Riegl considera que uma parte essencial desse jogo animado das forças da natureza estaria irremediavelmente perdida se os homens parassem de usar o monumento. Apenas ruínas ou sítios arqueológicos se prestam à apreciação apenas por seu valor milenar.
Riegl não via - ou ainda não via - os problemas que a mercantilização dos bens culturais acrescentaria a esse quadro. A conversão de obras de arte em mercadoria, o desenvolvimento do mercado de antiguidades e a valorização dos terrenos construídos e edificados, principalmente nas grandes cidades, evidenciaram a importância de se considerar o valor de troca.
Os conflitos entre valor de uso (para exploração econômica), valor de novidade (para atender a uma sensibilidade menos culta na valorização de monumentos) e valor de idade tornaram-se mais agudos. O próprio uso turístico, assim como a poluição, são hoje fatores destrutivos não naturais, não decorrentes da ação normal do tempo. Eles também contradizem os imperativos do valor da velhice.
A preocupação de Riegl com a mobilização social como fator necessário para a preservação é ainda mais relevante hoje do que no início do século. Essa mobilização, para Riegl, não envolve persuasão ideológica - e não é por acaso que ele não aborda a questão do valor nacional, nem nunca usa o termo patrimônio.
Uma postura humanista, inspirada nos ideais iluministas, é também a de Giulio Carlo Argan, que reflete sobre o propósito social da preservação dos monumentos do ponto de vista psicopedagógico. Esse tipo de reflexão, como a de Riegl, dispensa o nacionalismo para legitimar a preservação dos bens culturais. A demanda se traduziu, nas últimas décadas, na noção de direitos culturais.
No século XX, tornou-se evidente o avanço do valor da velhice. As produções dos esquecidos pela história factual começaram a ser introduzidas no patrimônio. A partir de 1945, os nacionalismos surgidos nas ex-colônias, especialmente as francesas, nos continentes africano e asiático, também começaram a se apropriar da noção europeia de patrimônio.
Foi a etnografia e a antropologia que legitimaram a sua inserção neste universo semântico, reforçando o seu valor cultural em termos de disciplina. Essa ampliação da noção de patrimônio, que leva à superposição das noções de patrimônio e bem cultural, é objeto de fortes críticas por parte de alguns ideólogos do patrimônio.
A conversão de objetos comuns em bens patrimoniais serviria apenas aos interesses mercantis dos antiquários, na medida em que transforma esses objetos em antiguidades. Defensores assumidos da sacralização do patrimônio, Chastel e Babelon são profundamente céticos em relação ao novo patrimônio. Valores como monumentalidade, singularidade e excepcionalidade são considerados por eles como fundamentais para despertar o sentido de patrimônio. Não levam em conta a inevitável dimensão política da questão, reforçando, por outro lado, sua dimensão ideológica.
Os direitos humanos são vetores de uma luta política pela democratização que se desenvolve à margem e acima dos Estados nacionais. Essa luta se expressa não apenas pela ação da sociedade sobre os órgãos estatais, pela descentralização administrativa e pela consolidação de mecanismos de representação política. Também se expressa através da organização de associações civis independentes focadas em questões específicas.
A noção de cidadania envolve atualmente uma gama diversificada de direitos. Estes incluem direitos políticos (primeira geração, baseados no valor da liberdade), direitos econômicos, sociais e culturais (segunda geração) e direitos solidários. (terceira geração, fundada no valor da fraternidade). A diversificação dos direitos humanos corresponde a uma crescente particularização dos sujeitos a que esses direitos se referem. O homem, ou o cidadão, como identidade política não é mais especificado apenas por sua nacionalidade ou classe social. Também é definido com base em categorias como sexo, etnia, religião, cultura.
Norberto Bobbio (1992, p. 25) diz que o problema atual dos direitos humanos não é seu fundamento, mas suas garantias. No caso dos direitos econômicos, sociais e culturais, esse aspecto é mais complexo, pois não basta o seu reconhecimento legal ou a instauração de um regime democrático. A expressão direitos culturais apareceu pela primeira vez na Constituição Soviética de 1918, mas só foi reconhecida, internacionalmente, na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Por outro lado, é inegável que a menção desses direitos em diferentes discursos contribui para dar-lhes visibilidade e convertê-los em objeto de interesse político.
As condições do pós-guerra levaram à formulação dos direitos culturais como direitos humanos. A formulação dessa demanda como direito só se tornou possível depois que a instrução e a educação (esta última entendida como Bildung, como treinamento) passaram a ser consideradas bens necessários para todos e não apenas interesse de alguns. Por exemplo: 
1. a extinção do colonialismo e o surgimento de Estados independentes em áreas de colonização européia, que precisavam reconstruir uma cultura própria;
2. o aumento do consumo de bens culturais, em decorrência do maior acesso à educação formal e do desenvolvimento dos meios de reprodução técnica;
3. A antropologizaçãodo conceito de cultura, que passou a abranger a atividade humana em geral, e as manifestações de qualquer grupo humano, o que levou à consciência da necessidade de defender as culturas primitivas, ou de minorias, ameaçadas por culturas mais poderosas.
Poucos conseguiram traduzir a expressão direitos culturais em termos de demandas definidas. O conceito de cidadania no Brasil está historicamente vinculado a uma concessão do Estado, formalizada no que o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos chamou de cidadania regulada. Portanto, faltaria à cultura política brasileira solo fértil para uma prática política baseada na noção de cidadania universal.
A luta pelos direitos humanos na América Latina só pode ser compreendida se estiver vinculada à resistência ao autoritarismo que, na década de 1970, predominava no continente. Era uma situação diferente da européia, onde havia um esgotamento dos modelos de Estado: o do socialismo soviético e o do bem-estar social.
A questão dos direitos culturais é mais complexa, principalmente em países originários de colônias europeias e marcados pela escravidão. Esses países herdaram uma noção de cultura duplamente restrita. Mesmo depois da independência, a verdadeira cultura era aquela importada das metrópoles europeias. O caráter cultural das camadas populares não era reconhecido.
A noção de direitos culturais é, portanto, nesses países, sem sentido para a maioria da população, assim como a noção de cultura. Eunice R. Duram observa que em países sem tradição democrática consolidada são os movimentos sociais que operam a transformação de necessidades e deficiências em direitos. Isso pode ser visto como um amplo processo de revisão e redefinição do espaço da cidadania.
A expressão direitos culturais foi incluída na Constituição Brasileira de 1988 (art. 215). Aos olhos da maioria dos políticos brasileiros, este não é um campo propício ao exercício e afirmação do poder. A difusão da ideologia do relativismo cultural torna problemática qualquer concepção universalista de cultura ou direitos culturais.
Nas últimas duas décadas essa noção foi ressemantizada, extrapolando seu domínio tradicional, o dos Estados nacionais, e passou a envolver outros atores que não apenas burocratas e intelectuais. Mudanças na conceituação e gestão do patrimônio como objeto de políticas públicas indicam sua progressiva apropriação como tema político pela sociedade.

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