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INTRODUÇÃO 
O conteúdo teórico que preparamos foi desenvolvido a partir de 
sólidas bases teóricas, porém com o objetivo claro de preparar o 
estudante para os enfrentamentos práticos e rotineiros que gravitam em 
torno dos processos de falência e de recuperação de empresas. 
A opção pragmática do texto, desenvolvido a partir da base 
empírica construída ao longo da experiência acumulada na nossa 
atuação diária, como Promotor de Justiça Titular perante as Varas 
Empresariais da Capital do Estado do Rio de Janeiro, fica à evidência a 
partir da frequente citação de casos concretos. 
Os anos de magistério também foram fundamentais na 
estruturação da obra, que muito se assemelha a um manual de atuação, 
na medida em que os principais pontos de dúvidas dos estudantes e 
operadores do Direito das Empresas em Dificuldades, seja pela percepção 
dos credores, seja pela ótica do devedor, receberam especial atenção. 
Estudaremos falência e recuperação de empresas em detalhes, 
incluindo a 1ª grande reforma promovida pela Lei 14.112, de 
24/12/2020, com especial atenção para: os pressupostos para a 
decretação da falência; os efeitos da quebra sobre a pessoa do falido, 
seus contratos e seus bens; as formas de alienação do ativo; as causas de 
extinção das obrigações do falido e o novíssimo “fresh start”; a 
legitimação e postulação da recuperação judicial; os créditos sujeitos à 
recuperação judicial; os efeitos da decisão de deferimento do 
processamento; as regras de suspensão das execuções; o procedimento 
de verificação de créditos; o rito processual; o plano de recuperação 
judicial; o funcionamento da assembleia-geral de credores; a concessão e 
cumprimento da recuperação judicial; o plano especial de recuperação 
para os pequenos empresários; e as duas espécies de recuperação 
extrajudicial. 
 
 
 
A carga horária total é de 24 horas-aula, e o nosso objetivo é oferecer uma visão crítica, 
atual, prática e multidisciplinar voltada à atualização ou preparação do aluno para o mercado de 
trabalho, por meio do enfrentamento das questões cruciais para o aprofundamento dos 
conhecimentos sobre a nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. Destacamos a intensa 
relação dos institutos da falência e da recuperação de empresas com outros ramos do Direito, 
como Direito Civil e Processual Civil, Direito Tributário, Direito Administrativo e Direito 
Trabalhista, na medida em que a recuperação ou a falência de uma sociedade empresária afeta e 
exige o sacrifício de credores de toda ordem. Assim, mesmo aqueles profissionais que não atuam 
diretamente com o Direito das Empresas em Dificuldades não podem prescindir de um acurado 
estudo sobre os novos contornos do Sistema Jurídico da Insolvência Empresarial. 
E na esteira de nossa atuação profissional, os temas serão abordados sempre a partir de um 
enfoque voltado para a prática, mas sem descuido da parte teórica. Dividimos este material em 
cinco módulos e em todos procuramos citar os precedentes jurisprudenciais mais atuais dos nossos 
Tribunais, estejam eles alinhados ou não com o nosso posicionamento. 
Temos a certeza de que o atento estudo deste material, em paralelo com a dinâmica 
empreendida pela integração e interação com o que lhes reservamos na aula on-line, permitirá 
uma completa compreensão do mundo das falências e das recuperações de empresas. 
Bom estudo!!! 
 
 
SUMÁRIO 
MÓDULO I – INTRODUÇÃO À LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005 .................................... 11 
PRINCÍPIOS INFORMATIVOS DO SISTEMA .................................................................................... 12 
Preservação da empresa viável ............................................................................................. 12 
Separação dos conceitos de empresa e de empresário .................................................... 14 
Proteção aos trabalhadores ................................................................................................... 14 
Redução do custo do crédito no Brasil ................................................................................. 15 
Celeridade e eficiência dos processos judiciais ................................................................... 15 
Segurança jurídica ................................................................................................................... 16 
Participação ativa dos credores ............................................................................................. 16 
Maximização do valor dos ativos do devedor ..................................................................... 17 
Fresh Start .................................................................................................................................. 17 
Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte
 .................................................................................................................................................... 18 
Rigor na punição dos crimes relacionados à insolvência empresarial ............................. 18 
MÓDULO II – FALÊNCIA ....................................................................................................................... 21 
LEGITIMIDADE ATIVA PARA O REQUERIMENTO DE FALÊNCIA ................................................... 21 
Confissão da insolvência: autofalência ................................................................................. 21 
A pedido dos credores ............................................................................................................ 23 
Credor com garantia real .................................................................................................. 24 
Credor tributário ................................................................................................................. 25 
JUÍZO COMPETENTE ......................................................................................................................... 28 
PRESSUPOSTOS FALIMENTARES .................................................................................................... 31 
Legitimidade passiva ............................................................................................................... 31 
Teoria dos agentes econômicos ....................................................................................... 33 
Sociedades empresárias dissolvidas irregularmente .................................................... 34 
Sociedades empresárias não sujeitas à LFRE ................................................................. 35 
Insolvência ................................................................................................................................ 37 
Impontualidade .................................................................................................................. 38 
Execução frustrada ............................................................................................................. 40 
Atos de falência ................................................................................................................... 42 
RITO PROCESSUAL DA FASE PRÉ-FALIMENTAR ............................................................................ 43 
Depósito elisivo ........................................................................................................................ 45 
SENTENÇA DE FALÊNCIA: CONTEÚDO E RECURSOS ................................................................... 48 
ADMINISTRAÇÃO NA FALÊNCIA ..................................................................................................... 49 
Juiz .............................................................................................................................................. 50 
MinistérioPúblico .................................................................................................................... 50 
Administrador judicial ............................................................................................................. 52 
Gestor judicial ........................................................................................................................... 56 
 
 
Credores na administração do processo.............................................................................. 57 
Intervenção individual do credor ..................................................................................... 57 
Comitê de credores ............................................................................................................ 58 
Assembleia de credores .................................................................................................... 60 
Falido ......................................................................................................................................... 62 
Proibição do exercício da empresa .................................................................................. 63 
Restrição ao direito de locomoção .................................................................................. 64 
Arrecadação das correspondências ................................................................................. 64 
EFEITOS DA FALÊNCIA EM RELAÇÃO AOS BENS DO FALIDO ...................................................... 65 
Administração e indisponibilidade dos bens ....................................................................... 65 
Bens não sujeitos à arrecadação ........................................................................................... 67 
Negociação com os bens da massa falida ............................................................................ 68 
Pedidos de restituição ............................................................................................................. 69 
Restituição ordinária – in natura ....................................................................................... 69 
Bens alienados fiduciariamente, arrendados ou decorrentes de compra e venda 
com reserva de domínio .............................................................................................. 71 
Restituição excepcional ................................................................................................ 72 
Restituição em dinheiro ..................................................................................................... 72 
Rito da restituição ............................................................................................................... 74 
Desconsideração da personalidade jurídica e outros casos de responsabilização ....... 75 
EFEITOS DA FALÊNCIA EM RELAÇÃO AOS CONTRATOS DO FALIDO ......................................... 77 
Contratos bilaterais ................................................................................................................. 78 
Contratos unilaterais ............................................................................................................... 79 
Situações especiais .................................................................................................................. 79 
Compra e venda a prazo: mercadorias em trânsito ...................................................... 79 
Compra e venda de coisas compostas ............................................................................ 80 
Compra e venda com reserva de domínio ...................................................................... 80 
Patrimônio de afetação ..................................................................................................... 80 
Locação ................................................................................................................................ 81 
Mandato ............................................................................................................................... 82 
Conta-corrente .................................................................................................................... 82 
INDIVISIBILIDADE DO JUÍZO FALIMENTAR .................................................................................... 82 
Reclamações trabalhistas ....................................................................................................... 83 
Causas fazendárias .................................................................................................................. 84 
Execuções fiscais ...................................................................................................................... 85 
Ações propostas pela massa falida ....................................................................................... 86 
Universalidade da falência e ações em curso ...................................................................... 86 
INVESTIGAÇÃO DOS NEGÓCIOS CELEBRADOS PELO FALIDO ANTES DA FALÊNCIA .............. 87 
Ineficácia objetiva .................................................................................................................... 88 
Ineficácia subjetiva .................................................................................................................. 90 
VERIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS ......................................................................................................... 91 
Fase administrativa .................................................................................................................. 92 
Fase judicial .............................................................................................................................. 93 
 
 
 
 
 
Habilitações e impugnações retardatárias ........................................................................... 95 
Suspensão dos juros e dos prazos prescricionais ............................................................... 98 
Compensação de créditos ...................................................................................................... 99 
Quadro geral de credores: concursais e não concursais ................................................ 100 
Credores extraconcursais .............................................................................................. 101 
Credores concursais ........................................................................................................ 102 
Créditos por acidente do trabalho e trabalhistas, estes limitados a 150 salários-
mínimos ....................................................................................................................... 103 
Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado ...................... 104 
Créditos tributários, excetuadas as multas ............................................................ 104 
Créditos quirografários ............................................................................................. 105 
Multas contratuais e penas pecuniárias por infrações das leis penais e 
administrativas ........................................................................................................... 105 
Créditos subordinados .............................................................................................. 105 
Credor alimentar ............................................................................................................. 106 
REALIZAÇÃO DO ATIVO ................................................................................................................ 107 
Proteção ao arrematante..................................................................................................... 107 
Modalidades de hasta pública ............................................................................................ 109 
Disposições comuns .............................................................................................................111 
PRESTAÇÃO DE CONTAS .............................................................................................................. 112 
ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA ................................................................................................... 112 
INCIDENTE DE EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES: A REABILITAÇÃO DO FALIDO ........................ 113 
Demonstração de regularidade fiscal ................................................................................ 115 
MÓDULO III – RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS .................................................................................. 117 
ALTERAÇÕES LEGISLATIVAS ......................................................................................................... 118 
ESPÉCIES DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS .............................................................................. 118 
LEGITIMIDADE ATIVA .................................................................................................................... 119 
Recuperação judicial do produtor rural............................................................................. 120 
Litisconsórcio ativo ............................................................................................................... 121 
Consolidação processual ................................................................................................ 121 
Consolidação substancial ............................................................................................... 122 
Recuperação judicial transnacional .................................................................................... 123 
REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL DO REQUERIMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL ......... 124 
Requisitos subjetivos ............................................................................................................ 125 
Atividade empresarial há mais de dois anos (caput) .................................................. 125 
Não ser falido e não ter obtido recuperação judicial há menos de cinco anos 
(incisos I, II e III) ................................................................................................................ 126 
Sócios controladores e administradores não condenados por crimes da LFRE (inciso 
IV) ....................................................................................................................................... 126 
Requisitos objetivos .............................................................................................................. 126 
Situação patrimonial e razões da crise (inciso I) ......................................................... 126 
 
 
Demonstrações contábeis (inciso II) ............................................................................. 127 
Relação de credores (inciso III) ...................................................................................... 127 
Relação de empregados (inciso IV) ............................................................................... 127 
Certidão de regularidade do Registro Público de Empresas Mercantis (inciso V) ........ 128 
Relação de bens dos sócios controladores e dos administradores (inciso VI) ....... 128 
Extratos bancários (inciso VII) ........................................................................................ 128 
Certidões de protestos (inciso VIII) ................................................................................ 128 
Relação dos processos judiciais e disputas arbitrais, com estimativa de valores 
(inciso IX) ........................................................................................................................... 129 
Relatório detalhado do passivo fiscal (inciso X) .......................................................... 129 
Relação de bens e direitos do ativo não circulante (inciso XI)................................... 129 
CRÉDITOS SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO ............................................................. 130 
CRÉDITOS NÃO SUJEITOS AOS EFEITOS DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL ................................... 132 
Créditos de empréstimo DIP ............................................................................................... 132 
Crédito tributário .................................................................................................................. 133 
Créditos com direito real de propriedade e assemelhados ........................................... 135 
Depositante de coisas fungíveis ......................................................................................... 137 
Dívida propter rem – despesas condominiais .................................................................... 137 
Singularidade dos créditos sujeitos à recuperação judicial do produtor rural ............ 139 
Problemática da trava bancária .......................................................................................... 140 
DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO DO PEDIDO .................................................................. 144 
Dispensa das certidões negativas ...................................................................................... 145 
Stay period e suspensão da prescrição .............................................................................. 145 
Prestação mensal de contas................................................................................................ 147 
Intimação do Ministério Público e das Fazendas ............................................................. 148 
Restrição de venda ou oneração dos bens do imobilizado ............................................ 149 
Prazo para habilitação e divergência de créditos ............................................................. 151 
Compensação de créditos na recuperação judicial ......................................................... 152 
APRESENTAÇÃO DO PLANO ........................................................................................................ 154 
MÉTODOS DE RECUPERAÇÃO ..................................................................................................... 154 
Restrições ao plano de reestruturação .............................................................................. 156 
Passivo trabalhista .......................................................................................................... 157 
Vinculação cambial dos créditos ................................................................................... 158 
Intangibilidade das garantias reais e fidejussórias ..................................................... 158 
OBJEÇÃO DOS CREDORES AO PLANO DE RECUPERAÇÃO ....................................................... 161 
APROVAÇÃO OU REJEIÇÃO DO PLANO DE RECUPERAÇÃO DO DEVEDOR ............................ 162 
Deliberação dos credores em assembleia ........................................................................ 163 
Sistema do cram down ......................................................................................................... 163 
Apresentação de PRJ alternativo pelos credores ............................................................. 164 
Aplicação da teoria do abuso de direito no exame dos votos dos credores ................ 164 
Suspensão da assembleia de deliberação sobre o plano de recuperação................... 166 
REGULARIDADE TRIBUTÁRIA PARA A CONCESSÃO DA RECUPERAÇÃO ................................. 167 
Controle de legalidade do plano aprovado pelos credores ............................................ 167 
 
 
 
 
 
SENTENÇA CONCESSIVA DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E NOVAÇÃO ...................................... 168 
RECURSOS ...................................................................................................................................... 169 
SUPERVISÃO JUDICIAL DA EXECUÇÃO DO PLANO .................................................................... 169 
ALTERAÇÕES DO PLANO HOMOLOGADO................................................................................. 170 
AFASTAMENTO JUDICIAL DOS ADMINISTRADORES E DO CONTROLADOR DO DEVEDOR .. 171 
CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM FALÊNCIA ..................................................... 172 
MÓDULO IV – OUTRAS ESPÉCIES DE RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS ............................................ 173 
PLANO ESPECIAL DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL PARA AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS . 173 
RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL ................................................................................................... 175 
Requisitos ............................................................................................................................... 176 
Créditos sujeitos e stay period ............................................................................................. 177 
Credores não sujeitos .......................................................................................................... 177 
Procedimento para homologação ...................................................................................... 178 
Oposição ao pedido .............................................................................................................. 179 
Decisão homologatória: limitação aos poderes do juiz e recursos ............................... 179 
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 181 
PROFESSOR-AUTOR ........................................................................................................................... 182 
 
 
 
 
 
 
Passados pouco mais de 15 anos desde o advento da Lei nº 11.101/05, percebe-se um 
grande avanço no aperfeiçoamento do sistema jurídico da insolvência no Brasil. Porém, se muitos 
dos problemas decorrentes do revogado Decreto-Lei nº 7.661, de 21 de junho de 1945, foram 
resolvidos, outros mais surgiram, revelando-se premente uma primeira grande reforma que já se 
avizinha, provavelmente por meio do Projeto de Lei em tramitação no Senado nº 4.458/2020, 
antigo P.L. 6.229/2005 da Câmara dos Deputados, que aglutinou várias outras proposições que 
tramitavam pela Câmara dos Deputados. 
Sabia-se que a viabilidade de um moderno sistema de insolvência empresarial também 
reclamava uma profunda alteração no Direito Tributário, ao menos no que concerne ao 
tratamento do passivo tributário dos empresários em crise, sendo forçoso gizar que grande parte 
das alcunhadas reengenharias tributárias depende de uma astuta perspectiva empresarial, 
sobretudo societária, enquanto, de igual sorte, é elemento lógico da rotina empresarial que 
reestruturações societárias não possam prescindir de um sólido planejamento tributário. 
O fato inconteste é que, infelizmente, a LFRE não se revelou plenamente capaz de auxiliar a 
empresa em crise a superar as suas dificuldades, uma vez que grande parte dessas dificuldades está 
ligada ao seu passivo fiscal ou atrelada a garantias que excluem o crédito do concurso e, ipso facto, 
do alcance do plano de recuperação. 
A posição até então inflexível das Fazendas Públicas e o tratamento privilegiado conferido 
aos credores detentores de direito de propriedade colidem com a necessidade concreta de se 
procurarem alternativas para a proteção dos ativos das empresas em crise, causando insegurança 
no mercado e perplexidade dos operadores do Direito diante da imensa variedade de 
interpretações das atuais normas. 
MÓDULO I – INTRODUÇÃO À LEI Nº 
11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005 
 
12 
 
O primeiro método de pesquisa utilizado para a elaboração da presente obra foi o 
dogmático-histórico-descritivo, o que viabilizou a análise do desenvolvimento da legislação 
falimentar no Direito pátrio ao longo do tempo, sem olvidar a interferência das construções 
doutrinárias no seu processo evolucionário. Nessa toada, buscou-se uma aproximação entre o 
sistema normativo atual e a realidade experimentada nesses primeiros 15 anos de vigência da 
LFRE, o que se fez possível pela utilização de uma metodologia de pesquisa empírica por meio da 
jurisprudência, na medida em que o Direito, sendo uma realidade histórico-cultural, não admite 
o estudo de qualquer dos seus ramos sem a noção antecipada da sua evolução dinâmica. 
Não se pode negar que “todo direito tem seguido a um direito anterior, em 
desenvolvimento contínuo, de modo que o direito de hoje se apresenta como resultado de um 
passado e como início de uma evolução futura”. 
A nossa meta é levar ao aluno uma visão mais pragmática possível dos institutos da falência 
e da recuperação de empresas, a partir da experiência acumulada à frente da 1ª Promotoria de 
Justiça de Massas Falidas da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, com atribuição 
para atuar perante a 1ª, 4ª e 7ª Varas Empresariais da Capital do Rio de Janeiro, foro pelo qual 
tramitaram e ainda tramitam alguns dos maiores processos de insolvência empresarial do País. 
 
Princípios informativos do sistema 
Em 13 de abril de 2004, o senador da República Ramez Tebet apresentou, perante a 
Comissão de Assuntos Econômicos do Senado Federal, o seu parecer, junto com um substitutivo, 
ao Projeto de Lei da Câmara nº 71/2003, que se converteu na Lei nº 11.101/05, destacando na 
exposição de motivos os princípios que o inspiraram na construção do texto. A doutrina, por seu 
turno, por indução lógica do Direito Positivado, extraiu outros tantos princípios que alicerçam o 
Direito das Empresas em Dificuldades. Finalmente, as mais recentes alterações legislativas 
trouxeram à tona novos pilares principiológicos, que se somam aos anteriores com o fim de corrigir 
alguns defeitos que se tornaram evidentes ao longo dos primeiros anos de aplicação da LFRE. 
Para dar os primeiros passos rumo ao conhecimento, analisaremos essa base principiológica 
sobre a qual se edifica a LFRE. 
 
Preservação da empresa viável 
Não por coincidência, o princípio da preservação da empresa foi o primeiro a ser destacado 
como um dos pilares do novo sistema recuperacional, sendo um dos poucos a ser expressamente 
positivado na Lei nº 11.101/05, consoante se vê do seu art. 47. 
Descendente direta do princípio da função social, a teoria da preservação da empresa é o 
norte da lei, tornando a falência uma exceção a ser evitada o tanto quanto possível, pois a 
empresa, quando cumpridora da sua função social, deve ser preservada sempre que possível, pois 
gustavosp
Realce
 
 
 
 
 13 
 
gera riqueza econômica, cria emprego e renda, contribuindo para o crescimento e o 
desenvolvimento social do País, e é fonte de arrecadação de tributos. 
Especialmente nesses primeiros anos de vigência, o princípio da preservação da empresa tem 
sido largamente empregado, não só para suprir as inúmeras lacunas existentes – por exemplo, 
alteração do plano de recuperação judicial após a homologação – e para ajustar interpretações 
sobre pontos mais nebulosos, como restringir o poder do juiz ao exame de legalidade do plano de 
recuperação judicial aprovado pelos credores, mas também – e aqui reside a nossa maior 
preocupação – para afastar a aplicação literal de dispositivos da própria Lei nº 11.101/05 e da 
legislação em geral. 
É grande o desafio de equilibrar a balança quando de um lado está a necessidade de 
preservação da empresa e, de outro, a letra clara da lei apontando em direção oposta. Até que ponto 
devemos afastar-nos da norma expressa e dos demais princípios informadores do sistema para buscar 
a preservação da empresa, mesmo sendo ela viável do ponto de vista econômico e financeiro? 
Aliás, também difícil é a tarefa de definir o papel do Poder Judiciário na distinção entre 
empresas viáveis e inviáveis e o que se revela lícito fazer para protegê-las, afinal, tão profícuo para o 
interesse público como manter no mercado uma empresa viável, preservando a sua atividade, os seus 
postosde trabalho e a sua relação com clientes e fornecedores, é retirar dele a empresa que não tem 
como cumprir o seu papel social, dada a sua inviabilidade econômica, a necessidade de respeito aos 
contratos e o princípio da intervenção mínima do Estado nas relações privadas, sobretudo com o 
advento da Lei da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019). 
A LFRE, no nosso sentir, reservou o protagonismo do processo aos credores, uma vez que 
é vedado ao juízo, ao administrador judicial e ao Ministério Público promover a análise da 
viabilidade econômica e financeira da sociedade empresária em dificuldade e do plano de 
recuperação judicial proposto. 
Em síntese, constatados problemas crônicos na atividade ou na administração da empresa, 
de modo a inviabilizar a sua recuperação, o Estado deve promover de forma rápida e eficiente a 
sua retirada do mercado, a fim de evitar a potencialização dos problemas e o agravamento da 
situação dos que negociam com pessoas ou sociedades com dificuldades insanáveis na condução 
do negócio. A falência pode ser, sim, o melhor caminho no caso concreto! 
Ainda que de forma bastante superficial, convém destacar algumas das polêmicas mais 
sensíveis do sistema que têm sido solucionadas a partir da aplicação, correta ou não, do princípio 
da preservação da empresa: 
� quebra da denominada “trava bancária”, afastando os direitos dos credores fiduciários; 
� proibição de retomada dos bens de terceiros que estão na posse do devedor, essenciais ao 
seu negócio, mesmo após o decurso do stay period e até da aprovação do plano de 
recuperação; 
� ampliação da competência do juízo recuperacional para anular ou suspender atos e 
processos administrativos contrários ao devedor em recuperação judicial; 
gustavosp
Realce
gustavosp
Realce
gustavosp
Realce
gustavosp
Realce
 
14 
 
� ampliação da competência do juízo recuperacional para decidir sobre diferentes 
demandas de interesse das devedoras em recuperação judicial1, inclusive a cobrança de 
créditos, e 
� alteração do resultado da deliberação dos credores em assembleia pela anulação de voto 
“abusivo”. 
 
Esses são apenas alguns dos muitos exemplos da aplicação do princípio da preservação da 
empresa para a solução de controvérsias nos processos de insolvência. Advirta-se, entretanto, que 
decisões extremas podem prolongar a permanência artificial no mercado de uma empresa 
manifestamente inviável, maximizar as perdas dos credores, causar concorrência desleal e apenas 
retardar uma inevitável decretação de falência. 
 
Separação dos conceitos de empresa e de empresário 
Empresa é o conjunto organizado de capital e trabalho para a produção ou circulação de 
bens ou serviços. Não se deve confundi-la com a pessoa natural ou jurídica que a explora. 
Assim, por vezes, mesmo em um processo de recuperação judicial, é preciso separá-la da 
sociedade empresária, alienando a unidade produtiva no mercado, a fim de que outra sociedade 
empresária dê continuidade ao negócio de forma eficiente, com esteio no parágrafo único do 
art. 60 da Lei nº 11.101/05. 
Exemplos vivos dessa separação, entre sociedade empresária e empresa, são os casos Varig, 
Casa&Video, Delta, Constellation, Abengoa, OAS e OI, pois em todos eles houve a alienação de 
unidades produtivas isoladas (UPIs), a fim de que outros empresários do setor dessem 
prosseguimento aos negócios. 
 
Proteção aos trabalhadores 
Os créditos trabalhistas conservaram certos privilégios. Na falência, entre os credores 
concursais, terão preferência até o montante equivalente a 150 salários-mínimos, mas é bom 
lembrar que antes do pagamento dos credores concursais, inclusive trabalhadores, hão de ser 
adimplidas outras obrigações, como as despesas extraconcursais e as restituições. 
Já na recuperação judicial pouco se vê de vantagem aos trabalhadores, uma vez que a lei, 
por um lado, proíbe o pagamento dos credores trabalhistas em prazo superior a dois anos, mas de 
outro, autoriza expressamente o deságio quando o pagamento é feito em até um ano. Logo, é 
perfeitamente possível, segundo o entendimento dominante, que o PRJ estabeleça que outros 
 
1 Ver TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0024976-71.2020.8.19.0000. 2ª Câmara Cível. Rel. Des. Maria Isabel Paes Gonçalves. 
Julgado em 21/09/2020. 
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credores recebam antes dos trabalhadores, assim como a própria remissão parcial dos créditos 
trabalhistas, o denominado deságio ou haircut 2. 
Aliás, apenas para fins de registro, recentemente nos deparamos com um plano de 
recuperação judicial que propunha pagamento dos credores trabalhistas em um ano, mas com um 
“desconto” de 90%.3 
Nessa toada, a proposta de deságio para o pagamento dos créditos trabalhistas torna, ao 
nosso sentir, inócua a proteção temporal conferida pela legislação. Aliás, em tantos outros casos, 
preocupado com a repercussão negativa de uma proposta de deságio em relação aos trabalhadores, 
o devedor deixa “de fora” do processo de recuperação judicial o passivo trabalhista, pois, a 
exemplo do que existe no Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (TRT-1), no Rio de 
Janeiro, há a possibilidade de parcelamento do passivo trabalhista em prazo superior ao limite 
previsto no art. 54 da LFRE, pelo denominado plano especial de pagamentos trabalhista (Pept)4, 
na própria justiça especializada. 
 
Redução do custo do crédito no Brasil 
Diante da criação de um sistema falimentar mais eficaz e célere e da inversão de prioridades 
na ordem de pagamento, com prevalência do crédito com garantia real sobre o tributário, 
esperava-se um incremento nos índices de recuperação de crédito, atenuando-se os riscos da 
inadimplência, com reflexos indiretos no spread bancário. 
Essa era, contudo, apenas uma aspiração legislativa. Em razão dos incontáveis fatores que 
influenciam os números da inadimplência no Brasil, dificilmente teremos como estabelecer em 
um curto prazo uma relação entre a eficácia da LFRE e a redução do spread bancário, 
especialmente diante das polêmicas envolvendo os limites e as proteções conferidas às garantias 
fiduciárias e às fidejussórias. 
 
Celeridade e eficiência dos processos judiciais 
É preciso que as normas procedimentais na falência e na recuperação de empresas sejam, na 
medida do possível, simples, conferindo-se celeridade e eficiência ao processo e reduzindo-se a 
burocracia que atravanca o seu curso. 
Nesse sentido, “desjudicializou-se” o procedimento de habilitações e divergências de créditos, 
autorizou-se a venda imediata dos bens arrecadados na falência logo após o decreto de quebra, 
 
2 Ver Decisão Liminar do Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, no Pedido de Tutela Provisória nº 2.778/RJ, publicada no dia 
24/06/2020. 
3 Recuperação Judicial de Real Auto Ônibus Ltda. e outras, em trâmite perante a 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro sob 
o nº 0087802-67.2019.8.19.0001. 
4 Ato Conjunto nº 11/2019 e Provimento nº 1/2018 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho; Provimento Conjunto nº 
02/2019 do TRT-1; Resolução Administrativa nº 79/2019, do TRT-2; dentre outros. 
 
16 
 
fixou-se um prazo para o encerramento das recuperações judiciais, além de muitas outras regras para 
assegurar uma tramitação menos demorada desses processos. 
Nada obstante a nobre intenção do legislador, os processos de falência e de recuperação 
judicial continuaram lentos e sem a desejada eficiência. Diante desse cenário, a reforma promovida 
Lei nº 1.4112/2020 trouxe novas importantes regras para imprimir maior celeridade e eficiência. 
Nas falências, o administrador judicial agora deverá apresentar em 60 dias da sua nomeação 
um plano de liquidação dos ativos, sempre com um prazo máximo de 180 dias a contar da 
respectiva arrecadação do bem. Os credores terão o prazo máximo de três anos para apresentaremas suas habilitações ou pedidos de reserva de crédito, sob pena de decadência, e, talvez a regra mais 
polêmica, foi instituído o denominado fresh start, que permite o pedido de extinção das 
obrigações do falido ainda durante a tramitação do processo e desde que ultrapassado três anos da 
sentença de falência. 
Nos processos de recuperação judicial, proibiu-se mais de uma prorrogação do stay period, 
concedeu-se aos credores o direito de apresentar um plano de recuperação alternativo e autorizou-se 
ao juiz a fixação de um prazo menor que dois anos para o encerramento da recuperação judicial5. 
 
Segurança jurídica 
Os dispositivos legais que integram a nova legislação, dentro do possível, foram redigidos 
com a intenção de evitar múltiplas interpretações e de conferir às partes maior domínio sobre o 
mérito do processo, reduzindo o poder conferido ao juiz. É evidente que esse esforço é bem-
vindo, porém, não foi capaz de evitar o surgimento de inúmeras e gigantescas controvérsias, em 
especial pela própria complexidade dos temas tratados e das não raras omissões do texto legal, 
sobretudo em relação ao novel instituto da recuperação de empresas. 
Nessa linha, a reforma de 2020 procurou dar soluções expressas para alguns pontos do sistema 
que despertavam acaloradas divergências doutrinárias e jurisprudenciais. A título de exemplo, todos os 
prazos da LFRE passam a ser contados em dias corridos; só se admitirá uma única prorrogação do 
prazo de suspensão das execuções contra o devedor; e o produtor rural inscrito no registro público de 
empresas tem legitimidade para o pedido de recuperação judicial. 
 
Participação ativa dos credores 
A lei buscou dar protagonismo aos credores na solução da insolvência do devedor. É nítido 
o esforço do legislador de conceder aos credores instrumentos capazes de definir os rumos de um 
processo de recuperação de empresas ou dos ativos arrecadados em um processo de falência. 
 
5 TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0033080-52.2020.8.19.0000. 14ª Câmara Cível. Des. Rel. José Carlos Paes. Julgado em 
29/07/2020. 
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Na prática, porém, essa participação tem sido menosprezada por parcela da jurisprudência, 
de certa forma provocada por algum desinteresse ou desconhecimento por parte dos advogados 
dos credores. São raros os casos de instalação do comitê de credores, e poucos são os credores que 
acompanham com efetividade o desenrolar do processo, com exceção dos credores financeiros. 
Contudo, a reforma de 2020 trouxe novos motivadores para uma participação mais ativa 
dos credores nos processos de falência e de recuperação judicial, tais como a possibilidade de 
apresentação de um plano de recuperação alternativo àquele apresentado pelo devedor; e uma 
ampliação dos poderes dos credores nas hipóteses de alienação de bens do devedor, quer na 
falência, quer na recuperação judicial. 
 
Maximização do valor dos ativos do devedor 
As regras da LFRE efetivamente buscam maximizar os ativos do devedor em dificuldades. 
Os bens do devedor falido devem ser alienados em um curto espaço de tempo e sem quaisquer 
ônus para o adquirente, permitindo-se aos credores e ao juiz decidirem sobre o melhor caminho 
para a realização desse ativo, sempre contando com a orientação técnica do administrador judicial. 
Pontue-se que, desde a reforma de 2020, tornou-se possível a alienação integral dos ativos 
do devedor nos processos de recuperação judicial, por meio da criação de uma UPI única, o que 
preserva o valor dos intangíveis e favorece o pagamento dos credores. 
 
Fresh Start 
O rápido retorno do empresário falido ao mercado se tornou uma das marcas de reforma 
promovida pela Lei nº 14.112/2020. Para tanto, um conjunto de novas regras foi introduzido no 
sistema, fazendo com que o processo de falência tenha como um dos seus objetivos possibilitar 
um rápido recomeço ao empresário falido. Entre esses novos dispositivos se destacam o art. 10, 
§ 10, e o art. 158, inciso V, que permitem a declaração de extinção das obrigações do falido após 
três anos da decretação da falência. 
Acreditamos, contudo, que esse novo instituto não foi adequadamente positivado, uma vez que 
ele confunde os conceitos de sócio e de sociedade, afastando-se dos anseios do próprio legislador. 
Como se sabe, a falência de uma sociedade empresária não impede, ao menos 
juridicamente, que os seus sócios, diretamente ou por meio de outra pessoa jurídica, explorem 
atividades empresariais, inclusive aquela que era exercida pela sociedade falida. 
As dificuldades daqueles sócios de “retornarem” à atividade empresarial sempre foram de 
cunho econômico, uma vez que, sendo pública a informação de que eles estavam ligados a uma 
sociedade em processo de falência, raramente conseguiam crédito para si ou para as outras pessoas 
jurídicas das quais participassem. 
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Portanto o objetivo nunca foi reabilitar a sociedade falida, mesmo porque, com o 
encerramento da falência, o próprio juiz, de ofício, determinará o cancelamento do seu CNPJ, 
com a consequente extinção da sua personalidade jurídica (art. 156). 
Estabelecidas essas premissas e sem perder de vista que o verdadeiro objetivo sempre foi 
criar um sistema que possibilitasse aos sócios da sociedade falida rapidamente retornarem ao 
mercado de crédito, por meio de novas pessoas jurídicas, devemos ter um redobrado cuidado na 
interpretação das regras que tratam da extinção das obrigações do falido. 
Como se verá mais adiante, inspirados pelo princípio da dignidade da pessoa humana, 
defenderemos o entendimento de que o instituto do fresh start só deve ser aplicado às pessoas 
naturais atingidas pela falência, e não às sociedades falidas, cujas obrigações só podem ser 
declaradas extintas com o efetivo encerramento do processo de falência, e não pelo transcurso de 
três anos da sentença que decretou a quebra. 
 
Desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de 
pequeno porte 
Há, sim, dispositivos na LFRE que desburocratizaram a recuperação judicial das micro e 
pequenas empresas. Entretanto, mesmo após o advento de algumas modificações, as regras 
previstas para o chamado plano especial de recuperação judicial colocado à disposição dos 
pequenos empresários são – perdoem o trocadilho – “especialmente ruins”, o que se revela no 
baixo número de planos especiais aprovados. 
A limitação do parcelamento em 36 meses, a reduzida carência de seis meses e a imposição 
de atualização do passivo pela Selic tornam o plano especial pouquíssimo atraente aos devedores, 
que podem obter condições muito mais favoráveis em negociação extrajudicial ou no bojo do 
processo de recuperação judicial comum ou ordinário. 
 
Rigor na punição dos crimes relacionados à insolvência empresarial 
É preciso punir com severidade os crimes falimentares, com o objetivo de coibir as falências 
e recuperações fraudulentas, em função do prejuízo social e econômico que causam. 
As penas para os delitos dessa natureza foram aumentadas, a persecução penal e o tempo de 
prescrição agora se submetem às regras do direito comum, penal e processual penal, porém, na 
quase totalidade dos estados, a competência para o julgamento das ações penais por crimes 
falimentares e recuperacionais é reservada às varas criminais comuns, cujos juízes não estão 
habituados à matéria, possibilitando o retardamento da marcha processual e absolvições 
divorciadas da prova técnica carreada aos autos. 
Ademais, Podemos enumerar outros problemas crônicos que impedem a efetividade no 
combate à prática de crimes relacionados aos processos de insolvência. São eles: 1) a falta de regra 
clara sobre o conflito aparente de normas penais, sobretudo em relação aos fatos anteriores aos 
 
 
 
 
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processos de falência e de recuperação judicial e em razão do tipo penal aberto do art. 168, daLFRE; 2) a ausência de delegacias especializadas na apuração desses delitos; 3) a ausência de previsão 
de um relatório do administrador judicial, no processo de recuperação judicial, para apontamento 
de responsabilidades criminais; 4) a ausência de previsão de intimação do Ministério Público para 
acompanhar todos os atos processuais da falência e da recuperação judicial. 
 
 
 
 
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Falência continua sendo uma espécie de execução coletiva dos bens do devedor empresário 
insolvente, por meio da qual todos os seus bens são arrecadados e liquidados, para que o produto 
apurado seja utilizado no pagamento dos credores, obedecendo à ordem legal de preferência. O 
objetivo primário da falência, portanto, é a satisfação dos credores, o máximo possível, e 
secundários, a rápida realocação útil dos ativos liquidados na economia e o célere retorno do 
devedor ao mercado produtivo. 
 
Legitimidade ativa para o requerimento de falência 
O art. 97, da LFRE prevê que o requerimento de falência pode ser iniciado: 
� a pedido do próprio devedor, empresário individual; 
� pelo cônjuge do empresário individual falecido, pelo herdeiro ou pelo inventariante; 
� a requerimento da própria sociedade empresária, por iniciativa dos seus quotistas ou 
acionistas, na forma da lei e do ato constitutivo ou 
� por qualquer credor. 
 
No entanto, algumas peculiaridades devem ser destacadas para a sua perfeita compreensão. 
 
Confissão da insolvência: autofalência 
Devemos dedicar algumas linhas da nossa atenção para a falência requerida pelo próprio 
devedor, chamada por muitos de “autofalência”, prevista no art. 97, I e III, c/c art. 105 e 
seguintes, da LFRE. 
MÓDULO II – FALÊNCIA 
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De pronto, consignamos ser de interesse exclusivamente acadêmico o estudo do requerimento 
de autofalência formulado por empresário individual, firma individual ou microempreendedor 
individual. No plano ainda mais abstrato, afigura-se possível a falência do espólio do empresário 
individual, por iniciativa do cônjuge sobrevivente, de qualquer herdeiro ou do inventariante, desde 
que formulado em até um ano do óbito, consoante § 1º do art. 96, da LFRE. 
No sistema anterior, havia um estímulo, quiçá uma obrigação ou um ônus, para o devedor 
que confessasse a sua insolvência: a possibilidade de concordata suspensiva, que hoje já não mais 
existe. Contudo, ao optar pelo pedido de autofalência da sociedade empresária (Ltda.) ou da 
empresa individual de responsabilidade limitada, evita-se a denominada dissolução irregular da 
sociedade empresária e a incidência dos efeitos da Súmula 435 do Superior Tribunal de Justiça 
(STJ), que permite o redirecionamento das execuções fiscais propostas em face da pessoa jurídica 
para os sócios/titulares com poderes de administração. 
Ocorre que a reforma promovida pela Lei 14.112/2020 instituiu o “fresh start” do falido 
como um dos objetivos do processo falimentar e, assim, a autofalência pode se tornar uma das 
soluções para o devedor em dificuldades, sobretudo para o pequeno e para o microempresário 
com poucos ativos. Em síntese, três anos após decretada a falência o falido pode pedir a declaração 
de extinção de suas obrigações, o que lhe permitirá um rápido retorno ao mercado, livre das 
obrigações relativas ao negócio anterior. 
Há certa polêmica sobre a possibilidade de o sócio minoritário apresentar o pedido de 
autofalência. Fábio Ulhoa Coelho6 admite esse pedido, justificando que ele estaria pautado 
exclusivamente no art. 97, III, e não no art. 105, ambos da LFRE. 
Discordamos desse entendimento, seja porque não há sequer previsão do procedimento a 
ser adotado nesses casos – há citação? Qual a causa de pedir, insolvência real ou presumida? É 
possível depósito elisivo? – seja também porque o art. 97, III, da LFRE, é expresso no sentido de 
que os sócios só poderão fazer o pedido de falência da sociedade “na forma da lei”, que na nossa 
opinião é a legislação societária, em especial, atendidos os quóruns previstos nos arts. 1.071, VIII, 
do CC e 122, IX, da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, sem olvidar a incidência do 
princípio da preservação da empresa. A saída para o sócio minoritário insatisfeito com a posição 
dos demais de tentar prosseguir com a empresa é a ação de dissolução parcial. 
De toda forma, há precedente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP), da 
relatoria do eminente desembargador Pereira Calças, admitindo o prosseguimento de um pedido 
de autofalência formulado por um sócio com 50% do capital social: 
 
 
6 Além de Fábio Ulhoa Coelho, outros autores defendem a legitimidade ativa dos sócios minoritários – cotistas e 
acionistas – para requerer a falência da sociedade empresária que integram, como Luiz Guerra, Amador Paes de Almeida 
e Sérgio Campinho. Adotamos o caminho apontador por vários outros, entre os quais Ricardo Tepedino, In: TOLEDO, 
Paulo Fernando Campos Salles de; ABRÃO, Carlos Henrique (Coords.). Lei de Recuperação de Empresas e Falências. São 
Paulo: Saraiva, 2005, p. 286, 287. 
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Ementa: Falência. Indeferimento da inicial com extinção do processo, 
sem resolução de mérito. Ação proposta por sócia cotista, titular de 50% 
das quotas, contra sociedade limitada, em face do abandono do outro 
sócio. Anterior indeferimento de autofalência. Apelo provido para, com 
fundamento no art. 97, III, da Lei n° 11.101/05, determinar-se o regular 
processamento da falência. Necessidade de citação do outro sócio para, 
querendo, contestar o pedido.7 
 
A autofalência também é o caminho utilizado pelos liquidantes extrajudiciais de certas 
sociedades empresárias submetidas a um maior controle pelo Poder Executivo Federal, tais como 
instituições financeiras, seguradoras e operadoras de plano de saúde. Elas podem ser alvos de 
intervenção e até de liquidação extraordinária que, em alguns casos, pode converter-se em pedido 
de autofalência, obedecendo aos requisitos da legislação especial, mormente aqueles previstos no 
art. 21, “b”, da Lei nº 6.024, de 13 de março de 1974. 
 
A pedido dos credores 
Por razões óbvias, os requerimentos de falência são formulados na sua maioria pelos credores. 
O credor, quando empresário, na forma do art. 97, § 1º, da LFRE, deverá comprovar que está 
regularmente inscrito no registro público de empresas mercantis. Para tanto, basta apresentar junto 
com a petição inicial cópia do seu ato constitutivo devidamente registrado na Junta Comercial. 
Ocorre que, não raro, o requerente, apesar de ostentar a qualidade de empresário, tem o seu 
ato constitutivo arquivado no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas, seja por erro no ato 
da criação da sua pessoa jurídica, seja pela falta de migração de registro, em relação às antigas 
sociedades civis de prestação de serviços constituídas antes do advento da teoria da empresa, 
positivada no CC de 2002. 
No primeiro caso, não há como negar a aplicação da vedação prevista no § 1º do art. 97 da 
LFRE. Entretanto, no segundo, não parece razoável considerar como sociedades irregulares, 
especialmente equiparando-as às sociedades em comum, aquelas que no ato da sua constituição se 
registraram perante o órgão competente, mas não promoveram a migração para a Junta Comercial 
após a entrada em vigor do atual CC. 
O credor domiciliado no exterior deverá prestar caução arbitrada pelo juiz, na forma do art. 83 
do Código de Processo Civil (CPC) e do art. 97, § 2º, da LFRE, a fim de assegurar o pagamento das 
custas, dos honorários sucumbenciais e de eventual indenização ao requerido, se constatado que houve 
dolo no requerimento de falência julgado improcedente, consoante art. 101 daLei de Falências. 
 
7 TJSP, Apelação 0004092-38.2010.8.26.0000. Rel. Pereira Calças. Julgamento: 14/12/2010. Câmara Reservada à Falência e 
à Recuperação de Empresa. 
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De fato, são raros os requerimentos de falência formulados por credores estrangeiros, uma 
vez que normalmente eles se valem de sólidas garantias reais ou bancárias, com pouca vantagem 
no requerimento de falência do devedor em terras estanhas. 
De toda maneira, qual deve ser o valor da caução? Defendemos, na prática, 40% do valor 
do crédito, tendo por referência, embora sem embasamento legal expresso, os percentuais 
máximos para a fixação do ônus de sucumbência e da pena por litigância de má-fé. 
 
Credor com garantia real 
O art. 9º, III, “b”, do Decreto-Lei nº 7.661/45 proibia expressamente o requerimento de 
falência por credor com garantia real, salvo se ele renunciasse a garantia ou se provasse, 
antecipadamente, que ela era insuficiente para cobrir o crédito. Tal proibição sempre foi seguida à 
risca pela jurisprudência dos tribunais e pela doutrina, que destacam, ainda, a falta de interesse de agir. 
Ocorre que essa proibição não foi renovada e, ao revés, foi substituída pela eloquente 
afirmativa de que “qualquer credor” poderá requerer a falência do seu devedor, atendidas as 
demais exigências legais. Não há nenhuma ressalva em relação aos credores com garantia real. 
Parcela considerável da doutrina, a exemplo do eminente professor Carlos Henrique 
Abrão,8 ainda considera a falta de interesse como principal obstáculo para o conhecimento do 
requerimento de falência formulado pelo credor com garantia real, salvo, como antes, se ele 
renunciar a garantia ou provar que ela é insuficiente. 
Em sentido contrário, amparados na interpretação literal da expressão “qualquer credor”, 
muitos doutrinadores, a exemplo de Salomão e Penalva Santos,9 admitem o requerimento de 
falência por todos os credores que se sujeitam ao concurso (art. 83 da LFRE), inclusive com 
garantia real. 
Sobre o tema, trazemos à colação como importante precedente o caso da Churrascaria 
Porcão, cuja falência foi decretada pelo MM. Juízo da 7ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro a 
partir do requerimento de um credor hipotecário.10 
Adotamos a tese favorável à legitimidade do credor com garantia real, hipotecária ou 
pignoratícia, para o requerimento de falência, aduzindo que o seu interesse de agir é incontestável, 
uma vez que, decretada a falência, ele terá prioridade de pagamento sobre o crédito fiscal, seja ele 
municipal, estadual ou federal, haverá limitação do privilégio do crédito trabalhista em 150 
salários-mínimos, ocorrerá a cessação do aumento do endividamento trabalhista do devedor, bem 
 
8 ABRÃO, Carlos Henrique. Comentários à Lei de Recuperação de Empresas e Falência. Coordenadores: Carlos Henrique 
Abrão e Paulo Fernando Campos Salles de Toledo. São Paulo: Saraiva, 2005. 254 p. 
9 SALOMÃO, Luis Felipe; SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação judicial, extrajudicial e falência: teoria e prática. 2. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2015. p. 84. 
10 Processo nº 0411258-46.2014.8.19.0001. 
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como se preservará o patrimônio restante do devedor contra eventuais desvios, comuns no 
período de insolvência. 
Recentemente, porém, tivemos de nos manifestar em um requerimento de falência 
formulado por um credor fiduciário contra a renomada rede de lojas de móveis e de artigos de 
decoração conhecida como Toque a Campainha.11 A princípio, por possuir direito de 
propriedade, esse credor não estaria sujeito ao concurso da falência, em razão do art. 85 da LFRE, 
nem mesmo precisaria “habilitar” o seu crédito. 
Na oportunidade, citamos um único precedente do TJSP que, anulando a sentença de 
extinção do processo sem o julgamento do mérito, reconheceu a legitimidade e o interesse do 
credor fiduciário no pedido de falência, forte no argumento de que, em tese, decretada a falência, 
ele poderia renunciar a garantia e assim habilitar o seu crédito.12 Ainda não estamos totalmente 
convencidos. 
 
Credor tributário 
Há intensa discussão acadêmica sobre a legitimidade da Fazenda Pública para formular 
requerimento de falência do seu devedor empresário. Não há mais como negar que o crédito 
fiscal está sujeito ao concurso de credores estabelecido pela falência, tanto que o crédito fiscal 
está estrategicamente posicionado nos incisos III e VII do art. 83, assim como no inciso V do 
art. 84 da LFRE. 
As mudanças promovidas pela Lei nº 14.112/2020 foram extremamente profícuas, pois 
instituíram o incidente de classificação de crédito fiscal e previram expressamente a suspensão das 
execuções fiscais contra as massas falidas, como também dos respectivos prazos prescricionais. 
Feitas tais considerações, o fato é que o STJ, desde antes do advento da Lei nº 11.101/05, 
havia sedimentado o entendimento de que a Fazenda Pública não tem legitimidade para requerer 
a falência do contribuinte devedor, por ausência de previsão legal específica, característica 
marcante da atividade administrativa vinculada do agente público. Vejamos: 
 
PROCESSO CIVIL. PEDIDO DE FALÊNCIA FORMULADO PELA 
FAZENDA PÚBLICA COM BASE EM CRÉDITO FISCAL. 
ILEGITIMIDADE. FALTA DE INTERESSE. DOUTRINA. 
RECURSO DESACOLHIDO. I – Sem embargo dos respeitáveis 
fundamentos em sentido contrário, a Segunda Seção decidiu adotar o 
entendimento de que a Fazenda Pública não tem legitimidade, e nem 
 
11 Processo nº 0079439-91.2019.8.19.0001, em trâmite perante a 1ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. 
12 TJSP, Apelação Cível nº 1067465-10.2017.8.26.0100. Relator: Araldo Telles; 2ª Câmara Reservada de Direito 
Empresarial; Foro Central Cível – 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais; Julgamento: 24/06/2019; Registro em 
25/06/2019. 
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interesse de agir, para requerer a falência do devedor fiscal. II – Na linha 
da legislação tributária e da doutrina especializada, a cobrança do tributo 
é atividade vinculada, devendo o Fisco utilizar-se do instrumento afetado 
pela lei à satisfação do crédito tributário, a execução fiscal, que goza de 
especificidades e privilégios, não lhe sendo facultado pleitear a falência do 
devedor com base em tais créditos (STJ, REsp 164.389/MG, Rel. 
ministro Castro Filho, Rel. p/ acórdão ministro Sálvio de Figueiredo 
Teixeira, 2ª Seção, Julgamento: 13/08/2003, DJ 16/08/2004, p. 130). 
 
Essa orientação continua firme na jurisprudência, mesmo após a entrada em vigor da Lei nº 
11.101/05, conforme se constata pelo precedente abaixo: 
 
TRIBUTÁRIO E COMERCIAL – CRÉDITO TRIBUTÁRIO – 
FAZENDA PÚBLICA – AUSÊNCIA DE LEGITIMIDADE PARA 
REQUERER A FALÊNCIA DE EMPRESA. 1. A controvérsia versa sobre 
a legitimidade de a Fazenda Pública requerer falência de empresa. 2. O art. 
187 do CTN dispõe que os créditos fiscais não estão sujeitos a concurso de 
credores. Já os arts. 5º, 29 e 31 da LEF, a fortiori, determinam que o crédito 
tributário não está abrangido no processo falimentar, razão pela qual carece 
interesse por parte da Fazenda em pleitear a falência de empresa. 3. Tanto o 
Decreto-lei n. 7.661/45 quanto a Lei n. 11.101/05 foram inspirados no 
princípio da conservação da empresa, pois preveem respectivamente, dentro 
da perspectiva de sua função social, a chamada concordata e o instituto da 
recuperação judicial, cujo objetivo maior é conceder benefícios às empresas 
que, embora não estejam formalmente falidas, atravessam graves dificuldades 
econômico-financeiras, colocando em risco o empreendimentoempresarial. 
4. O princípio da conservação da empresa pressupõe que a quebra não é um 
fenômeno econômico que interessa apenas aos credores, mas sim, uma 
manifestação jurídico-econômica na qual o Estado tem interesse 
preponderante. 5. Nesse caso, o interesse público não se confunde com o 
interesse da Fazenda, pois o Estado passa a valorizar a importância da 
iniciativa empresarial para a saúde econômica de um país. Nada mais certo, 
na medida em que quanto maior a iniciativa privada em determinada 
localidade, maior o progresso econômico, diante do aquecimento da 
economia causado a partir da geração de empregos. 6. Raciocínio diverso, 
isto é, legitimar a Fazenda Pública a requerer falência das empresas 
inviabilizaria a superação da situação de crise econômico-financeira do 
devedor, não permitindo a manutenção da fonte produtora, do emprego dos 
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 27 
 
trabalhadores, tampouco dos interesses dos credores, desestimulando a 
atividade econômico-capitalista. Dessarte, a Fazenda poder requerer a 
quebra da empresa implica incompatibilidade com a ratio essendi da Lei de 
Falências, mormente o princípio da conservação da empresa, embasador da 
norma falimentar. Recurso especial improvido (REsp 363.206/MG, Rel. 
ministro Humberto Martins, 2ª Turma, Julgamento: 04/05/2010, DJe, 
21/05/2010). 
 
Esse entendimento foi prestigiado no Enunciado nº 56 da Jornada de Direito Comercial do 
Conselho da Justiça Federal (CJF). No entanto, além da expressa legitimidade conferida às 
Fazendas Públicas para requererem a convolação do processo de recuperação em falência pela Lei 
14.112/2020, o Tribunal de Justiça de São Paulo, em precedente julgado no ano de 2020, deu 
provimento ao recurso da União Federal para reconhecer a legitimidade ativa da Fazenda Pública 
quando o pedido de falência do contribuinte estiver fundamentado na denominada execução 
frustrada, prevista no inciso II do caput do art. 94, da LFRE. Confira-se: 
 
FALÊNCIA. PEDIDO FORMULADO PELA UNIÃO FEDERAL. 
SENTENÇA QUE INDEFERIU A PETIÇÃO INICIAL E JULGOU 
EXTINTO O FEITO, SEM JULGAMENTO DO MÉRITO, POR 
FALTA DE INTERESSE DE AGIR DA FAZENDA PÚBLICA. 
HIPÓTESE DE ANULAÇÃO. PEDIDO DE FALÊNCIA COM BASE 
NO ART. 94, II, DA LEI Nº 11.101/05. CASO CONCRETO EM 
QUE RESTOU FRUSTRADA A EXECUÇÃO FISCAL. 
ESGOTAMENTO DOS MEIOS DISPONÍVEIS À UNIÃO PARA 
SATISFAÇÃO DO CRÉDITO. INTERESSE DE AGIR. HIPÓTESE 
QUE NÃO CONFIGURA VIOLAÇÃO AOS PRINCÍPIOS DA 
IMPESSOALIDADE E DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. 
EFEITOS DE EVENTUAL DECRETAÇÃO DE FALÊNCIA 
RELEVANTES PARA A PRESERVAÇÃO DA LIVRE 
CONCORRÊNCIA, EM COMBATE AOS AGENTES 
ECONÔMICOS NOCIVOS AO MERCADO. FAZENDA PÚBLICA 
QUE SE SUBMETE AO CONCURSO MATERIAL DE CREDORES, 
E, PORTANTO, TAMBÉM TEM INTERESSE NO PEDIDO DE 
QUEBRA. APELAÇÃO PROVIDA PARA ANULAR A SENTENÇA. 
(TJSP; Apelação Cível 1001975-61.2019.8.26.0491; Relator 
(a): Alexandre Lazzarini; Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de 
Direito Empresarial; Foro de Rancharia - 1ª Vara; Data do Julgamento: 
30/07/2020; Data de Registro: 31/07/2020) 
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28 
 
Juízo competente 
Definido quem pode dar o pontapé inicial do processo falimentar, passemos ao estudo do 
juízo competente para conhecer tanto o requerimento de falência como o pedido de recuperação 
judicial ou extrajudicial do devedor empresário. 
Do ponto de vista legal, não há novidade sobre a questão, estando ela disciplinada no art. 
3º da LFRE, que considera competente “o juízo do local do principal estabelecimento do devedor 
ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil”. O problema está em definir o que é 
“principal estabelecimento”. Seria a sede designada no ato constitutivo, o local onde está a maior 
parte do ativo, o lugar onde funciona a diretoria ou a administração da empresa ou onde o 
devedor empresário explora a maior parte ou a parte mais relevante dos seus negócios? 
Evidentemente, a questão só ganha contornos de complexidade quando a devedora possui 
vários estabelecimentos, tal como uma rede de lojas de departamento ou uma grande construtora 
e incorporadora, com empreendimentos em diversas cidades. 
Advirta-se, desde o pórtico, que a competência ora analisada é definida por critérios 
funcionais, portanto, absoluta, não se prorrogando, nem mesmo pela teoria do fato consumado, 
conforme sedimentada jurisprudência do STJ: 
 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO 
DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL AJUIZADO NA COMARCA DE 
CATALÃO/GO POR GRUPO DE DIFERENTES EMPRESAS. 
ALEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE GRUPO ECONÔMICO. 
DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA A COMARCA DE 
MONTE CARMELO/MG. FORO DO LOCAL DO PRINCIPAL 
ESTABELECIMENTO DO DEVEDOR. ART. 3º DA LEI 11.101/05. 
PRECEDENTES. 1. Trata-se de conflito de competência suscitado pelo 
JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DE MONTE CARMELO/MG 
em face do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS, nos 
autos de pedido de recuperação judicial formulado por quatro empresas, 
em litisconsórcio ativo, com a particularidade de que cada uma delas 
explora atividade empresária diversa e de forma autônoma, inclusive com 
estabelecimentos próprios. 2. [...] a norma constante do artigo 3º da 
Lei 11.101/05 encerra regra de competência absoluta, afastando 
eventual alegação da existência de preclusão quanto à suscitação do 
conflito. [...] (CC 146.579/MG, Rel. ministro Paulo de Tarso 
Sanseverino, 2ª Seção, Julgamento: 09/11/2016, DJe 11/11/2016). 
 
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Embora, na prática, alguns juízos sustentem as suas competências a partir de diferentes 
critérios, defendidos muitas vezes por vertentes doutrinárias dissonantes e minoritárias, quando a 
discussão chega ao STJ é firme a orientação de que principal estabelecimento é aquele onde ocorre 
o maior volume de negócios, independentemente do local da sede prevista no ato constitutivo, do 
local onde está a maior parte do ativo imobilizado ou do local onde se situam a diretoria e os 
sócios controladores. Vejamos: 
 
AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA. 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRINCIPAL ESTABELECIMENTO 
DO DEVEDOR. 1. Esta Corte, interpretando o conceito de "principal 
estabelecimento do devedor" referido no artigo 3º da Lei nº 
11.101/2005, firmou o entendimento de que o Juízo competente para 
processamento de pedido de recuperação judicial deve ser o do local em 
que se centralizam as atividades mais importantes da empresa. [...] (AgInt 
no CC 157.969/RS, Rel. ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, 2ª Seção, 
Julgamento: 26/09/2018, DJe 04/10/2018). 
 
Contudo, como já alinhavado, há na doutrina entendimento diverso, e pelo menos um 
deles está calcado na respeitada posição de Trajano de Miranda Valverde, para o qual o principal 
estabelecimento é aquele em que se encontra a sede administrativa do devedor. Assim entendia 
porque a sede administrativa seria o “ponto central dos negócios, de onde partem todas as ordens, 
que imprimem e regularizam o movimento econômico dos estabelecimentos produtores”.13 
Nada obstante, maior dificuldade se apresenta quando a atividade empresarial é 
pulverizada, em vários locais, por vezes em quase todo o território nacional, sem clara 
predominância por alguma cidade, como no caso de uma grande construtora e incorporadora de 
imóveis ou de uma companhia aérea, ou mesmo quando não há um local fixo para a exploração 
da atividade, como na hipótese de uma sociedade exploradora de derivados de petróleo, com 
concessões para vários campos de extração, ou de uma sociedade organizadora de grandes shows 
pelo País. 
Em hipóteses como tais, a jurisprudência tem oscilado entre o local designado como sede 
nos atos constitutivos ou o local onde funciona o centro de comando administrativo, ou seja, 
onde funciona a direção. Confira-se: 
 
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO 
DERECUPERAÇÃO JUDICIAL AJUIZADO NA COMARCA DE 
CATALÃO/GO POR GRUPO DE DIFERENTES EMPRESAS. 
ALEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE GRUPO ECONÔMICO. 
 
13 VALVERDE, Trajano de Miranda. Comentários à Lei de Falências. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1955. 84 p. v. 3. 
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DECLINAÇÃO DA COMPETÊNCIA PARA A COMARCA DE 
MONTE CARMELO/MG. FORO DO LOCAL DO PRINCIPAL 
ESTABELECIMENTO DO DEVEDOR. ARTIGO 3º DA LEI 
11.101/05. PRECEDENTES. 1. Trata-se de conflito de competência 
suscitado pelo JUÍZO DE DIREITO DA 2ª VARA DE MONTE 
CARMELO/MG em face do TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO 
DE GOIÁS, nos autos de pedido de recuperação judicial formulado por 
quatro empresas, em litisconsórcio ativo, com a particularidade de que 
cada uma delas explora atividade empresária diversa e de forma 
autônoma, inclusive com estabelecimentos próprios. [...]. 7. 
Considerando o variado cenário de informações que constam dos autos, 
notadamente a de que a ELETROSOM S/A é a maior sociedade do 
grupo, e que sua atividade é pulverizada pelo país, deve ser definido 
como competente o juízo onde está localizada a sede da empresa, ou seja, 
o juízo da Comarca de Monte Carmelo/MG. [...] (CC 146.579/MG, 
Rel. ministro Paulo de Tarso Sanseverino, 2ª Seção, Julgamento: 
09/11/2016, DJe 11/11/2016). 
 
Não se pode deixar de mencionar um case de grande repercussão e que de certa forma serviu 
de orientação para os demais. Trata-se do Caso Sharp. Como cediço, a Sharp comercializava os 
seus produtos em todo o País, mas a sua diretoria ficava em São Paulo, assim como o seu maior 
volume de vendas, enquanto a única fábrica estava situada na Zona Franca de Manaus. 
Inicialmente, a concordata foi processada em São Paulo, a pedido da devedora, mas em razão de 
um pedido de falência distribuído em Manaus, o STJ, no julgamento do Conflito de 
Competência nº 37.736/SP, decidiu que a competência seria do local onde funcionava a fábrica, 
ou seja, Manaus. 
Há de se consignar que a alteração fraudulenta do estabelecimento empresarial, isto é, 
quando a mudança tiver por finalidade dificultar a ação dos credores, passou a ser considerada 
como um ato de falência, o que por si só já autoriza o requerimento da sua quebra, no juízo do 
local do antigo estabelecimento, conforme art. 94, III, “d”, da LFRE. 
Nos processos de recuperação judicial de grupo econômico, há de se perquirir qual o principal 
estabelecimento do grupo com um todo, na linha prevista no § 2º do art. 69-G da LFRE. 
Por derradeiro, com base no art. 6o, § 8º, da LFRE, a distribuição do pedido de falência ou 
de recuperação judicial ou extrajudicial previne a competência. 
 
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Pressupostos falimentares 
Como já adiantamos, para que seja decretada a falência, deve ficar comprovada nessa fase 
cognitiva a presença dos chamados pressupostos falimentares, assim entendidos: 
a) materiais: 
� legitimidade passiva e 
� insolvência. 
 
Obs.: impossibilidade de recuperação (nosso posicionamento). 
 
formal: 
� sentença de falência. 
 
Durante a tramitação do pedido de falência, o juiz deverá perquirir se todos os pressupostos 
acima destacados estão presentes. A ausência de qualquer um deles impede a sentença de quebra. 
Analisemos, pois, cada um desses pressupostos. 
 
 
Legitimidade passiva 
O art. 1º da LFRE foi muito preciso ao restringir a aplicação do novo regime jurídico da 
insolvência empresarial, ao dispor que: “Art. 1º Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a 
recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos 
simplesmente como devedor”. 
Diante da literalidade do texto legal, somente o empresário individual (art. 966 do CC), a 
sociedade empresária (art. 982 c/c art. 966 do CC) e a empresa individual de responsabilidade 
limitada (Eireli) estão sujeitos à falência, pois o instituto é essencialmente empresarial.14 
Estão excluídas desse regime, de pronto e por indução lógica, as sociedades simples, os 
empreendedores rurais que não possuírem registro na Junta Comercial, as pessoas jurídicas sem 
fins lucrativos, como associações e fundações, e as pessoas naturais que não exercerem, de fato e 
em nome próprio, atividade própria de empresário. Todos esses estão sujeitos ao procedimento de 
insolvência civil, disciplinado no CPC de 1973, no capítulo referente à execução por quantia certa 
contra os bens do devedor insolvente. 
Em relação ao empresário individual, três pontos devem ser abordados. O primeiro é que o 
empresário individual, no Brasil, é o titular da firma individual e com ela se confunde, ou seja, não 
 
14 Há projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional pretendendo submeter as sociedades simples ao regime 
jurídico da insolvência empresarial. 
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podem ser consideradas duas personalidades distintas. A falência, portanto, é do empresário individual 
(pessoa natural), titular da firma individual (pessoa jurídica). Essa é a posição da jurisprudência: 
 
Na verdade, o que se tem é o redirecionamento da execução fiscal para a 
pessoa física responsável legal pela empresa à época do fato gerador e, 
agora, discute-se a possibilidade de utilizar como critério para a pesquisa 
de bens o CNPJ da firma individual do executado. Ou seja, não se 
pretende analisar fatos e provas, mas o reconhecimento de que no caso de 
firma individual não existe distinção entre a personalidade jurídica da 
pessoa jurídica e a da pessoa natural de seu titular, havendo, portanto, 
confusão entre o patrimônio de um e de outro, o que permitiria a 
pesquisa dos bens considerando-se o CNPJ da firma individual. 
Aliás, o próprio STJ já se posicionou no sentido de que a empresa 
individual é mera ficção jurídica, criada para habilitar a pessoa 
natural a praticar atos de comércio, com vantagens do ponto de vista 
fiscal, sendo que o patrimônio da empresa individual se confunde 
com o de seu sócio, conforme julgado a seguir: (fls. 233/236e) (STJ, 
ministra Relatora Assusete Magalhães. Decisão Monocrática no AgInt no 
Recurso Especial nº 1.397.766 – RS. 01/08/2017). Nesse sentido: 
TJ/MT, Ap. Cív. 92908/68, Quinta Câmara Cível, Des. Rel. Carlos 
Alberto Alves da Costa. Julgamento: 07/02/2007. 
 
O segundo ponto é o fato de ser possível a decretação da falência do espólio deixado pelo 
empresário individual, desde que o pedido seja feito em até um ano da data do óbito do 
empresário (art. 96, § 1º, in fine, da LFRE), fato raríssimo e que jamais presenciamos, mesmo 
após vários anos de atuação na seara falimentar. 
O último registro é sobre a possibilidade de decretação da falência do empresário individual 
menor de 18 anos, algo proibido no sistema anterior. Tanto o absolutamente incapaz, autorizado 
pelo art. 974 do CC, como o maior de 16 anos, emancipado por força do art. 5º, V, do CC, estão 
sujeitos à decretação da falência. 
Em relação à Eireli, sem adentrar com desnecessária profundidade nas questões atreladas ao 
Direito de Empresa, o fato é que ela pode ser constituída para explorar atividade empresarial ou 
não empresarial, o que implica a necessidade do exame concreto da sua natureza. 
O registro na Junta Comercial só terá natureza constitutiva da qualidade de empresário 
para aqueles que exploram atividade rural e, em outra linha, só terão mercantilidade forçada as 
pessoas jurídicas que se revestirem da forma de sociedade por ações. Assim, constatado que a 
atividade explorada por uma Eireli não é própria do empresário, por exemplo, funcionando 
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 33 
 
como um pequenoescritório de arquitetura, mesmo registrada na Junta Comercial, ela não 
estará sujeita à falência. 
Sem nos aprofundarmos no seu conceito, devemos considerar empresárias e, com isso, 
sujeitas à falência, todas as sociedades que explorem atividades de produção de bens, como as 
indústrias; de circulação de bens, como as concessionárias de veículos e as lojas de roupas; e de 
prestação de serviços, como as imobiliárias, os hotéis e as construtoras. 
Também serão consideradas empresárias as sociedades que explorem atividade intelectual, 
artística, literária ou científica quando a estrutura empresarial se sobrepuser à atividade, o que 
normalmente fica claro quando a atividade-fim não é exercida significativamente pelos sócios, 
mas, sim, por profissionais contratados.15 É o caso de escolas, laboratórios e hospitais. 
Ressalvados os casos de confusão patrimonial, defendemos a impossibilidade de 
litisconsórcio passivo nos requerimentos de falência, ainda que sejam devedores solidários. Entre 
outras razões de ordem processual, destacamos que a lei se refere ao devedor sempre no singular e 
que, quando quis admitir o litisconsórcio, foi expressa, ex vi do art. 94, § 1º da LFRE. 
 
Teoria dos agentes econômicos 
É cediço que a LFRE disciplina a insolvência empresarial, tendo por alicerce a denominada 
teoria da empresa, encampada no Brasil pelo Código Civil de 2002. Ocorre que recentes e 
polêmicas decisões têm autorizado o processamento de pedidos de recuperação judicial de não 
empresários, sob o argumento de que a teoria da empresa já estaria divorciada da nossa realidade e 
de que a LFRE deveria ser aplicada aos denominados “Agentes Econômicos”, conceito esse que 
englobaria as sociedades simples, as associações e as fundações, os últimos reconhecidamente sem 
finalidade lucrativa. 
O principal objetivo dessa linha de pensamento é permitir que alguns clubes de futebol, 
hospitais e entidades de ensino, criados como associações sem fins lucrativos, possam pedir 
recuperação judicial, tal como permitido aos empresários. A decisão mais emblemática favoreceu a 
Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, uma associação civil sem fins lucrativos e com 
o título de entidade filantrópica, inclusive para obtenção de certas imunidades tributárias16. 
Não se pode olvidar que essa é uma via de mão dupla, ou seja, adotada a denominada teoria 
dos agentes econômicos, estes agentes econômicos poderão até ter acesso ao instituto da 
recuperação de empresas, mas também estarão ao alcance da falência. A adoção dessa teoria foi 
profundamente discutida e, o mais importante, rejeitada pelos legisladores, durante a tramitação 
dos projetos de lei que, aglutinados, resultaram na aprovação da Lei nº 14.112, de 24 de 
dezembro de 2020. 
 
15 Nesse sentido, ver os Enunciados nº 193, nº 194 e nº 195 do CJF. 
16 TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0031515-53.2020.8.19.0000. 6ª Câmara Cível. Des. Rel. Nagib Slaibi Filho. Julgado em 
02/09/2020. Maioria de Votos. 
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34 
 
Sociedades empresárias dissolvidas irregularmente 
É muito comum, infelizmente, nos depararmos com um requerimento de falência 
direcionado contra uma sociedade empresária que só existe no papel, ou seja, que já foi dissolvida 
de forma irregular, com o total desaparecimento do ativo, circulante e imobilizado, e da 
escrituração, sem baixa na Junta Comercial, para desespero dos credores, que sequer têm meios de 
descobrir o paradeiro de bens eventualmente desviados. 
Decretada a falência, defendemos a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade 
jurídica e o oferecimento de denúncia criminal contra os administradores pela prática do crime 
previsto no art. 168, § 1º, da LFRE. Nesse sentido: 
 
O inconformismo não prospera. 1. O Tribunal local reconheceu, com base 
na análise dos elementos de convicção acostados aos autos, a 
responsabilidade pessoal da insurgente (sócia da empresa falida) em 
razão da falida ter encerrado suas atividades sem a prévia observância 
dos procedimentos legais, motivo pelo qual adequada o reconhecimento 
da responsabilidade da sócia administradora pelos danos causados 
decorrentes da má administração e encerramento irregular da falida. 
Confira-se os seguintes trechos do acórdão (fl. 133/139, e-STJ): No apelo, a 
parte apelante reitera que cumpriu suas obrigações decorrentes da lei 
falimentar; pela inexistência de habilitações não há obrigações a serem 
assumidas pelos sócios; a responsabilidade da administração seria do outro 
sócio e não há prova de sua responsabilidade. Adianto que a sentença deve 
ser mantida com o desprovimento do apelo. Diz a sentença recorrida e cujas 
razões as adoto: Trata-se de ação de responsabilidade ajuizada pelo Síndico 
contra os sócios da falida, objetivando a responsabilização e ressarcimento 
dos danos causados contra a massa, com fundamento na dissolução 
irregular, falta de documentação contábil e não cumprimento do art. 
104 da Lei n.° 11.101/05. [...] Quanto ao não cumprimento do dever 
imposto aos sócios no art. 102 da lei nº 11.101/05, em que pese Neusa 
tenha prestado tais declarações e inclusive declarado que a sociedade era 
administrada por Angelo (fl. 37), este sócio as omitiu. No que tange à falta 
de apresentação dos livros contábeis, em que pese a sócia Neusa tenha 
afirmado que a documentação estava com o outro sócio (fl. 32), tal alegação 
vai de encontro à contestação apresentada por ocasião do pedido falimentar, 
quando afirmou que ele não mantinha contato com a empresa há 
aproximadamente dois anos (fl. 137). Tais contradições evidenciam que a 
sócia Neusa apresenta seus fundamentos conforme sua conveniência 
processual, pois se Ângelo estava afastado da empresa, não é crível a alegação 
de que ele administrava a empresa de fato e que os livros estariam sob a posse 
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 35 
 
dele. Tal justificativa é frágil para afastar a responsabilidade da sócia Neusa 
de entregar os livros, especialmente porque a sede da empresa confundia-se 
com sua residência, conforme apurou o oficial de justiça. Ademais, se Ângelo 
realmente estivesse afastado da administração, pouco crivei que não tivesse 
arguido tal fato em seu favor em vez de simplesmente optar pela revelia. Tais 
elementos evidenciam que ambos os sócios agiram de forma ruinosa na 
condução do objetivo social da empresa falida, frustrando a arrecadação 
dos bens e consequentemente o pagamento dos credores, ficando 
prejudicada a localização de outros bens diante da inexistência de 
escrituração contábil regular por parte daquela. [...] Então, havendo 
prova da dissolução irregular e o devido processo judicial, com a 
possibilidade da realização das provas a ele inerentes e restando determinados 
os atos ilícitos realizados frente à administração da empresa, como dito na 
sentença, resta apenas de manter a responsabilidade pelos danos causados e 
na forma apontado na sentença a sua reparação. Assim, é mantida na 
integralidade da sentença recorrida. Sendo assim, para acolhimento do apelo 
extremo, no sentido de que a insurgente teria cumprido com todas as 
obrigações constantes na lei falimentar, seria imprescindível derruir a 
afirmação contida no decisum atacado, o que, forçosamente, ensejaria em 
rediscussão de matéria fática, incidindo, na espécie, o óbice da Súmula 7 
deste Superior Tribunal de Justiça, sendo manifesto o descabimento do 
recurso especial (STJ, AgRg no Agravo em Recurso Especial nº 351.956-RS. 
Relator: ministro Marco Buzzi. Julgamento: 18/03/2015).17 
 
Sociedades empresárias não sujeitas à LFRE 
Não são todas as sociedades empresárias que estão sujeitas à LFRE. Pelo menos essa é a 
primeira impressão que se extrai da redação do seu art. 2º: 
 
Art. 2º Esta Lei não se aplica a: 
I – empresa pública e sociedade de economia mista;II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, 
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora 
de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de 
capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. 
 
 
17 TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0024899-72.2014.8.19.0000. Des. Gabriel de Oliveira Zefiro. Julgamento: 03/11/2014. 13ª 
Câmara Cível. 
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36 
 
Apesar da barulhenta divergência doutrinária, no âmbito jurisprudencial a interpretação 
desse dispositivo legal não parece tão tormentosa. 
As empresas públicas e as sociedades de economia mista são empresárias, mas sempre 
estiveram fora do regime falimentar. De início, a proibição advinha do art. 242 da Lei nº 
6.404/76, revogado pela Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001. Até a edição da nova LFRE, 
não tínhamos nenhum dispositivo legal tratando do tema de forma clara. Contudo, o inciso I do 
art. 2º, da Lei nº 11.101/05 voltou a trazer paz ao tema, salvo para aqueles que sustentam a sua 
inconstitucionalidade, por aparente violação do art. 173, § 1º, II, da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/88), c/c o art. 195, da própria Lei nº 11.101/05, que 
autoriza a falência das concessionárias de serviços públicos. 
Não enxergamos nenhuma inconstitucionalidade, na medida em que as empresas públicas e 
as sociedades de economia mista só atuam no campo empresarial quando houver relevante interesse 
público ou assunto inerente à segurança nacional. Não há nada de inconstitucional em excluí-las do 
regime jurídico da insolvência empresarial, sob o fundamento da prevalência do interesse público 
sobre o privado, estando a opção do legislador infraconstitucional em perfeita harmonia com a 
nossa Carta Magna.18 
De toda maneira, o Supremo Tribunal Federal afetou ao Plenário o julgamento do Recurso 
Extraordinário nº 1.249.945/MG, que teve repercussão geral reconhecida por unanimidade pelo 
Plenário Virtual da Corte (tema 1101), contra acórdão do TJGM que negou o pedido de 
recuperação judicial da Empresa de Serviços, Obras e Urbanização do Município de Montes Claros. 
Mais uma vez lembramos que, se a Empresa Pública e a Sociedade de Economia Mista tiverem 
direito ao instituto da recuperação judicial, também estarão sujeitas à falência. 
A interpretação do inciso II do art. 2º da LFRE já inspira mais cuidados, sendo oportuna a 
sua análise por etapas, dada a multiplicidade de entidades por ele abrangida. 
As instituições financeiras, as cooperativas de crédito e os consórcios estão sujeitos às regras de 
intervenção e liquidação extrajudiciais previstas na Lei nº 6.024/74. Conjugando as duas leis, 
chegamos à conclusão de que tais sociedades estão sujeitas indiretamente à falência, na medida em que 
o único caminho para elas chegarem à falência é por meio do pedido de “autofalência” formulado pelo 
liquidante extrajudicial, devidamente autorizado pelo presidente do Banco Central do Brasil, o que se 
dá nas hipóteses previstas no art. 12, “d”, e no art. 21, “b”, da Lei nº 6.024/74. Vejamos: 
 
Art. 12. À vista do relatório ou da proposta do interventor, o Banco 
Central do Brasil poderá: [...] 
d) autorizar o interventor a requerer a falência da entidade, quando o seu 
ativo não for suficiente para cobrir sequer metade do valor dos créditos 
quirografários, ou quando julgada inconveniente a liquidação 
 
18 Nesse sentido: COELHO, Fábio. Curso de direito comercial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 248. v. 5. 
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extrajudicial, ou quando a complexidade dos negócios da instituição ou, 
a gravidade dos fatos apurados aconselharem a medida. 
 
As sociedades de previdência complementar abertas, por força do art. 73 da Lei 
Complementar nº 109, de 29 de maio de 2001, e as sociedades de capitalização, em razão do art. 
4º do Decreto-Lei nº 261, de 28 de fevereiro de 1967, estão sujeitas ao mesmo regime imposto às 
seguradoras, as quais, por sua vez, a partir da Lei nº 10.190, de 14 de fevereiro de 2001, a qual 
alterou o Decreto-Lei nº 73, de 21 de novembro de 1966, passaram a se sujeitar à falência nos 
mesmos termos das instituições financeiras. A única diferença é que a intervenção e a liquidação 
extrajudicial são promovidas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep). 
As sociedades operadoras de plano de saúde estão reguladas pela Lei nº 9.656, de 3 de 
junho de 1998, que, no seu art. 23, também autoriza a falência nas mesmas hipóteses previstas 
para as instituições financeiras, sendo que desta feita todo o procedimento é supervisionado pela 
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). 
Por fim, as entidades fechadas de previdência complementar, por força do art. 47 da Lei 
Complementar nº 109/01, não estão sujeitas à falência. 
 
Insolvência 
A LFRE pouco alterou os critérios caracterizadores da insolvência. Continuou prestigiada a 
insolvência ficta ou presumida, isto é, para a decretação da falência, é irrelevante a discussão se o 
ativo do devedor é inferior ao seu passivo. Além da própria confissão de insolvência, denominada 
de autofalência, a lei definiu, no seu art. 94, três critérios distintos para presumir que o devedor 
está insolvente. São eles: a impontualidade, a execução frustrada e os atos de falência. 
De início é importante destacar que o requerente deve informar claramente na sua petição 
inicial qual o fundamento do seu requerimento, ou seja, impontualidade, execução frustrada ou 
atos de falência. Outrossim, questão interessante e por vezes ignorada pela doutrina, mas 
merecedora de toda a nossa atenção, é saber se o requerimento de falência pode basear-se em mais 
de um fundamento, ou seja, em mais de um inciso do art. 94 da LFRE. Não há uma resposta 
segura para essa indagação, mas, em tese, não enxergamos qualquer empecilho legal, em face da 
unicidade procedimental. 
 
 
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Impontualidade 
Seguindo uma tradição do direito pátrio, a nova lei reproduziu como principal elemento 
caracterizador da insolvência a impontualidade, traçando, contudo, novos contornos. Dispõe o 
art. 94, I, da LFRE, que: 
 
Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: 
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação 
líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja 
soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data 
do pedido de falência; 
 
Como se pode notar, quase nada muda em relação ao sistema anterior, salvo no que 
concerne ao valor do título ou títulos que municiam o requerimento. Antes, o pedido de falência 
pela impontualidade poderia ter como alicerce um título executivo qualquer que fosse o seu valor, 
dando azo a requerimentos de falência de grandes sociedades empresárias a partir de dívidas de 
baixíssimos valores, em uma clara demonstração de que a ameaça de falência estava sendo usada 
como mero instrumento de coação para cobrança de dívidas contra devedores solventes. Pelas 
novas regras, porém, a dívida deve superar a marca dos 40 salários-mínimos na data do 
requerimento de falência. 
Nessa linha, não tem mais acolhida na jurisprudência, sobretudo do STJ, a tese de abuso de 
direito, escorada no fato do credor requerer a falência do devedor com grande patrimônio, a partir 
de um crédito inadimplido de baixo valor. Ultrapassada a marca dos 40 salários-mínimos é 
legítima a opção do credor em requerer a falência pela impontualidade, mesmo de devedores de 
grande envergadura econômica, como na hipótese abaixo, em queo credor de duplicatas no valor 
de R$ 160.000,00 requereu a falência das Lojas Americanas: 
 
DIREITO EMPRESARIAL. FALÊNCIA. IMPONTUALIDADE 
INJUSTIFICADA. ART. 94, INCISO I, DA LEI N. 11.101/2005. 
INSOLVÊNCIA ECONÔMICA. DEMONSTRAÇÃO. 
DESNECESSIDADE. PARÂMETRO: INSOLVÊNCIA JURÍDICA. 
DEPÓSITO ELISIVO. EXTINÇÃO DO FEITO. DESCABIMENTO. 
ATALHAMENTO DAS VIAS ORDINÁRIAS PELO PROCESSO DE 
FALÊNCIA. NÃO OCORRÊNCIA. 1. Os dois sistemas de execução por 
concurso universal existentes no direito pátrio – insolvência civil e falência 
–, entre outras diferenças, distanciam-se um do outro no tocante à 
concepção do que seja estado de insolvência, necessário em ambos. O 
sistema falimentar, ao contrário da insolvência civil (art. 748 do CPC), não 
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tem alicerce na insolvência econômica. 2. O pressuposto para a instauração 
de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir 
de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No caso 
do direito brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 
94 da Lei n. 11.101/2005, a impontualidade injustificada (inciso I), 
execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III). 3. 
Com efeito, para o propósito buscado no presente recurso – que é a 
extinção do feito sem resolução de mérito –, é de todo irrelevante a 
argumentação da recorrente, no sentido de ser uma das maiores empresas 
do ramo e de ter notória solidez financeira. Há uma presunção legal de 
insolvência que beneficia o credor, cabendo ao devedor elidir tal presunção 
no curso da ação, e não ao devedor fazer prova do estado de insolvência, 
que é caracterizado ex lege. 4. O depósito elisivo da falência (art. 98, 
parágrafo único, da Lei n. 11.101/2005), por óbvio, não é fato que 
autoriza o fim do processo. Elide-se o estado de insolvência presumida, de 
modo que a decretação da falência fica afastada, mas o processo converte-se 
em verdadeiro rito de cobrança, pois remanescem as questões alusivas à 
existência e exigibilidade da dívida cobrada. 5. No sistema inaugurado pela 
Lei n. 11.101/2005, os pedidos de falência por impontualidade de dívidas 
aquém do piso de 40 (quarenta) salários-mínimos são legalmente 
considerados abusivos, e a própria lei encarrega-se de embaraçar o 
atalhamento processual, pois elevou tal requisito à condição de 
procedibilidade da falência (art. 94, inciso I). Porém, superando-se esse 
valor, a ponderação legal já foi realizada segundo a ótica e prudência do 
legislador. 6. Assim, tendo o pedido de falência sido aparelhado em 
impontualidade injustificada de títulos que superam o piso previsto na lei 
(art. 94, I, Lei n. 11.101/2005), por absoluta presunção legal, fica afastada 
a alegação de atalhamento do processo de execução/cobrança pela via 
falimentar. Não cabe ao Judiciário, nesses casos, obstar pedidos de falência 
que observaram os critérios estabelecidos pela lei, a partir dos quais o 
legislador separou as situações já de longa data conhecidas, de uso 
controlado e abusivo da via falimentar. 7. Recurso especial não provido 
(STJ, REsp. 1433652/RJ, Rel. ministro Luiz Felipe Salomão. 4ª Turma. 
Julgamento: 18/09/2014. DJe. 29/10/2014).19 
 
 
19 REsp 1532154/SC. Rel. ministro Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª Turma, Julgamento: 18/10/2016, DJe 03/02/2017. 
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A lei admite expressamente a possibilidade de litisconsórcio ativo entre diversos credores do 
mesmo devedor empresário, a fim de se alcançar o mínimo legal, consoante o § 1º do art. 94 da 
LFRE. Entretanto, não temos notícia da sua ocorrência. 
Como antes, todos os títulos que instruem o pedido de falência por impontualidade devem 
estar regularmente protestados. Saliente-se, nesse contexto, que a jurisprudência edificada sob a 
influência da legislação revogada (art. 10 do Decreto-Lei nº 7.661/45) admitia o protesto 
cambiário no lugar do falimentar.20 
Ocorre que o atual § 3º do art. 94 da LFRE, diversamente do sistema anterior, assevera que 
os títulos, “em qualquer caso, devem estar acompanhados dos respectivos instrumentos de 
protesto para fim falimentar, nos termos da legislação específica”. 
Inicialmente, parte da jurisprudência, sobretudo em precedentes do Tribunal de Justiça 
de Santa Catarina (TJSC), passou a exigir o protesto especial falimentar, não permitindo que 
o protesto cambiário o substituísse. Esse, no entanto, não é o entendimento da jurisprudência 
já pacificada. 
Para amparar o pedido de falência por impontualidade, basta que no instrumento de 
protesto, especial ou cambiário, esteja identificada a pessoa que recebeu a notificação em nome do 
devedor, no seu endereço, mesmo sem poderes especiais para tanto, na forma da Súmula 361 do 
STJ, que possui a seguinte redação: “A notificação do protesto, para requerimento de falência da 
empresa devedora, exige a identificação da pessoa que a recebeu”. 
A intimação ficta, por edital, somente nas hipóteses em que o devedor estiver em local 
incerto e não sabido. 
É importante lembrar que até mesmo os títulos executivos judiciais, quando utilizados para o 
requerimento de falência pela impontualidade, podem e devem ser protestados para fim falimentar. 
Saliente-se, ainda, que não é mais possível o requerimento de falência com base em 
“protesto por empréstimo”, isto é, quando um credor se aproveita do protesto tirado por outro 
credor contra o mesmo devedor (art. 4º do Decreto-Lei nº 7.661/45). O § 3º do art. 94 da LFRE 
é claro ao dispor que, em qualquer caso, os títulos devem estar acompanhados dos “respectivos” 
instrumentos de protesto. 
 
Execução frustrada 
A execução frustrada sempre foi um dos caminhos para provar a insolvência do devedor. No 
sistema anterior, ela estava inserida, incorretamente, no rol de atos de falência. Contudo, ganhou 
prestígio na nova legislação, estando hoje disciplinada como uma forma autônoma de 
caracterização da insolvência. Assim dispõe o art. 94, II, da LFRE: “Art. 94. Será decretada a 
falência do devedor que: [...] II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita 
e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal”. 
 
20 RT 543/115. 
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Note-se que não há exigência de valor mínimo para o título ou títulos que escoram o pedido 
de falência. Basta instruir a exordial com a certidão de execução frustrada, isto é, com a declaração 
do cartório do juízo onde se processou a execução, de que o executado, embora citado, não pagou, 
não depositou nem ofereceu bens à penhora no prazo legal, a chamada “tríplice omissão”. 
A fim de harmonizar a legislação falimentar com as inúmeras modificações do nosso sistema 
processual, defendemos que para o requerimento de falência com esse fundamento deve-se exigir 
algo mais, além daquela tríplice omissão. Como pelo atual sistema processual o executado pode, 
mesmo sem garantir o juízo, apresentar embargos à execução, conforme art. 914 do CPC, não há 
como se admitir o pedido de falência enquanto eles não forem julgados, dado o risco de decisões 
conflitantes. Assim, a certidão de execução frustrada prevista no § 4º do art. 94 da LFRE deverá 
informar, além daquelas três omissões tradicionais, uma quarta: a inexistência de embargos à 
execução pendentes de julgamento. 
É importante que a certidão também mencione o estado do processo de execução, ou seja, 
se ele está suspenso ou extinto. A prova disso, porém, pode ser feita por qualquer outro meio. 
Relembre-se, a rigor, que não há necessidade de se extinguirdefinitivamente a execução singular 
para proceder ao requerimento de falência, bastando a sua suspensão.21 
Também não se admite o requerimento de falência com base em uma execução provisória 
frustrada ou a utilização de certidão de execução frustrada de terceiro, pelos mesmos fundamentos 
invocados para não se admitir o protesto “por empréstimo”. 
Por fim, não se exige que o credor, outrora exequente, demonstre que esgotou todas as 
possibilidades de encontrar bens do devedor no processo de execução. Este é o entendimento 
do TJSP: 
 
Pedido de falência. Execução frustrada. Art. 94, II, da Lei nº 11.101/2005. 
Insolvência econômica da empresa devedora que não constitui pressuposto à 
decretação de quebra sob tal fundamento, sendo suficiente a tanto a simples 
configuração de situação legal objetivamente autorizadora desse efeito. 
Falência que requer nesse caso tão somente a presença concomitante de três 
requisitos no âmbito da execução singular promovida contra a devedora: 
falta de pagamento e a par disso a ausência de depósito do valor cobrado, 
bem como de nomeação de bens suficientes à penhora, sempre dentro do 
prazo legal. Desnecessidade de esgotamento das tentativas de localização de 
bens, nos autos da execução singular. Suspensão desse processo devidamente 
demonstrada, conforme enunciado da Súmula nº 48 deste E. Tribunal de 
Justiça. Pedido falimentar regularmente instruído com certidão indicativa 
dessa circunstância. Decisão de Primeiro Grau, que decretou a quebra, 
 
21 STJ, REsp. 125.399/RS. 3ª Turma. 
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mantida. Agravo de instrumento da ré não provido (TJSP; Agravo de 
Instrumento 2050638-47.2016.8.26.0000; Relator: Fabio Tabosa; Órgão 
Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de Santos – 2ª 
Vara Cível; Julgamento: 24/08/2016; Registro: 27/08/2016). 
 
Atos de falência 
Seguindo a tradição, a LFRE conserva a possibilidade de o requerimento de falência ocorrer 
com base na prática de certos atos pelo devedor, condutas essas que receberam o nome de atos de 
falência. O art. 94, III, da LFRE traz um rol taxativo de condutas que, se adotadas pelo devedor 
empresário, fazem presumir a sua insolvência. 
O credor não precisa estar com o seu título vencido, muito menos protestado, para requerer 
a falência com base nesse fundamento. Nas próximas linhas, resumiremos o conteúdo de cada 
conduta, na ordem constante da lei: 
a) Liquidação precipitada – no fundo, a lei vê a malícia do empresário que pretende apurar 
o ativo sem pagar o passivo. Devemos ressaltar que as chamadas “queimas de estoque” 
não constituem maliciosa liquidação de que trata este inciso. O que a caracteriza é a 
venda de bens indispensáveis à continuação da empresa (ativo não circulante), 
especialmente por valores muito abaixo dos praticados no mercado; 
b) Negócio simulado – com o negócio simulado o devedor tenta furtar a garantia comum 
dos credores. Comprovada a transferência simulada de bens e decretada a falência, os 
credores, o Ministério Público e, sobretudo, o administrador judicial poderão buscar a 
ineficácia desses negócios; 
c) Trespasse irregular – a lei pretende coibir que o devedor transfira para terceiro o seu 
estabelecimento empresarial e, com isso, fique sem bens suficientes para pagar o passivo. 
O trespasse deve seguir rigorosamente as regras previstas nos arts. 1.144 a 1.145 do CC, 
também sob pena de ineficácia; 
d) Transferência irregular do principal estabelecimento – trata-se de uma inovação. Só se 
caracteriza quando comprovado que esse comportamento tem como objetivo a fuga do 
devedor, isto é, quando buscar dificultar o acesso dos credores; 
e) Falsa garantia – a falência com base nesse inciso só pode ser decretada quando o 
devedor procurar favorecer um credor em detrimento dos outros, e não quando se trate 
de operação nova, tendente a desafogar uma situação passageira de falta de capital de 
giro, especialmente mediante a entrada de “dinheiro novo”; 
f) Abandono do estabelecimento – tem por finalidade afastar a ação dos credores e só se 
caracteriza quando o titular não deixar procuradores para representá-lo; 
g) Descumprimento da recuperação judicial – também é uma novidade. Caso o devedor 
em recuperação judicial cumpra as obrigações acordadas para os dois primeiros anos, o 
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processo será encerrado, e a fiscalização passará a ser feita exclusivamente pelos seus 
credores. Assim, se o devedor descumprir qualquer obrigação assumida no plano de 
recuperação judicial, depois de encerrado o processo, seja de dar, fazer ou não fazer, 
além da opção de buscar a tutela específica em um processo de execução, o credor 
poderá requerer a falência do devedor. 
 
Há de se ressaltar que, em verdade, não se tem notícia de requerimentos de falência 
baseados exclusivamente na prática de atos de falência. Isso decorre não só da dificuldade 
probatória, como também pela existência de fundamentos mais cômodos, seguros e objetivos para 
se requerer a falência do devedor: a impontualidade e a execução frustrada. 
 
Rito processual da fase pré-falimentar 
O rito processual está disciplinado nos arts. 94 a 98, da LFRE, aplicando-se supletivamente 
as normas do Código de Processo Civil. Não há mais espaço para discussões sobre a forma de 
contagem dos prazos a partir da entrada em vigor da Lei nº 14.112/20. A contagem é sempre em 
dias corridos. 
Distribuído em bons termos o pedido de falência, o juiz fixará os honorários de 
sucumbência para a hipótese de depósito elisivo, normalmente em 10%, e determinará a citação 
do devedor para se defender em 10 dias corridos, na forma do art. 98 da LFRE. 
Caso a contestação não seja apresentada no prazo legal, aplicam-se todos os efeitos da 
revelia, inclusive presumindo-se verdadeiros os fatos narrados pelo requerente, com base no art. 
344 do CPC. 
Caso em contestação o réu apresente uma defesa preliminar, prejudicial ao exame do 
mérito, o autor será intimado para réplica, também no prazo de 10 dias, em razão do princípio 
de paridade de armas. 
A defesa pode escorar-se em qualquer fundamento, até em respeito ao princípio da preservação 
da empresa, porém a mais vista é a alegação de “exceção de contrato não cumprido”. Aliás, o art. 96 
traz um rol meramente exemplificativo das matérias que podem ser alegadas em defesa quando o 
pedido é fundado na impontualidade. A rigor, à exceção da matéria articulada no inciso VI, vício no 
protesto, todas as demais, se comprovadas, também impedem a decretação da falência quando o 
fundamento do requerimento de falência for execução frustrada ou ato de falência. 
Uma das matérias de defesa que despertam grande controvérsia é a prevista no inciso VIII do 
art. 96 da LFRE, a “cessação das atividades empresariais mais de dois anos”. Defendemos que essa 
tese só pode ser acolhida nos exatos termos da lei, ou seja, se a cessação das atividades estiver 
devidamente arquivada na Junta Comercial. Nesse sentido: 
 
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No caso concreto, o pedido de falência está baseado na hipótese de 
execução frustrada,nos termos do artigo 94, inciso II, da Lei nº 
11.101/2005. Além disso, a mera interrupção informal das atividades não 
configura a cessação de atividades empresariais prevista nos artigo 96, 
inciso VIII, da Lei nº 11.101/2005. Necessidade de comprovação da 
cessação das atividades empresariais por meio de documento emitido pelo 
órgão de registro competente, o que não ocorreu no caso concreto. Não se 
deve julgar improcedente o pedido de falência com fulcro no artigo 96, 
inciso VIII, da Lei nº 11.101/2005. [...] (TJSP; Apelação 1129923-
68.2014.8.26.0100; Relator: Carlos Dias Motta; Órgão Julgador: 1ª 
Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível – 2ª Vara 
de Falências e Recuperações Judiciais; Julgamento: 29/03/2017; Registro: 
31/03/2017). 
 
No prazo para defesa o devedor poderá formular pedido de recuperação judicial, com fulcro 
no art. 95 da LFRE, devendo atentar para os rigores dos arts. 48 e 51 da própria LFRE. Uma vez 
preenchidos os requisitos legais, o juiz deferirá o processamento da recuperação e suspenderá o 
pedido de falência, com fulcro no art. 6º, da LFRE, mesmo que tenha sido apresentada, 
concomitantemente, uma defesa direta contra o pedido de quebra. 
Em razão da complexidade de um pedido de recuperação judicial, sobretudo em função dos 
inúmeros documentos que devem instruí-lo, a sua utilização como defesa de um requerimento de 
falência só ocorre por mera coincidência. Já nos deparamos, contudo, com um pedido de 
recuperação judicial mal instruído no prazo da contestação, com solicitação de mais prazo para 
apresentação dos documentos faltantes, com o que não nos opomos em razão do princípio da 
preservação da empresa. 
Em muitas ocasiões, o requerimento de falência está calcado em título executivo cuja causa 
debendi está sendo discutida em processo em trâmite perante outro juízo, iniciado antes do 
requerimento de quebra. Nessa hipótese, é prudente a suspensão do requerimento de falência, a 
fim de evitar a possibilidade de decisões judiciais conflitantes. Nesse sentido: 
 
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUSPENSÃO DE PROCESSO 
FALIMENTAR EM VIRTUDE DE AÇÃO REVISIONAL DE 
CONTRATO BANCÁRIO. POSSIBILIDADE. PREJUDICIALIDADE 
RECONHECIDA. PODER GERAL DE CAUTELA DO JUIZ. (…). 
AGRAVO IMPROVIDO. 
1. Ao permitir que a ação falimentar fosse suspensa, o Magistrado agiu de 
acordo com seu poder geral de cautela, reconhecendo a prejudicialidade no 
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caso concreto, motivo pelo qual não se vislumbra ofensa à legislação 
federal. [...] (AgRg no AREsp 695.930/PR, Rel. ministro Marco Aurélio 
Bellizze, 3ª Turma, Julgamento: 04/08/2016, DJe 12/08/2016). 
 
É óbvio que, na hipótese de o título estar com a exigibilidade suspensa por decisão de outro 
juízo, proferida antes do requerimento, não deve haver a mera suspensão da ação de falência, mas, 
sim, o acolhimento da defesa prevista no art. 96, V, da LFRE, com a improcedência do pedido. 
Enfrentamos essa questão envolvendo uma cláusula arbitral. Depois de formulado um 
pedido de falência baseado em diversas duplicatas sem aceite, mas acompanhadas dos 
comprovantes da prestação de serviços, instaurou-se um procedimento arbitral, a pedido do 
devedor, para discussão do contrato que serviu de causa debendi daquelas duplicatas. 
Não fosse a cláusula arbitral, caberia ao juízo onde tramitava o requerimento de falência 
analisar as defesas do devedor. Contudo, em razão da força cogente do pacto, somente o tribunal 
arbitral teria competência para dirimir as questões levantadas pelo devedor e, se acolhidas as suas 
pretensões, afetariam a exigibilidade das duplicatas que davam suporte ao pedido de falência. A 
solução, também aqui, foi opinar pela suspensão do pedido de falência até o fim da arbitragem, o 
que foi acolhido pelo juízo e depois mantido pelo TJRJ. 
Há de se ressaltar que a LFRE não prevê dilação probatória, salvo quando o requerimento é 
formulado a partir da imputação da prática de atos de falência, conforme o § 5º do art. 94 da 
LFRE. Entretanto, em muitos casos o juiz não tem como prolatar sentença apenas com a prova 
documental, apresentando-se imprescindível a produção de uma prova pericial ou testemunhal. 
Aplicam-se, nesses casos, supletivamente, as normas gerais do CPC. 
Não há previsão legal expressa de intervenção do Ministério Público nessa fase processual, 
mas, na prática, a sua atuação tem-se revelado de extrema importância, com fulcro nos arts. 176 
e 178, I, do CPC. 
 
Depósito elisivo 
O parágrafo único do art. 98 da LFRE prevê que o devedor, nas hipóteses de 
impontualidade ou execução frustrada, pode afastar a possibilidade de falência depositando o 
valor total da dívida reclamada em juízo, com os acréscimos legais, no prazo da contestação. Para 
tanto, no despacho em que determina a expedição do mandado de citação, o juiz fixará os 
honorários advocatícios para fins de depósito elisivo, no patamar mínimo de 10%, por se tratar da 
fase inicial do processo. 
Pela redação do texto legal pode parecer que o prazo de 10 dias é peremptório. Contudo, 
não é esse o entendimento dos tribunais, que admitem o depósito a qualquer momento, com base 
no princípio da preservação da empresa: 
 
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Realce
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Realce
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46 
 
Agravo de instrumento – Falência – Decisão que decretou a falência da 
agravante – Agravante que, após a interposição do presente recurso, 
realizou o depósito do débito discutido, com a concordância da agravada – 
D. Juízo de origem que, ante a quitação do débito, declarou elidido o 
pedido de falência – Fato superveniente que exigiu, de fato, novo 
pronunciamento judicial na origem – Quitação do débito que 
descaracteriza o estado de insolvência da devedora – Pagamento tardio que 
não justifica a manutenção do decreto falimentar originário – Precedentes 
– Superveniência do pagamento, acertadamente reconhecido e admitido 
pelo D. Juízo de origem como causa extintiva do pedido falimentar, a qual 
deve ser observada neste recurso como fato superveniente (CPC, art. 493) 
e constitutivo de perda do objeto recursal no âmbito, ademais, do juízo de 
retratação – Recurso prejudicado (TJSP; Agravo de Instrumento 2103885-
35.2019.8.26.0000; Relator: Maurício Pessoa; Órgão Julgador: 2ª Câmara 
Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível – 1ª Vara de 
Falências e Recuperações Judiciais; Julgamento: 19/11/2019; Registro: 
21/11/2019).22 
 
Como se pode perceber, é possível o depósito elisivo a qualquer momento, desde que antes 
da sentença de falência, com fundamento na teoria da preservação da empresa. Aliás, abeberando-
se dessa fonte, alguns autores defendem a possibilidade do depósito mesmo quando o 
requerimento tem como base a prática de atos de falência.23 
Os tribunais geralmente não admitem o depósito elisivo parcial, conforme precedente do 
TJRJ: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. Direito Empresarial. Pedido de 
falência formulado com base na impontualidade injustificada do devedor 
(LF, art. 94, I). Depósito Elisivo. Fracionamento. Inadmissibilidade. A 
elisão da falência é realizada mediante depósito em juízo do valor da 
dívida reclamada no pedido falimentar, devidamente corrigido e 
acrescido de juros e honorários advocatícios. Recurso a que se nega 
provimento (TJRJ, 0056844-09.2016.8.19.0000 – Agravo de 
Instrumento. Des. Cláudio Luiz Braga Dell'orto. Julgamento: 
25/01/2017. 18ª Câmara Cível). 
 
22 Nesse sentido: TJRJ, 0062644-18.2016.8.19.0000 – Agravo de Instrumento. Des. Custódio de Barros Tostes. Julgamento: 
01/08/2017. 1ª Câmara Cível. 
23 COELHO, Fábio. Curso de direito comercial. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 265. v. 3. 
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Realce
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 47 
 
Com a devida vênia, discordamos desse posicionamento. Já oficiamos em processos cujovalor indicado pelo devedor como realmente devido é muito abaixo do valor de face do título 
apresentado pelo credor, ou seja, com a diferença superando, em muito, os 40 salários-mínimos. 
Nessa toada, caso o devedor não tenha recursos para efetuar o depósito integral, permitir o 
depósito elisivo parcial, por sua conta e risco, é medida salutar e harmônica com o princípio da 
preservação da empresa, pois, do contrário, ainda que acolhidos os argumentos da sua contestação e 
reduzido o valor da dívida ao montante por ele apontado como devido na contestação, seria 
decretada a sua falência. Nesse sentido, importante precedente trazido à baila na obra de Penalva 
Santos e Salomão:24 
 
4. Como o pedido de falência, sobretudo, deve demonstrar que o 
devedor ostenta algum dos sinais indicativos de insolvência previstos na 
legislação falimentar, é viável que o julgador investigue a configuração de 
algum desses indícios após o decote do valor excessivo, de sorte que não 
há falar em iliquidez da dívida nessa hipótese. 5. Caso o devedor opte 
por afastar o pleito falimentar mediante o instrumento do depósito 
elisivo (sediado no art. 98, parágrafo único, da Lei n. 11.101/05), 
assiste-lhe a oportunidade de promover esse depósito levando em 
conta o valor que entende efetivamente devido e de manifestar o seu 
inconformismo acerca da quantia excedente na sua contestação. [...] 
(REsp 1052495/RS, Rel. ministro Massami Uyeda, 3ª Turma, 
Julgamento: 08/09/2009, DJe 18/11/2009). 
 
É importante salientar que o depósito não importa em reconhecimento da dívida, pois o 
devedor pode contestar o pedido de falência. Nesse caso, o autor do requerimento de falência só 
poderá levantar o valor depositado se a contestação não for acolhida, hipótese em que a falência não 
será decretada. Essa é a melhor exegese da péssima redação do parágrafo único do art. 98 da LFRE. 
Por fim, não se admite a ação de consignação em pagamento depois de distribuído o pedido 
de falência. Caso ocorra, os processos devem ser reunidos por força da conexão, e o valor 
consignado deve ser tratado como depósito elisivo, ainda que parcial. 
 
 
 
24 SALOMÃO, Luis Felipe; SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação judicial, extrajudicial e falência: teoria e prática. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2015. p. 78. 
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48 
 
Sentença de falência: conteúdo e recursos 
Renomados processualistas, como o renomado professor Alexandre Freitas Câmara, sempre 
criticaram a opção do legislador de classificar a decisão que decreta a falência como sentença, pois 
ela não termina o processo em primeira instância, muito menos esgota a jurisdição do seu 
prolator, revelando-se como verdadeira decisão interlocutória, mista e não terminativa. 
Prevista no art. 99 da LFRE, a sentença de falência é o ponto de partida do processo de 
execução concursal do devedor empresário, sendo certo que a LFRE não mais se refere a ela como 
declaratória, abrindo ainda mais espaço para a eterna discussão sobre a sua natureza jurídica. Pelo 
menos do ponto de vista processual penal, o art. 180 da LFRE é claro em considerar tal decisão 
como condição objetiva de punibilidade. 
Devido à sua importância analisaremos, ainda que perfunctoriamente, o seu conteúdo: 
a) A exigência desse inciso evita transtornos sobre a identificação da sociedade falida e dos 
seus administradores, facilitando, inclusive, a apuração de responsabilidades. 
b) O termo legal da falência é de suma importância para o ajuizamento da ação 
revocatória e para todo o sistema de ineficácia de negócios jurídicos celebrados pelo 
devedor antes da falência, podendo ser fixado em até 90 dias antes do protesto mais 
antigo – em vigor – por falta de pagamento. O texto encerra qualquer discussão 
sobre o que se deve entender por protesto mais antigo, na medida em que devem ser 
desconsiderados todos aqueles já cancelados. 
c) O objetivo é facilitar a identificação dos credores – massa falida objetiva –, abreviando o 
trabalho do administrador judicial. Na prática, nenhum devedor cumpre essa 
determinação, obrigando todos os credores a promoverem a habilitação dos seus 
créditos; 
d) O prazo para habilitação é de 15 dias, e o seu procedimento inicial é extrajudicial. 
e) Está relacionado com a universalidade do juízo falimentar, que adiante será analisada. 
f) Trata da indisponibilidade dos bens do falido, não se aplicando aos sócios de 
responsabilidade limitada. 
g) A decretação da prisão preventiva não pode ser de ofício e só será possível se 
preenchidos os pressupostos exigidos no art. 312 do Código de Processo Penal (CPP). 
h) Relaciona-se à publicidade da decisão e à perda da capacidade profissional do devedor, 
ou seja, a impossibilidade do exercício da empresa. 
i) A nomeação do administrador judicial deve ser feita o quanto antes, haja vista a 
importância e urgência das suas atribuições. Esta figura será minuciosamente tratada mais 
adiante. 
j) Tal providência auxilia sobremaneira a arrecadação de bens imóveis do falido. 
k) A continuação da empresa – atividade – durante o processo falimentar é medida 
excepcional e tem por objetivo a maximização do ativo falimentar, viabilizando a 
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ação revocatória trata-se de uma medida judicial utilizada para declarar ineficazes determinadas negociações jurídicas que eventualmente tenham sido realizadas pela empresa falida antes da decretação da falência, em prejuízo da coletividade de credore
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 49 
 
preservação, para futura alienação, dos bens intangíveis do devedor, como a clientela, a 
freguesia e a força da marca e do nome empresarial. 
l) A conveniência ou não da constituição do comitê de credores também será objeto de 
estudo em capítulo próprio. 
m) Como já mencionado, a participação do Ministério Público no processo falimentar 
passa a ser expressamente prevista a partir da decretação da falência. No que toca às 
Fazendas Públicas, a intimação faz com que estas apresentem, por ofício, eventuais 
créditos que tenham contra o falido. 
 
O sistema recursal previsto na nova legislação é muito mais simples. Segundo o art. 100 da 
LFRE: 
a) da sentença de improcedência é cabível o recurso de apelação e 
b) da sentença de procedência é cabível o agravo de instrumento. 
 
Tais recursos, por força do art. 189 da LFRE, seguem os procedimentos previstos no CPC, 
inclusive no tocante aos prazos e efeitos da interposição. 
Como regra, a sentença que julga improcedente o pedido de falência tem o mesmo tratamento 
de qualquer outra, isto é, o autor é condenado ao pagamento do ônus da sucumbência, na forma 
prevista no art. 85 do CPC. Entretanto, em caso de comprovado dolo, ou seja, quando o 
requerimento de falência tiver como principal objetivo macular a imagem do requerido, na própria 
sentença de improcedência o juiz deve condenar o autor a pagar uma indenizar ao réu, cujo valor 
liquidar-se-á em processo próprio, com fulcro no art. 101 da LFRE. Caso o prejuízo desse temerário 
requerimento atinja terceiros, como os sócios da sociedade requerida, estes poderão acionar o autor em 
ação própria. 
 
Administração na falência 
Antes de iniciarmos o estudo da segunda fase do processo falimentar, é conveniente 
traçarmos um perfil de cada figura que tomará assento na administração da falência, ou seja, 
funcionará no processo. Além do falido, do juiz e do Ministério Público, a lei prevê as figuras 
do administrador judicial, do gestor judicial e dos credores, seja reunidos em assembleia geral, 
seja representados por meio do comitê de credores. 
 
 
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Juiz 
O juiz é a autoridade suprema do processo falimentar e exerce funções de dupla natureza: 
no primeiro grupo, estão as chamadas funções jurisdicionais típicas; e, no segundo grupo, estão 
as funções administrativas, isto é, questões materiais do próprio dia a dia da falência, 
superintendendo a atuação do administrador judicial, mesmo quando inexiste lide a ser 
resolvida, como na autorização para a venda antecipada de bem ou para a contratação de um 
avaliador ou de um escritório de advocacia para defender os interesses da massa falida nas 
reclamações trabalhistas. 
Não há dúvida de que, a exemplo das capitais do Rio de Janeiro e de São Paulo, é importante 
que o Poder Judiciário reserve às varas especializadas, mesmo regionais, o exame da matéria 
falimentar e recuperacional, eis que a complexidade do tema, a peculiaridade da função 
“administrativa” do magistrado e a importância da rápida e eficaz tramitação desse tipo de processo 
acabam por gerar reflexos em toda a economia. Essa, aliás, é a recomendação do Conselho Nacional 
de Justiça (CNJ). Os advogados, sobretudo de grandes escritórios, estão empenhados em se 
aprofundar nos novos contornos do regime jurídico da insolvência empresarial, razão pela qual os 
poderes constituídos, magistratura e Ministério Público, não podem esquivar-se dessa especialização. 
Nesse compasso, a necessidade de especialização deve atingir também a segunda 
instância, como já ocorre em São Paulo e Santa Catarina, cujos tribunais criaram câmaras 
reservadas para o Direito Empresarial, oportunizando aos desembargadores a especialização 
que vem ocorrendo em primeira instância. 
Também é de suma importância a valorização das serventias e dos serventuários da Justiça 
responsáveis por esses processos, na medida em que cabe ao Poder Judiciário não só prepará-los 
com cursos de especialização para o processamento adequado desses feitos, como também criar 
um mínimo de estrutura física compatível com a envergadura e o dinamismo necessários para a 
boa condução dos processos. 
 
Ministério Público 
Enormes avanços ocorreram no que concerne às atribuições do promotor de justiça nos 
processos regulados pela nova lei. Fundamentalmente o promotor de justiça atuará como custos 
legis, embora o legislador lhe tenha conferido legitimidade ativa em diversas ocasiões, sobretudo 
para o ajuizamento da ação revocatória, algo reclamado pela instituição há tempos. Entretanto, em 
razão do veto ao art. 4º da LFRE, muitas dúvidas surgiram sobre os limites dessa intervenção, apesar 
da LFRE se referir ao “Ministério Público” em 25 (vinte e cinco) oportunidades. 
Fábio Ulhoa Coelho defende que o Ministério Público não deveria atuar na primeira fase 
do processo falimentar, pois não existiria, ainda, interesse público na demanda, assim como nos 
processos envolvendo pequenas sociedades empresárias. No que tange às pequenas falências, a 
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 51 
 
reforma promovida em 2020 recriou o procedimento de falência sumária, com expressa 
intervenção do Parquet, conforme art. 114-A, da LFRE. 
Em magnífica explanação sobre o tema, Alberto Camiña Moreira, depois de citar um 
extenso rol de países que consideram existir evidente interesse público nos processos de falência e 
de recuperação empresarial, defende que é obrigatória a intimação do Ministério Público, 
oportunidade em que o representante da instituição poderá requerer a sua intimação para os 
demais atos do processo quando vislumbrar interesse público. 
Entre vários argumentos, o citado autor invoca as próprias razões do veto ao art. 4º da 
LFRE: 
 
A intimação do Ministério Público é sempre obrigatória; mas a 
intervenção deve ficar a critério da Instituição, conforme o caso. Como 
explicitaram as razões do veto do Presidente da República: “O Ministério 
Público é, portanto, comunicado a respeito dos principais atos 
processuais e nestes terá a oportunidade de intervir. Por isso, é estreme de 
dúvidas que o representante da Instituição poderá requerer, quando de 
sua intimação inicial, a intimação dos demais atos do processo, de modo 
a intervir sempre que entender necessário e cabível”. [...] Essa atividade 
do Ministério Público, ora bosquejada, está em rigorosa consonância com 
a dicção constitucional. Com efeito, a sede constitucional do Ministério 
Público é o art. 127, “caput”, da Carta Magna: [...]. A Atuação do no 
processo de recuperação de empresas passa pela defesa de interesses 
sociais, no estrito cumprimento, pois, de sua missão constitucional.25 
 
A intervenção do Ministério Público tem dupla finalidade: assegurar a repressão aos crimes 
falimentares e recuperacionais e defender, pela sua ação disciplinar e fiscalizatória, o interesse 
público, refletido na tutela do crédito, na preservação da empresa e no resguardo à segurança do 
mercado, sem olvidar a presença quase constante de grupos de hipossuficientes lesados, como 
consumidores e trabalhadores. Nesse sentido, em um caso em que o juízo decidiu que a intimação 
do Ministério Público para os atos processuais de uma recuperação judicial, fora das hipóteses 
expressas em lei, não era obrigatória, apesar de assim requerido pelo representante da instituição, 
decidiu o TJRJ: 
 
Empresa em recuperação judicial – A intervenção do Ministério Público, 
em processo de recuperação judicial, é obrigatória, na forma do artigo 52, 
 
25 MOREIRA, Alberto Camiña. Direito falimentar e a Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. Coordenação: Luiz 
Fernando Valente de Paiva. São Paulo: Quartier, 2005. p. 266-273. 
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52 
 
inciso V da Lei nº 11.101/2005, sendo-lhe conferida a prerrogativa de 
intimação pessoal dos atos do processo, nos termos do artigo 84, 
combinado com o parágrafo 2º do artigo 236, pena de nulidade absoluta, 
conforme artigo 246 do Código de Processo Civil (TJRJ, 0015971-
98.2015.8.19.0000 – Agravo de Instrumento, desembargador Camilo 
Ribeiro Ruliere – Julgamento: 07/07/2015 – 1ª Câmara Cível). 
 
Atento a toda essa celeuma doutrinária e jurisprudencial, o Conselho Nacional do 
Ministério Público (CNMP) decidiu que caberá aos próprios Ministérios Públicos Estaduais 
definir em quais hipóteses haverá relevância social a justificar a intervenção do Parquet.26 O Órgão 
Especial do Colégio de Procuradores do Estado do Rio de Janeiro, por meio da Deliberação nº 
30, de 30 de agosto de 2011, reconheceu de interesse público e social em todas as fases dos 
processos de falência, de recuperação judicial e de recuperação extrajudicial. 
 
Administrador judicial 
Uma das figuras mais importantes do atual processo falimentar e recuperacional é, 
indubitavelmente, o administrador judicial, cuja disciplina está prevista nos arts. 21-25 e 30-
34 da LFRE. 
Ele é, no mais das vezes, o principal responsável pelo sucesso ou insucesso do processo 
falimentar, na medida em que é a pessoa que impulsiona a marcha processual e, nas falências, 
administra toda a massa falida, inclusive representando-a judicialmente, o que lhe exige grande 
esforço pessoal e preparação técnica. 
O administrador judicial pode ser uma pessoa natural ou jurídica, hipótese em que indicará 
uma pessoa natural para representá-la, sendo certo que a nomeação deve recair preferencialmente 
sobre um economista, advogado, contador, administrador de empresas ou sociedade com atuação 
nesses ramos. 
No TJRJ, há o Ato Executivo Conjunto nº 53/2013, com recomendação para que os 
juízes só nomeiem profissionais que tenham sido aprovados em cursos de especialização na 
função de administração judicial, tal qual oorganizado pela própria Escola de Administração 
Judiciária (ESAJ). 
Registre-se que o administrador é ontologicamente um auxiliar do juízo falimentar ou 
recuperacional (órgão do Poder Judiciário), e não mais pode ser visto como um representante 
dos credores, cujos interesses devem ser defendidos por eles próprios, individualmente, ou pelo 
comitê constituído. Convém destacar que o atual sistema conferiu ainda mais poderes ao 
administrador judicial. 
 
26 Recomendação nº 34, de 5 de abril de 2016 do CNMP. 
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 53 
 
A remuneração do administrador judicial deve ser fixada pelo juiz, que levará em conta a 
complexidade do caso e a capacidade de pagamento. Infelizmente, não raro, as remunerações são 
fixadas levando-se em conta apenas o percentual máximo previsto na LFRE. Nas falências, o 
máximo é de 5% do apurado com a realização do ativo, enquanto nas recuperações judiciais o limite 
é de 5% do passivo, salvo nas recuperações especiais dos pequenos empresários, cujo limite é de 
apenas 2%. 
Nas falências, as atribuições do administrador judicial são extremamente mais trabalhosas, 
haja vista que cabe a ele a efetiva administração da massa falida, inclusive em relação à contratação 
dos auxiliares. A maior operosidade das atribuições do administrador judicial nos processos de 
falência, quando comparadas às atribuições no processo de recuperação de empresas, está no dever 
de arrecadação, administração e liquidação de todo o ativo do devedor, bem assim na definição 
dos rumos dos contratos do falido existentes ao tempo da sentença de quebra, fazendo jus ao seu 
nomen iuris de “administrador” judicial. 
Por outro lado, nos processos de recuperação judicial, o melhor seria preservar a 
nomenclatura usada nas concordatas, “comissário”, ou encontrar outra expressão mais condizente 
com a sua função substancialmente fiscalizatória, haja vista que as suas principais atribuições são: 
a organização da relação de credores; a tomada de contas mensal das atividades do devedor; e a 
presidência da assembleia de credores. 
Já participamos de muitos embates em relação à fixação das remunerações dos 
administradores judiciais. A matéria é polêmica, mas o certo é que não se pode admitir que essa 
remuneração seja incompatível com os encargos da função, menosprezando o encargo ou sendo 
fonte de enriquecimento ilícito. O principal parâmetro, com a devida vênia, não devem ser os 
valores envolvidos no processo, seja de falência, seja de recuperação judicial. 
De uma forma geral, no nosso sentir, os aspectos mais relevantes para serem sopesados na 
fixação da remuneração do administrador judicial, em ordem de importância, são: 
a) número de credores; 
b) número de devedores; 
c) número de locais onde o devedor tem ou teve estabelecimentos e as suas distâncias; 
d) complexidade da atividade operacional do devedor; 
e) número de incidentes processuais e ações autônomas que exijam a intervenção do 
administrador judicial, inclusive fora da competência do juízo empresarial; 
f) número de profissionais necessários para desempenho da função; 
g) porte e estrutura oferecida pelo administrador judicial; 
h) na falência, número de bens a serem liquidados e os seus valores e 
i) na recuperação judicial, valor total do passivo. 
 
É pouco provável que já na sentença que decreta a falência ou no despacho que defere o 
processamento do pedido de recuperação judicial o juízo tenha os elementos capazes de justificar, 
em definitivo, a fixação da remuneração. Assim, recomendamos a fixação de uma remuneração 
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54 
 
apenas provisória e, para que se evitem incertezas, já se aponte de forma precisa o momento para a 
sua fixação definitiva, que no caso da recuperação judicial pode ser após a realização da assembleia 
de credores convocada para deliberar sobre o plano, enquanto na falência seria após a 
homologação do quadro geral de credores (QGC). Nesse sentido: 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ADMINISTRADOR JUDICIAL. 
REMUNERAÇÃO. PROFISSIONAL AUXILIAR DO JUÍZO. 
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. GRAU DE 
COMPLEXIDADE DA CAUSA. TRABALHO DO PROFISSIONAL. 
TETO PREVISTO NA LEI. ARBITRAMENTO AFASTADO. 
Administrador Judicial. Função de extrema importância para o 
desenvolvimento e para o bom andamento do processo. Auxiliar do Juiz. 
Remuneração que deve ser fixada conforme o trabalho que o profissional 
realiza. Art. 24, da Lei nº 11.101/2005. Estipulação de limite à referida 
remuneração, não dispondo da aplicação de percentual com base no passivo 
ou no ativo da empresa recuperanda. Remuneração do Administrador 
Judicial. Devem ser considerados diversos fatores, e não apenas os valores 
envolvidos na causa. Complexidade do processo, existência de pluralidade 
ativa no pedido, a massa de credores e as diversas atividades que serão 
desenvolvidas pelo profissional no curso da demanda, como relatórios, 
petições, acompanhamentos e manifestações. Complexidade da empresa em 
crise econômico-financeira e a conduta processual e extraprocessual dos 
sócios ou acionistas, situação que pode facilitar o dificultar o trabalho do 
profissional. Complexidade da causa e em todo o trabalho que o profissional 
terá que desenvolver, dentro ou fora do processo, durante todo o período em 
que a recuperação judicial estiver em tramitação. Também deve ser 
considerada a pessoa nomeada para assumir o encargo e sua natureza – 
pessoa física ou empresarial –, a estrutura que deverá observar para 
desenvolver suas atividades, o tempo por ela despendido para o trabalho no 
processo e a necessidade de auxílio de terceiros para o desenvolvimento de 
seu mister. Remuneração do Administrador Judicial. O valor deve ser 
arbitrado conforme cada caso específico, observando-se apenas o teto 
estabelecido no § 1º, do mencionado art. 24, da Lei de Falências e de 
Recuperação de Empresa. Diante da dificuldade de estimar o trabalho a ser 
desenvolvido no início do processo de recuperação, muitos juízes têm 
preferido fixar um valor mensal de remuneração, deixando para fixar depois, 
quando melhores elementos se tiver, os honorários definitivos. É uma 
solução que não ofende a Lei e se mostra adequada em muitos casos. Têm 
razão as agravantes em suas irresignações, de modo que a decisão recorrida 
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 55 
 
deve ser reformada para que conste que a remuneração devida ao 
Administrador Judicial é, por ora, apenas aquela mensal determinada, que 
ora é reduzida, devendo ser oportuna e posteriormente estabelecidas as 
remunerações provisória e a definitiva. Recurso provido para reduzir o valor 
da prestação mensal, bem como para afastar, por ora, a fixação de honorários 
definitivos à Administradora Judicial (TJSP; Agravo de Instrumento 
2057282-69.2017.8.26.0000; Relator: Carlos Alberto Garbi; Órgão 
Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível –
 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais; Julgamento: 14/08/2017; 
Registro: 16/08/2017). 
 
O administrador normalmente precisa contratar outros profissionais para auxiliá-lo durante 
o processo, como contadores, avaliadores e advogados, valendo observar que a remuneração desses 
profissionais também deve ser aprovada pelo juízo, por representar despesas extraconcursais, 
previstas no art. 84 da LFRE. 
Por fim, o administrador judicial que pedir para ser substituído sem relevante razão ou que 
for destituído, em caso de culpa ou dolo, perde o direito à remuneração, assim como na hipótese 
de rejeição das suas contas. 
Destacamos quatro polêmicas muito comuns em relação à figura do administradorjudicial, assim enumeradas: 
I. É possível a nomeação de mais de um administrador judicial para atuar no mesmo 
processo de falência ou de recuperação judicial? 
II. Como deve ser tratada a remuneração do administrador judicial em um processo de 
falência convertido a partir de uma recuperação judicial rescindida? 
III. Devem integrar a base de cálculo da remuneração do administrador judicial as receitas 
decorrentes de aluguel dos bens da massa falida ou de ações judiciais propostas antes da 
quebra? 
IV. Pode o administrador judicial ser contratado como advogado da massa falida e receber, 
separadamente, como tal? 
 
Os limites desse trabalho nos conduzem a respostas concisas. Respondemos negativamente 
à primeira indagação, haja vista a ausência de previsão legal, a inexistência de solução jurídica para 
a hipótese de divergência entre os nomeados e, finalmente, em razão da possibilidade de 
nomeação de uma pessoa jurídica. 
No tocante à segunda polêmica, defendemos que, rescindida a recuperação judicial, 
rescindida também estará a remuneração do administrador judicial, que deverá ser fixada dentro 
do limite de 5% do ativo a ser arrecadado para a massa falida e de acordo com os novos encargos 
assumidos, abatendo-se o que já foi pago durante a recuperação judicial. Nesse sentido: 
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56 
 
Agravo de instrumento. Recuperação judicial convolada em falência. 
Remuneração da administradora judicial que deve ser arbitrada de acordo 
com o princípio da proporcionalidade. Art. 24 da Lei n. 11.101/05. 
Impossibilidade de se prever, por ora, o reflexo da decisão que convolou a 
recuperação judicial em falência ao trabalho realizado pela administradora 
judicial. Circunstâncias que justificam a fixação da remuneração em 
patamar inferior ao máximo previsto no art. 24, § 1º, da Lei n. 11.101/05. 
Valor reduzido para 3% sobre o ativo realizado da falida. Reembolso 
imediato das despesas incorridas no curso da administração. Possibilidade. 
Art. 150 da Lei n. 11.101/05. Recurso parcialmente provido (TJSP; 
Agravo de Instrumento 2099796-71.2016.8.26.0000; Relator: Hamid 
Bdine; Órgão Julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro 
de Suzano – 4ª Vara Cível; Julgamento: 21/09/2016; Registro: 
23/09/2016). 
 
Já em relação ao terceiro problema, a sua solução dependerá da análise do caso concreto, ou 
seja, da comprovação de que o administrador judicial contribuiu efetivamente para a geração e 
arrecadação daqueles recursos. Atuamos em alguns casos que, apesar da passividade do 
administrador judicial, a massa falida vem a receber substanciais quantias, muitas vezes 
decorrentes do pagamento de precatórios judiciais decorrentes de processos ajuizados que não 
tiveram nenhuma participação do administrador judicial. Nessas hipóteses, defendemos a 
exclusão desses valores da base geral de cálculo e a fixação de um percentual menor sobre essa 
quantia específica, a fim de não se permitir o enriquecimento sem causa. 
Por fim, não enxergamos qualquer inconveniente ou proibição legal de o administrador 
judicial também atuar como advogado de massa falida e ser remunerado, separadamente, pela 
prestação desse serviço, desde que o contrato seja homologado pelo juízo com a máxima 
transparência. 
 
Gestor judicial 
Como cediço, a sociedade empresária em regime de recuperação judicial não perde o direito 
de administrar a sua empresa, isto é, diretores e administradores continuam exercendo as suas 
respectivas funções. Essa é a regra prevista na primeira parte do art. 64 da LFRE. Contudo, a 
segunda parte desse dispositivo permite que o juiz afaste o devedor da administração dos negócios 
em determinadas situações, hipótese em que convocará assembleia geral para deliberar sobre a 
pessoa que vai substituí-lo. 
Enquanto não se realizar a assembleia geral de credores, o administrador judicial ficará à 
frente dos negócios da empresa, conforme regra prevista no art. 65, § 1º, da LFRE. A assembleia 
de credores deverá atentar para o fato de que ao gestor judicial se aplicam todas as restrições 
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impostas ao administrador judicial, inclusive sobre impedimento e remuneração. Atendidas as 
formalidades legais, entendemos que o juiz não pode recusar a indicação dos credores. 
Nos processos de falência, nas hipóteses excepcionais em que o juiz determina a continuação 
das atividades do falido, a LFRE prevê que a função de gerir o negócio caberá ao próprio 
administrador judicial, consoante art. 99, XI, da LFRE. No entanto, é perfeitamente possível, e até 
recomendável, a nomeação de um gestor judicial com know-how adequado para aquele segmento 
empresarial. Assim ocorreu na falência da Natan Joias, no Rio de Janeiro,27 e na falência do Grupo 
João Lyra, em Alagoas.28 
 
Credores na administração do processo 
A participação ativa dos credores nos processos de falência e recuperação de empresas, 
elevada a princípio informador do sistema, deve ser analisada em três etapas. A primeira delas 
deve ter como foco o credor individualmente, isto é, se ele pode ou não atuar isoladamente em 
um processo de falência ou de recuperação judicial. A segunda forma de participação dos credores 
é por meio de um órgão colegiado composto de apenas alguns representantes, denominado de 
comitê de credores. Por fim, devemos abordar a atuação dos credores por meio do seu órgão 
máximo: a assembleia geral de credores. 
 
Intervenção individual do credor 
Não temos dúvida alguma ao afirmar que qualquer credor tem o direito de peticionar nos 
autos principais de um processo de falência ou de recuperação judicial para requerer o que 
entender de direito. Independentemente do número de credores e do valor do crédito em relação 
ao total do passivo, há de se reconhecer a legitimidade individual de qualquer credor para atuar 
com plenitude nos processos de falência e de recuperação de empresas. Nada impede, porém, que 
o juízo determine, para evitar tumulto processual, que sejam formados “apensos” para tratar de 
questões específicas, evitando o acúmulo de petições diversas nos autos principais. 
O mérito da questão, embora levado ao STJ, não chegou a ser objeto de apreciação em 
razão de questões prejudiciais ao conhecimento do recurso.29 No entanto, trazemos importante 
precedente do TJRJ: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL DE 
EMPRESAS. INTERLOCUTÓRIA QUE NOMEOU 
ADMINISTRADOR JUDICIAL E FIXOU SEUS HONORÁRIOS 
 
27 TJRJ, processo nº 0209874-03.2012.8.19.0001. 
28 TJAL, processo nº 0000707-30.2008.8.02.0042. 
29 STJ, Agravo em Recurso Especial nº 789.439-RJ. 
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EM 0,25% DA SOMA DOS CRÉDITOS SUJEITOS AO 
PROCEDIMENTO RECUPERATÓRIO DO GRUPO OSX. 
IRRESIGNAÇÃO. PRELIMINAR DE FALTA DE LEGITIMIDADE 
RECURSAL DA CREDORA ISOLADO, ORA AGRAVANTE. 
REJEIÇÃO. MATÉRIA DE AÇÃO. LEGITIMAÇÃO ORDINÁRIA. 
FACULTATIVIDADE DA CONSTITUIÇÃO DO COMITÊ DE 
CREDORES (ART. 28 DA LEI N.º 11.101/2005). Possibilidades de 
abuso e de tumulto processual, para as quais há previsão legal de 
aplicação de multa cominatória (art. 18, vi e vii, do Código de Processo 
Civil). [...]. Procedimento recuperatório que é de iniciativa do devedor, 
ostenta natureza concursal e é fundado na ética da solidariedade. 
Vontades do devedor e de seus credores que marcham harmoniosamente 
completam-se e fundem-se numa só e única. Colaboração de todos os 
interessados para o fim específico ditado pelo art. 47 da lei nº 
11.105/2005 (TJRJ, 0016629-59.2014.8.19.0000 – Agravo de 
Instrumento.Des. Gilberto Campista Guarino. Julgamento: 
06/08/2014. 14ª Câmara Cível). 
 
Comitê de credores 
Nada obstante a possibilidade de atuação individual dos credores, tem maior peso a atuação 
dos credores quando ela se dá por meio do comitê. Regulado basicamente nos arts. 26 a 34 da 
LFRE, o comitê é um órgão representativo dos credores composto de membros eleitos em assembleia 
geral por sistema especial, no qual os credores são divididos em até quatro grupos, e cada um deles 
indica um membro e dois suplentes. 
Os grupos são organizados da seguinte forma: 
a) um representante indicado pela classe dos credores trabalhistas e por acidente de 
trabalho, com dois suplentes; 
b) um representante indicado pela classe dos credores com direitos reais de garantia e com 
privilégios especiais, com dois suplentes; 
c) um representante indicado pela classe dos credores quirografários e com privilégios 
gerais, com dois suplentes. 
d) um representante dos credores micro e pequenos empresários, com dois suplentes. 
 
A constituição do comitê pode ser requerida por qualquer dos grupos acima, valendo 
registrar que a inércia de um grupo para indicar o seu representante não impede a criação e o 
funcionamento do órgão. Aliás, como o comitê é um órgão de existência facultativa, na sua falta, 
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Nota
Créditos quirografários são aqueles que decorrem somente do simples encontro de vontade entre as partes, tendo como garantia a simples promessa do devedor de que, no vencimento, vai adimplir a obrigação. E se diferencia basicamente do crédito real, que tem um bem em garantia para o caso de inadimplência
 
 
 
 
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as suas atribuições serão de responsabilidade do administrador judicial, salvo hipótese de 
incompatibilidade deste, caso em que caberá ao juiz decidir, na forma do art. 28 da LFRE. 
As decisões serão tomadas por maioria e registradas em livro próprio. No caso de impasse 
sobre algum tema, a decisão caberá ao administrador judicial, salvo hipótese de 
incompatibilidade, quando a decisão também caberá ao juiz. 
Primordialmente, a função do comitê é fiscalizar o processo falimentar ou de recuperação 
judicial, conforme se depreende do art. 27 da LFRE, e os seus membros não recebem qualquer 
remuneração, mas podem reembolsados das despesas que façam em favor da massa. 
Na prática, diante da frustrante realidade de inexistência de comitê de credores em todos os 
processos que atuamos, quando nos deparamos com alguma questão de alta relevância jurídica ou 
econômica, surgida no decorrer de um processo de falência ou de recuperação de empresas, como 
na hipótese de locação do bem imóvel mais valioso da massa falida por um tempo considerável, 
ou do pedido de autorização de alienação de bens valiosos do ativo imobilizado do devedor, após 
a homologação do plano de recuperação judicial, temos solicitado a intimação de todos os 
credores para, em um prazo comum, se assim desejarem, se manifestarem sobre a relevante 
questão a ser decidida. A jurisprudência, até o momento, nos tem sido favorável: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
DECISÃO AUTORIZANDO A PRÁTICA DE ATOS DE 
ALIENAÇÃO E DE ONERAÇÃO DE BENS IMÓVEIS. REFORMA 
DO DECISUM. AS EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO NÃO 
DEMONSTRARAM A IMPRESCINDIBILIDADE DOS ATOS DE 
ALIENAÇÃO E ONERAÇÃO PARA O PLANO DE 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL (ART. 66 DA LEI 11.101/05). 
OBJEÇÕES AO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
NECESSIDADE DE DELIBERAÇÃO EM ASSEMBLEIA GERAL DE 
CREDORES, QUE AINDA NÃO OCORREU. JUÍZO DE 
PRUDÊNCIA QUE RECOMENDA AGUARDAR-SE O 
RESULTADO DAS OBJEÇÕES AO PLANO DE RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL. PROVIMENTO DO AGRAVO DE INSTRUMENTO 
(TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0006141-40.2017.8.19.0000. 1ª 
Câmara Cível. Rel. desembargador Sérgio Ricardo de Arruda Fernandes. 
Julgamento: 11/07/2017). 
 
 
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Assembleia de credores 
A assembleia de credores está disciplinada nos arts. 35 a 46 da LFRE, podendo ser 
convocada pelo juiz, de ofício ou por provocação de algum interessado, ou por credores que 
representem pelo menos 25% de uma classe, caso em que o juiz não poderá recusar o pedido, mas 
as despesas correrão por conta dos requerentes, e não do devedor ou da massa falida. 
Nas assembleias, em regra, os credores exercerão o seu direito de voto proporcionalmente ao 
valor do seu crédito (art. 38) e, apesar da divisão dos credores em quatro categorias distintas, por força 
do art. 42 da LFRE, considera-se aprovada a proposta que tiver o apoio de mais da metade dos 
créditos presentes, independentemente da divisão em classes, salvo em situações especiais. Nem todos 
os credores admitidos na falência ou na recuperação possuem direito de voto, conforme arts. 43 e 45, 
§ 3º, da LFRE. 
Em primeira convocação, a assembleia só pode ser instalada se estiverem presentes credores 
que representem mais da metade dos créditos de cada classe e, em segunda convocação, com 
qualquer número, mas neste caso não poderá ser realizada em menos de cinco dias da primeira. As 
assembleias devem ser presididas pelo administrador judicial ou, quando houver 
incompatibilidade, pelo maior credor presente à assembleia, o que na prática raramente ocorre. 
É conveniente colocar em destaque que a deliberação tomada em assembleia geral não pode 
ser desconstituída judicialmente com fundamento em futura exclusão, inclusão ou retificação de 
crédito, bem assim não se admite provimento judicial para suspender ou adiar assembleia por 
pendência sobre análise de crédito. Poderão participar das deliberações e votar todos os credores 
reconhecidos até a data da assembleia, bem assim aqueles que tenham obtido reservas de valores, 
na forma do art. 6º, § 3º, c/c art. 39 da LFRE. 
Há uma relevante polêmica sobre a vedação ao exercício do direito de voto do credor por 
habilitação retardatária. Essa vedação é permanente, ou seja, até o fim do processo, ou ele passa a 
ter o direito de voto assegurado a partir do momento em que sua habilitação for julgada?30 
Representando a controvérsia, trazemos à colação dois julgados: 
 
VOTA SE JÁ JULGADA - Resta saber, por fim, se, na letra da Lei 11.101, 
há de se deferir o voto à Massa, considerando-se sua condição – alegada 
– de credor retardatário. Segundo o artigo 10, § 1º, da Lei 11.101, os 
credores habilitados após o prazo do artigo 7º, § 1º, não terão direito a 
voto nas deliberações da assembleia geral. Fato, porém, é que o rigor do 
artigo 10 foi temperado pelo artigo 39, caput, pelo qual se assegura 
direito de voto aos titulares de créditos admitidos por decisão judicial, 
desde que, por óbvio, esta admissão ocorra antes da data da AGC. 
 
30 Como representantes do Ministério Público na Recuperação Judicial do Grupo OI, interpomos o recurso de Agravo de 
Instrumento nº 0057939-35.2020.8.19.0000, ainda não julgado pela 8ª Câmara Cível do TJRJ. 
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(TJRJ, 0078513-16.2019.8.19.0000 - Agravo de Instrumento. 
Des(a). Eduardo Gusmão Alves de Brito Neto - Julgamento: 
09/07/2020 - Décima Sexta Câmara Cível). 
 
NÃO VOTA NUNCA - Impugnação de crédito. Requerimento 
apresentado após o prazo do § 1º do art. 7º da Lei nº 11.101/2005 que 
deve ser tido como retardatário, nos termos do caput do art. 10. Ausência 
de notícia de que a impugnação fora deduzida perante o administrador 
judicial. Demora na regularização do incidente perante o Juízo,todavia, 
que não importa, tecnicamente, na declaração de intempestividade da 
impugnação, mas no reforço da conclusão de que é retardatária e, 
portanto, deve sofrer os efeitos dessa condição. Direito de voto cassado e 
determinado o recolhimento das custas da impugnação. Recurso 
desprovido, com determinação. (TJSP; Agravo de Instrumento 
2213187-33.2018.8.26.0000; Relator (a): Araldo Telles; Órgão 
Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de Santa 
Cruz das Palmeiras - Vara Única; Data do Julgamento: 13/07/2020; 
Data de Registro: 14/07/2020). 
 
Existem regras claras sobre representação dos credores em assembleia, em especial prazos de 
antecedência para a entrega das procurações e para a comprovação de representação sindical, 
consoante art. 37 da LFRE. A jurisprudência já reconheceu que os credores debenturistas que 
comparecerem à assembleia têm o direito votar separadamente, ainda que presente o agente 
fiduciário, o qual só representa os demais debenturistas ausentes.31 
A fim de conferir maior celeridade aos processos de falência e de recuperação judicial, a 
Lei nº 14.112/20 introduziu importantes modificações, permitindo que o ato convocatório seja 
publicado apenas no Diário Oficial e no site do administrador judicial, com antecedência mínima 
de 15 dias, conforme art. 36 da LFRE, e que as deliberações em AGC sejam substituídas por 
termos de adesão que comprovem o atingimento do quórum necessário à aprovação, consoante 
art. 45-A da LFRE. Nessas hipóteses, a oitiva do Ministério Público deve ser anterior à 
homologação do resultado. 
A reforma da LFRE também mirou no denominado “voto abusivo”, disciplinando-o no art. 
39, § 6º. Na literalidade da lei, o voto somente poderá ser considerado abusivo quando o credor o 
exercer com o fim de obter vantagem ilícita para si ou para outrem. 
Por fim, no que concerne à abstenção, o melhor entendimento é no sentido de que o 
crédito deve ser desconsiderado para se apurar se foi ou não atingido o quórum de aprovação. 
 
31 STJ, REsp 1.670.096-RJ. Rel. ministra Nancy Andrighi, por maioria, Julgamento: 20/06/2017, DJe 27/06/2017. 
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Falido 
O afastamento do devedor da sua empresa e da administração dos seus bens não significa 
que ele será defenestrado do processo. Pelo contrário, a lei lhe impõe uma série de obrigações, e a 
sua presença e atuação são vitais para o “sucesso” do processo falimentar. 
Diversos dispositivos da LFRE, sobretudo o art. 104, impõem ao falido o direito e o dever 
de auxiliar e fiscalizar os demais órgãos da falência durante a sua tramitação, seja apresentando 
diferentes documentos, seja fornecendo informações acerca dos bens e dos débitos da massa. Para 
tanto, tem o direito, e em algumas vezes o dever, de se manifestar nos autos principais e em todos 
os incidentes da falência. A violação desse dever não acarreta mais a prisão civil, banida pelo novo 
sistema, mas sujeita o falido às penas do crime de desobediência. 
É importante alertar para a necessidade de se evitar uma corriqueira confusão que se faz 
entre as figuras do falido e da massa falida. O falido nada mais é do que o empresário individual, a 
Eireli ou a sociedade empresária cuja falência foi decretada, que nesse caso será representada nos 
autos pelo administrador nomeado em seu ato constitutivo, enquanto a massa falida é um ente 
sem personalidade jurídica, formado, de um lado, pelos credores do falido – aspecto subjetivo – e, 
de outro, pelos bens arrecadados – aspecto objetivo, e será sempre representada pelo 
administrador judicial nomeado pelo juízo da falência. 
A sociedade empresária falida, nessa toada, continua a existir e a ser representada na forma 
dos seus atos constitutivos. Porém, os seus bens, direitos e obrigações formarão a denominada 
massa falida, que estará sob a responsabilidade do administrador judicial. Vejamos recente decisão 
do STJ: 
 
CIVIL, PROCESSUAL CIVIL E FALIMENTAR. AGRAVO 
REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
FALÊNCIA. DECRETAÇÃO. FALIDA. PERSONALIDADE 
JURÍDICA. EXTINÇÃO IMEDIATA. NÃO OCORRÊNCIA. 
CAPACIDADE PROCESSUAL. MANUTENÇÃO. RECURSO 
PROVIDO. 
1. Segundo o procedimento regrado pelo Decreto-Lei n. 7.661/1945, a 
decretação da falência não implica a imediata e incondicional extinção da 
pessoa jurídica, mas tão só impõe ao falido a perda do direito de administrar 
seus bens e deles dispor (LF, art. 40), conferindo ao síndico a representação 
judicial da massa (CPC/1973, art. 12, III). 2. A mera existência da massa 
falida não é motivo para concluir pela automática, muito menos necessária, 
extinção da pessoa jurídica. De fato, a sociedade falida não se extingue ou 
perde a capacidade processual (CPC/1973, art. 7º; CPC/2015, art. 70), 
tanto que autorizada a figurar como assistente nas ações em que a massa seja 
parte ou interessada, inclusive interpondo recursos e, durante o trâmite do 
processo de falência, pode até mesmo requerer providências conservatórias 
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dos bens arrecadados. 3. Ao término do processo falimentar, concluídas as 
fases de arrecadação, verificação e classificação dos créditos, realização do 
ativo e pagamento do passivo, se eventualmente sobejar patrimônio da massa 
– ou até mesmo antes desse momento, se porventura ocorrer quaisquer das 
hipóteses previstas no art. 135 da LF –, a lei faculta ao falido requerer a 
declaração de extinção de todas as suas obrigações (art. 136), pedido cujo 
acolhimento autoriza-o voltar ao exercício do comércio, "salvo se tiver sido 
condenado ou estiver respondendo a processo por crime falimentar" (art. 
138). 4. Portanto, a decretação da falência, que enseja a dissolução, é o 
primeiro ato do procedimento e não importa, por si, na extinção da 
personalidade jurídica da sociedade. A extinção, precedida das fases de 
liquidação do patrimônio social e da partilha do saldo, dá-se somente ao fim 
do processo de liquidação, que todavia pode ser antes interrompido, se acaso 
revertidas as razões que ensejaram a dissolução, como na hipótese em que 
requerida e declarada a extinção das obrigações na forma do art. 136 da lei 
de regência. 5. Agravo interno provido para dar provimento ao recurso 
especial (AgRg no REsp 1265548/SC, Rel. ministra Maria Isabel Gallotti, 
Rel. p/ acórdão ministro Antonio Carlos Ferreira, 4ª Turma, Julgamento: 
25/06/2019, DJe 05/08/2019). 
 
Os sócios da sociedade falida de responsabilidade limitada não são atingidos pela 
falência,32 salvo prova de fraude ou de comprovada falta de integralização do capital social. 
Entretanto, algumas das obrigações impostas à sociedade falida devem ser cumpridas por 
aqueles que exerciam a sua administração. 
 
Proibição do exercício da empresa 
Por força do art. 102 da LFRE, o falido não poderá mais exercer atividade empresarial, 
impedimento esse identificado como incapacidade profissional. Ressalvados os casos de fraude, a 
restrição aqui estudada não se estende aos sócios da sociedade falida ou mesmo ao titular da Eireli, 
os quais, ao menos do ponto de vista jurídico, não estão impedidos de constituir outra pessoa 
jurídica, inclusive para explorar o mesmo ramo de atividade da falida. As dificuldades existirão, 
como já alertamos, no campo econômico, em face da dificuldade de obtenção de crédito. 
Ocorre que, diante das novas regras que compõem o fresh start, esse impedimento terá 
limitada duração, uma vez que, três anos após a decretação da falência, o devedor poderá pedir ao 
 
32 Enunciado nº 49 do CJF: “Os deveres impostos pela Lei n. 11.101/2005ao falido, sociedade limitada, recaem apenas 
sobre os administradores, não sendo cabível nenhuma restrição à pessoa dos sócios não administradores”. 
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juízo que declare, por sentença, extintas as suas obrigações, reabilitando-o para a atividade 
empresarial, conforme art. 158, inciso V, da LFRE. 
Há de se pontuar que os administradores da sociedade falida condenados criminalmente 
estão impedidos de exercer a administração de outra sociedade empresária, consoante art. 35, II, 
da Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. A inabilitação se encerra com a declaração de 
extinção das obrigações do falido. 
 
Restrição ao direito de locomoção 
Segundo o art. 104, III e IV, da LFRE, o falido individual e os administradores da 
sociedade falida ficam proibidos de se ausentar do “lugar da falência”, salvo mediante prévia 
“comunicação” ao juízo, deixando procurador para representá-lo no processo. Frise-se que na 
vigência do Decreto-Lei nº 7.661/45, por força do seu art. 34, III, o falido só poderia se ausentar 
com “autorização judicial”. A nova lei, como se pode perceber, substituiu o verbo autorizar por 
comunicar, despertando dúvidas sobre como interpretá-la. 
Duas linhas de interpretação surgiram. A primeira, defendendo que não houve qualquer 
mudança substancial, isto é, para se ausentar, o falido ou os administradores da sociedade falida 
precisam de autorização judicial, na medida em que, apesar da nova lei, ainda precisam justificar a 
necessidade da viagem. 
A segunda, diametralmente oposta, sustenta que o falido e os administradores da sociedade 
falida não precisam mais pedir autorização, mas apenas comunicar a intenção de se ausentar, 
justificando-a e deixando procurador. Em caso de abuso ou de efetivo prejuízo ao bom 
andamento do processo, o juiz, dentro do seu poder geral de cautela, com fulcro no art. 99, VII, 
da LFRE, pode até proibir a saída deles do local da falência, desde que, é claro, estejam presentes 
os requisitos próprios: fummus boni iures e o periculum in mora. Nesse sentido estão as últimas 
decisões do STJ.33 
 
Arrecadação das correspondências 
Uma das atribuições do administrador judicial, na forma do art. 22, III, “d”, da LFRE, é 
receber todas as correspondências dirigidas ao falido, devolvendo-lhe as que não despertarem 
interesse para a massa falida. 
Aliás, o falido deverá entregar ao administrador judicial todas as senhas de acesso aos 
sistemas contábeis, financeiros e bancários, permitindo-lhe amplo acesso a todas as informações 
que possam ser úteis na condução e administração da massa falida. 
 
33 STJ, HC 279.036/SP. Rel. ministro Raul Araújo, 4ª Turma, Julgamento: 24/09/2013, DJe 18/10/2013 e HC 92.327/RJ. Rel. 
ministro Massami Uyeda. Rel. p/ acórdão ministro João Otávio de Noronha, 4ª Turma, Julgamento: 25/03/2008, DJe 
04/08/2008. 
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Efeitos da falência em relação aos bens do falido 
Sem dúvidas, o foco das atenções após a decretação da falência são os bens do falido, que 
devem ser arrecadados e vendidos o mais rápido possível, a fim de evitar os efeitos deletérios da 
depreciação pelo decurso do tempo e pelo desuso, assim como para otimizar os recursos 
financeiros das massas falidas, livrando-a dos custos de guarda e dos riscos de perda. 
Pontue-se que os efeitos não devem recair, em regra, sobre os bens dos sócios de 
responsabilidade limitada, salvo na hipótese de aplicação da teoria da desconsideração da 
personalidade jurídica ou de outro instituto que permita esse alcance. 
Nessa linha, 60 dias após a sua investidura, deve o administrador judicial apresentar um 
plano de liquidação dos ativos, que não pode prever prazo superior a 180 dias para a alienação dos 
ativos, a contar da sua respectiva arrecadação, consoante art. 22, II, letra “J”, da LFRE. 
Todos os bens e direitos que estiverem na posse do falido devem ser arrecadados, ou seja, 
inventariados e avaliados. Até mesmo os bens de terceiros que estiverem na posse do devedor 
devem ser arrecadados pelo administrador judicial, que deverá apontar essa circunstância no auto 
de arrecadação. 
Como a avaliação dos bens arrecadados também é de atribuição do administrador judicial, em 
casos de maior complexidade, um profissional deve ser escolhido em, no máximo, 30 dias, e pago 
como despesa extraconcursal, na forma do art. 84 da LFRE. Registre-se que muitas vezes a avaliação 
dos bens se dá em bloco, mas, caso algum dos bens seja objeto de garantia real, ele também deve ser 
avaliado isoladamente, por força da regra trazida pelo § 5º do art. 108 c/c o art. 83, II, da LFRE. 
Também deverão ser arrecadados os bens do falido que estiverem na posse de terceiros, 
devendo o administrador judicial requerer as medidas necessárias para esse fim. Aliás, por força do 
§ 3º do art. 108 da LFRE, até mesmo os bens penhorados ou o produto da sua alienação – após a 
falência – devem ser arrecadados, cabendo ao juízo de falência comunicar os demais da 
necessidade de transferência desses recursos para a conta da massa falida. 
 
Administração e indisponibilidade dos bens 
Consoante determina o art. 99, VI, c/c o art. 103, ambos da LFRE, o falido perde 
imediatamente a administração e disponibilidade sobre os seus bens, como consequência natural 
da decretação da falência. Entretanto, eles terão legitimidade para fiscalizar a administração desses 
bens, que ficará a cargo do administrador judicial, assim como poderá requerer qualquer medida 
necessária para a defesa desses bens. 
Constatada a prática de algum ato de alienação de bens após a sentença de falência o juiz, 
de ofício ou por provocação, declarará a nulidade do ato, com fulcro no art. 166, VII, do CC, 
sem prejuízo de outras sanções que podem ser aplicadas ao falido. 
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Em relação ao Direito de Família, o falido, se empresário individual, não perde o direito de 
administrar os bens dos seus filhos menores e continua com usufruto legal dos bens deles. No que 
toca aos curatelados, o falido não poderá mais administrar os seus bens, na medida em que a lei 
que disciplina o instituto da curatela exige idoneidade financeira para exercer o cargo. 
É atribuição do administrador judicial arrecadar e avaliar todos os bens e apreender os livros 
contábeis que estiverem na posse do falido, conforme regra prevista no art. 22, III, “f”, c/c os arts. 
108-110 da LFRE. Em geral, esses bens devem ficar sob a guarda do administrador judicial, mas é 
possível a nomeação de terceiros como depositários, inclusive o próprio falido ou os sócios da 
sociedade falida. 
É nula a hasta pública para a alienação de bens de devedor falido realizada por juízo diverso 
do falimentar após a decretação da falência, mesmo que a penhora seja anterior à sentença de 
falência.34 
Todos os bens arrecadados constarão do auto de arrecadação, que é composto do inventário 
e do laudo de avaliação, devendo ser assinado pelo administrador judicial e por quem mais 
presenciou o ato, como o promotor de justiça ou o falido. Nesse documento também deverá 
constar a arrecadação dos livros e todas as observações que o administrador judicial entender 
convenientes, como a informação de que determinado bem arrecadado na posse do falido pode 
pertencer a terceiro. 
Por fim, a arrecadação de alguns bens necessita de providências complementares, como no 
caso dos imóveis, mediante averbação no Registro Geral de Imóveis, ou das marcas,que se efetiva 
com a averbação perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). 
O conjunto de bens arrecadado forma a chamada “massa falida objetiva” ou “ativa”, tratada 
pelos italianos como “patrimônio falimentar”, e por estar sob a tutela estatal não pode ser objeto 
de usucapião. Nesse sentido: 
 
FALIMENTAR E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. 
AÇÃO DE USUCAPIÃO. VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO 
CONSTITUCIONAL. DESCABIMENTO. EFEITOS DA 
DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA. PATRIMÔNIO AFETADO 
COMO UM TODO. USUCAPIÃO. INTERRUPÇÃO DA 
PRESCRIÇÃO AQUISITIVA. MASSA FALIDA OBJETIVA. ART. 47 
DO DL 7661/45. OBRIGAÇÕES DE RESPONSABILIDADE DO 
FALIDO. (...). 
5. O bem imóvel, ocupado por quem tem expectativa de adquiri-lo por 
meio da usucapião, passa a compor um só patrimônio afetado na 
decretação da falência, correspondente à massa falida objetiva. Assim, o 
curso da prescrição aquisitiva da propriedade de bem que compõe a 
 
34 STJ, CC 158.274/SP. Rel. ministro Luis Felipe Salomão. Julgamento: 18/06/2019. 
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massa falida é interrompido com a decretação da falência, pois o 
possuidor (seja ele o falido ou terceiros) perde a posse pela incursão do 
Estado na sua esfera jurídica. 6. A suspensão do curso da prescrição a que 
alude o art. 47, do DL 7.661/45 cinge-se às obrigações de 
responsabilidade do falido para com seus credores, e não interfere na 
prescrição aquisitiva da propriedade por usucapião, a qual é interrompida 
na hora em que decretada a falência devido à formação da massa falida 
objetiva. (...). 
(REsp 1680357/RJ, Rel. ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, 
julgado em 10/10/2017, DJe 16/10/2017) 
 
Bens não sujeitos à arrecadação 
Todos os bens da sociedade empresária falida estão sujeitos à arrecadação. Contudo, duas 
situações merecem atenção especial. A primeira diz respeito à falência do empresário individual, 
algo raríssimo de ocorrer. Já a outra se refere aos bens dos sócios atingidos por desconsideração da 
personalidade jurídica. Nessas duas hipóteses, não são passíveis de arrecadação: 
� bens absolutamente impenhoráveis (art. 108, § 4º, da LFRE c/c art. 833, do CPC); 
� bens legalmente impenhoráveis (Ex.: bem de família – Lei nº 8.009, de 29 de março de 
1990); 
 
Outro tema corriqueiro se refere ao tratamento a ser conferido à meação do cônjuge do 
empresário falido ou do sócio atingido pela desconsideração. Após muito refletir sobre o tema, 
passamos a defender o entendimento de que caberá ao conjugue meeiro o ônus de provar, por meio 
de embargos de terceiro, que não se beneficiou daquela atividade empresarial e, sobretudo, daqueles 
atos de confusão patrimonial ou de desvio de finalidade. Nesse sentido caminha a jurisprudência do 
egrégio Superior Tribunal de Justiça que, no julgamento dos EDcl no AREsp 1282697, manteve 
acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo consagrando o seguinte entendimento: 
 
Examinando os autos, vislumbra-se que houve a desconsideração da 
personalidade jurídica nos autos da falência para alcançar os bens do 
sócio da falida e esposo da agravante, Senhor Antônio Gomes de Oliveira 
Júnior. 
É dos autos também que o juízo falimentar autorizou a alienação em 
outro processo judicial de um imóvel que teve a sua cota-parte 
pertencente ao sócio da falida arrecadado nos autos da 
falência, determinando-se que o respectivo produto da 
arrematação/adjudicação cabente ao esposo da agravante fosse depositado 
nos autos falimentar. 
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Assim, a integralidade do valor cabente ao sócio da falida e à sua esposa, 
ora agravante, foi depositada nos autos da falência. 
Com efeito, extrai-se da interpretação conjunta dos artigos 592, IV do 
CPC e 1643 e 1644 do C.C. que a meação somente responderá pelas 
dívidas do cônjuge se demonstrado que foram contraídas em benefício do 
núcleo familiar. 
Assim e respeitado o entendimento defendido nas razões recursais, tem-se 
que eventual direito de meação do cônjuge do falido não pode ser 
tutelada nos autos da falência. Cabe a ela, ciente da arrecadação, 
manifestar seu inconformismo em sede de embargos de terceiro, no qual 
se oportunizará a comprovação de que o patrimônio arrecadado, incluída 
a meação, foi ou não adquirido com recursos da empresa falida, a 
justificar a arrecadação ou a preservação da meação. 
Não basta a mera alegação, nos autos da falência, de que agravante não 
se aproveitou economicamente das dívidas contraídas pela falida, para 
autorizar a liberação e sua meação. 
(STJ, EDcl no AREsp 1282697. Ministro MARCO AURÉLIO 
BELLIZZE. Decisão Monocrática Publicada em 01/04/2019). 
 
Nesse mesmo sentido, trazemos à colação recente acórdão do Tribunal de Justiça de São 
Paulo sobre o tema: 
 
Embargos de terceiros – Arrecadação de imóveis – Desconsideração da 
personalidade jurídica de sociedade empresarial nos autos de falência – 
Cabível e adequada a constrição da integralidade do bem – Presunção de 
reversão dos atos de comércio em benefício da entidade familiar – 
Inexistência de prova em sentido contrário – Precedentes do Superior 
Tribunal de Justiça - Sentença mantida – Recurso não provido. 
(TJSP; Apelação Cível 0225556-02.2009.8.26.0100; Relator (a): César 
Peixoto; Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Foro Central 
Cível - 37ª Vara Cível; Data do Julgamento: 28/01/2020; Data de 
Registro: 30/01/2020) 
 
Negociação com os bens da massa falida 
Como já destacado, caberá ao administrador judicial administrar os bens da massa falida, e 
o ato negocial mais comum é a locação, com observância da regra ínsita no art. 114 da LFRE. 
Diante da obrigação de liquidação dos bens em 180 dias após a respectiva arrecadação, somente 
naqueles casos em que houver justa causa que impeça essa alienação é que se pode pensar na 
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locação desses bens. Seria o caso, por exemplo, de um imóvel arrecadado pela massa falida que é 
objeto de pedido de restituição. 
O mérito da conveniência ou não da locação de bens da massa falida é dos credores, por meio 
do comitê. Porém, não havendo comitê, a locação dependerá apenas da autorização do juiz, precedida 
da oitiva do Ministério Público. 
Em tese, com lastro no art. 111 da LFRE, o juiz pode autorizar a venda de alguns bens 
diretamente para os credores, em uma espécie de adjudicação, observada a ordem de classificação 
– pois haveria compensação –, se for de interesse da massa, observado o preço de avaliação. Trata-
se de medida de difícil concretização exatamente em razão da grande probabilidade de subversão 
da ordem de preferência dos credores. 
O juiz também poderá autorizar a venda antecipada dos bens perecíveis ou sujeitos a uma 
condição especial, como de difícil guarda ou de fácil desvalorização, conforme art. 113 da LFRE. 
Em todos esses casos, o comitê de credores e o Ministério Público devem ser ouvidos. 
 
Pedidos de restituição 
O terceiro que teve algum bem arrecadado pelo administrador judicial poderá reavê-lo por 
meio de um procedimento denominado “pedido de restituição”. A regulamentação do pedido de 
restituição, estruturada nos arts. 85-93 da LFRE, segundo a nossa ótica, foi bastante simplificada, 
embora nem todos os pontos divergentes tenham sido equacionados. 
A ação de restituição tem natureza incidental e pode ser de jurisdição voluntária ou 
contenciosa, quando resistida, consubstanciando o meio pelo qual se pede ao juízo a devolução do 
bem arrecadado, normalmente porque estava na posse do falido quando da sua quebra. Em razão 
da sua natureza, só pode ser formulado por meio de advogado regularmente constituído,e o seu 
processamento será em autos apartados. 
O pedido de restituição in natura está disciplinado no art. 85 da LFRE e é dividido pela 
doutrina em restituição ordinária (caput) e restituição excepcional (parágrafo único), tendo 
absoluta prioridade na ordem de atendimento, antes mesmo das despesas extraconcursais, 
consoante art. 149 da LFRE. 
Por sua vez, os pedidos de restituição em dinheiro estão disciplinados nos incisos do art. 86 
da LFRE, e passaram a ocupar, após a reforma de 2020, o terceiro lugar na ordem de prioridades 
das despesas extraconcursais, consoante art. 84, I-C, da LFRE. 
 
Restituição ordinária – in natura 
Prevista no caput do art. 85 da LFRE, é a mais comum. Ocorre quando um bem de terceiro é 
arrecadado por força da falência do devedor, seja porque estava na posse deste ou por equívoco do 
administrador. A regra é que o bem seja devolvido o quanto antes ao proprietário in natura. 
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Relembremos que o administrador judicial consignará no auto de arrecadação todas as 
observações a respeito dos bens, em especial a alegação de que eles não pertencem ao falido. 
Em situações peculiares, o objeto do pedido de restituição é dinheiro, consoante 
reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da Súmula 417, quando, por força 
de lei ou de contrato, o falido estiver na posse de quantia de terceiros, como na hipótese da 
falência de uma sociedade de transporte de valores ou, em um exemplo cada vez mais corriqueiro, 
de uma sociedade que tenha alienado os seus recebíveis para terceiros muito antes da falência e, 
por qualquer razão, tenha recebido diretamente do devedor e ainda não tenha repassado a quantia 
ao seu titular. 
Embora controvertida no campo doutrinário, a jurisprudência predominante confere ao 
consorciado não sorteado a prerrogativa de pedir a restituição dos valores entregues ao consórcio – 
pagos –, conforme se constata pelo precedente abaixo: 
 
RECURSO ESPECIAL. FALÊNCIA. PEDIDO DE HABILITAÇÃO DE 
CRÉDITO ANTERIOR AO PEDIDO DE RESTITUIÇÃO. 
PRECLUSÃO CONSUMATIVA. INEXISTÊNCIA. – O pedido de 
habilitação de crédito não impede que seu autor – renunciando a tal pedido 
– requeira a restituição do bem ou do valor a ser habilitado. 
ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIO. FALÊNCIA. 
RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS AOS CONSORCIADOS. 
POSSIBILIDADE. – Podem ser objeto de pedido de restituição os 
valores pagos pelos consorciados à administradora de consórcio que 
teve sua falência decretada (REsp 410.363/SP, Rel. ministro Humberto 
Gomes de Barros, 3ª Turma, Julgamento: 18/04/2006, DJ 22/05/2006, p. 
190). Nesse sentido: STJ, Recurso Especial nº 1.031.330-RS 
(2008/0031771-3). Relator: Min. Raul Araújo. Decisão Monocrática 
publicada em 28/06/2011. 
 
Escorado no entendimento preconizado pela súmula mencionada, o Instituto Nacional de 
Seguridade Social (INSS) e a Fazenda Nacional, com relativa frequência, reivindicavam a restituição 
dos valores descontados dos salários dos empregados, a título de contribuição previdenciária ou de 
imposto de renda retido na fonte, e não repassadas ao Fisco. Havia grande divergência sobre a 
legitimidade desses pedidos, mas a jurisprudência caminhava firme ao lado Fisco, salvo em relação 
aos acréscimos decorrentes da mora, que eram classificados como créditos concursais.35 
De toda maneira, essas verbas passaram a ser tratadas não mais como restituições in natura, 
do art. 85, mas como restituições em dinheiro, previstas no art. 86, inciso IV, da LFRE. 
 
35 STJ, REsp. 780.971/RS, 1ª Turma. Rel. ministro Teori Albino Zavascki. Julgamento: 05/06/2007. 
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Bens alienados fiduciariamente, arrendados ou decorrentes de compra e venda 
com reserva de domínio 
Em relação aos contratos de alienação fiduciária, arrendamento mercantil, compra e venda 
com reserva de domínio e promessa de compra e venda com cláusula de irrevogabilidade e 
irretratabilidade, os bens estão apenas na posse direta do devedor, mas o direito de propriedade – 
ou equivalente – pertence ao credor. Assim, em caso de falência do devedor e diante da 
arrecadação do bem, em princípio, o credor poderá pedir a sua restituição. 
No que toca à competência, de rigor, se o credor já havia ajuizado algum procedimento no 
foro comum para reaver o bem, como ação de busca e apreensão ou reintegração de posse, antes 
da decretação da falência, o processo deveria seguir o seu trâmite normal, com a intimação do 
administrador judicial e do Ministério Público, retificando-se o polo passivo.36 Esse, no entanto, 
não tem sido o caminho trilhado pelas decisões mais recentes: 
 
APELAÇÃO – AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO – Ação extinta sem 
resolução do mérito – Recurso do vencido buscando a reforma julgado, 
aduzindo que o crédito advindo de contrato com garantia real está 
excluído dos efeitos da recuperação judicial e falência, por expressa 
disposição contida no artigo 49, § 3º da Lei nº 11.101/05 – Requerida que 
teve convolada a recuperação judicial em falência – INVIABILIDADE DE 
SE PROSSEGUIR COM A AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO – 
JUÍZO UNIVERSAL DA FALÊNCIA – Proprietário do bem que deve 
pleitear as medidas cabíveis perante o juízo falimentar, para viabilizar a 
retomada do veículo – Inteligência do artigo 85, caput da Lei nº 11.101/05 
e do artigo 7º do Decreto-Lei nº 911/69 – Sentença mantida – Recurso 
desprovido (TJSP; Apelação Cível 1001931-70.2016.8.26.0451; 
Relator: José Augusto Genofre Martins; Órgão Julgador: 31ª Câmara de 
Direito Privado; Foro de Piracicaba – 6ª Vara Cível; Data do Julgamento: 
03/07/2019). 
 
Independentemente da espécie de procedimento, como assinalamos, o administrador deverá ser 
intimado, ocasião em que poderá concordar com o pedido de restituição do bem, resolvendo-se a 
demanda na forma contratualmente prevista. Contudo, caso o administrador entenda que é melhor 
para a massa falida continuar na posse do bem, desde que autorizado pelo juízo, o contrato poderá ser 
cumprido na forma pactuada, pagando-se as prestações em dia com os recursos disponíveis em caixa, 
ou seja, como despesa extraconcursal, com fulcro nos arts. 84, 117 e 118 da LFRE. 
 
36 STJ, REsp 243.385/SP. Rel. ministro Aldir Passarinho Junior, 4ª Turma, Julgamento: 04/06/2002, DJ 26/08/2002, p. 225. e 
STJ, REsp 847.759/MG. Rel. ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, Julgamento: 01/12/2009, DJe 14/12/2009. 
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Restituição excepcional 
O parágrafo único do art. 85, da LFRE, a exemplo do § 2º, do art. 76 do Decreto-Lei nº 
7.661/45, permite que os bens vendidos ao falido a crédito e entregues nos 15 dias anteriores ao 
requerimento de falência, se ainda não alienados, sejam restituídos ao vendedor. Prima facie, parece 
tranquila a aplicação da restituição excepcional, mas vários problemas surgem a partir de um exame 
mais aprofundado. Inicialmente, é preciso consignar que sobre o tema existem duas súmulas do STF. 
A primeira a ser analisada é a Súmula 495. Pacificou-se o entendimento de que a restituição 
só é cabível se o bem objeto da reivindicação realmente tiver sido arrecadado, pois não há que se 
falar em restituição de algo que não foi arrecadado. Assim, a expressão “se ainda não alienados” 
deve ser compreendida no sentido de que, se o bem já tiver sido revendido pelo falido antes da 
falência, não há que se falar em restituição. O ônus da prova é da massa falida segundo 
jurisprudência do STJ. 
A segunda súmula a ser analisada é a 193. O termo “entrega”utilizado no parágrafo único 
do art. 85 compreende só a entrega efetiva ou também inclui a entrega simbólica? 
Para o STF, somente é cabível o pedido de restituição excepcional quando a entrega for 
efetiva e ocorrer nesses 15 dias anteriores ao requerimento de falência. Primeiro, porque toda 
exceção deve ser interpretada restritivamente. Segundo, porque, em relação à entrega simbólica, 
existia o art. 44, I, do Decreto-Lei nº 7.661/45, agora art. 119, I, da LFRE, pelo qual o vendedor 
poderia impedir a entrega da coisa ao comprador falido, desde que este não prove que revendeu as 
mercadorias em trânsito a terceiro de boa-fé antes do requerimento de quebra. 
Não podemos olvidar que o saudoso professor Rubens Requião repudiava tal 
entendimento, seja porque a lei não estabelecia diferença entre a entrega efetiva e a simbólica, seja 
porque o Right of Stoppage in Transitu tratava de hipótese completamente diversa, o que 
dificultaria a defesa do direito do vendedor, ludibriado pelo comprador em estado de insolvência. 
Outra questão interessante, cuja solução não está claramente prevista na legislação, é 
quando a compra for pactuada nos 15 dias anteriores ao pedido de falência, mas a coisa só for 
entregue após esse pedido. Em nossa opinião, provado que o vendedor não tomou conhecimento 
do pedido de falência ou não teve como obstar a entrega da coisa, dever-se-ia permitir a 
restituição do bem. 
 
Restituição em dinheiro 
As restituições em dinheiro, que não se confundem com as hipóteses albergadas pela 
Súmula 417 do STF, estão previstas em quatro incisos do art. 86 da LFRE: 
I. Na hipótese ventilada no inciso I do art. 86, da LFRE, o bem do terceiro arrecadado 
pelo administrador judicial não mais existe ao tempo do pedido de restituição. Em 
casos de desaparecimento do bem por furto ou extravio, a restituição se dará em 
dinheiro, no valor da avaliação. Na hipótese de já ter sido alienado na falência, a 
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restituição se dará em dinheiro, no valor equivalente ao obtido pela massa falida. Assim, 
o único requisito para a devolução do bem de terceiro é que este tenha sido arrecadado. 
II. Por questões de política de incentivo às exportações, com o objetivo de redução dos 
spreads bancários nos contratos de empréstimos dentro desse segmento, os valores 
adiantados – emprestados – pelas instituições financeiras para os exportadores, nas 
modalidades de adiantamento de contrato de câmbio e adiantamento sobre cambiais 
entregues (ACC e ACE), em caso de falência do mutuário, poderão ser restituídos com 
base no art. 86, II, da LFRE e no art. 75, §§ 3º e 4º, da Lei nº 4.728, de 14 de julho de 
1965.37 Sobre o tema, além da Súmula 307, edificada sob a égide do Decreto-Lei nº 
7.661/45, a jurisprudência é firme: 
 
constitui entendimento pacificado na 2ª Seção do Superior Tribunal 
de Justiça, que o adiantamento de contrato de câmbio, por representar 
patrimônio do credor em poder da falida e não bem da Massa, não 
pode ser preterido em favor de créditos trabalhistas, cabendo ser 
restituído ao banco titular, antes do pagamento daqueles [...] (STJ, 
REsp 1440783/SP, Rel. ministro Moura Ribeiro, 3ª Turma, 
Julgamento: 14/06/2016, DJe 21/06/2016). 
 
III. Por fim, é cabível a restituição em dinheiro quando o juízo falimentar, ao declarar a 
ineficácia de algum ato praticado pelo falido, na forma do art. 129 c/c o art. 136, 
ambos da LFRE, entende que o terceiro com quem o falido negociou estava de boa-fé. 
Nesse caso, mesmo com a declaração de ineficácia do negócio, todo valor 
eventualmente entregue pelo terceiro ao falido deverá ser restituído, com fulcro no art. 
86, III, da LFRE. Um bom exemplo seria a hipótese do credor que adquiriu do 
devedor, dentro do termo legal, um bem imóvel, pagando parte do preço em dinheiro e 
a outra com um crédito que tinha contra o aquele – dação em pagamento (art. 129, III, 
da LFRE). 
IV. Finalmente, valores recebidos pelos agentes arrecadadores e não 
recolhidos aos cofres públicos, tais como o INSS e o IR retido dos 
empregados, passam a ser tratados, como já advertimos, como restituições 
em dinheiro. 
 
 
 
37 Importante acórdão do STJ resume todas as variáveis desses contratos e merece ser lembrado: REsp. 365.778/RS. 1ª 
Turma. Rel. ministro Luiz Fux. Julgamento: 20/09/2005. DJU. 10/10/2005. p. 221. RDDT, 124-225. 
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Repise-se que o grande diferencial das restituições in natura em relação às restituições em 
dinheiro é a prioridade no seu atendimento. As restituições amparadas pelo art. 85 têm absoluta 
prioridade sobre todas as despesas extraconcursais, enquanto as restituições em dinheiro do art. 86 
estão posicionadas em terceiro lugar na ordem de privilégio das despesas extraconcursais, na forma 
do art. 84, inciso I-C38. 
 
Rito da restituição 
O procedimento do pedido de restituição está previsto no art. 87 da LFRE. Formulado o 
requerimento e devidamente autuado em apartado, serão intimados, sucessivamente, o falido, o 
comitê de credores, os credores e, finalmente, o administrador judicial, para se manifestarem em 
cinco dias. Apesar da omissão legal, por óbvio o Ministério Público deve ser intimado para se 
manifestar. 
A lei permite que, “antes do trânsito em julgado da sentença”, o bem seja entregue ao 
reivindicante, se prestada caução, consoante art. 90, parágrafo único, da LFRE, que deve ser 
combinado com o art. 273 do CPC. 
Caso qualquer das partes se manifeste contra o pedido, funcionará como contestação. 
Contudo, o juiz julgará o pedido independentemente de resistência, podendo determinar a 
produção de provas de ofício. Não havendo necessidade de provas, os autos serão conclusos para 
sentença. Se procedente, será expedido alvará de liberação, consoante art. 88 da LFRE. Não pode 
haver nenhum tipo de acordo extrajudicial, eis que não cabe devolução amigável pelo 
administrador judicial. A decisão é exclusiva do juiz da falência. 
Interessante é a questão do ônus de sucumbência. A infeliz redação do parágrafo único do 
art. 88 da LFRE pode dar a impressão de que, em qualquer caso de resistência ao pedido, haverá 
condenação da massa falida nos honorários advocatícios. No entanto, a condenação da massa 
falida só pode acontecer quando a resistência vier do administrador judicial, e não de um 
credor, do falido ou do Ministério Público. Uma vez negado o pedido de restituição, se o juiz 
reconhecer que o requerente é credor de qualquer quantia, mandará de ofício incluí-lo no 
quadro geral, com base no art. 89 da LFRE. 
A decisão que aprecia o pedido de restituição continua desafiando o recurso de apelação, 
sem efeito suspensivo, conforme art. 90, caput, da LFRE. No entanto, enquanto não transitar em 
julgado, fica suspensa a disponibilidade da coisa, ou seja, não poderá ser alienada pela massa, 
consoante art. 91, da LFRE. 
Nas hipóteses de restituição em dinheiro, quando não houver saldo suficiente para o 
atendimento de todos, será feito um rateio entre eles, conforme parágrafo único do art. 91 da LFRE. 
 
38 LIMA, Sérgio Mourão Corrêa. Comentários à nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas. Coordenadores: Osmar 
Brina Corrêa-Lima e Sérgio Mourão Corrêa Lima. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 621. 
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 75 
 
O reivindicante terá de reembolsar à massa falida as despesas com a conservação da 
coisa, na forma do art.92 da LFRE, e esse valor pode ser fixado na própria decisão que 
autoriza a entrega do bem. 
Em redação muito mais apropriada, a nova lei, no seu art. 93, não afasta a possibilidade do 
manejo dos embargos de terceiros, quando não for cabível o pedido de restituição, ou seja, em 
caso de mera turbação. As hipóteses mais comuns são os embargos de terceiro para defesa de 
meação ou quando há mera turbação. O procedimento está previsto no CPC. 
 
Desconsideração da personalidade jurídica e outros casos de 
responsabilização 
O atual CPC, nos arts. 133-137, disciplina o incidente de desconsideração de 
personalidade jurídica, valendo registrar que ele é aplicável ao processo falimentar, salvo em 
relação ao comando que determina a suspensão do processo principal enquanto não resolvido o 
incidente, conforme art. 82-A, da LFRE. 
A desconsideração da personalidade jurídica tem como principais causas o desvio de 
finalidade e a confusão patrimonial, na linha positivada no art. 50 do CC, permitindo-se, quando 
da sua comprovação, o avanço sobre o patrimônio de terceiros, de grupo econômico, dos sócios 
ou dos administradores. No âmbito falimentar, esse abuso é normalmente verificado quando 
comprovada a dissolução irregular da sociedade empresária, agravada pela absoluta ausência de 
bens e de escrituração contábil.39 
Há de se observar, na esteira do que foi reconhecido por unanimidade pela 4ª Turma do 
STJ,40 em processo de falência que atuamos, que o instituto da desconsideração da personalidade 
jurídica não está sujeito a qualquer prazo prescricional ou decadencial, podendo alcançar ex-sócios 
que se retiraram da sociedade muito tempo antes da decretação da falência, desde que fique 
provado que eles foram os responsáveis pelos atos de dilapidação patrimonial, decorrentes de 
abuso da personalidade jurídica ou confusão patrimonial, consoante art. 50 do CC. 
Os tribunais muitas vezes não percebem a sutil, mas importante, diferença entre a 
desconsideração da personalidade jurídica e a “extensão dos efeitos da falência”. A primeira tem 
efeitos exclusivamente patrimoniais, pois os bens da pessoa atingida serão arrecadados para o 
pagamento dos credores, enquanto a segunda, mais grave, também gera efeitos pessoais, 
mormente aqueles previstos no art. 104 da LFRE. 
Muito embora sem previsão legal expressa no nosso ordenamento, o instituto da “extensão 
da falência” vinha sendo bastante utilizado, muitas vezes sob a denominação de “desconsideração 
expansiva” da personalidade jurídica. De toda forma, com a reforma, o incidente de 
 
39 TJMG, AI 1.0527.09.006590-7/001, Julgamento: 02/08/2011. 
40 STJ, RESP. 1.180.191/RJ. 
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desconsideração passa a ser a única opção, a teor do que agora prevê o art. 82-A, da LFRE. 
Também nessa linha de ideias, o TJSP formou sólida jurisprudência: 
 
FALÊNCIA – INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA 
PERSONALIDADE JURÍDICA E EXTENSÃO DOS EFEITOS DA 
FALÊNCIA – Tutela de urgência deferida para determinar o arresto 
cautelar de todos os bens e bloqueio dos ativos financeiros – Fortes 
elementos indiciários que conduzem à verossimilhança necessária ao 
deferimento da tutela de urgência recorrida a fim de assegurar a 
salvaguarda patrimonial em caso de eventual responsabilização pessoal 
e/ou a desconsideração da personalidade jurídica dos entes naturais ou 
jurídicos, especialmente diante do trâmite paralelo da recuperação 
judicial dos recorrentes – Decisão mantida – Recurso não provido. 
Dispositivo: negam provimento ao recurso (TJSP; Agravo de 
Instrumento 2254941-52.2018.8.26.0000; Relator: Ricardo Negrão; 
Órgão Julgador: 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de 
São Carlos – 5ª Vara Cível; Julgamento: 10/09/2019; Registro: 
17/09/2019). 
 
O magistério de Noronha e Lima, com expressa referência à jurisprudência do STJ, é 
preciso ao defender a extensão da falência: 
 
Portanto, quando as provas dos autos indicarem “a existência de notório 
desvio de finalidades sociais para fins ilícitos e unidade de interesses, 
direção e confusão patrimonial, tudo voltado para a prática de atos 
reputados irregulares pelo direito” (REsp. 228.357/SP), duas ou mais 
sociedades devem sujeitar-se a processo falimentar único.41 
 
A desconsideração da personalidade jurídica e a extensão da falência não se confundem com 
a ação de responsabilidade, prevista no art. 82 da LFRE, e também em leis especiais, como no 
caso dos arts. 39 e 40, da Lei nº 6.024/74 e do art. 159 da Lei nº 6.404/76. 
A desconsideração maior exige a demonstração de benefício de quem se quer atingir, 
enquanto a ação de responsabilidade se baseia ordinariamente no conceito de culpa por eventual 
prejuízo causado à sociedade em uma operação específica, sem a necessidade de prova de que 
houve benefício econômico. Nesse sentido: 
 
41 NORONHA, João Otávio; LIMA, Sérgio Mourão Corrêa. Comentários à nova Lei de Falência e Recuperação de Empresas. 
Coordenação: Osmar Brina Corrêa-Lima e Sérgio Mourão Corrêa Lima. Rio de Janeiro: Forense, 2009. p. 117. 
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 77 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E COMERCIAL. 
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA DE 
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA SUJEITA À LIQUIDAÇÃO 
EXTRAJUDICIAL NOS AUTOS DE SUA FALÊNCIA. 
POSSIBILIDADE. A CONSTRIÇÃO DOS BENS DO 
ADMINISTRADOR É POSSÍVEL QUANDO ESTE SE BENEFICIA 
DO ABUSO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. – A desconsideração 
não é regra de responsabilidade civil, não depende de prova da culpa, 
deve ser reconhecida nos autos da execução, individual ou coletiva, e, por 
fim, atinge aqueles indivíduos que foram efetivamente beneficiados com 
o abuso da personalidade jurídica, sejam eles sócios ou meramente 
administradores. – O administrador, mesmo não sendo sócio da 
instituição financeira liquidada e falida, responde pelos eventos que tiver 
praticado ou omissões em que houver incorrido, nos termos do art. 39, 
Lei 6.024/74, e, solidariamente, pelas obrigações assumidas pela 
instituição financeira durante sua gestão até que estas se cumpram, 
conforme o art. 40, Lei 6.024/74. A responsabilidade dos 
administradores, nestas hipóteses, é subjetiva, com base em culpa ou 
culpa presumida, conforme os precedentes desta Corte, dependendo de 
ação própria para ser apurada. – A responsabilidade do administrador sob 
a Lei 6.024/74 não se confunde a desconsideração da personalidade 
jurídica. A desconsideração exige benefício daquele que será chamado a 
responder. A responsabilidade, ao contrário, não exige este benefício, mas 
culpa. Desta forma, o administrador que tenha contribuído 
culposamente, de forma ilícita, para lesar a coletividade de credores de 
uma instituição financeira, sem auferir benefício pessoal, se sujeita à ação 
do art. 46, Lei 6.024/74, mas não pode ser atingido propriamente pela 
desconsideração da personalidade jurídica. Recurso Especial provido 
(Resp 1036398/RS, Rel. ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, 
Julgamento: 16/12/2008, DJe 03/02/2009). 
 
Efeitos da falência em relação aos contratos do falido 
Certamente, muitas dúvidas surgem sobre o que fazer em relação aos contratos, sobrevindo 
a falência de uma das partes. Os efeitos variam de acordo com a espécie do contrato, mas duas 
regras básicas foram criadas: uma dedicada aos contratos unilaterais e outra para aos bilaterais. 
 
78 
 
Contratos bilaterais 
Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência, a exemplo do sistema anterior, 
consoante determina o art. 117 da LFRE, cabendo ao administrador judicial decidir pelo seu 
prosseguimento ou não, conforme interesse da massa falida. Contudo, se optar pelo 
prosseguimento do contrato, tal decisão deve ser endossadapelo comitê de credores, se existir, ou 
autorizada pelo juízo falimentar. Trata-se, segundo o nosso sentir, de um ato jurídico complexo. 
Para rescisão, no entanto, basta a vontade do administrador, uma vez que não gera despesas 
extraconcursais. 
Caso o administrador judicial não se manifeste sobre o prosseguimento ou não do contrato 
bilateral, o terceiro poderá interpelá-lo, judicial ou extrajudicialmente, desde que o faça no prazo 
máximo de 90 dias a contar da investidura do administrador judicial, para que este diga em 10 
dias se cumprirá ou não o contrato. 
Registre-se que, em caso de resposta negativa ou silêncio do administrador judicial, nasce 
para o terceiro contraente o direito de habilitar o valor de eventual multa rescisória na classe 
própria ou de propor contra a massa, no juízo falimentar, ação de cunho indenizatório, que, em 
caso de procedência, constituirá saldo quirografário. Ricardo Tepedino sugere a seguinte 
interpretação:42 
 
Só se encontra um meio de aproveitar utilmente os dois dispositivos: a 
multa contratual a que se refere o inciso VII do art. 83 é aquela 
estabelecida para o caso de mora ou para inexecução de uma cláusula 
especial. Para a resolução do contrato, pode o outro contratante habilitar 
na falência, como crédito quirografário, o montante previamente fixado 
na cláusula penal, sem prejuízo de sua redução, nos termos do aludido 
art. 413 do CC. 
 
Ousamos discordar. As multas dos contratos bilaterais, tenham ou não se resolvido pela 
falência, devem ser incluídas na classe prevista no art. 83, VII, da LFRE. Já a indenização de 
que trata o art. 117, § 2º, deve ser tratada como crédito quirografário. A diferença se justifica, 
na medida em que a multa é fruto da mera vontade das partes, enquanto a indenização é 
decorrente de uma profunda análise pelo juiz dos prejuízos suportados pelo terceiro com o 
rompimento do contrato. 
 
 
42 TEPEDINO, Ricardo. Comentário ao artigo 117 da Lei 11.101/05. In: TOLEDO, Paulo Fernando Campos Salles de; ABRÃO, 
Carlos Henrique (Coords.). Comentários à Lei de Recuperação de Empresa e de Falência. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 313. 
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Contratos unilaterais 
Os contratos unilaterais em que o falido é o credor não se resolvem pela falência, já que 
inexiste ônus para a massa falida. No tocante aos contratos unilaterais em que o falido é o 
devedor, a regra é o seu vencimento antecipado, sem incidência de multa rescisória, na forma do 
art. 77, c/c o art. 83, § 3º, ambos da LFRE, salvo se o administrador judicial, endossado pelo 
comitê ou pelo juízo, conclua ser de interesse da massa falida realizar o pagamento da obrigação 
como crédito extraconcursal, consoante art. 118, c/c o art. 84, da LFRE. 
O sistema anterior disciplinava expressamente as obrigações sujeitas à condição suspensiva, 
o que não se verifica na lei nova. No entanto, mesmo diante da lacuna atual, sustentamos que não 
há vencimento antecipado dessas obrigações, pelo menos enquanto não se verificar a condição, 
ressalvado o direito de o credor se habilitar na massa, mas o efetivo pagamento só se dará com a 
implementação da respectiva condição. 
 
Situações especiais 
Conquanto existam essas duas regras gerais, outras de cunho especial devem ser observadas. 
Vejamos as mais importantes. 
 
Compra e venda a prazo: mercadorias em trânsito 
Segundo o art. 119, I, da LFRE, celebrado um contrato de compra e venda a prazo e 
ocorrendo a quebra do comprador antes da entrega das mercadorias, o que pode ser feito pelo 
vendedor? 
1ª situação: se a mercadoria já tiver sido entregue ao comprador, o vendedor deve verificar 
se é ou não o caso do pedido de restituição. Caso não exista essa possibilidade, deverá habilitar-se 
na falência como qualquer credor. 
2ª situação: se a mercadoria ainda estiver em trânsito, nasce para o vendedor o chamado 
right of stoppage in transitu, ou direito de “estopagem”, isto é, o vendedor poderá sustar a 
entrega da mercadoria, impedindo-a de chegar às mãos do comprador falido, desde que este não 
faça a prova de já ter revendido a mercadoria, por conta das faturas e do conhecimento de 
transporte, sem fraude. 
 
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Em resumo, o transportador recebe uma ordem do vendedor para não efetivar a entrega, 
que pode ser judicial ou extrajudicial – contraordem. Esse direito de “estopagem” não é absoluto, 
pois só pode ser exercido: 
a) quando o comprador não tiver revendido a mercadoria ou 
b) quando o comprador tiver revendido essa mercadoria com fraude. 
 
Compra e venda de coisas compostas 
Na linha do art. 119, II, da LFRE, se o devedor vendeu coisas compostas e não as entregou 
totalmente antes da falência, resolvendo o administrador judicial não cumprir o contrato, o 
comprador poderá, em tese, colocar as coisas já recebidas à disposição da massa falida e pleitear 
perdas e danos, na forma do art. 117, § 2º, da LFRE. 
 
Compra e venda com reserva de domínio 
Na forma do art. 119, IV, da LFRE, caso o devedor tenha adquirido algum bem antes da 
falência em um contrato com cláusula de reserva de domínio, não pretendendo o administrador 
judicial cumprir com os pagamentos, deverá devolver a coisa após uma vistoria e o arbitramento 
do seu valor para que, descontado o valor pago e com o acréscimo das despesas judiciais e 
extrajudiciais, o vendedor possa restituir à massa o saldo verificado, salvo se existir outra forma de 
liquidação prevista no contrato. Abaixo, segue exemplo: 
 
valor do negócio : 100 mil 
valor pago : 40 mil 
valor da vistoria : 80 mil 
saldo a restituir : 20 mil 
 
Patrimônio de afetação 
Embora referenciado no art. 119, IX, da LFRE, a disciplina jurídica do patrimônio de 
afetação está na Lei nº 10.934/01. Em suma, por decisão dos promitentes compradores em 
assembleia especial, é possível que o patrimônio de afetação não se confunda com os demais bens 
do falido até o seu termo ou cumprimento do seu objetivo, sendo certo que eventual saldo credor 
será revertido em favor da massa falida, enquanto eventual saldo devedor do empreendimento 
deverá ser habilitado na classe quirografária. 
Na hipótese de promitentes compradores desistirem do empreendimento, os seus ativos se 
reverterão totalmente para a massa falida, e os créditos dos promitentes compradores serão 
listados na classe dos credores quirografários. 
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Locação 
Disciplinado no art. 119, VII, da LFRE, o tratamento do contrato de locação dependerá da 
posição no falido no contrato. A falência do locador não importa em alteração do contrato, 
devendo o administrador judicial respeitar o pacto vigente, notando-se que a intenção do 
legislador é proteger a empresa do locatário. Se a falência for do locatário, aplica-se a regra dos 
contratos bilaterais, isto é, nasce para o administrador judicial o poder de, a qualquer tempo, 
denunciar o contrato, resolvendo-se em perdas e danos, na forma do art. 117, § 2º, c/c o art. 83, 
VII, ambos da LFRE. 
Algumas observações são importantes. A primeira delas é uma advertência contra eventuais 
fraudes, pois já nos deparamos com casos em que a devedora, na véspera da falência, celebrou 
contrato de locação dos seus principais ativos, sobretudo bens imóveis, por um prazo 
extremamente longo e com um aluguel bem abaixo do valor de mercado, com uma sociedade 
cujos sócios eram “testas de ferro”dos próprios devedores, algumas vezes até parentes próximos. 
Também merece destaque a discussão sobre a possibilidade de ação renovatória do contrato 
de locação contra a massa falida, ou do direito de preferência em caso de alienação do bem 
imóvel, com fundamento no preenchimento dos requisitos exigidos pela Lei nº 8.245, de 18 de 
outubro de 1991. Massa falida e sociedade falida não se confundem, sendo certo que o objetivo 
do processo de falência é a liquidação de todos os bens do devedor, sem ônus para o arrematante e 
pelo maior lance, razão pela qual não há nem o direito à renovação compulsória, muito menos o 
de preferência, quando da alienação em hasta pública. Nesse sentido: 
 
FALÊNCIA – HABILITAÇÃO DE CRÉDITO – Competência desta 
Turma Julgadora, oriunda da prevenção pelo julgamento de recursos 
anteriores, envolvendo a mesma Massa Falida agravada – Decisão que 
afastou o alegado direito de preferência pleiteado pela agravante, 
sublocatária do imóvel pertencente à massa falida, decorrente de 
arrematação em leilão judicial – Insurgência que não comporta acolhida – 
Em se tratando de alienação judicial em leilão de bem arrecadado na 
falência da locadora, a sublocatária não tem o direito de preferência 
previsto no art. 30 da Lei 8.245/91, por expressa exclusão legal (art. 32), 
tendo ela apenas o direito de comparecer e participar da venda judicial, 
dando os lanços que entender convenientes – Direito reclamado, aliás, já 
afastado por esta Turma Julgadora em anterior agravo de instrumento, 
interposto pela mesma agravante – Edital que, no entanto, deve fazer 
constar a existência da sublocação, a fim de resguardar a ciência aos 
eventuais interessados na aquisição, evitando-se futuras nulidades – 
Inteligência do art. 886, VI, do Novo CPC – Recurso improvido, com 
observação (TJSP; Agravo de Instrumento 2258511-17.2016.8.26.0000; 
Relator: Salles Rossi; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito Privado; Foro 
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Central Cível – 24ª Vara Cível; Julgamento: 07/06/2017; Registro: 
27/06/2017). 
 
Mandato 
Segundo o art. 120 da LFRE, cessa, pela falência, o mandato conferido pelo devedor 
quando ligado aos negócios da empresa, salvo se o mandato for para representação judicial, que só 
cessará mediante notificação do administrador judicial. Se o falido for o mandatário, só cessará o 
contrato quando ligado à atividade empresarial. 
 
Conta-corrente 
Pela dicção literal do art. 121 da LFRE, encerram-se as contas-correntes por ocasião da 
falência. Mesmo as ordens de pagamento emitidas antes da falência não podem ser aceitas se 
apresentadas após a quebra. Eventual saldo credor será arrecadado pelo administrador judicial e 
direcionado para uma conta judicial da massa falida. Eventual saldo devedor deve ser habilitado 
pela instituição financeira. 
 
Indivisibilidade do juízo falimentar 
A indivisibilidade do juízo falimentar43 persiste no novo diploma legal e impõe que todas as 
ações que venham a ser propostas em face da massa falida sejam da competência do juízo da falência. 
Dessa forma, ressalvadas as exceções que analisaremos adiante, qualquer ação que venha a ser 
intentada contra a massa falida há de ser proposta perante o juízo falimentar. Trata-se de uma regra 
de competência absoluta, eis que funcional. Portanto, caso a sociedade falida tenha, mesmo antes da 
falência, praticado algum ato ilícito que resultou em prejuízo para terceiros, se a ação for proposta 
depois da sentença de quebra, o juízo competente é o da falência, com base no art. 76 da LFRE. 
Questão de grande importância é estabelecer os limites das exceções dessa indivisibilidade. 
A seguir, analisaremos cada uma delas. 
 
 
 
43 Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e 
negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar 
como autor ou litisconsorte ativo. 
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Reclamações trabalhistas 
A competência da Justiça Trabalhista está prevista na própria Constituição da República,44 
portanto, uma lei ordinária não poderia sobrepor-se ao comando constitucional. Então, mesmo 
após a decretação da falência, eventual dissídio trabalhista deve ser apreciado pela Justiça do 
Trabalho e, constituído o título executivo judicial, o crédito deve ser habilitado no processo 
falimentar, para que se respeite o princípio pars conditio creditorum. 
Note-se que, no polo passivo, estará a massa falida, devidamente representada pelo 
administrador judicial. O STF já teve oportunidade de reafirmar a sua jurisprudência após o advento 
da LFRE: 
 
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. EXECUÇÃO DE 
CRÉDITOS TRABALHISTAS EM PROCESSOS DE 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA 
ESTADUAL COMUM, COM EXCLUSÃO DA JUSTIÇA DO 
TRABALHO. INTERPRETAÇÃO DO DISPOSTO NA LEI 
11.101/05, EM FACE DO ART. 114 DA CF. RECURSO 
EXTRAORDINÁRIO CONHECIDO E IMPROVIDO. I – A questão 
central debatida no presente recurso consiste em saber qual o juízo 
competente para processar e julgar a execução dos créditos trabalhistas no 
caso de empresa em fase de recuperação judicial. II – Na vigência do 
Decreto-lei 7.661/1945 consolidou-se o entendimento de que a 
competência para executar os créditos ora discutidos é da Justiça Estadual 
Comum, sendo essa também a regra adotada pela Lei 11.101/05. III – O 
inc. IX do art. 114 da Constituição Federal apenas outorgou ao legislador 
ordinário a faculdade de submeter à competência da Justiça Laboral 
outras controvérsias, além daquelas taxativamente estabelecidas nos 
incisos anteriores, desde que decorrentes da relação de trabalho. IV – O 
texto constitucional não o obrigou a fazê-lo, deixando ao seu alvedrio a 
avaliação das hipóteses em que se afigure conveniente o julgamento pela 
Justiça do Trabalho, à luz das peculiaridades das situações que pretende 
regrar. V – A opção do legislador infraconstitucional foi manter o regime 
anterior de execução dos créditos trabalhistas pelo juízo universal da 
falência, sem prejuízo da competência da Justiça Laboral quanto ao 
 
44 Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e 
empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos 
Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de 
trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas. 
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julgamento do processo de conhecimento. VI – Recurso extraordinário 
conhecido e improvido (RE 583955, Relator: ministro Ricardo 
Lewandowski, Tribunal Pleno, Julgamento: 28/05/2009, Repercussão 
Geral – Mérito DJe-162 Divulg 27-08-2009 Public 28-08-2009 Ement 
Vol-02371-09 PP-01716 RTJ Vol-00212-01 pp-00570). 
 
Causas fazendárias 
Adotamos o mesmo fundamento para afirmar que qualquer ação que envolva a União, os 
estados, os municípios e as suas respectivas autarquias e fundações, mesmo que presente interesse 
da massa falida, deve ser apreciada pelo juízo fazendário, consoante ressalva do art. 76 da LFRE e 
da própria Constituição da República.45 Entretanto, a mera intervenção como amicus curiae não 
desloca a competência. O STJ vem reafirmando essa orientação: 
 
PROCESSUAL CIVIL. COMPETÊNCIA. JUÍZO UNIVERSAL DA 
FALÊNCIA. AÇÃO ORDINÁRIA. PARTICIPAÇÃO DA FAZENDA 
PÚBLICA NA RELAÇÃO PROCESSUAL.AJUIZAMENTO APÓS A 
QUEBRA. OBRIGAÇÃO ILÍQUIDA. TEMA 976/STJ. 
1. O juízo da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de São José dos 
Campos/SP, em Ação Ordinária em que se pleiteava a indenização por 
danos materiais e morais, proposta pela parte recorrente contra o Estado de 
São Paulo, o Município de São José dos Campos e a Massa Falida de Selecta 
Comércio e Indústria S/A, declarou-se absolutamente incompetente para 
processar e julgar a demanda ordinária e determinou a remessa dos autos à 
18ª Vara Cível da Comarca de São Paulo/SP, que decretou a quebra da 
empresa Selecta Comércio e Indústria S/A, o que foi mantido pelo Tribunal 
a quo no julgamento do Agravo de Instrumento. 2. A Ação de Indenização 
ajuizada na origem possui relação com Ação de Reintegração de Posse 
proposta pela massa falida em razão de atos praticados pelo Poder Público na 
desocupação da área de 57 alqueires (137,94 hectares), localizada na divisa 
dos municípios de São José dos Campos e Jacareí, região do Vale do Paraíba, 
na margem direita da antiga Rodovia São Paulo – Rio de Janeiro, Km 103, 
matrícula imobiliária 44.955 no Cartório do Registro de Imóveis da 
Comarca de São José dos Campos, denominada Fazenda Parreiras de São 
José. 3. A Primeira Seção do STJ, no julgamento dos REsps Repetitivos 
 
45 Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: 
I – as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, 
assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do 
Trabalho. 
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1.643.856/SP e 1.643.873/SP, Rel. ministro Og Fernandes (DJe de 
19/12/2017), em caso idêntico ao ora apreciado, fixou o Tema 976 de sua 
jurisprudência com a seguinte tese jurídica: "A competência para processar e 
julgar demandas cíveis com pedidos ilíquidos contra massa falida, quando 
em litisconsórcio passivo com pessoa jurídica de direito público, é do juízo 
cível no qual for proposta a ação de conhecimento, competente para julgar 
ações contra a Fazenda Pública, de acordo as respectivas normas de 
organização judiciária". 4. Recurso Especial provido para reconhecer a 
competência do juízo da Fazenda Pública da Comarca de São José dos 
Campos/SP (REsp 1799455/SP, Rel. ministro Herman Benjamin, 2ª 
Turma, Julgamento: 13/08/2019, DJe 11/10/2019 – EDcl nos EDcl no 
CC 136.241/SP, Rel. ministro Moura Ribeiro, 2ª Seção, Julgamento: 
27/05/2015, DJe 02/06/2015).46 
 
Execuções fiscais 
Houve profunda modificação sobre o tema, no caso, benéfica para o sistema. As 
execuções fiscais contra as massas falidas seguem a regra geral de suspensão, prevista no art. 6º, 
inciso I, da LFRE. 
Por outro lado, o juízo falimentar, de ofício, mandará instaurar um incidente de 
classificação de crédito público para cada Fazenda Pública credora, com base no art. 7º-A. 
É importante destacar que o § 4º desse artigo reserva ao juízo falimentar a competência, 
apenas, para decidir sobre os cálculos e a classificação do crédito fiscal, enquanto as discussões 
sobre a existência, exigibilidade e o valor do crédito fiscal permanecem dentro da esfera de 
competência do juízo fazendário. Confira-se: 
 
Art. 7-A. (...) 
§ 4º Com relação à aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as 
seguintes disposições: 
I - a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos para os fins do 
disposto nesta Lei, bem como sobre a arrecadação dos bens, a realização 
do ativo e o pagamento aos credores, competirá ao juízo falimentar; 
II - a decisão sobre a existência, a exigibilidade e o valor do crédito, 
observado o disposto no inciso II do caput do art. 9º desta Lei e as 
demais regras do processo de falência, bem como sobre o eventual 
prosseguimento da cobrança contra os corresponsáveis, competirá ao 
juízo da execução fiscal; 
 
46 Nesse sentido: STJ, CC 57.640/SP. Rel. ministro Fernando Gonçalves, 2ª Seção, Julgamento: 26/09/2007, DJ 11/10/2007, p. 283. 
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III - a ressalva prevista no art. 76 desta Lei, ainda que o crédito 
reconhecido não esteja em cobrança judicial mediante execução fiscal, 
aplicar-se-á, no que couber, ao disposto no inciso II deste parágrafo; 
IV - o administrador judicial e o juízo falimentar deverão respeitar a 
presunção de certeza e liquidez de que trata o art. 3º da Lei nº 6.830, de 
22 de setembro de 1980, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III 
deste parágrafo; 
V - as execuções fiscais permanecerão suspensas até o encerramento da 
falência, sem prejuízo da possibilidade de prosseguimento contra os 
corresponsáveis; 
VI - a restituição em dinheiro e a compensação serão preservadas, nos 
termos dos arts. 86 e 122 desta Lei; e 
VII - o disposto no art. 10 desta Lei será aplicado, no que couber, aos 
créditos retardatários. 
 
Os créditos fiscais deverão ser atualizados até a data da quebra pela taxa Selic, observando-se 
que as multas tributárias devem ser informadas separadamente, uma vez que não ostentam 
qualquer privilégio, muito ao contrário, conforme se verifica do disposto no art. 83, inciso VII, da 
LFRE. Também é importante esclarecer que os créditos tributários por fatos geradores posteriores 
à data da falência são considerados créditos extraconcursais, consoante art. 84, inciso V, da LFRE. 
 
Ações propostas pela massa falida 
Essa exceção não é nova, e quando a massa falida é autora de uma ação comum, como a 
despejo ou a de cobrança, a competência é determinada pelas regras gerais. No entanto, a 
competência será do juízo da falência para todas as ações previstas na própria LFRE, como a 
revocatória e a revisional do QGC. 
 
Universalidade da falência e ações em curso 
Como regra47, todas as execuções contra o devedor devem ser suspensas por força da 
sentença de falência, assim como ficam proibidos quaisquer atos de constrição de bens ou direitos 
do devedor falido, obrigando todos os credores a se habilitarem no concurso. 
 
47 Art. 6º A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial implica: 
I - suspensão do curso da prescrição das obrigações do devedor sujeitas ao regime desta Lei; 
II - suspensão das execuções ajuizadas contra o devedor, inclusive daquelas dos credores particulares do sócio solidário, 
relativas a créditos ou obrigações sujeitos à recuperação judicial ou à falência; 
III - proibição de qualquer forma de retenção, arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão e constrição judicial ou 
extrajudicial sobre os bens do devedor, oriunda de demandas judiciais ou extrajudiciais cujos créditos ou obrigações 
sujeitem-se à recuperação judicial ou à falência. 
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Note-se que a regra de suspensão não se aplica às demandas ilíquidas e às reclamações 
trabalhistas. Nesses casos, os processos prosseguem nos respectivos juízos de origem, substituindo-
se o polo passivo para que passe a constar a massa falida, representada pelo administrador judicial. 
As ações monitórias embargadas transformam-se em demandas ilíquidas para todos os fins. 
Durante a tramitação das ações ilíquidas, caberá ao autor pedir ao juízo de origem a reserva 
de valores estimados, no prazo decadencial máximo de três anos da falência. Acolhido o pedido de 
reservas, o juízo de origem oficiará ao juízo da falência com a determinação da reserva de crédito 
estimada e, uma vez transitada em julgado aquela ação e tornado líquido e certo o crédito, este 
deve ser incluído no QGC na classe própria, o que entendemos deva ser feito por meio de um 
novo e simples ofício do juízo deorigem ao juízo da falência, e não por habilitação de crédito 
retardatária. 
Pelo sistema anterior, o Ministério Público, obrigatoriamente, tinha de intervir em todas 
essas ações, sob pena de anulação do processo. Hoje, em razão do veto ao art. 4º da LFRE, caberá 
ao membro do Ministério Público com atribuição dizer se deseja intervir ou não, conforme 
vislumbre interesse público na demanda envolvendo a massa falida. A sua não intimação não é 
causa de nulidade do processo, salvo se ficar evidenciado prejuízo à massa falida. 
 
Investigação dos negócios celebrados pelo falido antes 
da falência 
Os negócios realizados pelo devedor antes da sua quebra devem sofrer profunda 
investigação, e é possível que alguns deles venham a ser declarados ineficazes em relação à massa 
falida, de forma incidente nos autos principais da falência ou por força da ação revocatória, 
expressão que vem do latim revocare, que significa “trazer de volta”. 
Na esteira das lições do professor Caio Mário,48 ineficácia “é a ausência de efeitos quando, 
embora observados os requisitos legais, intercorre obstáculo extrínseco, que impede se complete o 
ciclo de perfeição do ato”. A ineficácia pode ser “originária ou superveniente, conforme o fato 
impeditivo de produção de efeitos seja simultâneo à constituição do ato ou ocorra posteriormente, 
operando, contudo, retroativamente”. 
Assim ocorre no processo falimentar, ou seja, a quebra se traduz nesse obstáculo extrínseco 
superveniente à perfeição do ato, fazendo com que ele não tenha – ou perca – efeitos contra a 
massa falida, retroativamente. 
Seguindo a sistemática tradicional do Direito Falimentar pátrio, a atual Lei de Falências 
prevê duas regras para se chegar à ineficácia dos atos praticados pelo falido. Vamos a elas. 
 
 
48 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 20. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 632. v. 1. 
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Ineficácia objetiva 
Afirma-se, nas restritas hipóteses do art. 129 da LFRE, que a ineficácia é de natureza objetiva, 
na medida em que não é preciso fazer prova da má-fé do falido ou do terceiro que com quem ele 
contratou, nem mesmo do prejuízo daquele negócio para a massa falida, bastando o simples 
enquadramento no rol taxativo previsto nos incisos do citado dispositivo legal. A decisão judicial 
que reconhece a ineficácia objetiva tem natureza meramente declaratória e força retroativa. 
Atualmente, a ineficácia objetiva pode ser reconhecida pelo juiz, de ofício ou a 
requerimento de qualquer das partes durante o curso do processo, e não apenas nos autos de uma 
ação revocatória. Essa possibilidade está prevista no parágrafo único do art. 129 da LFRE,49 e está 
sendo prestigiada pela jurisprudência, sob o argumento de “contraditório diferido”. Vejamos: 
 
De início, a preliminar de nulidade da decisão atacada, sob o 
fundamento de que ela não podia declarar de ofício a ineficácia da venda 
do bem deve ser rejeitada. Ora, à luz do artigo 129, parágrafo único, da 
Lei nº 11.101/2005, é possível declarar a ineficácia de ofício e a qualquer 
tempo. É o que ensina o e. Desembargador Manoel de Queiroz Pereira 
Calças: "Alteração de maior envergadura no que concerne à ineficácia dos 
atos praticados pelo devedor antes da sentença de falência é a albergada 
pelo parágrafo único do art. 129 que modificou o regime anterior. Na 
vigência do Decreto-Lei nº 7.661/45, a ineficácia dos atos do falido, 
tanto a denominada ineficácia objetiva, como a ineficácia subjetiva, só 
podiam ser reconhecidas pela via da ação revocatória. A Lei de 
Recuperação e Falências prevê que a ineficácia poderá ser declarada de 
ofício pelo juiz, alegada em defesa ou pleiteada mediante ação própria ou 
incidentalmente no curso do processo" (Revista do Advogado, AASP, 
vol. 883, ano XXV, setembro de 2005, pág. 94). Portanto, é certo que o 
douto magistrado poderia ter declarado de ofício a ineficácia do negócio 
jurídico que acarretou a venda do bem, a qualquer tempo. Não fixou a lei 
prazo para esta medida, razão pela qual não há que se questionar se 
deveria ou poderia ter o juízo a quo a declarado. O contraditório foi 
amplamente exercido no presente recurso, ainda que após a decisão 
surpresa. Vale dizer: se antes a decisão foi proferida sem prévia 
manifestação, neste recurso os argumentos dos agravantes poderão ser 
postulados, de modo a não se justificar anulação por ausência de prejuízo 
 
49 Em alguns casos, quiçá na grande maioria, será muitíssimo difícil compatibilizar o reconhecimento da ineficácia de um 
negócio realizado pelo falido antes da falência, de ofício, pelo juiz durante o curso do processo, com os ditames do art. 5º, 
LIV, da CRFB/88 – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal –, pois ao terceiro que 
realizou o negócio com o falido deve ser reconhecido o direito ao contraditório e à ampla defesa. 
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(TJSP, Agravo de Instrumento nº 2100196-85.2016.8.26.0000, 1ª 
Câmara Reservada de Direito Empresarial, Relator desembargador 
Hamid Bdine, Julgamento: 09/11/2016). 
 
Embora aparentemente desnecessária em face da novidade supra, ainda hoje é possível a 
utilização da ação revocatória para se reconhecer a ineficácia objetiva, especialmente quando 
pelos elementos contidos nos autos não for possível reconhecer de plano a prática do ato 
previsto no rol mencionado. Tal ação era chamada por Pontes de Miranda como “ação 
declaratória de ineficácia relativa”. 
A ineficácia objetiva está intimamente ligada ao requisito temporal, embora não esteja 
sujeita a prazo prescricional ou decadencial. Os três primeiros incisos do art. 129 têm como 
parâmetro o chamado termo legal, que pode retrotrair em até 90 dias antes do primeiro protesto 
por falta de pagamento contra o falido. Já as hipóteses previstas nos incisos IV e V utilizam como 
parâmetro temporal o denominado período suspeito, que nada mais é do que o prazo fixo de dois 
anos antes da decretação da falência. Por seu turno, a conduta tipificada no inciso VI tem a sua 
regulamentação prevista nos arts. 1.144 e 1.145 do CC, enquanto a hipótese do inciso VII tem 
como referência a própria sentença de falência. 
Analisemos, perfunctoriamente, as hipóteses de ineficácia objetiva: 
a) O objetivo da Lei é evitar uma preferência indevida daquele que possui um crédito 
ainda inexigível, em detrimento dos demais credores portadores de títulos vencidos 
que não foram pagos. 
b) Esse pagamento frustra o tratamento igualitário que deve ser dispensado aos credores. O 
caso mais comum é a dação em pagamento dentro do termo legal.50 
c) Trata-se de uma tentativa fraudulenta de elevar um credor comum a privilegiado, 
muitas vezes por meio da alienação fiduciária. Há de se ter a prudência de se verificar 
se a garantia foi para justificar a entrada de “dinheiro novo” ou se o caso é realmente 
de fraude. 
d) Revela-se inadmissível aceitar tal conduta diante de um quadro de insolvência. 
Ressalvam-se, outrossim, as doações de ínfimos valores a determinadas entidades 
culturais e assistenciais, bem assim as gratificações dadas aos funcionários, desde que 
não caracterizada a fraude. Tal previsão ganha muita importância quando na falência é 
desconsiderada a personalidade jurídica, pois é comum sócios de sociedades insolventes 
doarem os seus bens aos filhos e a outros familiares. 
e) Só tem relevância na falência do empresário individual ou quando há sócios com 
responsabilidade ilimitada, inclusive por desconsideração da personalidade jurídica. 
 
50 STJ, REsp 604.315/SP.Rel. ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, Julgamento: 25/05/2010, DJe 08/06/2010. 
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f) As regras sobre a alienação do estabelecimento empresarial estão nos arts. 1.142-1.148 
do CC. Na aplicação desse inciso, devemos observar que a venda “desmantelada” do 
estabelecimento também pode ser declarada ineficaz. 
g) Somente as transcrições de direitos reais realizadas após a decretação da falência é que 
serão declaradas ineficazes em relação à massa falida, independentemente de prova de 
prejuízo ou má-fé. 
 
A simples venda de bem imóvel pelo devedor, mesmo realizada dentro do termo legal, não se 
encontra inserida em qualquer dos incisos do art. 129, da LFRE, razão pela qual a sua ineficácia 
depende da prova de má-fé das partes e de prejuízo para os credores, consoante art. 130 da LFRE.51 
 
Ineficácia subjetiva 
Embora o art. 130 utilize a expressão “são revogáveis”, a análise do negócio também se situa 
no plano da eficácia, ou seja, mesmo quando procedente o pedido o ato permanece íntegro e 
válido, mas os seus efeitos é que são atingidos, ou seja, o negócio não terá nenhuma eficácia 
contra a massa falida. 
A ineficácia relativa só pode ser reconhecida por meio da ação revocatória, na qual deve 
ficar comprovada a má-fé do falido e do terceiro contratante, além do prejuízo aos credores. Essa 
ação não está adstrita a nenhum rol, pois qualquer negócio realizado pelo devedor poderá ser 
atacado, desde que, é claro, sejam provados o conluio e o prejuízo da massa falida. 
Apesar de uma pequena resistência doutrinária, a ineficácia subjetiva não se prende a 
qualquer parâmetro temporal prescricional, embora ela tenha que ser proposta em no máximo 
três anos a partir da decretação da falência, sob pena de decadência. Assim, independentemente 
da data do ato, ele pode ser alcançado pela ação revocatória, embora seja intuitivo que, quanto 
mais antigo o ato, mais difícil será a prova da fraude e do prejuízo para os credores. 
A ação revocatória é de competência do juízo indivisível da falência e processada pelo rito 
ordinário. Tem legitimidade ativa para propô-la o administrador judicial, o Ministério Público e 
qualquer credor, consoante art. 132 da LFRE. 
O art. 133 da LFRE indica de forma clara quais são as pessoas que podem figurar no polo 
passivo dessa ação, sendo certo que o falido não precisa ser chamado à lide, embora possa intervir 
na condição de assistente.52 
 
 
51 REsp 1197723/SP. Rel. ministro João Otávio de Noronha, 4ª Turma, Julgamento: 19/10/2010, DJe 27/10/2010. 
52 STJ, REsp. 1.127.334/RS. Rel. ministro Raul Araújo, Decisão Monocrática em 31/05/2017. DJe, 08/06/2017. 
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A sentença que julga a ação revocatória desafia recurso de apelação, recebido no duplo 
efeito. Alguns pontos merecem especial atenção: 
a) Reconhecida a ineficácia do negócio, as partes devem retornar ao estado anterior. 
Assim, o contratante de boa-fé terá direito de restituição dos bens ou dinheiro entregue 
ao falido por ocasião do negócio, na forma dos art. 86, III, da LFRE. 
b) Ao contratante é ressalvado o direito de propor ação de perdas e danos contra o falido 
ou contra os seus garantidores. 
c) O juiz poderá, durante o curso da ação revocatória, a requerimento do autor, ordenar o 
sequestro do bem retirado do patrimônio do devedor e entregue ao terceiro, 
preenchidos os requisitos previstos nos arts. 300 e seguintes do CPC. É evidente que, na 
hipótese de ineficácia objetiva, o juiz poderá, de ofício, decretar essa medida. 
d) O art. 138 da LFRE prevê que até mesmo o ato praticado em cumprimento de decisão 
judicial pode ser declarado ineficaz, o que pode causar uma perplexidade inicial em face 
da força da coisa julgada. No entanto, tal previsão em nenhum momento fere a coisa 
julgada, uma vez que tanto a causa de pedir próxima como remota serão 
completamente distintas da ação cuja decisão judicial se baseou o ato, sem olvidar os 
próprios limites subjetivos da coisa julgada. 
e) Na ação revocatória não tem cabimento a compensação nem a reconvenção. A ineficácia 
pode ser oposta em defesa, perdendo a massa falida, entretanto, o direito de promover a 
ação revocatória, pois se esgotaria a prestação da tutela jurisdicional na defesa. 
 
Verificação dos créditos 
Como decorrência do princípio pars conditio creditorum, os processos de falência e de 
recuperação judicial têm em comum a necessidade de se conhecerem os credores do devedor, a 
fim de classificá-los de acordo com as determinações legais. 
Portanto, possuindo um crédito líquido e certo, ainda que não materializado em título com 
força executiva, deve habilitá-lo no concurso de credores, a fim de não comprometer a 
universalidade de credores e a ordem de preferência prevista em lei, no caso da falência, ou no 
plano de recuperação judicial. Repise-se que o reconhecimento do crédito independe da existência 
de título executivo, consoante art. 9º, parágrafo único, da LFRE. 
O procedimento de conhecimento e classificação dos credores foi profundamente alterado 
pela atual LFRE. Para melhor estudo, vamos dividi-lo em três fases, sempre tendo por bases as 
publicações dos editais previstos em lei. 
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Advirta-se que, em relação aos contratos com cláusula de arbitragem, há de se respeitar a 
convenção das partes, portanto, o credor pode optar pelo procedimento arbitral para a solução de 
eventual litígio sobre o valor que lhe é devido.53 
 
Fase administrativa 
Decretada a falência, oportunidade em que é nomeado o administrador judicial, o devedor 
será intimado para que, em cinco dias (art. 99, III, da LFRE), apresente a relação completa de 
credores, em arquivo eletrônico, se esta já não estiver nos autos (art. 105, II, da LFRE), indicando 
valor, classe, referência contábil, origem da dívida e endereços de todos os credores. 
Caberá ao administrador judicial imediatamente publicar essa relação de credores elaborada 
pelo devedor no sítio eletrônico destinado aos processos de falência e de recuperação de 
empresas54, a fim de que os credores apresentem em 15 dias eventuais habilitações de créditos, que 
não constarem do rol apresentado pelo devedor, assim como qualquer divergência acerca do valor 
ou da natureza dos créditos relacionados. Nada impede que o administrador judicial receba uma 
habilitação ou divergência após esses 15 dias, mas antes de entregar nos autos a relação de que 
trata o § 2º do art. 7º da LFRE. 
Há de se destacar que, nos processos de falência iniciados a requerimento de credores, 
raramente o devedor apresenta nos autos a relação de credores, razão pela qual o primeiro edital é 
publicado apenas para convocar os credores para apresentarem as habilitações dos seus créditos, e 
não para divergências. Frise-se ainda que, na raríssima hipótese de o devedor apresentar a lista de 
credores, o administrador judicial tem a obrigação de notificá-los por carta registrada para 
possibilitar eventual divergência, observando-se que o início do prazo quinzenal é sempre da 
publicação do edital eletrônico. 
Destaque-se que tais habilitações e divergências devem ser apresentadas diretamente ao 
administrador judicial, pois esse procedimento inicial possui nítido caráter administrativo, não 
fica mais sob a responsabilidade do juiz, portanto os credores não precisam de advogados nesse 
momento, como também não há qualquer custo. Buscou-se a desburocratização e a desoneração 
do processo de habilitação de créditos.Saliente-se que esta opção não é inédita no nosso 
ordenamento, pois nos processos de liquidação extrajudicial o liquidante nomeado exerce igual 
função à que agora é atribuída ao administrador da falência (arts. 22-24 da Lei nº 6.024/76). 
O administrador terá o prazo total de 60 dias contados da publicação desse primeiro edital 
para concluir a tarefa de verificação dos créditos, tendo como fonte de informações toda a 
contabilidade e os livros fiscais e empresariais do devedor. Para hercúleo trabalho, o administrador 
 
53 SALOMÃO, Luis Felipe; SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação judicial, extrajudicial e falência: teoria e prática. 2. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 2015. p. 273. 
54 Recomenda-se a publicação, também, no próprio sítio eletrônico do administrador e do devedor. 
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poderá contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas, mormente da área 
contábil, e manterá estreito contato com o devedor. Ao final desse prazo, será publicado um 
segundo edital, contendo o rol de credores segundo as conclusões do administrador judicial, que 
substituirá aquele inicialmente apresentado pelo devedor (art. 7º, §§ 1º e 2º, da LFRE). 
Há de se consignar que a cognição administrativa exercida pelo administrador judicial será 
restrita aos requisitos formais de certeza e liquidez, não podendo avançar sobre eventuais vícios 
intrínsecos dos documentos que lhe forem apresentados. A cognição administrativa, assim, não 
tem a mesma profundidade da cognição judicial. 
Sem medo de errar, nos processos de falência dificilmente o administrador judicial conclui 
esse trabalho em 60 dias, uma vez que nesse período inicial, que é logo após a decretação da falência, 
a sua atenção, como também a de todos os demais agentes do processo, está voltada 
primordialmente para a arrecadação de ativos. Como praticamente não há prejuízo para o 
andamento processual, visto que a relação definitiva de credores só será realmente necessária no fim 
da falência, quando do início dos rateios, não se assustem, o atraso pode chegar a um ano ou mais. 
 
Fase judicial 
Chega-se, então, ao segundo edital, a partir do qual o procedimento começa a sua fase 
judicial. No prazo de 10 dias contados da sua publicação, os credores, o Ministério Público, o 
comitê, o falido e os seus sócios podem impugnar, judicialmente, a relação elaborada pelo 
administrador, seja por desconformidade, seja por omissão da lista (art. 7º da LFRE). Note-se que 
tal edital deve indicar o local em que se encontram os documentos que fundamentaram as 
conclusões do administrador. 
Em relação ao Ministério Público, Paulo Toledo entende que “a postura deverá mudar, 
ganhando um dinamismo muito próprio de outras funções da instituição”,55 ou seja, conclui que 
o prazo é comum até para o Ministério Público, que estará em igualdade de condições com os 
demais legitimados para fins de impugnação da relação elaborada pelo administrador judicial. 
Embora na prática o Ministério Público não apresente impugnação de crédito, defendemos que o 
seu prazo só começa a contar a partir da vista dos autos. 
Desde logo, convém ressaltar que a ausência de apresentação de divergência na fase 
administrativa não impede que o crédito seja objeto de impugnação na fase judicial.56 Também 
 
55 TOLEDO, Paulo Fernando Campos Salles. Comentário ao artigo 8º da Lei 11.101/05. In: TOLEDO, Paulo Fernando 
Campos Salles de; ABRÃO, Carlos Henrique (Coords.). Comentários à Lei de Recuperação de Empresa e de Falência. São 
Paulo: Saraiva, 2005, p. 25. 
56 Nesse sentido: CAVALLI, Cássio; AYOUB, Luiz Roberto. A construção jurisprudencial da recuperação judicial de 
empresas. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 177. 
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merece destaque o fato de que o impugnante pode levantar qualquer questão de fato ou de direito 
na sua impugnação, inclusive exceptio non adimpleti contractus.57 
Cada impugnação será autuada em apartado, e os titulares dos créditos impugnados serão 
intimados para contestarem no prazo de cinco dias (art. 11 da LFRE). Após, também serão 
intimados para se manifestarem, no mesmo prazo, sucessivamente, o devedor, o comitê de 
credores e o administrador judicial, que deverá juntar, se for o caso, laudo pericial e todos os 
documentos que entender pertinentes (art. 12 da LFRE). Note-se que a lei não prevê a oitiva do 
Ministério Público, embora ela seja intuitiva e de toda conveniente em razão da sua função de 
custos legis. 
Outra questão relevante se traduz na aparente violação do princípio do contraditório, pois a lei 
prevê que o administrador poderá juntar documentos e, até mesmo, um laudo pericial sobre o objeto 
da impugnação, mas não exige que nesses casos as partes tomem sequer ciência do que foi juntado a 
posteriori pelo administrador. Destarte, toda vez que alguma das partes juntar aos autos qualquer 
documento, as demais devem ser intimadas para tomarem conhecimento e, se assim entenderem, 
fazerem alguma ponderação ou contraprova. 
Finalmente, os autos serão conclusos ao juiz. Nesse momento, segundo a lei (art. 15 da 
LFRE), o juiz deverá adotar as seguintes providências: 
a) Determinar a inclusão no quadro geral dos créditos não impugnados – Ora, a tarefa não é 
assim tão fácil. O juiz poderá retificar ou até mesmo excluir um crédito não impugnado, 
de ofício, em razão da natureza mista das funções que exerce no processo falimentar. 
b) Julgar as impugnações de plano, quando não necessitar de dilação probatória – 
Entendendo que as informações nos autos são suficientes, em outras palavras, que a 
causa está “madura”, o juiz poderá julgar antecipadamente o mérito. 
c) Resolver as questões processuais pendentes, fixar os pontos controvertidos e determinar as 
provas a serem produzidas, inclusive designando audiência de instrução e julgamento, se 
necessária – Enquanto não decidida definitivamente a impugnação, o juiz determinará a 
reserva do valor necessário ao pagamento do crédito e não impedirá o pagamento da 
parte incontroversa (art. 16, § 1º, da LFRE). 
 
A decisão judicial sobre a impugnação desafia o recurso de agravo de instrumento (art. 17 
da LFRE). O mesmo se diga em relação à decisão do juiz que determinar, de ofício, a exclusão ou 
retificação de créditos. Pode-se até questionar a solução dada pelo legislador, na medida em que a 
impugnação tem natureza de ação autônoma, portanto, sendo decidida por sentença, desafiaria o 
recurso de apelação. No entanto, parece-nos válida a opção pelo agravo de instrumento, já que a 
sua tramitação célere é mais adequada ao rito falimentar. 
 
57 COLOMBO, Giuliano; COSTA, Patrícia Barbi. Direito falimentar e a Nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. 
Coordenação: Luiz Fernando Valente de Paiva. São Paulo: Quartier, 2005. p. 150. 
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Habilitações e impugnações retardatárias 
Como já aludido, os créditos não constantes da relação elaborada pelo devedor devem ser 
habilitados no prazo de 15 dias a contar da publicação do primeiro edital, direta e 
extrajudicialmente, perante o administrador judicial. 
Ultrapassado esse prazo, a habilitação deverá ser tratada como retardatária (art. 10 da LFRE) e 
tramitará pelo rito das impugnações de crédito, caso apresentadas até a homologação do QGC. 
Após a homologação do QGC, as habilitações retardatárias serão processadas pelo rito ordinário. 
A habilitação retardatária de um créditotem consequências: os seus titulares arcarão com as 
custas judiciais e não terão direito de voto nas assembleias enquanto não homologado o QGC 
contendo o referido crédito, salvo os trabalhistas, ou se já julgada a habilitação retardatária até a 
véspera da realização da assembleia (art. 39 da LFRE). 
Os credores retardatários também não terão direito aos rateios já distribuídos, nem aos 
acessórios compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação, embora 
possam requerer a reserva correspondente ao valor dos seus créditos. 
O grande destaque da reforma de 2020 em relação às habilitações de crédito nas falências é 
a criação do prazo decadencial no § 10 do art. 10, da LFRE. Segundo essa nova regra, os credores 
devem apresentar o pedido de habilitação ou o pedido de reserva de crédito em no máximo três 
anos, sob pena de decadência. 
Hão de ser feitas pequenas considerações sobre essa nova regra. Devemos lembrar que o 
pedido de reserva de crédito não é direcionado ao juízo falimentar, mas, sim, ao juízo onde se 
processa a ação ilíquida, que pode ser um juízo trabalhista, de juizado cível ou de vara cível 
comum, consoante art. 6º, § 3º, da LFRE. 
Ocorre que, segundo a jurisprudência amplamente dominante, esse juízo de origem pode 
deferir ou não o pedido de reserva de crédito, com base na cognição sumária que exerce na análise 
das provas dos autos no momento desse pedido. Confira-se: 
 
RECURSO ESPECIAL. EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
COBRANÇA DE CRÉDITO. RESERVA DE IMPORTÂNCIA. 
FACULDADE DO JUIZ DA CAUSA. INEXISTÊNCIA DO 
DIREITO. ILIQUIDEZ DO TÍTULO. PRETENSÃO DENEGADA. 
POSSIBILIDADE. ART. 6º, § 3º, DA LEI N. 11.101/2005. 
1. A lei faculta ao titular de crédito existente contra empresa em 
recuperação judicial postular ao juiz da causa que requeira ao juízo da 
recuperação a reserva da importância a que tenha direito. 
2. O pedido de reserva de importância ao juízo da recuperação judicial é 
faculdade conferida ao livre convencimento do julgador, que, após 
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aferição do título reivindicado, pode constatar sua certeza e liquidez e 
estimar seu valor. 
3. Recurso especial desprovido. 
(REsp 1518597/SP, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 03/11/2015, DJe 09/11/2015).58 
 
Dentro dessas circunstâncias, ou a jurisprudência se altera e passa a reconhecer a 
obrigatoriedade do deferimento do pedido de reserva de crédito em falências, ou devemos 
entender que, para evitar a decadência, basta que o pedido de reserva de crédito seja feito em até 
três anos a contar da decretação da falência, ainda que indeferido pelo juízo da causa. 
Havia grande controvérsia sobre a possibilidade de apresentação de impugnação 
retardatária, ou seja, após o prazo de 10 dias previsto no art. 8º da LFRE. Os Tribunais de 
Justiça pelo País se dividiam,59 e essa divergência estava latente na jurisprudência recente do 
próprio STJ, a conferir: 
 
RECURSO ESPECIAL. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 
IMPUGNAÇÃO DE CRÉDITO. INTEMPESTIVIDADE. 
DECURSO DO PRAZO DO ART. 8º, CAPUT, DA LEI 11.101/05. 
[...]. 2. O propósito recursal é definir se, no curso do processo de 
recuperação judicial, a impugnação de crédito apresentada fora do prazo 
de 10 dias previsto no caput do art. 8º da Lei 11.101/05 pode ter seu 
mérito apreciado pelo juízo. 3. A norma do artigo retro citado contém 
regra de aplicação cogente, que revela, sem margem para dúvida acerca de 
seu alcance, a opção legislativa a incidir na hipótese concreta. Trata-se de 
prazo peremptório específico, estipulado expressamente pela lei de 
regência. [...]. Recurso especial não provido (REsp. 1.704.201/RS. 3ª 
Turma. Rel. ministro Paulo de Tarso Sanseverino. Relator para acórdão, 
ministra Nancy Andrighi. Maioria. Julgamento: 07/05/2019). 
 
Acórdão prolatado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do 
Sul, assim ementado: Sustenta, em síntese, a tempestividade da 
 
58 Nesse sentido: AgInt no AREsp 1224002/RS, Rel. ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 29/10/2018, DJe 
31/10/2018; e AgInt no AREsp 1224002/RS, Rel. ministro Moura Ribeiro, Terceira Turma, julgado em 29/10/2018, DJe 
31/10/2018. 
59 Pela impossibilidade em razão da preclusão – TJRS, AI 70073456436, 5ª Câmara Cível. Rel. desembargador Jorge Luiz 
Lopes do Canto, Julgamento: 30/08/2017; pela possibilidade em face da analogia à habilitação retardatária – TJSP, AI 
2093743-74.2016.8.26.0000 – Relator: Carlos Alberto Garbi; Comarca: São Paulo; Órgão julgador: 2ª Câmara Reservada de 
Direito Empresarial; Julgamento: 31/10/2016; e TJRJ, AI 0052589-08.2016.8.19.0000. Desembargador Gilberto Campista 
Guarino – Julgamento: 15/03/2017 – 14ª Câmara Cível. 
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impugnação à relação de credores, a qual deve ser recebida e processada 
como retardatária, nos termos dos arts. 8º e 10º, § 5º, da Lei 11.101/05, 
pois para ser considerada intempestiva não basta estar fora do prazo de 10 
(dez) dias estabelecido no artigo 8º da Lei n. 11.101/2005, deve ser 
posterior à homologação do quadro geral de credores. É o relatório. 
Decido. O inconformismo merece prosperar. 1. A discussão, na origem, 
versa sobre pedido de impugnação aos créditos apresentados pela parte 
ora recorrida, para fins de correção, porquanto os valores arrolados no 
Edital não corresponderiam ao efetivamente devido. Na instância 
ordinária o pleito não restou conhecido, porque interposto fora do prazo 
previsto no art. 8º, da Lei 11.101/05. [...]. Todavia, segundo 
entendimento jurisprudencial adotado por este Superior Tribunal de 
Justiça, é possível a retificação dos créditos apresentados, mesmo após a 
respectiva homologação do plano de recuperação judicial. Neste sentido: 
(REsp 1371427/RJ, Rel. ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, 3ª Turma, 
Julgamento: 06/08/2015, DJe 24/08/2015). 2. Ante o exposto, com 
amparo na Súmula 568 do STJ, dou provimento ao reclamo para, 
afastando a intempestividade reconhecida pela Corte de origem, 
determinar a análise da impugnação dos créditos apresentada pela parte 
ora recorrente (STJ, Agravo em Recurso Especial nº 1.476.354-RS 
(2019/0071222-1). Relator: ministro Marco Buzzi. 4ª Turma. 
Julgamento: 21/05/2019). 
 
Sempre defendemos a admissibilidade da impugnação retardatária, pois, se é possível a 
habilitação “integral” de um crédito até então desconhecido, a qualquer tempo, por lógica deve ser 
possível a sua retificação parcial. Ademais, também por lógica, se a lei expressamente admite a 
propositura de uma ação revisional do QGC, pelo rito ordinário, a fim de excluir, incluir, majorar ou 
reduzir o valor de um crédito ou alterar a sua classificação, não há razão para impedir a sua 
homologação e publicação com possível equívoco. Os princípios da vedação ao enriquecimento ilícito, 
da celeridade e da eficiência processual impunham o conhecimento das impugnações retardatárias. 
De toda forma, agora não há mais espaço para divergência, pois na reforma de 2020 o 
legislador60 expressamente admitiu o processamento das impugnações retardatárias, conforme pode ser 
verificado nas redações dos §§ 7º, 8º e 9º, do art. 10, da LFRE. 
 
 
60 Fomos nós que sugerimos à equipe técnica que assessorou o Exmo. deputado Hugo Leal a expressa referência às 
“impugnações retardatárias”, para pôr fim a essa divergência. 
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Entretanto, o não atendimento ao prazo de 10 dias previsto no art. 8º da LFRE tem 
consequências. A homologação e a publicação do QGC não dependem do julgamento das 
impugnações e das habilitações apresentadas fora do prazo legal e enquanto não for julgada a 
impugnação retardatária o credor votará nas AGCs com ovalor e na classe indicados na relação 
do administrador judicial. 
 
Suspensão dos juros e dos prazos prescricionais 
No que concerne à incidência de juros após a decretação da falência, nada mudou em 
relação ao sistema anterior, consoante art. 124 da LFRE. Assim, quando das habilitações dos 
créditos, o valor principal só pode ser acrescido de juros e correção monetária até a data da 
decretação da falência, pois os juros do período falimentar são os últimos créditos a serem pagos 
na falência, conforme expressamente indicado no inciso IX do art. 83 da LFRE. 
Importa destacar que os créditos tributários não podem ser atualizados pela Selic durante a 
falência quando não há ativo suficiente para o pagamento de todos os credores, uma vez que esse 
indexador também em finalidade remuneratória e moratória, devendo, portanto, a Selic ser 
substituída por outro índice meramente inflacionário adotado pelo tribunal local. Nesse sentido: 
 
TAXA SELIC E CORREÇÃO MONETÁRIA. EMBARGOS E 
EXECUÇÃO. VERBAS HONORÁRIAS AUTÔNOMAS. (...). 
3. Na linha da orientação jurisprudencial desta Corte as empresas cuja 
falência foi decretada, cumpre a distinção entre as seguintes 
circunstâncias: (a) antes da decretação da falência, são devidos os juros de 
mora, independentemente da existência de ativo suficiente para 
pagamento do principal, desse modo, aplicável a taxa SELIC, que 
engloba índice de correção monetária e juros e; (b) após a decretação da 
falência, a incidência da taxa SELIC fica condicionada à suficiência do 
ativo para pagamento do principal. (...). 
(AgInt no AREsp 1035832/RJ, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL 
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 15/08/2017, DJe 
21/08/2017) 
 
Após o pagamento de todas as classes de credores, havendo sobra de caixa na falência, a 
massa falida iniciará o pagamento dos juros falimentares, ou seja, aqueles referentes ao período 
desde a decretação da falência até a data do pagamento do primeiro rateio, obedecendo, mais uma 
vez, ao nosso sentir, à ordem de preferência estabelecida em lei. Na hipótese dos créditos fiscais, a 
parcela dos juros falimentares será a diferença entre a taxa utilizada para a correção monetária e a 
taxa Selic do período. 
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Também a partir da decretação da falência são suspensos os prazos prescricionais das ações 
em face do falido, mas não os decadenciais, conforme art. 6º, I, da LFRE. 
 
Compensação de créditos 
Segundo o art. 122 da LFRE, outrora art. 46 do Decreto-Lei nº 7.661/45, provenha ou não 
o vencimento de uma dívida do falido da sentença de quebra, opera-se a compensação nos moldes 
da legislação civil, com preferência sobre quaisquer outros. Em suma, caso um credor do falido 
também seja o seu devedor, sobrevindo a falência, ocorre o vencimento antecipado do crédito e 
opera-se a compensação. 
Um caso envolvendo o instituto da compensação tem-se mostrado recorrente nos processos 
de falência e até de recuperação judicial. A Justiça do Trabalho tem condenado as sociedades 
tomadoras de serviço, em caráter subsidiário, ao pagamento de verbas trabalhistas inadimplidas 
pelas prestadoras de serviço. Em consequência, a sociedade tomadora do serviço, por força 
contratual, retém valores devidos à sociedade prestadora que, em algum momento, sofre falência 
ou pede recuperação judicial. 
Em casos assim, admite-se a compensação ou deve a sociedade tomadora habilitar 
integralmente o crédito – valor pago aos trabalhadores da prestadora de serviço –, aguardando o 
seu lugar na fila, e pagar o que deve – valores retidos – a sociedade falida? 
Filiamo-nos à posição que admite a compensação, prestigiada no seguinte julgado do 
Tribunal Paulista, que reformou a decisão do MM. Juízo da 1ª Vara de Falências e Recuperações 
Judiciais de São Paulo: 
 
FALÊNCIA. Habilitação de crédito. Dívidas líquidas e vencidas antes da 
convolação da recuperação judicial em falência. Compensação. 
Possibilidade. Violação do princípio do par conditio creditorum. 
Inocorrência. Inteligência do art. 122 da LREF. Previsão legal de 
compensação nos autos da falência, “com preferência sobre todos os 
demais credores”. Habilitação de crédito julgada procedente para 
determinar a inclusão, no quadro geral de credores, do crédito 
quirografário remanescente em favor da Agravante. Decisão reformada. 
Recurso provido (TJSP; Agravo de Instrumento 0140527-
51.2013.8.26.0000; Relator: Tasso Duarte de Melo; Órgão Julgador: 2ª 
Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro Central Cível – 1ª Vara 
de Falências e Recuperações Judiciais; Julgamento: 19/05/2014). 
 
A reforma promovida em 2020 prestigiou o instituto da compensação de créditos, como 
podemos verificar no § 2º do art. 84 da LFRE. 
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Há, no entanto, um obstáculo à compensação. Não poderão ser compensados os créditos 
transferidos após a decretação da falência ou durante o estado de insolvência, cujo início, por 
analogia, deve ser considerado o termo legal. 
Por fim, a despeito das opiniões em contrário, o momento e o local adequados para se 
requerer a compensação é na verificação de créditos, ou seja, no bojo de uma habitação, 
divergência ou impugnação de crédito.61 
 
Quadro geral de credores: concursais e não concursais 
Com base nas decisões judiciais, o administrador judicial promoverá a consolidação do 
QGC, publicando-o em, no máximo, cinco dias a contar da última decisão judicial acerca das 
impugnações tempestivas, mesmo que delas ainda caiba recurso. 
As eventuais modificações desse quadro em decorrência do julgamento dos recursos 
interpostos ou das impugnações e habilitações retardatárias se darão concomitantemente à ciência 
das suas respectivas decisões. 
Há que se consignar, ainda, a possibilidade de retificação ou exclusão de crédito constante 
da relação do terceiro edital, diante da descoberta de fraude, dolo, simulação, erro essencial ou, o 
que é mais comum, desconhecimento de documento existente à época da habilitação. 
Essa providência depende do ajuizamento, quando ainda em curso o processo principal de 
falência, da chamada ação revisional, também conhecida como ação rescisória falimentar.62 Esta 
ação será processada e julgada pelo juízo da falência (art. 19 da LFRE) e pode ser apresentada pelo 
Ministério Público, por qualquer credor, pelo comitê ou pelo administrador judicial, seguindo o 
rito ordinário. Pendente o julgamento da presente ação, o titular do crédito só será pago se prestar 
caução (art. 19, § 2°, da LFRE). 
Inobstante abalizados posicionamentos em sentido contrário,63 defendemos a legitimidade 
ativa do próprio devedor ou de algum dos seus sócios. O fundamento utilizado para a exclusão da 
legitimidade ativa do devedor ou dos seus sócios é que a representação judicial da massa falida 
pertence ao administrador judicial. Entretanto, tal argumento não nos convence, pois na ação 
revisional o falido ou qualquer dos seus sócios estará em juízo defendendo, em última análise, 
interesse próprio, e não exclusivamente da massa falida. Não fosse assim, os credores e o próprio 
comitê também deveriam ser excluídos do polo ativo. 
Finalmente, os especialistas em Direito Falimentar devem atentar para o fato de que antes 
do pagamento dos credores concursais, listados no art. 83 da LFRE, ou seja, dos credores do 
 
61 TEPEDINO, Ricardo. Comentário ao artigo 122 da Lei 11.101/05. In: TOLEDO, Paulo Fernando Campos Salles de; ABRÃO, 
Carlos Henrique (Coords.). Comentários à Lei de Recuperação de Empresa e de Falência. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 333. 
62 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito falimentar. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1998, p. 321-322. v. 1. 
63 TOLEDO, Paulo Fernando Campos Salles. op. cit. p. 45. 
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falido, várias obrigações devem ser honradas no decorrer do processo falimentar, em obediência ao 
disposto no art. 149 da LFRE. Por conseguinte, para a correta compreensão das prioridades 
legais, é imprescindível que o quadro geral de pagamentos seja dividido, ao menos, em dois 
blocos, a saber: credores extraconcursais e credores concursais. 
 
Credores extraconcursais 
As primeiras obrigações a serem adimplidas no processo de falência, em estrita obediência ao 
comando previsto no art. 149 da LFRE, são as restituições in natura, amparadas no art. 85 da LFRE. 
Depois do atendimento dessas restituições, vêm os créditos extraconcursais do art. 84 da LFRE, 
cuja ordem foi sensivelmente modificada pela reforma promovida pela Lei nº 14.112/20. Vejamos: 
 
Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com 
precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a 
seguir, aqueles relativos: 
I - (revogado); 
I-A - às quantias referidas nos arts. 150 e 151 desta Lei; 
I-B - ao valor efetivamente entregue ao devedor em recuperação judicial 
pelo financiador, em conformidade com o disposto na Seção IV-A do 
Capítulo III desta Lei; 
I-C - aos créditos em dinheiro objeto de restituição, conforme previsto 
no art. 86 desta Lei; 
I-D - às remunerações devidas ao administrador judicial e aos seus 
auxiliares, aos reembolsos devidos a membros do Comitê de Credores, e 
aos créditos derivados da legislação trabalhista ou decorrentes de 
acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da 
falência; 
I-E - às obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante 
a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a 
decretação da falência; 
II - às quantias fornecidas à massa falida pelos credores; 
III - às despesas com arrecadação, administração, realização do ativo, 
distribuição do seu produto e custas do processo de falência; 
IV - às custas judiciais relativas às ações e às execuções em que a massa 
falida tenha sido vencida; 
V - aos tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da 
falência, respeitada a ordem estabelecida no art. 83 desta Lei. 
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§ 1º As despesas referidas no inciso I-A do caput deste artigo serão pagas 
pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa. 
§ 2º O disposto neste artigo não afasta a hipótese prevista no art. 122 
desta Lei. (NR) 
 
Salvo duas exceções, todas as obrigações extraconcursais decorrem de atos jurídicos 
praticados após a decretação da falência ou durante o processo de recuperação judicial. A primeira 
exceção é a obrigação mencionada no inciso I-A, relativa ao pagamento da verba prevista no art. 
151, da LFRE, enquanto a segunda se encontra no inciso I-C, referente às restituições em 
dinheiro do art. 86, da LFRE. 
 
Credores concursais 
Sobrando recursos em caixa após o atendimento das restituições do art. 85 e das despesas 
extraconcursais do art. 84, a massa falida finalmente poderá dar início ao pagamento dos credores 
concursais, obedecendo à ordem prevista no art. 83 da LFRE, pontualmente alterado pela Lei 
nº 14.112/20, a conferir: 
 
Art. 83. ......................................................................................... 
I - os créditos derivados da legislação trabalhista, limitados a 150 (cento e 
cinquenta) salários-mínimos por credor, e aqueles decorrentes de 
acidentes de trabalho; 
II - os créditos gravados com direito real de garantia até o limite do valor 
do bem gravado; 
III - os créditos tributários, independentemente da sua natureza e do 
tempo de constituição, exceto os créditos extraconcursais e as multas 
tributárias; 
IV - (revogado); 
V - (revogado); 
VI - os créditos quirografários, a saber: 
a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo; 
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens 
vinculados ao seu pagamento; e 
c) os saldos dos créditos derivados da legislação trabalhista que excederem 
o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo; 
VII - as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis 
penais ou administrativas, incluídas as multas tributárias; 
VIII - os créditos subordinados, a saber: 
a) os previstos em lei ou em contrato; e 
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Nota
Os credores concursais trabalhistas são credores decorrentes da prestação de trabalho antes da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial. ... O trabalho desempenhado após o pedido de recuperação judicial ou após a decretação da falência do empregador, por outro lado, é considerado extraconcursal.
 
 
 
 
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b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício 
cuja contratação não tenha observado as condições estritamente 
comutativas e as práticas de mercado; e 
IX - os juros vencidos após a decretação da falência, conforme previsto no 
art. 124 desta Lei. 
§ 1º Para os fins do inciso II do caput deste artigo, será considerado 
como valor do bem objeto de garantia real a importância efetivamente 
arrecadada com sua venda, ou, no caso de alienação em bloco, o valor de 
avaliação do bem individualmente considerado. 
§ 2º Não são oponíveis à massa os valores decorrentes de direito de sócio 
ao recebimento de sua parcela do capital social na liquidação da sociedade. 
§ 3º As cláusulas penais dos contratos unilaterais não serão atendidas se 
as obrigações neles estipuladas se vencerem em virtude da falência. 
§ 4º (Revogado). 
§ 5º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos cedidos a qualquer 
título manterão sua natureza e classificação. 
§ 6º Para os fins do disposto nesta Lei, os créditos que disponham de 
privilégio especial ou geral em outras normas integrarão a classe dos 
créditos quirografários. (NR) 
 
As principais mudanças foram a aglutinação dos créditos com privilégios geral e especial na 
classe dos quirografários e a instituição da regra que mantém a classificação do crédito cedido, 
mesmo os de natureza trabalhista. 
 
Créditos por acidente do trabalho e trabalhistas, estes limitados a 150 
salários-mínimos 
Sempre discordamos da inclusão dos créditos “por acidente de trabalho” no topo da pirâmide, 
na medida em que não se trata propriamente de indenizações com base na legislação acidentária, na 
medida em que estas são de responsabilidade do INSS. O crédito mencionado no dispositivo em 
análise tem como fundamento a legislação comum que trata da responsabilidade civil (arts. 186 e 927 
do CC) e, assim, teria natureza quirografária. A nossa posição, contudo, é inegavelmente minoritária.64 
No que diz respeito aos créditos trabalhistas, tem-se que, se o empregado já recebeu os 
cinco salários-mínimos mencionados no art. 151 da LFRE, só lhe restarão 145 salários-mínimos 
como teto do crédito privilegiado, ou seja, havendo diferença, esta será considerada crédito 
 
64 TJSP; Agravo de Instrumento 2027032-53.2017.8.26.0000; Relator: Cesar Ciampolini; Órgão Julgador: 1ª Câmara 
Reservada de Direito Empresarial; Foro de Jaú – 3ª Vara Cível; Julgamento: 29/08/2017; Registro: 29/08/2017. 
gustavosp
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104 
 
quirografário. Para esse “limitador de privilégio”, porém, deve-se levar em conta o valor do 
salário-mínimo da data do pagamento, e não da habilitação do crédito.65 
Discordamos frontalmente da jurisprudência, amplamente majoritária66, que equipara 
outras verbas de natureza alimentar aos créditos trabalhistas, como os honorários advocatícios, 
seja por absoluta falta de amparo legal, seja porque, se assim o fizermos, também deveremos 
equiparar aos créditos trabalhistas os honorários dos contadores, dos economistas, dos médicos e 
de todas as sociedades profissionais, prejudicando justamente os trabalhadoreshipossuficientes 
regidos pela CLT. Todo crédito trabalhista tem natureza alimentar, mas nem todo crédito 
alimentar tem natureza trabalhista. 
 
Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado 
Aqui serão listados os credores que possuírem direito real de garantia, ou seja, quando ela 
recai sobre bem ou direito que ainda pertence ao devedor. Dessa forma, nesse momento 
teremos somente os credores garantidos por hipoteca, penhor e anticrese, cada vez mais raros no 
mercado. Como já alinhavado, os credores fiduciários serão atendidos como restituições do art. 
85 ou como despesas extraconcursais do art. 84, caso o administrador judicial resolva dar 
cumprimento ao contrato. 
Caso o valor do crédito exceda o valor obtido com a alienação do bem gravado, o saldo será 
incluído na classe quirografária. 
 
Créditos tributários, excetuadas as multas 
O tratamento dos créditos tributários sofreu profunda modificação por meio da Lei 
Complementar nº 118, de 9 de fevereiro de 2005, que alterou vários dispositivos do CTN, a fim de 
conferir ao credor com garantia real privilégio sobre o credor tributário, na hipótese de falência. 
Permanece, por outro lado, o critério de preferência previsto no parágrafo único do art. 187 
do CTN, ou seja, primeiro são satisfeitos os créditos tributários federais, depois os estaduais e só 
então os municipais. Não se atende às multas fiscais nesse momento. 
O valor que deve ser informado na falência só pode incluir juros e correção monetária até a 
data da decretação da falência, ou seja, considera-se válida a incidência da Selic até esse momento. 
Contudo, como os juros falimentares só podem ser pagos se o ativo comportar o pagamento do 
valor principal atualizado de todos os credores, em um primeiro rateio o valor a ser pago ao Fisco 
 
65 TJSP; Agravo de Instrumento 0173728-05.2011.8.26.0000; Relator: Araldo Telles; Órgão Julgador: N/A; Foro de Campo 
Limpo Paulista – 2ª Vara Judicial; Julgamento: 13/12/2011; Registro: 13/12/2011. 
66 STJ, REsp 1152218/RS, Rel. ministro Luis Felipe Salomão, Corte Especial, julgado em 07/05/2014, DJe 09/10/2014 
(Repetitivo – Tema 637). 
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é aquele apurado até a data da decretação da falência, acrescido de correção monetária pelo índice 
adotado pelo tribunal local, consoante remansosa jurisprudência do STJ67. 
 
Créditos quirografários 
Ordinariamente, quirografários são os créditos que não possuem qualquer tipo de privilégio 
ou garantia real. 
Contudo, após a reforma de 2020, ao menos nos processos falimentares, os créditos com 
privilégios geral e especial passam a ter o mesmo tratamento dos créditos quirografários. 
Também recebem o tratamento de quirografário os créditos trabalhistas que excedem o 
patamar de 150 salários-mínimos e os créditos com garantia real que excedem o valor obtido com 
a venda do bem gravado. 
 
Multas contratuais e penas pecuniárias por infrações das leis penais e 
administrativas 
De pronto, temos de ressaltar que não se atenderão às multas estipuladas nos contratos 
unilaterais se as obrigações vencerem em virtude da falência, conforme expressamente previsto no 
§ 3º do art. 83, da LFRE. 
As multas aplicadas por agências reguladoras, as decorrentes de violação de termos de 
ajustamento de conduta e as multas fiscais enquadram-se nessa categoria.68 
O STJ assentou a sua jurisprudência no sentido de que o encargo de 20% sobre o valor das 
execuções fiscais, previsto no art. 1º do Decreto-Lei nº 1.025/69, não tem natureza de multa e 
integra o valor crédito tributário69. 
As multas trabalhistas, por incidência da regra prevista no art. 449, § 1º, da CLT, devem 
ter o mesmo tratamento do crédito trabalhista e, portanto, são inseridas na classe do art. 83, 
inciso I, da LFRE70. 
 
Créditos subordinados 
A lei e os contratos podem estipular que o crédito tenha natureza subordinada. São 
subordinados, por exemplo, os créditos de certas debêntures, conforme art. 58, § 4º, da Lei nº 
6.404/76. 
 
67 STJ, Recurso Especial nº 1.572.858 – RS (2015/0310174-8). Relatora: ministra Regina Helena Costa. Decisão monocrática 
em 18/12/2015, publica em 03/02/2016. 
68 TJSP; Apelação 9172080-70.2007.8.26.0000; Relator: Claudio Godoy; Órgão Julgador: 1ª Câmara de Direito Privado; Foro 
de Santos – 9ª Vara Cível; Julgamento: 08/10/2013; Registro: 09/10/2013. 
69 STJ, REsp 1327067/DF, Rel. ministro Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, julgado em 28/08/2012, DJe 
03/09/2012. 
70 STJ, REsp 1808315, Rel. ministro Luis Felipe Salomão. Decisão monocrática publicada em 02/02/2021. 
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Também são subordinados os créditos dos sócios e dos gestores da empresa, ou seja, dos 
seus administradores sem vínculo de emprego. Logo, se os sócios tiverem direito a créditos 
decorrentes de dividendos retidos, de um contrato de empréstimo ou de locação, estes serão 
considerados subordinados. 
A mesma disciplina deve ser aplicada aos pró-labores não pagos aos gestores da empresa, 
quando a “contratação não tenha observado as condições estritamente comutativas e as práticas de 
mercado” (art. 83, VIII, letra “b”, da LFRE), em especial quando os valores arbitrados a esse 
título extrapolarem muito a média praticada naquele segmento e para empresas naquela situação 
de dificuldade. 
 
Credor alimentar 
Uma questão infelizmente tangenciada pela doutrina tem-se mostrado latente nos 
processos de falência: como deverão ser classificados os créditos decorrentes do 
pensionamento determinado em razão de uma ação indenizatória não trabalhista, ou seja, que 
não possa ser inserida como acidente de trabalho? 
Pensemos na hipótese de uma empresa de ônibus condenada a pagar uma vultosa 
indenização por danos morais e materiais a uma vítima de acidente, além de uma pensão 
equivalente a R$ 2.500,00 por mês até que a vítima, de 25 anos de idade, complete 75 anos. 
Além de não pagar a indenização por danos morais e materiais, a empresa condenada também não 
honrou com o pensionamento, muito menos chegou a constituir o capital garantidor. Por fim, o 
que acontece se essa sociedade vier a falir? 
Parece-nos que as indenizações pelos danos morais e materiais emergentes deverão ser 
consideradas como créditos quirografários. Porém, o que dizer em relação às pensões? 
Não temos a intenção de trazer uma solução definitiva, mas apenas despertar atenção para 
esse grande dilema que temos enfrentado no dia a dia dos processos de falência. São devidas as 
prestações vincendas? Deve-se antecipar todo o saldo para valor presente? Qual a classificação, 
trabalhista ou quirografário? 
Depois de muita reflexão, defendemos que o valor do pensionamento, vencido e vincendo, 
deve ser equiparado ao crédito por acidente de trabalho, por analogia, enquanto as demais verbas, 
como já alinhavado, devem ser classificadas como quirografárias. Nesse sentido: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. Habilitação de crédito. Empresa 
agravada em liquidação. Condenação da agravada ao pagamento de 
pensão mensal em virtude da redução da capacidade laborativa da 
agravante. Possibilidade de equiparação com crédito de natureza 
trabalhista. Irrelevância da distinção entre parcelas vencidas e vincendas. 
Não incidência do limite de 150 salários-mínimos (Lei 11.101/05, art. 
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83, I). Demais verbas que continuam habilitadas como créditos 
quirografários. Recurso provido (TJSP; Agravo de Instrumento 
2036132-32.2017.8.26.0000; Relator: Hamid Bdine; Órgão Julgador: 1ª 
Câmara Reservada de Direito Empresarial; Forode Bauru – 6ª Vara 
Cível; Julgamento: 30/08/2017; Registro: 30/08/2017). 
 
Realização do ativo 
O início da realização do ativo deve ocorrer imediatamente após a sua arrecadação, a fim de 
não desrespeitar o prazo máximo de liquidação dos ativos de 180 dias, instituído pela reforma de 
2020. Os arts. 139 a 148 da LFRE disciplinam a realização dos ativos nos processos falimentares. 
O art. 140 da LFRE prevê as formas de realização do ativo e estabelece uma ordem de 
preferência para a adoção do tipo escolhido. Assim, preferencialmente, a realização do ativo deve 
seguir a seguinte ordem: 
a) “alienação da empresa”, com a venda dos seus estabelecimentos em um único bloco; 
b) “alienação da empresa”, com a venda das suas filiais ou unidades produtivas 
isoladamente; 
c) alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do devedor, 
formando o que, na prática, chamamos de lotes, e 
d) alienação dos bens de forma individual. 
 
Precisa a crítica da professora Raquel Sztajn, em relação à expressão “alienação da empresa”, 
na medida em que o termo técnico-jurídico adequado para o caso seria “estabelecimento 
empresarial”, tal como conceituado pelo art. 1.142 do CC.71 
 
Proteção ao arrematante 
O ponto alto desse tema é a significativa mudança de tratamento às alienações judiciais nos 
processos de falência. Com o inegável objetivo de maximizar o ativo, o legislador buscou tornar os 
bens que integram o patrimônio falimentar mais atrativos e, com efeito, consignou, no inciso II 
do art. 141 da LFRE, que os bens serão alienados livres e desembaraçados de quaisquer ônus, e o 
arrematante não será sucessor do devedor, nem mesmo nas obrigações trabalhistas e tributárias. 
A regra comporta algumas exceções, a fim de não permitir que essa “blindagem” seja 
utilizada para fins ilícitos. Dessa forma, haverá sucessão quando ficar provado que o arrematante 
representa, de alguma forma, os interesses do próprio devedor. 
 
71 SZTAJN, Raquel; TOLEDO, Paulo Fernando Campos Salles de; ABRÃO, Carlos Henrique (Coords.). Comentários à Lei de 
Recuperação de Empresa e de Falência. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 376. 
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Assim, o inciso I do art. 141, § 1º, da LFRE prevê, na sua primeira parte, que haverá 
sucessão no passivo quando o adquirente for um dos sócios da sociedade falida. Não importa o 
tamanho da sua participação no capital social da sociedade falida, qualquer dos seus sócios que 
vier a adquirir a empresa responderá integralmente pelo passivo comum contabilizado, pelo 
tributário e pelo trabalhista. 
Já a segunda parte do inciso I dispõe que, se o arrematante for uma pessoa jurídica 
controlada pelo falido ou, realisticamente, pela sociedade falida, esta responderá integralmente 
pelo passivo. Registre-se que o conceito de controlador não se restringe à concepção de sócio 
com mais de 50% do capital votante.72 
Tomando como base o art. 116 da Lei de Sociedades por Ações, acionista controlador é 
aquele que, direta ou indiretamente, é titular de ações com direito de voto que lhe assegure, de 
modo permanente,73 preponderância nas deliberações sociais, e o poder de eleger a maioria dos 
administradores e de dirigir efetivamente os negócios de outra sociedade, denominada sociedade 
controlada. Desse modo, constatado que a arrematante é uma sociedade controlada pela sociedade 
falida, aquela responderá por todo o passivo da empresa adquirida. 
É imperioso registrar que existe ao menos uma hipótese não contemplada expressamente no 
dispositivo, mas que exige muito cuidado: deve ocorrer sucessão quando a arrematante for 
sociedade controlada por sócio da sociedade falida? 
A indagação se mostra pertinente, pois é bastante plausível que uma determinada pessoa 
seja sócia da sociedade falida e, ao mesmo tempo, de outra sociedade que atue no mesmo ramo. 
Nesses casos, haveria sucessão por incidência da exceção prevista no § 1º do art. 141 da LFRE? 
Efetivamente, o quadro apresentado não encontra previsão expressa no dispositivo em 
comento. Entretanto, defende-se neste trabalho que o simples fato de existir um sócio comum à 
sociedade falida e à sociedade arrematante não pode ser empecilho à aplicação da regra que veda a 
sucessão. Ocorre que, se verificado que o sócio em comum é o verdadeiro controlador de ambas as 
sociedades, atende melhor ao espírito da lei enquadrar essa hipótese dentro das exceções previstas 
no § 1º do art. 141 da LFRE. No que se refere ao disposto no inciso II do art. 141, § 1º, da 
LFRE, este reflete a preocupação do legislador de impedir que parentes sejam utilizados como 
instrumento para ludibriar proibições legais impostas a determinadas pessoas. A hipótese, 
entretanto, conserva o equívoco já constatado no inciso I. Se a arrematante for uma sociedade 
cujos sócios sejam parentes até o 4º grau de sócio da sociedade falida, há sucessão? 
Por fim, o inciso III do art. 141, § 1º, da LFRE, tem por objetivo agasalhar todas as 
hipóteses não contempladas nos incisos anteriores, mas que revelem, por outro lado, alguma 
forma de fraude na sucessão. O objetivo do legislador foi alcançar os denominados “laranjas” ou 
 
72 Vide Resolução nº 401, item IV, do Banco Central do Brasil. 
73 O mesmo Banco Central entende que a expressão “permanente” deve ser entendida como três assembleias gerais 
consecutivas. 
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“testas de ferro” do falido ou dos sócios da sociedade falida. Nesse sentido, os termos usados pelo 
legislador são absolutamente apropriados, deixando para o juiz, diante do caso concreto, a análise 
dos fatores que indiquem ou não a presença da fraude. Para a professora Raquel Sztajn: 
 
Na verdade, excluir essas pessoas do benefício resultante da ruptura do 
vínculo jurídico entre ativo e passivo inibe comportamentos 
dissimulados, oportunistas. Coibir a possibilidade de que alguém, ligado 
à crise da empresa, venha a gozar de algum privilégio patrimonial leva à 
internalização de parte dos prejuízos daí decorrentes.74 
 
Os sócios do devedor falido só estarão protegidos e não serão considerados sucessores se a 
alienação se der pela adjudicação especial de que trata o art. 145 da LFRE, em sua nova redação 
conferida pela Lei nº 14.112/20, uma vez que contará com o aval dos próprios credores reunidos 
em AGC, conforme art. 46 da LFRE. 
Há de se consignar que, segundo a jurisprudência pacífica do STJ, caberá ao juízo 
indivisível da falência definir os termos, os contornos e as consequências da alienação dos bens do 
devedor, reconhecendo ou não a sucessão, salvo se já encerrado o processo falimentar.75 
 
Modalidades de hasta pública 
Esse foi mais um ponto sensivelmente modificado pela reforma promovida pela Lei nº 
14.112/20. Pela nova redação do art. 142 e dos seus incisos, a única modalidade típica de hasta 
pública mantida é o leilão, que agora pode ser presencial, eletrônico ou híbrido. Foram revogadas 
as modalidades de carta proposta e de pregão. 
O próprio leilão sofreu algumas modificações. Pelas novas regras previstas no art. 142 da 
LFRE, deverão ser designadas três datas para a tentativa de alienação, denominadas de 
“chamadas”, com intervalo máximo de 15 dias entre elas. Na primeira, o bem só poderá ser 
alienado pelo valor mínimo da avaliação. Na segunda chamada, por, no mínimo, 50% da 
avaliação. Já na terceira, por qualquer valor. Isso mesmo, qualquer valor, não se aplicando a regra 
proibitiva da venda por valor vil. Infrutíferas as três chamadas, qualquer credor poderá apresentar 
proposta nosautos para adquirir tais bens e, se mesmo assim não aparecerem interessados, eles 
poderão ser doados ou, em último caso, devolvidos ao falido, conforme art. 144, da LFRE. 
 
 
74 SZTAJN, Raquel; TOLEDO, Paulo Fernando Campos Salles de; ABRÃO, Carlos Henrique (Coords.). Comentários à Lei de 
Recuperação de Empresa e de Falência. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 387. 
75 COELHO, Fábio Ulhoa. op. cit. p. 366; STJ, AgRg no CC 61272/RJ. 2ª Seção. Rel. ministro Ary Pargendler. Julgamento: 
14/06/2006. DJ, 09/11/2006, p. 249. 
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Há também a possibilidade de a hasta pública se realizar por meio de “processo competitivo 
organizado promovido por agente especializado e de reputação ilibada, cujo procedimento deverá 
ser detalhado em relatório anexo ao plano de realização do ativo ou ao plano de recuperação 
judicial, conforme o caso” (art. 142, IV, da LFRE). Seria o caso, por exemplo, da utilização de 
corretores para venda de imóveis ou de corretoras de valores mobiliários para a alienação de ativos 
financeiros, ações ou debêntures. 
Como terceira opção, a alienação pode-se dar por “qualquer outra modalidade, desde que 
aprovada nos termos desta Lei”, consoante art. 142, inciso V, da LFRE, que ao final e ao cabo 
confirma o comando previsto no art. 144 da LFRE. Normalmente, isso ocorre quando a alienação 
é de uma Unidade Produtiva Isolada (UPI) ou de um bem imóvel de grande valor, uma vez que 
as peculiaridades do caso concreto podem exigir uma formatação especial, tal como ocorreu no 
caso da alienação das UPIs do Grupo OI76. É óbvio que a construção dessa modalidade alternativa 
não poderá ofender a ordem jurídica e passará pelo controle de legalidade do juízo. 
Uma das possibilidades mais comuns é a apresentação nos autos de uma proposta concreta 
de algum interessado, denominado de stalking horse, que deve ser publicada por meio de um 
edital, a fim de possibilitar a participação de novos interessados, que se devem habilitar 
previamente para terem o direito de apresentar propostas superiores. Normalmente, são 
conferidas algumas vantagens ao stalking horse, entre elas: 
� Right to top – Caso um terceiro apresente uma proposta superior àquela do stalking horse, 
ele terá o direito de interromper a disputa se cobrir essa proposta, em um percentual 
previamente definido, usualmente entre 2% e 5%. 
� Right to match – Caso um terceiro apresente uma proposta superior àquela do stalking 
horse, ele terá o direito de interromper a disputa se igualar essa proposta. 
� Taxa break-up – Caso o stalking horse perca a disputa para um terceiro, ele será 
indenizado em um valor previamente definido, como compensação pelo tempo e pelos 
valores gastos durante a negociação e avaliação do bem alienado. 
 
Finalmente, desde que aprovada em assembleia-geral de credores, a alienação dos ativos da 
massa falida pode ocorrer por meio de adjudicação aos credores, de forma direta ou indireta, o que se 
daria por meio de sociedade de propósito específico ou fundo de investimento, podendo contar com a 
participação dos sócios do devedor ou de terceiros, sem o risco de sucessão nas obrigações do devedor 
falido, consoante a nova redação do art. 145, e desde que respeitado o quórum previsto no art. 46 da 
LFRE. A propósito, considerar-se-á como não escrita qualquer cláusula restringindo a venda ou a 
circulação dessas participações na sociedade ou no fundo de investimento. Mas a quem cabe escolher a 
melhor modalidade de hasta pública para a alienação dos bens? A resposta se encontra no art. 142, 
 
76 Disponível em: https://recuperacaojudicialoi.com.br/wp-content/uploads/2020/10/edital-de-alienacao-upi-torres-djerj-19-10-
2020.pdf. 
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§ 3º-B, da LFRE e prestigia o princípio da participação ativa dos credores nos processos de falência e 
de recuperação judicial. Confira-se: 
 
Art. 142. (...). 
§ 3º-B. A alienação prevista nos incisos IV e V do caput deste artigo, 
conforme disposições específicas desta Lei, observará o seguinte: 
I - será aprovada pela assembleia-geral de credores; 
II - decorrerá de disposição de plano de recuperação judicial aprovado; 
ou 
III - deverá ser aprovada pelo juiz, considerada a manifestação do 
administrador judicial e do Comitê de Credores, se existente. 
 
O quórum de aprovação na assembleia-geral de credores é o previsto no art. 42 da LFRE, ou 
seja, mais da metade do valor total dos créditos presentes (maioria simples), salvo quando se tratar 
da adjudicação especial do art. 145, cujo quórum é 2/3, consoante art. 46, da LFRE. 
 
Disposições comuns 
Por derradeiro, temos de atentar para algumas regras comuns, isto é, aplicáveis qualquer 
que seja a modalidade escolhida: 
1ª. O Ministério Público e as Fazendas Públicas deverão ser intimados por meio eletrônico, 
sob pena de nulidade. 
2ª. As publicações devem ocorrer em sites próprios, dedicados aos processos de falência e de 
recuperação judicial, pelo menos cinco dias antes da data designada para o leilão, conforme art. 
887, § 1º, do CPC. 
3ª. Os lances e as propostas são irretratáveis, incorrendo os faltosos nas obrigações previstas 
no edital e no CPC. 
4ª. A alienação poderá ser impugnada em 48 horas da arrematação por qualquer credor, 
pelo devedor ou pelo Ministério Público. 
5ª. A impugnação com base no preço da alienação só será recebida se acompanhada de uma 
proposta firme e superior à considerada vencedora, com depósito de 10% a título de caução.77 
6ª. O produto da alienação deve ser depositado em nome da massa falida em uma conta 
remunerada. 
7ª. É possível estabelecer regras excepcionais para qualquer hasta pública, desde a assunção 
pelo arrematante de determinadas obrigações, até a necessidade de apresentação de documentos 
 
77 Entendemos que não basta a apresentação de uma proposta superior à vencedora para impugnar a arrematação, 
sendo imprescindível que ele comprove a razão da sua ausência na hasta pública. Admitida a impugnação, defendemos 
que o juiz deve dar ao arrematante a oportunidade de cobrir a proposta do impugnante, encerrando a questão. 
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ou de uma caução para que ele possa participar do certame, desde que essas exceções estejam 
claramente definidas nos termos do edital. 
8ª. Os princípios que se destacam nessa fase do processo são o da maximização do ativo e da 
participação ativa dos credores. 
9ª. Duas ou mais massas falidas podem promover a alienação conjunta de bens, desde que 
essa estratégia seja benéfica para ambas, otimizando custos e maximizado os frutos. 
 
Prestação de contas 
Depois de realizado todo o ativo e rateado o seu produto entre os credores, o administrador 
prestará as suas contas em 30 dias. Logo em seguida, qualquer interessado poderá apresentar 
impugnação às contas do administrador judicial, sendo certo que o parecer contrário do 
Ministério Público, que será ouvido no prazo de cinco dias, será tido como impugnação. 
Havendo impugnação, o administrador judicial deverá ser ouvido no prazo que o juiz 
entender mais adequado, podendo produzir ou requerer a produção de provas. Ao final, as contas 
serão julgadas por sentença, que desafia recurso de apelação. 
A sentença que não aprovar as contas fixará desde logo a indenização devida pelo 
administrador à massa falida, hipótese em que o processo falimentar não poderá ser encerrado, 
pelo menos enquanto não executadaessa sentença pelo novo administrador judicial, tudo na 
forma dos arts. 154-156 da LFRE. O juiz poderá ainda decretar a indisponibilidade ou o arresto – 
não o sequestro – dos bens do ex-administrador judicial. 
 
Encerramento da falência 
Depois de aprovadas as contas, o administrador apresentará um relatório final, resumindo o 
processo, e quatro pontos são obrigatórios: 
I. indicação do valor do ativo realizado; 
II. valor do passivo declarado; 
III. pagamentos feitos aos credores concursais e extraconcursais, estes já declarados na 
prestação de contas, e 
IV. indicação expressa da responsabilidade do falido, individualizando as classes e os credores 
concursais que não foram pagos e o percentual do saldo em aberto. 
 
Em seguida, o juiz encerrará o processo por meio de sentença, agora de natureza 
desconstitutiva, que desafia o recurso de apelação, podendo ter como causa o esgotamento do 
valor obtido com a venda do ativo ou, o que é raro, o pagamento integral dos credores. Em 
ambos os casos, porém, a sentença que encerrar a falência extingue as obrigações do falido e 
importará em cancelamento do CNPJ do falido (art. 156). 
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Incidente de extinção das obrigações: a reabilitação do 
falido 
A reabilitação do falido, disciplinada no art. 158 e seguintes da LFRE, tem funcionado como 
forma de extinção das responsabilidades civis e criminais, dando-lhe feição híbrida, com natureza 
inegavelmente desconstitutiva, pois permite que o devedor volte a exercer atividade empresarial. 
É induvidoso, contudo, que não existe interesse algum dos sócios em retornar ao mercado 
por meio da sociedade que um dia foi falida. O verdadeiro objetivo do incidente de extinção das 
obrigações sempre foi “desvincular” o “CPF” dos sócios do “CNPJ” de uma sociedade falida, a 
fim de que outras pessoas jurídicas das quais participem não enfrentem restrições para obtenção 
de crédito, sobretudo perante as instituições financeiras. 
O pedido de extinção das obrigações do falido será autuado em apartado e pode ter as 
seguintes causas de pedir: 
Art. 158. Extingue as obrigações do falido: 
I - o pagamento de todos os créditos; 
II - o pagamento, após realizado todo o ativo, de mais de 25% (vinte e 
cinco por cento) dos créditos quirografários, facultado ao falido o 
depósito da quantia necessária para atingir a referida porcentagem se para 
isso não tiver sido suficiente a integral liquidação do ativo; 
III - (revogado); 
IV - (revogado); 
V - o decurso do prazo de 3 (três) anos, contado da decretação da 
falência, ressalvada a utilização dos bens arrecadados anteriormente, que 
serão destinados à liquidação para a satisfação dos credores habilitados ou 
com pedido de reserva realizado; 
VI - o encerramento da falência nos termos dos arts. 114-A ou 156 desta 
Lei. 
 
Em vista dessa nova sistemática, o simples encerramento da falência extingue 
automaticamente as obrigações do falido, consoante clara dicção do inciso IV do art. 158 c/c o 
art. 156. 
No entanto, ainda no curso do processo falimentar, o falido ou os seus sócios podem pedir, 
por meio incidente autuado em apartado, a declaração, por sentença, de extinção das obrigações 
do falido, mormente uma sociedade empresária. 
O pagamento integral dos credores e o pagamento de mais de 25% dos credores 
quirografários, depois de realizado todo o ativo, previstas nos incisos I e II do art. 158, são 
realmente muito raras. Contudo, certamente se tornará comum o pedido de extinção das 
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obrigações do falido pelo decurso do prazo de três anos da decretação da falência, fenômeno esse 
denominado pela doutrina de fresh start. 
Inicialmente, salientamos que o instituto do fresh start tem raízes no princípio da dignidade 
da pessoa humana e, com todas as vênias aos entendimentos em contrário, só deve ser aplicado na 
sua integralidade aos empresários individuais e aos sócios pessoas naturais com responsabilidade 
ilimitada. 
De fato, se já é difícil imaginar a volta ao mercado de uma sociedade empresária que já foi 
falida, é absolutamente impensável esse retorno ainda durante a tramitação do seu processo de 
falência, tão somente porque já se passaram três anos da sentença de quebra. 
No que toca às pessoas jurídicas cujos titulares ou sócios possuem responsabilidade 
limitada, a falência daquelas não impede e nunca impediu que estes permanecessem ou 
retornassem ao mercado por meio de outras pessoas jurídicas. 
Defendemos, portanto, que o pedido de extinção das obrigações de uma pessoa jurídica falida 
(sociedade empresária ou Eireli) pelo decurso de três anos da sentença de falência, uma vez acolhido, 
terá como única consequência a sua total desvinculação dos sócios ou titular em todos os cadastros 
públicos e privados, ressalvada a possibilidade de ação rescisória prevista no art. 159-A. 
Com efeito, ao nosso sentir, mesmo após a sentença de extinção das obrigações de uma 
pessoa jurídica falida, e enquanto não encerrado o processo de falência, será possível a arrecadação 
dos seus bens e direitos para posterior liquidação em benefício dos credores. 
Caso se entenda pela aplicação integral do instituto do fresh start às pessoas jurídicas falidas, 
deixamos aqui alguns questionamentos que terão de ser respondidos pela doutrina e pela 
jurisprudência: 
a) Descoberto algum bem (antigo) da sociedade falida após a sentença de extinção de 
obrigações, ele deve ser arrecadado e liquidado em favor dos credores ou entregue aos 
sócios para distribuição entre eles na forma de haveres? 
b) Na hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, qual deve ser o termo a quo 
para a contagem do prazo de três anos, a sentença de quebra ou a decisão que 
desconsiderou a personalidade jurídica? 
c) Como ficam os incidentes de desconsideração da personalidade jurídica já iniciados antes 
da sentença de extinção das obrigações, mas ainda sem decisão? 
d) Pode ser instaurado um IDPJ após a sentença de extinção de obrigações? 
e) Ainda é possível o ajuizamento da ação de responsabilidade prevista no art. 82 após a 
sentença de encerramento da falência? 
 
O requerimento deve ser processado em apartado (art. 159, § 6º, da LFRE) como um 
incidente processual é decidido por sentença, que desafia recurso de apelação (art. 159, § 5º, 
da LFRE). 
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Ademais, qualquer credor pode propor ação rescisória contra a sentença ou acórdão que 
extinguir as obrigações do falido, desde que o faça no prazo decadencial de dois anos, a contar do 
trânsito em julgado, e que comprove que o falido tenha sonegado bens, direitos ou rendimentos 
de qualquer espécie anteriores à data do requerimento. 
 
Demonstração de regularidade fiscal 
Para que se declare a extinção das obrigações do falido, o devedor deve comprovar a sua 
regularidade fiscal, consoante art. 191 do CTN. 
Os tribunais superiores, contudo, suavizaram a exigência legal e sedimentaram a 
jurisprudência que dá ao devedor a opção de pedir a extinção das suas obrigações com ou sem a 
apresentação das CNDs. No último caso, a sentença de extinção das obrigações fará uma ressalva 
quanto ao passivo fiscal.78 
 
 
 
78 STJ, REsp 834.932/MG. Rel. ministro Raul Araújo, 4ª Turma, Julgamento: 25/08/2015, DJe, 29/10/2015. 
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Ao regular os planos de recuperação judicial, olegislador deixou clara a mudança de 
orientação adotada na Lei nº 11.101/05, uma vez que a recuperação passou a se destinar 
exclusivamente às empresas viáveis, sendo certo que essa avaliação deixava de ser legal ou judicial e 
passou para a responsabilidade dos credores. 
Essa mudança de orientação veio prestigiar o entendimento mais moderno e 
majoritariamente adotado em outros países, no sentido de que são os credores, em tese, os maiores 
interessados na recuperação da empresa. Assim, serão estes que, normalmente organizados em 
assembleia, definirão, conforme as perspectivas daquela empresa, o futuro da sociedade em crise. 
O norte do processo de recuperação judicial é a preservação da empresa, princípio este 
positivado no art. 47, da LFRE, assim redigido: 
 
Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da 
situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a 
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos 
interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, 
sua função social e o estímulo à atividade econômica. 
 
A redação do dispositivo acima denota a preocupação do legislador com a preservação da 
empresa. Tal preocupação, em relação às sociedades anônimas, é ressaltada pelo professor José 
Edwaldo Tavares Borba, ao afirmar que tais sociedades não são apenas “um mero instrumento de 
produção de lucros para a distribuição aos detentores do capital”,79 mas, sim, uma “instituição 
 
79 BORBA, José Edwaldo Tavares. Direito societário. 8. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 134. 
MÓDULO III – RECUPERAÇÃO DE 
EMPRESAS 
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118 
 
destinada a exercer o seu objeto para atender aos interesses de acionistas, empregados e 
comunidade”. 
Ou seja, em razão da sua função social, a empresa deve ser preservada sempre que possível, 
pois gera riqueza econômica e cria emprego e renda, contribuindo para o crescimento e o 
desenvolvimento social do País. Além disso, a extinção da empresa provoca a perda do agregado 
econômico representado pelos chamados intangíveis, como nome, ponto comercial, reputação, 
marcas, clientela, rede de fornecedores, know-how, treinamento e perspectiva de lucro futuro, 
entre outros. 
 
Alterações legislativas 
Depois da sua publicação, em 9 de fevereiro de 2005, a LFRE sofreu pequenas alterações 
em decorrência da Lei Complementar nº 147/2014, em uma vã tentativa de melhorar o sistema 
em benefício das micro e pequenas empresas. No entanto, a profunda alteração ocorreu apenas 
com a publicação da Lei nº 14.112, em 24 de dezembro de 2020, que aglutinou diversos projetos 
de lei que estavam tramitando há anos no Congresso Nacional. 
Nessa grande reforma de 2020, nem todos os nós do sistema foram desatados, mas é 
inegável o esforço do Poder Legislativo em modernizar os institutos da falência e de recuperação 
de empresas, aclarando alguns pontos obscuros e harmonizando interesses até então inconciliáveis. 
No que toca aos processos de recuperação de empresas, destacam-se nessa grande reforma: 
� o surgimento de três caminhos para a equalização do passivo fiscal dos devedores em 
dificuldades; 
� a proteção ao crédito fiscal nos processos de recuperação judicial; 
� a limitação da prorrogação do stay period por apenas mais um período de 180 dias; 
� a possibilidade de os credores apresentarem plano de recuperação judicial alternativo em 
duas hipóteses; 
� a adoção da Lei Modelo da United Nations Commission on International Trade Law 
(Uncitral) – Comissão das Nações Unidas para o Direito do Comércio Internacional – 
para os processos de insolvência transnacional; 
� a definição das regras sobre o litisconsórcio ativo nos processos de recuperação judicial e 
� a implementação de instrumentos e regras processuais tendentes a conferir maior 
celeridade aos processos de falência e de recuperação judicial. 
 
Espécies de recuperação de empresas 
O instituto da recuperação de empresas é dividido em recuperação judicial e recuperação 
extrajudicial. Apesar de inúmeras diferenças, o que mais salta aos olhos é o fato de que na 
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extrajudicial toda a negociação, desde a proposta do devedor até a composição final, dá-se antes 
do ajuizamento da ação, cujo objetivo é apenas a homologação do acordo coletivo, a fim de que, 
em certos casos, ele tenha eficácia para todos, inclusive para os não aderentes. Enxergamos dois 
grandes problemas que acabam desestimulando a utilização desse instituto, o primeiro é a 
dificuldade de negociar com os credores, um a um, para se chegar a um consenso coletivo, 
enquanto o segundo é o fato de o devedor ficar sem nenhuma proteção contra a ação dos credores 
durante essas negociações, fazendo com que o tempo milite contra os seus interesses. 
Já na recuperação judicial, toda a negociação é desenvolvida sob a fiscalização do juiz e do 
administrador judicial, uma vez que o processo se inicia antes mesmo da apresentação da proposta 
aos credores, ou seja, do plano de recuperação, sendo certo que o devedor ganha uma proteção 
especial que impede a ação individual dos credores com exatamente esse objetivo, forçar a 
negociação coletiva. 
Por sua vez, dentro da recuperação judicial há uma nova bifurcação, já que ela se divide em 
plano especial, que só pode ser usado por pequenos e microempresários, e plano comum ou 
ordinário, colocado à disposição de todos os empresários, inclusive aqueles. 
 
Legitimidade ativa 
Como já aludido, o objetivo da recuperação judicial é reerguer a empresa em crise. Dessa 
forma, só terão legitimidade ativa para pedir recuperação as sociedades empresárias, as Eirelis e os 
empresários individuais, nos termos do art. 1º da LFRE. No que se refere às sociedades 
empresárias mencionadas no art. 2º da LFRE, nenhuma delas poderá pedir recuperação judicial. 
A nossa opção legislativa foi dar apenas ao devedor a legitimidade ativa para requerer a 
recuperação judicial, afastando-a dos credores, do Ministério Público e dos empregados do devedor. 
A única ressalva fica por conta do parágrafo único do art. 48 da nova LFRE, que estende essa 
legitimidade ativa ao cônjuge sobrevivente, aos herdeiros e ao inventariante do empresário 
individual falecido, bem como aos sócios remanescentes, quando se tratar de sociedade empresária.80 
Sentimo-nos na obrigação de registrar que o STJ, em decisão monocrática do ministro 
Fernando Gonçalves, nos autos do AI nº 1.008.393/RJ, seguindo outra decisão da 4ª Turma,81 
deu provimento ao recurso da Casa Portugal, uma associação civil sem fins lucrativos, a fim de 
que tivesse seguimento o seu processo de recuperação judicial. Esse perigoso precedente se escorou 
na teoria do fato consumado, pois o plano de recuperação já havia sido homologado pelos 
 
80 Note-se que o professor Fábio Ulhoa Coelho afirma que, quando o legislador se referiu a sócio remanescente, quis 
referir-se a sócio minoritário, permitindo, assim, que os sócios que discordaram, em assembleia geral, de eventual 
rejeição de proposta de recuperação judicial, possam aduzir em juízo o pedido de recuperação. COELHO, Fábio Ulhoa. 
Comentário à nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 125. 
81 REsp. 1.004.910/RJ. 
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credores e estava sendo regularmente cumprido, e na própria função social que a entidade 
inegavelmente possuía. 
Parece caminhar para o mesmo destino, embora por outros fundamentos, o Caso da 
Universidade Cândido Mendes (Ucam). Como já alinhavamos, o Tribunal de Justiça do Rio de 
janeiro, encampando a denominada “teoria dos agentes econômicos”,negou provimento ao agravo 
de instrumento interposto pelo Ministério Público contra a decisão que deferiu o processamento do 
pedido de recuperação da mantenedora da Ucam, uma associação civil filantrópica82. 
Já ressaltamos que, na grande reforma de 2020, os legisladores não encamparam essa teoria 
e mantiveram o instituto da recuperação restrito aos empresários. 
 
Recuperação judicial do produtor rural 
Não é preciso dimensionar o gigantismo econômico da atividade rural no nosso País, o 
chamado “agronegócio”. Consequentemente, são muitos os interesses em torno da sistemática 
jurídica que disciplinará a eventual dificuldade econômica daqueles que atuam nesse importante 
segmento da nossa economia. 
Os produtores rurais, como se sabe, podem optar pela inscrição no registro público de 
empresas mercantis, a Junta Comercial, e, assim, se tornam empresários para todos os fins de 
direito, inclusive para o pedido de recuperação judicial. Contudo, os legisladores, sensíveis às 
inúmeras divergências acerca dos contornos da recuperação judicial do produtor rural, seja pessoa 
natural, seja pessoa jurídica, entendeu por bem disciplinar detalhadamente o tema, conforme §§ 2º, 
3º, 4º e 5º do art. 48 da LFRE. 
Parece-nos que, na linha da jurisprudência83 e doutrina84 então majoritárias, continua sendo 
imprescindível que o produtor rural providencie a sua inscrição na Junta Comercial antes do pedido 
de recuperação, a fim de adquirir a qualidade de empresário, consoante arts. 971 e 984 do Código 
Civil, e para atender à exigência do art. 51, inciso V, da LFRE. 
Entretanto, o produtor rural pode contar o tempo de atividade antes do registro para fins de 
atendimento da exigência prevista no caput do art. 48 da LFRE. 
 
82 TJRJ, Agravo de Instrumento nº 0031515-53.2020.8.19.0000. 6ª Câmara Cível. Des. Rel. Nagib Slaibi Filho. Julgado em 
02/09/2020. Maioria de Votos. 
83 Tese vencedora: ministros Salomão, Raul Araújo e Antônio Carlos Ferreira. Tese vencida: ministros Buzzi e Isabel 
Gallotti. 
84 Nesse sentido três Enunciados do Conselho da Justiça Federal: 97 – O produtor rural, pessoa natural ou jurídica, na 
ocasião do pedido de recuperação judicial, não precisa estar inscrito há mais de dois anos no Registro Público de 
Empresas Mercantis, bastando a demonstração de exercício de atividade rural por esse período e a comprovação da 
inscrição anterior ao pedido; 201 – O empresário rural e a sociedade empresária rural, inscritos no registro público 
de empresas mercantis, estão sujeitos à falência e podem requerer concordata e 202 – O registro do empresário ou 
sociedade rural na Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico 
empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal opção. 
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No que toca à documentação contábil, fiscal e financeira exigida no art. 51 da LFRE, o 
legislador fez algumas adequações à realidade do produtor rural, assim como em relação às regras 
referentes aos créditos sujeitos e não sujeitos aos efeitos do processo, consoante veremos 
oportunamente. 
 
Litisconsórcio ativo 
Certamente, o litisconsórcio ativo nos processos de recuperação judicial sempre foi um dos 
grandes “nós” do sistema, haja vista a lacuna legislativa que existia sobre o tema. Por 
consequência, a jurisprudência sempre se revelou confusa, contraditória e casuística. 
Felizmente, com a recente reforma, o tema passou a ser tratado nos arts. 69-G a 69-J da 
LFRE, que consagrou a possibilidade do litisconsórcio ativo nos processos de recuperação judicial 
em duas modalidades: a consolidação processual e a consolidação substancial. 
 
Consolidação processual 
 
A regra do litisconsórcio ativo em recuperação judicial é que ele se dê pela denominada 
consolidação processual, que preserva a autonomia de ativos e passivos dos devedores. Por 
conseguinte, dois ou mais devedores poderão pedir recuperação judicial juntos, desde que 
integrem o mesmo grupo econômico, de fato ou de direito, e apresentem, individualmente, todos 
os documentos exigidos pela LFRE, em especial aqueles relacionados no art. 51. 
Nessa toada, cada devedor deverá propor aos seus respectivos credores meios próprios e 
específicos de soerguimento, o que pode ser formalizado pela apresentação de um plano para cada 
devedor, ou até por meio de um plano único. 
Na consolidação processual, qualquer que seja a opção, planos individuais ou plano único, 
as deliberações serão sempre separadas85, o que pode resultar na aprovação dos planos de alguns 
devedores e na rejeição de outros, hipótese em que os processos, de falência e de recuperação 
judicial, serão desmembrados. 
Há de se consignar que, com base no princípio da autonomia da vontade, os credores 
podem aprovar um plano que importe em consolidação substancial dos ativos e passivos de alguns 
ou de todos os devedores, ou em solução semelhante, como a estrutura de waterfall86, desde que, 
repise-se, as votações sejam separadas. 
 
 
85 STJ, AREsp. 949.625-RS. 
86 TJRJ, 0014816-26.2016.8.19.0000 – Agravo de Instrumento. Des. Carlos Santos de Oliveira – Julgamento: 26/07/2016 – 22ª 
Câmara Cível 
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Consolidação substancial 
Em caráter absolutamente excepcional, o juiz poderá determinar a consolidação substancial 
dos ativos e dos passivos de todos os devedores, ignorando as suas personalidades jurídicas 
autônomas e tratando-os como se fossem um único devedor. 
Para tanto, consoante art. 69-J da LFRE, deve estar provada nos autos profunda confusão 
patrimonial, acrescida de pelo menos duas outras circunstâncias previstas nos incisos desse 
dispositivo. Na nossa avaliação, portanto, a consolidação substancial por decisão judicial, 
ontologicamente, nada mais é do que a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica 
nos processos de recuperação judicial. Vejamos o texto legal: 
 
Art. 69-J. O juiz poderá, de forma excepcional, independentemente da 
realização de assembleia-geral, autorizar a consolidação substancial de 
ativos e passivos dos devedores integrantes do mesmo grupo econômico 
que estejam em recuperação judicial sob consolidação processual, apenas 
quando constatar a interconexão e a confusão entre ativos ou passivos dos 
devedores, de modo que não seja possível identificar a sua titularidade 
sem excessivo dispêndio de tempo ou de recursos, cumulativamente com 
a ocorrência de, no mínimo, 2 (duas) das seguintes hipóteses: 
I - existência de garantias cruzadas; 
II - relação de controle ou de dependência; 
III - identidade total ou parcial do quadro societário; e 
IV - atuação conjunta no mercado entre os postulantes. 
 
Repise-se que, ao nosso sentir, a consolidação substancial de ativos e passivos só pode ser 
implementada se aprovada pelos credores, em votações segregadas, ou por determinação judicial, 
quando comprovado o abuso da personalidade jurídica por conta de confusão patrimonial de tal 
intensidade que não seja possível separar os ativos e os passivos sem grande dispêndio financeiro, 
hipótese em que os seus causadores devem ser identificados e responsabilizados, inclusive por 
meio da incidência dos arts. 64 e 168 da LFRE. Nesse sentido: 
 
Recuperação judicial requerida por três empresas. Decisão que 
determinou a consolidação substancial. Agravo de instrumento de banco 
credor. Na consolidação processual há litisconsórcio ativo, com a 
condução conjunta de recuperações judiciais de devedoras que compõem 
um grupo societário, sem eliminação da independência patrimonial. Na 
consolidação substancial, diferentemente, há reunião de ativos e 
passivos das litisconsortes. Pode ser voluntária, quando os credores 
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assim deliberarem em assembleia, ou obrigatória, nos casos em que 
houver abuso de personalidade. Doutrina de SHEILA C. NEDER 
CEREZETTI. Hipótese dos autos em que as recuperandas pleitearam 
apenas a consolidação processual, não havendo provas de abuso de 
personalidade jurídica que ensejasse a consolidação substancial. 
Cabimento, portanto, apenas da consolidação processual, ressalvada a 
possibilidade de os credores deliberarem em assembleia pela consolidação 
substancial voluntária. Decisão agravada reformada. Agravo de 
instrumento provido (TJSP; Agravo de Instrumento 2028810-
87.2019.8.26.0000; Relator: Cesar Ciampolini; Órgão Julgador: 1ª 
Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de São Bernardo do 
Campo – 2ª Vara Cível; Julgamento: 22/10/2019). 
 
Como consequências da aplicação da consolidação substancial, em obediência ao art. 69-L, 
haverá extinção das garantias fidejussórias cruzadas e dos créditos intercompany87, sem olvidar 
que a aprovação ou a rejeição do plano de recuperação afetará todos os devedores, isto é, ou todos 
se recuperam ou todos terão a falência decretada. 
 
Recuperação judicial transnacional 
Importante desdobramento da possibilidade de litisconsórcio ativo em recuperação judicial 
é definir se entre as sociedades requerentes pode figurar alguma sociedade estrangeira, ou seja, 
criada e estabelecida em outro país. O primeiro caso no Brasil em que a questão foi debatida foi 
na recuperação judicial do Grupo OGX, uma vez que duas das sociedades requerentes eram 
austríacas, com sede em Viena, sem filial ou ativos no Brasil. 
Naquele caso nos posicionamentos de forma contrária, escorando o nosso parecer no art. 12 
da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (Lindb) e no art. 3º da LFRE. O juízo 
acolheu o nosso posicionamento e excluiu as sociedades estrangeiras do processo, mas o TJRJ deu 
provimento ao recurso interposto pelas recuperandas, determinando a reinclusão das sociedades 
austríacas, com fundamento na teoria da preservação da empresa e no art. 4º da Lindb.88 
Desde então, aguarda-se o julgamento do recurso de agravo de instrumento que negou a 
admissibilidade do recurso especial89 pelo STJ, mas é fato que aquele precedente abriu caminho 
 
87 Sobre conceito de crédito intercompany nos processos de recuperação judicial em litisconsórcio ativo, ver: TJRJ, 
Embargos de Declaração no Agravo de Instrumento nº 0071168-38.2015.8.19.0000, 22ª Câmara Cível, Rel. Des. Rogério de 
Oliveira Souza, julgado em 27/09/2016). 
88 TJRJ, 0064658-77.2013.8.19.0000. 14ª Câmara Cível. Des. Rel. Gilberto Campista Guarino. Julgamento: 19/02/2014. 
89 AREsp nº 871152/RJ. 
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124 
 
para vários outros casos de processamento de recuperação judicial no Brasil envolvendo sociedades 
estrangeiras, como nos casos dos Grupos OAS, Oi e Sete Brasil. 
Outro importante precedente que merece registro é a recuperação judicial do Grupo 
Constellation, antiga Queiroz Galvão, pois envolveu 18 pessoas jurídicas, sendo que apenas 
quatro eram brasileiras. Pela profundidade do voto condutor, recomendamos a leitura do v. 
acórdão da 16ª Câmara Cível do TJRJ, nos autos do Agravo de Instrumento nº 0070417-
46.2018.8.19.0000, julgado em 26 de março de 2019, da relatoria do eminente desembargador 
Eduardo Gusmão Alves de Brito Neto. 
Nada obstante esse histórico, a recente reforma deve pôr fim a boa parte das discussões 
sobre os processos de insolvência transnacional, uma vez que agora podemos contar com os arts. 
167-A a 167-Y da LFRE, que refletem a adoção pelo Brasil da Lei Modelo da Uncitral para os 
processos de insolvência transnacional90. Entre as principais regras podemos destacar: 
� a isonomia de tratamento entre os credores nacionais e estrangeiros; 
� a prevalência das regras previstas em tratados e acordos internacionais em relação às 
normas previstas na LFRE; 
� a diferenciação do processo principal e não principal, a fim de definir qual jurisdição será 
responsável pela condução geral dos processos; 
� o reconhecimento de que, quando o processo brasileiro não for o principal, só poderá 
abarcar os bens e direitos localizados no nosso território e 
� a ampla flexibilidade dos protocolos de cooperação entre as jurisdições. 
 
Requisitos da petição inicial do requerimento de 
recuperação judicial 
A petição inicial deve demonstrar que o requerente preenche os requisitos subjetivos e 
objetivos exigidos pela LFRE, respectivamente nos arts. 48 e 51, para o deferimento do 
processamento do pedido. 
Embora possa decidir imediatamente sobre o processamento do pedido, havendo 
necessidade, o juiz poderá determinar a realização de uma perícia prévia de constatação91, a ser 
realizada em cinco dias, para verificar as reais condições do devedor e a regularidade documental, 
podendo, ocasionalmente, verificar se o devedor realmente possui o seu principal estabelecimento 
naquele local, tudo conforme o art. 51-A da LFRE. 
 
90 Disponível em: https://www.machadomeyer.com.br/pt/imprensa-ij/a-insolvencia-transnacional-e-a-reforma-da-lei-de-
recuperacoes-e-falencias. 
91 O CNJ expediu a Recomendação nº 57, de 22 de outubro de 2019, que orienta os magistrados a determinar a denominada 
“perícia prévia de constatação”, a ser realizada em cinco dias, para que o “perito” verifique a regularidade da documentação e 
as reais condições da requerente. 
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Nesses casos, a perícia será realizada sem a apresentação de quesitos ou oitiva das partes, e a 
remuneração será fixada a posteriori. 
 
Requisitos subjetivos 
Cabe ao devedor comprovar na sua petição inicial que preenche alguns requisitos legais, de 
caráter subjetivo, para obter o deferimento do processamento do seu pedido de recuperação judicial. 
 
Atividade empresarial há mais de dois anos (caput) 
Segundo o caput do aludido artigo, o devedor deve comprovar que exerce regularmente a 
atividade empresarial há pelo menos dois anos. Nada obstante a aparente simplicidade de 
interpretação, inúmeras questões têm surgido ao longo dos anos de vigência da LFRE. 
O STJ já decidiu que não bastam os dois anos de registro na Junta Comercial, exigindo-se 
do requerente a prova de que está naquele ramo de atividade, ou correlato, também há mais de 
dois anos.92 
Por outro lado, o TJSP admitiu o processamento da recuperação judicial de uma sociedade 
empresária constituída na Junta Comercial há menos de dois anos, mas que havia adquirido o 
estabelecimento empresarial de outra sociedade do mesmo grupo econômico, que funcionava há 
vários anos, sendo a sua sucessora.93 
Já o TJRJ deferiu o processamento do pedido de recuperação judicial de uma sociedade que 
sequer estava registrada na Junta Comercial, uma vez que os seus atos constitutivos estavam 
arquivados perante o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas.94 
Advirta-se que alguns sócios pessoas naturais, em uma inequívoca tentativa de protegerem 
os seus patrimônios pessoais, colocados em risco em razão de garantias fidejussórias concedidas 
sobre dívidas da sociedade empresária, estão constituindo firmas individuais no mesmo ramo da 
sociedade empresária para, depois do biênio legal, ingressarem com pedido de recuperação judicial 
em litisconsórcio ativo.95 
Mais uma vez salientamos que o produtor rural pode contar o tempo de atividade regular 
anterior ao registro para postular a sua recuperação judicial. 
 
92 STJ, REsp 1478001/ES. Rel. ministro Raul Araújo, 4ª Turma, Julgamento: 10/11/2015. 
93TJSP; Agravo de Instrumento 0057528-17.2008.8.26.0000; Relator: Pereira Calças; Órgão Julgador: N/A; Foro Central 
Cível – 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais; Julgamento: 04/03/2009; Registro: 19/03/2009. 
94 TJRJ, 0039244-09.2015.8.19.0000 – Agravo de Instrumento. Des. Carlos Santos de Oliveira – Julgamento: 08/09/2015 – 
22ª Câmara Cível. 
95 TJRS, Agravo de Instrumento nº 70065413031, 5ª Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, 
Julgamento: 26/08/2015 (Caso Herter Cereais). Pendente o REsp. nº 1612031/RS. 
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Voltemos a repisar que, se a jurisprudência caminhar para a adoção da denominada “teoria 
dos agentes econômicos”, não haverá mais qualquer sentido na aplicação da regra prevista no 
caput do art. 48 da LFRE. 
 
Não ser falido e não ter obtido recuperação judicial há menos de cinco 
anos (incisos I, II e III) 
O empresário falido não pode pleitear recuperação judicial. Por seu turno, com o objetivo 
de só manter no mercado os empresários realmente viáveis, não se revelaria prudente autorizar o 
devedor empresário, a todo momento, requerer uma nova recuperação judicial, razão pela qual se 
veda novo pedido de recuperação judicial se a anterior ocorreu nos últimos cinco anos. 
Atente-se que a proibição ocorre em relação à anterior obtenção da recuperação judicial, 
que se dá pela sentença homologatória do plano de recuperação aprovado pelos credores. 
 
Sócios controladores e administradores não condenados por crimes da 
LFRE (inciso IV) 
De interesse puramente acadêmico, este requisito é alvo de acirradas críticas doutrinárias 
por suposta violação do princípio constitucional da intranscendência. Na prática, contudo, basta 
uma simples alteração contratual para contornar o problema e seguir adiante, com a apresentação 
do pedido de recuperação judicial com o quadro societário e administrativo sem pessoas naturais 
ostentando condenação por crime falimentar ou recuperacional. 
Não se admite a aplicação da analogia para ampliar o rol de crimes, cujas condenações dos 
sócios controladores ou dos administradores, que impedem o acesso à recuperação judicial. 
 
Requisitos objetivos 
A petição inicial deve ser instruída com uma série de documentos e informações de ordem 
objetiva, exigidos pelo art. 51 da LFRE, sendo oportunas breves considerações sobre cada um deles. 
 
Situação patrimonial e razões da crise (inciso I) 
Logo após a demonstração do preenchimento dos requisitos subjetivos, o requerente deve 
narrar na petição inicial o histórico da empresa, bem como os motivos da crise, comprovando-os, 
e detalhar a atual situação patrimonial. Essa narrativa tem como destinatários os credores, isto é, 
não cabe ao juiz analisar ou julgar a versão trazida pelo devedor. 
 
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Demonstrações contábeis (inciso II) 
O devedor deve instruir o seu pedido de recuperação com os três últimos balanços 
contábeis completos, além de um especialmente levantado até a data do pedido. Esta tem sido 
uma grande dificuldade enfrentada por empresas de pequeno e médio porte, uma vez que muitas 
vezes não possuem esses documentos dentro das formalidades legais. 
Há de se ressaltar que não cabe ao juiz, muito menos ao Ministério Público, analisar a 
viabilidade do devedor, portanto, apresentados os documentos contábeis, por pior que pareça 
a situação econômico-financeira do empresário, são os credores que devem decidir se há ou 
não chance de recuperação. 
Caso alguma informação contábil desperte suspeita, como o valor de estoque muito 
elevado, recomenda-se determinar ao administrador judicial uma avaliação melhor desse ponto já 
no primeiro relatório mensal de atividades, mas sem prejuízo do despacho de deferimento do 
processamento do pedido. 
Por fim, quando se tratar de devedor produtor rural, o cumprimento dessa exigência se dará 
mediante a apresentação dos documentos previstos no § 3º do art. 48 da LFRE. 
 
Relação de credores (inciso III) 
Caberá ao devedor apresentar a relação completa dos seus credores, sujeitos ou não ao 
processo de recuperação judicial, inclusive fiscais, com a indicação precisa de todas as informações 
exigidas pelo inciso ora analisado. 
Note-se que a lei, atendendo a um reclamo doutrinário96, agora é ainda mais clara ao não 
restringir a relação aos credores concursais, muito embora apenas estes devam ser levados em 
conta para a fixação do valor da causa. 
Importante lembrar que é considerado crime, com pena de dois a quatro anos de reclusão, a 
apresentação de relação de créditos falsa ou simulada, conforme art. 175, da LFRE. 
 
Relação de empregados (inciso IV) 
A relação completa dos empregados, com os seus respectivos cargos, salários e demais 
informações tem sido objeto de uma peculiaridade, qual seja, o pedido de sigilo quanto aos nomes 
dos empregados e os seus respectivos salários, sob o fundamento de proteção a “intimidade”. 
Tratando-se de um processo coletivo, entendemos descabida tal proteção, muito embora, 
mesmo que deferida, por força do estatuto da advocacia não se poderá negar pleno acesso a essas 
informações aos advogados de qualquer dos credores submetidos ao processo, muito menos ao 
Ministério Público e ao administrador judicial. 
 
96 Essa é a orientação do Enunciado 78 do CJF. 
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Nota
§ 3º Para a comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo, o cálculo do período de exercício de atividade rural por pessoa física é feito com base no Livro Caixa Digital do Produtor Rural (LCDPR), ou por meio de obrigação legal de registros contábeis que venha a substituir o LCDPR, e pela Declaração do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física (DIRPF) e balanço patrimonial, todos entregues tempestivamente. (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020) (Vigência)
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Certidão de regularidade do Registro Público de Empresas Mercantis 
(inciso V) 
Atende-se a essa exigência mediante a simples juntada de cópia dos atos constitutivos do 
devedor arquivados perante a Junta Comercial. Relembre-se, todavia, que há discussão acerca da 
possibilidade de pedido de recuperação judicial formulado por sociedade empresária registrada no 
Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas e por sociedades estrangeiras. 
 
Relação de bens dos sócios controladores e dos administradores (inciso VI) 
Assim como o nome dos empregados, usualmente a relação de bens é objeto de pedido de 
sigilo, a fim de preservar a “intimidade” dos sócios e dos administradores do devedor em 
recuperação judicial.97 Somos contrários a esse sigilo, muito embora, como já alinhavado, ele não 
possa ser oposto aos advogados de qualquer dos credores, nem ao Ministério Público e ao 
administrador judicial. 
Em verdade, a exigência prevista nesse inciso reflete a preocupação do legislador com as 
costumeiras fraudes, pois já não surpreende o fato de uma sociedade empresária em dificuldades 
não possuir ativos compatíveis com a atividade que explora, enquanto os seus sócios, principais 
causadores do insucesso, ostentam invejável saúde financeira e patrimonial, podendo contribuir 
para a reestruturação por meio de aportes de capital. 
Advirta-se para o denominado controle indireto e, principalmente, para a manobra de 
alteração, muitas vezes fraudulenta, das pessoas naturais que exercem a administração dos 
negócios do devedor na véspera do pedido de recuperação judicial. 
 
Extratos bancários (inciso VII) 
Alguns doutrinadores defendem que, além de serem de pouca importância neste primeiro 
momento, tais informações poderão ser utilizadaspor credores de má-fé e em prejuízo do 
prosseguimento do negócio, expondo a empresa a um risco desnecessário para a sua preservação. 
De toda maneira, a lei não esclarece de qual período devem ser os extratos. 
 
Certidões de protestos (inciso VIII) 
Não há maiores dificuldades para o atendimento dessa exigência. Entretanto, as certidões de 
protesto são objeto de uma discussão de grande importância para a recuperação da empresa e que 
ainda divide os tribunais. Trata-se do pedido de pedido de natureza cautelar formulado pelos 
devedores, logo após o despacho que defere o processamento do pedido de recuperação judicial, a 
 
97 SANTOS, Paulo Penalva. Palestra proferida na Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (Emerj), em 7 de 
março de 2005. 
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fim de não retardar o início do processo, de suspensão dos efeitos – publicidade – dos protestos, 
referentes às dívidas sujeitas aos efeitos da recuperação judicial. 
Há precedentes de diversos tribunais, especialmente do Paraná98 e do Rio de Janeiro,99 
admitindo essa suspensão da publicidade dos protestos, apenas em relação ao devedor em 
recuperação judicial e referente às dívidas que estão sendo tratadas no processo, com arrimo no 
princípio da preservação da empresa e na própria da ausência de prejuízo aos credores, na medida 
em que não ficam impedidos de realizar os seus protestos, conforme entendimento sedimentado 
pela Súmula 581 do STJ e pelo Enunciado nº 54 do CJF. 
Há, por certo, precedentes contrários, a maioria do TJSP, que se escora na ausência de 
previsão legal e no atendimento ao princípio da publicidade e da proteção a terceiros de boa-fé.100 
 
Relação dos processos judiciais e disputas arbitrais, com estimativa de 
valores (inciso IX) 
Essa exigência é extremamente relevante para que os credores possam sopesar a viabilidade 
econômica do devedor. É preciso redobrado cuidado para analisar a estimativa de valores, uma vez que 
essa é uma tarefa potencialmente subjetiva e pode comprometer a projeção de caixa para o futuro. 
Preenchidos todos os requisitos alinhados nos arts. 48 e 51 da LFRE, o juízo deverá deferir 
o processamento do pedido de recuperação judicial, nos termos no art. 52. Havendo alguma 
pendência, o devedor deverá ser intimado para supri-la, sob pena de indeferimento da petição 
inicial, aplicando-se subsidiariamente a legislação processual comum. 
 
Relatório detalhado do passivo fiscal (inciso X) 
Realmente, não há como os credores avaliarem a viabilidade do devedor em recuperação 
judicial sem conhecer em detalhes o seu passivo fiscal, especialmente após ser conferida 
legitimidade às Fazendas Públicas para pedirem a convolação da recuperação judicial em falência. 
 
Relação de bens e direitos do ativo não circulante (inciso XI) 
Antes da reforma, a relação de bens e as suas respectivas avaliações só eram exigidas quando 
da apresentação do plano de recuperação judicial, conforme art. 53, inciso III, da LFRE. Após a 
recente reforma, com a maior preocupação de se estabelecer um eficaz controle dos ativos do 
 
98 TJPR, AI 1698627-3. Órgão Julgador: 18ª Câmara Cível. Relator: Pericles Bellusci de Batista Pereira. Julgamento: 
26/06/2017 12:56:00. Fonte/Data da Publicação: DJ: 2058 29/06/2017. 
99 TJRJ, AI 0042281-15.2013.8.19.0000, 10ª Câmara Cível. Rel. Des. José Carlos Varanda. Julgamento: 22/01/2014. 
100 TJSP; Agravo de Instrumento 2048010-51.2017.8.26.0000; Relator: Cesar Ciampolini; Órgão Julgador: 1ª Câmara 
Reservada de Direito Empresarial; Foro de Limeira – 2ª Vara Cível; Julgamento: 15/09/2017; Registro: 15/09/2017. 
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devedor, sobretudo não circulantes, a lei passa a exigir a relação desses bens – sem a necessidade 
de laudo de avaliação –, junto com a petição inicial. 
Essa opção, muito embora crie mais uma exigência para os pedidos de recuperação judicial, 
nos parece bem-vinda, a fim de dar maior segurança jurídica e eficácia ao art. 66 da LFRE. 
Há que se consignar a expressa referência aos bens dados em garantia e abrangidos pela 
regra prevista no § 3º do art. 49 da LFRE, que também devem ser relacionados, e os seus 
respectivos instrumentos contratuais devem acompanhar a relação. 
 
� Sigilo 
Muitas vezes, os devedores pedem a decretação do sigilo em relação a alguns dos 
documentos que são apresentados por exigência do art. 51 da LFRE. Temos recorrido com êxito 
contra decisões que acolhem essas pretensões, como no caso já mencionado do Grupo 
Constellation, a conferir: 
 
7- Os documentos exigidos com o requerimento da recuperação passam a 
integrar o contraditório e não podem ser sonegados às próprias partes, 
donde a nulidade de decisão que limita seu acesso ao juiz e ao Membro 
do Ministério Público. [...] (TJRJ, AI nº 0070417-46.2018.8.19.0000. 
16ª Câmara Cível. Rel. Des. Eduardo Gusmão. Julgamento: 
26/03/2019). Nesse mesmo sentido, TJSP, AI nº 2036910-
94.2020.8.26.0000, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, Rel. 
Des. Azuma Nishi, julgado em 11/08/2020) 
 
Preenchidos todos os requisitos alinhados nos arts. 48 e 51 da LFRE, deverá o juízo deferir 
o processamento do pedido de recuperação judicial, nos termos no art. 52. Havendo alguma 
pendência, o devedor deverá ser intimado para supri-la, sob pena de indeferimento da petição 
inicial, aplicando-se subsidiariamente a legislação processual comum. 
 
Créditos sujeitos aos efeitos da recuperação 
De acordo com o art. 49, caput, da LFRE, a recuperação judicial atinge “todos os créditos 
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos”. A melhor exegese desse dispositivo, 
especialmente quando combinado com o art. 6º e os seus parágrafos, é adotar como parâmetro a 
data do fato gerador do crédito. 
Assim, ocorrendo um acidente por culpa do devedor antes do pedido de recuperação, ainda 
que a ação indenizatória seja proposta após a recuperação, eventual crédito estará sujeito aos seus 
efeitos, mesmo que não habilitado até o encerramento do processo. 
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Da mesma forma, em uma relação de trato sucessivo, como o contrato de trabalho, todas as 
verbas devidas ao trabalhador por fatos anteriores ao pedido estarão sujeitas ao processo de 
recuperação judicial, enquanto as posteriores não, independentemente da forma e do momento 
em que forem reconhecidas. Nesse sentido: 
 
AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO 
EMPRESARIAL E PROCESSUAL CIVIL. CPC/2015. RECUPERAÇÃO 
JUDICIAL. CRÉDITO DECORRENTE DE AÇÃO DE 
COMPLEMENTAÇÃO DE AÇÕES. CONDENAÇÃO ILÍQUIDA. 
SUJEIÇÃO AO PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. FATO 
GERADOR ANTERIOR À DATA DO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO. 
PRECEDENTES. SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO PROVISÓRIA. 
1. Controvérsia acerca da suspensão de execução provisória ('ex vi' do art. 6º, 
§ 4º, da Lei 11.101/2005) de crédito decorrente de sentença condenatória 
em demanda por complementação de ações, pendente de trânsito em 
julgado na fase de liquidação. 
2. Precedentes desta Corte Superior, proferidos em demandas relativas a 
crédito trabalhista e de responsabilidade civil, no sentido de que a data do 
fato gerador da obrigação seria o marco temporal para a sujeição ou não 
do crédito à recuperação judicial, ainda que a liquidação venha a ocorrer 
em data posterior. 
3. Caso concreto em que a pretensão de complementação de ações se 
enquadra na responsabilidade civil contratual, devendo-se, portanto, tomar 
como fato gerador o inadimplemento, ou seja, a subscrição de ações em 
número menor do que o devido, fato que ocorreu na década de 90, muito 
antes do pedido de recuperação judicial. 
4. Sujeição do crédito ao plano de recuperação judicial no casoconcreto, 
devendo-se suspender a execução provisória, como bem entendeu o juízo 'a 
quo'. 
5. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. 
(AgInt no REsp 1793713/DF, Rel. Ministro PAULO DE TARSO 
SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/04/2019, DJe 
15/04/2019)101 
 
Há de se destacar que a sujeição aos efeitos do processo de recuperação independe da sua 
inscrição no QGC, isto é, mesmo que um crédito anterior ao pedido não tenha sido relacionado 
 
101 Nesse sentido, em relação ao crédito trabalhista: AgInt no REsp 1260569/SP, Julgamento: 18/04/2017. 
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pelo devedor e também não seja habilitado ao longo do processo, qualquer que seja a razão, ele se 
sujeitará aos efeitos do processo e será alcançado pela novação, prevista no art. 59 da LFRE, 
convertendo-se para a “moeda da recuperação”. 
Frise-se a possibilidade, por força do § 2º do art. 49 da LFRE, de o devedor optar por não 
submeter determinada classe de credores aos efeitos do processo de recuperação judicial, não 
propondo qualquer modificação quanto a eles, de forma que os credores dessa classe não teriam 
direito de voto nas assembleias de credores. Note-se que não é facultado ao devedor excluir “esse” 
ou “aquele” crédito de uma classe, pois tal manobra violaria o princípio pars conditio creditorum e 
comprometeria o resultado de eventual votação em assembleia, especialmente para aprovação do 
plano de recuperação. 
 
Créditos não sujeitos aos efeitos da recuperação judicial 
Os créditos que surgirem após o pedido não estarão submetidos aos efeitos do processo de 
recuperação (art. 49 da LFRE) e dos efeitos novatórios de eventual plano homologado (art. 59 da 
LFRE), e, em caso de convolação em falência, serão tratados como créditos extraconcursais. 
Há de se ressaltar que o parágrafo único do art. 67 da LFRE expressamente admite que os 
fornecedores de bens ou serviços necessários à manutenção da atividade que continuarem a 
negociar com o devedor nas mesmas bases anteriores ao pedido poderão ter tratamento 
diferenciado no plano de recuperação judicial, desde que dentro da razoabilidade. 
Além dos créditos por fatos posteriores ao pedido de recuperação e os créditos das classes que, 
por opção do devedor, não terão as suas condições modificadas pelo plano, também estarão 
afastados dos seus efeitos da recuperação judicial alguns créditos que possuem tratamento especial, 
por força de lei. Devido às peculiaridades que cercam cada um deles, o estudo deve ser 
individualizado. 
 
Créditos de empréstimo DIP 
Agora disciplinado nos arts. 69-A até 69-F da LFRE, o DIP Financing tem-se revelado um 
importante instrumento de capitalização para as empresas em processo de recuperação judicial, 
como alternativa para a falta de crédito junto ao sistema financeiro. 
Trata-se de um mútuo contraído durante o processo de recuperação judicial, normalmente 
junto a alguns dos seus credores concursais, para garantir ao devedor o capital de giro suficiente 
para atravessar a fase mais aguda do processo de recuperação judicial. DIP significa debtor-in-
possession, originada no Direito norte-americano,102 para designar todo o empréstimo obtido pelo 
devedor após o início do processo de reestruturação. 
 
102 O financiamento DIP é disciplinado pela Seção 364 do Bankruptcy Code – Chapter 11. 
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Em razão dos riscos naturais dessa operação, que podem ser atenuados por garantias reais 
fiduciárias, o retorno financeiro do investimento costuma ser atrativo, sendo certo que muitos 
credores concursais já questionaram a falta de oportunidade para participar desses aportes e, 
assim, de se beneficiar do “pacote de bondades” que costuma ser destinado aos seus participantes. 
Em razão das extremas vantagens destinadas a esses investidores, o ideal é que o empréstimo 
DIP seja colocado como uma cláusula do plano de recuperação judicial. Entretanto, sem 
estabelecer maiores parâmetros, o art. 69-A da LFRE estabelece que “o juiz poderá, depois de 
ouvido o Comitê de Credores, autorizar a celebração” desse contrato de financiamento. 
Para dar maior segurança e atrair mais interessados a financiarem os devedores em 
recuperação judicial, uma vez desembolsados pelo investidor os recursos, a operação torna-se 
imutável, ainda que aquela autorização judicial seja reformada em grau de recurso, conforme art. 
69-B da LFRE. Entendemos que, na hipótese de desembolso parcial apenas em relação a essa 
parte, o contrato deverá ser considerado imutável. 
Por derradeiro, em caso de falência, o valor efetivamente entregue ao devedor por meio do 
empréstimo DIP ganhou um lugar de destaque na ordem de prioridades dos créditos 
extraconcursais, só estando atrás das restituições in natura, do art. 85, e das obrigações previstas 
nos arts. 150 e 151, conforme art. 84, inciso I-B, todos da LFRE. 
 
Crédito tributário 
Por força do art. 187 do CTN, o passivo tributário do devedor não pode ser tratado no bojo 
do processo de recuperação judicial e, com apoio no art. 6º, § 7º-B, da LFRE, as execuções fiscais 
não devem ser suspensas pelo deferimento do processamento do pedido, salvo se o devedor aderir a 
alguma modalidade de parcelamento, mormente aquelas disciplinadas nos arts. 10-A e 10-B da Lei 
nº 10.522/02, c/c art. 155-A, § 3º, do CTN, ou se transacionarem com as Fazendas Públicas, com 
esteio no art. 10-C da Lei nº 10.522/02 c/c a Lei nº 13.988, de 14 de abril de 2020. 
Realmente, se considerarmos a própria natureza contratual do instituto da recuperação 
judicial e o princípio da legalidade estrita a que se submetem os agentes administrativos, 
sobretudo na questão tributária, revela-se correta a opção do legislador. 
Nessas duas novas formas de parcelamento, disciplinadas nos arts. 10-A e 10-B da Lei 
nº 10.522/02, o devedor em recuperação judicial pode refinanciar o seu passivo fiscal, 
respectivamente, em até 120 meses, na primeira modalidade, ou em até 24 meses, na segunda, 
cada qual com as suas respectivas vantagens e desvantagens, cuja análise extrapolam os objetivos 
do nosso estudo. 
O devedor em recuperação judicial ainda tem à sua disposição a possibilidade de transação 
tributária, com prazo máximo de quitação também em 120 meses, cuja disciplina se encontra na 
Lei nº 13.988/20, c/c o art. 10-C da Lei nº 10522/02. 
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Diante do preenchimento da lacuna existente, está afastada a possibilidade de recuperação 
judicial do devedor empresário que não conseguir regularizar a sua situação fiscal, seja porque as 
execuções fiscais podem prosseguir normalmente após o despacho que deferir o processamento do 
pedido, seja em razão da eficácia plena que deve ser reconhecida ao art. 57 da LFRE. Ademais, em 
harmonia com o disposto no art. 10-A, § 4º-A, inciso IV, da Lei nº 10.522/02, foram 
acrescentados os incisos V e VI ao art. 73 da LFRE, permitindo expressamente que as Fazendas 
Públicas peçam a convolação da recuperação judicial em falência. 
Devemos observar que alguns entes federativos já possuem legislação própria disciplinando 
o parcelamento para o devedor em recuperação judicial em relação aos seus créditos. É o caso do 
Rio de Janeiro, por força da Lei nº 8.502, de 30 de agosto de 2019; de Minas Gerais, com a Lei 
nº 21.794, de 16 de outubro de 2015; de Pernambuco, pela Lei Complementar nº 148, de 4 de 
dezembro de 2009, alterada pela Lei Complementar nº 185, de 1º de novembro de 2011; do 
Paraná, pela Lei nº 18.132, de 3 de julho de 2014; e de Rondônia, pela Lei nº 4.703, de 12 de 
dezembro de 2019, entre outros. 
Não menos importanteé a discussão acerca da exclusão ou não do passivo fiscal não 
tributário do processo de recuperação judicial. A questão ganhou maior relevância quando 
sociedades empresárias com expressivos passivos decorrentes de multas das agências reguladoras e 
de acordos de leniência entraram em recuperação judicial. Não há jurisprudência sedimentada nos 
tribunais. 
Nas poucas vezes em que tivemos de nos manifestar, opinamos pela exclusão desses 
créditos do concurso da recuperação judicial, pois não há previsão legal para que a autoridade 
administrativa, qualquer que seja ela, disponha sobre esses créditos, sobretudo diante da 
possibilidade de o plano ser aprovado mesmo contra o voto daquele que representa o Poder 
Público, inclusive com a previsão de deságios. 
Nesse sentido, trazemos à colação um importante precedente do Tribunal de Justiça do 
Estado de Goiás (TJGO), que já utilizamos para dar corpo a um agravo de instrumento que 
interpomos sobre o tema, mas não provido pelo TJRJ103: 
 
Agravo de Instrumento. Impugnação de crédito. Recuperação Judicial. 
Crédito derivado de multa por infração à legislação trabalhista. Inclusão 
no quadro geral de credores. Impossibilidade. Dívida ativa não 
tributária. Não submissão à recuperação judicial. Honorários 
advocatícios recursais. Fixação. I – In casu, o crédito discutido 
originou-se de multas administrativas por infração à legislação 
trabalhista decorrentes de autos de infração lavrados pelo Ministério 
do Trabalho, motivo pelo qual defendem as agravantes tratar-se de 
 
103 TJRJ, AI 0077795-19.2019.8.19.0000. 2ª Câmara Cível. Des. Rel. Jessé Torres Pereira Júnior. 
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débito não tributário, devendo o crédito da União se submeter à 
recuperação judicial. II – Contudo, os créditos da Fazenda Pública, 
fiscais tributários ou não, estão fora do alcance do concurso de credores, 
devendo ser cobrados por meio de execução fiscal e, por consequência, 
não podem ser incluídos no concurso de credores. III – Em caso de 
improvimento do recurso, devem ser majorados os honorários 
advocatícios arbitrados em primeiro grau, nos termos do artigo 85, § 11, 
CPC. Agravo de instrumento conhecido e desprovido (TJGO, 5259919-
92.2018.8.09.0000 – Agravo de Instrumento. Rel. desembargador Carlos 
Alberto França. 2ª Câmara Cível. Julgamento: 19/09/2018). 
 
No caso da recuperação judicial do Grupo OI, a questão chegou a ser decidida em segunda 
instância, que determinou a sujeição dos créditos da Agência Nacional de Telecomunicações 
(Anatel) aos efeitos do processo de recuperação judicial. Contudo, antes que o STJ julgasse em 
definitivo o recurso da agência reguladora, com a entrada em vigor das regras sobre transação 
tributária, Oi e Anatel celebraram um acordo de transação tributária104, pondo fim às discussões. 
Por fim, é preciso sublinhar que o juiz da recuperação judicial não pode mais obstar a 
constrição de bens do devedor em recuperação judicial determinada pelo juiz da execução fiscal. A 
lei é suficientemente clara ao prever que ele só poderá determinar a “SUBSTITUIÇÃO” do bem 
constrito por outro menos essencial à continuidade das atividades.105 
 
Créditos com direito real de propriedade e assemelhados 
Também não estão sujeitos aos efeitos da recuperação judicial, de acordo com o § 3º do art. 
49 da LFRE, o credor titular da posição de proprietário fiduciário, o arrendador mercantil e o 
negociante de imóvel – vendedor, promitente vendedor ou titular de reserva de domínio –, cujo 
contrato tenha cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade.106 De igual forma, com fulcro no 
§ 4º do art. 49 da LFRE, estão excluídos dos efeitos do processo de recuperação judicial os 
créditos decorrentes dos contratos de ACC e ACE. 
Nessas duas últimas hipóteses, o legislador pretendeu incentivar a redução dos juros, “com 
spreads não impactados pelo risco associado à recuperação judicial”, o que é fundamental para o 
desenvolvimento econômico do País.107 É fundamental, na visão de parte da jurisprudência, para 
 
104 https://www.infomoney.com.br/mercados/agu-fecha-acordo-e-da-50-de-desconto-em-divida-da-oi-que-pagara-r-72-
bilhoes-a-anatel/ 
105 Foi nossa a sugestão para a redação do §7º-B da LFRE. 
106 Arts. 521 e 1.417 do CC. 
107 COELHO, Fábio Ulhoa. op. cit. p. 131. 
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Nota
O ACC (de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio) é uma antecipação de recursos em moeda nacional (R$) ao exportador, por conta de uma exportação a ser realizada no futuro.

Já o ACE (de Adiantamento sobre Cambiais Entregues) é uma antecipação de recursos em moeda nacional (R$) ao exportador, após o embarque da mercadoria para o exterior, mediante a transferência ao Banco do Brasil dos direitos sobre a venda a prazo.
 
136 
 
um efetivo controle judicial, que a instituição financeira requeira ao juízo da recuperação 
autorização para promover a “compensação” dos recursos, o que pode ocorrer nos autos principais 
ou em um incidente de “restituição”.108 
No fim de 2019, a 3ª Turma do STJ, em apertada votação – 3 x 2 –, decidiu que apenas o 
valor principal do adiantamento de contrato de câmbio ou do crédito à exportação – ACC e ACE – 
não estaria sujeito à recuperação judicial, ao contrário dos seus encargos – juros –, que deveriam 
submeter-se ao concurso.109 Discordamos desse posicionamento, pois não há essa distinção no § 4º 
do art. 49 da LFRE. 
É preciso registrar que durante o prazo de suspensão das ações e execuções, previsto no art. 
6º, § 4º, da LFRE, não será possível a venda ou a retirada do estabelecimento do devedor de bens 
de capitais que sejam essenciais ao desenvolvimento da atividade empresarial. Citem-se, como 
exemplo, os ônibus de uma sociedade transportadora em recuperação judicial, obtidas por meio 
de leasing ou alienados fiduciariamente. 
Advirta-se que precedentes do STJ, ao nosso sentir trazendo enorme insegurança jurídica, 
impedem a retomada do bem após o decurso do stay period ou, pior ainda, mesmo depois de 
homologado o plano de recuperação, quando o juiz se convencer da sua essencialidade para o 
devedor. Revela-se, ao nosso sentir, um verdadeiro absurdo “suspender” indefinidamente o direito 
de propriedade do credor, porque dessa forma ele não recebe nem fora e nem dentro do processo 
de recuperação. De toda forma, confira-se: 
 
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. BENS DADOS EM GARANTIA 
FIDUCIÁRIA. PRINCÍPIO DA PRESERVAÇÃO DA EMPRESA. 
BENS ESSENCIAIS. SUJEIÇÃO AOS EFEITOS DA 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SÚMULA 83/STJ. 
1. Hipótese em que a Corte a quo entendeu, observando o princípio da 
preservação da empresa, que os bens objetos do litígio, mesmo que 
oferecidos como garantia fiduciária, não poderiam ser retirados da posse 
da recuperanda, por serem essenciais à manutenção das atividades 
empresariais. 
2. O acórdão recorrido está em harmonia com a jurisprudência do STJ, 
segundo a qual o credor titular da posição de proprietário fiduciário ou 
detentor de reserva de domínio de bens móveis ou imóveis não se sujeita 
aos efeitos da recuperação judicial (Lei 11.101/2005, art. 49, § 3º), 
ressalvados os casos em que os bens gravados por garantia de alienação 
 
108 STJ, AgRg no Ag 1197871/SP. Rel. ministra Maria Isabel Gallotti, 4ª Turma, Julgamento: 11/12/2012, DJe, 19/12/2012 
109 STJ, REsp 1810447/SP. Rel. ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, Julgamento: 05/11/2019, DJe, 22/11/2019. 
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Nota
Prorrogação do stay period = durante 180 dias do devedor em recuperação judicial, a partir do despacho do processamento ele fica protegido contra execuções,contra penhora dos seus credores em demandas individuais, a fim de que todos se habilitem no processo de recuperação judicial e ai tentem uma solução amigável com o devedor. A jurisprudência do STJ permitia a prorrogação deste prazo. O legislador resolveu criar um limite e a nova redação do art 6 só permite esta prorrogação uma única vez por mais 180 dias, trazendo a possibilidade dos credores apresentarem um plano alternativo a aquele apresentado pelo devedor
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fiduciária cumprem função essencial à atividade produtiva da sociedade 
recuperanda (AgInt no AgInt no AgInt no CC 149.561/MT, Rel. 
Ministro Luis Felipe Salomão, Segunda Seção, julgado em 22/08/2018, 
DJe 24/08/2018). 
3. Estando o acórdão recorrido em consonância com a jurisprudência 
firmada nesta Corte Superior, o recurso especial não merece ser 
conhecido, ante a incidência da Súmula 83/STJ: "Não se conhece do 
recurso especial pela divergência, quando a orientação do Tribunal se 
firmou no mesmo sentido da decisão recorrida". 
4. Agravo Interno não provido. 
(AgInt no AREsp 1660732/MG, Rel. Ministro LUIS FELIPE 
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/09/2020, DJe 
22/09/2020). Nesse sentido, AgInt no AREsp 1475536/RS, Rel. 
Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 
24/08/2020, DJe 27/08/2020. 
 
Depositante de coisas fungíveis 
Questão interessante envolve os contratos de depósito de coisas fungíveis, como sacas de 
soja, de algodão e de milho, nas recuperações judiciais dos armazéns gerais. Esses depositantes 
devem submeter-se ao processo, sendo arrolados como credores de obrigações dar, entregar? 
Ayoub e Cavalli defendem que esses depositantes não se sujeitam à recuperação judicial, 
podendo reivindicar normalmente os seus bens, sob pena de configuração de apropriação ilícita, salvo 
se ficar comprovado que o depósito é irregular, como o bancário, nos termos do art. 645 do CC.110 
 
Dívida propter rem – despesas condominiais 
As dívidas condominiais dos imóveis ocupados pela devedora anteriores ao seu pedido de 
recuperação judicial são créditos concursais, ou seja, devem submeter-se aos efeitos novatórios do 
plano de recuperação judicial aprovado pelos credores e homologado judicialmente? 
Essa questão realmente não é simples, e nesses 15 anos de vigência da LFRE a 
jurisprudência já foi e voltou diversas vezes, inclusive nos feitos falimentares. Inicialmente, como a 
dívida propter rem é inerente ao próprio bem, a jurisprudência era no sentido de que ela tinha 
absoluta prioridade quando da venda do bem, razão pela qual a dívida condominial era 
considerada crédito não concursal, tanto na falência como na recuperação judicial. Contudo, 
 
110 AYOUB, Luiz Roberto; CAVALLI, Cássio. A construção jurisprudencial da recuperação judicial de empresas. 3. ed. Rio 
de Janeiro: Forense, 2017. p. 48. 
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houve mudança de orientação quando a 2ª Seção do STJ passou a considerar a dívida propter rem 
sujeita ao concurso, nos seguintes termos: 
 
3. No caso dos autos, em que as obrigações devidas são originárias de 
despesas condominiais consideradas propter rem, o tratamento a ser 
dado aos bens que garantem tais créditos é o mesmo: esses imóveis 
devem integrar o ativo da massa e as cotas condominiais respectivas 
serão habilitadas na ordem de sua classificação, concorrendo com os 
credores de mesma categoria (...). 
(CC 37.178/GO, Rel. Ministro CESAR ASFOR ROCHA, 2ª SEÇÃO, 
julgado em 26/04/2006, DJ 21/08/2006, p. 225) 
 
Mais adiante, entretanto, o STJ voltou a decidir que a dívida propter rem não é do falido ou 
do devedor em recuperação judicial, mas, sim, da própria coisa, razão pela qual não precisaria ser 
habilitada e não estaria sujeita ao concurso de credores. Confira-se: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO 
ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. 
AÇÃO DE COBRANÇA DAS DESPESAS CONDOMINIAIS. 
POSTERIOR FALÊNCIA DA ORA RECORRENTE. TAXAS 
CONDOMINIAIS ANTERIORES À FALÊNCIA QUE SE 
REFEREM À MANUTENÇÃO DA COISA. NATUREZA PROPTER 
REM. PREFERÊNCIA SOBRE OS CRÉDITOS ATRIBUÍDOS À 
MASSA FALIDA. IMPOSSIBILIDADE DE SUSPENSÃO DA 
EXECUÇÃO DOS CRÉDITOS. CARÁTER EXTRACONCURSAL. 
ENTENDIMENTO DOMINANTE NESTA CORTE. SÚMULA Nº 
568 DO STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO, COM 
IMPOSIÇÃO DE MULTA. (...). 2. A atual jurisprudência desta Corte 
Superior é no sentido de que a taxa de condomínio se enquadra no 
conceito de despesa necessária à administração do ativo, tratando-se, 
portanto, de crédito extraconcursal, não se sujeitando à habilitação de 
crédito, tampouco à suspensão determinada pelo art. 99 da Lei de 
Falências. Precedentes. (...). 
(AgInt no REsp 1646272/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, 
TERCEIRA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 30/04/2018). 
 
Finalmente, e agora analisando um precedente específico de recuperação judicial, o 
Ministro Luis Felipe Salomão, no dia 2 setembro de 2020, proferiu a seguinte decisão 
monocrática denegatória de Recurso Especial: 
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RECURSO ESPECIAL. DIREITO COMERCIAL E 
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE DESPESAS 
CONDOMINIAIS. CRÉDITO EXTRACONCURSAL. 
EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL. HABILITAÇÃO 
DE CRÉDITO E SUSPENSÃO DO FEITO. NÃO 
CABIMENTO. 1. Os débitos condominiais estão compreendidos 
no conceito de despesas necessárias à administração do ativo, 
enquadrando-se como crédito extraconcursal. Portanto, não se 
sujeitam à habilitação de crédito e à competência do juízo universal. 
2. Recurso especial não provido. (...). - É cediço que sendo a taxa 
condominial obrigação de caráter propter rem, ou seja, que surge 
por causa da própria coisa, tem-se que o seu pagamento visa não só 
a manutenção do imóvel gerador do débito, mas também a do 
condomínio do qual faz parte. Destarte, o crédito decorrente da 
taxa condominial não está sujeito à recuperação judicial, 
podendo a execução se processar normalmente, à medida que o 
pagamento das despesas condominiais é necessário à proteção 
do patrimônio da agravante e, por consequência, preserva o 
imóvel que poderá ser alienado, eventualmente, para garantir o 
plano de recuperação. (...). 
(STJ, REsp. 1879799-GO. Min. Luis Felipe Salomão. Decisão 
Monocrática publicada em 02/09/2020). 
 
Singularidade dos créditos sujeitos à recuperação judicial do produtor 
rural 
Na recuperação judicial do produtor rural, por força dos §§ 6º, 7º, 8º e 9º do art. 49, da 
LFRE, não estarão sujeitos aos seus efeitos os seguintes créditos: 
1º- Os créditos referentes às operações estranhas à atividade rural; 
2º - Os créditos não discriminados nos documentos que compõem a escrituração regular do 
produtor rural, previstos nos §§ 2º e 3º do art. 48, da LFRE; 
3º - Os créditos decorrentes de operações de fomento à atividade rural, disciplinados nos 
arts. 14 e 21 da Lei 4.829/65, desde que já tenham sido renegociados antes do pedido de 
recuperação com a respectiva instituição financeira; 
4º - Os créditos relacionados à dívida contraída nos 3 últimos anos anteriores ao pedido de 
recuperação com a finalidade de aquisição de propriedade rural, inclusive as garantias. 
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Por enquanto, na esteira da jurisprudência majoritária do STJ, o crédito decorrente da 
Cédula de Produto Rural (CPR) está sujeito aos efeitos do processo de recuperação judicial. 
 
Problemática da trava bancária 
Em muitos casos, a exclusão ora em exame praticamente esvazia o instituto da recuperação 
judicial, uma vez que se tem tornado cada vez mais comum a exigência de garantias fiduciárias, ou 
instrumentos correlatos, como condição sine qua non para a concessão de crédito no mercado, de 
maneira que apenas uma parcela ínfima do passivo do empresário em dificuldades estaria sujeita à 
renegociaçãono bojo de um processo de recuperação judicial. 
A grande vilã das recuperações judiciais, assim, seria a denominada “trava bancária”, 
materializada pelos contratos de mútuo garantidos pela cessão fiduciária dos recebíveis do 
devedor, performados e não performados. 
Não por outro motivo, inúmeras teses foram criadas para tentar “quebrar” a trava bancária, 
submetendo os créditos desses contratos aos efeitos do processo de recuperação judicial e, por 
consequência, liberando esse fluxo de recebíveis para utilização no capital de giro dos devedores. 
A primeira tese sustenta que essa cessão fiduciária de recebíveis só poderia ser admitida se 
recaísse sobre títulos de crédito stricto sensu, e não sobre “créditos em geral”, com base em uma 
interpretação restritiva dos termos do art. 66-B, da Lei nº 4.728/65, que só se refere à alienação 
fiduciária de coisa móvel, fungível e infungível, e títulos de crédito.111 Essa tese, contudo, é 
rechaçada pela jurisprudência majoritária,112 sobretudo do STJ,113 que admite a alienação fiduciária 
de direitos de crédito, uma vez que estes são equiparados aos bens móveis pelo art. 82, III, do CC. 
Uma segunda tese exige que os contratos estejam registrados no cartório de títulos e 
documentos, sob pena de não se aperfeiçoar a garantia fiduciária.114 O STJ, por reiterados 
precedentes da 3ª Turma, decidiu pela desnecessidade do registro dos contratos para exclusão do 
crédito garantido por cessão fiduciária de recebíveis ou por reserva de domínio dos efeitos da 
recuperação judicial.115 
A terceira tese criada está amparada exclusivamente no princípio da preservação da empresa. 
Ainda que reconhecida a propriedade fiduciária da instituição financeira sobre os recebíveis, o 
juízo da recuperação poderia determinar a quebra parcial da trava, durante o prazo do stay period, 
 
111 TJRJ, 0042658-20.2012.8.19.0000 – Agravo de Instrumento. Des. Milton Fernandes de Souza – Julgamento: 15/01/2013 
– 5ª Câmara Cível. 
112 TJRJ, 0021547-43.2013.8.19.0000 – Mandado de Segurança. Órgão Especial. 
113 REsp 1207117/MG. Rel. ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, Julgamento: 10/11/2015, DJe, 25/11/2015. 
114 TJSP, AI 994.08.048233-0, Julgamento: 30/06/2009, v.u. Rel. José Roberto Lino Machado. 
115 Nesse sentido: REsp 1829641/SC. Rel. ministra Nancy Andrighi, 3ª Turma, Julgamento: 03/09/2019, DJe, 05/09/2019. 
REsp 1797196/SP. Rel. ministro Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, Julgamento: 09/04/2019, DJe, 12/04/2019. 
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a fim de que parte dos recebíveis futuros seja utilizada pela devedora em recuperação para 
alimentar o seu capital de giro. Nesse sentido: 
 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGRAVO INTERNO. 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. CONTRATO DE CESSÃO 
FIDUCIÁRIA DE DIREITOS CREDITÓRIOS GARANTIDO POR 
RECEBÍVEIS (TRAVA BANCÁRIA). LIBERAÇÃO DE 70% DOS 
VALORES CEDIDOS. MANUTENÇÃO. DECISÃO AGRAVADA 
QUE PONDERA O DIREITO DE CRÉDITO DO AGRAVANTE 
COM OS OBJETIVOS DE SUPERAÇÃO DA CRISE 
ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS DEVEDORAS E DA FUNÇÃO 
SOCIAL DAS EMPRESAS. ART. 47 DA LEI 11.101/05. 
IMPLEMENTAÇÃO INTEGRAL DA TRAVA BANCÁRIA 
INVIABILIZARIA A CONTINUIDADE DAS UNIDADES 
PRODUTORAS. (...). 1. Travas Bancárias. Recuperação Judicial. 
Liberação de 70% dos valores objeto de cessão fiduciária de direitos 
creditórios garantido por recebíveis. 2. A decisão agravada se volta para a 
fase postulatória inicial do processo de recuperação judicial das agravadas, 
fase em que a lei defere às recuperandas um período de reorganização 
econômico-financeira com vistas a criar um ambiente estável e propício à 
execução de estratégias necessárias à superação da crise. 3. A suspensão 
das travas bancárias, na hipótese de recuperação judicial, deve ser 
analisada de forma casuística, ainda que exista orientação no sentido de 
que a cessão fiduciária de direitos sobre títulos de crédito possui natureza 
de propriedade fiduciária. 4. A prova até aqui produzida demonstra que 
se fosse autorizado o recebimento integral dos créditos representados 
pelos recebíveis futuros, performados ou não (caso tenha ou não 
ingressado em conta o valor da operação), em poucas semanas seria 
inviável a manutenção das operações comerciais das agravadas. 5. Em 
sede de cognição sumária, a decisão agravada, que determina o bloqueio 
em favor das recuperandas de 70% dos ativos representados por 
recebíveis futuros gravados com cláusula de cessão fiduciária, mantendo-
se os valores equivalente aos 30% restantes depositados na conta de 
domicílio bancário, pondera de forma razoável o direito de crédito do 
agravante com os objetivos a serem alcançados de superação da crise 
econômico-financeira das devedoras e da função social das empresas.(...). 
PROVIMENTO PARCIAL DO RECURSO. PREJUDICADO O 
AGRAVO INTERNO. 
 
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(TJRJ, 0063637-22.2020.8.19.0000 - AGRAVO DE 
INSTRUMENTO. Des(a). MÔNICA DE FARIA SARDAS - 
Julgamento: 16/12/2020 - VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL)116. 
 
Essa tese não foi acolhida pelo STJ, que chegou a denominá-la de teratológica, conforme se 
constata pelo precedente envolvendo a Companhia Energética do Pará (Celpa).117 
Uma quarta tese, admitida inicialmente pelo TJSP, exigia a descrição pormenorizada dos 
bens e direitos cedidos fiduciariamente, sendo ineficaz a garantia pactuada em termos genéricos – 
“todas as duplicatas futuras que serão emitidas pelo devedor” ou “todo e qualquer recebível 
decorrente de contratos futuros do devedor” –, portanto, quirografário o crédito, com a 
consequente liberação de todos os recebíveis para o fluxo de caixa da devedora em recuperação 
judicial. Nesse sentido: 
 
Recuperação Judicial – Cessão fiduciária de créditos – Pretendida exclusão 
do procedimento concursal – Exame concreto da instituição da garantia 
fiduciária – Ausência de descrição dos bens afetados, sem atendimento aos 
requisitos previstos nos arts. 1362, inciso IV do CC/02 e 66-B da Lei 
4528/65 – Decisão mantida – Recurso desprovido (AI, 2011315-
69.2015.8.26.0000, Relator: Fortes Barbosa; Comarca: Americana; Órgão 
julgador: 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial; Julgamento: 
26/08/2015; Registro: 28/08/2015). 
 
O STJ refutou essa tese sob os seguintes fundamentos: 
 
RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PRETENSÃO DE EXCLUSÃO DE 
CRÉDITO CEDIDO FIDUCIARIAMENTE AO ARGUMENTO DE 
QUE O TÍTULO DE CRÉDITO (DUPLICATAS VIRTUAIS) NÃO 
SE ENCONTRARIA DEVIDAMENTE DESCRITO NO 
INSTRUMENTO CONTRATUAL. DESCABIMENTO. CORRETA 
DESCRIÇÃO DO CRÉDITO, OBJETO DE CESSÃO. 
RECONHECIMENTO. OBSERVÂNCIA DA LEI DE REGÊNCIA. 
RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A controvérsia posta no presente 
recurso especial cinge-se em saber se, para a perfectibilização do negócio 
fiduciário, a permitir a exclusão do credor titular da posição fiduciária 
dos efeitos da recuperação judicial, no específico caso de cessão fiduciária 
 
116 A jurisprudência do TJRJ está bem dividida em relação a essa tese. Confira-se precedente em sentido oposto: 0060873-
97.2019.8.19.0000 – Agravo de Instrumento. Des(a). Sergio Ricardo de Arruda Fernandes – Julgamento: 18/08/2020 – 1ª 
Câmara Cível. 
117 STJ, EDcl no RMS 41.646/PA. Rel. ministro Antonio Carlos Ferreira, 4ª Turma, Julgamento: 24/09/2013, DJe, 11/10/2013. 
 
 
 
 
 143 
 
de direitos creditórios, o correlato instrumento deve indicar, de maneira 
precisa, os títulos representativos do crédito (in casu, duplicatas virtuais), 
como entendeu o Tribunal de origem; ou se é o crédito, objeto de cessão, 
que deve estar suficientemente identificado, como defende o banco 
recorrente. [...]. 4. A exigência de especificação do título representativo 
do crédito, como requisito formal à conformação do negócio fiduciário, 
além de não possuir previsão legal – o que, por si, obsta a adoção de uma 
interpretação judicial ampliativa – cede a uma questão de ordem prática 
incontornável.Por ocasião da realização da cessão fiduciária, afigura-se 
absolutamente possível que o título representativo do crédito cedido não 
tenha sido nem sequer emitido, a inviabilizar, desde logo, sua 
determinação no contrato (REsp 1797196/SP, Rel. ministro Marco 
Aurélio Bellizze, 3ª Turma, Julgamento: 09/04/2019, DJe, 12/04/2019). 
 
Após enfrentar essa tormentosa questão inúmeras vezes, passamos a adotar um 
posicionamento intermediário e que, sob a nossa ótica, ainda não foi profundamente discutido no 
âmbito da 2ª Seção do STJ. Defendemos a manutenção da denominada “trava bancária” em 
relação a todos os recebíveis performados até a data do pedido de recuperação judicial, ainda que 
vincendos. Logo, todos os recebíveis cedidos relativos às operações concretizadas pelo devedor até 
a data do pedido de recuperação pertencem à instituição financeira credora e não podem ser 
liberados em favor do devedor, por maior que seja a sua dificuldade. Por seu turno, o saldo a 
“descoberto” na data do pedido de recuperação judicial possui natureza quirografária e deve 
submeter-se ao concurso. 
Nessa linha de ideias, confira-se o Enunciado nº 51 da I Jornada de Direito Comercial do CJF: 
“51 – O saldo do crédito não coberto pelo valor do bem e/ou da garantia dos contratos previstos no § 
3º do art. 49 da Lei nº 11.101/2005 é crédito quirografário, sujeito à recuperação judicial”. 
Por consequência, todos os recebíveis relativos às novas operações realizadas pelo devedor, 
ou seja, aquelas concretizadas após a data do pedido de recuperação, não podem ser retidas pela 
instituição financeira, sob pena de violação do princípio pars conditio creditorum. Seguindo essa 
trilha, confira-se o recente precedente do TJSP: 
 
Recuperação Judicial. Credor com garantia fiduciária sobre "recebíveis" 
(direitos creditórios da recuperanda oriundos de faturas de cartões de 
crédito, cujos valores são depositados em conta vinculada ao contrato de 
dívida). Decisão que determinou a devolução dos valores retidos pelo 
credor fiduciário na conta vinculada à respectiva cédula de crédito 
bancário. Alienação fiduciária regularmente constituída, diante da 
desnecessidade do registro da cédula de crédito bancário no Registro de 
Títulos e Documentos do domicílio da devedora como pressuposto para 
 
144 
 
a constituição da garantia. Existência de especialização da garantia. 
Cessão de crédito futuro possível. A retenção com base em crédito 
"performado" (constituído até a distribuição da recuperação) é 
irrepreensível; a do crédito a "performar" (não constituído até a 
distribuição da recuperação), contudo, não legitima as retenções, pois 
não constituída a alienação fiduciária. Essencialidade do dinheiro 
(recebíveis) que não enseja a aplicação da exceção prevista na parte final 
do § 3º do art. 49 da Lei de Recuperação e Falência, por não se tratar de 
bem de capital, tampouco o § 5º do mesmo artigo, que disciplina o 
penhor. Decisão reformada em parte para autorizar a liberação, em favor 
da recuperanda, apenas dos valores retidos após a distribuição da 
recuperação judicial (créditos "não performados"). Restituição, ao credor 
fiduciário do que retido antes deste termo (créditos "performados"). 
Recurso parcialmente provido (TJSP; Agravo de Instrumento 2047748-
33.2019.8.26.0000; Relator (a): Araldo Telles; Órgão Julgador: 2ª 
Câmara Reservada de Direito Empresarial; Foro de Jandira – 1ª Vara; 
Data do Julgamento: 24/09/2019). 
 
Deferimento do processamento do pedido 
Ao apreciar a petição inicial, o juiz verificará se os requisitos exigidos pelos arts. 48 e 51 da 
LFRE foram atendidos e, em caso positivo, deferirá o processamento do pedido, nomeando-se o 
administrador judicial. Note-se que esse despacho não se confunde com a decisão concessiva da 
recuperação judicial, já que se limita a acolher o pedido de tramitação da ação118 e, embora de 
cognição limitada, desafia recurso de agravo de instrumento,119 pois encerra verdadeira decisão 
interlocutória, com importantes efeitos sobre os direitos e obrigações do devedor e dos credores.120 
Esse despacho de processamento conterá também as providências e produzirá os efeitos 
mencionados nos incisos do art. 52 da LFRE. Ademais, será determinada a expedição de edital, na 
forma do § 1º do art. 52 da nova Lei de Falências, contendo o resumo do pedido e da decisão, a 
relação nominal dos credores, a discriminação do valor atualizado e a classificação de cada crédito, 
além das advertências acerca dos prazos para apresentação de habilitações e divergências. 
 
118 COELHO, Fábio Ulhoa. ob. cit. p. 153-154. 
119 Enunciados nº 52 e 102 das Jornadas de Direito Empresarial e nº 61 das Jornadas de Direito Processual Civil, ambas 
do CJF. 
120 SALOMÃO, Luis Felipe; SANTOS, Paulo Penalva. Recuperação judicial, extrajudicial e falência: teoria e prática. 2. ed. 
Rio de Janeiro: Forense, 2015. p. 338. 
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Registre-se que, nos termos do § 4º do art. 52 da LFRE, a partir do deferimento do 
processamento do pedido de recuperação, o devedor somente poderá desistir da reestruturação 
mediante aprovação dos credores em assembleia. 
Outros importantes efeitos são causados pelo deferimento do processamento do pedido de 
recuperação judicial. Vejamos os principais. 
 
Dispensa das certidões negativas 
A partir do despacho de deferimento do processamento da recuperação, o devedor não mais 
precisará apresentar as CNDs para o normal prosseguimento das suas atividades, por exemplo, 
para renovação de um alvará ou para obtenção de uma licença para construção. A recente reforma 
retirou da parte final do inciso II do art. 52 da LFRE o seu trecho mais polêmico, “exceto para 
contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou 
creditícios, observando o disposto no art. 69 desta Lei”. 
Com efeito, os devedores em recuperação judicial poderão participar de licitações e 
receber incentivos fiscais e creditícios se preencherem os demais requisitos exigidos pela 
legislação, em especial não possuírem débitos com o sistema de seguridade social, conforme § 3º 
do art. 195 da CF/88. 
 
Stay period e suspensão da prescrição 
Deferido o processamento, suspendem-se o prazo prescricional e as execuções em trâmite 
contra o devedor, assim como ficam proibidos quaisquer atos de constrição contra o seu 
patrimônio, na forma do art. 52, III, c/c o art. 6º, incisos II e III, da LFRE, fenômeno esse 
denominado de stay period. Note-se que as ações ilíquidas em tramitação contra o devedor não são 
afetadas e terão o seu prosseguimento normal, devendo os interessados pleitear perante os seus 
respetivos juízos de origem a reserva de valores junto ao juízo da recuperação judicial, conforme 
§§ 1º e 3º do art. 6º da LFRE. 
Uma vez transitada eventual condenação do devedor naquela ação ilíquida, o crédito 
definitivo poderá ser informado por meio de habilitação retardatária ou, como sempre 
defendemos, por meio de simples ofício do juízo de origem ao juízo da recuperação. 
O § 4º do art. 6º da LFRE prevê que esse prazo de suspensão será de 180 dias corridos e, 
em casos excepcionais, desde que não sejam decorrentes de culpa do devedor, poderá ocorrer uma 
única prorrogação por mais 180 dias. Esse prazo deve ser suficiente para que o plano de 
recuperação judicial proposto pelo devedor seja deliberado pelos credores, pois, do contrário, estes 
terão o direito de apresentar um plano alternativo, na forma do art. 4-A da LFRE, hipótese em 
que o stay period será renovado por mais 180 dias, conforme o inciso II desse parágrafo. 
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É importante ressaltar que não se suspendem as execuções dos créditos não sujeitos ao 
processo de recuperação judicial, inclusive as execuções fiscais121. Nesses casos, o juízo da execução 
poderá determinar a constrição de bens do devedor em recuperação judicial, resguardada a 
competência do juízo da recuperação, apenas, para determinar, por meio de ato concertado de 
cooperação jurisdicional122, a SUBSTITUIÇÃO do bem penhorado por outro menos relevante 
para a continuidade da empresa, conforme art. 6º, § 7º-B, da LFRE. Nessa toada, deve ser 
revisitada a jurisprudência do STJ que conferia apenas ao juiz da recuperação judicial a 
competência para determinar todos os atos que impliquem restrição patrimonial do devedor em 
recuperação judicial, representada abaixo pelo seguinte precedente: 
 
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO CONFLITO DE 
COMPETÊNCIA. INCIDENTE MANEJADO SOB A ÉGIDE DO 
NCPC. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DEPÓSITO JUDICIAL. 
COMPETÊNCIA DO JUÍZO DO SOERGUIMENTO PARA 
TODOS OS ATOS QUE IMPLIQUEM RESTRIÇÃO 
PATRIMONIAL. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 
1. Aplicabilidade do NCPC neste julgamento conforme o Enunciado 
Administrativo nº 3 aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 
9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão 
exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 
2. Tratando-se de recuperação judicial, o destino dos bens da empresa 
seguirá o que estiver fixado no plano aprovado, a cuja decisão se submete 
o juízo cível. 
3. A competência do juízo do soerguimento visa garantir a preferência 
dos créditos e direcionar a execução ao juízo universal que deverá avaliar 
a essencialidade dos bens passíveis de constrição, bem como a solidez do 
fluxo de caixa da recuperanda. 
4. Agravo interno não provido. 
(AgInt no CC 171.765/PR, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, 2ª 
SEÇÃO, julgado em 09/12/2020, DJe 11/12/2020) 
 
No que toca aos créditos não sujeitos aos efeitos do processo de recuperação judicial 
previstos nos §§ 3º e 4º do art. 49 da LFRE, em caso de inadimplemento do devedor, o § 7º-A 
do art. 6º da LFRE permite a execução desses contratos, mas impede a retomada dos bens de 
 
121 STJ, REsp 1488778/SC. Rel. ministro Herman Benjamin, 2ª Turma, Julgamento: 23/02/2016, DJe, 30/05/2016. 
122 Art. 69 do Código de Processo Civil. 
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capital essenciais à manutenção da atividade do devedor durante o stay period. Portanto, caso isso 
ocorra, poderá o juiz da recuperação judicial determinar a suspensão desse ato de constrição por 
meio de ato concertado de cooperação de jurisdição, previsto no art. 69 do CPC. 
Por outro lado, o mesmo STJ firmou posicionamento pelo prosseguimento das ações de 
despejo contra o devedor em recuperação judicial, inclusive durante o stay period: 
 
PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. 
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL (LEI N. 11.101/05). 
AÇÃO DE DESPEJO C/C COBRANÇA DE ALUGUÉIS. DEMANDA 
ILÍQUIDA. EXECUÇÃO. MONTANTE APURADO. HABILITAÇÃO 
DO CRÉDITO NO JUÍZO DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL. 1. Não 
há óbice ao prosseguimento da ação de despejo promovida em desfavor de 
empresa em recuperação judicial por constituir demanda ilíquida não sujeita 
à competência do juízo universal. 2. Por mais que se pretenda privilegiar o 
princípio da preservação da empresa, não se pode afastar a garantia ao direito 
de propriedade em toda a sua plenitude daquele que, durante a vigência do 
contrato de locação, respeitou todas as condições e termos pactuados, 
obtendo, ao final, decisão judicial – transitada em julgado – que 
determinou, por falta de pagamento, o despejo do bem objeto da demanda. 
3. O crédito referente à cobrança de aluguéis deve ser habilitado nos autos 
do processo de recuperação judicial (AgRg no CC 133.612/AL, Rel. 
ministro João Otávio de Noronha, 2ª Seção, Julgamento: 14/10/2015, DJe, 
19/10/2015). 
 
Mais uma vez, discordamos da orientação do STJ, pois defendemos que o despejo só pode 
ser decretado pelo não pagamento dos aluguéis posteriores ao pedido de recuperação judicial123, 
uma vez que os anteriores estão sujeitos aos efeitos do processo, e o seu pagamento seria uma 
afronta ao princípio pars conditio creditorum. 
 
Prestação mensal de contas 
Caberá ao administrador judicial acompanhar as atividades do devedor, reportando ao 
processo mensalmente, por meio de um relatório analítico das contas, tudo o que for relevante 
para o juízo, para o ministério público e, principalmente, para os credores. 
 
123 Nesse sentido: AYOUB, Luiz Roberto; CAVALLI, Cássio. A construção jurisprudencial da recuperação judicial de 
empresas. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 42. 
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Essa tomada de contas não se deve restringir ao exame dos documentos contábeis do 
devedor, sendo oportuna vistorias in loco nos estabelecimentos do devedor para comprovar a 
veracidade das informações prestadas. 
Na esteira da nova redação do art. 22, inciso II, alínea “c”, da LFRE, o administrador 
judicial passa a ter o dever de fiscalizar a veracidade das informações prestadas pelo devedor, em 
um papel tipicamente de auditoria externa. 
 
Intimação do Ministério Público e das Fazendas 
A participação do ministério público já foi amplamente analisada no capítulo referente às 
falências, não havendo maiores controvérsias sobre a sua atuação após a decretação da falência. O 
mesmo, contudo, não acontece nos processos de recuperação judicial, haja vista que 
frequentemente se debate a presença do interesse público a justificar a intervenção ministerial. 
Certa ocasião, ao analisar o recurso do Ministério Público contra a decisão do juízo de que a 
oitiva do promotor de justiça, fora das hipóteses expressamente previstas na lei, era uma faculdade 
do magistrado, decidiu o TJRJ: 
 
Empresa em recuperação judicial – A intervenção do Ministério Público, 
em processo de recuperação judicial, é obrigatória, na forma do artigo 52, 
inciso V da Lei nº 11.101/2005, sendo-lhe conferida a prerrogativa de 
intimação pessoal dos atos do processo, nos termos do artigo 84, 
combinado com o parágrafo 2º do artigo 236, pena de nulidade absoluta, 
conforme artigo 246 do Código de Processo Civil. 
(TJRJ, 0015971-98.2015.8.19.0000 – AGRAVO DE 
INSTRUMENTO, DES. CAMILO RIBEIRO RULIERE – 
Julgamento: 07/07/2015 – PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL). 
 
Já sob a égide do CPC/2017, ao enfrentar outro recurso interposto pelo Ministério Público 
contra decisão de primeiro grau que mandou colocar na capa de todos os processos de 
recuperação judicial a proibição de remessa ao promotor de justiça, mais uma vez decidiu o TJRJ: 
 
Agravo de Instrumento. Ação de Recuperação Judicial. Decisão pela 
desnecessidade de atuação do Parquet na ação recuperacional. 
Inconformismo. Intervenção obrigatória do Ministério Público. Fiscal da 
ordem jurídica. Inteligência do art. 52, V da Lei 11.101/05 e art. 178, I 
do CPC/15. Atribuição exclusiva do Ministério Público na identificação 
da existência do interesse que justifique a intervenção da Instituição na 
causa. Presença de interesse público primário. Garantia de 
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desenvolvimento equilibrado da ordem econômica. Tutela de bens 
jurídicos coletivos ou supraindividuais. Aplicação do art. 170 CF/88. 
Ministério Público como guardião da ordem econômica. Precedentes. 
Recurso provido. 
(TJRJ, AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 0036247-
82.2017.8.19.0000. RELATOR: DES. JOSÉ CARLOS VARANDA. 
Julg. em 13/09/2017). 
 
Dessa forma, caberá ao representante do Ministério Público, na oportunidade em que for 
intimado do despacho de deferimento do processamento

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