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78 ASPECTOS HISTÓRICOS 1. Introdução · A busca pelo crédito para as atividades sempre foi o mote do ser humano, a partir do momento em que passa a entender a necessidade de sobrevivência através da produção de bens de consumo; · Contudo, nem sempre havia o cumprimento em dia com as obrigações anteriormente pactuadas, o que levava à execução do devedor, mediante pagamento forçado das dívidas; · Nesse diapasão, surge o termo fallere, advindo do latim, que significa faltar, fracassar. Contudo essa mesma expressão se desenvolveu de forma diversa em outros locais, como na Itália (Banco Rotto) e nas ordenações portuguesas (Quebra); · Essa questão da quebra, falência, da recuperação (judicial ou extrajudicial) tem muita relação com a questão da crise vivida pela sociedade empresária. Contudo, essa crise pode ser econômica, financeira, patrimonial, cada uma olhada sob uma ótica diferente. Crise econômica Crise financeira Crise patrimonial Quando as vendas de produtos ou serviços não se realizam na quantidade necessária para manter o negócio. Quando falta à sociedade empresária recursos em caixa para pagar as obrigações. Quando o ativo é inferior ao passivo, ou seja, se as dívidas superarem os bens da sociedade empresária. · Partindo dessa premissa, o mundo jurídico precisava criar mecanismos para cuidar da saúde das sociedades empresárias, beneficiando aquelas que fossem competentes na gestão dos seus negócios e retirando as demais do mercado, principalmente aquelas que não conseguissem gerir seus interesses; · Esses institutos percorreram longos caminhos, até chegar ao patamar que hoje se encontra dentro do ordenamento jurídico, seja ele mundial ou até brasileiro. 2. Evolução histórica · Na antiguidade, a execução do devedor era feita na própria pessoa. Podia-se dizer que as obrigações eram assumidas pelo corpo do devedor, a ser promovida pelo próprio credor (essa ideia vigorou dentro do Código de Hamurabi, dentro do Código de Manu); · Na Roma antiga, houve um período no qual o devedor respondia por suas obrigações com a própria liberdade (seria escravizado) e às vezes até mesmo com a própria vida. A garantia do credor era a pessoa do devedor; · O quadro começa a mudar com a edição da Lex Poetelia Papiria, em 428 a. C., na qual se proibia o encarceramento, a venda como escravo e a morte do devedor. Desse modo, o direito romano passa a conter regras que consagravam a responsabilidade patrimonial; · Ainda dentro do direito romano, quando havia a possibilidade de quebra, os bens do devedor eram administrados por 1 curador nomeado pelo pretor. Após a administração, os bens deveriam ser vendidos para quitar dívidas. Pontua-se que a venda era feita até o total da dívida do devedor em relação a determinado credor; · Contudo, surge a seguinte indagação: e quando o patrimônio do devedor não fosse suficiente para saldar as dívidas, o que poderia ser feito? A solução se encontrava na legislação justiniana; · No direito Justiniano, havia a previsão da missio in possessio bonorum, onde os credores adquiririam a posse comum dos bens do devedor, passando a ser administrados por um curador. A partir de então, os credores adquiriam o direito de vender os bens do devedor, com o intuito de saldar a dívida; · Nesse tempo, observa-se que não havia uma preocupação com a recuperação da atividade empresária, mas sim uma visão repressiva do nascente direito falimentar. Sob essa ótica, o direito falimentar era visto sob a ótica de prática de atos ilícitos, de abusos cometidos na gestão das sociedades empresárias, bem como na prática de crimes falimentares; · Na Idade Média, o Estado passa a executar o patrimônio do devedor, passando a ser componente na relação, ainda que seja como figura incipiente (organização política); · Pode-se dizer que essa doutrina a respeito do direito falimentar começa a ser construída principalmente nas cidades italianas, a partir da fixação dos usos e costumes mercantis. Por outro lado, a execução do patrimônio do devedor era estendida a qualquer tipo de devedor, seja ele comerciante ou não; · Na Idade Média, fica de lado a iniciativa dos próprios credores, que no período romano possuíam poder preponderante ficando a autoridade judiciária com uma intervenção quase homologatória, dando lugar para a tutela estatal, assumindo especial relevo, pois condiciona a atuação dos credores à disciplina judiciária; · O concurso creditório é rigidamente disciplinado, com a obrigatoriedade de os credores habilitarem-se em juízo, por onde se processa a arrecadação dos bens do devedor, atribuindo-se ao juiz a função de zelar – para que se guardasse e vendesse, partilhando-se o produto entre os credores; · Ainda existia, neste período, no procedimento de execução coletiva, sérias e graves consequências para o devedor. A falência é vista como um delito, assim, poderia ser imposta ao devedor honesto a pena de infâmia cominada com outras penas vexatórias. Caso agisse fraudulentamente seriam mais graves as sanções, podendo inclusive, o comissário da falência, apoderar-se da pessoa do devedor, dispondo de seus bens e até mesmo submetê-lo ao pelourinho (no caso de o devedor, dolosamente, subtrair bens de valor superior a vinte libras); · Foi justamente na Codificação Napoleônica, de 1804, que o caráter penal da falência começou a ser retirado, colocando-se, em seu lugar, um caráter mais comercial e até mesmo cível; · A falência também encontrou ressonância nas Ordenações de 1673 (na França). O Código Comercial francês, de 1807 (conhecido também como Código Savary) constituiu grande evolução à falência, ainda restrita ao devedor comerciante, embora ainda impusesse severas restrições a este; · O Código Comercial Francês regulamentou a falência e a concordata, impondo-se definitivamente como um dos principais ramos do Direito Comercial, o Direito Falimentar, embora continuasse considerando o devedor faltoso como um criminoso; · A codificação napoleônica foi a responsável por causar profundas mudanças dentro do direito privado. A principal foi, sem dúvida, a divisão em dois grandes ramos, autônomos, com a consequente criação do direito comercial, responsável por disciplinar as atividades mercantis, identificada na teoria dos atos de comércio; · O direito falimentar, na ótica dessa codificação, passou a ser um conjunto de regras especiais, aplicáveis aos devedores insolventes que revestiam a qualidade de comerciantes. Havia a separação entre devedor civil (aplicava as regras do direito civil), enquanto o devedor comercial insidia nas regras falimentares do direito comercial; · No século XIX, a falência passa a ser vista como punição para a sociedade empresária inadimplente, muito em decorrência do estigma que havia sob o instituto (ser visto como repreensão a ato lesivo, abusivo, até mesmo criminoso); · Contudo, com o avançar da sociedade, principalmente com as revoluções econômicas, a partir da Revolução Industrial, ecoando até mesmo na globalização, a noção de insolvência passa a ser vista como risco empresarial, próprio de determinadas atividades exercidas pelos empresários e sociedades empresárias; · A moderna concepção do direito falimentar passa a ver a concepção de preservar a atividade empresária, como geradora de empregos, de benesses para a comunidade na qual está inserida. Por outro lado, muitas pessoas (naturais ou jurídicas) passam a depender dessa atividade, de forma a fomentar o mercado e a circulação de bens e serviços. Por isso, nota-se essa preocupação em reservar a falência somente para os realmente irrecuperáveis. 3. O direito falimentar no Brasil · Durante todo o período colonial, o Brasil esteve sujeito às Ordenações do Reino de Portugal (Afonsinas, Manuelinas e Filipinas). Baseadas no direito italiano, a parte falimentar tinha regras severas para o devedor; · Em 1521, as Ordenações Afonsinas, considerada o primeiro código impresso europeu, foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas, elaboradas pelo Rei D. Manoel. As Ordenações Manuelinas previam que ocorrendo a falência, o devedor· Além disso, deve-se afastar os maus gestores, dar aproveitamento econômico para a unidade produtiva, através da alienação de todos os bens e posterior pagamento aos credores interessados; · A falência se caracteriza como um processo de execução coletiva, decretado judicialmente dos bens do devedor comerciante, ao qual concorrem todos os credores para o fim de arrecadar o patrimônio disponível, verificar os créditos, liquidar o ativo, saldar o passivo, em rateio, observadas as preferências legais; · A falência é o processo através do qual se apreende o patrimônio do executado, para extrair-lhe valor com que atender à execução coletiva universal, a que concorrem todos os credores; · A falência deve ser considerada como um instituto jurídico que objetiva garantir os credores do comerciante insolvente, assim, considerado aquele cujo passivo é superior ao patrimônio, ou, por outras palavras, cujos bens são insuficientes para saldar seus débitos; · Além dessa finalidade, cumpre esclarecer o objetivo do direito falimentar, que é proteger a atividade empresarial, bem como o crédito, tentando diminuir o risco da inadimplência no momento em que determinado devedor tiver que honrar com as obrigações assumidas. 4. Estado de falência 4.1. Introdução · O estado falimentar do devedor é um pressuposto objetivo para a verificação da falência da sociedade empresária e do empresário individual, ou seja, para que haja a decretação da quebra do devedor se faz necessária a apuração de certos fatos e atos que dão ensejo e condicionam a qualidade falimentar do empresário; · A caracterização deste estado falimentar é objetiva, pois é a Lei 11.101/2005 que traz as configurações já predispostas. E é em razão desta presunção legal de quebra que o credor poderá pleitear a sentença de declaração da falência do devedor. 4.2. Insolvência · Desta forma, a insolvência do empresário é auferida juridicamente, ou seja, é uma presunção legal na qual em razão da impontualidade injustificada ou mesmo pela prática de atos considerados falimentares, que o devedor passa assinalar seu estado pré-falimentar; · Exatamente por isso, apenas interessa a insolvência jurídica do devedor empresário, sendo desta forma insignificante a apuração da insolvabilidade civil (fato), pois o legislador optou pelo pressuposto fático jurídico da quebra. Insolvência civil Insolvência jurídica A insolvência civil ainda conhecida como econômica, de fato e patrimonial é a condição sine qua non para que haja ação de insolvência civil disposta no Código de Processo Civil. Nesse passo, a insolvência civil assenta-se na insuficiência patrimonial do devedor em saldar todas as suas dívidas, ainda que liquidado todo seu patrimônio. Em suma é a inferioridade do ativo em relação ao passivo do devedor. Já a insolvência jurídica não é demonstrada economicamente, visto que são as ocasiões e as condutas mencionadas no artigo 94 e seus incisos I, II e III da Lei 11.101/2005 que ensejam à condição de insolvabilidade do devedor empresário, dado a presunção de que a ocorrência destas situações geralmente é praticada por quem se encontra em insolvência. 4.3. Sistema de presunções legais · Em função da insolvência jurídica se apoiar num sistema de presunções legais, nota-se que em razão desta opção legislativa, mesmo que o devedor demonstre contabilmente que não esteja num estado de ruína econômica terá sua falência declarada; · Por isso que é relativamente comum que ao final do processo falimentar tenha a existência de sobra de ativos, ou seja, as chamadas falências superavitárias. Porque a insolvência não é econômica, mas sim jurídica; · Para que o devedor empresário seja submetido à execução por falência, é rigorosamente indiferente a prova da inferioridade do ativo em relação ao passivo. Nem se faz necessário demonstrar o estado patrimonial de insolvabilidade do devedor, para que se instaure a execução concursal falimentar; nem, por outro lado, se livra da execução concursal o devedor empresário que lograr demonstrar eventual superioridade de seu ativo em relação ao seu passivo, ao contrário do que ocorre com o devedor civil; · A presunção da insolvência jurídica é autorizadora da falência do devedor empresário, e esta por sua vez apoia-se num sistema misto falimentar brasileiro. Visto que, há duas maneiras de se externar da intimidade da vida do empresário a presunção de insolvência jurídica autorizadora da quebra: pela Impontualidade injustificada (sem relevante razão de direito) e através dos atos ruinosos igualmente conhecidos como atos da falência; · A impontualidade injustificada é caracterizada nos termos dos incisos I e II do artigo 94 da Lei 11.101/2005. Já os atos ruinosos encontram respaldo legal nas alíneas do inciso III do artigo 94 da LF. 4.4. Impontualidade injustificada · Trata-se de presunção relativa, na qual se admite prova em sentido contrário, podendo ser derrubada pelo depósito elisivo (devedor faz para se elidir da situação de insolvência, sendo feito no valor da dívida, acrescidos de juros, correções, honorários advocatícios, depositado em 10 dias, a contar da citação). Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência; A impontualidade sem relevante razão de direito se mostra no momento em que o devedor empresário, não paga no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cambialmente, cujo valor supere a quantia de 40 (quarenta) salários mínimos na data do pedido de falência do empresário. Essa impontualidade, “por sua vez, exterioriza-se não pela mera cessação do pagamento, mas pelo protesto”, ou seja, mesmo que haja uma sentença judicial, essa deve ser levada ao protesto cambial, para que assim atenda o requisito condicionante da lei de falências. Através da certidão do protesto que o credor fundamentará o pedido de falência do devedor. Não é admitido nenhum outro meio de prova a não ser o protesto cambial (Lei 9.492/97). Pois, no sistema jurídico brasileiro presume-se que as obrigações são quesíveis, ou seja, o credor deve levar o título a protesto para que se configure a mora do devedor, assim assinalando a impontualidade. Cabe ainda lembrar que a lei alvitra a possibilidade da reunião de vários credores para alcançar o valor legal, permitindo assim o litisconsórcio ativo (artigo 94, parágrafo 1º). Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: II – executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal; Já a segunda hipótese de impontualidade (artigo 94, II) é vislumbrada quando o devedor empresário é executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal. Nessa situação independi de valor e protesto cambial, uma vez que é pela citação válida do executado ou mesmo da sua intimação para o cumprimento, que se pauta a caracterização da impontualidade injustificada do devedor. Desta forma, o credor deve requerer ao juízo da execução individual uma certidão que ateste a frustração da execução, e assim podendo pleitear a uma nova execução coletiva (falência) do devedor. Pedido de falência não se processa nos autos da execução, devendo o exequente providenciar perante o juízo da execução a extração de certidão atestando os fatos ocorridos no processo, bem como requerer a extinção do feito, o que habilitará a ingressar, no juízo competente, com o pedido de falência de seu devedor, tudo como previsto no parágrafo 4º, do artigo 94 da nova Lei, ‘in verbis’: ‘Na hipótese do inciso II do caput deste artigo, o pedido de falência será instruído com certidão expedida pelo juízo em que se processa a execução. 4.5. Atos de falência Art. 94. Será decretada a falência do devedor que: III — pratica qualquer dos seguintesatos, exceto se fizer parte de plano de recuperação judicial: a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos; b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não; c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para solver seu passivo; d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor; e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu passivo; f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos suficientes para pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal estabelecimento; g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial. · Quanto aos atos da falência (artigo 94, III) tem-se que são configurados quando certos comportamentos são praticados pelo devedor, salvo se esses fizerem parte de plano de recuperação judicial; · Meios ruinosos são os que consistem na pratica de negócios arriscados ou sujeitos exclusivamente à sorte, bem como atos de liberalidade ou gastos excessivos e prodigalidade; · A lei taxativamente dispõe várias condutas que se praticadas são presumidamente entendidas como atos de falência, ou seja, o rol descrito dentro do artigo 94, inciso III e suas alíneas, da LF, são taxativos (não há prova em contrário). 4.6. Depósito elisivo Enunciado nº 29 da súmula do STJ: No pagamento em Juízo para elidir falência, são devidos correção monetária, juros e honorários de advogado. · Em relação ao depósito elisivo ou depósito impeditivo da falência, há de se mencionar que deve ser feito no prazo de contestação (10 dias). Assim, o devedor poderá depositar o valor correspondente ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios; · Desta forma, não haverá a decretação da falência, entretanto é importante lembrar que tal depósito é apenas cabível nos termos dos incisos I e II do artigo 94 da Lei 11.101/2005. Uma vez que, somente nessas hipóteses em que há uma presunção relativa no que refere-se a presunção da insolvência jurídica do devedor; · A elisão pode acompanhar a defesa ou ser feita independentemente de resposta. No primeiro caso, tem nítido caráter de cautela (...), no segundo, equivale o depósito ao reconhecimento do pedido, em seu molde especifico do direito falimentar. Fato é que, uma vez efetuado o depósito, a decretação da falência está todo afastada; · No caso do inciso III (atos da falência) do artigo em comento, não há possibilidade do deposito elisivo, haja vista que a presunção de insolvência é absoluta. Não obstante, o devedor deverá pleitear sua defesa de forma a provar que não houve a condição autorizadora ou implementadora do pedido de falência alegada pelo credor. 5. Competência Art. 3o É competente para homologar o plano de recuperação extrajudicial, deferir a recuperação judicial ou decretar a falência o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil. · A questão a ser discutida, quando se trata de competência, centra-se na ideia de ser definido a partir do principal centro das atividades de determinada sociedade empresária e não o local onde seja a sede ou a matriz; · A crítica que se faz a esse dispositivo é de não ser claro o suficiente para definir o local competente para processamento do pedido de recuperação judicial ou do pedido de falência. Por conta disso, há necessidade de trabalho jurisprudencial, a ser realizado pelo STJ; · Por isso, o STJ entende como local principal o centro de atividades da sociedade empresária em que se realiza as principais atividades de gestão (denominado aqui de eixo de gestão principal), tratando-se de local diferente da sede estipulada em contrato ou estatuto); · Embora não seja uma norma clara, que precisa de detalhamento jurisprudencial, o seu intuito é evitar fraudes e conluios no processamento da falência e/ou da recuperação judicial. 6. Juízo universal da falência · O juízo da falência é denominado juízo universal, pois é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido. Art. 76. O juízo da falência é indivisível e competente para conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas trabalhistas, fiscais e aquelas não reguladas nesta Lei em que o falido figurar como autor ou litisconsorte ativo. Parágrafo único. Todas as ações, inclusive as excetuadas no caput deste artigo, terão prosseguimento com o administrador judicial, que deverá ser intimado para representar a massa falida, sob pena de nulidade do processo. · Essa vis atractiva (força de atração) se fundamenta na necessidade de dar ampla proteção a todos que mantenham relação jurídica com o devedor, além dos que tenham interesse sobre a empresa, principalmente trabalhadores, comunidade geral, Estado (denominados stakeholders); · Contudo, por força do artigo 76 da LF, há causas nas quais não se vislumbra a via atrativa do juízo falimentar, sendo elas: (1) causas trabalhistas, (2) causas fiscais e (3) causas em que o devedor seja polo ativo ou esteja em litisconsórcio ativo. Art. 78. Os pedidos de falência estão sujeitos a distribuição obrigatória, respeitada a ordem de apresentação. Parágrafo único. As ações que devam ser propostas no juízo da falência estão sujeitas a distribuição por dependência. Art. 79. Os processos de falência e os seus incidentes preferem a todos os outros na ordem dos feitos, em qualquer instância. · A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor. DISPOSIÇÕES COMUNS PARA RECUPERAÇÃO JUDICIAL E FALÊNCIA 1. Obrigações não exigíveis Art. 5o Não são exigíveis do devedor, na recuperação judicial ou na falência: I – as obrigações a título gratuito; II – as despesas que os credores fizerem para tomar parte na recuperação judicial ou na falência, salvo as custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor. · Quanto ao inciso I, são obrigações que uma das partes recebe, em liberalidade da outra parte, a título gratuito, tais como encargo, comodato, doação, fiança; · Quanto ao inciso II, deve-se mencionar aqui os honorários, as diárias, combustível, valor dos profissionais contratados. A exceção se centra na possibilidade de o credor sair vencido da demanda. 2. Suspensão do prazo prescricional e das ações contra o devedor Art. 6o A decretação da falência ou o deferimento do processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário. § 1o Terá prosseguimento no juízo no qual estiver se processando a ação que demandar quantia ilíquida. § 2o É permitido pleitear, perante o administrador judicial, habilitação, exclusão ou modificação de créditos derivados da relação de trabalho, mas as ações de natureza trabalhista, inclusive as impugnações a que se refere o art. 8o desta Lei, serão processadas perante a justiça especializada até a apuração do respectivo crédito, que será inscrito no quadro-geral de credores pelo valor determinado em sentença. § 3o O juiz competente para as ações referidas nos §§ 1o e 2o deste artigo poderá determinar a reserva da importância que estimar devida na recuperação judicial ou na falência, e, uma vez reconhecido líquido o direito, será o crédito incluído na classe própria. § 4o Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o caput deste artigoem hipótese nenhuma excederá o prazo improrrogável de 180 (cento e oitenta) dias contado do deferimento do processamento da recuperação, restabelecendo-se, após o decurso do prazo, o direito dos credores de iniciar ou continuar suas ações e execuções, independentemente de pronunciamento judicial. § 5o Aplica-se o disposto no § 2o deste artigo à recuperação judicial durante o período de suspensão de que trata o § 4o deste artigo, mas, após o fim da suspensão, as execuções trabalhistas poderão ser normalmente concluídas, ainda que o crédito já esteja inscrito no quadro-geral de credores. § 6o Independentemente da verificação periódica perante os cartórios de distribuição, as ações que venham a ser propostas contra o devedor deverão ser comunicadas ao juízo da falência ou da recuperação judicial: I – pelo juiz competente, quando do recebimento da petição inicial; II – pelo devedor, imediatamente após a citação. § 7o As execuções de natureza fiscal não são suspensas pelo deferimento da recuperação judicial, ressalvada a concessão de parcelamento nos termos do Código Tributário Nacional e da legislação ordinária específica. § 8o A distribuição do pedido de falência ou de recuperação judicial previne a jurisdição para qualquer outro pedido de recuperação judicial ou de falência, relativo ao mesmo devedor. · Deferido o processo da recuperação judicial, ou decretada a falência do devedor, todas as ações e execuções individuais sofrem a força atrativa do juízo de execução coletiva da falência, que suspende a prescrição por prazo certo, exigindo que eles compareçam perante este juízo falimentar para habilitar seus créditos; · Como se observa, a suspensão da prescrição força a entrada de todos os credores dentro do juízo universal e do processo coletivo, até por que a falência é um processo coletivo; · A prescrição é fato jurídico previsto dentro do ordenamento jurídico para dar estabilidade às relações jurídicas, consistindo no pressuposto de inércia do titular do direito que, apesar da oportunidade que teve de exercê-lo em determinado prazo legal, quedou-se inerte. Cumpre esclarecer que a prescrição engloba a pretensão e não o direito em si; · Decretada a falência, o credor perde o direito de exigir do Estado a satisfação individual do seu crédito junto ao devedor, devendo se submeter ao juízo universal e coletivo da falência; · Assim, durante o curso da falência ou da recuperação judicial, não pode o credor exercer a sua pretensão individualmente, mas em forma coletiva, tendo as suas ações individuais suspensas. Contudo, deve-se se separar aqui a suspensão para a falência (enquanto durar o processo) e a suspensão para a recuperação judicial (prazo de 180 dias); · Quanto à suspensão do curso das ações contra o falido, trata-se de suspensão mais ampla, que dura por todo o processo falimentar, conforme previsto no artigo 99, inciso V, da LF (nesse caso, o credor irá habilitar os seus créditos no processo de falência). Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações: V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1o e 2o do art. 6o desta Lei; · Quanto aos processos em que o devedor é a parte exequente, segue ele seu curso normal, com a ressalva de intimação e comunicação ao administrador judicial para acompanhar tais demandas, sob pena de nulidade; · Há exceções em que as demandas não serão suspensas, que serão vistas conforme o quadro abaixo (cumpre esclarecer que os créditos trabalhistas estão fora da suspensão). 1. Execução individual contra o devedor e já foi designada a hasta pública: Trata-se de venda de bens que estão em constrição judicial para pagamento. Essa constrição pode ser feita por penhora (separação de um bem móvel para pagar um crédito não satisfeito. Após a avaliação, irá para hasta pública). Caso a hasta pública já tenha sido designada, ocorrerá normalmente e o produto da arrecadação vai para a massa falida (processo judicial). Caso o bem não seja vendido em hasta pública, ele volta para a massa falida. Se a hasta pública já ocorreu na época do processamento ou prolação da sentença declaratória de falência, o dinheiro vai para a ação individual. 2. Ação que demanda quantia ilíquida Qualquer tipo de ação que demandar quantia ilíquida não será suspensa, devendo proceder até a liquidação. Após a apuração do valor, deve ser comunicado ao juízo da falência, para habilitação no quadro geral de credores. 3. Reclamatória trabalhista Não serão suspensas por correr em juízo especial, com necessidade de apurar o valor a ser liquidado posteriormente. 4. execuções fiscais Também tramitam em juízo específico. O CTN força o devedor tributário a pedir parcelamento (hipótese de não exigência de tal crédito no juízo falimentar). Durante as execuções fiscais, há possibilidade de o devedor pedir o parcelamento. · Quanto às ações que demandam quantia ilíquida e reclamatórias trabalhistas, há possibilidade de reserva de valor de crédito, pedido ao juízo falimentar para cobrir tais créditos (valor apurado); · Transitada em julgado a sentença que julga encerrada a falência, ou transcorridos os 180 dias do deferimento do processamento da recuperação judicial, volta a fluir o prazo prescricional das obrigações, respeitado o prazo já transcorrido, pois se trata de suspensão e não de interrupção; · Vale lembrar que a suspensão da prescrição abrange apenas os créditos devidos pela massa. Nos casos em que a massa falida é credora, compete ao administrador judicial ajuizar as cobranças e execuções necessárias; · Na hipótese da recuperação, exaurido o prazo de 180 dias, os prazos prescricionais são retomados, assim como a possibilidade de prosseguimento ou ajuizamento das medidas individuais por parte dos credores não atingidos pelo plano de recuperação, inclusive podendo pleitear a decretação de falência do devedor. ADMINISTRADOR JUDICIAL 1. Introdução Art. 21. O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada. Parágrafo único. Se o administrador judicial nomeado for pessoa jurídica, declarar-se-á, no termo de que trata o art. 33 desta Lei, o nome de profissional responsável pela condução do processo de falência ou de recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juiz. · Ao lado do comitê de credores (órgão facultativo) e da Assembleia Geral de Credores (órgão obrigatório), o administrador judicial é um instituto próprio dentro do processo de falência; · Substitui o antigo comissário (concordata) e o síndico (falência), previstos na legislação anterior; · O administrador judicial será profissional idôneo, preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou pessoa jurídica especializada; · Terá funções diferenciadas, a depender do local onde atuar (pode ser de intermediário entre a massa falida até auxiliar do juízo). Contudo, a principal função será zelar pelo cumprimento da lei; · No juízo falimentar, tem o papel de promover a realização do ativo (venda de bens), além de pagar os credores. Na recuperação judicial, terá o papel de fiscalizar o cumprimento do plano de recuperação judicial; · Com o afastamento do devedor na falência, o administrador judicial tem mais responsabilidades. Na recuperação judicial, o devedor auxiliar o administrador judicial; · O administrador judicial terá como fiscal o juízo da falência, a assembleia de credores e o comitê de credores; · O administrador judicial pode ser tanto pessoa natural quanto pessoa jurídica. No regime anterior, o síndico era escolhido entre os 3 maiores credores. Na nova legislação, não há essa previsão; · Advogado que atua no processo pode ser administrador judicial? Não há impedimento, mas não é prudente, por interesses colidentes; · Quando for pessoa jurídica, assina-se um termo de compromisso, onde se indica o nome do profissional responsável pela condução doprocesso de falência ou recuperação judicial, que não poderá ser substituído sem autorização do juízo. 2. Impedimentos · Trata-se de um rol taxativo, exaustivo, com questões objetivas. Art. 30. Não poderá integrar o Comitê ou exercer as funções de administrador judicial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. § 1o Ficará também impedido de integrar o Comitê ou exercer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o 3o (terceiro) grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. § 2o O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei. § 3o O juiz decidirá, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sobre o requerimento do § 2o deste artigo. 3. Nomeação Art. 52. Estando em termos a documentação exigida no art. 51 desta Lei, o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial e, no mesmo ato: I – nomeará o administrador judicial, observado o disposto no art. 21 desta Lei; · Na hipótese do artigo 52, inciso I, da LF, o mesmo despacho que determina o processamento da recuperação nomeia o administrador judicial, observando os quesitos do artigo 21 da LF. Haverá uma série de obrigações de fazer; · Por sua vez, no processo de falência, o administrador judicial será nomeado na sentença que decretar a falência; · O administrador judicial, logo que nomeado, será intimado pessoalmente para, em 48 horas, assinar, na sede do juízo falimentar, o termo de compromisso de bem fielmente desempenhar o cargo e assumir todas as responsabilidades a ela inerentes; · Não assinado o termo no prazo de 48 horas, o juízo nomeará outro administrador judicial. Art. 33. O administrador judicial e os membros do Comitê de Credores, logo que nomeados, serão intimados pessoalmente para, em 48 (quarenta e oito) horas, assinar, na sede do juízo, o termo de compromisso de bem e fielmente desempenhar o cargo e assumir todas as responsabilidades a ele inerentes. 4. Responsabilidades Art. 32. O administrador judicial e os membros do Comitê responderão pelos prejuízos causados à massa falida, ao devedor ou aos credores por dolo ou culpa, devendo o dissidente em deliberação do Comitê consignar sua discordância em ata para eximir-se da responsabilidade. · Trata-se de responsabilidade subjetiva, respondendo o administrador judicial pelos prejuízos causados à massa falida quando age com dolo ou culpa. 5. Funções 5.1. Comuns Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – na recuperação judicial e na falência: a) enviar correspondência aos credores constantes na relação de que trata o inciso III do caput do art. 51, o inciso III do caput do art. 99 ou o inciso II do caput do art. 105 desta Lei, comunicando a data do pedido de recuperação judicial ou da decretação da falência, a natureza, o valor e a classificação dada ao crédito; b) fornecer, com presteza, todas as informações pedidas pelos credores interessados; c) dar extratos dos livros do devedor, que merecerão fé de ofício, a fim de servirem de fundamento nas habilitações e impugnações de créditos; d) exigir dos credores, do devedor ou seus administradores quaisquer informações; e) elaborar a relação de credores de que trata o § 2o do art. 7o desta Lei; f) consolidar o quadro-geral de credores nos termos do art. 18 desta Lei; g) requerer ao juiz convocação da assembleia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões; h) contratar, mediante autorização judicial, profissionais ou empresas especializadas para, quando necessário, auxiliá-lo no exercício de suas funções; i) manifestar-se nos casos previstos nesta Lei; 5.2. Na recuperação judicial Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: II – na recuperação judicial: a) fiscalizar as atividades do devedor e o cumprimento do plano de recuperação judicial; b) requerer a falência no caso de descumprimento de obrigação assumida no plano de recuperação; c) apresentar ao juiz, para juntada aos autos, relatório mensal das atividades do devedor; d) apresentar o relatório sobre a execução do plano de recuperação, de que trata o inciso III do caput do art. 63 desta Lei; 5.3. Na falência Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: III – na falência: a) avisar, pelo órgão oficial, o lugar e hora em que, diariamente, os credores terão à sua disposição os livros e documentos do falido; b) examinar a escrituração do devedor; c) relacionar os processos e assumir a representação judicial da massa falida; d) receber e abrir a correspondência dirigida ao devedor, entregando a ele o que não for assunto de interesse da massa; e) apresentar, no prazo de 40 (quarenta) dias, contado da assinatura do termo de compromisso, prorrogável por igual período, relatório sobre as causas e circunstâncias que conduziram à situação de falência, no qual apontará a responsabilidade civil e penal dos envolvidos, observado o disposto no art. 186 desta Lei; f) arrecadar os bens e documentos do devedor e elaborar o auto de arrecadação, nos termos dos arts. 108 e 110 desta Lei; g) avaliar os bens arrecadados; h) contratar avaliadores, de preferência oficiais, mediante autorização judicial, para a avaliação dos bens caso entenda não ter condições técnicas para a tarefa; i) praticar os atos necessários à realização do ativo e ao pagamento dos credores; j) requerer ao juiz a venda antecipada de bens perecíveis, deterioráveis ou sujeitos a considerável desvalorização ou de conservação arriscada ou dispendiosa, nos termos do art. 113 desta Lei; l) praticar todos os atos conservatórios de direitos e ações, diligenciar a cobrança de dívidas e dar a respectiva quitação; m) remir, em benefício da massa e mediante autorização judicial, bens apenhados, penhorados ou legalmente retidos; n) representar a massa falida em juízo, contratando, se necessário, advogado, cujos honorários serão previamente ajustados e aprovados pelo Comitê de Credores; o) requerer todas as medidas e diligências que forem necessárias para o cumprimento desta Lei, a proteção da massa ou a eficiência da administração; p) apresentar ao juiz para juntada aos autos, até o 10o (décimo) dia do mês seguinte ao vencido, conta demonstrativa da administração, que especifique com clareza a receita e a despesa; q) entregar ao seu substituto todos os bens e documentos da massa em seu poder, sob pena de responsabilidade; r) prestar contas ao final do processo, quando for substituído, destituído ou renunciar ao cargo. 5.4. Limitadas Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: § 3o Na falência, o administrador judicial não poderá, sem autorização judicial, após ouvidos o Comitê e o devedor no prazo comum de 2 (dois) dias, transigir sobre obrigações e direitos da massa falida e conceder abatimento de dívidas, ainda que sejam consideradas de difícil recebimento. 6. Remuneração Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. § 1o Em qualquer hipótese, o total pago ao administrador judicial não excederá 5% (cinco por cento) do valor devido aos credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens nafalência. § 2o Será reservado 40% (quarenta por cento) do montante devido ao administrador judicial para pagamento após atendimento do previsto nos arts. 154 e 155 desta Lei. § 3o O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração. § 4o Também não terá direito a remuneração o administrador que tiver suas contas desaprovadas. § 5o A remuneração do administrador judicial fica reduzida ao limite de 2% (dois por cento), no caso de microempresas e empresas de pequeno porte. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014) Art. 25. Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração do administrador judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo. · A lei estabelece pontos específicos para a remuneração do administrador judicial, de modo a não ter uma remuneração de forma indiscriminada; · A remuneração será então fixada pelo juízo falimentar, bem como dos auxiliares do administrador judicial; · Quem custeia a remuneração é o devedor e a massa falida e não os credores; · Essa remuneração estipulada não possui caráter alimentício, mas sim caráter de crédito extraconcursal (fica separado); · A estipulação é feita após a formação do quadro geral de credores. Trata-se do pagamento de 5% do valor devido ao credores submetidos à recuperação judicial ou do valor de venda dos bens na falência; · A substituição gera o recebimento dos honorários devidos. Em caso de destituição, não haverá remuneração (em caso de contas reprovadas); · Na falência, o administrador judicial recebe 60% do valor após a venda dos ativos (60% do total da remuneração). Os demais 40% serão devidos após a aprovação das contas. 7. Substituição Art. 24. O juiz fixará o valor e a forma de pagamento da remuneração do administrador judicial, observados a capacidade de pagamento do devedor, o grau de complexidade do trabalho e os valores praticados no mercado para o desempenho de atividades semelhantes. § 3o O administrador judicial substituído será remunerado proporcionalmente ao trabalho realizado, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído de suas funções por desídia, culpa, dolo ou descumprimento das obrigações fixadas nesta Lei, hipóteses em que não terá direito à remuneração. Art. 30. Não poderá integrar o Comitê ou exercer as funções de administrador judicial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. § 2o O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei. · A substituição não é uma sanção legal, pois parte de pedido do próprio administrador judicial, feita por incidente processual. Como não pode haver vacância no cargo, o administrador judicial responde pelos atos praticados até o provimento do cargo por outra pessoa apta a ser administradora judicial; · O administrador judicial que pede a substituição será remunerado proporcionalmente ao trabalho desenvolvido até então, salvo se renunciar sem relevante razão ou for destituído do cargo. 8. Destituição Art. 23. O administrador judicial que não apresentar, no prazo estabelecido, suas contas ou qualquer dos relatórios previstos nesta Lei será intimado pessoalmente a fazê-lo no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de desobediência. Parágrafo único. Decorrido o prazo do caput deste artigo, o juiz destituirá o administrador judicial e nomeará substituto para elaborar relatórios ou organizar as contas, explicitando as responsabilidades de seu antecessor. · O juiz, de ofício ou a requerimento fundamentado de qualquer interessado, poderá determinar a destituição do administrador judicial quando verificar desobediência aos preceitos da Lei, descumprimento de deveres, omissão, negligência ou prática de ato lesivo às atividades do devedor ou a terceiros. Art. 30. Não poderá integrar o Comitê ou exercer as funções de administrador judicial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. VERIFICAÇÃO E HABILITAÇÃO DOS CRÉDITOS 1. Introdução · Trata-se de normas comuns tanto para a falência quanto para a recuperação judicial. O objetivo é aglutinar os créditos de todos os credores, organizando-os em um quadro geral, por se tratar de procedimento concursal. Desse modo, há de se compatibilizar todos os créditos. 2. Fases · Na habilitação dos créditos durante o procedimento concursal, poderá ter três fases distintas, feitas em momentos diferentes; · A primeira fase consiste na avaliação prévia que se faz dos créditos existentes contra determinado devedor. Essa primeira fase recebe o nome de verificação de créditos; · A segunda fase consiste na pretensão que o credor (ato único dele) vai fazer para solicitar a confirmação do crédito já deduzido na primeira fase. Essa segunda fase recebe o nome de habilitação de créditos; · A terceira fase enseja a classificação de créditos, sendo denominada de quadro geral de credores. A partir dessa terceira fase, há o pagamento aos credores. Contudo, há de ser observado alguns parâmetros para melhor controle. Na recuperação judicial, o pagamento não precisa ser na ordem rigorosa, pois pode haver inversão de pagamentos, mediante pactuação entre credores, sempre respeitando as limitações mínimas (exemplo: pagamento a créditos alimentícios feitos em primeiro lugar). Na falência, há necessidade de observar a regularidade e a ordem prevista no quadro geral de credores, por ser rol taxativo e rigoroso previsto em lei. 3. Procedimento de verificação e habilitação de créditos · Conforme já mencionado anteriormente, a execução concursal do empresário insolvente tem como finalidade reunir os credores e arrecadar todos os bens do devedor; · A nova legislação de falência trouxe importantes modificações, se comparada com a legislação anterior. A principal delas reside na desjudicialização do procedimento de habilitação dos créditos para o procedimento falimentar. A habilitação dos créditos é feita, a partir da Lei 11.101/2005 pelo administrador judicial, conforme dicção do artigo 7º. Art. 7o A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou empresas especializadas. · O devedor falido deve, quando o juiz defere, por meio de decisão judicial, a recuperação judicial, dentre vários atos que serão deferidos, um deles será a relação de credores. Geralmente, essa relação pode ser apresentada dentro da petição inicial. O prazo para apresentação será de 5 dias. Além disso, o juiz irá fixar na sentença prazo para habilitação dos créditos perante o administrador judicial. Esse prazo será de 15 dias, conforme preconizado no artigo 7º, § 1º, da LF. § 1o Publicado o edital previsto no art. 52, § 1o, ou no parágrafo único do art. 99 desta Lei, os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados. · Conforme observado dentro do artigo 9º da LF, os créditos a serem apresentados para habilitação precisam conter alguns requisitos. Art. 9o A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7o, § 1o, desta Lei deverá conter: I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberácomunicação de qualquer ato do processo; II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de recuperação judicial, sua origem e classificação; III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem produzidas; IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo instrumento; V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor. Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo. · Para o STJ, o procedimento de habilitação é uma fase contenciosa, sem a participação do juiz, visto que na nova sistemática, encontra-se nas atribuições do administrador judicial. Por conta disso, o título que embasa não precisa ser título executivo, entendimento esse que valia para a lei anterior e vale para a nova legislação; · Há a possibilidade, após a publicação do primeiro edital, de divergência nos créditos, que poderão ser atacadas pelos credores, em um prazo de 15 dias a contar da publicação do primeiro edital. Nessa parte, cumpre esclarecer que poderão ser atacados tanto a divergência de valores quanto a habilitação de determinado crédito (trata-se de atacar a pretensão do credor de confirmar a listagem); · Resolvidas as divergências e habilitações, o administrador judicial fará publicar um segundo edital, não havendo participação do juízo; · Passado o período de habilitação, baseado na relação apresentada pelo devedor e nos documentos entregues pelos credores, haverá um prazo de 45 dia para publicar o segundo edital, contendo a relação de credores habilitados. Haverá também necessidade de indicar local, horário e prazo comum para que os credores ou as pessoas indicadas no artigo 8º da LF possam ter acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração da relação (artigo 7º, § 2ª, LF). § 2o O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma do caput e do § 1o deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do § 1o deste artigo, devendo indicar o local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art. 8o desta Lei terão acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação. · Caso não exista nenhuma impugnação, a relação de credores estará formalizada, conforme disposto no artigo 14 da LF. Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de credores, a relação dos credores constante do edital de que trata o art. 7o, § 2o, desta Lei, dispensada a publicação de que trata o art. 18 desta Lei. · Se algum credor, o próprio devedor ou o próprio Ministério Público verificarem equívocos na relação apresentada pelo administrador judicial, poderão apresentar impugnação dirigida ao juiz, no prazo de 10 dias, contados da publicação do edital que contém a relação de credores, iniciando, dessa forma, a fase judicial; · O procedimento de impugnação segue o rito previsto dentro da LF, nos artigos 13 a 15, com possibilidade de aplicação do artigo 16 da citada lei (possibilidade de reserva de valor para satisfação do crédito impugnado). Trata-se de incidente processual, a ser manejado em apartado; · Os interessados para entrar com a impugnação estão descritos dentro do artigo 8º da LF. Art. 8o No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7o, § 2o, desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de crédito relacionado. Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos arts. 13 a 15 desta Lei. · A partir da listagem, do acesso aos documentos e às decisões, as partes interessadas terão um prazo de 10 dias para impugnar esse ato do administrador judicial que publicou a confirmação das habilitações e resolveu as divergências (possibilidade de participação dos credores, não prevista na lei anterior); · Em princípio, cada impugnação é dirigida ao juízo universal da falência, com a petição mais os documentos que a instruírem. Contudo, se houver mais de uma impugnação sobre o mesmo crédito, serão elas autuadas em conjunto. Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias. Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos a ela relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo crédito. · Os credores que tiverem seus créditos impugnados serão citados para apresentar contestação, no prazo de 5 dias. Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para contestar a impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que tiverem e indicando outras provas que reputem necessárias. · O devedor, o comitê de credores (se houver) também serão intimados para se manifestarem sobre a impugnação no mesmo prazo (5 dias), conforme disposto no artigo 12 da LF. Por fim, o administrador judicial também terá o prazo de 5 dias para apresentar parecer. Art. 12. Transcorrido o prazo do art. 11 desta Lei, o devedor e o Comitê, se houver, serão intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela no prazo comum de 5 (cinco) dias. Parágrafo único. Findo o prazo a que se refere o caput deste artigo, o administrador judicial será intimado pelo juiz para emitir parecer no prazo de 5 (cinco) dias, devendo juntar à sua manifestação o laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada, se for o caso, e todas as informações existentes nos livros fiscais e demais documentos do devedor acerca do crédito, constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação. · Instruído os autos, inclusive com a possibilidade de produção de prova em audiência de instrução (artigo 15, inciso IV, da LF), o juízo irá proferir decisão, contra a qual cabe agravo de instrumento. Parte da doutrina, contudo, entende que a decisão deveria ser sentença, visto que resolve a questão dos autos apartados; · Segundo entendimento consolidado no STJ, cabe honorários advocatícios nos casos em que a habilitação de crédito é impugnada, por se tratar de fase judicial (há litigiosidade no processo); · Cabe esclarecer que pode ocorrer a possibilidade de algum credor retardatário deixar de habilitar seu crédito nessa fase de levantamento de valores. Esse fato ocorre quando a parte perde o prazo de 15 dias. Isso significa que esse credor não perderá o direito de receber seu crédito. A disciplina se encontra dentro do artigo 10 da LF. Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7o, § 1o, desta Lei, as habilitações de crédito serão recebidas como retardatárias. · Contudo, deve-se separar os momentos em que as habilitações são apresentadas. Há duas possibilidades: (1) antes da homologação do quadro de credores, (2) após a homologação do quadro de credores. Habilitação feita antes da homologação do quadro de credores Habilitação feita após a homologação do quadro de credores Essas habilitações serão recebidas como impugnações e processadas na forma dos artigos 13 a 15 da LF, conforme dicção do artigo 10, § 3º. Será necessário requerer ao juízo universal da falência, em ação própria que obedeça ao procedimento comum previsto dentro do NCPC (poderá ser requerida a ratificação do quadro, para inclusão do crédito retardatário, conforme dicção do artigo 10, § 6º). · Para o credor retardatário, haverá algumas sanções, tais como perda do direito de voto na Assembleia Geral de Credores (a exceção fica por conta dos créditos trabalhistas), perda do direito de rateios já realizados, ficarão sujeitos ao pagamento de custas (não se computa os acessórios compreendidos entre o término do prazo e a datado pedido de habilitação); · Definido, enfim, todos os incidentes acima descritos, caberá ao administrador judicial consolidar, definitivamente, o quadro geral de credores, que será então homologado pelo juízo. Art. 18. O administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-geral de credores, a ser homologado pelo juiz, com base na relação dos credores a que se refere o art. 7o, § 2o, desta Lei e nas decisões proferidas nas impugnações oferecidas. Parágrafo único. O quadro-geral, assinado pelo juiz e pelo administrador judicial, mencionará a importância e a classificação de cada crédito na data do requerimento da recuperação judicial ou da decretação da falência, será juntado aos autos e publicado no órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data da sentença que houver julgado as impugnações. · Efetuada a relação de credores, julgadas todas as impugnações, o administrador judicial, conforme já mencionado, irá consolidar, o quadro geral de credores; · Esse quadro geral será convalidado pelo juízo e juntado aos autos; · Os valores do créditos serão atualizados até a data da decretação da falência ou do requerimento de recuperação judicial; · Cumpre esclarecer que os créditos extraconcursais não entram no concurso de credores já homologados pelo juízo da falência; · Contudo, o referido quadro poderá sofrer mudanças, mediante ação revisional de crédito habilitado, prevista dentro do artigo 19 da LF. Art. 19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil, pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores. · Trata-se de uma tentativa de desconstituir a decisão proferida com base nas impugnações julgadas ainda dentro da formação do quadro geral de credores. Essa ação seguirá o rito previsto no NCPC, consistindo em pedir exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, em casos de descoberta de dolo, fraude, falsidade, simulação, erro essencial ou ainda documentos ignorados na época de julgamento do crédito a ser incluído no quadro geral de credores; · A referida ação descrita dentro do artigo 19 da LF só poderá ser proposta no juízo da falência ou no juízo perante o qual tenha reconhecido o crédito (previsão do § 1º do citado artigo 19). § 1o A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art. 6o, §§ 1o e 2o, desta Lei, perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito. · O § 2º traz a possibilidade de prestação de caução no mesmo valor do crédito questionado. § 2o Proposta a ação de que trata este artigo, o pagamento ao titular do crédito por ela atingido somente poderá ser realizado mediante a prestação de caução no mesmo valor do crédito questionado. 4. Habilitação de créditos fiscais · Deve-se lembrar que os créditos fiscais não são suspensos pelo pedido de falência do devedor. São ações que continuam seu trâmite normal no juízo próprio. O próprio juízo da execução fiscal comunica ao juízo da falência sobre o crédito apurado, para que este possa habilitá-lo no quadro geral de credores; · Contudo, o STJ entende que a Fazenda Pública pode, por liberalidade, habilitar o crédito junto com os demais credores. 5. Necessidade de demonstrar a origem da dívida · Na vigência da legislação anterior, havia a necessidade de demonstração da origem do crédito no pedido de habilitação, por força do artigo 82 do Decreto-Lei 7661/45. Esse, inclusive, era o entendimento do STJ; · Na atual legislação, por força do disposto no artigo 9º, inciso II, da LF, deve o credor demonstrar a origem do crédito. Por conta disso, a posição do STJ permaneceu a mesma sobre o tema. ASSEMBLEIA GERAL 1. Introdução · A instituição de uma Assembleia Geral de Credores concretiza o princípio da autonomia e independência entre os credores. Além disso, há oportunidade de participação para eles ao longo do processamento da falência; · A Assembleia Geral de Credores não é uma novidade em nosso Direito, tendo sido adotada pela primeira vez no Código Comercial de 1850, no qual o procedimento falimentar contava com duas assembleias - segundo o modelo francês do contrato de união - que se davam após a instrução do processo; · A primeira dessas Assembleias tinha por objetivo a apresentação do relatório sobre o estado da falência e suas circunstâncias, exibição da relação de credores e apresentação de proposta de formação de uma comissão para a verificação da procedência da lista de credores. Já na segunda assembleia, por sua vez, os credores recebiam os pareceres da comissão verificadora, deliberavam sobre eventual pedido de concessão da concordata suspensiva ou dispunham em conjunto sobre a forma de liquidação dos ativos; · Trata-se de um colegiado deliberativo, decidindo as principais questões de interesses dos credores, previsto como novidade na nova legislação do direito falimentar; · Assim, a volta da assembleia de credores como meio de deliberação demonstra que os legisladores foram muito eficazes em garantir a natureza contratual no contexto da recuperação judicial, deixando clara a demonstração que os mais de 10 anos de discussões do novo ordenamento falimentar nas casas legislativas não se deram à toa, pois proporcionar à Lei 11.101/05 diversas inovações - algumas influenciadas pelas experiências positivas de sistemas falimentares estrangeiros (especialmente os sistemas Norte-americano e Francês) - alinhadas com o resgate de formas utilizadas no passado, como a assembleia de credores, a qual é o mecanismo mais adequado para a devedora buscar a aceitação de sua proposta de soerguimento junto aos seus credores; · Na recuperação judicial, é um órgão de formação obrigatória, com a principal atribuição de analisar o plano proposto pelo devedor. No processo falimentar, não é um órgão obrigatório, mas costuma ser formada por praxe, já que auxilia na fiscalização do processo, das ações do administrador judicial e na maximização dos ativos; · Em caso de ME e EPP, na Recuperação Judicial, não há obrigatoriedade; · Ao lado da AGC, há o comitê de credores (órgão facultativo) e o gestor judicial (auxiliar do juízo, e, de forma excepcional, com afastamento do devedor, assume a gerência da sociedade devedora). Não há hierarquia entre esses órgãos. 2. Atribuições · As atribuições são diversas e divididas em ações próprias na recuperação judicial (artigo 35, inciso I, da LF) e na falência (artigo 35, inciso II, da LF), conforme visto abaixo. Cumpre esclarecer que o rol é exemplificativo. Art. 35. A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre: I – na recuperação judicial: a) aprovação, rejeição ou modificação do plano de recuperação judicial apresentado pelo devedor; b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) (VETADO) d) o pedido de desistência do devedor, nos termos do § 4o do art. 52 desta Lei; e) o nome do gestor judicial, quando do afastamento do devedor; f) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores; · Quanto à alínea c, o motivo do veto ocorreu para concentrar o afastamento do administrador judicial como prerrogativa única e exclusiva do juízo da falência, até por que o juízo da falência deve conduzir o processo com lisura e impessoalidade, por tratar de interesse coletivo de vários credores. Art. 35. A assembleia-geral de credores terá por atribuições deliberar sobre: II – na falência: a) (VETADO) b) a constituição do Comitê de Credores, a escolha de seus membros e sua substituição; c) a adoção de outras modalidades de realização do ativo, na forma do art. 145desta Lei; d) qualquer outra matéria que possa afetar os interesses dos credores. 3. Composição Art. 41. A assembleia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; II – titulares de créditos com garantia real; III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014) § 1o Os titulares de créditos derivados da legislação do trabalho votam com a classe prevista no inciso I do caput deste artigo com o total de seu crédito, independentemente do valor. § 2o Os titulares de créditos com garantia real votam com a classe prevista no inciso II do caput deste artigo até o limite do valor do bem gravado e com a classe prevista no inciso III do caput deste artigo pelo restante do valor de seu crédito. · Como se observa, a composição é livre, sem hierarquia, prevista legalmente nesse sentido; · Quanto ao crédito privilegiado, há que se mencionar o disposto nos artigos 964 e 965 do CC/2002. Trata-se de privilégio concedida pela lei a determinadas pessoas; · Em relação à questão de Assembleia, a Lei 11101/2005, se comparada com outras legislações (como a Lei das Sociedades Anônimas), é imperfeita. 4. Convocação Art. 36. A assembleia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e filiais, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá: I – local, data e hora da assembleia em 1a (primeira) e em 2a (segunda) convocação, não podendo esta ser realizada menos de 5 (cinco) dias depois da 1a (primeira); II – a ordem do dia; III – local onde os credores poderão, se for o caso, obter cópia do plano de recuperação judicial a ser submetido à deliberação da assembleia. § 1o Cópia do aviso de convocação da assembleia deverá ser afixada de forma ostensiva na sede e filiais do devedor. § 2o Além dos casos expressamente previstos nesta Lei, credores que representem no mínimo 25% (vinte e cinco por cento) do valor total dos créditos de uma determinada classe poderão requerer ao juiz a convocação de assembleia-geral. Art. 22. Ao administrador judicial compete, sob a fiscalização do juiz e do Comitê, além de outros deveres que esta Lei lhe impõe: I – na recuperação judicial e na falência: g) requerer ao juiz convocação da assembleia-geral de credores nos casos previstos nesta Lei ou quando entender necessária sua ouvida para a tomada de decisões; · Podem convocar a Assembleia Geral o juízo (de ofício) ou provocado pelos credores, pelo administrador judicial, tudo feito mediante edital, após a convocação do juízo; · O comitê de credores pode solicitar a convocação da AGC, embora seja ele, comitê, órgão facultativo; · Como será visto, a convocação se faz por edital, como meio de presunção para que todos tomem conhecimento da realização da Assembleia, além de ser efeito constitutivo de prova, em razão da fé-pública que tal ato se reveste; · A Assembleia será secretariada por um credor, tendo o papel de auxiliar o presidente. Sua função é ler a ordem do dia e lavrar a ata, com as deliberações e resultados obtidos. 5. Edital Art. 36. A assembleia-geral de credores será convocada pelo juiz por edital publicado no órgão oficial e em jornais de grande circulação nas localidades da sede e filiais, com antecedência mínima de 15 (quinze) dias, o qual conterá: § 1o Cópia do aviso de convocação da assembleia deverá ser afixada de forma ostensiva na sede e filiais do devedor. · Esse edital, disposto no parágrafo primeiro, será publicado nos órgãos oficiais e nos jornais de grande circulação (se houver); · Esse edital conterá as partes, a qualificação, a previsão da data, o local, a data das duas convocações, a ordem dos assuntos a serem debatidos e discutidos na reunião; · Deve ser afixado na sede e nas filiais do devedor, de modo a dar ampla ciência a todos sobre a sua realização. 6. Quórum · Nesse ponto da matéria, deve ser separada a ideia de quórum de instalação e quórum de decisão (para decidir, leva-se em conta a quantidade de créditos por classe); · A primeira convocação deverá requerer a presença de mais da metade dos credores com mais de 50% dos créditos de cada classe. Nessa primeira convocação, a lei está preocupada com a legitimidade dos credores para abrirem e instaurarem a reunião; · Se não houver o número requerido, faz-se uma segunda convocação, com qualquer número creditício. Nesse ponto, a lei está preocupada em instalar o órgão a qualquer custo e deliberar sobre as matérias pautadas; · Essa segunda convocação será feita com um intervalo mínimo de 5 dias entre a primeira convocação e a segunda convocação, conforme disposto no artigo 36, inciso I, da LF; · Haverá na AGC um livro de presença, que deverá checar o quórum de instalação. Art. 37. A assembleia será presidida pelo administrador judicial, que designará 1 (um) secretário dentre os credores presentes. § 3o Para participar da assembleia, cada credor deverá assinar a lista de presença, que será encerrada no momento da instalação. · Instalada a AGC, nenhum credor retardatário poderá assinar o livro de presença, mas não terá prejuízo em seu direito de voto, a não ser que seja credor habilitado de forma retardatária após a homologação do quadro geral de credores; · Quanto ao quórum de deliberação, quórum esse que diz respeito à totalidade dos créditos presentes, há necessidade de mais da metade do valor total dos créditos presentes na AGC (artigo 42 da LF). Contudo, essa questão possui exceções, melhor vistas no quadro abaixo. Em caso de plano de recuperação (artigo 45 da LF): deliberada e aprovada por todas as classes (maioria simples). Proposta de aprovação da forma alternativa de realização do ativo na falência (artigo 46 da LF): depende de 2/3 dos credores de cada classe. · Quanto aos créditos em moeda estrangeira, serão ele convertidos em moeda nacional, pelo câmbio da véspera da realização da AGC (dia anterior). 7. Composição da mesa · Presidida pelo administrador judicial (via de regra), salvo se for substituído (o próprio administrador pediu a substituição) ou destituído do cargo. Nesse caso, a mesa será presidida pelo credor de maior crédito; · Quanto à possibilidade de representação, poderá ela ocorrer, desde que seja mandatário ou por representante legal, portando devidamente instrumento com poderes especiais, com prazo anterior à realização da assembleia. Quanto ao representante legal, ele personifica a própria sociedade empresária credora; · Sindicatos podem representar seus associados, devendo apresentar documentos com tal autorização (artigo 37, § 5º, da LF). Representação por procurador Representação por representante legal Suficiente apresentar com antecedência de 10 dias a relação dos associados que pretende representar, sendo que o trabalhador precisa indicar, em 24 horas, qual sindicato irá representá-lo. Apresentação de instrumento de mandato particular, com procuração (poderes específicos), entregue ao administrador judicial, em 24 horas antes da realização da assembleia. Art. 37. A assembleia será presidida pelo administrador judicial, que designará 1 (um) secretário dentre os credores presentes. § 5o Os sindicatos de trabalhadores poderão representar seus associados titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente de trabalho que não comparecerem, pessoalmente ou por procurador, à assembleia § 6o Para exercer a prerrogativa prevista no § 5o deste artigo, o sindicato deverá: I – apresentar ao administrador judicial, até 10 (dez) dias antes da assembleia, a relação dos associados que pretende representar, e o trabalhador que conste da relação de mais de um sindicato deverá esclarecer, até 24 (vinte e quatro) horas antes da assembleia, qual sindicato o representa, sob penade não ser representado em assembleia por nenhum deles; e II – (VETADO) 8. Direito de voto · Terão direito a voto os credores arrolados na terceira lista, que é o quadro geral de credores, homologada pelo juízo, após as devidas impugnações terem sido resolvidas; · Na falta do quadro geral de credores, poderão votar os credores mencionados no segundo edital, que é a habilitação; · Na falta dos dois primeiros, busca-se a primeira lista feita pelo administrador judicial, quando ainda estava no início do procedimento, após ter sido apresentados todos os documentos e escriturações do devedor; · Conforme já mencionado, a ausência de assinatura no livro não impede o credor de votar dentro da AGC; · Quanto a deliberações de interesse de uma só classe, em se tratando de assunto exclusivo, somente serão votados naquela classe; · Quanto a deliberações que impliquem suspensão e/ou restrições de direitos, além de criação de vantagens para uma classe, haverá necessidade de voto de maioria absoluta da classe interessada. 9. Exclusão do direito de voto · Não terão direito a voto os credores habilitados na forma do artigo 10, § 1º, da LF (habilitação feita fora do prazo); · Quanto aos credores de propriedade fiduciária (máquinas), não poderão eles serem usados para fins de quórum e nem para fins de votação. Art. 39. Terão direito a voto na assembleia-geral as pessoas arroladas no quadro-geral de credores ou, na sua falta, na relação de credores apresentada pelo administrador judicial na forma do art. 7o, § 2o, desta Lei, ou, ainda, na falta desta, na relação apresentada pelo próprio devedor nos termos dos arts. 51, incisos III e IV do caput, 99, inciso III do caput, ou 105, inciso II do caput, desta Lei, acrescidas, em qualquer caso, das que estejam habilitadas na data da realização da assembleia ou que tenham créditos admitidos ou alterados por decisão judicial, inclusive as que tenham obtido reserva de importâncias, observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 10 desta Lei. § 1o Não terão direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação os titulares de créditos excetuados na forma dos §§ 3o e 4o do art. 49 desta Lei. · Quanto aos cônjuges e parentes, deve ser observado o disposto no artigo 43 e seu parágrafo único, da LF. Art. 43. Os sócios do devedor, bem como as sociedades coligadas, controladoras, controladas ou as que tenham sócio ou acionista com participação superior a 10% (dez por cento) do capital social do devedor ou em que o devedor ou algum de seus sócios detenham participação superior a 10% (dez por cento) do capital social, poderão participar da assembleia-geral de credores, sem ter direito a voto e não serão considerados para fins de verificação do quórum de instalação e de deliberação. Parágrafo único. O disposto neste artigo também se aplica ao cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, colateral até o 2o (segundo) grau, ascendente ou descendente do devedor, de administrador, do sócio controlador, de membro dos conselhos consultivo, fiscal ou semelhantes da sociedade devedora e à sociedade em que quaisquer dessas pessoas exerçam essas funções. 10. Invalidação · A Lei 11101/2005 é bastante precária quando aborda a possibilidade de invalidação (anulabilidades e nulidades) da AGC, se comparada com outras legislações; · Parte da doutrina entende que não há prazo para prescrever a tentativa de invalidar uma deliberação de AGC (imprescritível). Para outra parte da doutrina, o prazo a ser aplicado se encontra dentro do artigo 179 do CC/2002 (prazo de 2 anos, a contar do encerramento da AGC). Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. · Ações e decisões judiciais, posteriores, que digam respeito à existência do crédito, bem como quantificação e classificação, não possuem o condão de anular a AGC; · Credores ou terceiros de boa-fé podem ajuizar ação de reparação de danos, em face de eventuais nulidades decretadas pelo juízo da falência; · Por outro lado, a concessão de medida cautelar (liminar) sobre existência, quantidade e classificação de créditos é vedada pela lei (há um propósito, que é evitar o tumulto processual); · Quanto às decisões posteriores que não anulam a AGC e quanto à concessão de cautelar nos casos enumerados (existência, quantidade e classificação de créditos), parte da doutrina entende que são inconstitucionais. 11. Ata da reunião · A ata é um mecanismo de conhecimento, de ação sumária, que deve ser entregue ao juízo e juntada nos autos, no prazo de 48 horas, após a realização da AGC. Ela não precisa ser publicada, pois já há presunção de publicação. COMITÊ DE CREDORES 1. Introdução · Trata-se de órgão colegiado, que participa da condução dos atos do processo da falência e da recuperação judicial; · É órgão de existência e funcionamento facultativo, detendo basicamente as atribuições de fiscalização e consultoria; · Trata-se de uma forma democrática de participação do processo concursal da falência, de modo a fiscalizar tais atos. 2. Existência e constituição · Trata-se, preliminarmente, de órgão que não possui atividade remunerada. Além disso, sua formação depende de iniciativa de representantes de qualquer uma das classes de credores, convocados em Assembleia e, na hipótese de decretação de falência, poderá ser contemplado na sentença de decretação; · Sua composição decorre da deliberação da AGC, convocada pelo juízo da falência ou mediante requerimento dos credores, conforme preconizado no artigo 26 da LF. Art. 26. O Comitê de Credores será constituído por deliberação de qualquer das classes de credores na assembleia-geral e terá a seguinte composição: I – 1 (um) representante indicado pela classe de credores trabalhistas, com 2 (dois) suplentes; II – 1 (um) representante indicado pela classe de credores com direitos reais de garantia ou privilégios especiais, com 2 (dois) suplentes; III – 1 (um) representante indicado pela classe de credores quirografários e com privilégios gerais, com 2 (dois) suplentes. IV - 1 (um) representante indicado pela classe de credores representantes de microempresas e empresas de pequeno porte, com 2 (dois) suplentes. (Incluído pela Lei Complementar nº 147, de 2014) § 1o A falta de indicação de representante por quaisquer das classes não prejudicará a constituição do Comitê, que poderá funcionar com número inferior ao previsto no caput deste artigo. § 2o O juiz determinará, mediante requerimento subscrito por credores que representem a maioria dos créditos de uma classe, independentemente da realização de assembleia: I – a nomeação do representante e dos suplentes da respectiva classe ainda não representada no Comitê; ou II – a substituição do representante ou dos suplentes da respectiva classe. § 3o Caberá aos próprios membros do Comitê indicar, entre eles, quem irá presidi-lo. · Qualquer membro do comitê de credores poderá ser destituído pelo juízo da falência mediante requerimento formulado por credores que representem a maioria dos créditos da respectiva classe; · Em caso de inobservância das prescrições legais, será legitimado para requerer a substituição o devedor, o MP ou qualquer dos credores; · Na falência, o comitê será instaurado por determinação do juízo da falência, conforme dispõe o artigo 99, inciso XII, da LF e não apenas por deliberação dos credores. 3. Atribuições · As atribuições estão previstas dentro do artigo 27 da LF. Art. 27. O Comitê de Credores terá as seguintes atribuições, além de outras previstas nesta Lei: I – na recuperação judicial e na falência: a) fiscalizar as atividades e examinar as contas do administrador judicial; b) zelar pelo bom andamento do processo e pelo cumprimento da lei; c) comunicar ao juiz, caso detecte violação dos direitos ou prejuízo aos interesses dos credores; d) apurar e emitir parecer sobre quaisquer reclamações dos interessados; e) requerer ao juiz a convocação da assembleia-geralde credores; f) manifestar-se nas hipóteses previstas nesta Lei; II – na recuperação judicial: a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias, relatório de sua situação; b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial; c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas hipóteses previstas nesta Lei, a alienação de bens do ativo permanente, a constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede a aprovação do plano de recuperação judicial. § 1o As decisões do Comitê, tomadas por maioria, serão consignadas em livro de atas, rubricado pelo juízo, que ficará à disposição do administrador judicial, dos credores e do devedor. § 2o Caso não seja possível a obtenção de maioria em deliberação do Comitê, o impasse será resolvido pelo administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, pelo juiz. · Na ausência do comitê de credores, aplica-se o disposto no artigo 28 da LF. Art. 28. Não havendo Comitê de Credores, caberá ao administrador judicial ou, na incompatibilidade deste, ao juiz exercer suas atribuições. · Na recuperação judicial, o comitê de credores terá as atribuições de fiscalizar a administração das atividades do devedor, já que o empresário é mantido na administração da atividade empresária; · Além disso, há também a atribuição de fiscalizar do plano de recuperação judicial e, ainda, submeter à autorização do juízo, se afastado o empresário da administração, a alienação de bens do ativo permanente, a oneração de bens e outros atos de endividamento que antecedam à aprovação do plano de recuperação judicial; · Na falência, as atribuições do comitê é opinar sobre as transações sobre obrigação e direitos da massa falida, autorizar o administrador judicial a celebrar contratos que tenham por objeto bens arrecadados e a dar cumprimento a contrato bilateral ou unilateral. 4. Livros obrigatórios · Uma vez constituído, é obrigatória a criação do livro de registro de atas das reuniões, seja na falência, seja na recuperação judicial; · Seu conteúdo (livro de registro) tem eficácia probatória e sua forma de escrituração e arquivamento na Junta Comercial seguirão as normas aplicáveis aos livros mercantis. 5. Votação · As decisões serão tomadas por maioria dos presentes, o voto é por credor e não pelo valor do crédito. Os integrantes do comitê não receberão remuneração, mas podem requerer o reembolso das despesas relacionadas às suas atividades no órgão. 6. Impedimentos · Os impedimentos estão descritos dentro do artigo 30 da LF. Art. 30. Não poderá integrar o Comitê ou exercer as funções de administrador judicial quem, nos últimos 5 (cinco) anos, no exercício do cargo de administrador judicial ou de membro do Comitê em falência ou recuperação judicial anterior, foi destituído, deixou de prestar contas dentro dos prazos legais ou teve a prestação de contas desaprovada. § 1o Ficará também impedido de integrar o Comitê ou exercer a função de administrador judicial quem tiver relação de parentesco ou afinidade até o 3o (terceiro) grau com o devedor, seus administradores, controladores ou representantes legais ou deles for amigo, inimigo ou dependente. § 2o O devedor, qualquer credor ou o Ministério Público poderá requerer ao juiz a substituição do administrador judicial ou dos membros do Comitê nomeados em desobediência aos preceitos desta Lei. § 3o O juiz decidirá, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sobre o requerimento do § 2o deste artigo. 7. Hipóteses de substituição e destituição · São as mesmas aplicáveis ao administrador judicial, quais sejam, a comprovação de desobedecer preceitos legais, o descumprimento de deveres, omissão, negligência ou prática de ato lesivo às atividades do devedor ou de terceiros; · Quanto à destituição, cabe ao juízo (de ofício ou requerimento de qualquer interessado) ou de membro do próprio comitê. Em caso de destituição, este deverá ficar impedido de exercer a função de membro, ou mesmo a de administrador, em qualquer outro processo de falência ou recuperação judicial; · Devem assinar o termo de compromisso no prazo de 48 horas após a intimação, sob pena de não assumirem o respectivo cargo. 8. Responsabilização · Respondem civilmente, com necessidade de prova de dolo ou culpa (responsabilidade subjetiva), em caso de dano causados.seria preso até pagar o que devia aos credores. Contudo, há poucas regras a respeito de execução por dívidas singulares ou coletivas. Por outro lado, levando em consideração a influência do Direito Italiano, poderia o devedor ceder seus bens aos credores, evitando assim sua prisão; · As Ordenações Filipinas tiveram grande influência no Brasil (Colônia de Portugal), devido ao florescimento da Colônia e ao despertar das atividades mercantis e é nelas que se encontram, no Livro V, regras mais claras acerca da falência, distinguindo-se a dolosa, a culposa e a sem culpa; · As referidas Ordenações disciplinavam o concurso de credores, tendo prioridade o credor que tomasse a iniciativa da execução. No caso de o devedor não possuir bens, era inclusive prevista a sua prisão (Livro V, Título LXVI); · As Ordenações Filipinas consagravam a quebra dos comerciantes, distinguindo mercadores de devedores desonestos dos honestos, equiparando os desonestos aos ladrões públicos, inabilitando-os para o comércio e impondo-lhes penas que variavam do degredo à pena de morte, não punindo os segundos, que podiam compor-se com os credores; · Curioso é que a pena do degredo tinha o Brasil como local de envio do apenado: sendo a coisa de valia de dez mil réis até vinte mil réis, será degradado para sempre para o Brasil; e sendo de valia de vinte mil réis para cima, teria uma morte natural; · A mais significativa estava no Alvará de 1756, editado pelo Marques de Pombal. Tal norma ordenava que o devedor entregasse as chaves de seu armazém, bem como seu livro diário, devendo comparecer para isso na Junta Comercial. Além disso, os credores, por publicação editalícia, poderiam liquidar 90% do produto arrecadado, enquanto os 10% restantes deveriam ser usados para manter o devedor e sua família; · Após a Proclamação da Independência, ordenou-se que fosse observada a lei da boa razão, aplicando-se em território nacional todo o conjunto de normas estrangeiras que fossem civilizadas, em matéria mercantil. Desse modo, aplicou-se, subsidiariamente, o Código Francês de 1804; · A pressão para uma codificação foi muito grande. Diante da vinda da família real para o Brasil, em 1808, houve importante mudança e se passou a ter essa codificação, através da edição da Lei 556, promulgada em 1850, conhecida como Código Comercial. Em seu Livro III, denominado “Das Quebras”, constituía o chamado direito falimentar; · O Código Comercial de 1850, na sua parte de direito falimentar, sofria grandes críticas da doutrina, por grandes defeitos que a legislação possuía. As mudanças então só vieram 40 anos depois, com a edição do Decreto 917/1890; · Apesar de introduzir meios preventivos à decretação da falência, como a concordata preventiva, a moratória, e cessão de bens e o acordo extrajudicial, a legislação não teve grandes méritos. O decreto possuía defeitos, contudo abriu novos horizontes ao direito comercial pátrio; · A mudança brusca do sistema falimentar; a facilidade que tinham os devedores de afastar a decretação da falência, pelo emprego dos meios preventivos; a autonomia excessiva dos credores, e, sobretudo, o afastamento do sistema na aplicação da lei, pelo cancelamento dos princípios que a inspiraram, concorreram para o descrédito desse decreto 917/1890; · Foi editado, em 1908, a Lei 2024, de autoria do Mestre Carvalho de Mendonça, que ajudou a desenvolver ainda mais o direito falimentar em terras brasileiras. Foi uma normativa muito bem elaborada, que perdurou até a entrada em vigor do Decreto 5746/1929; · De autoria do notável comercialista brasileiro, o prof. Waldemar Ferreira, o Decreto 5.746/1929 era uma revisão de alguns pontos da Lei 2.024/1.908, não havendo diferenças sensíveis entre as duas leis, mas a adaptação da antiga lei às novas condições ambientais, causadas principalmente pela Primeira Guerra Mundial; · A Lei n° 5.746/1929 fora criada para vedar as fendas que a legislação anterior criara, sem alterar-lhe o sistema, ou como asseverou seu relator, na Câmara dos Deputados, aperfeiçoá-la no seu maquinismo, e naqueles pontos em que o aparelho mostrou não funcionar com a devida precisão; · Diante da intensa procura pela modernização do direito falimentar, foi editado, em 1945, o Decreto-Lei 7.661, que perdurou por 60 anos, até ser totalmente revogado pela nova lei de falências (Lei 11.101/2005); · Referido diploma legal apresentou muitas inovações, tais como: a abolição das Assembleias dos Credores, diminuindo a influência destes, reforçando os poderes dos magistrados e a concordata (preventiva e suspensiva) deixou de ser um contrato, para ser um benefício concedido pelo Estado, através do Juiz ao devedor infeliz e honesto; · O Decreto-Lei 7.661/1945 vigora em uma época de crescente industrialização, que ainda convivia com um Brasil agrário; · Em seu corpo de disposições, não tinha a distinção entre sociedade empresária e controladores, além de instituição da concordata; · A concordata deixa de ser um contrato para se tornar um benefício concedido pelo Estado, através do Poder Judiciário. Seu conceito se resume no pedido feito pelo devedor, dentro do processo judicial, no qual ele requer uma espécie de moratória. Por sua vez, moratória é uma dilação de prazo para pagar as obrigações perante os credores. Esse prazo era de 2 anos; · A concordata podia ser dividida em preventiva e suspensiva. Concordata preventiva Concordata suspensiva Requerida mediante procedimento singular, pelo devedor, quando, ciente da situação, já vislumbra precariedade econômica e financeira que possa levá-lo à falência. Requerida mediante procedimento de falência, pelo devedor, dentro de uma relação jurídica. Quando concedida, o processo de falência fica automaticamente suspenso. · A partir da década de 80, com o surgimento da globalização, vinda pelo fim da ordem bipolar, queda do Muro de Berlim e fim da Guerra Fria, as transformações econômicas e sociais decorrentes da globalização começaram a surtir no Brasil de forma mais intensa, havendo necessidade de reformulação da legislação do direito falimentar; · Para atender, então, aos ditames da nova realidade, bem como atender a pedidos internacionais e nacionais, que clamavam por uma mudança na legislação, o Poder Executivo Federal apresentou, em 1993, ainda na gestão Itamar Franco, um anteprojeto, elaborado sob a coordenação do então Ministro da Justiça, Maurício Correa, sobre direito falimentar; · Essa reforma veio com a novíssima Lei n. 11.101 de 9 de fevereiro de 2005, a qual possui como princípios fundamentais a preservação da empresa; separação dos conceitos de empresa e de empresário; recuperação das sociedades e empresários recuperáveis, retirada do mercado de sociedades ou empresários não recuperáveis, proteção aos trabalhadores, redução do custo do crédito no Brasil, celeridade e eficiência dos processos judiciais, segurança jurídica, participação ativa dos credores, maximização do valor dos ativos do falido, desburocratização da recuperação de microempresas e empresas de pequeno porte e, por fim, rigor na punição de crimes relacionados à falência e à recuperação judicial.; · A Lei 11.101/2005 revogou o antigo Decreto-Lei 7.661/1945 (ab-rogação), tratando-se de lei mista, ou seja, há disposições de direito material e disposições de direito processual; · Foi fruto de um regime democrático, com participação do Congresso Nacional na sua edição, bem como de juristas da matéria. Foi fortemente influenciada pela legislação norte-americana. ANÁLISE INICIAL DA NOVA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA (LEI 11.101/2005) 1. Introdução · A nova lei, batizada de Lei de Falência e recuperação judicial de empresas, acabou com a concordata, substituindo-a pelo regime de recuperação, que atinge todos os credores; · Manteve o sistema baseado na impontualidade e no risco iminente, criou os órgãos representativos e o regime de administração profissional; · Quanto ao regime de recuperação, esse se divide em judicial e extrajudicial. Recuperação judicial Recuperação extrajudicial Tenta, como objetivo, preservara atividade econômica, dentro do processo judicial, antes mesmo de decretar a falência. Busca viabilizar a superação da crise econômica pela qual a sociedade empresária está passando, permitindo a manutenção da fonte produtora de bens e serviços. Trata-se de renegociação de dívidas empresariais, fora das vias judiciais. Com esse benefício, o devedor pode negociar diretamente com o credor, mediante acordo, que poderá ou não ser homologado pelo juiz. · A recuperação, seja ela judicial ou extrajudicial, objetiva a preservação da atividade empresária, mediante mecanismos jurídicos, muitas vezes, com vistas a preservar postos de trabalho, geração de emprego e renda, pagamento de tributos, preservação ambiental, além da função social da empresa, pagamento de credores e fornecedores; · Por outro lado, a recuperação da sociedade empresária privilegia todo o arcabouço principiológico descrito dentro do artigo 170 da CR/88, ao prever a autonomia de mercado, a liberdade de ação do particular, bem como a circulação de capital dentro da economia; · As demais modificações consistem no aumento do prazo de contestação (de 24 horas para 10 dias), exigência da impontualidade injustificada que embasa o pedido de falência seja relativo a dívidas superiores a 40 salários mínimos, redução da participação do Ministério Público no processo falimentar, alterações das regras relativas ao síndico (passa a ser chamado de administrador), mudança na classificação dos créditos e a previsão de créditos extraconcursais, alterações nas regras relativas à ação reivindicatória, fim do inquérito judicial para apuração de crime falimentar, criação da figura da recuperação extrajudicial; · Ao final da recuperação judicial, se houver o saneamento da sociedade empresária, o processo será extinto, mediante sentença extintiva. Se não cumprir, haverá sentença de decretação da falência; · Quanto aos órgãos representativos, há os órgãos dos credores, dividido em comitê de credores e assembleia geral de credores. Comitê de credores Assembleia geral de credores Órgão colegiado, facultativo, criado para fiscalizar o plano de recuperação judicial. Órgão colegiado, obrigatório, responsável por aprovar o plano de recuperação judicial. · Outra novidade é o regime de administração profissional: no Decreto-Lei, havia o comissário (intercâmbio entre credor, devedor e Estado). Na nova legislação, há a figura do administrador geral (nomeado pelo juiz, técnico, remunerado); · A falência continua, tendo por consequência a paralisação, decretada no curso do plano ou após o prazo de 2 anos; · Inovação: sistema de crédito, de acordo com recomendações internacionais. 2. Resumo dos principais assuntos da Lei 11.101/2005 · Conforme descrito nos dois primeiros artigos, a lei 11.101/2005 se aplica para empresários individuais, sociedades empresárias e EIRELI. Por outro lado, não se aplica para sociedades simples, empresas públicas e sociedades de economia mista, bancos (públicos ou privados), seguradoras, planos de saúde, cooperativas de crédito, entidades de previdência complementar, sociedades de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores; · Podem pedir (legitimados) a falência do devedor: o próprio devedor (autofalência), cônjuge, herdeiro ou inventariante (aplica-se aos empresários individuais), sócio (aplica-se às sociedades empresárias), qualquer credor. Na questão da legitimidade, a Fazenda Pública não a possui; · O juízo competente para analisar o pedido da falência será o juízo do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil; · O pedido de falência é cabível quando caracterizada a insolvência jurídica do devedor, mais especificamente na impontualidade justificada, na execução frustrada e nos atos de falência. Impontualidade injustificada Execução frustrada Atos de falência Dívida superior a 40 salários mínimos e materializada em título executivo protestado. Basta que o devedor, citado em uma execução qualquer, fique inerte (título não precisa ser protestado e a dívida pode ser de qualquer valor). Rol taxativo de condutas que presumem o estado de insolvência do devedor. · Quanto ao sócio de responsabilidade ilimitada: considera-se falido e seus bens serão arrecadados para a massa falida; · Quanto a sócios de responsabilidade limitada: em princípio, não são atingidos. Eventual responsabilização depende de ação própria ajuizada no juízo da falência; · A falência possui efeitos, que são: inabilitação empresarial, perda do direito de administrar os bens e da disponibilidade sobre eles, vencimento antecipado das dívidas, suspensão da fluência de juros, manutenção dos contratos conforme decisão do administrador judicial, instauração do juízo universal da falência; · Há previsão da suspensão da prescrição e das ações e execuções individuais contra o devedor, que não se aplica a ações que demandam quantia ilíquida, que correm na Justiça do Trabalho e aquelas que correm em execução fiscal; · Princípio da maximização do ativo: preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da sociedade empresária (objetivo é evitar a desvalorização e a deterioração dos bens do devedor); · Quanto à investigação dos atos anteriores à falência, esses se dividem em atos objetivamente ineficazes e atos subjetivamente ineficazes. Atos objetivamente ineficazes Atos subjetivamente ineficazes Trata-se de um rol taxativo, previsto em lei, podendo ser declarados de ofício, independentemente de fraude ou intenção de prejudicar credores. A lei não descreve casos específicos. Qualquer ato praticado com intenção de prejudicar credor, em conluio com terceiros, que cause prejuízo para a massa. A declaração de ineficácia depende de ajuizamento de ação revocatória. · Ordem legal de preferência para venda dos bens do falido: (1) trespasse do estabelecimento empresarial em bloco, (2) venda isolada de filiais e unidades prontas, (3) venda dos bens em bloco, (4) venda isolada dos bens; · Modalidades de venda dos bens previstos na Lei 11.101/2005: leilão, propostas fechadas, pregão (mistura de propostas fechadas com leilão); · Há modalidades atípicas de venda dos bens do falido. Nesse caso, podem ser sugeridas ao juiz pelo comitê de credores ou determinadas pela assembleia geral de credores; · As despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência e os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador serão pagos assim que tiver disponibilidade em caixa, não obedecendo a nenhuma classificação; · Os créditos extraconcursais são dívidas de massa, que surgiram depois da decretação da falência, por isso devem ser pagos antes dos créditos concursais, que são dívidas do falido, que surgiram antes da decretação da falência; · Há uma ordem de classificação dos créditos na falência. 1) créditos trabalhistas e acidentários: os créditos acidentários são preferenciais, independentemente do valor, mas a preferência dos créditos trabalhistas está limitada a 150 salários mínimos (o que exceder a esse valor será considerado crédito quirografário). 2) créditos com garantia real: a preferência deles está limitada ao valor do bem gravado (o que exceder o valor do bem gravado será considerado crédito quirografário). 3) créditos tributários: não se incluem nessa categoria as multas tributárias. 4) créditos com privilégio especial: são os créditos descritos no artigo 964 do CC/2002. Importa destacar sobre o artigo supracitado que os créditos com privilégio especial incidem somente sobre determinados bens, não o patrimônio como um todo do falido. 5) crédito com privilégio geral: são todos os bens que não são sujeitos a direito real nem possuem privilégio especial. São aqueles que alcançam a totalidade do patrimônio do devedor, previstos dentro do artigo 965 do CC/2002. 6) Créditoquirografário: são créditos que não desfrutam de qualquer das preferências que a lei estabelece. São, portanto, créditos residuais, aos quais se chegam por exclusão, embora, na prática, costuma representar a lista mais extensa no rol das classificações de crédito. Não se enquadrando o crédito em nenhuma das outras classes que o precedem será ele quirografário. 7) multas e penas pecuniárias: aqui se incluem desde multas contratuais até multas por infração da legislação administrativa, por exemplo. 8) créditos subordinados: basicamente, são créditos de sócios contra a própria sociedade falida. São subordinados os créditos que os sócios e os administradores sem vínculo de emprego com a sociedade falida desfrutam em face da pessoa jurídica, além daqueles que por lei ou contrato venham assim previstos, como é o caso do credor por debêntures subordinadas. · Há requisitos próprios para o pedido de recuperação judicial, que são: (1) exercício regular de empresa há mais de 2 anos, (2) não ser falido (portanto, não há recuperação judicial suspensiva, mas apenas preventiva), (3) não ter obtido recuperação judicial nos últimos 5 anos (mesmo prazo para ME e EPP que pede recuperação especial, prevista em lei), (4) ausência de condenação por crime falimentar (tratando-se de sociedade empresária, essa regra se aplica a seus sócios e/ou administradores); · Não se deve confundir a decisão que apenas determina o processamento do pedido e a recuperação judicial com a decisão que concede a recuperação judicial; · A decisão que defere o processamento da recuperação judicial suspende a prescrição e as ações e execuções individuais contra o devedor, com exceção das ações que demandam quantia ilíquida, que tramitam na Justiça do Trabalho, que recaia sobre execução fiscal. Em caso de recuperação judicial, essa suspensão só dura 180 dias; · Após a apresentação do plano de recuperação judicial, podem ocorrer duas situações. A primeira é não ter objeção. A segunda é ter objeção. Plano apresentado, não tendo objeções Plano apresentado, tendo objeções Não havendo objeções, o plano estará aprovado tacitamente. Se houver objeção, o juiz convocará a assembleia geral de credores, que poderá: I – aprovar o plano, sem modificações; II – aprovar o plano, com modificações; III – não aprovar o plano (a consequência, a princípio, como via de regra, é a falência). · O descumprimento do plano de recuperação acarreta determinadas consequências, a depender do estágio em que se encontra; · Se o descumprimento ocorrer antes de encerrada a recuperação judicial, ou seja, até 2 anos após a sua concessão, haverá convolação da recuperação judicial em falência; · Se o descumprimento ocorrer após o encerramento da recuperação judicial, ou seja, após 2 anos da sua concessão, o credor interessado poderá executar a dívida respectiva ou requerer a falência do devedor; · Para ME e EPP, o plano especial de recuperação judicial: (1) abrange todos os créditos existentes na data do pedido, exceto os decorrentes de repasse oficiais, os fiscais, entre outros previstos em lei, (2) prevê o parcelamento desses créditos em até 36 meses, com juros da SELIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento do valor das dívidas, (3) a assembleia geral não é convocada para deliberar sobre o plano. UNIDADE 3: PRINCÍPIOS DO DIREITO FALIMENTAR 1. Princípio da inerência ao risco · Qualquer atividade empresarial corre o risco de não ter prosperidade, por diversos fatores, muitos deles não controláveis pelo próprio empresário. Mesmo que o empresário ou a sociedade empresária tenha cumprido todo o disposto em lei ou regulamentos, pode ocorrer crise empresarial, levando-a uma situação de recuperação judicial. 2. Princípio do impacto social da crise da empresa · Em razão do impacto social da crise da atividade empresária, sua preservação e solução serão destinadas não somente à proteção dos interesses do empresário, de seus credores e empregados, mas também, quando necessário, à proteção0 dos interesses metaindividuais relacionados à continuidade da atividade empresarial. Tal princípio tem amparo legal dentro do artigo 47 da LF. Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. 3. Princípio da transparência nos processos de falência e recuperação judicial · Como o processo de recuperação judicial, bem como o processo de falência, tem custos para as partes, deve ser oportunizado, a todo instante, o acompanhamento da instrução, endereçado aos credores, de modo a otimizar seus gastos com uma lógica razoável, com a medida do possível, de modo a não comprometer a sua parte financeira; · Por outro lado, a transparência processual exige que haja um maior cuidado também com as informações da própria atividade desenvolvida. Mesmo que o empresário ou sociedade empresária se encontre em situação de falência, a atividade ainda pode render frutos. Desse modo, deve haver uma preservação e até mesmo sigilo por parte do juízo sobre tais informações. 4. Princípio do tratamento paritário dos credores do falido · O tratamento paritário dos credores, chamado de par conditio creditorum, corresponde a um valor secular, cultivado dentro do direito falimentar, de modo a priorizar os credores mais necessitados ante os demais. 5. Princípio da preservação da empresa · Em razão de sua função social, a empresa deve ser preservada sempre que possível, pois gera riqueza econômica e cria emprego e renda, contribuindo para o crescimento e o desenvolvimento social do País; · Além disso, a extinção da empresa provoca a perde do agregado econômico representado pelos chamados intangíveis como nome, ponto comercial, reputação, marcas, clientela, rede de fornecedores, know-how, treinamento, perspectiva de lucro futuro, entre outros; Separação dos conceitos de empresa e empresário: a empresa é o conjunto organizado de capital e trabalho para a produção ou circulação de bens e serviços. Não se deve confundir a empresa com a pessoa natural ou jurídica que controla. Assim, é possível preservar uma empresa, ainda que haja a falência, desde que logre aliená-la a outro empresário ou sociedade que continue sua atividade em bases eficientes. · O princípio basilar da LF é o da preservação da empresa, especialmente diante dos interesses que em torno dela gravitam. Vale dizer, a empresa é a célula essencial da economia de mercado e cumpre relevante função social, porque, ao explorar a atividade prevista em seu objeto social e ao perseguir o seu objetivo (o lucro), promove interações econômicas (produção ou circulação de bens ou serviços) com outros agentes do mercado, consumindo, vendendo, gerando empregos, pagando tributos, movimentando a economia, desenvolvendo a comunidade em que está inserida, enfim, criando riqueza e ajudando no desenvolvimento do País, não porque esse seja o seu objetivo final – de fato, não o é -, mas simplesmente em razão de um efeito colateral e benéfico do exercício da sua atividade; · O princípio da preservação da empresa está concretizado nos regimes recuperatórios legalmente previstos: a recuperação judicial, a extrajudicial e, inclusive, na existência de um regime de recuperação judicial supostamente favorável para as microempresas (ME) e empresas de pequeno porte (EPP), procedimento especial para as ME e EPP; · A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica; · Sempre que for possível a manutenção da estrutura organizacional ou societária, ainda que, com modificação, o Estado deve dar instrumentos e condiçõespara que a empresa se recupere, estimulando, assim, a atividade empresarial; · Não obstante, é importante ressalvar que nem toda empresa merece ser preservada. Não existe, no Direito brasileiro, ou em qualquer outro dos que temos notícia, um princípio da “preservação da empresa a todo custo”. Na verdade, a LFRE consagra, no sentido exatamente oposto, um princípio complementar ao da preservação da empresa que é o da retirada do mercado da empresa inviável; · Isso porque não é possível querer que se mantenha uma empresa a qualquer custo, pois quando os agentes econômicos que exploram a atividade não estão aptos a criar riqueza e podem prejudicar a oferta de crédito, a segurança e a confiabilidade do tráfico mercantil, devem ser retirados do mercado o mais rápido possível para o bem da economia como um todo, sempre com a finalidade de evitar a criação de maiores problemas. Manter empresas absolutamente inviáveis operando, ainda que sob a titularidade de novos sujeitos, significa transferir o risco do negócio aos credores, o que é inadmissível; · A recuperação somente se justifica na medida em que o resultado da equação de reorganização da empresa for positivo para todos os envolvidos – devedor, credores, empregados, fornecedores, comunidade – isto é, resulte, ao fim e ao cabo, em valor econômico superior ao montante que poderia ser obtido com a liquidação imediata e venda dos ativos do devedor. Do ponto de vista estritamente econômico, a falência não é má em todos os aspectos, pois se os recursos (capital, trabalho) são escassos – como de fato o são –, esses devem ser realocados para aqueles agentes que tenham efetiva capacidade de gerar riqueza; · Tem-se, portanto, que somente deve ser passível de recuperação a empresa economicamente viável. Nesse sentido, cabe aos credores da empresa em dificuldades, justamente porque a eles interessa a manutenção de negócios saudáveis, o poder de julgar a viabilidade da empresa, seja aceitando o plano de recuperação apresentado judicialmente pelo devedor, seja pela adesão ao plano de recuperação extrajudicial. 6. Princípio da proteção aos trabalhadores · Os trabalhadores, por terem como único ou principal bem sua força de trabalho, devem ser protegidos, não só com precedência no recebimento de seus créditos na falência e na recuperação judicial, mas com instrumentos que, por preservarem a empresa, preservem também seus empregos e criem novas oportunidades para a grande massa de desempregados. 7. Princípio da celeridade e eficiência processuais · É preciso que as normas procedimentais na falência e na recuperação de empresas sejam, na medida do possível, simples, conferindo-se celeridade e eficiente ao processo e reduzindo-se a burocracia que atravancava seu curso. 8. Princípio da maximização do valor dos ativos do falido · Para atender um maior número de credores na falência e para aumentar as chances de recuperação da empresa em crise, a LF oferece vários mecanismos para assegurar a obtenção do máximo valor possível pelos ativos do falido, (a) evitando a deterioração provocada pela demora excessiva do processo, (b) priorizando a venda da empresa em bloco, para evitar a perda dos intangíveis, assim como dá ao administrador judicial (c) a possibilidade de celebrar contratos que gerem renda a partir da exploração dos bens da massa falida, enquanto esses não forem alienados; · Nesse sentido, vislumbramos o objetivo de preservar e maximizar os ativos do falido (i) na regra que permite ao administrador judicial fazer ele mesmo a avaliação dos bens do falido arrecadados, se tiver conhecimento técnico para tanto, possibilitando, ainda, (ii) a avaliação dos bens em bloco se isso for possível (art. 108); (iii) na permissão, em razão dos custos e no interesse da massa falida, de aquisição ou adjudicação, de imediato, pelos credores, dos bens arrecadados, pelo valor da avaliação, atendida a regra de classificação e preferência entre eles, desde que autorizado pelo juiz e ouvido o Comitê, se houver (art. 111); (iv) na hipótese de venda antecipada dos bens perecíveis, deterioráveis, sujeitos à considerável desvalorização ou que sejam de conservação arriscada ou dispendiosa (art. 113); e (v) na permissão de celebrar contratos para gerar renda a partir dos bens da massa (art. 114); · Ademais, é possível observar a materialização deste princípio na preferência legal pela venda do mais abrangente conjunto de bens possível (art. 140), iniciando pela venda da empresa em bloco, com todos os seus estabelecimentos (art. 140, I); a alienação da empresa por estabelecimento (art. 140, II); a alienação de bens em bloco (art. 140, III); e, como última opção, a alienação individual de bens (art. 140, IV), hipóteses iniciais que permitiriam obter um maior valor de venda e até a continuação da atividade nas mãos de outro empresário. É importante, ainda, lembrar as técnicas de recuperação que importam o trespasse do estabelecimento (art. 50, VII) e o usufruto da empresa (art. 50, XIII), hipóteses essas que consideram que o conjunto de bens pode gerar valor para o devedor; · Por fim, ressaltamos que a noção de maximização e de preservação dos ativos do devedor está ínsita aos regimes recuperatórios (judicial e extrajudicial). 9. Princípio do rigor da punição de crimes falimentares · É preciso punir com severidade os crimes falimentares, com o objetivo de coibir as falências fraudulentas, em função do prejuízo social e econômico que causam. No que tange à recuperação judicial, a maior liberdade conferida ao devedor para apresentar proposta a seus credores precisa necessariamente ser contrabalançando com punição rigorosa aos fraudulentos praticados para induzir os credores ou juízo a erro. 10. Princípio da redução do custo do crédito · Mais um objetivo declarado da lei é a redução do custo de crédito no Brasil. É possível verificar em vários dispositivos da LF regras que criam direitos especiais para as instituições financeiras, reduzindo os riscos que elas normalmente enfrentariam em suas operações de crédito, razão pela qual poderiam elas cobrar juros proporcionalmente mais baixos do empresariado, segundo a lógica: quanto menor o risco, menores os juros (exemplificativamente, vale mencionar a previsão dos arts. 49, §§ 3º e 4º, 86, II, e 161, § 1º, e 199, §§ 1º, 2º e 3º, que põem a salvo as relações negociais fundadas em contratos tipicamente bancários, como a alienação fiduciária em garantia, o arrendamento mercantil, o adiantamento a contrato de câmbio, o leasing de aeronave e suas partes, entre outros); · Ainda, veja-se, a título de exemplo, que na composição das classes que formam a assembleia-geral de credores, o art. 41, II (c/c art. 45) da LF inseriu os titulares de garantias reais (cujos principais destinatários são os credores bancários) em uma classe própria, e mais, com poderes para deliberar sobre o plano de recuperação judicial proposto pelo devedor, tendo a relevante prerrogativa de vetar a proposta apresentada pelo devedor; · Além disso, a própria posição do crédito bancário na classificação dos créditos em caso de falência, prevista no art. 83, II, denuncia a postura “pró-banco” da LFRE: o crédito com garantia real, a modalidade típica de garantia exigida pelos bancos em suas operações de financiamento ocupa o segundo grau na ordem de pagamento dos créditos concursais, logo abaixo dos trabalhistas e acima do Fisco, sem dúvida um feito muito contundente do chamado “lobby bancário”. UNIDADE 4: REFERÊNCIAS LEGAIS 1. Introdução · Desde que o direito passou a consagrar toda a responsabilização do devedor sob o patrimônio, em substituição à responsabilidade nitidamente pessoal, cabe ao credor buscar a satisfação do crédito respectivo nas propriedades do devedor; · Contudo, em determinadas situações, quando o passivo se torna maior que o ativo, há a caracterização de uma situação negativa, podendo trazer uma insolvência ou insolvabilidade, tornando a regra de execução individual injusta; · A par dessa configuração, o direito falimentar criou um regime de execução especial,na qual todos os credores deverão ser reunidos em um único processo, para que ocorra a execução conjunta do devedor; · A ideia dessa execução coletiva advém do princípio da par conditio creditorum. Por esse princípio, deve ser dado aos credores tratamento isonômico, mediante execução concursal coletiva. 2. Recuperação judicial · Embora a lei não conceitue o que é recuperação judicial, coube à doutrina e à jurisprudência se encarregar de tal conceituação. A recuperação judicial é o procedimento pelo qual o devedor (empresário individual, sociedade empresária) promove por si mesma (auto falência) ou tem promovido contra si (pedido de terceiros) uma recuperação por conta de uma situação econômica especial (insolvência); · A insolvência, por sua vez, é uma situação fática ou jurídica na qual o devedor não possui condições e nem capacidade econômica para arcar com as obrigações, ou seja, o seu passivo é maior do que o ativo; · Inadimplência: atraso na realização de determinadas obrigações pelo devedor, podendo acarretar insolvência; · A recuperação judicial pode servir como meio de renegociar obrigações, tendo em vista a não solução do ponto de vista mercadológico, sob supervisão judicial, existindo, ao largo disso, um interesse estatal em preservar a economia. 3. Falência · A falência é um instituto típico do regime jurídico empresarial, aplicável tão somente aos devedores empresários, como será visto ao longo desse material. Ao devedor civil, aplica-se a insolvência civil prevista dentro do Código de Processo Civil (associações, entre outros); · Pode-se, então, conceituar a falência como a execução concursal do devedor empresário; · Trata-se de procedimento concursal (credores) ou liquidatário (judicial), específico, no qual, em um único processo (juízo universal e indivisível) se reúnem os bens do devedor (espécie de inventário), devidamente listados (arrecadados), para realização de pagamento aos credores, mediante ordem legal prevista em lei; · O procedimento terá um profissional que irá administrar, denominado de administrador judicial, responsável pelo rateio (considerado auxiliar do juízo). 3.1. Natureza jurídica da falência · A falência possui caráter híbrido (normas de direito material e de direito processual), em um procedimento complexo, diante da confluências das duas normas; · Por outro lado, trata-se de negócio jurídico privado, realizado entre devedor e credores, mediante plano de recuperação judicial, proposta apresentada pelo devedor e submetida a aprovação pelos credores; · O plano possui um prazo legal para ser cumprido. Via de regra, esse prazo é de 2 anos, com objetivo de oportunizar a recuperação do empresário ou da sociedade empresária, pois sua atividade estava perdida. Caso o plano não seja executado ou executado de forma frustrada e até ilícita, haverá a sentença de falência; · Trata-se, então, de causa extraordinária de dissolução da sociedade empresária ou do empresário individual; · A falência é um processo judicial de liquidação, com paralisação das atividades econômicas. Ao contrário, na recuperação, há continuidade da atividade; · Por outro lado, a falência pode ser considerada negócio jurídico privado, realizado entre devedor e credores, após plano de recuperação proposto e apresentado pelo devedor, submetido aos credores para aprovação; · O prazo desse plano gira em torno de 2 anos (regra geral). Objetiva a recuperação da atividade perdida pelo devedor. Caso seja cumprido o plano e a atividade seja recuperada, haverá sentença de extinção do processo judicial. Caso o plano não prospere ou seja frustrado, haverá sentença para decretar a falência; · A falência é uma causa extraordinária de dissolução da sociedade empresária ou do empresário individual. Trata-se de processo judicial de liquidação, com paralisação das atividades econômicas. Na recuperação, por sua vez, a atividade é contínua, feita ao mesmo tempo da execução do plano. 4. Recuperação (judicial/extrajudicial) versus falência Recuperação judicial/extrajudicial Falência Intervenção estatal (supervisão judicial). Regime de concurso (execução concursal). Interesse de proteger direito de terceiros, incluindo trabalhadores. Interesse de proteger os credores e o Estado, bem como os contribuintes. · Por outro lado, recuperação judicial não é o mesmo que falência. A recuperação judicial é uma forma da empresa em momentânea dificuldade financeira e/ou econômica buscar a tutela do Estado, junto ao poder judiciário, para que possa equilibrar suas contas e continuar a atuar no mercado. Por outro lado a falência é um processo que visa promover a arrecadação de todos os bens da empresa, a realização do ativo (transformação dos bens em dinheiro) e o pagamento dos credores; · As principais diferenças são que na extrajudicial não podem ser inclusas dívidas trabalhistas e por acidente de trabalho, não há suspensão das demandas judiciais em face da empresa e dos sócios, após a distribuição para homologação do plano de recuperação pelo juízo os credores não poderão desistir, há caso em que é facultativa a homologação judicial do plano de recuperação, tudo ao contrário do que ocorre na recuperação judicial; · Os dois institutos (recuperação judicial/extrajudicial e a falência) não são tidos mais como favores reais. Não são criados para abraçar os maus gestores, mas sim para viabilizar as sociedades empresários e o empresário que possui condições (viabilidade) de continuar no mercado. 5. Principais alterações na nova lei de falência · A nova Lei de Falências e Recuperação de Empresas (Lei 11.101) foi sancionada pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em 9 de fevereiro de 2005, e tem como principal objetivo preservar a empresa em estado de crise econômico-financeira. A nova Lei de Falências substituiu o Decreto Lei 7.661 de 1945, conhecido como Lei de Falência e de Concordata; · O atual diploma legal se distingue fundamentalmente da lei falimentar velha porque essa tinha o principal objetivo de realizar pagamentos dos débitos sociais enquanto aquela privilegia a recuperação financeira das empresas. 5.1. Interesse público e manutenção da atividade empresária · Conforme já mencionado, a atual legislação possui, em seu artigo 47, a previsão da prevalência do interesse público e a manutenção da atividade econômica sobre o interesse privado de cada credor considerado individualmente; · Deve-se compreender a atividade empresária como algo mais do que a insolvência do empresário ou sociedade empresária. Isto é possível pela transferência da sociedade empresária a outrem, que, pagando por ela, manterá seu funcionamento, atendendo à sua função social; · O ex-titular mantém falido e o valor da alienação ingressa para a massa. A liquidação do patrimônio empresarial não mais se confunde com a extinção da sociedade empresária. Isso é viável, pois se transfere apenas do ativo, sem o respectivo passivo, que será mantido na massa falida (simplesmente um conjunto de bens, a liquidação do patrimônio do falido pode fazer-se com a preservação da empresa, ou seja, alienação do somatório de estabelecimento (conjunto organizado de bens para o exercício da empresa) e na atividade; · Desta forma, fica configurada a importância que tem o Estado em preservar a empresa em razão do bem comum que ela representa na sociedade, sendo inquestionável que sua manutenção é de interesse público. Assim, os empreendedores são incentivados a dar continuidade ao ciclo produtivo da empresa, com vistas a satisfação dos interesses econômicos e da sociedade civil; · Afinal, quem faliu foi o empresário ou a sociedade empresária, não a empresa, que é mero objeto. Assim a lei 11.101/05 permite a preservação da empresa, apesar da insolvência do empresário ou sociedade empresária. A liquidação do patrimônio empresarial não mais se confunde com a extinção da empresa. Isso é viável pois se transfere apenas do ativo, sem o respectivo passivo, que será mantido na massa falida; · A nova lei atribuiu a responsabilidade ás pessoas que estãoa frente da empresa, mas estendeu também para os credores e para o Poder Judiciário, os quais devem unir esforços a fim de alavancar e reestruturar a situação financeira e econômica da empresa. 5.2. Recuperação judicial e concordata: diferenças · Conforme já falado, o conceito de concordata se faz no pedido feito pelo devedor, dentro do processo judicial, no qual ele requer uma espécie de moratória. Por sua vez, moratória é uma dilação de prazo para pagar as obrigações perante os credores. Esse prazo era de 2 anos; · A concordata era um direito que tinha acesso qualquer empresário que atendia aos requisitos da lei, independentemente da viabilidade da recuperação da empresa; · A concordata só produzia efeitos quanto aos credores quirografários. Logo revelou-se a concordata como ineficiente para apresentar-se como solução viável para possibilitar ao empresário a recuperação de sua atividade econômica por via judicial, pois a Lei não lhe dava nenhuma solução quanto aos débitos com garantias reais e trabalhistas; · Diferentemente do que ocorria com a concordata, a recuperação judicial só é deferida quando a empresa tem condições reais de se recuperar, além de sujeitar todos os credores, até os que possuem títulos com privilégios ou preferências; · A medida judicial de preservação do devedor relativamente à falência deixa de ser a concordata (preventiva ou suspensiva) e passa a ser a recuperação judicial. As principais diferenças entre elas podem ser vistas no quadro abaixo. Concordata Recuperação judicial Concordata é um direito a que tinha acesso todo empresário que preenchesse as condições da lei, independentemente da viabilidade de sua recuperação econômica Só tem acesso o empresário cuja atividade econômica possa ser reorganizada Enquanto a concordata produz efeitos somente em relação aos credores quirografários A recuperação judicial sujeita todos os credores, inclusive os que titularizam privilégio ou preferência (a única limitação legal é o pagamento das dívidas trabalhistas em no máximo 1 ano), exceto os fiscais (que devem ser pagos ou parcelados antes da concessão do benefício) O sacrifício imposto aos credores, na concordata, já vem definido na lei (dividendo mínimo) e é da unilateral escolha do devedor Na recuperação judicial, o sacrifício, se houver, deve ser delimitado no plano da recuperação, sem qualquer limitação legal, e deve ser aprovado por todas as classes de credores · Dessa forma, com a recuperação judicial pela nova Lei de Falências, além de se propiciar uma maior participação dos credores nas discussões no sentido de encontrar alternativas de recuperação de empresas em crise, através da assembleia de credores, a Lei também propicia várias formas de recuperação que podem ser adotadas, isoladamente, ou de forma conjunta. 5.3. Falência e cobrança de dívidas · O pedido de falência perdeu, em parte, a característica de medida coercitiva utilizável na cobrança de dívida. Diversas alterações o indicam, entre elas: a) na nova lei, só é cabível o pedido de falência se o valor da dívida em atraso for superior ao mínimo estabelecido em lei (40 salários mínimos); b) pela nova lei, a simples apresentação de plano de recuperação, no prazo da contestação, impede a decretação da falência com base na impontualidade injustificada; c) amplia-se o prazo para a contestação (ou depósito elisivo) de 24 horas para 10 dias; · Com isto, a preocupação do legislador ordinário é assegurar os princípios norteadores da atividade empresarial (razoabilidade, função social e preservação da empresa), devendo, portanto, a falência ser utilizada, tão somente, nos casos de retirada de atividades mercantis danosas aos interesses sociais; · Em conclusão, havendo outras formas de satisfação do crédito não se deve valer-se do instituto da falência. O processo de falência deverá ser utilizado, tão somente, nos casos em que a atividade empresarial representar riscos aos interesses sociais, ou seja, só se justificará para evitar atos fraudulentos dotados de má-fé, com a intenção de enriquecimento ilícito, prejudicando a coletividade. 5.4. Antecipação de venda dos bens do falido e a nova ordem de preferência · Outra mudança de destaque se refere a antecipação da venda dos bens do falido, sem aguardar a fase instrutória, conforme ocorria na vigência do Decreto Lei de 1945. Tal medida garantiu que bens perecíveis não perdessem seu valor; · A venda dos bens do falido (realização do ativo) pode ser feita desde logo. Não está, como na lei de 1945, condicionada à conclusão da fase cognitiva (verificação dos créditos e investigação dos crimes falimentares). A venda dos bens perecíveis, sujeitos a considerável desvalorização, de conservação arriscada ou dispendiosa pode ser feita antecipadamente; · Com a nova lei, mesmo retirando de sua incidência as falências requeridas até a data de sua entrada em vigor (09-06-05), permanecendo estas disciplinadas pelo Decreto-Lei nº 7.661 de 1945, foi permitida a venda de seu ativo logo após a arrecadação e avaliação, antes da formação do Quadro Geral de Credores, fato que num prognóstico bem realista, pode reduzir o prazo de sua realização para até mesmo um (1) ano, se houver boa vontade dos interessados; · Ainda no que tange aos bens do falido, a nova lei prevê uma ordem de preferência: alienação da empresa com a venda de seu estabelecimento em bloco; alienação da empresa, com a venda de unidades isoladamente; alienação em bloco dos bens que integram o estabelecimento; alienação parcelada ou individual dos bens; · Cria-se, também, nova modalidade de venda, além das já existentes (leilão ou propostas), que é o pregão. A escolha da melhor forma e da modalidade de venda cabe ao juiz, ouvido o administrador judicial e atendendo à orientação do Comitê, e não mais ao administrador judicial como no Decreto Lei 7.661 de 1945. 5.5. Fim da sucessão tributária e da trabalhista · Outra mudança benéfica da nova lei se refere a expressa previsão de seu art. 141, inciso II, o qual preceitua que o adquirente de bens do falido ou do requerente da recuperação judicial (neste último caso, se previsto no Plano aprovado em juízo) não é sucessor quanto às obrigações do devedor, tanto as tributárias quanto as trabalhistas; · Esta mudança se tornou possível através da Lei Complementar nº 118 de 2005, que alterou o art. 133 do Código Tributário Nacional, impedindo que a pessoa jurídica que alienasse ativos de empresa em processo de falência respondesse pelos tributos relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido; · A exclusão da sucessão torna mais interessante a compra da empresa e tende a estimular maiores ofertas pelos interessados na aquisição, o que aumenta a garantia dos trabalhadores, já que o valor pago ficará à disposição do juízo da falência e será utilizado para pagar prioritariamente os créditos trabalhistas. [...] se esta [a empresa] não é vendida, os trabalhadores não recebem seus créditos e ainda perdem seus empregos; · Desta forma, vê-se que quando da criação da nova lei de falências o legislador pretendeu justamente garantir que a continuidade da atividade empresarial, em claro benefício de todos os credores, pois uma empresa parada não aufere lucro e, assim, não paga os credores. 5.6. Participação do Ministério Público · O veto do Presidente da República ao artigo 4º do projeto lei que resultou na Lei 11.101/2005 afastou a previsão de que o representante do Ministério Público interviria em todos os atos dos processos de recuperação judicial e de falência, regra que reproduzia o Decreto-lei 7.661/1945. O presidente entendeu que essa atribuição sobrecarregaria o Ministério Público e que este só deveria ser comunicado dos principais atos processuais, tendo a possibilidade de intervir; · Fica claro, portanto, que o veto presidencial não afastou o Ministério Público do juízo concursal, cuide-se de falência ou recuperação judicial. Evita, apenas, o seu atrelamento absoluto a todo o procedimento, ou seja, a cada mínima fase e a cada desdobramento; · Muda substancialmente a participaçãodo Ministério Público na falência. Agora, ele não precisa intervir em todos os processos de que seja parte ou interessada a massa falida. Também não participa do pedido de falência. Salvo algumas intervenções específicas (impugnação à venda, rescisão de crédito admitido etc.), o Ministério Público só deve participar do processo de falência quando houver fatos como indício de crime, desobediência à lei ou ameaça de lesão ao interesse público; · O Ministério Público, conforme previsto na nova lei de falências, deverá participar obrigatoriamente de qualquer modalidade de alienação, sob pena de nulidade (art. 142, parágrafo 3º); poderá impugnar a relação de credores (art. 8º); pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito (art. 19); emitir parecer, favorável ou não, sobre as contas apresentadas pelo administrador judicial quando concluída a realização de todo o ativo (art. 154) e pedir a substituição do administrador judicial (art. 30, parágrafo 2º), dentre outras atribuições legais; · É importante ressaltar que o Ministério Público no juízo concursal não atua como parte, mas como interveniente, fiscalizando o cumprimento da lei, tendo como finalidade o interesse público. Justamente por isso, cumpre a parte promover-lhe a intimação sob pena de nulidade do processo. 5.7. Administrador judicial · A administração da falência na lei anterior cabia ao síndico e não ao administrador judicial; · Além da alteração do nome do titular da função, outras mudanças importantes merecem ser destacadas: a remuneração extraconcursal (isto é, este crédito deve ser atendido antes do pagamento dos credores do falido), a redução da autonomia do administrador judicial em relação a que era atribuída ao síndico (devendo atuar o administrador judicial sob a fiscalização do juiz e do Comitê de Credores) e a simplificação e racionalização do procedimento de escolha; · O síndico passa a chamar-se administrador judicial. Alteram-se os critérios de sua remuneração e define-se que ela é extraconcursal (será paga antes dos credores). A autonomia do administrador judicial é menor que a do síndico. A definição da forma pela qual será feita a realização do ativo) que, na lei anterior, cabia ao síndico) passa a ser atribuição do juiz. Cria-se novo órgão na falência (comitê) e amplia-se a função da Assembleia dos Credores; · Conforme se verifica da leitura do art. 60 do revogado Decreto-lei 7.661/45, o síndico escolhido seria um comerciante, entre os maiores credores, conduzindo à escolha de pessoa sem conhecimento suficiente para um procedimento técnico-jurídico; · A lei 11.101/2005 não mais prefere à um comerciante, mas opta por profissional tecnicamente idôneo para o desempenho da função, sendo pessoa da confiança do juiz; · Na definição das qualidades do administrador judicial, três elementos chamam a atenção e merecem exame: (1) idoneidade para o desempenho da função; (2) a preferência por advogado, economista, administrador de empresas ou contador; e (3) a possibilidade de escolha de pessoa jurídica para administrar a falência ou recuperação judicial da empresa. DISPOSIÇÕES GERAIS DA LEI 11.101/2005 1. Disposições preliminares 1.1. Legitimidade passiva · A legitimidade passiva (quem pode sofrer processo de recuperação e falência) está prevista dentro do artigo 1º. Art. 1o Esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos simplesmente como devedor. · De forma genérica, a lei denominou todos os legitimados passivos como devedores, elencando nesse rol os empresários e as sociedades empresárias; · Essa atual expressão está compatível com o Código Civil de 2002, que adotou, desde então, a teoria da empresa, em substituição à antiga teoria dos atos de comércio, que era oriunda do Código Comercial de 1850; · Antes de 2002, o Código Comercial previa, expressamente, a teoria dos atos de comércio. Tal teoria enfatizava que somente seria comerciante aqueles que praticassem os atos taxativos previstos em lei. Com o desenvolvimento da teoria da empresa, a partir dos anos 40, na Itália, a teoria dos atos de comércio foi cedendo espaço; · Atualmente, o Código Civil de 2002 separa os conceitos de empresa e empresário. Por sua vez, empresa é toda atividade econômica, enquanto empresário é aquele que exerce atividade empresária; · Por sua vez, deve-se levar em consideração o conceito de estabelecimento comercial. Trata-se do local no qual é exercida a atividade empresarial; · As sociedades simples, pessoas jurídicas de direito privado, não se submetem ao regime de recuperação e nem de falência estipulados na Lei 11.101/2005, mas sim ao regime de insolvência civil, regida pelo CPC; · Tecnicamente, há pessoas jurídicas que, mesmo não sendo empresários e nem sociedades empresárias, podem se submeter à Lei 11.101/2005. Podem ser citados o espólio do devedor (ente despersonalizado que responde processualmente pelos bens do De cujus), sociedades temporárias (empresa de contratação de mão de obra, por exemplo), sociedades de responsabilidade ilimitada. 1.2. Aplicabilidade a determinados legitimados · Mesmo que a lei de falência regule o processamento desse instituto aos empresários e sociedades empresárias, há determinados entes que não estão sujeitos aos dispositivos desse diploma normativo. O rol está descrito no artigo 2º. Art. 2o Esta Lei não se aplica a: I – empresa pública e sociedade de economia mista; II – instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito, consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora, sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores. I. Empresas públicas e sociedades de economia mista · Trata-se, aqui de uma exclusão absoluta, sem qualquer tipo de exceção; · Classificadas, dentro do direito administrativo, como empresas estatais, esses entes corporificam, de forma excepcional, a atuação dentro do Estado dentro da atividade econômica, atendendo a comandos constitucionais oriundos da Constituição; · Quanto às empresas estatais, é pacífico na doutrina o entendimento de não submetê-las ao regime de falência, visto que exercem serviço público inerente ao interesse da coletividade, sem viés de exploração econômica. Por outro lado, a totalidade do seu capital é público, seja somente de um ente político, seja da divisão entre os demais entes políticos; · Para as sociedades de economia mista, patê da doutrina crítica a opção feita pelo legislador, por entender que o seu capital não é totalmente público, mas sim divisão entre público (maioria) e privado (minoria). Por conta disso, deveriam elas se submeter ao mesmo regime das sociedades empresárias privadas. Há, inclusive, doutrina que aponta a inconstitucionalidade desse dispositivo, por ferir expressamente o artigo 173, § 1º, inciso II, da CR/88 (criação de privilégio indevido, sem qualquer previsão constitucional). Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. § 1º A lei estabelecerá o estatuto jurídico da empresa pública, da sociedade de economia mista e de suas subsidiárias que explorem atividade econômica de produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, dispondo sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II - a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) II. Bancos · As instituições financeiras, se submetem a uma legislação especial, por conta do interesse social sobre a sua atividade. Havendo crise econômica, rege-se pela lei 6.024/74 (intervenção e liquidação extrajudicial); · Há também fiscalização por partedo Banco Central (intervenção feita pelo BACEN, com nomeação de interventor, sob regime jurídico específico). III. Cooperativas de crédito · São instituídas sob a forma de sociedades simples, existindo para servir aos associados. Aqui, deve-se separar a natureza da cooperativa; · Se for cooperativa de crédito, terá tratamento igual aos dos Bancos; · Se for cooperativa de outro tipo, será regida pela insolvência civil, prevista dentro do CPC. IV. Consórcios · Assim como os bancos, os consórcios são regidos, quando da falência, pela lei 6.024/1974, que dispõe sobre a intervenção e a liquidação extrajudicial das instituições financeiras; · Em regra, não se submetem à falência regulada pela lei 11.101/2005. V. Entidades de previdência complementar · São formadas, na maioria das vezes, sob fundação, por não ter visão de lucro; · A fiscalização sobre essas entidades é feita pelo Ministério da Previdência; · O procedimento a ser seguido para a falência está previsto dentro da lei complementar 108/2001. VI. Operadoras de planos de saúde · São fiscalizadas pela Agência Nacional de Saúde (ANS). Contudo, pode haver, de forma excepcional, a falência. Por outro lado, não podem requerer os benefícios da recuperação judicial. A previsão do regime de falência está descrito dentro da Lei 9656/1998. VII. Seguradoras · A fiscalização das seguradoras é feita pela SUSEP (autarquia federal); · Caso haja crise, pode sofrer intervenção e liquidação extrajudiciais, previstos dentro do Decreto-lei 73/66. 1ª Observação: Bancos e seguradoras podem sofrer processo de falência, se presentes dois requisitos: (1) indícios suficientes da prática de crimes falimentares, (2) ativo não cobrir ao menos metade dos créditos quirografários. Nesse caso, o Banco Central ajuíza, ao final da intervenção, processo judicial de falência. 2ª observação: mesmo que reguladas e fiscalizadas pela ANS, as operadoras de planos de saúde podem, no fim, terem a falência decretada. VIII. Empresas aéreas · Na legislação passada, entendia-se que o pedido de concordata das empresas aéreas era grave, colocando em risco a credibilidade desse ramo. Na atual legislação, pode haver pedido de recuperação judicial, tendo por finalidade a recuperação da atividade. IX. Sociedades não personificadas · Embora o Código Civil estabeleça que a personalidade jurídica de uma sociedade começa com o registro dos seus atos constitutivos, há dispositivos que preveem a denominada sociedade não personificada (gênero) que comporta, como espécies, a sociedade comum e a sociedade em conta de participação; · A sociedade em comum existe de fato, sendo constituída por sócios com a finalidade de exercício da atividade empresarial, mas sem qualquer tipo de ato constitutivo ou registro. Assim seus resultados são repartidos entre os membros dessa sociedade. Entretanto, seu ato constitutivo não foi levado a registro para a inscrição ou arquivamento junto à junta comercial, e, portanto, não ocorre a aquisição da personalidade jurídica; · As sociedades em conta de participação são sociedades empresárias diferentes das sociedades em comum, vez que essas foram constituídas através de contrato social que apenas não foi levado a registro na Junta Comercial; · Esses dois tipos não se submetem ao disposto na Lei de Falências, por faltar o requisito básico do ato constitutivo formalizado, registrado no órgão competente, que deve ser apresentado no ato da petição inicial (documento necessário); · Todas as duas pessoas jurídicas irregulares exercem atividade econômica, através da produção e circulação de bens e serviços, estando, entretanto, atreladas na informalidade do mercado. 1.3. Legitimidade ativa Art. 97. Podem requerer a falência do devedor: I – o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta Lei; II – o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o inventariante; III – o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato constitutivo da sociedade; IV – qualquer credor. § 1o O credor empresário apresentará certidão do Registro Público de Empresas que comprove a regularidade de suas atividades. § 2o O credor que não tiver domicílio no Brasil deverá prestar caução relativa às custas e ao pagamento da indenização de que trata o art. 101 desta Lei. · Quanto ao devedor, a possibilidade de ele mesmo ingressar com petição inicial se chama de autofalência; · Quanto ao inventariante, deve-se lembrar que é a pessoa responsável pelo espólio do empresário (conjunto de bens, direitos, deveres e obrigações que são transmitidos quando da ocorrência da morte, calcado no princípio da saisine, oriundo do direito francês); · Quanto ao acionista (Sociedades Anônimas) e quanto aos cotistas (Sociedades Limitadas), independente da porcentagem de capital social para requerer o pedido de falência do devedor; · Qualquer credor também pode pedir a falência, independentemente do tipo de crédito; · Já no processo de falência, podem ser autores (legitimidade ativa para pedir): o próprio devedor, qualquer credor, o espólio do devedor; · Não possuem legitimidade para pedir a falência do devedor: Ministério Público (a nova legislação, diferentemente da anterior, limita a participação do órgão ministerial, não podendo ele ser autor nem do pedido de recuperação judicial e nem do pedido de falência), juiz (não pode ele agir de ofício), Fazenda Pública (não há interesse para pedir a recuperação judicial e nem a falência). 2. Finalidade da recuperação judicial Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. · Preservar a atividade empresarial que for viável do ponto de vista econômico, financeiro e mercadológico. Por outro lado, é viável também que se retire do mercado as sociedades empresárias e os empresários inviáveis; · Diferenciar gestores (ao bom gestor, é dado o direito de tentar recuperar a atividade que exerce. Ao mau gestor, o único caminho que resta é a falência); · Proteger o trabalhador, visto sob a ótica da parte mais fraca na relação de emprego, merecedor de proteção, inclusive no regime de falência; · Reduzir o custo do crédito: a partir do momento que se recupera determinada atividade, o crédito passa a ser barateado, visto que haverá mais dinheiro circulando e mais possibilidade de vendas, produção de serviços e adimplemento das obrigações pactuadas; · Além disso, a recuperação judicial pode proporcionar celeridade e economia processuais, visto que é um procedimento com ampla participação, para atividades empresariais viáveis. 3. Finalidade da falência Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa. Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual. · A realização da par conditio creditorum, ou seja, fazer com que todos os credores fiquem em uma situação igual, de forma a que todos sejam satisfeitos proporcionalmente aos seus créditos; · O saneamento do meio empresarial, já que uma empresa falida é causa de prejuízos a todo o meio social, sendo prejudicial às relações empresariais e à circulação das riquezas; · E, por fim, visa proteger não somente o crédito individual de cada credor do devedor em específico, o crédito público, e assim, auxiliar e possibilitar o desenvolvimento e a proteção da economia nacional; · O instituto da falência vem funcionar como uma defesa para o comércio e, consequentemente, para o crédito, privando do comércio aquele que, não fazendo bom uso de suas prerrogativas creditícias, ferem os direitos de seus credores, inadimplindo obrigações assumidas quer através de contratos ou através de títulos de crédito retromencionados;