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Beto - o empreendedor

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UFRRJ/IE/DEPSI/ IE255 - TREINAMENTO DESENV E EDUCAÇÃO NAS ORGANIZAÇÕES
Marco Antônio Ferreira de Souza 201538528-0 Tarefa final
Há um tempo em que viver em Seropédica, pelo menos ali pelos lados do km 49 da Rodovia da antiga Rio-São Paulo, é algo mágico. Todo menino de classe média em sua adolescência, quando só se fala em estudo, curtir a vida e quase nada em trabalho, gosta do ritmo dessa parte da cidade: durante a semana, por causa das atividades dos alunos da UFRRJ, um vai e vem de gente bonita e alegre, muitas festas; nos finais de semana, as atividades com os amigos. É mágico porque a sequencia de momentos agradáveis é intensa. Tudo acontece no que costumam chamar de centro do km 49 ou Calçadão e a um custo não muito pesado, pois é tudo nas ruas; no máximo, paga-se o preço de uma chopada.
Para esses jovens de classe média, a mágica tem tempo certo para acabar e dar lugar ao que para muitos vira um “pesadelo”, como gosta de pontuar Betinho, quando consegue encontrar seus amigos em Seropédica e matar as saudades que sente da família. Em uma fase crítica de sua vida, Betinho gosta de enfatizar: “Mano, a vida é uma corrida muito louca, com poucas paradas, e o morador de Seropédica sempre larga dos boxes, sem equipe, e com um carro todo ajambrado. Sucesso para nós significa terminar uma corrida”.
Àqueles jovens da ‘classe baixa’, o pesadelo é outro e antecipado, pois estes sequer ficam na arquibancada assistindo à frenética e agonizante corrida da vida que Betinho faz menção: geralmente não entram nos estudos ou os abandonam prematuramente para ficarem parados ou serem ajudantes em obras que acontecem lá ou adjacências, o que demanda deles que conheçam pedreiros estabelecidos e que neles confiem e a eles ofereçam oportunidade. Esse é um estágio fundamental para alcançarem referências para futuramente ‘ficharem’ em firmas que prestam serviços a grandes construtoras e, mais tarde ainda, muitos anos depois, virarem pedreiros, conquistarem seus clientes.
Carlos Alberto Pena da Silva, o Betinho, 23 anos, se autodenomina especialista em manutenção de ar condicionado e serviços básicos de carpintaria. Nascido na cidade, filho de Júlio e Madalena, irmão de Carla e Afonso, uma típica família de classe média, com casa própria construída na rua 7, frutos dos anos de trabalho do pai no antigo DNER, onde se aposentou. Betinho sempre estudou em escolas públicas, pois, além de gratuitas, tinham reputação de ser de qualidade. Até pouco tempo atrás era noivo de Alessandra, 23 anos e também moradora da cidade, com quem pretendia se casar e juntos enfrentar a corrida da vida. Entretanto, as escolhas de cada um fez com que seguissem em competições diferentes.
A mágica de ser adolescente em Seropédica começa a transformar-se no fim do segundo-grau, quando, sempre forçados pela família e amigos, os jovens precisam fazer escolhas sobre o que fazer na vida. E não são escolhas quaisquer, pois envolvem duas condições básicas – trabalhar e estudar – criticamente imbricadas à possibilidade de sair da cidade e não depender de transporte público. Historicamente, o jovem seropedicense escolhia: (1) não fazer nada; (ii) trabalhar (Na cidade ou fora dela); (iii) trabalhar e estudar (Na cidade ou fora dela); (iv) só estudar (Na cidade ou fora dela). Cada escolha solicita recursos críticos – prioritariamente econômicos e sociais – e tem repercussão em intensidades e tempos específicos. A primeira escolha, a mais danosa, envolve não ter com o que se preocupar agora ou o que esperar depois. À segunda opção associam-se ter rede de suporte que gere a oportunidade de ocupação e segunda residência, caso o trabalho seja fora, implicando, por outro lado, em ganho imediato de dinheiro para aquele jovem que há pouco tempo dependia dos recursos
dos pais. A terceira e quarta escolhas envolvem, além da rede de suporte, mais sacrifícios imediatos individuais e da família, mesclando retornos breves e de mais longo prazo.
Feitas as escolhas, as transformações são imediatas, a vida do jovem muda rapidamente entre o ano que termina e os primeiros momentos do que começa: quem só estuda e ainda mora em Seropédica, depende do dinheiro dos pais, vê com mais frequência aos colegas que não fazem nada e aos que trabalham por aqui, sendo que estes últimos logo têm dinheiro e compram suas próprias coisas. Os que saem de Seropédica só são vistos em finais de semana. Aqueles que diariamente vão e voltam – para diferentes combinações entre estudar e/ou trabalhar na cidade ou fora dela – têm suas escolhas atravessadas por questões não muito simples de serem lidadas com elas: (a) com o tempo, o ensino público e privado da cidade, que era considerado forte, enfraqueceu-se, principalmente o primeiro, e ensino com qualidade só fora dali; (b) a grande maioria dos jovens de Seropédica não entra para a UFRRJ e, se quiserem estudar, precisam deslocar-se para o Rio de Janeiro ou Nova Iguaçu ou fazer EaD ou esperar a abertura do pré-vestibular social da UFRRJ; (c) o maior empregador da cidade é a Prefeitura, o que demanda rede de contatos para nela estar em emprego instável; as empresas que oferecem emprego na cidade não liberam o funcionário cedo para estudar à noite ou permitem que ele estude pela manhã; (d) a viagem para fora de Seropédica é cada vez mais custosa em termos temporal, econômico, físico e psíquico.
Em 2014, Betinho sequer tentou o vestibular ou esperou a abertura do pré-vestibular social: aos 18 anos, escolheu trabalhar na cidade. Dizia não ter saco para ver mais matemática e química em sua vida, embora gostasse de física. Opção esta que não agradou a Alessandra, com quem estudava e já namorava. Mais estudiosa, Alessandra fez vestibular, passou para Administração na UFRRJ, aproveitando-se da cota para ensino público, e fez de tudo para que o namorado tentasse o vestibular. Ambiciosa, Alessandra dizia que seria executiva em uma grande empresa e entendia que essa escolha era a mais danosa das possíveis, pois a pessoa que escolheu ficar sem estudar ou trabalhar pode mudar de opinião ali na frente e não seria influenciada pelas desventuras de trabalhar em Seropédica ou fora dela. Para não brigarem, Betinho dizia a ela que as coisas na família dela eram diferentes das da dele e que o “jogo sempre muda, sempre acontece uma reviravolta”.
Graças aos tio Paulo, irmão do seu pai e contador conhecido da cidade, Betinho conseguiu ser contratado por uma empresa terceirizada de manutenção de ar condicionado junto a Prefeitura. Queria ter entrado na Prefeitura, mas, como sempre diz sobre si mesmo: “sou como meu pai, não sou chegado na política, não gosto de pedir ou ficar devendo favor a ninguém.” Na empresa ficou até fim de 2016, quando mudou o governo e ela não ganhou mais edital de licitação algum. Alessandra terminava o segundo ano da faculdade.
Sem conseguir logo outro emprego, devido à crise econômica, Betinho começou a prestar serviços particulares de manutenção de ar-condicionado aos parentes e vizinhos, aproveitando o conhecimento tácito que conseguira como ajudante dos técnicos de manutenção da empresa terceirizada. Fazia até R$ 200,00 pela semana e durante o verão, pois, nos demais períodos do ano, “as pessoas de Seropédica não ligam o ar-condicionado para economizar”, dizia ele. Além de incerta, essa atividade comprometia seus planos de ter o certificado de técnico de montagem e manutenção de ar condicionado do SENAI, um curso de 6 meses de duração, duas vezes por semana, que dependia da unidade em que abriria e no turno possível
– manhã, tarde ou noite –, ao custo de R$ 5000,00. Instalar ar-condicionado dava mais dinheiro do que a manutenção básica que fazia e este curso era sua grande cartada: “Com o certificado na mão, quero ver quem me segura, a técnica entra e posso pedir mais”.
Em um serviço ou outro de manutenção de ar-condicionado, aprendeu também a mexer em móveis e logo começou a colocar seus cartões junto às Lojas Cem e Casas Bahia para montar os móveis vendidos, entremeados, claros, às manutenções. Tais oportunidades, além de infrequentes,exigiam dele bom relacionamento com gerentes e funcionários das lojas, pois a quantidade de montadores de móveis aumentou bastante, e, como aprendeu na vida, “para ser indicado, não basta ser lembrado, tem que ser ‘um chegado’”. Nessa época, foi chamado por um dos inúmeros montadores de móveis da cidade para pensar sobre uma melhor organização das ações entre eles, pois isso fazia com que as lojas barganhassem demais os preços e eles vinham caindo significativamente. Acabou declinando à proposta, dizendo que as pessoas tinham que dar conta de fazer o seu, de fazer a diferença, pois isso faria com que os ruins e péssimos logo deixassem o mercado.
Mais dois anos se passaram e o tempo mostrou que aprender a mexer em ar-condicionado e montar e desmontar móveis exigiram menos do Betinho do que tornar-se um ‘chegado’, saber-se parte fraca de uma grande estrutura, do que aprender a entrar e manter-se na tênue e complicada rede de troca de favores onde palavra e proximidade são certificados, reciprocidade condição fundamental para sobrevivência, e a principal técnica exigida mesmo é o jogo de cintura para relevar o ‘perde aqui, ganha ali’ de quem, na corrida ou jogo da vida, tem que optar pelo possível ao ideal. Seus ganhos não passaram de R$ 1000,00 e, com a ajuda dos pais, conseguiu economizar R$ 3000,00, base para o curso. Alessandra terminou o curso e, tendo sido efetivada após o estágio, começava uma nova fase em sua vida e uma nova escolha: manter o ir vir entre Seropédica e Rio ou arriscar um aluguel?
Sabedor dos sonhos, necessidades e jeito de ser do Betinho, no início de 2019 um conhecido lhe falou sobre ir morar no Rio de Janeiro, trabalhar como entregador em um aplicativo de entregas e, enquanto trabalhasse, ele poderia apresentar seus serviços às pessoas até conseguir os primeiros clientes e assim sua vida seguir pra frente. O colega já fazia isso há seis meses, morava com uma tia no Meier, e era tudo muito simples: ele se cadastraria nos aplicativos de entregador, poderia trabalhar autonomamente ou vinculado a um restaurante, escolhendo onde e quando fazer a entrega, alugando uma bicicleta por até 30 reais mensais até juntar grana para atuar com moto, que dá mais grana, até 3500 mensais. Além disso, compreendiam eles, no Rio ele poderia cobrar mais pelo serviço de manutenção, estaria mais perto das unidades do SENAI e, graças à maresia, trocava-se mais ar condicionado e material de instalação do que em outros lugares.
A decisão-chave tinha que ser morar no Rio, pois ida e volta para Seropédica levava em média 5 horas por dia e um gasto diário de R$ 18,00 e os aplicativos tinham dois picos fortes de movimento: almoço e à noite. O amigo dizia-lhe: “cara, com aplicativo o ganho é certo, sempre tem pedido, e você não tem que negociar favores com ninguém, pois o preço tá dado, e quanto mais você fizer, mais você ganha. Depende apenas de você”. Para resolver o problema de morar no Rio, Betinho procurou uns parentes próximos e bem de vida que alugavam um apartamento para os filhos lá estudarem e negociou morar no quarto de empregada até conseguir um lugar bacana, poder receber Alessandra, e, juntos, construírem suas vidas. Ele sabia que o que o quarto de empregada estava vazio. O apartamento, que ficava em Vila Isabel, perto da estação Uruguai, era estratégico para ele, pois ali por perto têm as unidades do Senac e do SENAI SESI, no Maracanã, onde poderia ver o curso e conseguir o desejado certificado. Embora tenham estranhado a proposta, seus tios consultaram os filhos e estes disseram que não havia problema, pois era primo de primeiro grau e bastaria que ele se adequasse aos tempos e movimentos da casa. Não viam problema algum nele fazer um teste,
até porque ele ajudaria a pagar o condomínio. Estipularam o pagamento de 300,00 reais e Betinho aceitou.
A primeira semana foi de conhecimento do novo terreno. Sua mudança não passou de uma cama e uma cômoda desmontadas, suas roupas e documentos, tudo levado por um amigo do pai. Logo na primeira noite, enquanto descansava depois de montar as coisas, viu que os primos faziam uso de entregas de comida e ouviu da cozinha eles conversando:
· Porra, o carinha da entrega já veio com o caô de caixinha, de ajuda para o carnaval, dizendo que podia ser pelo cartão também, que tinha a maquininha no celular.
· É foda isso. De caixinha em caixinha você vai ficando duro e os caras só se dando bem às nossas custas, faturando bem. Esses caras só pensam em se dar bem e ainda fazem com uma má vontade do cassete.
Durante a semana, conheceu a rotina do apartamento, os horários de todos os primos, como dividiam as obrigações de limpeza, ficando sob sua responsabilidade a limpeza dos banheiros e da cozinha, na quinta-feira. Foi ver como que o colega conduzia suas tarefas de entregador de aplicativos no centro da cidade: alugar a bicicleta não era difícil, demandando uma conta simples num banco ou um contato com os alugadores; andou com ele em suas entregas para ir conhecendo os lugares e caminhos, pedalando pela primeira vez pelas históricas ruas do Rio, costurando pelo caótico transito urbano. Foi apresentado a alguns gerentes de restaurantes e também a outros entregadores, conhecendo as primeiras expressões típicas daquela atividade. Vendo que o Centro estava muito carregado de entregadores, decidiu ficar na Zona Sul, pois lá poderia fazer os contatos para limpeza do ar-condicionado. No sábado e no domingo, andou pelas ruas do bairro e definiu o posto 5 como sua área base, tendo seu cadastro validado no domingo, pelo iFood.
Na segunda-feira, começou a trabalhar. Saltou do metro às 10:00, na estação Cantagalo, carregando a mochila que comprara por R$ 120,00, exigência do aplicativo; alugou a bicicleta e deu mais umas voltas pelo bairro; entrou no aplicativo e ficou à espera do primeiro pedido, sabedor de que fizera a opção de autônomo, em que ele trabalharia de acordo com o próprio horário e em qualquer região de atendimento do iFood. Às 11 e 50 garantiu a primeira corrida, a partir do restaurante Le Blé Noir, na Xavier da Silveira, 19. Ao chegar lá, soube que era para a Santa Clara, 700 e o tempo em que deveria fazer a entrega. Garantir seus primeiros 4,00 reais de crédito fez-lhe bem. Em 35 minutos, estava de olho na tela do celular, para garantir novo pedido. Piscou na sua tela um pedido para o Restaurante Garota de Copacabana, Avenida Atlantica 3744. Lá chegando, descobriu que era para a Pompeu de Toledo, na altura do Cantagalo. Essa entrega já lhe levou 45 minutos, chegando ao local da entrega às 13:10, não cumprindo o prometido para entrega e recebendo a primeira mensagem do aplicativo sobre a não conformidade do serviço e sugestão de olhar as regras informadas no cadastro. Às 15 horas, cansado e tentando contabilizar tudo o que tinha enfrentado pela primeira vez em sua vida, além dos quatro pedidos que conseguira e que lhe rendera R$ 18:00 em créditos, decidiu voltar para Vila Isabel, ignorando as mensagens do aplicativo para permanecer na região e ganhar mais com os pedidos na noite. Antes de dormir viu a mensagem do aplicativo sobre como fora bom movimento e o potencial de ganhos.
No dia seguinte, a mesma rotina no almoço, mais R$ 19:00 de crédito, e uma espera de seis 4 horas para começar a atender às 19:00. Até às 22:00, quando parou, conseguiu fazer mais quatro pedidos, amealhando mais R$ 30,00 reais de crédito, rendimento não muito bom e que ele creditou ao fato de ainda não ter a manha sobre quais pedidos aceitar e do pouco
conhecimento do terreno. Exausto, chegou ao apartamento às 23:00 horas, fazendo um breve lanche e conversando com os primos que viam TV na sala. Logo dormiu.
No dia seguinte, a mesma rotina, mais R$ 49,00 de crédito e as primeiras contagens de perdas e ganhos: antes de dormir, viu que tinha gasto 6 passagens de metrô (R$ 27,60), fizera 5 lanches, ao custo de R$ 7,00 reais cada um (R$ 35,00), gastando R$ 62,00, tendo tido crédito a serem pagos pelo iFood no valor de R$ 119,00. Realizou então que lhe sobraria R$ 55 reais após três dias deserviço e que, se assim continuasse, se não fizesse mais, teria aproximadamente R$ 550 reais no seu primeiro mês, recebidos de 15 em 15 dias. No dia seguinte, esforçou-se mais, fez R$ 55,00 reais entre almoço e janta, chegou à meia-noite no apartamento e, após cumprimento e breve conversa com os primos, foi informado de que não fizera a tarefa de limpar o banheiro e a cozinha, que era o dia para ele atribuído. Envergonhado, pediu desculpas ao primo e prometeu limpar na manhã seguinte. Às 5:00 da manhã da sexta-feira, na primeira semana em que começara a trabalhar, estava fazendo a limpeza prometida, evitando fazer barulho para não acordar seus primos. À meia-noite do mesmo dia, chegava ao apartamento tendo descoberto que este era um dos melhores dias para entrega, tendo feito R$ 60,00 reais de crédito, mas gastara duas passagens de metrô e fizera dois lanches.
No sábado, em Seropédica, matando a saudade dos familiares, Alessandra e amigos, ficou recebendo mensagens do aplicativo, sabendo, por exemplo, que perdera o bônus diário por ter ficado offline, o que também aconteceria caso recusasse corrida ou se distanciasse da área do Posto 5 sem nenhum pedido nas mãos. Entendeu que precisaria ficar imóvel, disponível e aceitar todas as corridas, independentemente de horário ou distância. Queria trocar ideias com o amigo, ligou para ele, mas este não deu muita atenção porque estava atuando na região do Meier, pois no fim de semana o Centro “praticamente não vive”. Aos pais, relatou que estava bem, apesar de trabalhar muito, mas que o negócio era promissor, que dependia praticamente dele, de fazer mais e saber fazer melhor, coisa que viria conforme pegasse todas as manhas desse tipo de atividade, até comprar uma moto.
À Alessandra, curiosa por mais detalhes que aqueles passados pelo telefone, explicou as mesmas coisas, necessitando, porém, ser mais preciso em relação ao potencial de ganho, pois essa informação abastecia os planos de serem um casal. Alessandra informou que ela iria para um salário de R$ 3800,00, pouco para o início, segundo ela, mas que daria, somando aos ganhos dele, para pensarem o futuro próximo. Quando soube dos detalhes, Alessandra lhe questionou sobre a validade daquilo tudo, pois, descontando os custos, ele trabalharia até 10 horas por dia, para ganhar líquido algo em torno de R$ 1000,00, pedalando até 20 km por dia. Ele não respondeu objetivamente, dizendo que tudo mudaria nas semanas seguintes. Ela perguntou se ele conseguiu visualizar a possibilidade de um serviço e outro de manutenção de ar lá pelo Posto 5, no que ele disse que ainda estava cedo para ver isso, mas que vira o potencial. Enquanto conversavam, viu mensagem no whatsapp do grupo do apartamento, informando sobre a repartição das tarefas da semana seguinte, restando-lhe agora a sexta- feira.
Recebida no celular a notificação de que a semana seria chuvosa, quando os ganhos para ciclistas caem até 30%, Betinho procurou mudar de assunto, sem se dar conta de que Alessandra percebia que o otimismo da velha metáfora do ‘jogo’, de uma virada de repente acontecer, não o visitava na metáfora da ‘corrida’. Betinho partia novamente dos boxes, sem ver a bandeirada inicial e o acender das luzes amarela e verde. Agora, sem precisar depender de ninguém, ele era informado por whatsapp sobre tudo o que acontecia na corrida.

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