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CCJ0004-WL-PP-Atividade Estruturada-01 _15-03-2012_

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ATIVIDADES ESTRUTURADAS 
 
Estácio Relatório de Atividades Estruturadas Página 1 
NOME DA DISCIPLINA: PSICOLOGIA APLICADA AO DIREITO 
 
CÓDIGO: CCJ0004 
TÍTULO DA ATIVIDADE ESTRUTURADA: 
Psicologia científica e senso comum. 
Objetos de estudo da Psicologia. Fenômenos psicológicos. 
Por: Adelmo Senra Gomes(1) 
OBJETIVO: 
 
Compreender a importância do estudo da Psicologia para os futuros profissionais do 
Direito; 
COMPETÊNCIAS/HABILIDADES: 
Identificar as diferenças entre a Psicologia científica e o senso comum e alguns conceitos 
desta Ciência 
DESENVOLVIMENTO: 
Psicologia científica e senso comum. 
Objetos de estudo da Psicologia. Fenômenos psicológicos. 
 
 
Este ensaio tem por objetivo introduzir uma reflexão sobre a psicologia e o seu status de ciência. 
Contudo, para atingirmos tal objetivo, importa que, inicialmente, examinemos os principais 
conceitos do que se convencionou chamar ciência, bem como suas principais diferenças em relação 
ao senso comum. 
O conhecimento científico fundamenta-se sobre os seguintes pressupostos: 1º. “A ciência é uma 
estrutura construída sobre fatos.” (DAVIES apud CHALMERS, 1993, p.24); 2º O processo de 
obtenção, justificação e transmissão do conhecimento científico orienta-se por uma rigorosa 
metodologia de pesquisa. Ou seja: observação, experimentação (ou outra qualquer técnica científica 
de pesquisa); análise lógica, crítica e meticulosa dos fatos (é comum, inclusive, o emprego de 
instrumentos matemáticos).(2) 
Enquanto o senso comum habitualmente cinge-se aos dados imediatos, ou, então, procura 
explicações nem sempre profundas, o conhecimento científico procura bases sólidas, 
justificações claras e exatas. Isso não é possível em todos os casos. A tendência do cientista, 
porém, é se aproximar gradativamente de fundamentos fortes para seus conhecimentos. 
(LUNGARZO, 1993, p.12) 
 
 
 
3º. O conhecimento científico é sistêmico, organizado. As teorias científicas não devem ser 
contraditórias em si e entre si. Diferentemente, o senso comum, não preza por tal rigor, sendo, 
normalmente, fragmentado, desorganizado e, por vezes, até contraditório. 4º. O conhecimento 
científico constrói explicações gerais e não particulares ou casuísticas. Não se faz ciência de casos 
 
 
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particulares, mas sim, do que há de regular e comum numa determinada classe de eventos. 5º. O 
conhecimento científico busca prognosticar futuras ocorrências dos fatos estudados. Tais 
prognósticos científicos têm um caráter probabilístico e não determinísticos(3). 
A ciência, em seu labor pelo conhecimento, desenvolve modelos explicativos(4) sobre os fatos 
estudados. Por serem modelos são aproximações e não a “verdade” sobre os fatos. 
Finalmente, as explicações científicas necessitam ser submetidas, regularmente, a um constante e 
rigoroso processo de verificação e testes ou, como propõe Popper (1993, p.41), a um constante 
esforço de falsificação, pois, se de fato forem falseadas, isto provará que o que os cientistas tinham 
por “conhecimento”, não o era... 
Estabelecidos tais pressupostos sobre a ciência, passemos ao exame da psicologia. 
 
 
 
 
 
A história da psicologia enquanto ciência inicia-se em 1879 quando na Universidade de 
Leipzig, Alemanha, o médico, filósofo e psicólogo alemão, Wilhelm Wundt (1832-1920), funda o 
primeiro laboratório de pesquisa experimental em psicologia. Antes de Wundt a psicologia era tida, 
simplesmente, como um ramo da filosofia. 
Em sentido lato, a psicologia tem por objetos de pesquisa o comportamento e os processos 
mentais de todos os seres vivos. (DAVIDOFF, 2001; MORRIS; MAISTO, 2004; MYERS, 2000) 
Define-se por comportamento toda forma de “[...] resposta ou atividade observável realizada 
por um ser vivo.” (WEITEN, 2002, p. 520) Por seu turno, processos mentais aludiriam às “[...] 
experiências subjetivas que inferimos através do comportamento(5) – sensações, percepções, sonhos, 
pensamentos, crenças, sentimentos.” (MYERS, 1999, p.2). 
Com relação a esses objetos há que se ressaltar que o comportamento, por ser um dado 
objetivo, possibilita observações, mensurações, análises e interpretações quantitativas e qualitativas. 
Contudo, os processos da mente, por serem experiências subjetivas, não são passíveis à observação 
direta. Como então pesquisar e estudar dados subjetivos? São dois os caminhos possíveis: 1º Como 
já dito anteriormente, pela observação de determinados comportamentos – estes últimos entendidos 
como conseqüências ou manifestações dos processos mentais; 2º Pela análise e interpretação do 
desempenho em algum instrumento psicológico de mensuração (os testes psicológicos são 
exemplos) e; 3º Pela associação dessas duas primeiras formas. 
Por ser uma ciência, a psicologia também desenvolve enunciados probabilísticos em relação 
aos seus objetos de pesquisa; tais enunciados são construídos a partir de uma rigorosa metodologia 
de pesquisa. As teorias psicológicas são organizadas e sistêmicas e, por serem teorias científicas, 
são de cunho generalista. 
Destaque-se neste ponto que os objetos de pesquisa da psicologia ocorrem em circunstâncias 
e momentos diversos. Do ponto de vista epistemológico(6), portanto, em face a essa diversidade, 
considera-se mais adequado pluralizar a própria psicologia. De fato, não seria uma só psicologia, 
mas várias psicologias(7). Analise o esquema abaixo: 
Ciências psicológicas: objetos e suas principais especialidades 
 
 
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Por fim, falta-nos comentar que ao longo do processo histórico de desenvolvimento do 
pensamento e da pesquisa psicológica, várias escolas (ou, correntes) da psicologia foram surgindo. 
Na verdade, o que vai diferenciar uma escola da outra é a maneira como cada uma irá definir o 
fenômeno (ou, os fenômenos) psicológico(s) estudado(s), bem como a metodologia de pesquisa a 
ser utilizada. Neste ensaio citaremos somente as duas mais conhecidas: o behaviorismo e a 
psicanálise(8). 
1ª. A escola behaviorista (ou, comportamental) da psicologia – Essa escola surge nos EUA 
no início do século passado com o psicólogo John Watson (1878-1958). Para os behavioristas o 
comportamento é um conjunto de respostas adquiridas (ou, aprendidas(9)) que visa permitir ao 
organismo uma melhor adaptação ao mundo exterior. Esta resposta aparecerá progressivamente, 
através de uma série de ajustamentos, por tentativas e erros. 
A causalidade comportamental (Estímulo Ambiental→Resposta Comportamental, ou, na sua 
forma simplificada, E→R), base do pensamento behaviorista, possibilitará àquela escola da 
psicologia a construção de explicações objetivas sobre as origens do comportamento, sua previsão e, 
sob determinadas condições, até mesmo o seu controle. Explicação, previsão e controle, lembremo-
nos, são os principais objetivos das ciências. 
O Dr. B.F. Skinner (1904-1990) destacou-se como um dos mais profícuos pesquisadores e 
teóricos behavioristas do último século. Suas pesquisas com cobaias levaram-no ao 
desenvolvimento de uma teoria da aprendizagem conhecida como modelagem. Skinner verificou 
que as conseqüências de um dado comportamento funcionavam como estímulos a sua fixação ou 
extinção. Em resumo: quando as conseqüências de um comportamento aumentam a freqüência 
desse mesmo comportamento diante do estímulo que o eliciou, Skinner chamou tais conseqüências 
de reforços. De forma contrária, quando as conseqüências diminuem a freqüência do 
comportamento diante do estímulo que o eliciou, Skinner chamou tais conseqüências de punições. 
Esquemas de reforços e punições são, segundo aquele pesquisador, as forças modeladoras de 
quaisquer comportamentos. Analise o esquema abaixo: 
 
Esquema simplificado do processo de modelagem de comportamentos, segundo Skinner 
 
 
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Por fim, paraa visão behaviorista uma criança ao nascer é provida unicamente de um certo 
número de reflexos, puramente fisiológicos. Tudo o mais, em termos comportamentais, ela terá que 
aprender a partir dos estímulos ambientais que receber. 
 
2ª A escola psicanalítica – A psicanálise surgiu no final do século XIX e início do século XX com o 
médico austríaco Sigmund Schlomo Freud (1856-1939). A principal tese psicanalítica é a da 
existência de processos inconscientes na mente. O inconsciente, segundo Freud, estaria dissociado 
da realidade e seria regido pelo que ele chamou de princípio do prazer. Em 1900, em seu livro A 
interpretação do sonho, Freud propôs a sua primeira teoria (ou, tópica) sobre a estrutura da mente. 
Nela a mente foi dividida em três sistemas: o inconsciente (como já dito, regido pelo princípio do 
prazer) o pré-consciente e a consciência (estes últimos regidos pelo princípio da realidade). Entre 
esses sistemas, as censuras que impediriam que conteúdos indesejados do inconsciente e do pré-
consciente chegassem à consciência. Analise a figura abaixo: 
1ª Tópica do aparelho psíquico de Freud (1900) 
 
 
 
 
Em 1920, Freud propôs um aperfeiçoamento de sua primeira teoria, incluindo processos dinâmicos 
da mente: o id, o ego e o superego. Analise a figura abaixo: 
2ª Tópica do aparelho psíquico de Freud (1920) 
 
 
 
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“[...] o id, pólo pulsional(10) da personalidade, o ego, instância que se situa como 
representante dos interesses da totalidade da pessoa e que como tal é investido de libido(11) 
narcísica(12), e, por fim, o superego, instância que julga e critica, constituída por 
interiorização das exigências e das interdições parentais.” (LAPLANCHE & PONTALIS, 
1986, p.660) 
Para Freud a consciência seria largamente influenciada pelas pressões oriundas do 
inconsciente. 
“Ela [a psicanálise] nos ensinou, ainda, que nosso intelecto é algo débil e dependente, um 
joguete e um instrumento de nossos instintos e afetos, e que todos nós somos compelidos a 
nos comportar inteligente ou estupidamente, de acordo com as ordens de nossas atitudes 
[emocionais] e resistências internas.” (FREUD, 1914) 
 
Defenderá a tese de que a personalidade será moldada pelas primeiras experiências de vida, a 
partir de fases do desenvolvimento da sexualidade (ou, desenvolvimento psicossexual). O termo 
sexualidade em Freud “não designa apenas as atividades e o prazer que dependem do 
funcionamento do aparelho genital, mas toda uma série de excitações e de atividades presentes 
desde a infância” (LAPLANCHE & PONTALIS, 1986, p´. 619). Desta forma, então, a libido (ou, 
“pressão sexual”), ao longo da vida, investiria uma série de objetos (pessoas, situações, coisas etc.) 
que representassem possibilidades de descarga da tensão por ela gerada, em face o seu acúmulo. 
Tais descargas possibilitariam ao sujeito a sensação de prazer. Um mecanismo cíclico do prazer, 
portanto, estaria criado. Analise a figurar abaixo: 
 
Os ciclos do prazer 
PULSÕES
INCONSCIENTES
INVESTIMENTOS
DA LIBIDO
ACÚMULO DE
TENSÕES
DESCARGAS E
SENSAÇÃO DE PRAZER
 
 
A personalidade, portanto, se organizaria segundo as formas regulares de investimentos da 
libido (investimentos construtivos ou destrutivos, tanto para o próprio sujeito quanto para o mundo 
externo com o qual ele lida). Tais formas de investimentos da libido se estruturariam, 
 
 
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principalmente, enfatizo, durante a infância e se “atualizariam”, se “repetiriam”, inconscientemente, 
ao longo de toda a vida. 
Concluindo, a psicologia enquanto um vasto campo de possibilidades e desafios ao 
conhecimento humano existe segundo dois sentidos: a vida e o Homem; e, segundo dois propósitos: 
a paz e o bem. Nenhum outro conhecimento talvez seja mais polêmico e complexo quanto o 
psicológico. Porém, com o passar do tempo, e com o desenvolvimento das pesquisas e das teorias, 
novos tijolos são lentamente colocados nessa que talvez seja a mais arrojada das empreitadas 
humanas: o conhecimento de si mesmo. 
Bibliografia 
CHALMERS, A.F. O que é ciência, afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993. 
DAVIDOFF, L.L. Introdução à psicologia. 3 ed. São Paulo: Makron Books, 2001. 
FREUD, S. Carta a Frederik Van Eeden. In: _____. Edição eletrônica brasileira das obras 
psicológicas completas de Sigmund Freud. v. XIV. Rio de Janeiro: Imago, [200?]. 
LUNGARZO, C. O que é ciência. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. 
MORRIS, C.G.; MAISTO, A. A. Introdução à psicologia. 6 ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004. 
MYERS, D.G. Psicologia social. 6 ed. Rio de Janeiro: LTC Editora, 2000. 
POPPER, K. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 1993. 
WEITEN, W. Introdução à psicologia: temas e variações. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002. 
 
1Psicólogo; professor do Curso de Direito da Universidade Estácio de Sá. 
2 Este segundo pressuposto é, de fato, o principal: o que vai diferenciar o conhecimento científico das outras formas, 
não científicas, de saber. 
3 O autor deste ensaio alinha-se às correntes epistemológicas que defendem que as ciências (inclusive as físicas) só são 
capazes de construir leis probabilísticas e não determinísticas. A este respeito sugiro o exame de RODRIGUES, A.A 
pesquisa experimental em psicologia e educação. Petrópolis(RJ): Vozes, 1976, p. 14. 
4 Os modelos explicativos em ciência também são chamados de paradigmas científicos. 
5Essas inferências de processos mentais a partir da observação do comportamento são chamadas de constructos (ou, 
construções) psicológicos. Trato deste assunto com mais detalhes no parágrafo seguinte. 
6 Epistemologia ou Filosofia do conhecimento – caracteriza-se por ser uma reflexão filosófica da ciência. 
7Outros preferirão chamá-la de “Ciências psicológicas”. 
8Não obstante as consistentes críticas epistemológicas em relação ao objeto e à metodologia de pesquisa psicanalítica, 
este autor considera a psicanálise como um setor de pesquisas e proposições psicológicas ainda não-científicas. Uso a 
expressão “ainda”, pois aceito que as ciências não são capazes, ainda, de uma compreensão plena de todos os 
fenômenos (físicos e psicológicos) por ela estudados. Destarte, concebo a psicologia como que setorizada em dois 
grandes campos: um científico e outro, ainda, não-científico. 
9 O constructo aprendizagem, caro ao pensamento e à pesquisa behaviorista, será definido, grosso modo, como sendo o 
resultado de uma nova e regular associação entre um determinado estímulo e uma resposta comportamental 
experimentada como a mais adequada a esse mesmo estímulo. O aprendizado, contudo, só poderá ser afirmado se for 
observada a mudança regular no comportamento do sujeito após sucessivas apresentações desse mesmo estímulo que 
antes não eliciava a resposta comportamental agora a ele associada. 
10 O conceito de pulsão na teoria psicanalítica (do original alemão “trieb”) denotaria uma força impelidora ou uma 
pressão inconsciente. Estaria nas pulsões a origem de nossas vontades, impulsos e desejos. Tais forças, que teriam suas 
origens nos processos biológicos, produziriam necessidades (tensões) a serem realizadas (descarregadas). Na 
consciência tais pressões se associariam, por algum motivo histórico, a representações (objetos) que possibilitassem sua 
real ou imaginária descarga (e, a partir daí, as sensações de prazer). Obs.: Nota acrescida pelo autor do ensaio. 
11 Libido corresponderia, grosso modo, a um tipo de energia oriunda das transformações das pulsões sexuais. Obs.: Nota 
acrescida pelo autor do ensaio. 
12 O conceito de narcisismo em psicanálise corresponderia aos investimentos libidinosos que um indivíduo faria em si 
próprio e ao seu próprio corpo. Ou seja, a posição narcísica pressupõe como objetos da libido o próprio sujeito e seu 
corpo. Obs.: Nota acrescida pelo autor do ensaio. 
 
 
 
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PRODUTO/RESULTADO: 
QUESTÃO 1 
Marque a alternativa CORRETA: 
São os objetos de estudo das ciências psicológicas bem como seus respectivos recursos de pesquisa: 
 
a. ( ) O comportamento através de constructos psicológicos e os processos mentais pela observação 
direta; 
b. ( ) O comportamento e os processos mentais através, unicamente, da observação direta; 
c. ( ) O comportamento pela observação direta e os processos mentais através de constructos 
psicológicos; 
d. ( ) O comportamento e os processos mentais através, unicamente, de seus constructos 
psicológicos. 
 
QUESTÃO 2 
O pressuposto de que o comportamento compõe-se de elementos de resposta e pode ser 
cuidadosamente analisado por métodos científicos, naturais e objetivos é característica da seguinte 
teoria da Psicologia: 
(a) Naturalista; 
(b) Behaviorista; 
(c) Psicanalista; 
(d) Biológica.

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