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Relatório FJ (Maria Eduarda Martins Andrade)

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MARIA EDUARDA MARTINS ANDRADE 
 
 
 
 
 
O NORMATIVISMO 
Filosofia Jurídica 
 
 
 
 
 
 
 
Marabá-PA 
2021 
 
 
O NORMATIVISMO 
Discente: Maria Eduarda Martins Andrade 
Professor: Heraldo Montarroyos 
 O Normativismo, filosofia ou modo de produção de ideias. Objetivo da 
dogmática jurídica é a correta interpretação das normas, tentando garantir a sua 
melhor aplicação na realidade. Tendo a norma como uma diretriz, unidade de 
pensamento jurídico. As norma jurídicas nunca existem isoladamente, mas 
sempre em um contexto de normas com relações particulares entre si. Esse 
contexto de normas costuma ser chamado de “ordenamento”. E será bom 
absorvermos, desde já, que a palavra Direito”, entre seus vários sentidos, tem 
também o de ordenamento jurídico”, por exemplos nas expressões “Direito 
romano”, “Direito canônico”, “Direito italiano”, entre outros. Teoria do 
ordenamento jurídico constitui uma integração da teoria da norma jurídica. A 
natureza e a execução é determinada por uma complexa organização, essa 
organização complexa é o produto de um ordenamento jurídico. Significa 
portanto, que uma definição satisfatória do Direito só é possível se nos 
colocarmos do ponto de vista do ordenamento jurídico. Para caracterizar o 
Direito através de algum elemento da norma jurídica, pode-se considerar cinco 
critérios: 1. Critério formal; 2. Critério material; 3. Critério do sujeito que põe ; 4. 
Critério do sujeito ao qual a norma se destina. 
1)Critério formal pode ser entendido por aquele que se acredita poder ser 
definido o que é Direito através de qualquer elemento estrutural das normas que 
se costuma chamar de jurídicas. As normas podem distinguir-se em: positivas 
ou negativas, categóricas individuais (concretas). Ou hipotéticas e 
gerais(abstratas) ou 2)Por critério material entende-se aquele critério que se 
poderia extrair do conteúdo das normas jurídicas, isto é, das ações reguladas. 
Esse critério é manifestamente inconcludente. 3) Critério do sujeito, põe e 
norma, se refere a teoria que considera jurídicas as normas postas pelo poder 
soberano, entendendo-se por “poder soberano” aquele acima do qual não existe, 
num determinado grupo social, nenhum outro, e que, e que, como tal, detém o 
monopólio da força. Se é verdade que um ordenamento jurídico é definido 
através da soberania, é também verdade que a soberania em uma determinada 
sociedade se define através do ordenamento jurídico. Poder soberano e 
ordenamento jurídico são dois conceitos que se referem um ao outro. E, portanto 
quando o Direito é definido através do conceito de soberania, o que vem em 
primeiro plano é a norma isolada. A soberania caracteriza não uma norma, mas 
um ordenamento; caracteriza a norma apenas enquanto ela é considerada como 
parte do ordenamento. 4) O critério do sujeito ao qual a norma é destinada pode 
apresentar duas variantes, conforme se considere como destinatário o 
súdito(norma jurídica é a norma seguida da convicção ou crença na sua 
obrigatoriedade) ou o juiz( é aquele ao qual uma norma do ordenamento atribui 
o poder e o dever de estabelecer quem tem razão e quem não tem, e de tornar 
assim possível a execução de uma sanção). 
 Definição de norma jurídica traves da sanção e sanção jurídica através dos 
aspectos de exterioridade e de institucionalização. A definição de norma jurídica 
é aquela norma “cuja execução é garantida por uma sanção externa e 
institucionalizada”. Para que haja Direito é preciso que tenha uma grande ou 
pequena organização, um completo sistema normativo. Pra definir uma norma 
jurídica bastara dizer que a norma jurídica é aquela que pertence a um 
ordenamento jurídico. Se um ordenamento jurídico é composto de mais de uma 
norma, advém que os principais problemas conexos com a existência de um 
ordenamento são os que nascem das relações das diversas normas entre si. Em 
primeiro lugar, deve-se saber se essas normas constituem uma unidade. O 
problema fundamental que deve ser discutido a esse propósito é o da hierarquia 
das normas. Em segundo lugar, trata-se de saber se o ordenamento jurídico 
constitui, além da unidade, um sistema. O problema que é colocado em 
discussão a este respeito é os das antinomias jurídicas. O problema fundamental 
que é discutido é a das chamadas lacunas do Direito, pois todo ordenamento 
jurídico, unitário e tendencialmente sistemático, pretende ser completo. Há outro 
problema que é o de reenvio de um ordenamento a outro, devido a não existir 
entre os homens um só ordenamento, pois são muitos e de diversos tipos. Estes 
são os problemas principais, cujo questionamento possa permitir traçar as linhas 
gerais de uma teoria do ordenamento jurídico destinada a continuar e a integrar 
a teoria da norma jurídica. 
 Eficácia X validade: O problema da validade e da eficácia, que gera 
dificuldades insuperáveis desde que se considere uma norma do sistema(a qual 
pode ser válida sem ser eficaz), diminui se nos referimos ao ordenamento 
jurídico, no qual a eficácia é o próprio fundamento da validade. 
Pluralidade de normas: O ordenamento jurídico é um conjunto de norma. No 
ordenamento jurídico pode-se ter mais de uma norma e que não pode haver um 
ordenamento jurídico com uma única norma. Para que um ordenamento jurídico 
constituído de uma única norma funcionasse corretamente, seria necessário que 
todas as ações possíveis e as qualificasse com única, tendo o obrigatório, o 
permitido e proibido. Tudo é permitido: uma norma assim, marca a negação de 
qualquer, ordenamento jurídico. Tudo é proibido: impossibilita qualquer vida 
social humana. Tudo é obrigatório: ações em conflito entre si, visto que não é 
possível ordenar as ações. 
 Normas de conduta: Em todo o ordenamento, ao lado das normas de conduta, 
existe um outro tipo de normas, que costumamos chamar de normas de estrutura 
ou de competência. São aquelas normas que não prescrevem a conduta que se 
deve ter ou não ter, mas as condições e os procedimentos através dos quais 
emanam normas de conduta válidas. Uma norma que prescreve caminhar pela 
direita é uma norma de conduta. Uma norma que prescreve que duas pessoas 
estão autorizadas a regular seus interesses em certo âmbito mediante normas 
vinculantes e coativas é uma norma de estrutura, na medida em que não 
determina uma conduta, mas fixa as condições e os procedimentos para produzir 
normas validas de conduta. É concebível um ordenamento composto de uma só 
norma de estrutura? Sim, concebível. 
 A unidade do ordenamento jurídico: Os ordenamentos são compostos por 
uma infinidade de normas, mesmo que sejam muitas, sempre se criam novas 
normas. Geralmente essas normas não derivam de uma única fonte. Pode-se 
distinguir os ordenamentos jurídicos em simples e complexos, conforme as 
normas que os compõem derivem de uma só fonte ou de mais de uma. Os 
ordenamentos são complexos. A complexidade de um ordenamento jurídico 
deriva do fato de que a necessidade de regras de conduta numa sociedade é tão 
grande que não existe nenhum poder (ou órgão) em condições de satisfazê-la 
sozinho. O poder supremo recorre geralmente a dois expedientes: A recepção 
de normas já feitas, produzidas por ordenamentos diversos e precedentes e 
delegação do poder de produzir normas jurídicas a poderes ou órgãos inferiores. 
Em cada ordenamento, ao lado da fonte direta temos fontes indiretas e que 
podem ser distintas em duas classes: fontes reconhecidas e fontes delegas. A 
complexidade está na multiplicidade das fontes. 
 Fontes do direito: São fatos ou atos dos quais o ordenamento jurídico faz 
depender a produção de normas jurídicas. Reconhece-se que o ordenamento 
jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula também o modo 
pelo qual se devem produzir as regras. O ordenamento jurídico regula a própria 
produção normativa. Normas de estrutura: normas para produção jurídica, elasnão regulam o comportamento, mas o modo de regular um comportamento, o 
comportamento que elas regulam é produzir regras. Em cada grau normativo 
encontraremos normas de conduta e normas de estrutura. Normas que regulam 
as condutas de outras pessoas e normas destinadas a regular a produção de 
outras normas. As lei ordinárias não são normas de conduta, mas normas para 
produção de outras normas. Normas de conduta / normas de estrutura. 
Tripartição clássica das normas: imperativas, proibitivas e permissivas. Pode-se 
distinguir nove tipos. 
1- Que mandam ordenar: o estudo é obrigatório 
2 - Normas que proíbem ordenar: proibida a pena de morte 
3- Normas que permitem ordenar: permissões para o legislador criar leis 
ordinárias 
4- Normas que mandam proibir: a Constituição manda proibir a candidatura de 
pessoas com condenação criminal 
 5 - Normas que proíbem proibir: ninguém pode ser privado por políticos da 
capacidade jurídica motivos 
 6- Normas que permitem proibir: o legislador pode proibir a construção de 
edifícios perto de aeroportos. 
 7 Normas que mandam permitir: garantia da liberdade de expressão(coincide 
com o 5) 
 8 - Normas que proíbem permitir: proibição de autorizações para exploração de 
áreas protegidas ambientalmente (coincide com o 4) 
9 - Normas que permitem permitir: possibilidade de criação de partidos que era 
anteriormente proibida 
 Toda norma pressupõe um poder normativo: norma significa imposição de 
obrigações, pois onde a obrigação, há poder. Se existem normas constitucionais, 
deve existir o poder normativo do qual elas derivam: esse poder é constituinte. 
É o poder último, ou, se preferirmos, supremo, originário, num ordenamento 
jurídico. Dado o poder constituinte como poder último, deve-se pressupor uma 
norma que atribua ao poder constituinte a faculdade de produzir normas 
jurídicas: essa norma é a norma fundamental, que de um lado, atribui aos órgãos 
constitucionais poder de fixar normas válidas, fazendo uma imposição a todos 
os quais, se referem as normas constitucionais, a obedecê-la. É uma norma ao 
mesmo tempo atributiva e imperativa, pela qual se dá origem ou da obrigação do 
poder que dele nasce. A norma fundamental não é expressa, mas é pressuposta 
para fundar o sistema normativo. Posto um ordenamento de normas de diversas 
procedências, a unidade do ordenamento postula que as normas que o 
compõem sejam unificadas. Considerando o poder constituinte como poder 
jurídico, também é considerado como produto de uma norma jurídica. A norma 
jurídica que produz o poder constituinte é a norma fundamental. Sabemos que o 
ordenamento é um conjunto de normas e saber se uma norma jurídica é válida, 
ou não, não é uma questão ociosa. Se a norma jurídica é válida significa que é 
obrigatório conformar-se a ela, se não nos conformarmos, o juiz será obrigado a 
intervir, atribuindo ou não uma sanção. A norma fundamental é o critério supremo 
que permite estabelecer se uma norma pertence a um ordenamento, ou seja, é 
o fundamento de validade de todas as normas do sistema. Pode-se concluir que 
uma norma é válida quando puder ser reinserida, não importa se através de um 
ou mais graus, na norma fundamental. A norma fundamental é um pressuposto 
do ordenamento: ela, num sistema normativo, exerce a mesma função que os 
postulados num sistema cientifico. Enquanto por um lado, atribui aos órgãos 
constitucionais poder de fixar normas validas, impõe a todos aqueles aos quais 
se referem as normas constitucionais o dever de obedecê-las. O fato de uma 
norma não estar expressa não significa que não exista: a ela referimos como o 
fundamento subentendido da legitimidade de todo o sistema. O fato de uma 
norma pertencer a um ordenamento significa validade, podemos concluir que 
uma norma é válida quando puder ser reinserida, não importa se é através de 
um ou mais gruas, na norma fundamental. 
 Antinomia é a existência de normas incompatíveis entre si dentro de um 
sistema jurídico. A tradição, ao abordar o direito como um sistema no terceiro 
sentido acima apontado, irá afirmar que o Direito não tolera antinomias. Ao 
definir-se normas incompatíveis como aquelas que não podem ser ambas 
verdadeiras, essas relações de incompatibilidade normativa serão verificadas 
em três casos: 1)Entre uma norma que ordena fazer algo e outra que proíbe 
fazê-lo (contrariedade); 2) uma norma que ordena fazer e outra que permite não 
fazer (contraditoriedade): 3)Entre uma norma que proíbe fazer e outra que 
permite fazer (contraditoriedade); Para que haja antinomia é ainda necessário 
que: 1)As duas normas pertençam ao mesmo ordenamento; 2)As duas normas 
devem ter o mesmo âmbito de validade: temporal, espacial, pessoal e material. 
O conceito de antinomia fica ampliado, podendo ser considerada a antinomia 
jurídica como “aquela situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, 
pertencentes ao mesmo ordenamento e tendo o mesmo âmbito de validade”. 
Paralelamente a essa concepção de antinomia proposta por Bobbio, há outras 
situações que as concepções tradicionais também atribuem o significado de 
antinomia, mas que Bobbio irá chamar de antinomias impróprias, para distinguir 
das antinomias já definidas, por ele consideradas como antinomias próprias. As 
antinomias impróprias podem ser: 
1)Antinomia de principio – refere-se ao fato dos ordenamento jurídicos serem 
normalmente inspirados em valores contrapostos, como, por exemplo, liberdade 
e segurança; 
2) antinomia de avaliação ocorre quando um delito menor é punido com uma 
pena mais grave que um delito maior. 
3) antinomias teleológicas – têm lugar quando existe uma oposição entre a 
norma que prescreve o meio para alcançar o fim e a que prescreve o fim, de 
modo que se aplico a primeira não chego ao fim estabelecido na segunda. 
 Critérios para solução de antinomias: A presença de antinomias no sistema 
jurídico é considerada um defeito que o intérprete irá tentar eliminar. Surge ai a 
questão de qual das normas deverá ser eliminada e quais critérios poderão ser 
utilizados para realizá-la. Ao tentar solucionar as antinomias, pode-se deparar 
com duas situações diferentes: 1) é possível resolver a antinomia a partir dos 
critérios tradicionais (cronológico, hierárquico e especialidade); 2) não é possível 
resolver a antinomia porque não se pode aplicar nenhum dos critérios existentes 
ou porque se podem aplicar ao mesmo tempo duas ou mais regras em conflito 
entre si. As antinomias da primeira situação Bobbio chamará de antinomias 
aparentes (ou solúveis) e às da segunda situação de antinomias reais (ou 
insolúveis). As regras fundamentais para a solução das antinomias aparentes 
(solúveis) são três: 
1)Critério cronológico – é aquele no qual, entre duas normas Incompatíveis, 
prevalece a norma posterior (lex posterior derogat priori). 
2)Critério hierárquico – é aquele pelo qual, entre duas normas incompatíveis, 
prevalece a hierarquicamente superior (lex superior derogat inferiori). 
3)Critério da especialidade – é aquele pelo qual, entre duas normas 
incompatíveis, uma geral e outra especial (ou excepcional), prevalece a segunda 
(lex specialis derogat generali). 
 Contudo, há casos em que não é possível aplicar esses critérios facilmente, 
pois pode ocorrer antinomia entre duas normas contemporâneas, do mesmo 
nível ou ambas gerais. Nessa situação, os critérios acima indicados não servem 
mais e não existe um “quarto critério” que possa resolver esse tipo de antinomia. 
Alguns tratadistas mais antigos tentaram elaborar alguns critérios para tentar 
resolver esse tipo de antinomia, segundo a forma das normas antinômicas, que 
poderiam ser imperativas, proibitivas ou permissivas”, porém deve-se 
reconhecer que essas regras não têm a mesma legitimidade daquelas deduzidas 
dos três critérios acima analisados. Não havendo critério para resolver a 
antinomia, o juiz ou intérprete temtrês possibilidades: 1) elimina uma das 
normas, 2) elimina as duas ou 3) conserva as duas. No primeiro caso, trata-se 
de interpretação ab-rogante, mas que não corresponde a uma ab-rogação em 
sentido próprio, já que o intérprete não tem poder normativo. O segundo caso 
ocorre normalmente quando a relação entre as normas não é de contradição, 
mas de contrariedade, no qual ocorre uma dupla ab-rogação. A terceira solução 
é talvez aquela à qual o intérprete recorre mais frequentemente e consiste em 
demonstrar que existe compatibilidade, que a suposta incompatibilidade é fruto 
de uma interpretação superficial ou ruim. É a chamada interpretação corretiva, 
que pretende conciliar duas normas aparentemente incompatíveis para 
conservá-las ambas no sistema, evitando assim o remédio extremo da ab-
rogação. A situação antinômica mais delicada, contudo, é aquela na qual pode 
acontecer que duas normas incompatíveis mantenham entre si uma relação em 
que se podem aplicar concomitantemente, não apenas um, mas dois ou três 
critérios, sendo que cada um que for aplicado levará a uma solução diferente. 
Sendo três os critérios, os conflitos entre critérios podem ser três tipos: 
1) conflito entre o critério hierárquico e cronológico - neste caso, o critério 
hierárquico prevalece sobre o cronológico, pois do contrário a estrutura 
hierárquica do ordenamento perderia seu sentido. 
2) conflito entre o critério da especialidade e o cronológico -neste caso, deve o 
critério da especialidade preponderar sobre o cronológico. Contudo, essa regra 
deve ser tomada com cautela e ter como fundamento uma ampla casuística. 
3) conflito entre o critério hierárquico e o de especialidade - neste caso, Bobbio 
afirma que é impossível uma resposta segura e que não existe uma regra geral 
consolidada. A solução dependerá do intérprete. 
 Esse problema indicado no item 3 acima traz à tona a questão da regra de 
coerência do ordenamento, que proibiria as antinomias no sistema jurídico. Essa 
questão, por sua vez, levanta também o problema da validade: a compatibilidade 
seria uma condição necessária para a validade de uma norma jurídica? Bobbio 
afirma expressamente que não. Não existe no ordenamento nenhuma regra de 
coerência e, portanto, duas normas Incompatíveis do mesmo nível e 
contemporâneas são ambas válidas. Essas normas, entretanto, não podem ser 
ao mesmo tempo eficazes, no sentido de que a aplicação de uma no caso 
concreto exclui a aplicação da outra, mas são ambas válidas no sentido de que, 
apesar de seu conflito, ambas continuam a existir no sistema e não há remédio 
para sua eliminação. Assim, a coerência não é condição de validade, mas é 
sempre condição para a justiça do ordenamento, pois a aplicação de duas 
normas contraditórias gerará decisões diferentes a casos semelhantes e viola 
dos princípios considerados importantes para o ordenamento jurídico: o princípio 
da certeza (que corresponde ao valor da paz ou da ordem) e o princípio da justiça 
(que corresponde ao valor da igualdade). 
 A teoria da norma geral exclusiva afirma a completude do ordenamento 
jurídico a partir do entendimento de que as ações humanas não regulamentadas 
são implicitamente admitidas e aceitas por esse ordenamento. Todos os 
comportamentos não compreendidos na norma particular são regulados por uma 
norma geral exclusiva. Isto é, pela regra que exclui todos os comportamentos 
que não estejam aqueles previsto pela norma particular. Norma geral exclusiva: 
uma norma que regula um comportamento não só limita a regulamentação, mas 
ao mesmo tempo exclui daquela regulamentação todos os outros 
comportamentos. Em um sistema que cada caso não regulamentado faz parte 
da norma geral exclusiva apenas existem lacunas impróprias – ex: Código Penal, 
não admite extensão analógica. 
 Entende-se por “lacuna” a falta não já de uma solução, qualquer que seja ela, 
mas de uma solução satisfatória, a falta de uma norma justa. Chamam-se 
lacunas ideológicas as lacunas que existem em razão da falta de norma jurídica 
satisfatória ou justa, isto é, adequada à solução do litigio. Não se trata, aqui, da 
lacuna real, que é a falta de norma jurídica expressa ou de norma jurídica tácita. 
As lacunas ideológicas apresentam-se ao jurista quando este compara ao 
ordenamento desejável, ideal, o ordenamento jurídico (de direito a ser 
estabelecido) reconhecendo se, então, que todo e qualquer ordenamento 
positivo as apresenta e que somente o Direito Natural delas está isento. 
Inicialmente, distinguem-se lacunas próprias e impróprias. 
1- Lacunas próprias: lacuna do sistema ou dentro do sistema. 
2- Lacuna imprópria: comparação do sistema real com um sistema Ideal. Fazem 
presentes quando o ordenamento jurídico contém apenas as normas gerais 
exclusivas, além das normas particulares, exigindo uma solução por intermédio 
de normas a serem criadas pelo legislador. Assemelham-se às lacunas 
ideológicas. 
 As lacunas impróprias apenas podem ser solucionadas pela atividade 
legislativa. Também pode ser feita a diferenciação entre lacunas subjetivas e 
lacunas objetivas. Subjetivas são as lacunas que têm como causa existencial a 
pessoa do legislador, que ora deixa de criar a norma voluntariamente, ora 
involuntariamente não regulamenta um fato ou ato jurídicos. Subjetivas: vontade 
do legislador – divididas em: a) voluntárias – ex: diretrizes gerais, normas 
constitucionais; b) involuntárias – descuido do legislador. Por sua vez, objetivas 
são as lacunas cuja fonte de existência não é imputada ao legislador, mas a 
fatores outros que fazem surgir necessidades inéditas nas relações socias, 
necessidades que passam a reclamar ao Direito a regulamentação condizente à 
harmonia dos homens que na sociedade interagem. 
As relações entre os Ordenamentos: A) de coordenação: são aquelas que têm 
lugar entre Estados soberanos e dão origem aquele regime jurídico, próprio do 
relacionamento entre entes que estão no mesmo plano, que é o regime 
pactuário, ou seja, o regime no qual as regras de coexistência são produto de 
uma autolimitação recíproca; B)Relações de subordinação (supremacia): 
aparecem entre o ordenamento estatal e as ordenamentos sociais (associações, 
sindicatos, partidos, etc.). O outro critério de classificação da relação entre 
ordenamentos á aquele que leva em conta a diferente extensão reciproca dos 
respectivos âmbitos de validade. São três tipos de relação: A)Exclusão total: 
significa que os âmbitos de validade de dois ordenamentos são. Delimitados de 
maneira a não sobreporem um ao outro em nenhuma das suas partes (um 
exemplo é a relação entre o ordenamento estatal e a Igreja); B) Inclusão total: 
significa que um dos dois ordenamentos tem um âmbito de validade 
compreendido totalmente no do outro: C) parcial e inclusão parcial: significa que 
dois ordenamentos têm uma parte em comum e uma parte não-comum (essa 
situação se verifica quando o ordenamento estatal absorve um ordenamento 
diferente, por exemplo). 
 Também podemos considerar as relações entre os ordenamentos tomando 
como base a validade que um determinado ordenamento atribui às regras de 
outros ordenamentos com os quais entra em contato. Existem três diferentes 
situações: A): é aquela em que um ordenamento considera lícito aquilo que num 
outro ordenamento é obrigatório. B)Recusa: é aquela em que um ordenamento 
considera proibido aquilo que em um ordenamento é obrigatório. C)Absorção: é 
aquele em que um ordenamento considera obrigatório ou proibido aquilo que no 
outro ordenamento é também obrigatório ou proibido. Essa situação pode 
assumir duas formas distintas: reenvio (reenvio forma) e recepção (reenvio 
material). A primeira é o processo pelo qual um ordenamento deixa de regular 
uma dada matéria e acolhe a regulamentação estabelecida por fontes 
normativas pertencentes a outro ordenamento; a segunda é o procedimento pelo 
qual um ordenamentoincorpora no próprio sistema a disciplina normativa de uma 
dada matéria assim como foi estabelecida num outro 
Heterointegração e auto-integração são duas formas de tornar completo o 
ordenamento jurídico. 1) recurso a ordenamentos diversos – na ausência do 
Direito positivado recurso ao Direito natural; 2) fontes diversas da dominante (lei) 
– possibilidade de recurso ao poder criativo do juiz Auto-integração. Quando a 
lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e 
os princípios gerais de direito. 
 Analogia e interpretação: Procedimento pelo qual se atribui a um caso não-
regulamentado a mesma disciplina que a um caso regulamentado semelhante. 
Distinguem-se a analogia legis e a analogia iuris. Legis: aplicação de uma norma 
cuja previsão, embora se dirija a caso distinto, apresenta semelhanças com a 
situação imprevista. Juris: parte de uma previsão geral para casos particulares. 
Procedimento através do qual se tira uma nova regra para um caso imprevisto a 
partir do sistema normativo - semelhança com "princípios gerais do direito". A 
Interpretação extensiva: operação interpretativa de atribuição de um significado 
mais amplo que o habitual a termos de um texto jurídico a fim de que se possa 
alcançar situações dele excluídas caso se fosse feita uma leitura literal. A 
interpretação extensiva não é admitida, no Direito Penal para criar novas penas 
nem no Direito Tributário para criar novos tributos - proteção dos indivíduos - 
prevalece a norma geral exclusiva. 
 Os princípios gerais do Direito: Para Bobbio: apenas os não expressos - 
princípios expressos: ausência de lacuna. Os costumes podem ser adotados, 
mas não podem ir contra a lei. Secum Legem (legislador remete aos costumes) 
Preater Legem (para além da do silencio da lei(lacuna). São dois argumentos 
válidos que sustentam serem os princípios gerais normas: se são normas 
aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um 
procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser 
normas também eles. Em segundo lugar, a função para a qual são extraídos e 
empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de 
regular um caso. No caso de lacuna, são extraídos para regular um 
comportamento não-regulamentado (servem, assim, ao mesmo escopo a que 
servem as normas expressas). Os princípios gerais não-expressos são aqueles 
que se podem tirar por abstração de normas específicas ou pelo menos não 
muito gerais: são princípios, ou normas generalíssimas, formuladas pelo 
intérprete, que busca colher, comparando normas aparentemente diversas entre 
si, aquilo a que comumente se chama o espirito do sistema. Quando os princípios 
gerais são expressos, exatamente pelo fato de que são normas como as demais, 
não se pode falar de lacuna. A primeira condição para que se possa falar de 
lacuna é a de que o caso não esteja regulado: o caso não está regulado quando 
não existe nenhuma norma expressa, nem especifica, nem geral, nem 
generalíssima, que diga respeito a ele, quer dizer, quando, além da falta de uma 
norma especifica que lhe diga respeito, também o principio geral, dentro do qual 
poderia entrar, não é expresso. Se o principio geral é expresso, não haveria 
diferença entre julgar o caso com base nele ou com base numa norma especifica. 
O principio geral expresso é uma disposição precisa. 
 O positivismo jurídico no sentido estrito considera, primeiro, que o estudo e 
a compreensão do direito não incluem sua avaliação moral e, segundo, que o 
reconhecimento da validade de um sistema jurídico (ou de uma norma) não 
depende da sua conformidade a critérios sobre o justo e o correto. Não interessa 
o valor e sim a validade do direito. Não interessa a substância; interessa a forma. 
As regras morais objetivam o aperfeiçoamento do indivíduo; as regras jurídicas 
apenas facilitam o convívio social, procurando prevenir e solucionar conflitos. Por 
tal razão, as normas morais regulam principalmente a conduta” interna “da 
pessoa, e o direito interessa-se pelo comportamento” externo “e não pelos 
motivos da ação humana ou pelo pensamento. O direito não proíbe pensamentos 
“pecaminosos” ou imorais nem se interessa por que o indivíduo decide respeitar 
a regra jurídica. Quem não mata uma pessoa por amor ao próximo é uma pessoa 
que respeita a legalidade tal como aquele que se abstém do homicídio por puro 
medo da pena, já que o direito quer preservar a vida e os demais bens dos 
membros da sociedade e não deseja moralizar o comportamento humano. 
Normas jurídicas: 
1- Buscam o "bem" social. 
2- Esperam orientar a conduta para concretizar valores sociais, sendo o maior 
deles a Justiça. 
3- Dotadas de bilateralidade, alteridade e coercibilidade. 
 Moral é individual, interna, pertence à conduta individual da pessoa, ao seu 
consciente ou inconsciente, ao seu íntimo, enquanto o Direito representa sempre 
uma alteridade, uma relação jurídica, uma norma de agir dotada de sanção e 
coerção, projetando-se, portanto, externamente. Tanto a Moral como o Direito 
possuem conteúdos éticos, isto é, o sentido de agir. Os valores morais 
encontram-se dentro da consciência de cada indivíduo, cabendo a este julgar o 
que considera certo ou errado, tolerável ou intolerável. Porém, ninguém nasce 
com a consciência repleta de normas ou valores, sendo estes transmitidos da 
sociedade para o indivíduo. Um dos principais “canais transmissores” destes 
preceitos é a família que nos ensina desde pequenos quais os limites entre o 
moral e o imoral. Distinção entre Direito e Moral: são dois parâmetros, duas 
determinantes de condutas socialmente corretas, cada um com suas 
características e formas de imposição diferentes, mas que estão sempre juntos, 
de alguma forma. Há regras que são seguidas naturalmente, ou seja, 
moralmente. Entretanto, há aquelas que só são cumpridas porque existe uma 
coação. É possível dizer que a moral é o mundo da conduta espontânea, a 
adesão do indivíduo ao que é determinado pela regra. Não existe moral forçada. 
Devolver o objeto perdido ao dono sob pressão de outrem não é um ato de 
verdadeira moralidade, pois não houve uma vontade espontânea da parte de 
quem o encontrou. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
BOBBIO, Norberto - Teoria do Ordenamento Jurídico 
BOBBIO, Norberto - Teoria da Norma Jurídica 
BOBBIO, Norberto - O Positivismo Jurídico

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