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MARIA EDUARDA MARTINS ANDRADE O NORMATIVISMO Filosofia Jurídica Marabá-PA 2021 O NORMATIVISMO Discente: Maria Eduarda Martins Andrade Professor: Heraldo Montarroyos O Normativismo, filosofia ou modo de produção de ideias. Objetivo da dogmática jurídica é a correta interpretação das normas, tentando garantir a sua melhor aplicação na realidade. Tendo a norma como uma diretriz, unidade de pensamento jurídico. As norma jurídicas nunca existem isoladamente, mas sempre em um contexto de normas com relações particulares entre si. Esse contexto de normas costuma ser chamado de “ordenamento”. E será bom absorvermos, desde já, que a palavra Direito”, entre seus vários sentidos, tem também o de ordenamento jurídico”, por exemplos nas expressões “Direito romano”, “Direito canônico”, “Direito italiano”, entre outros. Teoria do ordenamento jurídico constitui uma integração da teoria da norma jurídica. A natureza e a execução é determinada por uma complexa organização, essa organização complexa é o produto de um ordenamento jurídico. Significa portanto, que uma definição satisfatória do Direito só é possível se nos colocarmos do ponto de vista do ordenamento jurídico. Para caracterizar o Direito através de algum elemento da norma jurídica, pode-se considerar cinco critérios: 1. Critério formal; 2. Critério material; 3. Critério do sujeito que põe ; 4. Critério do sujeito ao qual a norma se destina. 1)Critério formal pode ser entendido por aquele que se acredita poder ser definido o que é Direito através de qualquer elemento estrutural das normas que se costuma chamar de jurídicas. As normas podem distinguir-se em: positivas ou negativas, categóricas individuais (concretas). Ou hipotéticas e gerais(abstratas) ou 2)Por critério material entende-se aquele critério que se poderia extrair do conteúdo das normas jurídicas, isto é, das ações reguladas. Esse critério é manifestamente inconcludente. 3) Critério do sujeito, põe e norma, se refere a teoria que considera jurídicas as normas postas pelo poder soberano, entendendo-se por “poder soberano” aquele acima do qual não existe, num determinado grupo social, nenhum outro, e que, e que, como tal, detém o monopólio da força. Se é verdade que um ordenamento jurídico é definido através da soberania, é também verdade que a soberania em uma determinada sociedade se define através do ordenamento jurídico. Poder soberano e ordenamento jurídico são dois conceitos que se referem um ao outro. E, portanto quando o Direito é definido através do conceito de soberania, o que vem em primeiro plano é a norma isolada. A soberania caracteriza não uma norma, mas um ordenamento; caracteriza a norma apenas enquanto ela é considerada como parte do ordenamento. 4) O critério do sujeito ao qual a norma é destinada pode apresentar duas variantes, conforme se considere como destinatário o súdito(norma jurídica é a norma seguida da convicção ou crença na sua obrigatoriedade) ou o juiz( é aquele ao qual uma norma do ordenamento atribui o poder e o dever de estabelecer quem tem razão e quem não tem, e de tornar assim possível a execução de uma sanção). Definição de norma jurídica traves da sanção e sanção jurídica através dos aspectos de exterioridade e de institucionalização. A definição de norma jurídica é aquela norma “cuja execução é garantida por uma sanção externa e institucionalizada”. Para que haja Direito é preciso que tenha uma grande ou pequena organização, um completo sistema normativo. Pra definir uma norma jurídica bastara dizer que a norma jurídica é aquela que pertence a um ordenamento jurídico. Se um ordenamento jurídico é composto de mais de uma norma, advém que os principais problemas conexos com a existência de um ordenamento são os que nascem das relações das diversas normas entre si. Em primeiro lugar, deve-se saber se essas normas constituem uma unidade. O problema fundamental que deve ser discutido a esse propósito é o da hierarquia das normas. Em segundo lugar, trata-se de saber se o ordenamento jurídico constitui, além da unidade, um sistema. O problema que é colocado em discussão a este respeito é os das antinomias jurídicas. O problema fundamental que é discutido é a das chamadas lacunas do Direito, pois todo ordenamento jurídico, unitário e tendencialmente sistemático, pretende ser completo. Há outro problema que é o de reenvio de um ordenamento a outro, devido a não existir entre os homens um só ordenamento, pois são muitos e de diversos tipos. Estes são os problemas principais, cujo questionamento possa permitir traçar as linhas gerais de uma teoria do ordenamento jurídico destinada a continuar e a integrar a teoria da norma jurídica. Eficácia X validade: O problema da validade e da eficácia, que gera dificuldades insuperáveis desde que se considere uma norma do sistema(a qual pode ser válida sem ser eficaz), diminui se nos referimos ao ordenamento jurídico, no qual a eficácia é o próprio fundamento da validade. Pluralidade de normas: O ordenamento jurídico é um conjunto de norma. No ordenamento jurídico pode-se ter mais de uma norma e que não pode haver um ordenamento jurídico com uma única norma. Para que um ordenamento jurídico constituído de uma única norma funcionasse corretamente, seria necessário que todas as ações possíveis e as qualificasse com única, tendo o obrigatório, o permitido e proibido. Tudo é permitido: uma norma assim, marca a negação de qualquer, ordenamento jurídico. Tudo é proibido: impossibilita qualquer vida social humana. Tudo é obrigatório: ações em conflito entre si, visto que não é possível ordenar as ações. Normas de conduta: Em todo o ordenamento, ao lado das normas de conduta, existe um outro tipo de normas, que costumamos chamar de normas de estrutura ou de competência. São aquelas normas que não prescrevem a conduta que se deve ter ou não ter, mas as condições e os procedimentos através dos quais emanam normas de conduta válidas. Uma norma que prescreve caminhar pela direita é uma norma de conduta. Uma norma que prescreve que duas pessoas estão autorizadas a regular seus interesses em certo âmbito mediante normas vinculantes e coativas é uma norma de estrutura, na medida em que não determina uma conduta, mas fixa as condições e os procedimentos para produzir normas validas de conduta. É concebível um ordenamento composto de uma só norma de estrutura? Sim, concebível. A unidade do ordenamento jurídico: Os ordenamentos são compostos por uma infinidade de normas, mesmo que sejam muitas, sempre se criam novas normas. Geralmente essas normas não derivam de uma única fonte. Pode-se distinguir os ordenamentos jurídicos em simples e complexos, conforme as normas que os compõem derivem de uma só fonte ou de mais de uma. Os ordenamentos são complexos. A complexidade de um ordenamento jurídico deriva do fato de que a necessidade de regras de conduta numa sociedade é tão grande que não existe nenhum poder (ou órgão) em condições de satisfazê-la sozinho. O poder supremo recorre geralmente a dois expedientes: A recepção de normas já feitas, produzidas por ordenamentos diversos e precedentes e delegação do poder de produzir normas jurídicas a poderes ou órgãos inferiores. Em cada ordenamento, ao lado da fonte direta temos fontes indiretas e que podem ser distintas em duas classes: fontes reconhecidas e fontes delegas. A complexidade está na multiplicidade das fontes. Fontes do direito: São fatos ou atos dos quais o ordenamento jurídico faz depender a produção de normas jurídicas. Reconhece-se que o ordenamento jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula também o modo pelo qual se devem produzir as regras. O ordenamento jurídico regula a própria produção normativa. Normas de estrutura: normas para produção jurídica, elasnão regulam o comportamento, mas o modo de regular um comportamento, o comportamento que elas regulam é produzir regras. Em cada grau normativo encontraremos normas de conduta e normas de estrutura. Normas que regulam as condutas de outras pessoas e normas destinadas a regular a produção de outras normas. As lei ordinárias não são normas de conduta, mas normas para produção de outras normas. Normas de conduta / normas de estrutura. Tripartição clássica das normas: imperativas, proibitivas e permissivas. Pode-se distinguir nove tipos. 1- Que mandam ordenar: o estudo é obrigatório 2 - Normas que proíbem ordenar: proibida a pena de morte 3- Normas que permitem ordenar: permissões para o legislador criar leis ordinárias 4- Normas que mandam proibir: a Constituição manda proibir a candidatura de pessoas com condenação criminal 5 - Normas que proíbem proibir: ninguém pode ser privado por políticos da capacidade jurídica motivos 6- Normas que permitem proibir: o legislador pode proibir a construção de edifícios perto de aeroportos. 7 Normas que mandam permitir: garantia da liberdade de expressão(coincide com o 5) 8 - Normas que proíbem permitir: proibição de autorizações para exploração de áreas protegidas ambientalmente (coincide com o 4) 9 - Normas que permitem permitir: possibilidade de criação de partidos que era anteriormente proibida Toda norma pressupõe um poder normativo: norma significa imposição de obrigações, pois onde a obrigação, há poder. Se existem normas constitucionais, deve existir o poder normativo do qual elas derivam: esse poder é constituinte. É o poder último, ou, se preferirmos, supremo, originário, num ordenamento jurídico. Dado o poder constituinte como poder último, deve-se pressupor uma norma que atribua ao poder constituinte a faculdade de produzir normas jurídicas: essa norma é a norma fundamental, que de um lado, atribui aos órgãos constitucionais poder de fixar normas válidas, fazendo uma imposição a todos os quais, se referem as normas constitucionais, a obedecê-la. É uma norma ao mesmo tempo atributiva e imperativa, pela qual se dá origem ou da obrigação do poder que dele nasce. A norma fundamental não é expressa, mas é pressuposta para fundar o sistema normativo. Posto um ordenamento de normas de diversas procedências, a unidade do ordenamento postula que as normas que o compõem sejam unificadas. Considerando o poder constituinte como poder jurídico, também é considerado como produto de uma norma jurídica. A norma jurídica que produz o poder constituinte é a norma fundamental. Sabemos que o ordenamento é um conjunto de normas e saber se uma norma jurídica é válida, ou não, não é uma questão ociosa. Se a norma jurídica é válida significa que é obrigatório conformar-se a ela, se não nos conformarmos, o juiz será obrigado a intervir, atribuindo ou não uma sanção. A norma fundamental é o critério supremo que permite estabelecer se uma norma pertence a um ordenamento, ou seja, é o fundamento de validade de todas as normas do sistema. Pode-se concluir que uma norma é válida quando puder ser reinserida, não importa se através de um ou mais graus, na norma fundamental. A norma fundamental é um pressuposto do ordenamento: ela, num sistema normativo, exerce a mesma função que os postulados num sistema cientifico. Enquanto por um lado, atribui aos órgãos constitucionais poder de fixar normas validas, impõe a todos aqueles aos quais se referem as normas constitucionais o dever de obedecê-las. O fato de uma norma não estar expressa não significa que não exista: a ela referimos como o fundamento subentendido da legitimidade de todo o sistema. O fato de uma norma pertencer a um ordenamento significa validade, podemos concluir que uma norma é válida quando puder ser reinserida, não importa se é através de um ou mais gruas, na norma fundamental. Antinomia é a existência de normas incompatíveis entre si dentro de um sistema jurídico. A tradição, ao abordar o direito como um sistema no terceiro sentido acima apontado, irá afirmar que o Direito não tolera antinomias. Ao definir-se normas incompatíveis como aquelas que não podem ser ambas verdadeiras, essas relações de incompatibilidade normativa serão verificadas em três casos: 1)Entre uma norma que ordena fazer algo e outra que proíbe fazê-lo (contrariedade); 2) uma norma que ordena fazer e outra que permite não fazer (contraditoriedade): 3)Entre uma norma que proíbe fazer e outra que permite fazer (contraditoriedade); Para que haja antinomia é ainda necessário que: 1)As duas normas pertençam ao mesmo ordenamento; 2)As duas normas devem ter o mesmo âmbito de validade: temporal, espacial, pessoal e material. O conceito de antinomia fica ampliado, podendo ser considerada a antinomia jurídica como “aquela situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento e tendo o mesmo âmbito de validade”. Paralelamente a essa concepção de antinomia proposta por Bobbio, há outras situações que as concepções tradicionais também atribuem o significado de antinomia, mas que Bobbio irá chamar de antinomias impróprias, para distinguir das antinomias já definidas, por ele consideradas como antinomias próprias. As antinomias impróprias podem ser: 1)Antinomia de principio – refere-se ao fato dos ordenamento jurídicos serem normalmente inspirados em valores contrapostos, como, por exemplo, liberdade e segurança; 2) antinomia de avaliação ocorre quando um delito menor é punido com uma pena mais grave que um delito maior. 3) antinomias teleológicas – têm lugar quando existe uma oposição entre a norma que prescreve o meio para alcançar o fim e a que prescreve o fim, de modo que se aplico a primeira não chego ao fim estabelecido na segunda. Critérios para solução de antinomias: A presença de antinomias no sistema jurídico é considerada um defeito que o intérprete irá tentar eliminar. Surge ai a questão de qual das normas deverá ser eliminada e quais critérios poderão ser utilizados para realizá-la. Ao tentar solucionar as antinomias, pode-se deparar com duas situações diferentes: 1) é possível resolver a antinomia a partir dos critérios tradicionais (cronológico, hierárquico e especialidade); 2) não é possível resolver a antinomia porque não se pode aplicar nenhum dos critérios existentes ou porque se podem aplicar ao mesmo tempo duas ou mais regras em conflito entre si. As antinomias da primeira situação Bobbio chamará de antinomias aparentes (ou solúveis) e às da segunda situação de antinomias reais (ou insolúveis). As regras fundamentais para a solução das antinomias aparentes (solúveis) são três: 1)Critério cronológico – é aquele no qual, entre duas normas Incompatíveis, prevalece a norma posterior (lex posterior derogat priori). 2)Critério hierárquico – é aquele pelo qual, entre duas normas incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior (lex superior derogat inferiori). 3)Critério da especialidade – é aquele pelo qual, entre duas normas incompatíveis, uma geral e outra especial (ou excepcional), prevalece a segunda (lex specialis derogat generali). Contudo, há casos em que não é possível aplicar esses critérios facilmente, pois pode ocorrer antinomia entre duas normas contemporâneas, do mesmo nível ou ambas gerais. Nessa situação, os critérios acima indicados não servem mais e não existe um “quarto critério” que possa resolver esse tipo de antinomia. Alguns tratadistas mais antigos tentaram elaborar alguns critérios para tentar resolver esse tipo de antinomia, segundo a forma das normas antinômicas, que poderiam ser imperativas, proibitivas ou permissivas”, porém deve-se reconhecer que essas regras não têm a mesma legitimidade daquelas deduzidas dos três critérios acima analisados. Não havendo critério para resolver a antinomia, o juiz ou intérprete temtrês possibilidades: 1) elimina uma das normas, 2) elimina as duas ou 3) conserva as duas. No primeiro caso, trata-se de interpretação ab-rogante, mas que não corresponde a uma ab-rogação em sentido próprio, já que o intérprete não tem poder normativo. O segundo caso ocorre normalmente quando a relação entre as normas não é de contradição, mas de contrariedade, no qual ocorre uma dupla ab-rogação. A terceira solução é talvez aquela à qual o intérprete recorre mais frequentemente e consiste em demonstrar que existe compatibilidade, que a suposta incompatibilidade é fruto de uma interpretação superficial ou ruim. É a chamada interpretação corretiva, que pretende conciliar duas normas aparentemente incompatíveis para conservá-las ambas no sistema, evitando assim o remédio extremo da ab- rogação. A situação antinômica mais delicada, contudo, é aquela na qual pode acontecer que duas normas incompatíveis mantenham entre si uma relação em que se podem aplicar concomitantemente, não apenas um, mas dois ou três critérios, sendo que cada um que for aplicado levará a uma solução diferente. Sendo três os critérios, os conflitos entre critérios podem ser três tipos: 1) conflito entre o critério hierárquico e cronológico - neste caso, o critério hierárquico prevalece sobre o cronológico, pois do contrário a estrutura hierárquica do ordenamento perderia seu sentido. 2) conflito entre o critério da especialidade e o cronológico -neste caso, deve o critério da especialidade preponderar sobre o cronológico. Contudo, essa regra deve ser tomada com cautela e ter como fundamento uma ampla casuística. 3) conflito entre o critério hierárquico e o de especialidade - neste caso, Bobbio afirma que é impossível uma resposta segura e que não existe uma regra geral consolidada. A solução dependerá do intérprete. Esse problema indicado no item 3 acima traz à tona a questão da regra de coerência do ordenamento, que proibiria as antinomias no sistema jurídico. Essa questão, por sua vez, levanta também o problema da validade: a compatibilidade seria uma condição necessária para a validade de uma norma jurídica? Bobbio afirma expressamente que não. Não existe no ordenamento nenhuma regra de coerência e, portanto, duas normas Incompatíveis do mesmo nível e contemporâneas são ambas válidas. Essas normas, entretanto, não podem ser ao mesmo tempo eficazes, no sentido de que a aplicação de uma no caso concreto exclui a aplicação da outra, mas são ambas válidas no sentido de que, apesar de seu conflito, ambas continuam a existir no sistema e não há remédio para sua eliminação. Assim, a coerência não é condição de validade, mas é sempre condição para a justiça do ordenamento, pois a aplicação de duas normas contraditórias gerará decisões diferentes a casos semelhantes e viola dos princípios considerados importantes para o ordenamento jurídico: o princípio da certeza (que corresponde ao valor da paz ou da ordem) e o princípio da justiça (que corresponde ao valor da igualdade). A teoria da norma geral exclusiva afirma a completude do ordenamento jurídico a partir do entendimento de que as ações humanas não regulamentadas são implicitamente admitidas e aceitas por esse ordenamento. Todos os comportamentos não compreendidos na norma particular são regulados por uma norma geral exclusiva. Isto é, pela regra que exclui todos os comportamentos que não estejam aqueles previsto pela norma particular. Norma geral exclusiva: uma norma que regula um comportamento não só limita a regulamentação, mas ao mesmo tempo exclui daquela regulamentação todos os outros comportamentos. Em um sistema que cada caso não regulamentado faz parte da norma geral exclusiva apenas existem lacunas impróprias – ex: Código Penal, não admite extensão analógica. Entende-se por “lacuna” a falta não já de uma solução, qualquer que seja ela, mas de uma solução satisfatória, a falta de uma norma justa. Chamam-se lacunas ideológicas as lacunas que existem em razão da falta de norma jurídica satisfatória ou justa, isto é, adequada à solução do litigio. Não se trata, aqui, da lacuna real, que é a falta de norma jurídica expressa ou de norma jurídica tácita. As lacunas ideológicas apresentam-se ao jurista quando este compara ao ordenamento desejável, ideal, o ordenamento jurídico (de direito a ser estabelecido) reconhecendo se, então, que todo e qualquer ordenamento positivo as apresenta e que somente o Direito Natural delas está isento. Inicialmente, distinguem-se lacunas próprias e impróprias. 1- Lacunas próprias: lacuna do sistema ou dentro do sistema. 2- Lacuna imprópria: comparação do sistema real com um sistema Ideal. Fazem presentes quando o ordenamento jurídico contém apenas as normas gerais exclusivas, além das normas particulares, exigindo uma solução por intermédio de normas a serem criadas pelo legislador. Assemelham-se às lacunas ideológicas. As lacunas impróprias apenas podem ser solucionadas pela atividade legislativa. Também pode ser feita a diferenciação entre lacunas subjetivas e lacunas objetivas. Subjetivas são as lacunas que têm como causa existencial a pessoa do legislador, que ora deixa de criar a norma voluntariamente, ora involuntariamente não regulamenta um fato ou ato jurídicos. Subjetivas: vontade do legislador – divididas em: a) voluntárias – ex: diretrizes gerais, normas constitucionais; b) involuntárias – descuido do legislador. Por sua vez, objetivas são as lacunas cuja fonte de existência não é imputada ao legislador, mas a fatores outros que fazem surgir necessidades inéditas nas relações socias, necessidades que passam a reclamar ao Direito a regulamentação condizente à harmonia dos homens que na sociedade interagem. As relações entre os Ordenamentos: A) de coordenação: são aquelas que têm lugar entre Estados soberanos e dão origem aquele regime jurídico, próprio do relacionamento entre entes que estão no mesmo plano, que é o regime pactuário, ou seja, o regime no qual as regras de coexistência são produto de uma autolimitação recíproca; B)Relações de subordinação (supremacia): aparecem entre o ordenamento estatal e as ordenamentos sociais (associações, sindicatos, partidos, etc.). O outro critério de classificação da relação entre ordenamentos á aquele que leva em conta a diferente extensão reciproca dos respectivos âmbitos de validade. São três tipos de relação: A)Exclusão total: significa que os âmbitos de validade de dois ordenamentos são. Delimitados de maneira a não sobreporem um ao outro em nenhuma das suas partes (um exemplo é a relação entre o ordenamento estatal e a Igreja); B) Inclusão total: significa que um dos dois ordenamentos tem um âmbito de validade compreendido totalmente no do outro: C) parcial e inclusão parcial: significa que dois ordenamentos têm uma parte em comum e uma parte não-comum (essa situação se verifica quando o ordenamento estatal absorve um ordenamento diferente, por exemplo). Também podemos considerar as relações entre os ordenamentos tomando como base a validade que um determinado ordenamento atribui às regras de outros ordenamentos com os quais entra em contato. Existem três diferentes situações: A): é aquela em que um ordenamento considera lícito aquilo que num outro ordenamento é obrigatório. B)Recusa: é aquela em que um ordenamento considera proibido aquilo que em um ordenamento é obrigatório. C)Absorção: é aquele em que um ordenamento considera obrigatório ou proibido aquilo que no outro ordenamento é também obrigatório ou proibido. Essa situação pode assumir duas formas distintas: reenvio (reenvio forma) e recepção (reenvio material). A primeira é o processo pelo qual um ordenamento deixa de regular uma dada matéria e acolhe a regulamentação estabelecida por fontes normativas pertencentes a outro ordenamento; a segunda é o procedimento pelo qual um ordenamentoincorpora no próprio sistema a disciplina normativa de uma dada matéria assim como foi estabelecida num outro Heterointegração e auto-integração são duas formas de tornar completo o ordenamento jurídico. 1) recurso a ordenamentos diversos – na ausência do Direito positivado recurso ao Direito natural; 2) fontes diversas da dominante (lei) – possibilidade de recurso ao poder criativo do juiz Auto-integração. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Analogia e interpretação: Procedimento pelo qual se atribui a um caso não- regulamentado a mesma disciplina que a um caso regulamentado semelhante. Distinguem-se a analogia legis e a analogia iuris. Legis: aplicação de uma norma cuja previsão, embora se dirija a caso distinto, apresenta semelhanças com a situação imprevista. Juris: parte de uma previsão geral para casos particulares. Procedimento através do qual se tira uma nova regra para um caso imprevisto a partir do sistema normativo - semelhança com "princípios gerais do direito". A Interpretação extensiva: operação interpretativa de atribuição de um significado mais amplo que o habitual a termos de um texto jurídico a fim de que se possa alcançar situações dele excluídas caso se fosse feita uma leitura literal. A interpretação extensiva não é admitida, no Direito Penal para criar novas penas nem no Direito Tributário para criar novos tributos - proteção dos indivíduos - prevalece a norma geral exclusiva. Os princípios gerais do Direito: Para Bobbio: apenas os não expressos - princípios expressos: ausência de lacuna. Os costumes podem ser adotados, mas não podem ir contra a lei. Secum Legem (legislador remete aos costumes) Preater Legem (para além da do silencio da lei(lacuna). São dois argumentos válidos que sustentam serem os princípios gerais normas: se são normas aquelas das quais os princípios gerais são extraídos, através de um procedimento de generalização sucessiva, não se vê por que não devam ser normas também eles. Em segundo lugar, a função para a qual são extraídos e empregados é a mesma cumprida por todas as normas, isto é, a função de regular um caso. No caso de lacuna, são extraídos para regular um comportamento não-regulamentado (servem, assim, ao mesmo escopo a que servem as normas expressas). Os princípios gerais não-expressos são aqueles que se podem tirar por abstração de normas específicas ou pelo menos não muito gerais: são princípios, ou normas generalíssimas, formuladas pelo intérprete, que busca colher, comparando normas aparentemente diversas entre si, aquilo a que comumente se chama o espirito do sistema. Quando os princípios gerais são expressos, exatamente pelo fato de que são normas como as demais, não se pode falar de lacuna. A primeira condição para que se possa falar de lacuna é a de que o caso não esteja regulado: o caso não está regulado quando não existe nenhuma norma expressa, nem especifica, nem geral, nem generalíssima, que diga respeito a ele, quer dizer, quando, além da falta de uma norma especifica que lhe diga respeito, também o principio geral, dentro do qual poderia entrar, não é expresso. Se o principio geral é expresso, não haveria diferença entre julgar o caso com base nele ou com base numa norma especifica. O principio geral expresso é uma disposição precisa. O positivismo jurídico no sentido estrito considera, primeiro, que o estudo e a compreensão do direito não incluem sua avaliação moral e, segundo, que o reconhecimento da validade de um sistema jurídico (ou de uma norma) não depende da sua conformidade a critérios sobre o justo e o correto. Não interessa o valor e sim a validade do direito. Não interessa a substância; interessa a forma. As regras morais objetivam o aperfeiçoamento do indivíduo; as regras jurídicas apenas facilitam o convívio social, procurando prevenir e solucionar conflitos. Por tal razão, as normas morais regulam principalmente a conduta” interna “da pessoa, e o direito interessa-se pelo comportamento” externo “e não pelos motivos da ação humana ou pelo pensamento. O direito não proíbe pensamentos “pecaminosos” ou imorais nem se interessa por que o indivíduo decide respeitar a regra jurídica. Quem não mata uma pessoa por amor ao próximo é uma pessoa que respeita a legalidade tal como aquele que se abstém do homicídio por puro medo da pena, já que o direito quer preservar a vida e os demais bens dos membros da sociedade e não deseja moralizar o comportamento humano. Normas jurídicas: 1- Buscam o "bem" social. 2- Esperam orientar a conduta para concretizar valores sociais, sendo o maior deles a Justiça. 3- Dotadas de bilateralidade, alteridade e coercibilidade. Moral é individual, interna, pertence à conduta individual da pessoa, ao seu consciente ou inconsciente, ao seu íntimo, enquanto o Direito representa sempre uma alteridade, uma relação jurídica, uma norma de agir dotada de sanção e coerção, projetando-se, portanto, externamente. Tanto a Moral como o Direito possuem conteúdos éticos, isto é, o sentido de agir. Os valores morais encontram-se dentro da consciência de cada indivíduo, cabendo a este julgar o que considera certo ou errado, tolerável ou intolerável. Porém, ninguém nasce com a consciência repleta de normas ou valores, sendo estes transmitidos da sociedade para o indivíduo. Um dos principais “canais transmissores” destes preceitos é a família que nos ensina desde pequenos quais os limites entre o moral e o imoral. Distinção entre Direito e Moral: são dois parâmetros, duas determinantes de condutas socialmente corretas, cada um com suas características e formas de imposição diferentes, mas que estão sempre juntos, de alguma forma. Há regras que são seguidas naturalmente, ou seja, moralmente. Entretanto, há aquelas que só são cumpridas porque existe uma coação. É possível dizer que a moral é o mundo da conduta espontânea, a adesão do indivíduo ao que é determinado pela regra. Não existe moral forçada. Devolver o objeto perdido ao dono sob pressão de outrem não é um ato de verdadeira moralidade, pois não houve uma vontade espontânea da parte de quem o encontrou. REFERÊNCIAS BOBBIO, Norberto - Teoria do Ordenamento Jurídico BOBBIO, Norberto - Teoria da Norma Jurídica BOBBIO, Norberto - O Positivismo Jurídico
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