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Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 8 CAP 2 – INTRODUÇÃO ÀS PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS MATERIAIS. 2.1. DEFORMAÇÃO ELÁSTICA E PLÁSTICA A experiência demonstra que todos os sólidos se deformam quando submetidos a esforços externos. Sabe-se também que, após serem removidos os esforços externos, o corpo recupera ou não as suas dimensões iniciais, tal como se pode observar na figura 2.1, dependendo de não ter sido ou ter sido excedida uma determinada força limite. É aplicada uma força externa no sólido. É retirada a força externa. O corpo recupera as suas dimensões iniciais. (Domínio elástico ou zona de deformação reversível ou recuperável) Comportamento Elástico O corpo ficando permanentemente deformado, apenas recupera parte da deformação a que foi submetido. (Domínio plástico ou zona de deformação permanente) Comportamento Elasto-Plástico Fig. 2.1 – Comportamento elástico e elasto-plástico. Sólido F Sólido Sólido Sólido Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 9 2.2. PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS MATERIAIS Algumas das mais importantes propriedades mecânicas dos materiais obtêm-se no ensaio de tracção. Neste ensaio submete-se um provete do material a uma carga axial continuamente crescente até se dar a fractura. Fig. 2.2 – Provete para ensaio de tracção. Regista-se durante o ensaio, a carga aplicada (F) e o aumento do comprimento do provete (d). A Tensão nominal (s), é a tensão longitudinal média no provete, calculada dividindo a força aplicada (F), pela área da secção inicial do provete (A0), 0A F =s (2.1) s ® Tensão nominal [Pa ou N/m2] F ® Força aplicada no provete [N] A0 ® Área da secção inicial da secção transversal [m2] A Extensão nominal ou deformação (e), é a deformação linear média que se determina dividindo o alongamento do comprimento de referência (DL), pelo próprio comprimento inicial de referência. inicialocompriment sofridoocomprimentdoiaçãovar L L L LL 00 0 = D = - =e (2.2) e ® Extensão ou deformação L ® comprimento final [m] L0 ® comprimento inicial [m] Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 10 Obtém-se então o DIAGRAMA TENSÃO-EXTENSÃO. (a) (b) Fig. 2.3 – Diagrama Tensão–Extensão. (a) Sem fenómeno de cedência. (ex. Alumínio) (b) Com fenómeno de cedência. (ex. Aço macio). Linha O-P ® REGIÃO LINEAR ELÁSTICA Ocorre durante a fase inicial do ensaio, em que s é proporcional a e. Atinge-se a certa altura a tensão limite de proporcionalidade Sp 1, a partir da qual deixa de haver proporcionalidade. A área triângular situada abaixo do diagrama, desde zero até Sp é designada por módulo de resiliência, e representa a capacidade física do material em absorver energia sem deformações permanentes. Nesta região, quando a carga é retirada, o provete retorna às suas dimensões iniciais. A inclinação da recta O-P é definida pelo módulo de elasticidade E. Ponto E ® TENSÃO LIMITE CONVENCIONAL DE ELASTICIDADE (elastic limit) (Se ou se ou Rr)1 É a maior tensão que o material pode suportar sem sofrer uma extensão permanente quando a carga for retirada. É designada por Se. Esta tensão é ligeiramente superior à tensão limite de proporcionalidade. No entanto, devido à dificuldade na sua determinação, toma-se muitas vezes por Sp para representar Se. Entre o ponto P e o ponto E o diagrama não é uma linha recta, no entanto o provete ainda é elástico. 1 Na literatura pode-se designar tensão pelas letras S ou s com os respectivos subscritos, no entanto também se pode designá-la por R segundo a Norma Portuguesa NP 10 002-1 de 1990. U F Y E P Se Sf Sy Su Sp Sp Se Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 11 Linha E-F ® DOMÍNIO PLÁSTICO Continuando a carregar o material para além do ponto E, a curva desvia acentuadamente da linearidade. Entra-se então no domínio plástico. Ponto Y ® TENSÃO DE CEDENCIA (Yield Strength) (Sy ou sc ou Re) É a habilidade do material resistir a uma deformação plástica e caracteriza o início da deformação plástica. Em alguns materiais, tais como aços macios (figura 2.3 b), a tensão de cedência é marcada por um ponto definido, ponto de cedência. Noutros materiais (figura 2.3 a), onde o limite de proporcionalidade é menos acentuado, é comum definir a tensão de cedência como a tensão necessária para produzir uma pequena quantidade de deformação permanente (0,2%). Ponto U ® TENSÃO DE ROTURA (Ultimate or Tensile Strength) (Su ou sR ou Rm) É a maior tensão nominal que o material pode suportar antes da rotura. É calculada dividindo a carga máxima (Fmax) pela área inicial do provete (A0). Ponto F ® TENSÃO FINAL (Fracture Strength) (Sf ou sf) Alguns materiais apresentam uma curva decrescente após atingirem a tensão máxima, ou seja, a partir do ponto U a carga decresce dando-se finalmente a rotura no ponto F. Esta zona de U a F também é designada por zona de estricção e caracteriza-se pelo facto de a deformação deixar de ser uniforme ao longo do provete e concentrar-se numa determinada zona, ou seja, na zona de estrangulamento da secção transversal do provete. O provete vai finalmente romper por esta secção mais reduzida. Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 12 2.3. COMPORTAMENTO DÚCTIL E FRÁGIL 2.3.1. COMPORTAMENTO DÚCTIL Todos os materiais que permitam grandes deformações plásticas antes da rotura têm um comportamento dúctil. (exemplos: Cobre, aço macio e alumínio) Fig. 2.4 – Diagrama Tensão nominal–Extensão de um material dúctil. No caso da rotura de materiais com comportamento dúctil, quando o carregamento atinge o seu valor máximo (Sut), o diâmetro do corpo de prova começa a diminuir mais acentuadamente numa determinada secção, devido à perda de resistência local (Fig.2.5a). Após este valor máximo, o carregamento diminui progressivamente, embora o corpo de prova continue a deformar-se até se dar a rotura (Fig. 2.5b). Esta rotura, provocada pela tensão de corte máxima, dá-se segundo uma superfície em forma de cone, que forma um ângulo aproximado de 45º com a superfície perpendicular ao carregamento. Fig. 2.5 – Rotura de um material dúctil. [Fig. 2.10 Beer&Johnston] Sp Se Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 13 1.3.2. COMPORTAMENTO FRÁGIL Os materiais que fracturam após uma pequena deformação plástica têm um comportamento frágil, ilustrado na figura 2.6. (exemplos: aços de alta resistência, ferros fundidos). Contudo também existem materiais que fracturam sem deformação plástica, apresentando um comportamento do tipo frágil, como é o caso do vidro e da pedra. Fig. 2.6 – Diagrama Tensão nominal–Extensão de um material frágil. Para os materiais com comportamento frágil, não existe diferença entre a Tensão de rotura e a tensão final (Su = Sf), além de que a deformação até à rotura é muito menor do que nos materiais dúcteis. A figura 2.7 mostra que a rotura se dá numa superfície perpendicular ao carregamento. Pode-se concluir daí que a rotura dos materiais frágeis se deve a tensões normais. Fig. 2.7 – Rotura de um material frágil. [Fig. 2.12 Beer&Johnston] Su = Sp Se Elementos de Máquinas ConceitosBásicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 14 2.4. CRITÉRIOS DE CEDÊNCIA Dos vários critérios de cedência existentes apresentam-se apenas os critérios de Tresca e de Von Mises. 2.4.1 CRITÉRIO DA TENSÃO DE CORTE MÁXIMA (TRESCA) Só aplicável à falha por cedência, porque nesta está implicito um mecanismo de corte. A falha por cedência ocorre sempre que a tensão de corte máxima aplicada, tmax, atinja a tensão de corte máxima crítica, Ssy, i.e., aquela presente no provete do ensaio de tracção quando este entra em cedência. symax S³t (2.3) Sendo, 2 S S ysy = (2.4) Ssy – Tensão de corte de cedência Sy – Tensão normal de cedência tmax – Tensão de corte máxima Fig. 2.8 – Gráfico do critério da tensão de corte máxima. [fig. 6.10 Hamrock] onde, pelo círculo de Mohr, para um estado biaxial de tensões, tira-se que: 2 xy 2 yx max 2 t+÷÷ ø ö çç è æ s-s =t (2.5) Diagonal de corte Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 15 2.4.2. CRITÉRIO DA ENERGIA DE DISTORÇÃO (VON MISES) Também só aplicável à falha por cedência. A falha ocorre sempre que a energia de distorção verificada num ponto qualquer da peça, atinja o valor da energia de distorção presente no provete de tracção quando este entra em cedência. O critério de Von Mises pode ser dado pela seguinte equação para os eixos xyz: ( ) ( ) ( ) ( )[ ] 2/12xz2yz2xy2zx2zy2yx 6 2 1 t+t+t+s-s+s-s+s-s=s¢ (2.6) ou ( ) ( ) ( ) ( ) 2 y 2 xz 2 yz 2 xy 2 zx 2 zy 2 yx S 2 6 ³ t+t+t+s-s+s-s+s-s =s¢ (2.7) Para um estado plano de tensões, vem: ( ) y2/12xy2yyx2x S3 ³t+s+ss-s=s¢ (2.8) Fig. 2.9 – Gráfico do critério da energia de distorção. [fig. 6.11 Hamrock] Diagonal de corte Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 16 2.5. CRITÉRIOS DE ROTURA 2.5.1 CRITÉRIO DA MÁXIMA TENSÃO NORMAL (COULOMB) De acordo com este critério, dá-se a rotura quando a máxima tensão normal atinge o valor da tensão de rotura, obtida através do ensaio de tracção de um corpo de prova do mesmo material. Ou seja, a rotura ocorre quando uma das tensões principais iguala a tensão de rotura. c3 t1 S S -=s =s (2.9) Onde St e Sc são as tensões de tracção e de compressão, normalmente de cedência ou de rotura, respectivamente. Fig. 2.10 - Gráfico do critério de Coulomb. [fig. 6.15 Hamrock] Para um estado plano de tensões, tem-se que s1 = smax e s3 = smin, e a tensão máxima e mínima são dadas pela equação retirada do círculo de Mohr: 2 xy 2 yxyx minmax 22 , t+÷÷ ø ö çç è æ s-s ± s+s =ss (2.10) 2.5.2 CRITÉRIO MOHR-COULOMB O critério de rotura de Mohr-Coulomb baseia-se no critério de Mohr. A tensão de rotura do material à tracção St, determina-se através de ensaios de tracção, enquanto a tensão de rotura à compressão Sc, determina-se a partir de ensaios à compressão. Com estas tensões traçam-se os círculos de Mohr representativos dos estados de tensão de tracção (círculo menor) e de compressão (círculo maior). As rectas tangentes aos círculos de Mohr definem uma envolvente de rotura. (Esta envolvente de rotura corresponde à envolvente representada pela linha poligonal fechada da figura 2.11 b). Assim, o critério de rotura de Mohr coincide com o critério de cedência de Tresca, quando St = Sc Elementos de Máquinas Conceitos Básicos de Mecânica dos Materiais Rosa Marat-Mendes – Escola Superior de Tecnologia – IPS – 2003 17 (a) (b) Fig. 2.11 – (a) Círculos de Mohr. [fig. 6.24 Hamrock]. (b) Gráfico do critério de Coulomb- Mohr. [fig. 6.25 Hamrock] As tensões são relacionadas por: 1 SS uc 3 ut 1 = s - s 0,0, 31 £s³s (2.11) Para o estado biaxial de tensões, vem: 0S 0S 3uc3 1ut1 <s=s >s=s (2.12) Sendo, s1, s2 e s3 as tensões principais.
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