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SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO (DOENÇA DA MEMBRANA HIALINA) INCIDÊNCIA A SDR ocorre em crianças prematuras (incidência inversamente proporcional à idade gestacional e ao peso no nascimento). Raramente ocorre na idade gestacional superior a 37 semanas. O risco aumenta com diabetes materno, gestação múltipla, parto por cesariana, parto acelerado, asfixia, estresse térmico e histórico materno de ocorrência anterior. Risco reduzido em gestações com hipertensão crônica ou DHEG, uso materno de heroína, RUPREME e profilaxia pré- natal com corticoesteroides ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A principal causa é a deficiência de surfactante (produção e secreção). Elevada tensão superficial e ausência de surfactante levam a falha para atingir a capacidade residual funcional e atelectasia. A medida que a idade gestacional avança, mais fosfolipídeos são sintetizados e armazenados nas células alveolares tipo II, auxiliando na redução da tensão superficial e mantendo a estabilidade alveolar. Com o parto pré-termo, a quantidade de surfactante pode ser ainda insuficiente. A síntese de surfactante depende de pH. Temperatura e perfusão adequada. O revestimento epitelial dos pulmões pode ser lesado por oxigênio e também contribuir para redução de surfactante. A atelectasia alveolar, a formação da membrana hialina e o edema intersticial podem exigir uma pressão maior para expandir os alvéolos e as pequenas vias aéreas. A parede torácica do RNPT é muito complacente, de modo que ao final da expiração o volume do tórax e pulmão tende a se aproximar do volume residual e assim favorecer a atelectasia. A atelectasia resulta em alvéolos perfundidos mas não ventilados, levando à hipóxia e eventualmente em hipercapnia. A combinação de hipercapnia, hipóxia e acidose leva à vasoconstrição arterial e aumento do shunt direita/esquerda através do forame oval e canal arterial e dentro do próprio pulmão. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Aparecem nos primeiros minutos, mas podem passar despercebidas por horas, especialmente em RNPT. Alguns pacientes exigem reanimação neonatal devido a asfixia intraparto ou desconforto respiratório grave (especialmente com peso < 1000g). São manifestações frequentes: taquipneia, gemência acentuada (com frequência audível) e cianose. O MV pode ser normal ou reduzido, e na inspiração profunda podem ser ouvidas crepitações finas. A evolução natural não tratada é aumento da cianose e dispneia. Pode ocorrer queda da pressão sanguínea, e a gemêcia reduz ou desaparece. Apneia e respirações irregulares são sinais preocupantes que exigem intervenção imediata. Podem apresentar ainda, acidose mista respiratória e metabólica, edema, disfunção do íleo e oligúria. Na maioria dos casos, os sinais atingem o pico em 3 dias. A morte pode resultar do grave comprometimento da troca gasosa, escape de ar alveolar, hemorragia pulmonar ou hemorragia intraventricular (IVH) DIAGNÓSTICO A evolução clínica, os resultados de radiografias torácicas, a avaliação da troca gasosa e dos distúrbios acidobásicos na gasometria sanguínea auxiliam na definição do diagnóstico clínico. Uma variação considerável nos resultados radiográficos pode ser observada dependendo da fase de respiração (radiografia inspiratória versus expiratória) e o uso de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP) ou pressão positiva expiratória final (PEEP); essa variação resulta com frequência em uma correlação insatisfatória entre os resultados radiográficos e a evolução clínica. Diagnósticos diferenciais: sepse precoce, pneumonia, cardiopatias cianóticas, taquipneia respiratória, hipertensão pulmonar persistente, síndromes de aspiração (mecônio e líquido amniótico), pneumotórax espontâneo, efusões pleurais e anomalias congênitas. TRATAMENTO Multifatorial, inicia-se na prevenção com corticoesteroide antenatal em gestante em trabalho de parto prematuro. A utilização de ventilação assistida, reposição de surfactante exógeno, medidas gerais de controle térmico, metabólico, hídrico e ainda a importância de um suporte nutricional agressivo e precoce são fundamentais para o sucesso do tratamento desses bebês. Reanimação adequada evitando minimizar a lesão pulmonar Utilização do ventilador mecânico manual com peça T, possibilita o uso da pressão positiva final, facilitando a manutenção das unidades alveolares e recrutamento adequado de áreas colapsadas. Permite também a utilização da pressão positiva continua (CPAP) desde o nascimento até a transferência para UTI neonatal. Admissão na UTI neonatal e aquecimento mantendo o bebê na zona térmica neutra • Pré-aquecer a sala de parto e mantê-la entre 23 e 26 C • Levar o bebê envolto em pano aquecido à mesa de reanimação já previamente aquecida • Não secar o bebê e envolvê-lo em saco plástico transparente (exceto a cabeça). Retirado após estabilização. • Utilizar touca dupla para reduzir a perda de calor na região da fontanela (cobrir o couro cabeludo com plástico e colocar a touca de ;ã ou algodão) Suporte respiratório CPAP nasal Ventilação não invasiva (VNI) e CPAP são a primeira escolha para assistência respiratória. O CPAP precoce fornece aumento da capacidade residual funcional e promoção do crescimento pulmonar do RNPT. Melhora a complacência pulmonar, reduz a resistência das vias aéreas, aumentando seu diâmetro e mantendo-as abertas, diminui a frequência respiratória, melhora a aposição do diafragma e sua contratilidade e ajuda a conservar o surfactante exógeno. Objetiva-se manter uma PaO2 entre 50 e 70 mmHg e, se necessário, aumentar gradualmente até cerca de 80% e do CPAP até, no máximo, 10cmH2O. Em casos graves a ventilação mecânica deve ser indicada. Ventilação mecânica • Entubação traqueal adequada • Pressão positiva expiratória final (PEEP) – iniciar com 4 a 6 cmH2O • Pressão inspiratória (PIP) – mínima necessária para que haja boa expansão torácica (15 a 25 cmH2O), ajustar conforme evolução • Tempo inspiratório (TI) – o menor possível (0,4 a 0,5s), pois TI muito prolongados estão associadas com maior número de lesões de escape (pneumotórax); • FiO2 – a necessária para manter oxigenação adequada • Frequência respiratória (IMV) – entre 30 e 60 Surfactante exógeno O intervalo mínimo entre as doses deve ser de 6 horas e os pacientes que permanecem entubados com padrão radiológico de pouca melhora e com dificuldade de diminuir os parâmetros do respirador, são os candidatos à medicação. A dose inicial caria de 100 a 200mg/kg e uma dose adicional de 100 deve ser feita se após 6 horas continuar em VM com FiO2 acima de 0,3. 1. Manter o RN em decúbito dorsal 2. Aumentar pressão em 1 a 2 cmH2O no respirador, 5 minutos antes da aplicação, ou utilizar ventilador manual com 1 a 2 cmH2O acima da pressão utilizada previamente 3. Desconectar do TOT 4. Aplicar no terço médio da traqueia, em bolo (em 10 a 20o) em 1 a 2 alíquotas com intervalo de 30 a 60” entre elas 5. Ventilar com frequência de 60 ipm e pressão suficiente para empurrar para dentro das vias aéreas 6. Tentar não aspirar o TOT nas 2 horas seguintes, a menos que tenha sinais de obstrução das vias aéreas TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉM NASCIDO (TTRN) INCIDÊNCIA É uma condição comum, benigna e autolimitada que ocorre em cerca de 1 a 2% de todos os nascimentos, com resolução clínica de 3 a 5 dias. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA Três fatores são associados para a causa: deficiência leve de surfactante, pequenograu de imaturidade pulmonar e retardo na absorção de líquido pulmonar fetal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO Taquipneia logo após o nascimento, com frequência respiratória que pode chegar a 100 a 120 movimentos por minuto, gemência, batimentos de asas de nariz, tiragem intercostal e aumento do diâmetro anteroposterior do tórax. Alterações gasométricas são raras, podendo ter hipoxemia em ar ambiente, hipercapnia e acidose respiratória nas primeiras horas. O quadro radiológico mostra hiperinsuflação pulmonar, infiltrado difuso geralmente do hilo para a periferia, leve a moderado aumento de área cardíaca, presença de líquido nas fissuras interlobares (cisuríte), marcas proeminentes da casculatura pulmonar, inversão da cúpula diafragmnática, herniação intercostal e derrame pleural. TRATAMENTO Medidas de suporte geral e oxigenoterapia através de capacete ou CPAP nasal. A necessidade de VM é rara nessa doença. SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO MECONIAL INCIDÊNCIA É mais comum em RN a termo e pós-termo. Pode variar de formas leves até quadros de insuficiência respiratória grave, com hipertensão pulmonar persistente (HPP). A incidência de mecônio no líquido amniótico varia de 5 até 25% de todas as gestações, podendo ocorrer em aproximadamente 30% das gestações com mais de 42 semanas. No entanto, apenas 5 a 10% desenvolvem SAM. Entre 30 e 50% necessitam de VM. Aproximadamente 30% desenvolvem HPP e 15 a 33% apresentam escape de ar (pneumotórax). A mortalidade fica em torno de 5%. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A aspiração pode ocorrer intraútero ou, na maioria dos casos, durante os primeiros movimentos respiratórios. O meconio pode levar alterações obstrutivas e inflamatórias. As vias aéreas completamente obstruídas evoluem para atelectasia, alterando a relação ventilação- perfusão (V/Q), e provocando hipóxia, com posterior hipercapnia e acidose. Nas obstruídas parcialmente, leva a áreas hiperinsufladas, facilitando o escape de ar (o ar entra na via mas tem dificuldade de sair). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO Quadro de desconforto respiratório precoce, de intensidade variável. Predomina a depressão respiratória e neurológica pelo insulto hipóxico- isquêmico. O tórax pode apresentar aumento do seu diâmetro anteroposterior decorrente da hiperinsuflação pulmonar. O mecônio pode também alterar a função do surfactante existente nos alvéolos, provocando mais atelectasia e redução da complacência pulmonar. O exame radiológico mostra opacidades irregulares, áreas de atelectasia, áreas hiperinsufladas, retificação do diafragma e aumento do diâmetro anteroposterior. Pode ter pneumotórax, pneumomediastino e cardiomegalia. A gasometria mostra hipoxemia e acidose respiratória ou mista. O ecocardiograma pode mostrar disfunção miocárdica e sinais de hipertensão pulmonar. TRATAMENTO Na sala de parto A aspiração de rotina não é recomendada, não reduz incidência de SAM e pode ter iatrogenia. 1. Papel do obstetra: aspiração das vias aéreas feita pelo obstetra não ;e mais indicada 2. Papel do pediatra: avaliar a vitalidade do RN - Chorando ou respirando, tônus em flexão, FC > 100 bpm? - Casos de respiração irregular/ausente pu hipotonia e/ou FC < 100bpm? - Colocar em calor radiante, sob visualização direta da laringoscopia: aspirar boca e hipofaringe com sonda traqueal número 10 e aspirar traqueia com cânula endotraqueal. Na unidade neonatal Manter temperatura corporal e pressão arterial adequada, correção de anemia, hidratação venosa e controle glicêmico são fundamentais para sucesso do suporte ventilatório. Crianças necessitando de Fio2 de até 50% tem boa resposta com o capacete. Aquelas com necessidade de 60% ou quadro moderado de esforço podem se beneficiar do CPAP nasal, com cautela para o risco de hiperinsuflação. Nos casos de insuficiência respiratória grave o uso de CPAP deve ser mantido e a VM deve ser indicada. É recomendado que se inicie a antibioticoterapia para crianças que nascem banhadas em mecônio e evoluem para desconforto respiratório e radiografia muito alterada. PNEUMONIA ETIOLOGIA Pneumonia bacteriana congênita 1. Transmissão vertical transplacentária mãe-feto 2. Infecção ascendente do trato genital – valorizar rotura de membranas por mais de 18 horas, não esquecendo que pode existir ascensão bacteriana para o feto mesmo com a membrana amniótica íntegra e também que a colonização bacteriana quase sempre ocorre no momento do trabalho de parto vaginal. 3. Gasping durante o nascimento, resultante de processo asfíxico, pode predispor a aspiração de líquido amniótico contaminado. Pneumonia adquirida Após a admissão na UTI, a taxa de infecção é influenciada de acordo com cada assistência em saúde de cada unidade neonatal. Estreptococo do grupo B 1. É o patógeno mais importante 2. Adquirido através do trato genital durante o trabalho de parto 3. Os prematuros representam cerca de 1/3 dos bebês que apresentam bacteremia pelo estreptococo do grupo B 4. Outras bactérias: Escheriria coli, Klebsiella, Listeria, Ureaplasma e pneumococos 5. Infecções tardias (mais que 7 dias): considerar pneumonia por Staphylococcus 6. Pseudomonas e fungos 7. Pneumonias virais não são frequentes no período neonatal, com exceção de surtos epidêmicos de vírus sincicial respiratório ou adenovírus, e em casos de TORCH TRATAMENTO • Iniciar antibioticoterapia com ampicilina associada a um aminoglicosídeo nos casos de inicio precoce (72 horas) e esquema adequada a cada unidade neonatal em casos de inicio tardio • Suporte hídrico e nutricional • Suporte ventilatório • Drenagens de efusões, se necessário HIPERTENSÃO PULMONAR PERSISTENTE INCIDÊNCIA Incide em 0,4 a 6 de cada 1000 nascidos vivos, sendo mais comum em RN a termo, pré-termo tardio e pós-termo. Muitas vezes é refratária ao tratamento e associada a uma mortalidade que varia de 4 a 33%. Recém nascidos de parto cesariano correm um risco cinco vezes maior de desenvolver HPPRN. A corioamnioite aumenta em três vezes o risco. A exposição in utero à aspirina aumenta o risco em cinco vezes, e a exposição a anti-inflamatórios não hormonais aumenta em seis vezes. ETIOLOGIA Geralmente a HPPRN é decorrente de uma desordem do processo de transição circulatória da vida fetal para neonatal caracterizada por manutenção da RVP elevada, em geral associada a resistência vascular sistêmica (RVS) normal ou diminuída. Isso leva a shunt extrapulmonar da direita para esquerda através do canal arterial e forame oval, ocasionando hipoxemia. Pode ser secundária a doenças do parênquima pulmonar (SAM, SDR, pneumonia), desenvolvimento alterado da vascularização pulmonar, hipoplasia pulmonar ou obstrução vascular por policitemia com hiperviscosidade. O melhor estimulo para promover a vasodilatação pulmonar é a ventilação e o aumento da concentração alveolar de O2. FISIOPATOLOGIA Existem 2 formas de HPPRN, uma funcional, em que o aumento da RVP é decorrente somente da vasoconstrição arteriolar pulmonar, e outra orgânica, em que a vasoconstrição é causada por alterações estruturais do leito vascular. Na forma funcional idiopática, é o resultado de fatores constitucionais e genéticos que aumentam a sensibilidade das arteríolas a estimulos vasoconstritores ou dificultam a ação vasodilatadora do ON endógeno. Na forma funcional secundária, a maior parte dos casos está associada à asfixia e sepse, tanto pela ação vasoconstritora direta da hipóxia e acidose,quanto pela liberação de substâncias vasoativas. Na forma orgânica temos a hipertrofia da parede muscular arteriolar pulmonar idiopática ou secundária a eventos durante a gravidez, como a hipóxia crônica acentuada, o fechamento intraútero do canal arterial por uso de medicamentos na gestante e o uso de antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina. Outro tipo da forma orgânica é o baixo desenvolvimento do leito vascular pulmonar, associada à hérnia diafragmática congênita. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO Uma diferença da PaO2 ou oximetria avaliadas no pré-ductal (membro superior direito) e pós-ductal (membro inferior) é altamente sugestiva de HPPRN. Um gradiente maior que 20 mmHg na PaO2, ou maior que 5 a 10% na oximetria sugere um shunt direito-esquerdo, responsável pela hipóxia nas crianças com HPPRN. Sempre que houver uma hipoxemia desproporcional à gravidade da doença, deve-se considerar o diagnóstico de HPPRN. Os sintomas aparecem dentro das primeiras horas de vida. As crianças costumam ser extremamente lábeis a qualquer tipo de manuseio. Podem-se observar alterações cardíacas secundárias a isquemia, com disfunção do músculo papilar, regurgitação da mitral e tricúspide, e até mesmo choque cardiogênico, levando a diminuição do fluxo sanguíneo pulmonar, da perfusão tecidual e da oferta de o2. A ecocardiografia com Doppler é o padrão ouro para diagnóstico e para afastar a possibilidade de cardiopatia congênita. TRATAMENTO Suporte nutricional adequado, redução de ruídos e luminosidade, correção de sistúrbios metabólicos, manutenção da normotermia, mínimo manuseio de analgesia e sedação, se necessário, são a base do tratamento inicial. Hiperventilação e infusão de bicarbonato de sódio devem ser evitados (risco de efeitos adversos na perfusão cerebral e risco aumentado de surdez sensorioneural). Deve-se considerar o uso de ON inalado (iNO) para os Rns com maus de 34 semanas de idade gestacional e diagnóstico de HPPRN que persistem com hipoxemia após medidas gerais, suporte hemodinâmico e ventilação adequados. A dose inicial recomendada é de 20 ppm. A expectativa é de melhora de 20% em 30 a 60 minutos, O desmame deve ser iniciado quando a Pao2 estiver maior ou igual a 60 mmHg com uma FiO2 menor que 60%. Se o ON não melhorar a hipoxemia e a pressão arterial estiver estável, pode-se considerar o uso de inibidores da fosfodiesterase5. Se a pressão arterial está normal mas existem evidências de disfunção ventricular, a milrirona pode ser a droga de escolha. Em presença de hipotensão sistêmica mas com função cardíaca preservada, uma ou duas etapas expansoras em bolo (10ml/kg de Ringer lactato ou soro fisiológico), seguidas de infusão de dopamina, norepinefrina ou vasopressina estão recomendadas.
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