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As desigualdades na sociedade contemporaneas_c44f0d38de2cc638bf71973c7d3ea8db

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98
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11
As desigualdades sociais, vale reiterar, existem desde a Antiguidade e se 
expressam de muitas formas. Elas continuam em ascensão no mundo atual, 
apesar de todas as transformações existentes e do massivo desenvolvimento 
técnico‑científico em todas as áreas do conhecimento. 
Ao analisar as desigualdades na sociedade contemporânea globalizada, 
o sociólogo sueco Göran Therborn (1941‑) dá ênfase à pluralidade de desi-
gualdades, identificando três grandes conjuntos: as desigualdades vitais, 
as existenciais e as de recursos.
Desigualdades vitais
As desigualdades vitais são aquelas que se referem diretamente à vida e à 
morte. A expectativa de vida ao nascer, a taxa de mortalidade infantil, a desnu‑
trição crônica, a provisão de recursos do Estado na área da saúde e o acesso 
a eles são alguns dos indicadores mais utilizados para comparar e analisar a 
extensão das desigualdades.
Para examinar apenas um deles, a desnutrição crônica, mais conhecida como 
fome, basta considerar a existência de indivíduos que não têm o que comer 
como aberração inaceitável, já que comprovadamente existem alimentos sufi‑
cientes no mundo para satisfazer as necessidades de toda a humanidade. Hoje, 
considerando a produção de alimentos pelo mundo, 12 bilhões de pessoas 
poderiam ser alimentadas diariamente, de acordo com estudo da Organização 
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Não há, portanto, 
escassez de alimentos. A fome só 
existe porque o acesso aos alimen‑
tos é desigual.
Mesmo com os avanços na pro‑
dução de alimentos, a fome segue 
sendo uma triste realidade. Na dé‑
cada de 1950, 60 milhões de indiví‑
duos passavam fome; atualmente, 
há em torno de 800 milhões de 
famélicos em todo o mundo, boa 
parte composta de crianças.
as desigualdades 
nas sociedades 
contemporâneas
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A Somália tem feito progressos em direção 
à segurança alimentar, mas a situação 
ainda é crítica, segundo a Organização 
das Nações Unidas para Agricultura e 
Alimentação (FAO). Mogadício, 2012.
098a102_U3_C11_SOCIOVU_PNLD2018.indd 98 5/16/16 5:52 PM
99Capítulo 11 | As desigualdades nas sociedades contemporâneas
Os dados a seguir apontam em que região estão e quantos são aqueles que 
passam fome no mundo de hoje.
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O tamanho dos 
gráficos é proporcional 
ao número total 
de pessoas 
subalimentadas em 
cada período. Os 
dados relativos a 2014‑ 
‑16 são estimativas. 
Todas as cifras foram 
arredondadas.
Fonte: El estado 
de la inseguridad 
alimentaria en el 
mundo. Organização 
das Nações Unidas 
para Agricultura e 
Alimentação (FAO). 
Disponível em: <http://
www.fao.org/3/ 
a‑i4646s.pdf>. Acesso 
em: 28 abr. 2016.
Jean Ziegler, sociólogo suíço, ex‑relator especial para o Direito à Alimentação 
das Nações Unidas (ONU), aponta algumas causas da fome nos dias de hoje:
• concentração da produção alimentícia. Cerca de 85% dos alimentos – princi‑
palmente trigo, soja e milho – negociados no mundo são controlados por dez 
empresas. Essa condição permite a essas empresas decidirem os preços dos 
alimentos direta ou indiretamente. Qualquer elevação de preço já é suficiente 
para dificultar o acesso aos alimentos. É o mesmo que acontece com os remédios, 
outro item essencial ao bem‑estar e à sobrevivência do gênero humano;
• utilização desmedida de terras aptas a produzir alimentos destinadas ao 
plantio de milho e cana‑de‑açúcar voltados à fabricação de outros produtos, 
caso do álcool que abastece bombas de postos de combustíveis em todo 
o mundo. Nesses casos, torna‑se evidente e irrefutável a ação de desprezo 
por parte dos interesses mercantis em prover alimentos para todos os seres 
humanos. Além do que, monoculturas prejudicam o meio ambiente e agridem 
de modo irreversível o planeta;
• produção voltada para a alimentação de animais. A maior parte da produção 
de soja destina‑se à alimentação de animais que serão abatidos e vendidos 
em açougues cujos altos preços constituem um impedimento intransponível 
aos mais pobres;
• reduzido número de proprietários responsáveis pela produção de alimentos. 
Essa situação condiciona ainda mais a produção de alimentos às políticas de 
exportação, o que é muito positivo para a economia de um país, mas não 
contribui para alimentar os que passam fome. A posse da terra – suavizada 
por uma expressão muito em voga atualmente, agronegócio – é hoje muito 
mais do que uma questão econômica ou item relacionado ao direito fundiário. 
A posse da terra é um instrumento político de dominação e um reforço das 
desigualdades e da fome.
Desigualdades existenciais
As desigualdades existenciais se referem aos casos de restrições à liberdade, 
dificuldades de acesso a direitos, obstáculos ao reconhecimento da cidadania 
de indivíduos e coletividades, ou seja, naquilo que se esforça por manter e 
*Inclui dados do Sudão que 
não estão na cifra da África 
Subsaariana.
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100 Unidade 3 | Desigualdades e vida social
disseminar discriminações, estigmatizações e processos sociais humilhantes. 
Essas desigualdades decorrem de muitas situações inerentes à vida social da 
atualidade, como as novas variantes da escravidão (em casa, no trabalho, nos 
latifúndios, no interior de instituições como presídios, quartéis e hospícios), o 
preconceito étnico‑racial, a discriminação contra mulheres e as inúmeras moda‑
lidades de violência dirigidas às populações LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, 
Travestis, Transexuais e Transgêneros), os sistemas políticos que dificultam a 
participação efetiva dos indivíduos e das coletividades nos processos decisórios, 
a absoluta concentração dos meios de comunicação social nas mãos de poucos 
e poderosos grupos econômicos e empresariais etc.
Desigualdades de recursos
As desigualdades de recursos expõem os desníveis abissais de rendimentos e de 
riqueza, de escolaridade e de qualificação profissional, de capacidade cognitiva, de 
posição hierárquica nas organizações e de acesso às tecnologias de informação e ao 
conhecimento. Esse tipo de desigualdade pode ser analisada com base no trabalho 
de Pierre Bourdieu (1930‑2002). Segundo o sociólogo francês, as desigualdades de 
recursos tornam‑se visíveis na distribuição desigual de capitais (econômicos, cul‑
turais, sociais, simbólicos e políticos) e na estruturação do espaço público e social.
Ao examinar as desigualdades de renda e de apropriação da riqueza, a ONG 
britânica OXFAM (Oxford Committee for Famine Relief – Comitê de Oxford 
de Combate à Fome), em estudo sobre os dados globais de 2014, constata 
que apenas 80 indivíduos detêm riqueza equivalente à riqueza de metade da 
população mundial, 3,5 bilhões de pessoas.
Os dados, ainda com base no mesmo estudo de 2014, mostram também queda 
no número de bilionários, o que realça o aumento da desigualdade, já que em 2009 
havia 388 bilionários no mundo e, em 2013, 85. Os números evidenciam a concentra‑
ção de riqueza cada vez maior e provam que o grupo que representa a minoria, 1% 
mais rico da população mundial, está cada vez mais próximo de controlar a maior 
parte da riqueza global. Em 2009, o grupo dos mais ricos acumulava 44% da riqueza 
mundial; em 2014, 48%. Em 2016 a participação dos mais ricos ultrapassou os 50%.
Conforme a OXFAM, a crescente desigualdade está restringindo a luta contra a 
pobreza global que, apesar de fazer parte da agenda mundial de discussões, vem 
aumentando. Confirmam esse fato os cálculos da organização que, considerando 
dados da União Europeia, formada por países em 
sua maioria desenvolvidos, mostram que em 2011 o 
número de pessoas pobres já alcançava 120 milhões. 
A estimativa, caso o ritmo de progressão das desi‑
gualdades se mantenha, é que o número de pobres 
chegue a 145 milhões em 2025.
Tudo isso decorre da deficiência das políticas 
públicas de emprego, salários, proteção social e 
serviços universaisde educação e saúde qualitati‑
vos, mas também é resultado de uma política fiscal 
que não favorece uma distribuição mais igualitária 
da renda, taxando excessivamente assalariados e 
pequenos investidores e permitindo que grandes 
afortunados e megaconglomerados de capital sejam 
isentos de pagar impostos proporcionais ao volume 
concentrado de sua riqueza e de seu poder.
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Trabalhadora em meio 
ao lixo, selecionando 
garrafas plásticas. 
Estima‑se que a 
maioria das pessoas 
que vive nas aldeias 
de Bangladesh estão 
abaixo da linha da 
pobreza. As mulheres 
são maioria nesse 
ambiente de trabalho 
tão insalubre. 2004.
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101Capítulo 11 | As desigualdades nas sociedades contemporâneas
Houve um tempo em que as desigualdades apareceram 
mais claramente na maioria dos países da Ásia, da África e 
da América Latina, reconhecidamente mais pobres. Hoje, 
porém, as desigualdades manifestam‑se também em países 
ricos, como nos Estados Unidos da América, que são a 
sociedade mais rica do planeta, tanto em termos de pro‑
dução quanto de aquisição individual de renda. Isso traz à 
tona a desigualdade na apropriação da riqueza produzida 
e tem efeitos em todos os setores da atividade social.
Em 2014, 1% dos estadunidenses mais ricos controlava 
22% da renda do país. A décima parte desse grupo dos mais 
ricos, 0,1%, era responsável por 11% da renda nacional. E 95% 
de todos os lucros obtidos no setor financeiro desde 2009 
foram para o 1% mais rico. Estatísticas recentes demonstram 
que, considerando a inflação, o estadunidense típico ganha menos do que ganhava 
há 45 anos; os que terminaram o ensino médio, mas não completaram o ensino supe‑
rior, recebem quase 40% menos do que costumavam ganhar quatro décadas atrás.
Os dados cruzados com as dimensões expostas pelo sociólogo polonês 
Zygmunt Bauman (1925‑) geram uma série de outras questões como a mortalidade 
infantil, a elevação da criminalidade, o desemprego, as doenças de todos os tipos, 
o uso crescente de drogas ilegais, a insegurança generalizada, a ansiedade e a 
depressão, o preconceito indiscriminado e outras tantas questões de tal forma que 
as desigualdades acarretaram a corrosão das sociedades ao realizarem um movi‑
mento endossistêmico, isto é, a degradação da sociedade por ela mesma. Como 
se pode perceber, as desigualdades sociais contornam e caracterizam o mundo 
moderno. Suas consequências são abrasivas, uma vez que até aquelas sociedades 
que pareciam ter resolvido suas disparidades sociais mais agudas, como as chama‑
das democracias desenvolvidas europeias, voltam a sofrer dessa chaga, que, para 
além de toda conceituação, tem sido cada vez mais um elemento identitário das 
economias de mercado e das comunidades humanas divididas em classes sociais.
Moto-perpétuo da desigualdade
Para compreender o mecanismo do presente, uma mutação em curso [...], é preciso focalizar no 
1% mais rico, talvez mesmo no 0.1%. Deixar de fazê-lo significa perder o verdadeiro impacto da 
mudança, que consiste na degradação das “classes médias” à condição de “precariado”.
Essa sugestão é confirmada por todos os estudos, concentrem-se eles no país do próprio pesquisador 
ou venham de onde quer que seja. Além disso, por outro lado, todos os estudos ainda concordam 
sobre outro ponto: em quase toda parte do mundo a desigualdade cresce rapidamente, e isso significa 
que os ricos, em particular os muito ricos, ficam mais ricos, enquanto os pobres, em particular os 
muito pobres, ficam mais pobres – com toda certeza em termos relativos, mas, número crescente 
de casos, também em termos absolutos.
Além disso, pessoas que são ricas estão ficando mais ricas apenas porque já são ricas. Pessoas que 
são pobres estão ficando mais pobres apenas porque já são pobres. Hoje a desigualdade continua a 
aprofundar-se pela ação de sua própria lógica e de seu momentum. Ela não carece de nenhum auxílio ou 
estímulo a partir de fora – nenhum incentivo, pressão ou choque. A desigualdade social parece agora 
estar mais perto que nunca de se transformar no primeiro moto-perpétuo da história – o qual os seres 
humanos, depois de inúmeras tentativas fracassadas, afinal conseguiram inventar e pôr em movimento.
Bauman, Zygmunt. A riqueza de poucos beneficia todos nós? Rio de Janeiro, Zahar, 2015, p. 18‑19.
Baumannas palavras de
Je
w
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 S
am
ad
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Mulher sem‑teto em 
frente a loja na Quinta 
Avenida, em Nova 
York, EUA, 2015.
098a102_U3_C11_SOCIOVU_PNLD2018.indd 101 5/16/16 5:52 PM
102
cenário
A escola reproduz desigualdades sociais?
se explica, exclusivamente, por diferenças obje-
tivas (sobretudo econômicas) de oportunidade 
de acesso à escola.
Segundo Bourdieu, por mais que se democra-
tize o acesso ao ensino por meio da escola pú-
blica e gratuita, continuará existindo uma forte 
correlação entre as desigualdades sociais, sobre-
tudo culturais, e as desigualdades ou hierarquias 
internas ao sistema de ensino.
Essa correlação só pode ser explicada quando 
se considera que a escola dissimuladamente valo-
riza e exige dos alunos determinadas qualidades 
que são desigualmente distribuídas entre as clas-
ses sociais, notadamente, o capital cultural e cer-
ta naturalidade no trato com a cultura e o saber, 
que apenas aqueles que foram desde a infância 
socializados na cultura legítima podem ter.
Eis aqui uma concepção do papel da escola 
que é complexa, mas que não deixa de ser ino-
vadora para a sua época!
CavalCanti, José Carlos. A escola reproduz desigualdades 
sociais? Disponível em: <http://www.creativante.com.br/
download/A%20escola%20reproduz%20desigualdades 
%20sociais.pdf>. Acesso em: 22 out. 2015.
1. Observe com atenção seu espaço escolar: a sala de 
aula, os corredores, o pátio. Você percebe algum tipo 
de desigualdade nesse ambiente? Caso perceba, 
que tipo de desigualdade você nota?
2. Na escola, você percebe o mesmo tipo de desigual‑
dade vista nas ruas e na sociedade em geral, ou de 
outro tipo? Justifique.
3. Na sua opinião, a escola é um espaço em que todos 
são iguais?
das desigualdades nas 
sociedades contemporâneas
[...] Bourdieu observa que a autoridade peda-
gógica, ou seja, a legitimidade da instituição es-
colar e da ação pedagógica que nela se exerce, só 
pode ser garantida na medida em que o caráter 
arbitrário e socialmente imposto da cultura es-
colar é dissimulado. Ou seja, apesar de arbitrária 
e socialmente vinculada a uma classe, a cultura 
escolar precisaria, para ser legitimada, ser apre-
sentada como uma cultura neutra.
Neste sentido, a autoridade alcançada por uma 
ação pedagógica, ou melhor, a legitimidade con-
ferida a essa ação e aos conteúdos que ela trans-
mite seria proporcional à sua capacidade de se 
apresentar como não arbitrária e não vinculada 
a nenhuma classe social. Bourdieu chamou esse 
processo de imposição dissimulada de um arbi-
trário cultural de “violência simbólica”.
Uma vez reconhecida como legítima, e como 
portadora de um discurso não arbitrário e so-
cialmente neutro, a escola passa a poder exercer, 
segundo Bourdieu, livre de qualquer suspeita, 
suas funções de reprodução e legitimação das 
desigualdades sociais. Tratando formalmente 
de modo igual, em direitos e deveres, quem é 
diferente, a escola privilegiaria, dissimulada-
mente, quem, por sua bagagem familiar, já é 
privilegiado.
Deste modo, [...] há uma correlação entre as 
desigualdades sociais e escolares. As posições 
mais elevadas e prestigiadas dentro do sistema 
de ensino (definidas em termos de disciplinas, 
cursos, ramos do ensino, estabelecimentos) ten-
dem a ser ocupadas pelos indivíduos pertencen-
tes aos grupos socialmente dominantes. Para ele 
essa correlação nem é, obviamente, casual nem 
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