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2 PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SECRETARIA DE GESTÃO E ENSINO EM SEGURANÇA PÚBLICA DIRETORIA DE ENSINO E PESQUISA COORDENAÇÃO-GERAL DE ENSINO COORDENAÇÃO DE ENSINO A DISTÂNCIA CONTEUDISTA Marcelo Dullius Saturnino REVISÃO DE CONTEÚDO Leonardo Rozwalka Vieira REVISÃO PEDAGÓGICA Gizele Ferreira dos Santos Siste SETOR DE CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROGRAMAÇÃO E EDIÇÃO Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos DESIGNER Ozandia Castilho Martins Fagner Fernandes Douetts Renato Antunes dos Santos DESIGNER INSTRUCIONAL Anne Caroline Bogarin Manzolli Wagner Henrique Varela da Silva 3 Sumário Apresentação do Curso ............................................................................................... 7 Objetivos do Curso ...................................................................................................... 9 Estrutura do Curso .................................................................................................... 10 Módulo I - Legislação de Trânsito ............................................................................. 11 Apresentação do módulo ....................................................................................... 11 Objetivos do módulo .............................................................................................. 11 Estrutura do módulo .............................................................................................. 11 Aula 1 - Sobre o serviço de urgência ..................................................................... 12 1.1 Urgência x Emergência ................................................................................ 13 1.2 Veículos de emergência x Utilidade Pública ................................................ 13 1.3 Serviço de urgência...................................................................................... 14 1.4 Dispositivo de prerrogativas ......................................................................... 15 Aula 2 - Sobre as normas de circulação e conduta ............................................... 19 2.1 Começando do início: O que é “Trânsito”? ................................................... 19 2.2 Quais são os deveres básicos do condutor? ................................................ 20 2.3 Novas regras de circulação, estacionamento e parada ............................... 21 2.4 - E quanto ao uso desnecessário dos dispositivos de prerrogativa? ............ 25 2.5 - E quanto à prerrogativa de circulação? Posso fazer qualquer coisa?........ 26 2.6 - Sobre os crimes de trânsito ....................................................................... 28 Aula 3 - Sobre a devida habilitação ....................................................................... 30 3.1 Requisitos básicos para conduzir um veículo de emergência ...................... 30 3.2 Categoria de habilitação ............................................................................... 30 3.3 Porte do documento de habilitação .............................................................. 32 3.4 Comprovação do curso ................................................................................ 33 Finalizando ............................................................................................................ 36 Módulo II - Direção Defensiva ................................................................................... 37 4 Apresentação do módulo ....................................................................................... 37 Objetivos do módulo .............................................................................................. 38 Estrutura do módulo .............................................................................................. 38 Aula 1 - Segurança Viária: existe afinal? ............................................................... 39 1.1 Situação no Brasil ........................................................................................ 39 1.2 Frota de veículos .......................................................................................... 40 1.3 Situação no mundo ...................................................................................... 40 Aula 2 - Acidentes de Trânsito são sempre inevitáveis? ....................................... 41 2.1 Definindo acidente de trânsito ...................................................................... 42 2.2 Principais tipos de acidentes e como acontecem ......................................... 43 Aula 3 - Relembrando os conceitos de Direção Defensiva .................................... 50 3.1 Definição ...................................................................................................... 50 3.2 Erros que devem ser evitados no trânsito .................................................... 51 3.3 Elementos da Direção Defensiva ................................................................. 52 Aula 4 - Adaptando-se às condições adversas ...................................................... 55 4.1 Condições adversas de luz .......................................................................... 55 4.2 Condições adversas de clima ...................................................................... 56 4.3 Condições adversas da via .......................................................................... 58 4.4 Condições adversas de trânsito ................................................................... 60 4.5 Condições Adversas de Veículo .................................................................. 61 4.6 Condições adversas do condutor ................................................................. 62 Aula 5 - O condutor: a peça-chave ........................................................................ 63 5.1 As condições adversas do condutor............................................................. 63 5.2 O uso de álcool e outras drogas .................................................................. 64 5.3 O estado físico e mental ............................................................................... 65 5.4 O comprometimento da atenção .................................................................. 66 Finalizando ............................................................................................................ 70 5 Módulo III - Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social ........................................................................................................................ 71 Apresentação do módulo ....................................................................................... 71 Bons estudos!! ........................................................................................................ 71 Objetivos do módulo .............................................................................................. 71 Estrutura do módulo .............................................................................................. 71 Aula 1 - Local do acidente: primeiras providências ................................................ 73 1.1 Sinalização ................................................................................................... 73 1.2 Gerenciamento de riscos ............................................................................. 76 1.3 Acionamento de recursos especializados .................................................... 77 Aula 2 - Abordagem à vítima ................................................................................. 79 2.1 O que são Primeiros Socorros? ................................................................... 79 2.2 Avaliação primária da vítima ........................................................................80 2.3 O uso de EPI ................................................................................................ 82 2.4 O que não fazer durante um atendimento .................................................... 83 Aula 3 - Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social ......................................... 84 3.1 Legislação e normas .................................................................................... 85 3.2 Ações para contribuir com a redução da poluição ....................................... 86 3.3 O que mais você pode fazer pelo planeta? .................................................. 87 3.4 Você e sua relação com o outro ................................................................... 89 Finalizando ............................................................................................................ 91 Módulo IV - Relacionamento Interpessoal ................................................................. 92 Apresentação do módulo ....................................................................................... 92 Objetivos do módulo .............................................................................................. 92 Estrutura do módulo .............................................................................................. 93 Aula 1 - Comportamento e Segurança .................................................................. 94 1.1 Comportamento preventivo versus comportamento de risco ....................... 94 6 1.2 Equilíbrio emocional ..................................................................................... 95 1.3 Segurança .................................................................................................... 96 1.4 Agressividade e fatores relacionados ........................................................... 96 Aula 2 - Solidariedade e Regras de Convivência ................................................... 98 2.1 A convivência ............................................................................................... 98 2.2 Por que conviver? ........................................................................................ 99 Aula 3 - A Responsabilidade e a Tolerância ........................................................ 102 3.1 A responsabilidade do servidor público ...................................................... 102 3.2 Tolerância .................................................................................................. 102 Aula 4 - Respeito às Normas de Trânsito e à Fiscalização ................................. 105 4.1 Respeito aos outros ................................................................................... 105 4.2 Respeito às normas de trânsito .................................................................. 107 4.3 Papel dos Agentes da Autoridade de Trânsito ........................................... 107 Aula 5 - Atendimento aos Usuários ..................................................................... 110 5.1 Pontos importantes da relação com os usuários ........................................ 110 5.2 Expectativas dos usuários .......................................................................... 111 5.3 Atendimento X Tipos de usuários .............................................................. 112 Finalizando .......................................................................................................... 114 Referências Bibliográficas ....................................................................................... 115 7 Apresentação do Curso Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo ao Curso de Atualização para Condutores de Veículos de Emergência (ACVE). A capacitação tem carga-horária de 16 h/a e será desenvolvida em quatro módulos, estruturados em uma metodologia de estudo autônoma e alinhada à experiência do profissional que compõe o Sistema Único de Segurança Pública (Susp). O curso é voltado para a atualização dos profissionais que conduzem veículos de emergência e que tenham frequentado o curso de CONDUTORES DE VEÍCULOS DE EMERGÊNCIA (CVE). Como você deve saber, a capacitação é uma exigência prevista no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) para todos aqueles que conduzem esse tipo especial de veículo, mas você já se perguntou por que dessa obrigação? Saiba que não se trata de mera formalidade, é uma estratégia, na verdade, que busca reduzir a violência e as fatalidades registradas no trânsito. Assim, a lei considera essencial preparar o condutor para o adequado exercício da atividade profissional. O treinamento e a constante capacitação dos agentes por meio de cursos de atualização são importantes medidas de segurança para si e terceiros. O transporte de viaturas, ambulâncias ou unidades de resgate, por exemplo, são atividades especializadas, isto é, possuem prerrogativas que outros veículos não detêm. As excepcionalidades, portanto, demandaram tratamento especial pelo legislador. Haja vista a natureza emergencial dos serviços prestados por determinados profissionais, o atendimento ao cidadão deverá se dar num curto espaço de tempo. A 8 demora em responder alguns pedidos de ajuda pode significar a diferença entre a vida e a morte de alguém. O CTB, ciente dessa necessidade, conferiu algumas prerrogativas para trânsito e circulação desses veículos. No atendimento de emergências, o legislador definiu que algumas normas não são aplicáveis aos seus condutores. Trata-se, portanto, de uma previsão que deve obedecer à condicionalidades que devem ser analisadas pelo condutor, quase sempre em situações de estresse, sob forte emoção. Determinar a velocidade, a escolha da faixa, a mudança na direção ou a parada repentina de um veículo de emergência deve ocorrer, na maioria das vezes, em frações de segundos. Trata-se de decisão técnica que requer perícia e treinamento do condutor, sempre em busca da segurança pessoal e de terceiros. Você deve ter percebido a essa altura que a condução desses veículos envolve grandes responsabilidades e a atividade, portanto, exige a aprovação em curso especializado. A característica principal da especialização é a qualificação prévia para seu exercício. Atualmente, o Brasil sofre com um tipo de violência diferente daquela abordada nas páginas policiais dos jornais, uma violência distinta daquela comumente combatida na segurança pública. Trata-se da violência no trânsito. Acidentes no trânsito são a terceira causa de morte no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardíacas e câncer. Com base nessas estatísticas, a Organização Mundial da Saúde lançou a década contra a violência no trânsito, ações que visam ao esclarecimento e orientação da população para tentar reverter os números, que aumentam ano a ano. O número de mortes decorrentes da violência pública no Brasil praticamente se iguala àquelas registradas nos acidentes de trânsito, conforme levantamento feito pelo Observatório Nacional de Segurança Viária. 9 Como vimos acima, diariamente, um número imenso de pessoas são vítimas dos acidentes de trânsito, que trazem prejuízos sociais, culturais, materiais e financeiros. Grande parte dessas pessoas morrem ou ficam com sequelas pelo resto da vida, alterando o curso de famílias inteiras. Muitas dessas vítimas sequer cometeram algum erro, apenas estavam no lugar errado e na hora errada, sofrendo as consequências da imprudência, negligência ou imperícia de outras pessoas, que acabaram provocando ou possibilitando um acidente. Levando isso em consideração, pode-se afirmar que o condutor de veículos de emergência também tem que ser ESPECIAL. E se não for, precisa fazer o máximo para caminhar nessa direção. Esse curso de atualização é um dos passos para chegar lá, desde que feito com dedicação e seriedade, como se espera de qualquer profissionalque serve a coletividade. Logo, empenhe-se nos estudos. Escolha um lugar tranquilo, afaste-se das redes sociais, leia o conteúdo com atenção, navegue nos links indicados, realize os exercícios e reflita sobre as possibilidades de aplicação daquilo que você relembrará ou aprenderá nas próximas páginas. Tenha um excelente curso!!! Objetivos do Curso Este curso de atualização criará condições para que você possa atualizar-se sobre: A legislação e as normas relacionadas aos veículos de emergência, assim como a correta utilização dos dispositivos de prerrogativa; Os fundamentos da Direção Defensiva, de forma a minimizar a chance de envolvimento em acidentes típicos dos serviços de urgência; Os principais cuidados no dimensionamento de uma cena de acidente, incluindo a sinalização, análise dos riscos e os Primeiros Socorros às vítimas; 10 Os principais aspectos relacionados à convivência em sociedade e respeito ao meio ambiente; e A importância de ser solidário no trânsito, respeitando as diferenças e sendo tolerante com as falhas que todos têm. Estrutura do Curso Este curso compreende os seguintes módulos: Módulo 1 - Legislação de Trânsito. Módulo 2 - Direção Defensiva. Módulo 3 - Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social. Módulo 4 - Relacionamento Interpessoal. Ouça o ÁUDIO 1 11 Módulo I - Legislação de Trânsito Apresentação do módulo Neste módulo, você relembrará as normas relacionadas à condução de veículos de emergência, além de conhecer as mudanças trazidas pela Lei 14.071/20, que alterou a Lei 9.503/97 (Código de Trânsito Brasileiro - CTB), promovendo algumas alterações relativas às regras de circulação, estacionamento e parada específicos para os serviços de urgência. Irá relembrar também aspectos relacionados à documentação necessária para condutor e veículo, já dentro da era da digitalização do CRLV e da CNH e ainda sobre infrações que guardam relação com a condução de veículos de emergência. Objetivos do módulo Este módulo criará condições para que você possa atualizar-se sobre: A legislação e as normas que tratam dos veículos de emergência; A correta utilização dos dispositivos de prerrogativa, buscando inferir como a condução de um veículo de emergência afeta os demais usuários das vias públicas; e As irregularidades mais comuns com os respectivos tipos infracionais e criminais previstos pelo CTB. Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - Sobre o serviço de urgência Aula 2 - Sobre as normas de circulação e conduta Aula 3 - Sobre a habilitação Ouça o ÁUDIO2 12 Aula 1 - Sobre o serviço de urgência O que você acha? Urgência e Emergência são a mesma coisa? Qual a diferença das luzes intermitentes de cor vermelha, azul e âmbar? Qualquer veículo pode usar uma sirene? Parecem perguntas simples. Porém, muitos profissionais ainda guardam dúvidas sobre essas questões. Nesta aula você vai esclarecer estes e outros pontos importantes para o trabalho do condutor de veículos de emergência. Figura 1: Veículo de emergência e deslocamento Fonte: SCD/EaD/Segen. 13 1.1 Urgência x Emergência Para a legislação de trânsito, não há muita diferença entre os termos “urgência” e “emergência”, que são utilizados indistintamente no CTB e Resoluções complementares do CONTRAN. Porém, para efeito das atividades relacionadas aos serviços de socorro e salvamento propriamente ditos, infere-se da Portaria nº 354/10 do Ministério da Saúde as seguintes características: Figura 2: Urgência X Emergência Fonte: Portaria nº 354/10 do Ministério da Saúde; SCD/EaD/Segen. 1.2 Veículos de emergência x Utilidade Pública Vários tipos de veículos, conforme o serviço a que foram destinados, podem fazer uso de dispositivos de sinalização rotativos ou intermitentes e/ou dispositivos de alarme sonoro. Inicialmente, você irá relembrar as diferenças entre eles. O art. 29 do CTB os divide em dois grupos, cujos detalhes foram regulamentados pela Resolução Contran nº 268/08, e suas alterações posteriores. Veja um resumo de cada um no quadro a seguir: 14 Figura 3: Diferenças entre os veículos de emergência e de utilidade pública Fonte: acervo do conteudista. Após relembrar essas diferenças básicas, você concentrará os estudos apenas nos veículos de emergência em serviços de urgência e outros tipos de atendimento, definidos pelo CTB. 1.3 Serviço de urgência Não há no CTB uma definição exata do que seria um serviço de urgência. Porém, a Resolução Contran nº 268/08 diz que “entende-se por prestação de serviço de urgência os deslocamentos realizados pelos veículos de emergência, em circunstâncias que necessitem de brevidade para o atendimento, sem a qual haverá grande prejuízo à incolumidade pública”. 15 Ou seja, para ser considerado “de urgência” e gozar de todas as prerrogativas, o serviço precisa possuir os seguintes requisitos básicos, os quais você estudará melhor mais adiante: Figura 4: Requisitos mínimos para um serviço de urgência Fonte: do conteudista; SCD;EaD/Segen. 1.4 Dispositivo de prerrogativas Paulus (2016) chama o conjunto formado pelo dispositivo luminoso intermitente ou rotativo vermelho e/ou azul e os dispositivos de alarmes sonoros de “dispositivos de prerrogativas”, que é a denominação que você utilizará daqui para frente. Figura 5: Reflexão Fonte: SCD/EaD/Segen. E para gozar dessas prerrogativas, os veículos de emergência devem satisfazer as seguintes condições: 16 Figura 6: Condições para usufruto das prerrogativas no trânsito Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. E qual a utilidade de tais dispositivos? Servem justamente para garantir que o maior número de pessoas possíveis, percebam que está ocorrendo um deslocamento de urgência, ou então um atendimento de ocorrência sobre a via pública, com circunstâncias diferenciadas e que exijam um reforço na atenção dos pedestres, condutores e demais usuários da via. Figura 7: Complementaridade dos dispositivos de prerrogativas Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 17 Para isso, tanto os sinais luminosos, quanto os sinais sonoros, possuem um padrão que é familiar para a grande maioria das pessoas. Assista o vídeo: Dificuldades durante o deslocamento de veículos de emergência. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=bemIJoQ6qRM Figura 8: Reflexão Fonte: SCD/EaD/Segen. Bem, essa foi uma novidade trazida pela Resolução nº 667/17, assim como o uso de luzes estroboscópicas, que servem de reforço especialmente em imobilizações em locais de risco para acidentes, onde é desejável a maior visibilidade possível. O artigo 2º, parágrafo 1º da Resolução nº 667/17 traz a seguinte redação: § 1º As lanternas especiais de emergência que emitem luz de cor azul, conforme Anexo XVI, poderão ser utilizadas exclusivamente em veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de 18 trânsito e as ambulâncias, quando em efetiva prestação do serviço de urgência e devidamente identificados Essa competência de regulamentação dos dispositivos de prerrogativa por parte do Contran foi mais uma das novidades trazidas pela Lei 14.071/20. Saiba mais: Conforme um artigo publicado em 2012 pela Federal Signal Corporation, estudos revelaram que a luz VERMELHA pode ser melhor percebida durante o período diurno, enquanto a luz AZUL é melhor percebida no período noturno. (leia a versão traduzida disponível nos materiais complementares ou a versão original, em inglês, disponível em bit.ly/fedsigrb). 19 Aula 2 - Sobre asnormas de circulação e conduta Será que o uso de dispositivos de prerrogativas acionados, durante um serviço de urgência, dá direito a qualquer privilégio no deslocamento? E quando em atendimento de ocorrência ou em simples presença ostensiva, posso posicionar a viatura em qualquer lugar? Você verá a resposta dessa e de outras questões durante esta aula, além de relembrar conceitos importantes presentes no CTB. 2.1 Começando do início: O que é “Trânsito”? A compreensão do conceito de trânsito é fundamental para o entendimento das normas gerais de circulação e conduta aplicáveis aos veículos de emergência. Trânsito é... Segundo o art. 1º, §1º, do CTB, “considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga.” Via é... Segundo o Anexo I do CTB, “é a superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central.” 20 Pode-se dizer que “trânsito é o compartilhamento do espaço comum”. Ou seja, a simples presença de pessoas, veículos ou animais na via pública, sejam imobilizados ou em movimento. Esse compartilhamento, por óbvio, traz um ambiente propício para o surgimento de conflitos, pois reúne os mais diversos tipos de pessoas e meios de transporte, cada um com suas necessidades peculiares. Dessa forma, existe a necessidade estabelecer requisitos mínimos para assegurar a harmonia nesse espaço, o que é feito pelo próprio CTB, mediante as normas gerais de circulação e conduta e também por meio das sanções, destinadas aqueles que não seguem as regras. 2.2 Quais são os deveres básicos do condutor? Conforme os artigos iniciais do CTB, todo condutor, especialmente quando o veículo for de emergência, tem alguns deveres importantíssimos, que estão descritos no quadro a seguir: Figura 9: Deveres de todo condutor, segundo o CTB Fonte: do Conteudista; SCD/EaD/Segen. 21 2.3 Novas regras de circulação, estacionamento e parada Considerando que você já possui habilitação, presume-se que a maioria das normas de circulação e conduta já não são novidades. Entretanto, a Lei 14.071/20, que entrou em vigor em abril de 2021, trouxe algumas mudanças nessas normas, e diversas delas estão relacionadas diretamente aos veículos de emergência. Veja algumas: Regras para os veículos de emergência A partir de agora, além do serviço de urgência propriamente dito, os serviços de policiamento ostensivo e preservação da ordem pública gozam das mesmas prerrogativas. Por exemplo: nos arredores de uma determinada escola foi constatado um aumento no número de assaltos a pedestres nos horários de saída e entrada de alunos. Tal escola situa-se em avenida movimentada, com pouco espaço regulamentado para estacionamento. Logo, em tese, uma equipe em viatura não teria como ficar próxima sem infringir alguma norma de trânsito. Porém, com a alteração do CTB, é possível que ela seja posicionada sobre outros pontos da via, como a calçada, canteiro, marcas de canalização, ou qualquer outro espaço disponível, a fim de propiciar a necessária ostensividade. Obviamente, esse posicionamento deve ser avaliado de forma a não trazer mais riscos que benefícios em relação aos pedestres e demais usuários da via, além de ser obrigatório o uso concomitante dos dispositivos regulamentares de iluminação intermitente. Veja, a seguir, como ficaram as alterações: 22 CTB - ANTES Art. 29 [...] VII - Os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de trânsito e as ambulâncias, além de prioridade de trânsito, gozam de livre circulação, estacionamento e parada, quando em serviço de urgência e devidamente identificados por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitente, observadas as seguintes disposições: [...] CTB - A PARTIR DE ABRIL DE 2021 Art. 29 [...] VII - Os veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, os de polícia, os de fiscalização e operação de trânsito e as ambulâncias, além de prioridade no trânsito, gozam de livre circulação, estacionamento e parada, quando em serviço de urgência, de policiamento ostensivo ou de preservação da ordem pública, observadas as seguintes disposições: [...] e) as prerrogativas de livre circulação e de parada serão aplicadas somente quando os veículos estiverem identificados por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação intermitente; f) a prerrogativa de livre estacionamento será aplicada somente quando os veículos estiverem identificados por dispositivos regulamentares de iluminação intermitente; 23 Observe que a menção à cor vermelha do dispositivo de iluminação intermitente foi retirada no texto novo, justamente para abrir espaço para a regulamentação do Contran, que agora prevê também a cor azul, como você viu na aula anterior. No caso específico do atendimento de emergência, o não uso dos dispositivos de iluminação intermitente, sujeita os respectivos veículos ao enquadramento na seguinte infração prevista no CTB: Art. 222. Deixar de manter ligado, nas situações de atendimento de emergência, o sistema de iluminação vermelha intermitente dos veículos de polícia, de socorro de incêndio e salvamento, de fiscalização de trânsito e das ambulâncias, ainda que parados: Infração - média; Penalidade - multa. Regras para os demais condutores da via Aqui as mudanças foram apenas no sentido de reforçar que a prerrogativa de passagem só existe quanto o veículo de emergência está com AMBOS dispositivos acionados, alarme sonoro e iluminação intermitente. CTB - ANTES Art. 29, inciso VII [...] a) quando os dispositivos estiverem acionados, indicando a proximidade dos veículos, todos os condutores deverão deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, indo para a direita da via e parando, se necessário; CTB - A PARTIR DE ABRIL DE 2021 Art. 29, inciso VII [...] a) quando os dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação intermitente estiverem acionados, indicando a proximidade dos veículos, todos os 24 condutores deverão deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, indo para a direita da via e parando, se necessário. Os condutores que não abrem passagem para os veículos de emergência, quando o caso exigir, estão sujeitos ao enquadramento na seguinte infração: Art. 189. Deixar de dar passagem aos veículos precedidos de batedores, de socorro de incêndio e salvamento, de polícia, de operação e fiscalização de trânsito e às ambulâncias, quando em serviço de urgência e devidamente identificados por dispositivos regulamentados de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitentes: Infração - gravíssima; Penalidade - multa. ‘ Por outro lado, quando o condutor tirar vantagem da passagem aberta pelo veículo de emergência, ele será enquadrado na seguinte infração: Art. 190. Seguir veículo em serviço de urgência, estando este com prioridade de passagem devidamente identificada por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminação vermelha intermitentes: Infração - grave; Penalidade - multa. Regras para os pedestres Com relação aos pedestres, a nova redação corrobora o que você viu na aula anterior. Os pedestres podem OUVIR o alarme sonoro, ou VER a luz intermitente, conforme o local onde estiverem. Anteriormente, a obrigação de aguardar no passeio era vinculado somente ao alarme sonoro. CTB – ANTES Art. 29, inciso VII [...] 25 b) os pedestres, ao ouvir o alarme sonoro, deverão aguardar no passeio, só atravessando a via quando o veículo já tiver passado pelo local; CTB - A PARTIR DE ABRIL DE 2021Art. 29, inciso VII [...] b) os pedestres, ao ouvirem o alarme sonoro ou avistarem a luz intermitente, deverão aguardar no passeio e somente atravessar a via quando o veículo já tiver passado pelo local. Os pedestres podem ser penalizados por não cumprir o disposto acima? Em tese sim. Porém, a forma de autuação ainda não foi regulamentada. 2.4 - E quanto ao uso desnecessário dos dispositivos de prerrogativa? Apesar de não estar tipificado, as instituições regulam administrativamente essa prática, em geral, prevê sanções em seus códigos de conduta ou de disciplina. Todavia, não há penalidade maior que aquela sofrida pelos próprios órgãos que prestam serviços de emergência. A consequência é de difícil reversão: além dos danos à imagem da instituição e dos profissionais vai mais além: Imagine você parado num congestionamento em uma rodovia. De repente surge um veículo de emergência em alta velocidade pelo acostamento, com os dispositivos de prerrogativa acionados. O que você imagina? Que aconteceu alguma coisa muito grave mais adiante. Correto? Entretanto, logo em seguida a fila começa a andar e você avista o tal veículo de emergência... parado em um restaurante, com a equipe almoçando! 26 Esse é apenas um exemplo. Ações como essa acabam por reduzir muito a credibilidade dos dispositivos, que podem acabar sendo ignorados quando realmente precisarmos deles. 2.5 - E quanto à prerrogativa de circulação? Posso fazer qualquer coisa? Seria ótimo poder fazer qualquer coisa quando os dispositivos de prerrogativa estão acionados, mas é impossível. Cada pedestre, cada ciclista, cada condutor, pode agir de forma diferente e imprevisível ao escutar o alarme sonoro ou avistar as luzes intermitentes. Fora os que estão distraídos com fones nos ouvidos, usando o celular para falar com alguém ou digitar uma mensagem, com os vidros do veículo fechados, com música alta etc. Figura 10: Pedestre distraído com celular: cena comum hoje em dia Fonte: Guillaume Meurice - Pexels Então, algumas regras de trânsito até podem ser flexibilizadas, porém com o máximo de cautela e com os dispositivos de prerrogativa acionados (alarme sonoro e iluminação intermitente). 27 Por exemplo: ter a preferência onde ela não é sua; deixar de parar quando a sinalização assim o exigir; exceder a velocidade de forma coerente com o local e o grau de urgência; transitar em locais não permitidos para a maioria dos veículos, como faixas exclusivas, acostamentos e outros locais diferenciados da pista de rolamento. Porém, existem outras que não podem ser quebradas, sob pena de causar um acidente ou agravar os que porventura vierem a ocorrer: ultrapassar em curvas, aclives e outros locais sem visibilidade nenhuma; forçar passagem entre veículos que se deslocam em sentido contrário; não utilizar o cinto de segurança (segurança passiva); desrespeitar ordem emanada por agente de trânsito. Pense sempre no seguinte: o benefício que você busca proporcionar a alguém, em um deslocamento de urgência, jamais poderá se sobrepor ao prejuízo que a coletividade poderá sofrer. Ou seja, um deslocamento mal feito poderá resultar na simples troca de uma vida por outra. Ou então pior, a troca de mais vidas por nenhuma, caso você não consiga completar o deslocamento por conta de um acidente sofrido no caminho, e ainda acabe envolvendo terceiros. 28 Figura 11: Acidente envolvendo viatura Fonte: Arquivo PRF. 2.6 - Sobre os crimes de trânsito Os crimes de trânsito fazem parte da legislação penal especial, aquela que está prevista fora do código penal e foram elaboradas pelo legislador como forma de proteger a vida e trazer maior segurança no trânsito. Na elaboração da norma, o legislador considerou a condição diferenciada daquele que conduz um veículo automotor e a responsabilidade que possui com a coletividade, tipificando condutas delitivas como o homicídio culposo e a lesão corporal com penas mais severas, quando ocorridas no trânsito. Classificou ainda algumas condutas já previstas como infração, também como crimes: embriaguez ao volante; exibição de manobras perigosas; condução sem CNH gerando perigo de dano, entre outros. Durante o serviço de urgência, devido às características peculiares do deslocamento, há a chance dos condutores cometerem infrações de trânsito e até mesmo alguns crimes de trânsito, previstos no Capítulo XIX do CTB. Por isso, a atenção dos condutores de veículos de emergência, o respeito ao Código de Trânsito Brasileiro e o correto uso dos dispositivos de prerrogativa são indispensáveis. Afinal, nenhum condutor deseja responder a um processo criminal devido a um acidente, ou pior, carregar consigo o peso de ter lesionado ou matado alguém. 29 Os crimes de trânsito em que os condutores de veículos de emergência têm a maior probabilidade de se envolver são os seguintes: Figura 12: Crimes de Trânsito Fonte: SCD/EaD/Segen. AMPLIE SEU CONHECIMENTO!! Leia um resumo das principais alterações do CTB, que entraram em vigor a partir do dia 12 de abril de 2021, em: bit.ly/portaltransito14071. Revisando... Você relembrou então quais são as principais normas de circulação e conduta relacionadas aos veículos de emergência, e as novidades que chegaram. Na próxima aula estudar um pouco sobre a habilitação requerida o nosso trabalho, e quais são os requisitos para obtê-la. 30 Aula 3 - Sobre a devida habilitação Você chegou finalmente na parte mais importante do serviço de urgência: Aquela que fica entre o banco e o volante. Qualquer um pode ser um condutor de um veículo de emergência? Sim, pode. Mas desde que atenda algumas exigências, que explicaremos na sequência. 3.1 Requisitos básicos para conduzir um veículo de emergência Conforme o Art. 145 do CTB, para conduzir veículo de emergência, o candidato deverá preencher os seguintes requisitos: Figura 13: Requisitos do candidato a condutor de veículos de emergência Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. 3.2 Categoria de habilitação Uma das dúvidas mais recorrentes no meio dos que conduzem veículos de emergência ou têm alguma relação com esse tipo de transporte, é sobre a categoria de habilitação necessária. 31 Muitos afirmam que existiria uma categoria mínima, como a “D” para ambulâncias, por exemplo. Entretanto, isso não passa de um MITO. Na verdade, a categoria depende do tipo de veículo conduzido, além de suas características técnicas, como o Peso Bruto Total (PBT) e a lotação de pessoas. Você também tem essa dúvida? Veja os principais exemplos na figura a seguir: Figura 14: Categorias de habilitação Fonte: do conteudista; SCD/EaD/Segen. Mas o que é o PBT mesmo? Simplificando, o PBT é o máximo que o fabricante diz que o veículo pode pesar em uma balança, depois de ter sido carregado com toda bagagem/carga que cabe no porta-malas/carroceria e todas as pessoas ocuparem os seus assentos, enquanto a TARA é o peso do veículo vazio. Logo: TARA + PESSOAS + BAGAGEM/CARGA = PBT 32 3.3 Porte do documento de habilitação E quanto ao porte do documento de habilitação? Bem, esta é outra alteração recente, conforme mudanças trazidas no CTB pela Lei 14.071/20: caso o condutor não porte o documento de habilitação físico (CNH), ou então a versão digital (CNH-e), por intermédio do aplicativo CDT (Carteira Digital de Trânsito), o documento não será exigido caso o agente que efetuar a fiscalização consiga consultar o condutor no sistema, para verificação da sua regularidade. Figura 15: Interface atual da CDT (Carteira Digital de Trânsito) Fonte: acervo do conteudista. Assista o vídeo: Carteira Digital de Trânsito: a sua CNH e o documento do seu veículo na palma da mão (Canal do Serprono Youtube). www.youtube.com/watch?v=LylTyr8Ol9w 33 3.4 Comprovação do curso Conforme o art. 145 do CTB, os condutores de veículos de emergência precisam ser aprovados em curso especializado, que atualmente está regulamentado pela Resolução Contran nº 789/20. E como portar a comprovação do curso? Bem, se ele foi realizado em momento anterior à emissão do atual documento de habilitação, o curso constará em seu verso (para as habilitações mais antigas), ou então diretamente no Registro Nacional de Condutores Habilitados (Renach), onde ficará disponível para consulta dos agentes, e do próprio condutor, através do aplicativo CDT. Caso a informação não tenha sido inserida no Renach ainda, o condutor deverá portar o certificado fornecido pela instituição que ministrou o curso, até que isso ocorra, conforme determina o Contran. Lembre-se: mesmo que o curso conste no verso de sua CNH, procure certificar-se de sua validade, que é no máximo de 5 (cinco) anos. Caso tenha vencido, busque a renovação assim que possível. Figura 16: Meios de comprovação aceitos para os cursos especializados Fonte: do conteudista. 34 Lembrando que... A validade de qualquer curso continua em 5 (cinco) anos, embora o período de renovação da CNH (que está condicionada ao prazo de vigência do exame de aptidão física e mental) tenha sido estendido, conforme a atual redação do art. 147, § 2º, do CTB, trazida pela Lei 14.071/20): I - a cada 10 anos, para condutores com idade inferior a 50 anos; II - a cada 5 anos, para condutores com idade igual ou superior a 50 anos e inferior a 70 anos; III - a cada 3 anos, para condutores com idade igual ou superior a 70 anos. Somente nas hipóteses abaixo, a falta da habilitação ou da comprovação do curso irá gerar uma infração de trânsito: a) Não portar o documento de habilitação e não for possível a confirmação da regularidade do condutor junto ao sistema; ou b) Portar o documento de habilitação sem a anotação do curso especializado no verso, sem o registro do curso no Renach e/ou sem portar o certificado original. Art. 232. Conduzir veículo sem os documentos de porte obrigatório referidos neste Código: Infração - leve; Penalidade - multa; Medida administrativa - retenção do veículo até a apresentação do documento. Lembrando que a infração acima poderá não acumular pontos para a habilitação, conforme alteração recente do CTB, promovida pela Lei 14.071/20. 35 Revisando... Você acabou de estudar um pouco sobre a habilitação requerida no trabalho e quais são os requisitos para obtê-la, incluindo as novas formas de portá-la, com vistas à fiscalização exercida pelos agentes da autoridade de trânsito, assim como os demais agentes de segurança pública. No próximo módulo você ponderará sobre a condução em si e tudo que a ela se relaciona, como acidentes, direção defensiva, condições adversas, especialmente aquelas relacionadas ao condutor. 36 Finalizando Neste módulo, você relembrou que: Os veículos possuidores de prerrogativas no trânsito subdividem-se em veículos de emergência e veículos prestadores de serviços de utilidade pública; Todo serviço de urgência, para ser considerado como tal, deve ser realizado com um veículo de emergência, devidamente identificado com dispositivos luminosos e sonoros, em atendimento de uma situação especial, que justifique o uso prerrogativas sobre as normas de trânsito; Mesmo com os dispositivos de prerrogativas acionados, nunca espere que todas as pessoas estejam totalmente atentas; O trânsito é o compartilhamento do espaço, com conflitos constantes, dotado de regras que precisam ser seguidas, sob pena de risco à segurança própria e alheia; Para conduzir veículos de emergência, o condutor precisa atender requisitos diferenciados de habilitação. 37 Módulo II - Direção Defensiva Apresentação do módulo Como você estudou no módulo anterior, a legislação de trânsito regulamenta aspectos importantes para a condução de veículos de emergência, sendo ressaltada que a correta observância às regras de circulação e de conduta, mesmo que em situação diferenciada, é preponderante para reduzir os riscos de acidentes de trânsito. Neste módulo você analisará diversos aspectos sobre acidentes (quando e como acontecem) e relembrará os fundamentos de direção defensiva, com enfoque nas condições adversas, especialmente aquelas relacionadas ao condutor. A partir do conhecimento dos riscos das condições adversas, técnicas de condução segura e da dinâmica dos acidentes, você acrescentará à sua vivência ferramentas e atitudes importantes para evitar esse tipo de ocorrência, em uma convivência mais harmoniosa, com foco no respeito e preservação da vida humana. Pronto para começar? Figura 17: Acidente em serviço: tudo o que queremos evitar Fonte: Jornal Voz do Planalto. Disponível em:<https://vozdoplanalto.com.br/acidente-co-bombeiro- militar-e-registrado-em-condado/>. Acesso em: 03 maio 2021. 38 Objetivos do módulo Este módulo criará condições para que você possa se atualizar sobre: Informações sobre o cenário do trânsito brasileiro e a atuação dos agentes de segurança pública neste contexto; Os principais tipos e causas de acidentes envolvendo os veículos de emergência; A importância da direção defensiva na condução de veículos de emergência; Procedimentos e comportamentos que visam à segurança na condução de veículos especializados; e Os sinais de alterações física e mental mais comuns que afetam condutores sob o efeito de bebida alcoólica e de substâncias psicoativas, além de outros fatores que interferem na atenção. Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: Aula 1 - Segurança viária: existe afinal? Aula 2 - Acidentes de trânsito são sempre inevitáveis? Aula 3 - Relembrando os conceitos básicos da Direção Defensiva. Aula 4 - Adaptando-se às condições adversas. Aula 5 - O condutor: a peça-chave. Ouça o ÁUDIO3 39 Aula 1 - Segurança Viária: existe afinal? Você sabe quantas pessoas morrem ou ficam permanentemente afetadas por conta dos acidentes de trânsito todos os anos no Brasil e no mundo? Você tem ideia qual é uma das classes que está mais exposta aos acidentes em seu dia a dia de trabalho? 1.1 Situação no Brasil No Brasil, os acidentes de trânsito apresentam um alto custo social, cultural e intelectual. Profissionais no auge de sua capacidade produtiva e jovens promissores encontram-se entre os que mais morrem no trânsito. Figura 18: Mortos em acidente de trânsito Fonte: Dados do Denatran (elaborado pelo conteudista). Saiba mais: 40 De acordo com a Nota Técnica publicada em setembro de 2020 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, o valor total dos custos dos acidentes com transportes no Brasil, no período de 2007 a 2018, foi mais de: R$ 1.584.000.000.000,00 (um trilhão e meio de reais) Leia a matéria sobre o assunto e o estudo completo do IPEA em: bit.ly/notaipea2020. 1.2 Frota de veículos Hoje há no país uma frota circulante de mais de 107 milhões de veículos, entre caminhões, ônibus, automóveis, motocicletas, dentre outros. Como pode-se observar no gráfico a seguir, ela quase quadruplicou de tamanho nos últimos 20 anos. Todavia, infelizmente, a estrutura viária urbana e rural disponível não cresceu na mesma medida, o que agrava mais ainda os conflitos gerados pela falta de espaço para todos transitarem, incluindo os pedestres, ciclistas e usuários de novas tecnologias de mobilidade individual. Figura 19: Evolução da frota total de veículos no Brasil Fonte: Dados do Denatran (elaborado pelo conteudista). 1.3 Situação no mundo Estima-se que a cada ano, no mundotodo, quase um milhão e meio de pessoas são mortas e que outras cinquenta milhões são feridas em decorrência de acidentes 41 de trânsito, de acordo com estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2018). É um problema mundial e, obviamente, está ligado diretamente ao tamanho da população, da malha viária e da frota de veículos. Porém, a situação é mais preocupante nos países menos desenvolvidos, onde a legislação, a fiscalização, a infraestrutura das vias, o socorro em acidentes e a formação dos condutores tendem a ser mais precários. Figura 20: Mortes no mundo em acidentes de trânsito em 2017 (em milhares) Fonte: OMS (2018). Revisando... Como profissional de segurança pública, a contribuição e o exemplo que você pode dar em relação à segurança do trânsito em sua cidade e em seu local de trabalho é fundamental para mudarmos esses números. A seguir, você analisará os principais tipos de acidentes que os veículos de emergência estão mais propensos a se envolver e suas causas mais comuns. Aula 2 - Acidentes de Trânsito são sempre inevitáveis? 42 Esta aula inicia com um desafio: Figura 21: Reflexão Fonte: SCD/EaD/Segen. É possível pensar em poucas possibilidades: um raio ou um meteorito caem no carro, um terremoto abre uma fenda e o carro cai dentro, uma rajada de vento tomba um caminhão, e por aí vai. Todo o restante, inclusive um buraco na via ou uma falha no veículo, está associado à ação ou omissão de alguém. Nessa aula você analisará os principais tipos de acidentes e as maneiras de reduzirmos ao máximo a possibilidade de nos envolvermos com eles. 2.1 Definindo acidente de trânsito Mas o que é acidente de trânsito afinal? Mesclando vários conceitos encontrados na literatura de trânsito e transporte, chegamos à seguinte definição: Acidente de trânsito é... Uma ocorrência danosa, não premeditada, envolvendo veículos em circulação ou parados, respectivos ocupantes, pedestres ou objetos móveis ou fixos. Pode ocorrer de forma inesperada, em decorrência de alguma condição adversa, ou de forma culposa, por negligência, imprudência ou imperícia. Analisando o que foi dito acima, fica fácil deduzir que, infelizmente, boa parte dos acidentes acontece por falha humana, como melhor explicado no artigo a seguir: 43 Leia o artigo sobre causas dos acidentes, publicado pelo Observatório Nacional de Trânsito - ONSV: bit.ly/onsvfalhashumanas 2.2 Principais tipos de acidentes e como acontecem No desempenho da atividade de condução de veículos de emergência, os riscos de envolver-se (ou ser envolvido) em acidentes de trânsito aumentam exponencialmente. A urgência da ocorrência, o som agudo da sirene, o estresse do motorista e, dependendo da velocidade, uma redução significativa da visão periférica, são fatores que podem alterar o senso crítico do agente que conduz o veículo. Agora você analisará os principais tipos de acidentes nos quais os veículos de emergência estão mais propensos a se envolver, além de suas causas mais comuns. Colisão Frontal A principal causa da colisão frontal é a ultrapassagem em retas, sem espaço suficiente, e em locais de pouca visibilidade, como em curvas e aclives. O encontro de dois veículos frente a frente é um dos piores tipos de colisão devido à soma das velocidades na hora do impacto. Colisão Traseira De acordo com os Boletins de Acidentes de Trânsito da PRF, uma das principais causas deste tipo de acidente é motivada por condutores que têm o hábito de dirigir muito próximo ao veículo da frente (“colado”) e por isso, nem sempre é 44 possível avisá-lo a tempo da manobra que se pretende fazer, principalmente em situações de emergência. Atropelamento de pedestre Os impactos de veículos com pedestres são responsáveis por muitas mortes anualmente. A diferença de peso e resistência que há entre uma pessoa e um veículo provoca um encontro bem desigual, resultando, na maioria dos casos, em ferimentos graves. Quase todos os adultos atropelados são pessoas que não sabem dirigir, portanto, não têm noção da distância de parada ou desconhecem seus deveres como parte do trânsito no tocante à legislação. Colisão transversal É o acidente caracterizado pelo “impacto transversal, entre veículos que transitavam em direções que se cruzam, ortogonal ou obliquamente” (PRF, 2021). Ocorre especialmente em cruzamentos, retornos e travessias de rodovias. Quando envolve veículos de emergência, a causa pode estar relacionada tanto à viatura (uso inadequado dos dispositivos de prerrogativa ou não redução da velocidade em pontos críticos) quanto aos demais veículos envolvidos (velocidade e falta de atenção). Quanto maior a velocidade, mais o motorista perde a visão periférica (para as laterais), acabando por priorizar somente o que está imediatamente à frente, deixando de perceber, por exemplo, a presença de ciclistas, pedestres e outros veículos que possam interceptar sua trajetória. O acidente de difícil identificação da causa 45 Também conhecida como “colisão misteriosa” ou ainda “acidente de causa não- identificada” é aquele que envolve apenas um veículo e apresenta dificuldade no estabelecimento da causa provável, seja pela falta de testemunhas, seja por conta da hospitalização ou óbito dos envolvidos. Os principais elementos causadores podem envolver: Pista de rolamento; Condições climáticas; Correntes aerodinâmicas; Veículo; Outro condutor; Estado físico e mental. Veja as imagens de acidentes, conforme citado acima: Figura 22: Colisão frontal em deslocamento de viatura Fonte: Divulgação CBMDF. 46 Figura 23: Condições técnicas e legais desfavoráveis para ultrapassagem Fonte: acervo do conteudista. Figura 24: Colisão traseira em viatura Fonte: Arquivo PRF. 47 Figura 25: Atropelamento de pedestre Fonte: Arquivo PRF. Figura 26: Colisão transversal em cruzamento urbano Fonte: CGN. Disponível em:<https://cdn.cgn.inf.br/cgn-cdn/fotos-cgn/2020/12/24180146/acidente- guarda.jpg>. Acesso em: 03 mai. 2021. 48 Figura 27: Veículo sozinho no acidente Fonte: Paulo Pinto/ Fotos Públicas. IMPORTANTE! Para que a ultrapassagem ocorra com segurança, você deve observar sempre: Δ Não fique muito próximo do veículo que quer ultrapassar, isso reduz o campo de visão; Δ Calcule, com base no tamanho do veículo a ser ultrapassado e na capacidade de aceleração da viatura, se o espaço é suficiente para completar o retorno à pista de origem; Δ Nunca inicie a ultrapassagem sem verificar se o veículo de trás não começou antes; Δ Nunca esqueça de acionar o indicador de direção antes de iniciar a ultrapassagem, para que fique clara sua intenção para os demais condutores; Δ Quando for sua vez de ser ultrapassado, coloque-se no lugar do outro. Dê espaço, se for preciso, e nunca aumente a velocidade deliberadamente. 49 Revisando... No desempenho da atividade de condução de veículos de emergência, os riscos de ser envolvido em acidentes de trânsito aumentam exponencialmente. Para que você possa reduzir esses riscos, além da atenção redobrada, deve praticar a Direção Defensiva, que é o assunto da nossa próxima aula. 50 Aula 3 - Relembrando os conceitos de Direção Defensiva 3.1 Definição Se te perguntarem o significado de direção defensiva, com certeza saberá responder, como a grande maioria dos condutores brasileiros. Normalmente, como resposta, é proferida a famosa frase: “dirigir por si e pelos outros”. É uma resposta automática, está na ponta da língua. Mas você realmente faz isso? Leia a definição em destaque e em seguida compare com as suas ações na condução de seu veículo particular e de veículos de emergência. Direção defensivaé... “Um conjunto de técnicas, ideias e procedimentos que trata da forma de pensar e se comportar durante a complexa tarefa de dirigir, com o objetivo principal de evitar acidentes ou de reduzir os danos de um acidente inevitável” (PRF, 2020, p. 11). A definição de dirigir defensivamente transcende ao ato de dirigir em si, pois vai muito além do mecanicismo de conduzir um veículo. É um estado de espírito! Dirigir defensivamente é buscar evitar acidentes, independentemente de estar certo ou errado no trânsito. É dirigir corretamente, seguir as regras de trânsito, agir com perícia e prudência. É evitar acidentes mesmo quando o outro esteja errado, seja ao conceder a passagem a um veículo ou reagir a uma frenagem. 51 Figura 28: O trânsito e a necessidade de atenção constante Fonte: do conteudista. O ato de dirigir é quase automático para muitos condutores. Você entra no veículo e desloca-se de um ponto ao outro e muitas vezes não percebe o quanto complexo e cansativo é dirigir. Para auxiliá-lo em uma condução segura de veículos de emergência, você deve evitar cometer erros e se valer dos elementos da direção defensiva. 3.2 Erros que devem ser evitados no trânsito Todo condutor e, especialmente o de veículo de emergência, deve estar atento para não cometer alguns erros que vão invariavelmente lhe prejudicar em algum momento. Relembre na figura abaixo as principais ações e omissões mais propensas a ocorrer e que devem ser evitadas ao máximo. 52 Figura 29: Erros mais comuns de todo condutor Fonte: do conteudista. 3.3 Elementos da Direção Defensiva São cinco os elementos que precisam ser considerados na prática da direção defensiva. Relembre os detalhes de cada um na figura a seguir: 53 Figura 30: Elementos da Direção Defensiva Fonte: acervo do conteudista. 54 Assista o vídeo: Direção defensiva: manobras simuladas e dicas técnicas para evitar acidentes. https://bit.ly/3bPeQ8J Revisando... Praticar a direção defensiva exige uma boa dose de comprometimento, a fim de que você não cometa erros conhecidos e que possam tornar a condução insegura. Porém, existem outros fatores, internos e externos, nem sempre controláveis, que interferem diretamente nessa questão: as “condições adversas”, assunto da nossa próxima aula. 55 Aula 4 - Adaptando-se às condições adversas O condutor de veículos de emergência, em muitas situações, tem de trafegar sem as condições ideais de segurança para atender as mais diversas ocorrências, sejam quais forem as condições climáticas, de luminosidade, de trânsito e qualidade da via. É importante que você seja capaz de identificar esses riscos rapidamente e agir corretamente diante dessas situações, adotando os procedimentos adequados para cada uma delas. Veja o resumo na figura a seguir: Figura 31: Resumo dos tipos de condições adversas Fonte: acervo do conteudista. 4.1 Condições adversas de luz A iluminação é um dos fatores que mais influenciam na condução, pois é essencial para vermos e sermos vistos, seja com iluminação natural (dia e noite) ou artificial (sistema de sinalização e iluminação dos veículos e da própria via). Porém, a luz torna-se uma condição adversa quando está em falta ou em excesso. A falta de luz provoca a penumbra (falta de iluminação pública, por 56 exemplo), e o excesso provoca o ofuscamento (luz do sol direta ou refletida nos espelhos, farol dos outros veículos, anúncios luminosos etc.), conforme exemplo da figura a seguir. Figura 32: Ofuscamento noturno causado por faróis altos Fonte: acervo do conteudista. 4.2 Condições adversas de clima Algumas condições climáticas podem interferir diretamente na segurança do trânsito, pois alteram as condições da via, diminuindo a sua capacidade visual, alterando padrões de comportamento do veículo em relação à aderência dos pneus e à estabilidade. Veja algumas: 57 CHUVA Reduz a visibilidade externa e interna, através do embaçamento dos vidros, diminui a aderência dos pneus, principalmente nas curvas, aumenta o espaço percorrido nas frenagens e dificulta as manobras de emergência. Além disso, quanto maior a quantidade de água na pista e maior a velocidade, mais provável é a ocorrência de aquaplanagem, que é o “fenômeno no qual os pneus dos veículos não conseguem remover a lâmina d’água sob eles e perdem o contato com a pista” (PRF, 2020). Entenda melhor do que se trata assistindo o vídeo logo abaixo. Figura 33: Chuva + velocidade excessiva = aquaplanagem Fonte: Arquivo PRF. NEBLINA Você deve redobrar o cuidado nestas condições, por conta da baixa visibilidade. Jamais esqueça, assim como ocorre na chuva, de manter ligados os faróis de luz baixa, conforme determina a nova redação do art. 40 do CTB, de forma que seu veículo fique visível por todos os lados. Grave isso: se o trânsito parar, acione imediatamente o pisca-alerta. Nos dias de neblina, os engavetamentos são comuns por conta da falta desse cuidado básico. 58 Figura 34: Os perigos da neblina Fonte: acervo do conteudista. Assista o vídeo: O que fazer em caso de aquaplanagem. www.youtube.com/watch?v=Ifq0VhNqNCI 4.3 Condições adversas da via O condutor de veículo de emergência deve estar sempre atento às condições adversas que possam surgir nas vias pavimentadas, ou não. Mesmo que você conheça o percurso, não deve desconsiderar a possibilidade de ser surpreendido, sob risco de causar danos ao veículo ou até mesmo se envolver em acidente de trânsito. A realidade nos mostra uma série de deficiências que aumentam as probabilidades do condutor se acidentar. 59 Figura 35: Buraco na via Fonte: SCD/EaD/Segen Figura 36: Árvore caída na via Fonte: SCD/EaD/Segen. 60 Figura 37: Veículo desviando de buraco na borda da pista de rolamento Fonte: acervo do conteudista. 4.4 Condições adversas de trânsito As condições adversas de trânsito estão relacionadas à quantidade, ao tipo, ao tamanho de veículos e ainda aos horários de circulação, podendo estar associadas ou não a congestionamentos. Obviamente, como você já viu, quanto mais pedestres e veículos estiverem compartilhando o espaço, e competindo por ele, maior a probabilidade de demora no deslocamento e maior o cuidado necessário para evitar incidentes. 61 Figura 38: Veículo de emergência preso no congestionamento Fonte: Ambulância Curitiba Emergências 24 horas. Disponível em:<https://ambulanciaemergencias.files.wordpress.com/2020/07/0057__mg_0058_njr.jpg?w=1568>. Acesso em: 04 maio 2021. 4.5 Condições Adversas de Veículo Todo veículo possui equipamentos e sistemas que atuam ativamente para evitar situações de perigo que podem levar a acidentes, como freios, suspensão, sistema de direção, iluminação, pneus e outros. Já outros equipamentos e sistemas são destinados a atenuar os impactos causados em caso de acidente, como cinto de segurança, airbags e a própria carroceria. Como um condutor defensivo, você deve observar se esses equipamentos estão em boas condições de funcionamento, e isso é essencial para que eles cumpram suas funções de forma adequada na hora que você precisar. 62 Figura 39: Veículo com pane mecânica, antes da chuva Fonte: acervo do conteudista. 4.6 Condições adversas do condutor As condições adversas relacionadas aos condutores são, sem dúvida, as que mais influenciam na possibilidade de acidentes. Considerando a importância do estudo dessas condições, reservamos a última aula deste módulo exclusivamente para esse assunto. Revisando... Você até pode ser surpreendido por uma condição adversa, especialmente as de luz ou clima. Outras, talvez, sejam um pouco mais previsíveis, dependendodo nosso conhecimento prévio, como as condições adversas da via, do trânsito e do veículo. Porém, tem uma que depende diretamente do ser humano, e talvez seja a mais difícil de lidar: as condições adversas do condutor, tema da nossa próxima aula. 63 Aula 5 - O condutor: a peça-chave 5.1 As condições adversas do condutor Todas as condições físicas ou psicológicas associadas aos condutores, sejam elas permanentes ou temporárias, vão influenciar diretamente o modo de conduzir. Além das condições, existem comportamentos, associados ou não, que influenciam na segurança da direção, conforme representado: Figura 40: Fatores que prejudicam a condução Fonte: acervo do conteudista. 64 5.2 O uso de álcool e outras drogas Ingerir álcool, que é uma droga depressora do Sistema Nervoso Central (SNC), ou seja, provoca a redução a atividade cerebral e, por consequência, diminui a concentração, afeta a coordenação motora, muda o comportamento e prejudica o desempenho, limitando a percepção de situações de perigo e reduzindo a capacidade de ação e reação. Outras drogas ilícitas e lícitas (medicamentos), podem afetar o SNC de diversas maneiras, produzindo sinais como sono, vigília, euforia, confusão mental, desvirtuamento sensorial, perda do equilíbrio, psicoses e delírios, conforme o tipo de substância utilizada. IMPORTANTE! Como profissional consciente, você deve evitar a automedicação e sempre perguntar ao seu médico quais os efeitos colaterais dos medicamentos prescritos, principalmente para a condução de veículos. Figura 41: Fiscalização de alcoolemia Fonte: Arquivo PRF. 65 Assista o vídeo: Simulação dos efeitos do álcool ao volante em um ambiente controlado. www.youtube.com/watch?v=zGQ5FomMPRU&t=1s 5.3 O estado físico e mental Alterações no estado físico e mental do condutor afetam diretamente a capacidade de dirigir com plena segurança. Alguns exemplos de estados psicológicos alterados e fatores comportamentais de risco são: a pressa, a distração, a agressividade, o espírito competitivo e o estresse. O estado de espírito pode ser facilmente influenciado por acontecimentos ligados ou não à condução, como desentendimentos no trabalho, brigas no trânsito, expectativa de algum acontecimento, euforia por conta de alguma conquista ou apenas preocupação com algum assunto particular. Por sua vez, as deficiências visual, motora e auditiva, mesmo que temporárias, podem constituir um grave risco de acidente. Outros fatores como o sono e fadiga são igualmente relevantes e que podem ser agravados até pela posição incorreta ao conduzir o veículo. Se você estiver pouco disposto e não puder se concentrar totalmente na condução, seu tempo normal de reação vai aumentar, transformando os riscos em perigos iminentes. 66 Figura 42: Acidente causado pelo sono ao volante Fonte: Arquivo PRF. 5.4 O comprometimento da atenção Segundo o art. 28 do CTB... “O condutor deverá, a todo momento, ter domínio de seu veículo, dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.” Ressaltando: o tempo todo! Não só uma parte do tempo. Entretanto, sabe-se que isso é bastante difícil de fazer, pois tendemos a desviar o pensamento para outros lugares e outras coisas, mesmo estando com os olhos na pista. É o equivalente a sonhar acordado, às vezes. Sabe-se também que o consumo de álcool e qualquer outra substância psicoativa, colabora para que a atenção seja comprometida, assim como os tópicos que você estudou anteriormente, relacionados aos estados físicos ou mentais. Temos ainda as distrações deliberadas ou permitidas pelo condutor, como objetos soltos dentro do veículo que podem se movimentar e exigir a atenção inesperada, animas desacompanhados que podem eventualmente “querer colo” e 67 atrapalhar o uso dos comandos e o uso do som demasiadamente alto que impede que o condutor escute buzinas, alarmes sonoros e até os sons do próprio veículo. Todavia, a pior distração de todas hoje em dia é o uso do celular, seja para falar (inclusive no viva-voz) quanto para ler ou até digitar mensagens em aplicativos de comunicação ou redes sociais. Um condutor falando ou digitando no celular equivale a um condutor bêbado ou dormindo. O efeito prático é o mesmo. Assista o vídeo: Celular é a terceira maior causa de mortes no trânsito no Brasil, diz pesquisa. https://glo.bo/3toFwD0 Figura 43: Representação gráfica da importância do celular para algumas pessoas Fonte: Blog do Amarildo. Disponível em:<https://amarildocharge.wordpress.com/>. Acesso em: 04 maio 2021. 68 Você sabe que tipo de atenção o condutor deve mais utilizar durante a direção? Conforme o Anexo XIII da Resolução Contran nº 425/12, a “atenção” consiste na manutenção da visão consciente dos estímulos ou situações, e pode ser dividida em três tipos principais: Atenção difusa ou vigilância Esforço voluntário para varrer o campo visual na sua frente à procura de algum indício de perigo ou de orientação; Atenção concentrada seletiva Fixação da atenção sobre determinados pontos de importância para a direção, identificando-os dentro do campo geral do meio ambiente; Atenção distribuída Capacidade de atenção a vários estímulos ao mesmo tempo. Lendo as definições acima, você percebeu que o tipo de atenção mais presente, durante a condução de veículos de emergência, é a difusa. Assista o vídeo: Série Dicas com o João da Nica, sobre o contato visual no trânsito (Publicado no site do ONSV). youtu.be/DGnmNGXTIzs 69 Revisando... Como você viu, os condutores são as peças-chave do trânsito, sejam os condutores dos veículos de emergência, sejam os demais condutores que compartilham a via. Qualquer item que afete a percepção ou a atenção desses condutores, afeta diretamente a segurança da via. 70 Finalizando Neste módulo, você relembrou que: É muito preocupante o quadro mundial e, particularmente o brasileiro, no que se refere à violência no trânsito. Os veículos de emergência têm uma probabilidade maior de se envolver em determinados tipos de acidentes, como colisões frontais, traseiras e transversais, atropelamento de pedestres, incluindo acidentes com causas difíceis de se determinar. O uso de procedimentos e técnicas de direção defensiva, você reduzirá significativamente a chance de se envolver em acidentes. É preciso conhecer as restrições impostas pelas condições adversas e as ações necessárias para se adaptar rapidamente diante do novo cenário e enfrentar as mudanças com mais confiança e segurança. Você tem uma importante tarefa no desempenho de sua profissão: servir à sociedade e proteger vidas. Não coloque a sua vida ou a vida da sua equipe em risco e se lembre de sempre proteger os demais no trânsito. O condutor é a peça-chave da segurança do trânsito que precisa estar em plenas condições físicas e mentais para o desempenho das funções, caso contrário a segurança viária se perde. 71 Módulo III - Noções de Primeiros Socorros, Respeito ao Meio Ambiente e Convívio Social Apresentação do módulo Caro Aluno, Nos módulos anteriores, você relembrou conhecimentos relacionados à legislação que envolve os veículos de emergência e como agir defensivamente no trânsito. Neste módulo, você estudará a conduta mais adequada de um agente de segurança pública frente a uma situação que exija o socorro de vítimas. Estudará também como prover a segurança do local, preservando a sua vida e a de terceiros. Por fim, você irá rever algumas questões ambientais e elementos importantes de convívio social relacionados à utilização de veículos nas vias públicas. Bons estudos!! Objetivos do módulo Este módulo criarácondições para que você possa atualizar-se sobre: A importância das primeiras ações no local de um acidente, desde a sinalização e cuidados básicos ao acionamento dos meios de segurança; Os procedimentos de avaliação primária da vítima, bem como a adoção de medidas para evitar o agravamento das lesões; e Conceitos relacionados à proteção do meio ambiente e convívio social no trânsito. Estrutura do módulo Este módulo compreende as seguintes aulas: 72 Aula 1 - Local do acidente: primeiras providências Aula 2 - Abordagem à vítima Aula 3 - Meio ambiente e convívio social Ouça o ÁUDIO 4 73 Aula 1 - Local do acidente: primeiras providências As pessoas presentes no local da ocorrência (os próprios envolvidos, os familiares, as testemunhas ou a comunidade em geral), ao perceberem a chegada dos agentes públicos, sejam eles policiais, bombeiros ou socorristas, naturalmente esperam que esses resolvam todos os problemas, principalmente no que concerne ao socorro dos feridos e à segurança do local. Levando isso em conta, você irá examinar nessa aula quais são as primeiras ações a serem tomadas logo após à chegada ao local da ocorrência. Importante! A sua segurança inicia antes mesmo do deslocamento à ocorrência e deve ser observada ao longo de todo o trajeto. Certifique-se de utilizar corretamente os itens de segurança. Não se esqueça dos dispositivos de prerrogativa e mantenha-se atento à sinalização da via. Sempre assuma uma postura defensiva! 1.1 Sinalização Após uma rápida avaliação do cenário, você deve priorizar a sinalização imediata do local, de forma a prevenir a ocorrência de outros acidentes, especialmente envolvendo os condutores que se aproximam sem ainda ter percebido a situação. Veja a imagem abaixo, ela mostra um exemplo de sinalização em um acidente em rodovia. 74 Figura 44: Exemplo de sinalização com cones em rodovia. Fonte: Comando Notícia. Disponível em:<https://comandonoticia.com.br/wp- content/uploads/2017/10/caminh%C3%A3o-tombado-rodovia-acidente-pol%C3%ADcia- rodovi%C3%A1ria-colinas11.jpg>. Acesso em: 04 mai. 2021. Possíveis formas de sinalização: Figura 45: Formas de sinalização Fonte: acervo do conteudista. 75 Você deve colocar a sinalização a uma distância que permita aos condutores perceber, sem equívoco, a presença de “algo diferente” na pista e com isso reduzir a velocidade com segurança. Havendo curvas, a sinalização deve ficar antes desta, de modo que os condutores observem a sinalização antes de ver o acidente. Caso existam condições adversas de luz ou clima, coloque a sinalização mais afastada, usando os parâmetros a seguir: Figura 46: Tabela de distâncias recomendadas para o início da sinalização a partir do local do acidente Fonte: Abramet (2005). Assista o vídeo: Estrada de Minas Gerais registra três acidentes em apenas três horas (Matéria publicada pela TV Record) bit.ly/2OLKKdr 76 1.2 Gerenciamento de riscos Depois de sinalizar o local, a próxima providência é identificar os elementos que possam agravar a ocorrência ou gerar outros riscos, seja para os envolvidos no acidente, seja para as equipes de atendimento ou curiosos (que sempre surgem). Os principais elementos que podem gerar riscos secundários ao acidente estão resumidos no diagrama a seguir: Figura 47: Riscos a serem observados durante o atendimento de acidentes Fonte: acervo do conteudista. IMPORTANTE! Se houve riscos iminentes no local da cena, só efetue o socorro se isso não for comprometer a sua integridade. Caso contrário, acione e aguarde a chegada de recurso especializado, como você verá no próximo item. 77 1.3 Acionamento de recursos especializados Quanto mais complexo o acidente maior a chance de vários órgãos acabarem trabalhando no atendimento de forma simultânea (ou sequencial). Procure conhecer os meios disponíveis em sua região, mantendo os contatos sempre atualizados, de forma a agilizar o trabalho quando precisar de apoio. Abaixo estão os números de emergência mais comuns. Figura 48: número de emergência Fonte: acervo do conteudista. Além dos órgãos de segurança, salvamento e controle de trânsito, também poderão trabalhar na ocorrência a companhia de energia, empresas especializadas em remoção de veículos ou manuseio de produtos perigosos, prefeituras (fornecimento de maquinário, remoção de animais etc.), além das concessionárias de rodovias e outros. 78 Figura 49: Órgãos em treinamento para atendimento de acidente com produtos perigosos Fonte: A Crítica. Disponível em: <https://cdn.acritica.net/img/pc/920/600/dn_noticia/2019/08/1567189466.jpg>. Acesso em: 04 mai. 2021. Revisando... Ao longo dessa aula você relembrou as primeiras providências a serem tomadas após a chegada no local do acidente, incluindo a sinalização, o gerenciamento dos riscos presentes na cena e o acionamento de recursos, quando necessário. Na próxima aula você irá repassar resumidamente a principais etapas da abordagem de uma vítima ferida ou enferma. 79 Aula 2 - Abordagem à vítima Nas aulas anteriores, você relembrou as primeiras providências a serem tomadas após a chegada ao local do acidente, agora estudará como efetuar a abordagem a uma vítima de acidente de trânsito de forma correta, providenciando os Primeiros Socorros. 2.1 O que são Primeiros Socorros? Conforme a Abramet (2005), os Primeiros Socorros são as primeiras providências tomadas no local do acidente. É o atendimento inicial e temporário, até a chegada de um socorro profissional. Quais são essas providências? Figura 50: Primeiras providências de primeiros socorros Fonte: do Conteudista; SCD/EaD/Segen. 80 Figura 51: PRF e Bombeiros numa abordagem a vitimado Fonte: Arquivo PRF. 2.2 Avaliação primária da vítima A avaliação primária da vítima, ou exame primário, é o passo seguinte à sinalização e gerenciamento dos riscos. Constitui-se em um processo ordenado para identificar e corrigir problemas que ameacem a vida em curto prazo, iniciando por aqueles que podem levar à morte mais rapidamente. A avaliação primária é dividida em seis etapas, por ordem de prioridade, como segue: 81 Figura 52: Etapas da avaliação primária da vítima Fonte: acervo do conteudista (Adaptado de PRF, 2020, p. 59). Obviamente, nem todos os agentes estão aptos a realizar a avaliação primária de forma tão completa como um socorrista profissional. Porém, é importante que você consiga pelo menos compreender e mitigar os principais riscos imediatos à vida, como hemorragias graves e paradas cardiorrespiratórias, além de conseguir passar um 82 panorama mais detalhado das condições da vítima ao acionar o socorro especializado. Assista esses vídeos curtos sobre: 1 - Dicas básicas para avaliação inicial (XABCDE): www.youtube.com/watch?v=jOFWyuOZBWE 2 - Controle de sangramento com compressão (curativo) www.youtube.com/watch?v=9EkTK0mgg4U 3 - Controle de hemorragia externa grave (torniquete) www.youtube.com/watch?v=ZjMLFstsEY4 4 - Atendimento à parada cardiorrespiratória: www.youtube.com/watch?v=dnN_G4QDHRA 2.3 O uso de EPI Antes de atender uma ocorrência/acidente, o profissional deverá tomar as precauções universais, medidas de proteção contra agentes biológicos. O equipamento de proteção individual (EPI) básico para efetuar qualquer intervenção, especialmente se a vítima apresenta trauma com sangramento, é a luva de procedimentos. Mesmo que você não seja um socorrista, outros equipamentos como máscara facial e óculos de segurança também são importantes para evitar contaminação. Procure ter um Kit de EPI em seu material de trabalho,