Buscar

ALEXANDER, Gerda - Eutonia - um caminho para a percepão corporal

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 222 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 222 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 222 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Gerda Alexander 
• n 
Um caminho para a percepcão corporal 
TRADUÇÃO 
José Luis Mora Fuentes 
REVISÃO T:fCNICA 
Eugênia Tereza de Andrade 
Martins Fontes 
Gerda Alexander 
• n 
Um caminho para a percepcão corporal 
TRADUÇÃO 
José Luis Mora Fuentes 
REVISÃO T:fCNICA 
Eugênia Tereza de Andrade 
Martins Fontes 
Título original: 
Eutonie- Ein Weg der KO"rperlichen Selbsterfahrung 
© Kosel-Verlag GmbH & Co., 1976 
1~ edição brasileira: fevereiro de 1983 
Revisão: Monica S. M. da Silva 
Preparação de original: Elvira da Rocha Pinto 
CIP-Br11111. Catalogaç&o-na-PubllcaQIO 
c•mera Brulleln do Livro, SP 
Ale_xander, Gerd.a. 
Eutonia : um caminho para a peree~ção corpo-
ral I Gerda Alexander ; tradução Jose Luis Hora 
Fuentes ; revisão MÔnica s. M. da Silva ; revi-
eão técnica Eugênia Tereza de Andrade. -- São 
Paulo : Martins Fonte.s, 1983. 
Bibliografia. 
L Autopercepção 2. Expressão corporal 3. I-
me.gem corporal 4. Relaxamento I. T{tulo. 
lnd!ces para catílogo 1latemãtlco: 
CDD-152 
-152.1 
=~~;:~q 
1. Autopercepção : Psicologia fiaiolÓ§ica 152.1 
2. Corpo : Imagem : Psicologia .fiaiologica 152 
3. Expressão corporal : Aptidão risica : Higiene 
613.7 
4. Imagem corporal : Psicologia fisiolÓgico. 152 
5· Relaxamento : Higieoe 613.79 
Produção gráfica: Nilton Thomé 
Assistente de produção: Carlos To mio Kurata 
Composição: Ademilde L. da Silva 
c Lúcia Spósito 
Revisão tipográfica: Nilza Agua 
e Hercí'lio de Lourenzi 
Paste-up: Newton Guarino Filho 
Todos os direitos desta edição reservados à 
LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LIDA. 
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 
01325 -São Paulo- SP- Brasil 
Introdução à edição brasileira 
Conheci a Eutonia de Cerda Alexander através de Patrícia 
Stokoe, de Buenos Aires, e do seu trabalho de Sensopercepção, 
no qual os elementos básicos da Eutonia servem de suporte para 
a Expressão Corporal. 
Os ensinamentos de Cerda Alexander vieram juntar-se aos 
de Rudolf Laban e de Stanislawsky e à minha prática de artista 
e educadora nas linguagens do Teatro e da Expressão Corporal. 
Por outro lado, vejo na Eutonia a possibilidade do homem expe-
rimentar, através do sensível, ser objeto e sujeito de constante 
transformação. Essa vivência e essa compreensão da Eutonia 
fizeram com que eu passasse a me empenhar na divulgação desse 
trabalho. 
Eutonia é uma obra humana e científica. Incorpora de 
Henri Wallon o estudo da origem da consciência corporal e sua 
contribuição mais expressiva: o caráter emocional do tônus mus-
cular. Nega a compartimentação do indivíduo, aborda-o tão 
somente em sua "unidade". Sua eficiência foi comprovada na 
cura de múltiplas patologias. A obra de Cerda Alexander é pio-
neira, adiantou-se curando. Alcançou-a posteriormente a teoria 
para justificá-la e ampliar-lhe as possibilidades. 
A Eutonia não adota modelos. Se o fizesse não atingiria a 
profundidade que pretende. Adotá-los seria impedir o aflora-
mento da espontaneidade, seria inibir a investigação necessária a 
este processo criador. Adotá-los seria impedir o delineamento 
v 
Título original: 
Eutonie- Ein Weg der KO"rperlichen Selbsterfahrung 
© Kosel-Verlag GmbH & Co., 1976 
1~ edição brasileira: fevereiro de 1983 
Revisão: Monica S. M. da Silva 
Preparação de original: Elvira da Rocha Pinto 
CIP-Br11111. Catalogaç&o-na-PubllcaQIO 
c•mera Brulleln do Livro, SP 
Ale_xander, Gerd.a. 
Eutonia : um caminho para a peree~ção corpo-
ral I Gerda Alexander ; tradução Jose Luis Hora 
Fuentes ; revisão MÔnica s. M. da Silva ; revi-
eão técnica Eugênia Tereza de Andrade. -- São 
Paulo : Martins Fonte.s, 1983. 
Bibliografia. 
L Autopercepção 2. Expressão corporal 3. I-
me.gem corporal 4. Relaxamento I. T{tulo. 
lnd!ces para catílogo 1latemãtlco: 
CDD-152 
-152.1 
=~~;:~q 
1. Autopercepção : Psicologia fiaiolÓ§ica 152.1 
2. Corpo : Imagem : Psicologia .fiaiologica 152 
3. Expressão corporal : Aptidão risica : Higiene 
613.7 
4. Imagem corporal : Psicologia fisiolÓgico. 152 
5· Relaxamento : Higieoe 613.79 
Produção gráfica: Nilton Thomé 
Assistente de produção: Carlos To mio Kurata 
Composição: Ademilde L. da Silva 
c Lúcia Spósito 
Revisão tipográfica: Nilza Agua 
e Hercí'lio de Lourenzi 
Paste-up: Newton Guarino Filho 
Todos os direitos desta edição reservados à 
LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LIDA. 
Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 
01325 -São Paulo- SP- Brasil 
Introdução à edição brasileira 
Conheci a Eutonia de Cerda Alexander através de Patrícia 
Stokoe, de Buenos Aires, e do seu trabalho de Sensopercepção, 
no qual os elementos básicos da Eutonia servem de suporte para 
a Expressão Corporal. 
Os ensinamentos de Cerda Alexander vieram juntar-se aos 
de Rudolf Laban e de Stanislawsky e à minha prática de artista 
e educadora nas linguagens do Teatro e da Expressão Corporal. 
Por outro lado, vejo na Eutonia a possibilidade do homem expe-
rimentar, através do sensível, ser objeto e sujeito de constante 
transformação. Essa vivência e essa compreensão da Eutonia 
fizeram com que eu passasse a me empenhar na divulgação desse 
trabalho. 
Eutonia é uma obra humana e científica. Incorpora de 
Henri Wallon o estudo da origem da consciência corporal e sua 
contribuição mais expressiva: o caráter emocional do tônus mus-
cular. Nega a compartimentação do indivíduo, aborda-o tão 
somente em sua "unidade". Sua eficiência foi comprovada na 
cura de múltiplas patologias. A obra de Cerda Alexander é pio-
neira, adiantou-se curando. Alcançou-a posteriormente a teoria 
para justificá-la e ampliar-lhe as possibilidades. 
A Eutonia não adota modelos. Se o fizesse não atingiria a 
profundidade que pretende. Adotá-los seria impedir o aflora-
mento da espontaneidade, seria inibir a investigação necessária a 
este processo criador. Adotá-los seria impedir o delineamento 
v 
das individualidades. Cerda Alexander denomina o seu trabalho 
de pedagogia terapêutica. 
A Eutonia se faz entender sobretudo através da prática; a 
conceituação não lhe basta, nem precede a vivência. Isto é um 
alerta para os mais afoitos. Um arsenal teórico não substitui a 
vivência. Aqui, a prática precede a teoria. Assim é nos proces-
sos individuais e assim foi na história da Eutonia de Cerda Ale-
xander, onde a ciência veio mais tarde justificar o que já eram 
terapêuticas comprovadas. 
Há os que se baseiam na introspecção, tendo como via um 
desligar-se da realidade. E ainda há os que, em nome do desblo-
queio, da perda de preconceitos, do rompimento de amarras, 
tomam o corpo objeto de torturas. A Eutonia impõe-se contra 
os modismos de técnicas corporais carentes de justificativa cien-
tífica e de uma filosofia de respeito humano. 
A Eutonia não atende ao consumo e, espero, resistirá a 
todas as modas corporais. Impõe-se como uma postura diante 
da vida. Implica uma atitude de permanente consciência. Não 
compactua com a compartimentação do homem. E, se não bas-
tasse, atua contra a dessensibilização. Por isso, considero esta 
edição bràsileira não só oportuna, como necessária. 
Cerda Alexander tem a humildade dos criadores. Chega a 
afirmar que sua Eutonia não mais lhe pertence. 
VI 
Eugênia Tereza de Andrade 
Professora de Expressão Corporal e Sensopercepção. 
Prefácio 
Dedico este livro aos meus discípulos. O caráter único da per-
sonalidade e das reações de cada um deles ensinou-me a rever 
constantemente minhas observações e experiências a partir de 
pontos de vista sempre novos. Só assim foi possível traçar dire-
trizes universalmente válidas, que podem conduzir o homem de 
nossa cultura a uma auto-realização consciente. 
Grandes são as dificuldades com que esbarramos ao tentar 
explicar este método -ainda que apenas de forma aproximada-
a pessoas que não ·têm uma experiência prática consciente do 
corpo. Apesar disso, tornou-se necessário estabelecer por escrito 
os fundamentos da eutonia. Dado que o círculo daqueles que 
difundem os exercícios sem vinculá-los a seus contex tos, sem 
conhecer seu sentido nem suas relações, vai-se ampliando a cada 
dia,esta seria a única forma possível de evitar a aplicação inde-
vida deste método. 
Devo expressar meu profundo reconhecimento ao dr. Alfred 
Bartussek e a Alfons Rosenberg pela sua crítica valiosa e por sua 
ajuda prática e inteligente: a Verena Dumermuth pela organiza-
ção do glossário; ao dr. Christoph Wild por seus conselhos refe-
rentes â ordenação do material deste livro. 
Gerda Alexander 
Copenhague, abril de 1976. 
VII 
das individualidades. Cerda Alexander denomina o seu trabalho 
de pedagogia terapêutica. 
A Eutonia se faz entender sobretudo através da prática; a 
conceituação não lhe basta, nem precede a vivência. Isto é um 
alerta para os mais afoitos. Um arsenal teórico não substitui a 
vivência. Aqui, a prática precede a teoria. Assim é nos proces-
sos individuais e assim foi na história da Eutonia de Cerda Ale-
xander, onde a ciência veio mais tarde justificar o que já eram 
terapêuticas comprovadas. 
Há os que se baseiam na introspecção, tendo como via um 
desligar-se da realidade. E ainda há os que, em nome do desblo-
queio, da perda de preconceitos, do rompimento de amarras, 
tomam o corpo objeto de torturas. A Eutonia impõe-se contra 
os modismos de técnicas corporais carentes de justificativa cien-
tífica e de uma filosofia de respeito humano. 
A Eutonia não atende ao consumo e, espero, resistirá a 
todas as modas corporais. Impõe-se como uma postura diante 
da vida. Implica uma atitude de permanente consciência. Não 
compactua com a compartimentação do homem. E, se não bas-
tasse, atua contra a dessensibilização. Por isso, considero esta 
edição bràsileira não só oportuna, como necessária. 
Cerda Alexander tem a humildade dos criadores. Chega a 
afirmar que sua Eutonia não mais lhe pertence. 
VI 
Eugênia Tereza de Andrade 
Professora de Expressão Corporal e Sensopercepção. 
Prefácio 
Dedico este livro aos meus discípulos. O caráter único da per-
sonalidade e das reações de cada um deles ensinou-me a rever 
constantemente minhas observações e experiências a partir de 
pontos de vista sempre novos. Só assim foi possível traçar dire-
trizes universalmente válidas, que podem conduzir o homem de 
nossa cultura a uma auto-realização consciente. 
Grandes são as dificuldades com que esbarramos ao tentar 
explicar este método -ainda que apenas de forma aproximada-
a pessoas que não ·têm uma experiência prática consciente do 
corpo. Apesar disso, tornou-se necessário estabelecer por escrito 
os fundamentos da eutonia. Dado que o círculo daqueles que 
difundem os exercícios sem vinculá-los a seus contex tos, sem 
conhecer seu sentido nem suas relações, vai-se ampliando a cada 
dia, esta seria a única forma possível de evitar a aplicação inde-
vida deste método. 
Devo expressar meu profundo reconhecimento ao dr. Alfred 
Bartussek e a Alfons Rosenberg pela sua crítica valiosa e por sua 
ajuda prática e inteligente: a Verena Dumermuth pela organiza-
ção do glossário; ao dr. Christoph Wild por seus conselhos refe-
rentes â ordenação do material deste livro. 
Gerda Alexander 
Copenhague, abril de 1976. 
VII 
Prefácio à terceira edição 
Dedico este livro, em primeiro lugar, aos professores por mim 
formados desde 1940, e que fizeram da eutonia elemento funda-
mental de suas vidas. Não foi minha intenção, e nem me parecia 
possível, esgotar todos os aspectos da eutonia. Essa intenção já 
estaria, de início, fadada ao fra casso, porque a eufonia não é, de 
forma nenhuma, um sistema isolado da prática cotidiana; ela 
está constantemente ligada a todos os aspectos e atividades da 
vida. A eufonia concerne tanto ao sadio quanto ao doente, tanto 
ao esportista quanto ao dançarino, tanto aos que lidam com o 
físico quanto aos que lidam com o psíquico. Por isso, essa diver-
sidade de atuação da eutonia proporciona, através de sua estru-
tura básica, múltiplas experiências, especialmente aos professo-
res de eufonia. Assim, no meu trabalho salientei especialmente 
os aspectos que julguei fundamentais e que, ao mesmo tempo, 
se distinguem basicamen te dos sistemas atuais de foT71Ulção m en-
tal e corporal do homem. 
Essa distinção necessária não representa uma cr ftica aos 
métodos consagrados de desenvolvimento da individualidade em 
harmonia com as exigências da sociedade. Tenha consciência de 
que esta tarefa será sempre enfrentada com empenho por cada 
geração. Mas muitas e variadas observações me levaram a reco-
nhecer que a eufonia não se identifica com o ecletismo que, hoje 
em dia, muitos terapeutas se julgam autorizados a praticar, por 
considerarem a eufonia como uma simples técnica, entre muitas 
IX 
Prefácio à terceira edição 
Dedico este livro, em primeiro lugar, aos professores por mim 
formados desde 1940, e que fizeram da eutonia elemento funda-
mental de suas vidas. Não foi minha intenção, e nem me parecia 
possível, esgotar todos os aspectos da eutonia. Essa intenção já 
estaria, de início, fadada ao fra casso, porque a eufonia não é, de 
forma nenhuma, um sistema isolado da prática cotidiana; ela 
está constantemente ligada a todos os aspectos e atividades da 
vida. A eufonia concerne tanto ao sadio quanto ao doente, tanto 
ao esportista quanto ao dançarino, tanto aos que lidam com o 
físico quanto aos que lidam com o psíquico. Por isso, essa diver-
sidade de atuação da eutonia proporciona, através de sua estru-
tura básica, múltiplas experiências, especialmente aos professo-
res de eufonia. Assim, no meu trabalho salientei especialmente 
os aspectos que julguei fundamentais e que, ao mesmo tempo, 
se distinguem basicamen te dos sistemas atuais de foT71Ulção m en-
tal e corporal do homem. 
Essa distinção necessária não representa uma cr ftica aos 
métodos consagrados de desenvolvimento da individualidade em 
harmonia com as exigências da sociedade. Tenha consciência de 
que esta tarefa será sempre enfrentada com empenho por cada 
geração. Mas muitas e variadas observações me levaram a reco-
nhecer que a eufonia não se identifica com o ecletismo que, hoje 
em dia, muitos terapeutas se julgam autorizados a praticar, por 
considerarem a eufonia como uma simples técnica, entre muitas 
IX 
outras. Por isso é necessário observar que a maioria dos métodos 
de treinamento corporal praticados hoje se baseiam em princí-
pios opostos aos da eu tonta. Essas práticas, portanto, não podem 
ser associadas à eufonia sem que ela seja distorcida na sua essên-
cia. Façamos um resumo de alguns princípios da eufonia para 
provar esta afirmação. Lembremo-nos, primeiramente, de que 
o relaxamento, um aspecto do domínio do tônus, representa 
apenas parte da eutonia. A eutonia se baseia na sensação tátil 
consciente, no desenvolvimento da sensibilidade superficial 
e profunda. Evita, portanto, qualquer sugestão ou influência 
direta sobre a respiração, trabalha somente com influências indi-
retas sobre as ftmções vegetativas. Sua pedagogia se baseia na 
realização do ritmo pessoal de cada aluno através da apresenta-
ção de propostas que exigem soluções próprias, sem que haja 
um modelo a ser seguido. A "presença"(*) e o contato perma-
nente com o ambiente, um aspecto essencial da eufonia, desen-
volveu-se no decorrer do trabalho. O tato e o contato das pes-
soas entre si pressupõem uma normalização e domínio do tônus 
para que cada parceiro não prejudique o outro pela transferên-
cia do seu modo de atuar ou de suas próprias dificuldades. Trata-
-se, portanto, no trabalho eutônico, de estar aberto e receptivo 
aos outros, sem enfraquecer a própria personalidade. Há métodos 
que se distinguem pelo uso de sugestões, pela influência prévia 
sobre a respiração, pela apresentação de modelos, por ritmos de 
ação predeterminados ou pela submersão em si mesmo, de tipo 
oriental. 
Neste livro, tentei propositalmente descrever apenas os 
princípios da eu fonia, e não as suas práticas. Porém, alguns dos 
meus alunos tomaram isto a seu cargo em publicações próprias, 
como por exemplo G. Brieghel-Mü[/er no seu livro Eutonie et 
relaxation, Ed. Delachaux et Niestlé. 
Por isso, neste livro,fiz uma distinção entre os princípios e 
(*) Presença, no alemão Prttesenz, neste contexto tem o sentido de 
estar consciente da presença do próprio corpo como organismo perceptivo 
e atento a tudo que nele ocorre. (N. do R. T.) 
X 
a práxis. A apresentação de séries de exercícios, como se faz em 
certos manuais de escolas de ginástica e respiração, teria, muito 
provavelmente, resultados negativos ou ilusórios, no caso de não 
haver um professor que possa fornecer uma orientação correta. 
A experiência mostra que o mesmo exercício executado 
aparentemente da mesma maneira por diversas pessoas leva, 
geralmente, a resultados e vivências diferentes. Cada aluno rea-
girá de maneira diferente, condicionado pelos seus hábitos, 
tabus e inibições inconscientes, de acordo com a sua educação 
e os modelos que tenta imitar. 
Em conseqüência, a motórica será o resultado de informa-
ções conscientes ou inconscientes. Ela não se deixa reduzir a 
uma seqüência de movimentos independentes, como se o corpo 
fosse dirigido somente de fora. A ginástica tradicional permite a 
execução, mais ou menos perfeita, de seqüências de movimentos 
aprendidos, mas, sem uma nova "presença", esses exercícios têm 
apenas um significado relativo; dentro do próprio indivíduo nada 
de essencial mudará. Esse modo de trabalho não tem nada em 
comum com ~tania, porque esta, ao contrário, baseia-se na 
capacidade readquirida de sentir consciente e individualmente. 
Sentir e observar são caminhos diferentes - é necessário 
que se inter-relacionem, num processo dialético. Para que a pes-
soa consiga um contato real consigo mesma, com o próximo e 
com o ambiente, é preciso que vivencie conscientemente o seu 
corpo, no movimento e no contato com o ambiente. Aprendi, 
pela minha larga experiência, em muitos países, que uma instru-
ção predominantemente abstrata, embora aumente a capaci-
dade de reação intelectual, favorece, ao mesmo tempo, a ten-
dência a antecipar, somente a nível in telectual, o resultado de 
um processo de trabalho, de maneira totalmente desvinculada 
da realidade. 
Tal abstração e representação fantasiosa é sinal da incapa-
cidade de permanecer presente na situação real e de atingir uma 
sensação consciente. A tendência a se preocupar mais com espe-
culações intelectuais do que com vivências reais mantém, muitas 
vezes, essas pessoas afastadas da realidade que lhes é proposta. O 
XI 
outras. Por isso é necessário observar que a maioria dos métodos 
de treinamento corporal praticados hoje se baseiam em princí-
pios opostos aos da eu tonta. Essas práticas, portanto, não podem 
ser associadas à eufonia sem que ela seja distorcida na sua essên-
cia. Façamos um resumo de alguns princípios da eufonia para 
provar esta afirmação. Lembremo-nos, primeiramente, de que 
o relaxamento, um aspecto do domínio do tônus, representa 
apenas parte da eutonia. A eutonia se baseia na sensação tátil 
consciente, no desenvolvimento da sensibilidade superficial 
e profunda. Evita, portanto, qualquer sugestão ou influência 
direta sobre a respiração, trabalha somente com influências indi-
retas sobre as ftmções vegetativas. Sua pedagogia se baseia na 
realização do ritmo pessoal de cada aluno através da apresenta-
ção de propostas que exigem soluções próprias, sem que haja 
um modelo a ser seguido. A "presença"(*) e o contato perma-
nente com o ambiente, um aspecto essencial da eufonia, desen-
volveu-se no decorrer do trabalho. O tato e o contato das pes-
soas entre si pressupõem uma normalização e domínio do tônus 
para que cada parceiro não prejudique o outro pela transferên-
cia do seu modo de atuar ou de suas próprias dificuldades. Trata-
-se, portanto, no trabalho eutônico, de estar aberto e receptivo 
aos outros, sem enfraquecer a própria personalidade. Há métodos 
que se distinguem pelo uso de sugestões, pela influência prévia 
sobre a respiração, pela apresentação de modelos, por ritmos de 
ação predeterminados ou pela submersão em si mesmo, de tipo 
oriental. 
Neste livro, tentei propositalmente descrever apenas os 
princípios da eu fonia, e não as suas práticas. Porém, alguns dos 
meus alunos tomaram isto a seu cargo em publicações próprias, 
como por exemplo G. Brieghel-Mü[/er no seu livro Eutonie et 
relaxation, Ed. Delachaux et Niestlé. 
Por isso, neste livro, fiz uma distinção entre os princípios e 
(*) Presença, no alemão Prttesenz, neste contexto tem o sentido de 
estar consciente da presença do próprio corpo como organismo perceptivo 
e atento a tudo que nele ocorre. (N. do R. T.) 
X 
a práxis. A apresentação de séries de exercícios, como se faz em 
certos manuais de escolas de ginástica e respiração, teria, muito 
provavelmente, resultados negativos ou ilusórios, no caso de não 
haver um professor que possa fornecer uma orientação correta. 
A experiência mostra que o mesmo exercício executado 
aparentemente da mesma maneira por diversas pessoas leva, 
geralmente, a resultados e vivências diferentes. Cada aluno rea-
girá de maneira diferente, condicionado pelos seus hábitos, 
tabus e inibições inconscientes, de acordo com a sua educação 
e os modelos que tenta imitar. 
Em conseqüência, a motórica será o resultado de informa-
ções conscientes ou inconscientes. Ela não se deixa reduzir a 
uma seqüência de movimentos independentes, como se o corpo 
fosse dirigido somente de fora. A ginástica tradicional permite a 
execução, mais ou menos perfeita, de seqüências de movimentos 
aprendidos, mas, sem uma nova "presença", esses exercícios têm 
apenas um significado relativo; dentro do próprio indivíduo nada 
de essencial mudará. Esse modo de trabalho não tem nada em 
comum com ~tania, porque esta, ao contrário, baseia-se na 
capacidade readquirida de sentir consciente e individualmente. 
Sentir e observar são caminhos diferentes - é necessário 
que se inter-relacionem, num processo dialético. Para que a pes-
soa consiga um contato real consigo mesma, com o próximo e 
com o ambiente, é preciso que vivencie conscientemente o seu 
corpo, no movimento e no contato com o ambiente. Aprendi, 
pela minha larga experiência, em muitos países, que uma instru-
ção predominantemente abstrata, embora aumente a capaci-
dade de reação intelectual, favorece, ao mesmo tempo, a ten-
dência a antecipar, somente a nível in telectual, o resultado de 
um processo de trabalho, de maneira totalmente desvinculada 
da realidade. 
Tal abstração e representação fantasiosa é sinal da incapa-
cidade de permanecer presente na situação real e de atingir uma 
sensação consciente. A tendência a se preocupar mais com espe-
culações intelectuais do que com vivências reais mantém, muitas 
vezes, essas pessoas afastadas da realidade que lhes é proposta. O 
XI 
professor pode reconhecer claramente se o aluno trabalha de 
fato em eufonia, se ele está, de fato, psíquica e somaticamente 
presente, ou se esse trabalho só se realiza na sua imaginação. A 
constante correlação entre personalidade e ambiente é, a nosso 
ver, a pressuposição indispensável para a tomada de consciência 
da realidade, o que representa a base para uma boa disposição 
psíquica. Aprender a sentir a si mesmo e sentir o ambiente com 
realismo 'e a- manter essa habilidade em todas as circunstâncias 
do áia a dia é, portanto, uma das primeiras contribuições e tare-
fas da eutonia. 
Esse caminho só deveria ser empreendido com o auxílio de 
um professor. O requisito para que o indivíduo possa realizar 
um trabalho independentemente do acompanhamento de um 
professor é que ele tenha a capacidade de descobrir, dentrQ....!j&_sj 
_!Jlesmo, na sua própria experiência corporal, a verdadeira cons-
ciência das sensações - na qual tanto insisto e que represeffta ã 
-base da eutonia. Ã lém disso, neste livro relembro a importância 
primordial da pele como órgão, como invólucro vivo, com inú-
meras inervações do organismo inteiro. Ora, o tato da pele, que 
nos proporciona informações sobre o mundo externo, _comunica-
-nos, ao mesmo tempo, conhecimentos essenciais sobre nós mes-
mos. Tudo aquiloque tocamos também nos toca. Por êãüSa da 
influência reguladora sobre as funções tônicas, essa dialética está 
na origem do sentimento de unidade e bem-estar que o trabalho 
de contato e tato da eu tonia consegue proporcionar. Na vida 
cotidiana não é possível, porém, através do tato consciente, 
experimentar todas as possibilidades proporcionadas pela eufo-
nia - pois isso pressuporia a orientação qualificada de um pro-
fessor. Todavia, consegue-se chegar por este meio a algumas pri-
meiras descobertas, que prepararão lodos os passos seguintes. 
O trabalho de contato por nós proposto proporcionará 
efeitos imediatos. Esse trabalho desenvolve igualmente a sensibi-
lidade, que nos abre uma parte do nosso eu e nos ajuda a redes-
cobrir nossa totalidade psicossomática. 
A posição deitada no chão é muito propícia para as primei-
ras descobertas, mas não é absolutamente necessário estar dei-
XII 
tado para sentir conscientemente tudo o que toca o nosso corpo. 
Por exemplo, na medida em que aprendemos a sentir as diferen-
ças quanto à qualidade do toque das roupas em nosso corpo, ou 
dos objetos que manipulamos, estaremos ampliando as nossas 
possibilidades de realizar descobertas pessoais. Quem conseguir 
realizar essa presença, por menor que seja, sem ilusões, perce-
berá logo que o toque lhe abre imensas perspectivas de trabalho, 
sem perigo para o equilíbrio psicossomático. 
Descobertas como a do sistema nervoso gama ( 1946, Gran-
dit e Koda) e os trabalhos de Grillner (Suécia 1977), e Wyke 
(Inglaterra 19 77) proporcionam agora explicações e provas cien-
tíficas. A história nos ensina que muitas descobertas - mesmo 
que sejam apenas parciais ou provisórias - tiveram a sua expli-
cação científica somente muito depois dos fatos observados 
empiricamen te. 
Isso nos obriga a sermos humildes. O campo do treina-
mento corporal nos proporciona muitos exemplos de certos 
métodos presunçosos (por exemplo o Body Building) que, ao 
menos por curto tempo, foram considerados "científicos" -
enquanto outras tentativas frutíferas foram consideradas não-
-científicas, por não terem sido ainda ordenadas racionalmente. 
Os conhecimentos atuais em diversas disciplinas e as moder-
nas possibilidades de investigação proporcionam novas formas 
de cooperação e a formulação de conhecimentos fundamental-
mente novos. Agradecemos aos nossos alunos por terem iniciado 
este trabalho com coragem e autocrítica. 
Novos conhecimentos fisiológicos esclarecem cada vez mais 
as leis objetivas que explicam os efeitos da eu fonia. Contatos 
com cien tistas e institutos de pesquisa fa vorecem esse processo 
de esclarecimento. 
Certamente a eutonia não se teria desenvolvido, se tivésse-
mos esperado as explicações científicas dos seus fenômenos 
antes de verificarmos, em nós mesmos, os efeitos revolucionários 
de um novo acesso a uma realidade multidimensional É o fato 
que o homem, quando está à procura de sua identidade e de 
uma experiência de vida mais abrangente, não pode excluir as 
XIII 
professor pode reconhecer claramente se o aluno trabalha de 
fato em eufonia, se ele está, de fato, psíquica e somaticamente 
presente, ou se esse trabalho só se realiza na sua imaginação. A 
constante correlação entre personalidade e ambiente é, a nosso 
ver, a pressuposição indispensável para a tomada de consciência 
da realidade, o que representa a base para uma boa disposição 
psíquica. Aprender a sentir a si mesmo e sentir o ambiente com 
realismo 'e a- manter essa habilidade em todas as circunstâncias 
do áia a dia é, portanto, uma das primeiras contribuições e tare-
fas da eutonia. 
Esse caminho só deveria ser empreendido com o auxílio de 
um professor. O requisito para que o indivíduo possa realizar 
um trabalho independentemente do acompanhamento de um 
professor é que ele tenha a capacidade de descobrir, dentrQ....!j&_sj 
_!Jlesmo, na sua própria experiência corporal, a verdadeira cons-
ciência das sensações - na qual tanto insisto e que represeffta ã 
-base da eutonia. Ã lém disso, neste livro relembro a importância 
primordial da pele como órgão, como invólucro vivo, com inú-
meras inervações do organismo inteiro. Ora, o tato da pele, que 
nos proporciona informações sobre o mundo externo, _comunica-
-nos, ao mesmo tempo, conhecimentos essenciais sobre nós mes-
mos. Tudo aquilo que tocamos também nos toca. Por êãüSa da 
influência reguladora sobre as funções tônicas, essa dialética está 
na origem do sentimento de unidade e bem-estar que o trabalho 
de contato e tato da eu tonia consegue proporcionar. Na vida 
cotidiana não é possível, porém, através do tato consciente, 
experimentar todas as possibilidades proporcionadas pela eufo-
nia - pois isso pressuporia a orientação qualificada de um pro-
fessor. Todavia, consegue-se chegar por este meio a algumas pri-
meiras descobertas, que prepararão lodos os passos seguintes. 
O trabalho de contato por nós proposto proporcionará 
efeitos imediatos. Esse trabalho desenvolve igualmente a sensibi-
lidade, que nos abre uma parte do nosso eu e nos ajuda a redes-
cobrir nossa totalidade psicossomática. 
A posição deitada no chão é muito propícia para as primei-
ras descobertas, mas não é absolutamente necessário estar dei-
XII 
tado para sentir conscientemente tudo o que toca o nosso corpo. 
Por exemplo, na medida em que aprendemos a sentir as diferen-
ças quanto à qualidade do toque das roupas em nosso corpo, ou 
dos objetos que manipulamos, estaremos ampliando as nossas 
possibilidades de realizar descobertas pessoais. Quem conseguir 
realizar essa presença, por menor que seja, sem ilusões, perce-
berá logo que o toque lhe abre imensas perspectivas de trabalho, 
sem perigo para o equilíbrio psicossomático. 
Descobertas como a do sistema nervoso gama ( 1946, Gran-
dit e Koda) e os trabalhos de Grillner (Suécia 1977), e Wyke 
(Inglaterra 19 77) proporcionam agora explicações e provas cien-
tíficas. A história nos ensina que muitas descobertas - mesmo 
que sejam apenas parciais ou provisórias - tiveram a sua expli-
cação científica somente muito depois dos fatos observados 
empiricamen te. 
Isso nos obriga a sermos humildes. O campo do treina-
mento corporal nos proporciona muitos exemplos de certos 
métodos presunçosos (por exemplo o Body Building) que, ao 
menos por curto tempo, foram considerados "científicos" -
enquanto outras tentativas frutíferas foram consideradas não-
-científicas, por não terem sido ainda ordenadas racionalmente. 
Os conhecimentos atuais em diversas disciplinas e as moder-
nas possibilidades de investigação proporcionam novas formas 
de cooperação e a formulação de conhecimentos fundamental-
mente novos. Agradecemos aos nossos alunos por terem iniciado 
este trabalho com coragem e autocrítica. 
Novos conhecimentos fisiológicos esclarecem cada vez mais 
as leis objetivas que explicam os efeitos da eu fonia. Contatos 
com cien tistas e institutos de pesquisa fa vorecem esse processo 
de esclarecimento. 
Certamente a eutonia não se teria desenvolvido, se tivésse-
mos esperado as explicações científicas dos seus fenômenos 
antes de verificarmos, em nós mesmos, os efeitos revolucionários 
de um novo acesso a uma realidade multidimensional É o fato 
que o homem, quando está à procura de sua identidade e de 
uma experiência de vida mais abrangente, não pode excluir as 
XIII 
·---
possibilidades de investigação, mesmo que o reconhecimento 
intelectual unilateral de certos fenômenos psicobiológicos seja, 
muitas vezes, de pouca ajuda e possa até levá-lo a desvios. 
Isso não surpreende, uma vez que sabemos que a origem 
desses fenômenos situa-se nas regiões subcorticais. Os procedi-
mentos de manipulação e condicionamento que provocam os 
desenvolvimentos conhecidos na nossa sociedade agem exata-
mente nesse nível. E de importância primordial não sucumbir-
mos a seus perigos. 
Sem dúvida, nem todos têm o mesmo dom de aumentar 
sua consciência corporal. E raro que uma primeira experiência 
aja logo com tanta eficácia, como nos casos excepcionais,que 
pude observar, de uma grande violinista e de um famoso regente, 
cuja maneira de tocar e movimentos se modificaram fundamen-
talmente logo depois da primeira sessão. Geralmente é preciso 
ter paciência e tempo para alcançar essa ''presença", porque 
somos inibidos pela nossa educação e nosso modo de vida. 
Sempre procurei expor as minhas idéias com a maior simpli-
cidade, e na elaboração deste livro tentei insistir num método de 
trabalho que cada um poderia realizar na sua vida cotidiana. Per-
manecer simples não quer dizer simplificar. Muitas vezes o ele-
mentar é o mais importante, como, por exemplo, fazer reviver 
cada órgão dos sentidos tal como era na primeira relação da 
criança com o mundo. 
Aos poucos, as ciências psicofisiológicas descobrem rela-
ções que conseguem explicar o extraordinário efeito de nosso 
procedimento. Certas descobertas relativas à estrutura e à fun-
ção do sistema nervoso proporcionaram alicerces científicos 
para nosso trabalho. Há vinte e cinco anos atrás era inexplicável 
o fato de conseguirmos recuperar a capacidade de andar, através 
da tomada de consciência das vias dos reflexos, em pacientes 
paralíticos cujas vias nervosas consideradas imprescindfveis à 
locomoção tinham sido destruídas. Naquele tempo, não tivemos 
outra saída a não ser repetir, sem modéstia, as palavras de um 
grande cientista: "Todavia, se move!" 
Mas a eufonia assume o risco, e isto nos ajuda a descobrir 
XIV 
l 
~ I 
I 
.i 
I 
as possibilidades contidas na realidade biológica, e a nos adaptar 
integralmente a um processo de vida sempre dinâmico e criativo, 
sem sucumbir a estruturas rígidas de tensões e inibições. 
As conseqüências de uma capacidade de reação reduzida 
por tensões e inibições são hoje bem conhecidas. Quando uma 
situação requer reações que superam nossas capacidades, isto 
provoca uma espécie de fuga em pânico e comportamo-nos 
como o cachorro espancado que não sabe se morde ou foge. 
Certas fonnas de oposição significam tão-somente uma admis-
são de impotência, e não são sinal de maior liberdade. Henri 
Wallon demonstrou com maestria que as emoções se fundam no 
tônus muscular. Por isso, o fato de a escala do tônus conter um 
amplo espectro de reações é fundamental para que se desenvolva 
a capacidade de reagir à vida e aos outros. Pode-se demonstrar, 
então, que os hipotônicos e os hipertônicos não são os únicos 
r~primidos na sua vida emocional. Não é menos reprimido o indi-
v(duo fixado sobre um espectro estreito do tônus médio. 
A capacidade de reação possibilitada pela flexibilidade má-
xima do tônus foi por nós ocasionalmente designada como "estar 
em onlem ", o que não significa estar sujeito a uma ordem exte-
rior, rnas. pelo contrário, que o individuo dispõe de uma quanti-
dade máxima de possibilidades de reação, tanto na esfera pessoal 
como na social. Assim, ganha-se uma amplitude de liberdade, 
sem a qual não existem nem meios de expressão nem capacidade 
criadora. Também sabemos que os limites impostos por uma 
estrutura rfgida são a razão principal da dfjlculdade de comuni-
cação com nossos semelhantes. A eutonia, baseando-se no con-
tato permanente com o ambiente, não só permite ao indivíduo 
reencontrar a si mesmo. como, ao mesmo tempo. ajuda-o a rom-
per os limites do seu isolamen to. 
Esse caráter essencial da eutonia. que inclui a educação, 
a reabilitação e mesmo a terapia dentro da dinâmica geral entre 
os homens e entre o indivz'duo e o ambiente, ta!l,ez não eja 
reconhecidu imediatamente pelo observador externo ou pelo 
principiante. Uma observação atenta da ação em grupo demons-
tra o seu alcance total. Para mencionar um só exemplo: não 
XV 
·---
possibilidades de investigação, mesmo que o reconhecimento 
intelectual unilateral de certos fenômenos psicobiológicos seja, 
muitas vezes, de pouca ajuda e possa até levá-lo a desvios. 
Isso não surpreende, uma vez que sabemos que a origem 
desses fenômenos situa-se nas regiões subcorticais. Os procedi-
mentos de manipulação e condicionamento que provocam os 
desenvolvimentos conhecidos na nossa sociedade agem exata-
mente nesse nível. E de importância primordial não sucumbir-
mos a seus perigos. 
Sem dúvida, nem todos têm o mesmo dom de aumentar 
sua consciência corporal. E raro que uma primeira experiência 
aja logo com tanta eficácia, como nos casos excepcionais, que 
pude observar, de uma grande violinista e de um famoso regente, 
cuja maneira de tocar e movimentos se modificaram fundamen-
talmente logo depois da primeira sessão. Geralmente é preciso 
ter paciência e tempo para alcançar essa ''presença", porque 
somos inibidos pela nossa educação e nosso modo de vida. 
Sempre procurei expor as minhas idéias com a maior simpli-
cidade, e na elaboração deste livro tentei insistir num método de 
trabalho que cada um poderia realizar na sua vida cotidiana. Per-
manecer simples não quer dizer simplificar. Muitas vezes o ele-
mentar é o mais importante, como, por exemplo, fazer reviver 
cada órgão dos sentidos tal como era na primeira relação da 
criança com o mundo. 
Aos poucos, as ciências psicofisiológicas descobrem rela-
ções que conseguem explicar o extraordinário efeito de nosso 
procedimento. Certas descobertas relativas à estrutura e à fun-
ção do sistema nervoso proporcionaram alicerces científicos 
para nosso trabalho. Há vinte e cinco anos atrás era inexplicável 
o fato de conseguirmos recuperar a capacidade de andar, através 
da tomada de consciência das vias dos reflexos, em pacientes 
paralíticos cujas vias nervosas consideradas imprescindfveis à 
locomoção tinham sido destruídas. Naquele tempo, não tivemos 
outra saída a não ser repetir, sem modéstia, as palavras de um 
grande cientista: "Todavia, se move!" 
Mas a eufonia assume o risco, e isto nos ajuda a descobrir 
XIV 
l 
~ I 
I 
.i 
I 
as possibilidades contidas na realidade biológica, e a nos adaptar 
integralmente a um processo de vida sempre dinâmico e criativo, 
sem sucumbir a estruturas rígidas de tensões e inibições. 
As conseqüências de uma capacidade de reação reduzida 
por tensões e inibições são hoje bem conhecidas. Quando uma 
situação requer reações que superam nossas capacidades, isto 
provoca uma espécie de fuga em pânico e comportamo-nos 
como o cachorro espancado que não sabe se morde ou foge. 
Certas fonnas de oposição significam tão-somente uma admis-
são de impotência, e não são sinal de maior liberdade. Henri 
Wallon demonstrou com maestria que as emoções se fundam no 
tônus muscular. Por isso, o fato de a escala do tônus conter um 
amplo espectro de reações é fundamental para que se desenvolva 
a capacidade de reagir à vida e aos outros. Pode-se demonstrar, 
então, que os hipotônicos e os hipertônicos não são os únicos 
r~primidos na sua vida emocional. Não é menos reprimido o indi-
v(duo fixado sobre um espectro estreito do tônus médio. 
A capacidade de reação possibilitada pela flexibilidade má-
xima do tônus foi por nós ocasionalmente designada como "estar 
em onlem ", o que não significa estar sujeito a uma ordem exte-
rior, rnas. pelo contrário, que o individuo dispõe de uma quanti-
dade máxima de possibilidades de reação, tanto na esfera pessoal 
como na social. Assim, ganha-se uma amplitude de liberdade, 
sem a qual não existem nem meios de expressão nem capacidade 
criadora. Também sabemos que os limites impostos por uma 
estrutura rfgida são a razão principal da dfjlculdade de comuni-
cação com nossos semelhantes. A eutonia, baseando-se no con-
tato permanente com o ambiente, não só permite ao indivíduo 
reencontrar a si mesmo. como, ao mesmo tempo. ajuda-o a rom-
per os limites do seu isolamen to. 
Esse caráter essencial da eutonia. que inclui a educação, 
a reabilitação e mesmo a terapia dentro da dinâmica geral entre 
os homens e entre o indivz'duo e o ambiente, ta!l,ez não eja 
reconhecidu imediatamente pelo observador externo ou pelo 
principiante. Uma observação atenta da ação em grupo demons-
tra o seu alcance total. Para mencionar um só exemplo: não 
XV 
seráde suma importância para o aluno descobrir logo nas pri-
meiras experiências em eutonia que suas percepções sensoriais, 
suas experiências pessoais e do mundo, diferem muitas vezes 
completamente daquelas do seu vizinho, podendo até serem 
opostas? Isto não é nem certo, nem errado, e não contém nenhum 
julgamento de valor, representando porém um passo na direção 
da independência pessoal e do reconhecimento das diversidades 
humanas. 
Também é de importância decisiva a pessoa descobrir que 
se pode relacionar com um grupo por meio de um simples objeto 
(por exemplo, uma vara de bambu), e que é possível agir como 
grupo, relacionando-se com novas situações e promovendo uma 
adaptação recíproca, sem que haja uma liderança. 
O que os participantes experimentam durante a ação e o 
que exprimem verbalmente ao fim do trabalho muitas vezes é 
de uma profundidade incomum. As palavras também parecem 
readquirir a sua força de expressão e comunicação. O que se 
exprimiu ainda há pouco por mímica e postura, é expresso então 
pela palavra, sem apelo a qualquer chavão. 
Essa concordância entre a expressão corporal e a língua, 
sinal de encontro sutil entre as manifestações do consciente e 
as do inconsciente, ocorre muito raramente na vida cotidiana; 
daí a importância de tais encontros para os envolvidos, como 
preparação para uma maior unidade psicossomática. 
A eufonia criada no Ocidente abre aos que estão vivendo 
(ou morrendo) conosco - a possibilidade de viver o presente 
com maior consciência e sentido. Ela lhes possibilita prever des-
vios e circunstâncias, e ajuda-os a se desenvolver e a se precaver 
contra influências negativas deste mundo. Isso é necessário se 
os homens pretendem conservar dentro de si as forças que lhes 
permitem participar da evolução das idéias e do nascer do futu-
ro. A eutonia atua, portanto, no centro dos problemas do nosso 
tempo. 
Aos que perguntam em que corrente de idéias se classifica 
a eutonia, eu responderia que ela se integra na grande corrente 
XVI 
de investigações que marcaram o século XX. Demonstrar isso 
com maior precisão requereria um outro livro. 
Em seguida procurarei expor resumidamente as idéias que 
me guiaram há tempos atrás. Gostaria de indicar o parentesco 
entre a eufonia e as formulações pedagógicas desenvolvidas na 
Europa e na América depois da Primeira Guerra Mundial, dirigi-
das no sentido de uma nova pedagogia, e cujos representantes 
estão reunidos na organização internacional New Education 
Fellowship. Pela minha formação na escola de Otto Blensdorf 
e de sua filha Charlotte BlensdorfMac-Jannet, tendo sido eu 
uma das primeiras alunas de Jacques-Dalcroze, entrei em con-
tato com representantes dessas novas idéias. Recebi influência 
marcante das experiências do primeiro instituto científico peda-
gógico da Universidade de lena sob direção do professor Peter 
Petersen, assim como das minhas t>xperiências na Primeira Escola 
Liv. • e Jardim de Infância da Dinamarca. Apesar de ter acompa-
nhado as idéias e pesquisas do meu tempo, participando intima-
mente delas, evitei tornar-me dependente de uma teoria rígida 
ou de uma escola estabelecida. 
Esta aspiração à independência de idéias e profissional sem 
dúvida se baseia no meu passado pessoal. Apesar de conhecer 
muitas possibilidades de formação humana, espiritual-corporal, 
encontrar novos caminhos e meios de expressão era, para mim, 
uma necessidade íntima. É preciso estar imbuído de uma moti-
vação irresistível para escapar da força de costumes adquiridos e 
da coerção que visa ao enquadramento no sistema social. O meu 
estado de saúde, no início da minha vida profissional, proporcio-
nou-me essa motivação. Esta força é, portanto, bastante frágil, 
em comparação com as influências normativas que se movem por 
caminhos já traçados. 
Provavelmente o conhecimento da limitação das minhas 
forças me tenha levado a evitar qualquer filiação a correntes inte-
lectuais da atualidade. Somente assim, consegui, no decorrer dos 
anos, elaborar e aperfeiçoar um método novo sem ser desviada 
pelas idéias e influências dos métodos que me haviam inspirado, 
como, por exemplo, pela escola de Schlaffhorst-Andersen e sua 
XVII 
será de suma importância para o aluno descobrir logo nas pri-
meiras experiências em eutonia que suas percepções sensoriais, 
suas experiências pessoais e do mundo, diferem muitas vezes 
completamente daquelas do seu vizinho, podendo até serem 
opostas? Isto não é nem certo, nem errado, e não contém nenhum 
julgamento de valor, representando porém um passo na direção 
da independência pessoal e do reconhecimento das diversidades 
humanas. 
Também é de importância decisiva a pessoa descobrir que 
se pode relacionar com um grupo por meio de um simples objeto 
(por exemplo, uma vara de bambu), e que é possível agir como 
grupo, relacionando-se com novas situações e promovendo uma 
adaptação recíproca, sem que haja uma liderança. 
O que os participantes experimentam durante a ação e o 
que exprimem verbalmente ao fim do trabalho muitas vezes é 
de uma profundidade incomum. As palavras também parecem 
readquirir a sua força de expressão e comunicação. O que se 
exprimiu ainda há pouco por mímica e postura, é expresso então 
pela palavra, sem apelo a qualquer chavão. 
Essa concordância entre a expressão corporal e a língua, 
sinal de encontro sutil entre as manifestações do consciente e 
as do inconsciente, ocorre muito raramente na vida cotidiana; 
daí a importância de tais encontros para os envolvidos, como 
preparação para uma maior unidade psicossomática. 
A eufonia criada no Ocidente abre aos que estão vivendo 
(ou morrendo) conosco - a possibilidade de viver o presente 
com maior consciência e sentido. Ela lhes possibilita prever des-
vios e circunstâncias, e ajuda-os a se desenvolver e a se precaver 
contra influências negativas deste mundo. Isso é necessário se 
os homens pretendem conservar dentro de si as forças que lhes 
permitem participar da evolução das idéias e do nascer do futu-
ro. A eutonia atua, portanto, no centro dos problemas do nosso 
tempo. 
Aos que perguntam em que corrente de idéias se classifica 
a eutonia, eu responderia que ela se integra na grande corrente 
XVI 
de investigações que marcaram o século XX. Demonstrar isso 
com maior precisão requereria um outro livro. 
Em seguida procurarei expor resumidamente as idéias que 
me guiaram há tempos atrás. Gostaria de indicar o parentesco 
entre a eufonia e as formulações pedagógicas desenvolvidas na 
Europa e na América depois da Primeira Guerra Mundial, dirigi-
das no sentido de uma nova pedagogia, e cujos representantes 
estão reunidos na organização internacional New Education 
Fellowship. Pela minha formação na escola de Otto Blensdorf 
e de sua filha Charlotte BlensdorfMac-Jannet, tendo sido eu 
uma das primeiras alunas de Jacques-Dalcroze, entrei em con-
tato com representantes dessas novas idéias. Recebi influência 
marcante das experiências do primeiro instituto científico peda-
gógico da Universidade de lena sob direção do professor Peter 
Petersen, assim como das minhas t>xperiências na Primeira Escola 
Liv. • e Jardim de Infância da Dinamarca. Apesar de ter acompa-
nhado as idéias e pesquisas do meu tempo, participando intima-
mente delas, evitei tornar-me dependente de uma teoria rígida 
ou de uma escola estabelecida. 
Esta aspiração à independência de idéias e profissional sem 
dúvida se baseia no meu passado pessoal. Apesar de conhecer 
muitas possibilidades de formação humana, espiritual-corporal, 
encontrar novos caminhos e meios de expressão era, para mim, 
uma necessidade íntima. É preciso estar imbuído de uma moti-
vação irresistível para escapar da força de costumes adquiridos e 
da coerção que visa ao enquadramento no sistema social. O meu 
estado de saúde, no início da minha vida profissional, proporcio-
nou-me essa motivação. Esta força é, portanto, bastante frágil, 
em comparação com as influências normativas que se movem por 
caminhos já traçados. 
Provavelmente o conhecimentoda limitação das minhas 
forças me tenha levado a evitar qualquer filiação a correntes inte-
lectuais da atualidade. Somente assim, consegui, no decorrer dos 
anos, elaborar e aperfeiçoar um método novo sem ser desviada 
pelas idéias e influências dos métodos que me haviam inspirado, 
como, por exemplo, pela escola de Schlaffhorst-Andersen e sua 
XVII 
assistente A nita Hansen, que me proporcionaram valiosa assistên-
cia pessoal. 
Hesitei em escrever este livro, seja pelo receio de que, aquilo 
que para mim representa uma nova descoberta a cada dia, possa 
se cristalizar através desse registro; seja pelo sentimento de impo-
tência perante a tarefa de traduzir em palavras a multiplicidade 
de aspectos de um campo de experiências tão complexo. Sem 
dúvida foi o medo de prejudicar a eutonia, não mais só de minha 
propriedade, com uma obra que poderá provocar sectarismo ou 
ecletismo. 
É típico da prática da eutonia que cada um a experimente 
de maneira diferente, como um caminho pelo qual a vida em si 
se manifesta. Ora, a unidade almejada é criada pelo conjunto de 
inúmeras forças internas e externas que alcançam, dentro de nós, 
por maneiras sempre novas, um equilz'brio dinâmico. É uma ilu-
são pensar que seja possível, por exemplo, treinar certas capaci-
dades isoladamente, pela educação de movimentos, e depois 
juntar num todo essas partes separadas, sem que se perca a tota-
lidade corporal da expressão de movimento. Logo cheguei a essa 
conclusão, quando percebi as limitações impostas, mesmo a 
grandes artistas, por uma determinada formação estereotipada. 
Ajudando o homem a reencontrar as origens de sua espon-
taneidade, desperta-se nele o desejo de livre criação nos mais 
diversos campos artísticos: no desenho, na pintura, na música, 
na arte de representar, na improvisação de movimentos. Na 
improvisação de movimentos livres, que leva à formação de 
movimentos próprios no espaço, objetivando assim a realização 
da espontaneidade, temos uma ajuda valiosa para o encontro e 
conhecimento de si mesmo. Junto com o companheiro e com o 
gn4po, experimentamos a predisposição para o comportamen to 
social, a aceitação do outro na sua maneira única de sentir, a 
adaptação sem perda da própria individualidade. Seria desejável 
que muitos jovens pudessem jàzer uso dessa possibilidade a cuja 
investigação dediquei o trabalho da minha vida. É de extrema 
importância um constante referenciar-se à realidade como fonte 
principal da espontaneidade, e a sua objetivação. Não é indife-
XVIII 
rente a maneira pela qual nos realizamos. Empreendendo essa 
procura em contato permanente com o ambiente, evitamos o 
risco de nos perdermos em perigosas névoas de ideologias. O 
essencial na formação do nosso destino se obtém pelo envol-
vimento na vida cotidiana. Por esse aspecto fundamental, a 
eutonia se aproxima das grandes correntes de pensamento do 
século XX, às quais pertence essencialmente a "nova pedagogia". 
Esta explíca a profunda compreensão que meu trabalho obteve 
na França, numa sociedade cuja atividade se baseia na idéia da 
educação nova, primordialmente nos Centres d'Entrainement 
aux Méthodes d'Education Active, com os quais colaboro há 
muitos anos. 
A experiência de captar o ser na sua totalidade, partindo 
de um contato vivo através de experiências vivenciadas e obser-
vadas no ambiente, está em relação com a idéia básica da "nova 
pedagogia", como caminho para a realização de si mesmo pela 
abertura completa para os homens e para o fenômeno total da 
vida. Mais um ponto fica claro através deste paralelo entre euto-
nia e "nova pedagogia": o respeito pela pessoa. O paralelo entre 
eutonia e "nova pedagogia" resulta da recusa de qualquer norma 
e qualquer modelo, de toda ritualização de gestos ou mecaniza-
ção de movimentos, de qualquer mera conveniência. 
Isto implica que o aluno tenha o papel principal no trabalho 
de eutonia. Ele mesmo tem que fazer suas descobertas e traba-
lhar para sua evolução. Educação e reabilitação são primordial-
mente assunto da pessoa envolvida, e não do professor, cujo 
papel é a motivação do processo, que não tem nada a ver com 
passividade, nem com influência nonnativa sobre o aluno. 
Por isso, a eutonia não é absolutamente um método no sen-
tido tradicional, mas uma postura perante os homens e a vida. 
Os procedimentos específicos que ela oferece e que representam 
hoje em dia um instrumental coerente de propostas de trabalho, 
só têm sentido dentro desta perspectiva. 
Mas é exatamente por essa razão que tanto a eutonia como 
a "nova pedagogia" são tão controvertidas. As resistências hist~ 
ricas e sociais que elas enfrentam, e que não cabe analisar aqui, 
XIX 
assistente A nita Hansen, que me proporcionaram valiosa assistên-
cia pessoal. 
Hesitei em escrever este livro, seja pelo receio de que, aquilo 
que para mim representa uma nova descoberta a cada dia, possa 
se cristalizar através desse registro; seja pelo sentimento de impo-
tência perante a tarefa de traduzir em palavras a multiplicidade 
de aspectos de um campo de experiências tão complexo. Sem 
dúvida foi o medo de prejudicar a eutonia, não mais só de minha 
propriedade, com uma obra que poderá provocar sectarismo ou 
ecletismo. 
É típico da prática da eutonia que cada um a experimente 
de maneira diferente, como um caminho pelo qual a vida em si 
se manifesta. Ora, a unidade almejada é criada pelo conjunto de 
inúmeras forças internas e externas que alcançam, dentro de nós, 
por maneiras sempre novas, um equilz'brio dinâmico. É uma ilu-
são pensar que seja possível, por exemplo, treinar certas capaci-
dades isoladamente, pela educação de movimentos, e depois 
juntar num todo essas partes separadas, sem que se perca a tota-
lidade corporal da expressão de movimento. Logo cheguei a essa 
conclusão, quando percebi as limitações impostas, mesmo a 
grandes artistas, por uma determinada formação estereotipada. 
Ajudando o homem a reencontrar as origens de sua espon-
taneidade, desperta-se nele o desejo de livre criação nos mais 
diversos campos artísticos: no desenho, na pintura, na música, 
na arte de representar, na improvisação de movimentos. Na 
improvisação de movimentos livres, que leva à formação de 
movimentos próprios no espaço, objetivando assim a realização 
da espontaneidade, temos uma ajuda valiosa para o encontro e 
conhecimento de si mesmo. Junto com o companheiro e com o 
gn4po, experimentamos a predisposição para o comportamen to 
social, a aceitação do outro na sua maneira única de sentir, a 
adaptação sem perda da própria individualidade. Seria desejável 
que muitos jovens pudessem jàzer uso dessa possibilidade a cuja 
investigação dediquei o trabalho da minha vida. É de extrema 
importância um constante referenciar-se à realidade como fonte 
principal da espontaneidade, e a sua objetivação. Não é indife-
XVIII 
rente a maneira pela qual nos realizamos. Empreendendo essa 
procura em contato permanente com o ambiente, evitamos o 
risco de nos perdermos em perigosas névoas de ideologias. O 
essencial na formação do nosso destino se obtém pelo envol-
vimento na vida cotidiana. Por esse aspecto fundamental, a 
eutonia se aproxima das grandes correntes de pensamento do 
século XX, às quais pertence essencialmente a "nova pedagogia". 
Esta explíca a profunda compreensão que meu trabalho obteve 
na França, numa sociedade cuja atividade se baseia na idéia da 
educação nova, primordialmente nos Centres d'Entrainement 
aux Méthodes d'Education Active, com os quais colaboro há 
muitos anos. 
A experiência de captar o ser na sua totalidade, partindo 
de um contato vivo através de experiências vivenciadas e obser-
vadas no ambiente, está em relação com a idéia básica da "nova 
pedagogia", como caminho para a realização de si mesmo pela 
abertura completa para os homens e para o fenômeno total da 
vida. Mais um ponto fica claro através deste paralelo entre euto-
nia e "nova pedagogia": o respeito pela pessoa. O paralelo entre 
eutonia e "nova pedagogia" resulta da recusa de qualquernorma 
e qualquer modelo, de toda ritualização de gestos ou mecaniza-
ção de movimentos, de qualquer mera conveniência. 
Isto implica que o aluno tenha o papel principal no trabalho 
de eutonia. Ele mesmo tem que fazer suas descobertas e traba-
lhar para sua evolução. Educação e reabilitação são primordial-
mente assunto da pessoa envolvida, e não do professor, cujo 
papel é a motivação do processo, que não tem nada a ver com 
passividade, nem com influência nonnativa sobre o aluno. 
Por isso, a eutonia não é absolutamente um método no sen-
tido tradicional, mas uma postura perante os homens e a vida. 
Os procedimentos específicos que ela oferece e que representam 
hoje em dia um instrumental coerente de propostas de trabalho, 
só têm sentido dentro desta perspectiva. 
Mas é exatamente por essa razão que tanto a eutonia como 
a "nova pedagogia" são tão controvertidas. As resistências hist~ 
ricas e sociais que elas enfrentam, e que não cabe analisar aqui, 
XIX 
não são os únicos responsáveis por essa situação. É antes a nossa 
condição de ainda não estarmos preparados para as devidas mu-
danças, de maneira que, mesmo os que se referem à eutonia 
muitas vezes a distorcem, sem terem consciência disso -na me-
dida em que favorecem todas as formas possíveis de aplicação 
estranha, alterando tanto o sentido da eufonia, que tudo o que 
resta é um aglomerado de meras técnicas. 
Gerda Alexander 
Copenhague, março de 1978. 
XX 
Índice 
Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época ....... . 
PRIMEIRA PARTE 
Os princípios da eutonia 
I. O que é eutonia?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 
O tônus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 
A respiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 
Tato e contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 
O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 
Conseqüências da regularização das tensões . . . . . . . . . 24 
Importância fundamental da educação dos sentidos . . . . 25 
A eutonia e o conhecimento científico atual. . . . . . . . . 27 
A formação profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 
11. Eutonia e pedagogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
O trabalho em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 
Tomada de consciência dos ossos . . . . . . . . . . . . . . . . 37 
O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 
Contato com os outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 
III. Eutonia e terapia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 7 
não são os únicos responsáveis por essa situação. É antes a nossa 
condição de ainda não estarmos preparados para as devidas mu-
danças, de maneira que, mesmo os que se referem à eutonia 
muitas vezes a distorcem, sem terem consciência disso -na me-
dida em que favorecem todas as formas possíveis de aplicação 
estranha, alterando tanto o sentido da eufonia, que tudo o que 
resta é um aglomerado de meras técnicas. 
Gerda Alexander 
Copenhague, março de 1978. 
XX 
Índice 
Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época ....... . 
PRIMEIRA PARTE 
Os princípios da eutonia 
I. O que é eutonia?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 
O tônus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 
A respiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 
Tato e contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 
O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 
Conseqüências da regularização das tensões . . . . . . . . . 24 
Importância fundamental da educação dos sentidos . . . . 25 
A eutonia e o conhecimento científico atual. . . . . . . . . 27 
A formação profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 
11. Eutonia e pedagogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
O trabalho em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 
Tomada de consciência dos ossos . . . . . . . . . . . . . . . . 37 
O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 
Contato com os outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 
III. Eutonia e terapia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 7 
SEGUNDA PARTE 
Aplicações da eutonia 
I. Seleção de comentários, desenhos e modelagens de 
um grupo de alunos de eutonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 
11. A imagem do nosso corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 
III. Posições de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 
IV. Registros fisiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 25 
V. Pinturas ............... . ........ .. ....... . . . 127 
VI. Exemplos de aplicações terapêuticas. . . . . . . . . . . . . . 131 
VII. A eutonia na emissora de rádio estatal dinamarquesa 159 
Apêndice 
Histórico do termo eutonia" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 
Histórico do ensino da eutonia e da terapia eutônica. . . . . . 169 
Professores diplomados em eutonia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 
Prólogo: O lugar da eutonia 
no espírito da época 
Hoje fala-se muito - entre lamentos e acusações- da decadên-
cia da cultura européia, de um relaxamento dos costumes, do 
ocaso do ethos, do desaparecimento da fé religiosa enquanto 
força, e do triunfo do materialismo. Pode ser que fiquemos desa-
nimados quando nos vemos forçados a admitir que a maior parte 
dessas queixas se justificam. Entretanto, esses sintomas de 
decomposição que nos saltam aos olhos não devem ser conside-
rados apenas como algo negativo. Acontece que atualmente 
estamos atravessando um limiar cultural tão completo e trans-
cendente como o que o homem atravessou no fim da Idade da 
Pedra. Existem novidades essenciais que lutam por um papel 
claro na sensibilidade, na consciência e na ação do ser humano. 
E essa é a razão pela qual boa parte do que é tradicional e até 
agora vigente, incluindo o que é de natu reza mais nobre, começa 
a definhar. Mas este processo - doloroso sob um certo ponto de 
vista - não significa o "ocaso do Ocidente" , mas sim o começo 
de uma nova fase criativa da Europa. 
Quem achar que é preciso ser pessimista com relação à 
situação das idéias do Ocidente, certamente não deixará de 
encontrar razões que o justifiquem. Mas esse pessimismo é, pelo 
menos, uma visão parcial. A quantidade de forças criativas que 
se manifestam na Europa de hoje justifica uma visão otimista. 
É verdade que o solo da cultura européia tem sido revolvido e 
arado ... e em seus sulcos já brota a nova semente. 
SEGUNDA PARTE 
Aplicações da eutonia 
I. Seleção de comentários, desenhos e modelagens de 
um grupo de alunos de eutonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 
11. A imagem do nosso corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 
III. Posições de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 
IV. Registros fisiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 25 
V. Pinturas ............... . ........ .. ....... . . . 127 
VI. Exemplos de aplicações terapêuticas. . . . . . . . . . . . . . 131 
VII. A eutonia na emissora de rádio estatal dinamarquesa 159 
Apêndice 
Histórico do termo eutonia" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 
Histórico do ensino da eutonia e da terapia eutônica. . . . . . 169 
Professores diplomados em eutonia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 
Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 
Prólogo: O lugar da eutonia 
no espírito da época 
Hoje fala-se muito - entre lamentos e acusações- da decadên-
ciada cultura européia, de um relaxamento dos costumes, do 
ocaso do ethos, do desaparecimento da fé religiosa enquanto 
força, e do triunfo do materialismo. Pode ser que fiquemos desa-
nimados quando nos vemos forçados a admitir que a maior parte 
dessas queixas se justificam. Entretanto, esses sintomas de 
decomposição que nos saltam aos olhos não devem ser conside-
rados apenas como algo negativo. Acontece que atualmente 
estamos atravessando um limiar cultural tão completo e trans-
cendente como o que o homem atravessou no fim da Idade da 
Pedra. Existem novidades essenciais que lutam por um papel 
claro na sensibilidade, na consciência e na ação do ser humano. 
E essa é a razão pela qual boa parte do que é tradicional e até 
agora vigente, incluindo o que é de natu reza mais nobre, começa 
a definhar. Mas este processo - doloroso sob um certo ponto de 
vista - não significa o "ocaso do Ocidente" , mas sim o começo 
de uma nova fase criativa da Europa. 
Quem achar que é preciso ser pessimista com relação à 
situação das idéias do Ocidente, certamente não deixará de 
encontrar razões que o justifiquem. Mas esse pessimismo é, pelo 
menos, uma visão parcial. A quantidade de forças criativas que 
se manifestam na Europa de hoje justifica uma visão otimista. 
É verdade que o solo da cultura européia tem sido revolvido e 
arado ... e em seus sulcos já brota a nova semente. 
Os processos criativos, que ocorrem em profusão, não só 
favorecem o futuro da Europa como também a subsistência de 
toda a humanidade. Ora, a maioria dos povos não europeus esta-
ria condenada a perecer sem as novas idéias e os novos métodos 
de estruturação da vida que estão sendo desenvolvidos na Euro-
pa. Neste continente encontra-se, hoje, a oficina de criação de 
todos os povos, mesmo quando observamos alarmados os aspec-
tos sombrios do tremendo processo cultural e técnico, que pro-
curamos frear. 
Mas, por mais fundamentais que sejam, para a renovação 
da Europa, as invenções técnicas - sem as quais nossa vida na 
Terra seria impossível -, sua importância é superada pela nova 
imagem do homem que vem se desenvolvendo desde fins do 
século XVIII. Nossa imagem do homem, tudo o que considera-
mos valioso e digno de ser realizado nele, determina a totalidade 
da cultura, os direitos e os deveres do ser humano, sua relação 
com o Divino e com a ordem social. E nesse aspecto produziram-
-se verdadeiras revoluções. Depois que, no século XIX, o homem 
foi decomposto em partes, para nos apoderarmos das forças e 
funções surgidas dessa dissecação, uma geração de estudiosos do 
século XX redescobriu o ser humano na sua totalidade indivisí-
vel. Isso significou uma mudança decisiva de enfoque. Essa "nova 
consciência" assim surgida, que já não atua só de forma lógica, 
mas também paralógica, começa a manifestar-se em diferentes 
domínios da vida européia, apesar de ainda encontrar resistências 
previsíveis. Manifesta-se numa medicina que não considera só os 
sintomas da doença, mas também o homem inteiro, numa psico-
logia que pretende chegar até as raízes da consciência e que reco-
nhece a íntima relação entre sorna, psique e pneurna : numa étka 
que é capaz de vincular a sujeição do homem a seu eu, e o ''tu" 
do próximo ... e, fi,lalmente, numa interpretação diferente do 
corpo, que investiga sua realidade e simbolismo. 
Sob a ótica da "nova consciência", o corpo já não é só uma 
máquina que funciona bem ou mal, já não é só um instrumento 
do homme machine; por outro lado, também não é a parte pere-
2 
cível do ser humano, que contrasta com sua "alma imortal". 
Corpo e alma são considerados agora como unidade, como ele-
mentos provenientes de uma mesma raiz. Ambos se vivificam 
mutuamente. A psique informa o corpo, a partir do interior, 
sobre os impulsos e leis que transcendem o tempo. O corpo, por 
sua vez, atua sobre a psique ao lhe proporcionar informações 
sobre a realidade temporal. Corpo e alma são irmãos surgidos de 
um mesmo ventre ... só reunidos é que constituem "o homem". 
A "nova consciência", porém, deve lutar contra duas forças 
retardativas. Por um lado, há a resistência oferecida pela atitude 
científica analítica, que continua predominando em amplos 
círculos intelectuais e científicos ... ainda que apenas por razões 
de conveniência, pois o homem "dividido" é comercializado com 
maior facilidade e com melhores lucros. Esses setores procuram 
evitar, ou pelo menos retardar, o aparecimento da "nova cons-
ciência". A segunda tendência retardativa provém da Ásia. Atra-
vés de um longo processo, a Europa abriu a Ásia para si. Mas 
agora é o espírito asiático que flui cada vez com maior liberdade 
na direção do Ocidente. E como os ocidentais estão cansados de 
sua própria tradição, caem no Jascínio do exótico. Conseqüente-
mente, o europeu abandona o solo firme do espírito ocidental e 
se perde numa bruma de palavras e conceitos que jamais teriam 
surgido de um cérebro europeu e que jamais poderão ser incul-
cados com proveito em cérebros europeus ... "A imitação do 
Oriente é um mal-entendido trágico, porque está em desacordo 
com a psicologia ... Por isso é lamentável que o europeu renuncie 
a si mesmo, para imitar e desnaturalizar o Oriente." Essas frases 
pertencem a um profundo conhecedor da sabedoria oriental e 
da psique do homem ocidental: o célebre psicólogo C. G. Jung. 
Aponta com elas o perigo que ameaça os impulsos criativos da 
Europa. Esse perigo, que provém da Índia e da Ásia oriental, 
consiste na regressão a um período do mundo e do espírito em 
plena fase de extinção. O aparecimento e o desenvolvimento 
da "nova consciência", que se dispõe a colocar em marcha a 
autêntica revolução mundial - uma revolução que não se limita 
ao político -, não se poderá cumprir, quando experimentar 
3 
Os processos criativos, que ocorrem em profusão, não só 
favorecem o futuro da Europa como também a subsistência de 
toda a humanidade. Ora, a maioria dos povos não europeus esta-
ria condenada a perecer sem as novas idéias e os novos métodos 
de estruturação da vida que estão sendo desenvolvidos na Euro-
pa. Neste continente encontra-se, hoje, a oficina de criação de 
todos os povos, mesmo quando observamos alarmados os aspec-
tos sombrios do tremendo processo cultural e técnico, que pro-
curamos frear. 
Mas, por mais fundamentais que sejam, para a renovação 
da Europa, as invenções técnicas - sem as quais nossa vida na 
Terra seria impossível -, sua importância é superada pela nova 
imagem do homem que vem se desenvolvendo desde fins do 
século XVIII. Nossa imagem do homem, tudo o que considera-
mos valioso e digno de ser realizado nele, determina a totalidade 
da cultura, os direitos e os deveres do ser humano, sua relação 
com o Divino e com a ordem social. E nesse aspecto produziram-
-se verdadeiras revoluções. Depois que, no século XIX, o homem 
foi decomposto em partes, para nos apoderarmos das forças e 
funções surgidas dessa dissecação, uma geração de estudiosos do 
século XX redescobriu o ser humano na sua totalidade indivisí-
vel. Isso significou uma mudança decisiva de enfoque. Essa "nova 
consciência" assim surgida, que já não atua só de forma lógica, 
mas também paralógica, começa a manifestar-se em diferentes 
domínios da vida européia, apesar de ainda encontrar resistências 
previsíveis. Manifesta-se numa medicina que não considera só os 
sintomas da doença, mas também o homem inteiro, numa psico-
logia que pretende chegar até as raízes da consciência e que reco-
nhece a íntima relação entre sorna, psique e pneurna : numa étka 
que é capaz de vincular a sujeição do homem a seu eu, e o ''tu" 
do próximo ... e, fi,lalmente, numa interpretação diferente do 
corpo, que investiga sua realidade e simbolismo. 
Sob a ótica da "nova consciência", o corpo já não é só uma 
máquina que funciona bem ou mal, já não é só um instrumento 
do homme machine; por outro lado, também não é a parte pere-
2 
cível do ser humano, que contrasta com sua "alma imortal". 
Corpo e alma são considerados agora como unidade,como ele-
mentos provenientes de uma mesma raiz. Ambos se vivificam 
mutuamente. A psique informa o corpo, a partir do interior, 
sobre os impulsos e leis que transcendem o tempo. O corpo, por 
sua vez, atua sobre a psique ao lhe proporcionar informações 
sobre a realidade temporal. Corpo e alma são irmãos surgidos de 
um mesmo ventre ... só reunidos é que constituem "o homem". 
A "nova consciência", porém, deve lutar contra duas forças 
retardativas. Por um lado, há a resistência oferecida pela atitude 
científica analítica, que continua predominando em amplos 
círculos intelectuais e científicos ... ainda que apenas por razões 
de conveniência, pois o homem "dividido" é comercializado com 
maior facilidade e com melhores lucros. Esses setores procuram 
evitar, ou pelo menos retardar, o aparecimento da "nova cons-
ciência". A segunda tendência retardativa provém da Ásia. Atra-
vés de um longo processo, a Europa abriu a Ásia para si. Mas 
agora é o espírito asiático que flui cada vez com maior liberdade 
na direção do Ocidente. E como os ocidentais estão cansados de 
sua própria tradição, caem no Jascínio do exótico. Conseqüente-
mente, o europeu abandona o solo firme do espírito ocidental e 
se perde numa bruma de palavras e conceitos que jamais teriam 
surgido de um cérebro europeu e que jamais poderão ser incul-
cados com proveito em cérebros europeus ... "A imitação do 
Oriente é um mal-entendido trágico, porque está em desacordo 
com a psicologia ... Por isso é lamentável que o europeu renuncie 
a si mesmo, para imitar e desnaturalizar o Oriente." Essas frases 
pertencem a um profundo conhecedor da sabedoria oriental e 
da psique do homem ocidental: o célebre psicólogo C. G. Jung. 
Aponta com elas o perigo que ameaça os impulsos criativos da 
Europa. Esse perigo, que provém da Índia e da Ásia oriental, 
consiste na regressão a um período do mundo e do espírito em 
plena fase de extinção. O aparecimento e o desenvolvimento 
da "nova consciência", que se dispõe a colocar em marcha a 
autêntica revolução mundial - uma revolução que não se limita 
ao político -, não se poderá cumprir, quando experimentar 
3 
sinais de cansaço, se o europeu se apoiar no passado. Nessa situa-
ção precisamos nos manter alertas e ser capazes de diferenciar. 
A concepção do corpo, estimulada pela "nova consciência", 
não surgiu de repente, mas seu caudal se formou com a partici-
pação de muitos afluentes. Ao mencionar os principais criadores 
e inspiradores dessa nova e complexa concepção do corpo, tra-
çamos como que uma história do movimento. Integram esta 
lista, que bem poderia ser ampliada: P. Delsarte, Leo Kofler, 
Jaques-Dalcroze, G. Stebbins, C. Schlaffhorst-H. Andersen, B. 
Mensen, fundadores de Loheland, Eisa Gindler, R. Bode, F. M. 
Alexander, H. Medau, a escola Günther, para a qual Orff criou 
sua obra didática, R. von Laban, M. Wigrnan e Rosalia Chladek. 
Entre esses grandes criadores de uma nova consciência do 
corpo, e por conseguinte, de uma nova consciência do homem, 
figura Gerda Alexander. Embora seu ponto de partida tenha 
sido a "ginástica rítmica" de Jaques-Dalcroze, de fundamento 
musical, a educação eutônica do movimento não se baseia na 
música para liberar o ritmo e a dinâmica pessoais do indivíduo, 
que permitem encontrar uma expressão motora própria. Gerda 
Alexander vem desenvolvendo, ao longo de quatro décadas, esse 
"método ocidental para uma tomada de consciência da unidade 
psicofísica do ser humano", método que se conhece como 
"eutonia", ou melhor, "eutonia de Gerda Alexander". No pro-
cesso de formação, os discípulos de Gerda Alexander chegam ao 
conhecimento e à expressão de sua própria natureza, por meio 
de um "compenetrar-se" (que exclui qualquer tipo de sugestão) 
das realidades psicossomáticas dessa natureza. Gerda Alexander 
tem a convicção de que as forças criativas e as características 
inconfundíveis da personalidade não se liberam suprimindo a 
con ciência (como pregam os orientais), mas sim ampliando-a. 
Além disso, a eutonia não é um método de relaxamen to. Isso 
aparece já no termo "eutonia", derivado dos vocábulos gregos 
eu = bem, correto, harmonioso, e tonos = tensão . O propósito 
da eutonia não é o desaparecimento das tensões existentes, mas 
o estabelecimento - como a própria palavra indica - da tensão 
4 
harmoniosa, ou seja, o equilíbrio das diferentes tensões que coe-
xistem no corpo, um equilíbrio do tônus geral. 
Um dos objetivos da eutonia é que o homem chegue à sua 
própria essência, encoberta pelos hábitos e pelas exigências do 
meio; que atue de forma criativa, pisando seu próprio solo, e a 
partir deste. Esse objetivo se alcança por meio de exercícios que, 
no entanto, não se devem orientar pela imitação de modelos. 
Por isso, o verdadeiro objetivo é a eutonia da personalidade em 
geral. Para isso, Gerda Alexander criou diversos meios, que aqui 
só mencionaremos de passagem: a consciência do corpo, as varia-
ções voluntárias do tônus, a técnica do contato e da irradiação, 
o contato espacial , o "estiramento", o "fluxo" para além do 
limite visível do espaço corporal, o compenetrar-se de cada seg-
mento de pele e cada espaço interior do corpo, incluindo os 
vasos sangüíneos e os ossos. O curioso é que para tudo isso só 
se recorra a "meios simples". Não existem grandes gesticulações 
nem movimentos de descarga (grande parte do trabalho se faz 
com a pessoa deitada no chão). Com um mínimo de esforço 
alcança-se um máximo de resultado. 
E é assim que o princípio básico de Gerda Alexander, 
"consciência da natureza essencial através de uma tomada de 
consciência do corpo", tem contribuído para a gestação da 
"nova consciência", através da qual se descobrem novas dimen-
sões do ser humano. 
Uma das convicções que serviu de estímulo à sua tarefa de 
quarenta anos é a de que o homem é m aior e mais profundo do 
que hoje se supõe e que esse " homem maior", que quer fazer 
sua entrada no âmbito da h istória em meio a dores de parto e 
desgarramentos, exige tam bém um âm bito mais profundo e mais 
amplo para sua realização, e é preciso proporcionar-lhe isso. 
Alfons Rosen berg 
5 
sinais de cansaço, se o europeu se apoiar no passado. Nessa situa-
ção precisamos nos manter alertas e ser capazes de diferenciar. 
A concepção do corpo, estimulada pela "nova consciência", 
não surgiu de repente, mas seu caudal se formou com a partici-
pação de muitos afluentes. Ao mencionar os principais criadores 
e inspiradores dessa nova e complexa concepção do corpo, tra-
çamos como que uma história do movimento. Integram esta 
lista, que bem poderia ser ampliada: P. Delsarte, Leo Kofler, 
Jaques-Dalcroze, G. Stebbins, C. Schlaffhorst-H. Andersen, B. 
Mensen, fundadores de Loheland, Eisa Gindler, R. Bode, F. M. 
Alexander, H. Medau, a escola Günther, para a qual Orff criou 
sua obra didática, R. von Laban, M. Wigrnan e Rosalia Chladek. 
Entre esses grandes criadores de uma nova consciência do 
corpo, e por conseguinte, de uma nova consciência do homem, 
figura Gerda Alexander. Embora seu ponto de partida tenha 
sido a "ginástica rítmica" de Jaques-Dalcroze, de fundamento 
musical, a educação eutônica do movimento não se baseia na 
música para liberar o ritmo e a dinâmica pessoais do indivíduo, 
que permitem encontrar uma expressão motora própria. Gerda 
Alexander vem desenvolvendo, ao longo de quatro décadas, esse 
"método ocidental para uma tomada de consciência da unidade 
psicofísica do ser humano", método que se conhece como 
"eutonia", ou melhor, "eutonia de Gerda Alexander". No pro-
cesso de formação, os discípulos de Gerda Alexander chegam ao 
conhecimento e à expressão de sua própria natureza, por meio 
de um "compenetrar-se" (que exclui qualquer tipo de sugestão) 
das realidades psicossomáticas dessa natureza. Gerda Alexander 
tem a convicção de que as forças criativas e as características 
inconfundíveis da personalidade não se liberam suprimindo a 
con ciência (como pregam os orientais), mas sim ampliando-a. 
Além disso, a eutonia não é um método

Outros materiais