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Gerda Alexander • n Um caminho para a percepcão corporal TRADUÇÃO José Luis Mora Fuentes REVISÃO T:fCNICA Eugênia Tereza de Andrade Martins Fontes Gerda Alexander • n Um caminho para a percepcão corporal TRADUÇÃO José Luis Mora Fuentes REVISÃO T:fCNICA Eugênia Tereza de Andrade Martins Fontes Título original: Eutonie- Ein Weg der KO"rperlichen Selbsterfahrung © Kosel-Verlag GmbH & Co., 1976 1~ edição brasileira: fevereiro de 1983 Revisão: Monica S. M. da Silva Preparação de original: Elvira da Rocha Pinto CIP-Br11111. Catalogaç&o-na-PubllcaQIO c•mera Brulleln do Livro, SP Ale_xander, Gerd.a. Eutonia : um caminho para a peree~ção corpo- ral I Gerda Alexander ; tradução Jose Luis Hora Fuentes ; revisão MÔnica s. M. da Silva ; revi- eão técnica Eugênia Tereza de Andrade. -- São Paulo : Martins Fonte.s, 1983. Bibliografia. L Autopercepção 2. Expressão corporal 3. I- me.gem corporal 4. Relaxamento I. T{tulo. lnd!ces para catílogo 1latemãtlco: CDD-152 -152.1 =~~;:~q 1. Autopercepção : Psicologia fiaiolÓ§ica 152.1 2. Corpo : Imagem : Psicologia .fiaiologica 152 3. Expressão corporal : Aptidão risica : Higiene 613.7 4. Imagem corporal : Psicologia fisiolÓgico. 152 5· Relaxamento : Higieoe 613.79 Produção gráfica: Nilton Thomé Assistente de produção: Carlos To mio Kurata Composição: Ademilde L. da Silva c Lúcia Spósito Revisão tipográfica: Nilza Agua e Hercí'lio de Lourenzi Paste-up: Newton Guarino Filho Todos os direitos desta edição reservados à LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LIDA. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 01325 -São Paulo- SP- Brasil Introdução à edição brasileira Conheci a Eutonia de Cerda Alexander através de Patrícia Stokoe, de Buenos Aires, e do seu trabalho de Sensopercepção, no qual os elementos básicos da Eutonia servem de suporte para a Expressão Corporal. Os ensinamentos de Cerda Alexander vieram juntar-se aos de Rudolf Laban e de Stanislawsky e à minha prática de artista e educadora nas linguagens do Teatro e da Expressão Corporal. Por outro lado, vejo na Eutonia a possibilidade do homem expe- rimentar, através do sensível, ser objeto e sujeito de constante transformação. Essa vivência e essa compreensão da Eutonia fizeram com que eu passasse a me empenhar na divulgação desse trabalho. Eutonia é uma obra humana e científica. Incorpora de Henri Wallon o estudo da origem da consciência corporal e sua contribuição mais expressiva: o caráter emocional do tônus mus- cular. Nega a compartimentação do indivíduo, aborda-o tão somente em sua "unidade". Sua eficiência foi comprovada na cura de múltiplas patologias. A obra de Cerda Alexander é pio- neira, adiantou-se curando. Alcançou-a posteriormente a teoria para justificá-la e ampliar-lhe as possibilidades. A Eutonia não adota modelos. Se o fizesse não atingiria a profundidade que pretende. Adotá-los seria impedir o aflora- mento da espontaneidade, seria inibir a investigação necessária a este processo criador. Adotá-los seria impedir o delineamento v Título original: Eutonie- Ein Weg der KO"rperlichen Selbsterfahrung © Kosel-Verlag GmbH & Co., 1976 1~ edição brasileira: fevereiro de 1983 Revisão: Monica S. M. da Silva Preparação de original: Elvira da Rocha Pinto CIP-Br11111. Catalogaç&o-na-PubllcaQIO c•mera Brulleln do Livro, SP Ale_xander, Gerd.a. Eutonia : um caminho para a peree~ção corpo- ral I Gerda Alexander ; tradução Jose Luis Hora Fuentes ; revisão MÔnica s. M. da Silva ; revi- eão técnica Eugênia Tereza de Andrade. -- São Paulo : Martins Fonte.s, 1983. Bibliografia. L Autopercepção 2. Expressão corporal 3. I- me.gem corporal 4. Relaxamento I. T{tulo. lnd!ces para catílogo 1latemãtlco: CDD-152 -152.1 =~~;:~q 1. Autopercepção : Psicologia fiaiolÓ§ica 152.1 2. Corpo : Imagem : Psicologia .fiaiologica 152 3. Expressão corporal : Aptidão risica : Higiene 613.7 4. Imagem corporal : Psicologia fisiolÓgico. 152 5· Relaxamento : Higieoe 613.79 Produção gráfica: Nilton Thomé Assistente de produção: Carlos To mio Kurata Composição: Ademilde L. da Silva c Lúcia Spósito Revisão tipográfica: Nilza Agua e Hercí'lio de Lourenzi Paste-up: Newton Guarino Filho Todos os direitos desta edição reservados à LIVRARIA MARTINS FONTES EDITORA LIDA. Rua Conselheiro Ramalho, 330/340 01325 -São Paulo- SP- Brasil Introdução à edição brasileira Conheci a Eutonia de Cerda Alexander através de Patrícia Stokoe, de Buenos Aires, e do seu trabalho de Sensopercepção, no qual os elementos básicos da Eutonia servem de suporte para a Expressão Corporal. Os ensinamentos de Cerda Alexander vieram juntar-se aos de Rudolf Laban e de Stanislawsky e à minha prática de artista e educadora nas linguagens do Teatro e da Expressão Corporal. Por outro lado, vejo na Eutonia a possibilidade do homem expe- rimentar, através do sensível, ser objeto e sujeito de constante transformação. Essa vivência e essa compreensão da Eutonia fizeram com que eu passasse a me empenhar na divulgação desse trabalho. Eutonia é uma obra humana e científica. Incorpora de Henri Wallon o estudo da origem da consciência corporal e sua contribuição mais expressiva: o caráter emocional do tônus mus- cular. Nega a compartimentação do indivíduo, aborda-o tão somente em sua "unidade". Sua eficiência foi comprovada na cura de múltiplas patologias. A obra de Cerda Alexander é pio- neira, adiantou-se curando. Alcançou-a posteriormente a teoria para justificá-la e ampliar-lhe as possibilidades. A Eutonia não adota modelos. Se o fizesse não atingiria a profundidade que pretende. Adotá-los seria impedir o aflora- mento da espontaneidade, seria inibir a investigação necessária a este processo criador. Adotá-los seria impedir o delineamento v das individualidades. Cerda Alexander denomina o seu trabalho de pedagogia terapêutica. A Eutonia se faz entender sobretudo através da prática; a conceituação não lhe basta, nem precede a vivência. Isto é um alerta para os mais afoitos. Um arsenal teórico não substitui a vivência. Aqui, a prática precede a teoria. Assim é nos proces- sos individuais e assim foi na história da Eutonia de Cerda Ale- xander, onde a ciência veio mais tarde justificar o que já eram terapêuticas comprovadas. Há os que se baseiam na introspecção, tendo como via um desligar-se da realidade. E ainda há os que, em nome do desblo- queio, da perda de preconceitos, do rompimento de amarras, tomam o corpo objeto de torturas. A Eutonia impõe-se contra os modismos de técnicas corporais carentes de justificativa cien- tífica e de uma filosofia de respeito humano. A Eutonia não atende ao consumo e, espero, resistirá a todas as modas corporais. Impõe-se como uma postura diante da vida. Implica uma atitude de permanente consciência. Não compactua com a compartimentação do homem. E, se não bas- tasse, atua contra a dessensibilização. Por isso, considero esta edição bràsileira não só oportuna, como necessária. Cerda Alexander tem a humildade dos criadores. Chega a afirmar que sua Eutonia não mais lhe pertence. VI Eugênia Tereza de Andrade Professora de Expressão Corporal e Sensopercepção. Prefácio Dedico este livro aos meus discípulos. O caráter único da per- sonalidade e das reações de cada um deles ensinou-me a rever constantemente minhas observações e experiências a partir de pontos de vista sempre novos. Só assim foi possível traçar dire- trizes universalmente válidas, que podem conduzir o homem de nossa cultura a uma auto-realização consciente. Grandes são as dificuldades com que esbarramos ao tentar explicar este método -ainda que apenas de forma aproximada- a pessoas que não ·têm uma experiência prática consciente do corpo. Apesar disso, tornou-se necessário estabelecer por escrito os fundamentos da eutonia. Dado que o círculo daqueles que difundem os exercícios sem vinculá-los a seus contex tos, sem conhecer seu sentido nem suas relações, vai-se ampliando a cada dia,esta seria a única forma possível de evitar a aplicação inde- vida deste método. Devo expressar meu profundo reconhecimento ao dr. Alfred Bartussek e a Alfons Rosenberg pela sua crítica valiosa e por sua ajuda prática e inteligente: a Verena Dumermuth pela organiza- ção do glossário; ao dr. Christoph Wild por seus conselhos refe- rentes â ordenação do material deste livro. Gerda Alexander Copenhague, abril de 1976. VII das individualidades. Cerda Alexander denomina o seu trabalho de pedagogia terapêutica. A Eutonia se faz entender sobretudo através da prática; a conceituação não lhe basta, nem precede a vivência. Isto é um alerta para os mais afoitos. Um arsenal teórico não substitui a vivência. Aqui, a prática precede a teoria. Assim é nos proces- sos individuais e assim foi na história da Eutonia de Cerda Ale- xander, onde a ciência veio mais tarde justificar o que já eram terapêuticas comprovadas. Há os que se baseiam na introspecção, tendo como via um desligar-se da realidade. E ainda há os que, em nome do desblo- queio, da perda de preconceitos, do rompimento de amarras, tomam o corpo objeto de torturas. A Eutonia impõe-se contra os modismos de técnicas corporais carentes de justificativa cien- tífica e de uma filosofia de respeito humano. A Eutonia não atende ao consumo e, espero, resistirá a todas as modas corporais. Impõe-se como uma postura diante da vida. Implica uma atitude de permanente consciência. Não compactua com a compartimentação do homem. E, se não bas- tasse, atua contra a dessensibilização. Por isso, considero esta edição bràsileira não só oportuna, como necessária. Cerda Alexander tem a humildade dos criadores. Chega a afirmar que sua Eutonia não mais lhe pertence. VI Eugênia Tereza de Andrade Professora de Expressão Corporal e Sensopercepção. Prefácio Dedico este livro aos meus discípulos. O caráter único da per- sonalidade e das reações de cada um deles ensinou-me a rever constantemente minhas observações e experiências a partir de pontos de vista sempre novos. Só assim foi possível traçar dire- trizes universalmente válidas, que podem conduzir o homem de nossa cultura a uma auto-realização consciente. Grandes são as dificuldades com que esbarramos ao tentar explicar este método -ainda que apenas de forma aproximada- a pessoas que não ·têm uma experiência prática consciente do corpo. Apesar disso, tornou-se necessário estabelecer por escrito os fundamentos da eutonia. Dado que o círculo daqueles que difundem os exercícios sem vinculá-los a seus contex tos, sem conhecer seu sentido nem suas relações, vai-se ampliando a cada dia, esta seria a única forma possível de evitar a aplicação inde- vida deste método. Devo expressar meu profundo reconhecimento ao dr. Alfred Bartussek e a Alfons Rosenberg pela sua crítica valiosa e por sua ajuda prática e inteligente: a Verena Dumermuth pela organiza- ção do glossário; ao dr. Christoph Wild por seus conselhos refe- rentes â ordenação do material deste livro. Gerda Alexander Copenhague, abril de 1976. VII Prefácio à terceira edição Dedico este livro, em primeiro lugar, aos professores por mim formados desde 1940, e que fizeram da eutonia elemento funda- mental de suas vidas. Não foi minha intenção, e nem me parecia possível, esgotar todos os aspectos da eutonia. Essa intenção já estaria, de início, fadada ao fra casso, porque a eufonia não é, de forma nenhuma, um sistema isolado da prática cotidiana; ela está constantemente ligada a todos os aspectos e atividades da vida. A eufonia concerne tanto ao sadio quanto ao doente, tanto ao esportista quanto ao dançarino, tanto aos que lidam com o físico quanto aos que lidam com o psíquico. Por isso, essa diver- sidade de atuação da eutonia proporciona, através de sua estru- tura básica, múltiplas experiências, especialmente aos professo- res de eufonia. Assim, no meu trabalho salientei especialmente os aspectos que julguei fundamentais e que, ao mesmo tempo, se distinguem basicamen te dos sistemas atuais de foT71Ulção m en- tal e corporal do homem. Essa distinção necessária não representa uma cr ftica aos métodos consagrados de desenvolvimento da individualidade em harmonia com as exigências da sociedade. Tenha consciência de que esta tarefa será sempre enfrentada com empenho por cada geração. Mas muitas e variadas observações me levaram a reco- nhecer que a eufonia não se identifica com o ecletismo que, hoje em dia, muitos terapeutas se julgam autorizados a praticar, por considerarem a eufonia como uma simples técnica, entre muitas IX Prefácio à terceira edição Dedico este livro, em primeiro lugar, aos professores por mim formados desde 1940, e que fizeram da eutonia elemento funda- mental de suas vidas. Não foi minha intenção, e nem me parecia possível, esgotar todos os aspectos da eutonia. Essa intenção já estaria, de início, fadada ao fra casso, porque a eufonia não é, de forma nenhuma, um sistema isolado da prática cotidiana; ela está constantemente ligada a todos os aspectos e atividades da vida. A eufonia concerne tanto ao sadio quanto ao doente, tanto ao esportista quanto ao dançarino, tanto aos que lidam com o físico quanto aos que lidam com o psíquico. Por isso, essa diver- sidade de atuação da eutonia proporciona, através de sua estru- tura básica, múltiplas experiências, especialmente aos professo- res de eufonia. Assim, no meu trabalho salientei especialmente os aspectos que julguei fundamentais e que, ao mesmo tempo, se distinguem basicamen te dos sistemas atuais de foT71Ulção m en- tal e corporal do homem. Essa distinção necessária não representa uma cr ftica aos métodos consagrados de desenvolvimento da individualidade em harmonia com as exigências da sociedade. Tenha consciência de que esta tarefa será sempre enfrentada com empenho por cada geração. Mas muitas e variadas observações me levaram a reco- nhecer que a eufonia não se identifica com o ecletismo que, hoje em dia, muitos terapeutas se julgam autorizados a praticar, por considerarem a eufonia como uma simples técnica, entre muitas IX outras. Por isso é necessário observar que a maioria dos métodos de treinamento corporal praticados hoje se baseiam em princí- pios opostos aos da eu tonta. Essas práticas, portanto, não podem ser associadas à eufonia sem que ela seja distorcida na sua essên- cia. Façamos um resumo de alguns princípios da eufonia para provar esta afirmação. Lembremo-nos, primeiramente, de que o relaxamento, um aspecto do domínio do tônus, representa apenas parte da eutonia. A eutonia se baseia na sensação tátil consciente, no desenvolvimento da sensibilidade superficial e profunda. Evita, portanto, qualquer sugestão ou influência direta sobre a respiração, trabalha somente com influências indi- retas sobre as ftmções vegetativas. Sua pedagogia se baseia na realização do ritmo pessoal de cada aluno através da apresenta- ção de propostas que exigem soluções próprias, sem que haja um modelo a ser seguido. A "presença"(*) e o contato perma- nente com o ambiente, um aspecto essencial da eufonia, desen- volveu-se no decorrer do trabalho. O tato e o contato das pes- soas entre si pressupõem uma normalização e domínio do tônus para que cada parceiro não prejudique o outro pela transferên- cia do seu modo de atuar ou de suas próprias dificuldades. Trata- -se, portanto, no trabalho eutônico, de estar aberto e receptivo aos outros, sem enfraquecer a própria personalidade. Há métodos que se distinguem pelo uso de sugestões, pela influência prévia sobre a respiração, pela apresentação de modelos, por ritmos de ação predeterminados ou pela submersão em si mesmo, de tipo oriental. Neste livro, tentei propositalmente descrever apenas os princípios da eu fonia, e não as suas práticas. Porém, alguns dos meus alunos tomaram isto a seu cargo em publicações próprias, como por exemplo G. Brieghel-Mü[/er no seu livro Eutonie et relaxation, Ed. Delachaux et Niestlé. Por isso, neste livro,fiz uma distinção entre os princípios e (*) Presença, no alemão Prttesenz, neste contexto tem o sentido de estar consciente da presença do próprio corpo como organismo perceptivo e atento a tudo que nele ocorre. (N. do R. T.) X a práxis. A apresentação de séries de exercícios, como se faz em certos manuais de escolas de ginástica e respiração, teria, muito provavelmente, resultados negativos ou ilusórios, no caso de não haver um professor que possa fornecer uma orientação correta. A experiência mostra que o mesmo exercício executado aparentemente da mesma maneira por diversas pessoas leva, geralmente, a resultados e vivências diferentes. Cada aluno rea- girá de maneira diferente, condicionado pelos seus hábitos, tabus e inibições inconscientes, de acordo com a sua educação e os modelos que tenta imitar. Em conseqüência, a motórica será o resultado de informa- ções conscientes ou inconscientes. Ela não se deixa reduzir a uma seqüência de movimentos independentes, como se o corpo fosse dirigido somente de fora. A ginástica tradicional permite a execução, mais ou menos perfeita, de seqüências de movimentos aprendidos, mas, sem uma nova "presença", esses exercícios têm apenas um significado relativo; dentro do próprio indivíduo nada de essencial mudará. Esse modo de trabalho não tem nada em comum com ~tania, porque esta, ao contrário, baseia-se na capacidade readquirida de sentir consciente e individualmente. Sentir e observar são caminhos diferentes - é necessário que se inter-relacionem, num processo dialético. Para que a pes- soa consiga um contato real consigo mesma, com o próximo e com o ambiente, é preciso que vivencie conscientemente o seu corpo, no movimento e no contato com o ambiente. Aprendi, pela minha larga experiência, em muitos países, que uma instru- ção predominantemente abstrata, embora aumente a capaci- dade de reação intelectual, favorece, ao mesmo tempo, a ten- dência a antecipar, somente a nível in telectual, o resultado de um processo de trabalho, de maneira totalmente desvinculada da realidade. Tal abstração e representação fantasiosa é sinal da incapa- cidade de permanecer presente na situação real e de atingir uma sensação consciente. A tendência a se preocupar mais com espe- culações intelectuais do que com vivências reais mantém, muitas vezes, essas pessoas afastadas da realidade que lhes é proposta. O XI outras. Por isso é necessário observar que a maioria dos métodos de treinamento corporal praticados hoje se baseiam em princí- pios opostos aos da eu tonta. Essas práticas, portanto, não podem ser associadas à eufonia sem que ela seja distorcida na sua essên- cia. Façamos um resumo de alguns princípios da eufonia para provar esta afirmação. Lembremo-nos, primeiramente, de que o relaxamento, um aspecto do domínio do tônus, representa apenas parte da eutonia. A eutonia se baseia na sensação tátil consciente, no desenvolvimento da sensibilidade superficial e profunda. Evita, portanto, qualquer sugestão ou influência direta sobre a respiração, trabalha somente com influências indi- retas sobre as ftmções vegetativas. Sua pedagogia se baseia na realização do ritmo pessoal de cada aluno através da apresenta- ção de propostas que exigem soluções próprias, sem que haja um modelo a ser seguido. A "presença"(*) e o contato perma- nente com o ambiente, um aspecto essencial da eufonia, desen- volveu-se no decorrer do trabalho. O tato e o contato das pes- soas entre si pressupõem uma normalização e domínio do tônus para que cada parceiro não prejudique o outro pela transferên- cia do seu modo de atuar ou de suas próprias dificuldades. Trata- -se, portanto, no trabalho eutônico, de estar aberto e receptivo aos outros, sem enfraquecer a própria personalidade. Há métodos que se distinguem pelo uso de sugestões, pela influência prévia sobre a respiração, pela apresentação de modelos, por ritmos de ação predeterminados ou pela submersão em si mesmo, de tipo oriental. Neste livro, tentei propositalmente descrever apenas os princípios da eu fonia, e não as suas práticas. Porém, alguns dos meus alunos tomaram isto a seu cargo em publicações próprias, como por exemplo G. Brieghel-Mü[/er no seu livro Eutonie et relaxation, Ed. Delachaux et Niestlé. Por isso, neste livro, fiz uma distinção entre os princípios e (*) Presença, no alemão Prttesenz, neste contexto tem o sentido de estar consciente da presença do próprio corpo como organismo perceptivo e atento a tudo que nele ocorre. (N. do R. T.) X a práxis. A apresentação de séries de exercícios, como se faz em certos manuais de escolas de ginástica e respiração, teria, muito provavelmente, resultados negativos ou ilusórios, no caso de não haver um professor que possa fornecer uma orientação correta. A experiência mostra que o mesmo exercício executado aparentemente da mesma maneira por diversas pessoas leva, geralmente, a resultados e vivências diferentes. Cada aluno rea- girá de maneira diferente, condicionado pelos seus hábitos, tabus e inibições inconscientes, de acordo com a sua educação e os modelos que tenta imitar. Em conseqüência, a motórica será o resultado de informa- ções conscientes ou inconscientes. Ela não se deixa reduzir a uma seqüência de movimentos independentes, como se o corpo fosse dirigido somente de fora. A ginástica tradicional permite a execução, mais ou menos perfeita, de seqüências de movimentos aprendidos, mas, sem uma nova "presença", esses exercícios têm apenas um significado relativo; dentro do próprio indivíduo nada de essencial mudará. Esse modo de trabalho não tem nada em comum com ~tania, porque esta, ao contrário, baseia-se na capacidade readquirida de sentir consciente e individualmente. Sentir e observar são caminhos diferentes - é necessário que se inter-relacionem, num processo dialético. Para que a pes- soa consiga um contato real consigo mesma, com o próximo e com o ambiente, é preciso que vivencie conscientemente o seu corpo, no movimento e no contato com o ambiente. Aprendi, pela minha larga experiência, em muitos países, que uma instru- ção predominantemente abstrata, embora aumente a capaci- dade de reação intelectual, favorece, ao mesmo tempo, a ten- dência a antecipar, somente a nível in telectual, o resultado de um processo de trabalho, de maneira totalmente desvinculada da realidade. Tal abstração e representação fantasiosa é sinal da incapa- cidade de permanecer presente na situação real e de atingir uma sensação consciente. A tendência a se preocupar mais com espe- culações intelectuais do que com vivências reais mantém, muitas vezes, essas pessoas afastadas da realidade que lhes é proposta. O XI professor pode reconhecer claramente se o aluno trabalha de fato em eufonia, se ele está, de fato, psíquica e somaticamente presente, ou se esse trabalho só se realiza na sua imaginação. A constante correlação entre personalidade e ambiente é, a nosso ver, a pressuposição indispensável para a tomada de consciência da realidade, o que representa a base para uma boa disposição psíquica. Aprender a sentir a si mesmo e sentir o ambiente com realismo 'e a- manter essa habilidade em todas as circunstâncias do áia a dia é, portanto, uma das primeiras contribuições e tare- fas da eutonia. Esse caminho só deveria ser empreendido com o auxílio de um professor. O requisito para que o indivíduo possa realizar um trabalho independentemente do acompanhamento de um professor é que ele tenha a capacidade de descobrir, dentrQ....!j&_sj _!Jlesmo, na sua própria experiência corporal, a verdadeira cons- ciência das sensações - na qual tanto insisto e que represeffta ã -base da eutonia. Ã lém disso, neste livro relembro a importância primordial da pele como órgão, como invólucro vivo, com inú- meras inervações do organismo inteiro. Ora, o tato da pele, que nos proporciona informações sobre o mundo externo, _comunica- -nos, ao mesmo tempo, conhecimentos essenciais sobre nós mes- mos. Tudo aquiloque tocamos também nos toca. Por êãüSa da influência reguladora sobre as funções tônicas, essa dialética está na origem do sentimento de unidade e bem-estar que o trabalho de contato e tato da eu tonia consegue proporcionar. Na vida cotidiana não é possível, porém, através do tato consciente, experimentar todas as possibilidades proporcionadas pela eufo- nia - pois isso pressuporia a orientação qualificada de um pro- fessor. Todavia, consegue-se chegar por este meio a algumas pri- meiras descobertas, que prepararão lodos os passos seguintes. O trabalho de contato por nós proposto proporcionará efeitos imediatos. Esse trabalho desenvolve igualmente a sensibi- lidade, que nos abre uma parte do nosso eu e nos ajuda a redes- cobrir nossa totalidade psicossomática. A posição deitada no chão é muito propícia para as primei- ras descobertas, mas não é absolutamente necessário estar dei- XII tado para sentir conscientemente tudo o que toca o nosso corpo. Por exemplo, na medida em que aprendemos a sentir as diferen- ças quanto à qualidade do toque das roupas em nosso corpo, ou dos objetos que manipulamos, estaremos ampliando as nossas possibilidades de realizar descobertas pessoais. Quem conseguir realizar essa presença, por menor que seja, sem ilusões, perce- berá logo que o toque lhe abre imensas perspectivas de trabalho, sem perigo para o equilíbrio psicossomático. Descobertas como a do sistema nervoso gama ( 1946, Gran- dit e Koda) e os trabalhos de Grillner (Suécia 1977), e Wyke (Inglaterra 19 77) proporcionam agora explicações e provas cien- tíficas. A história nos ensina que muitas descobertas - mesmo que sejam apenas parciais ou provisórias - tiveram a sua expli- cação científica somente muito depois dos fatos observados empiricamen te. Isso nos obriga a sermos humildes. O campo do treina- mento corporal nos proporciona muitos exemplos de certos métodos presunçosos (por exemplo o Body Building) que, ao menos por curto tempo, foram considerados "científicos" - enquanto outras tentativas frutíferas foram consideradas não- -científicas, por não terem sido ainda ordenadas racionalmente. Os conhecimentos atuais em diversas disciplinas e as moder- nas possibilidades de investigação proporcionam novas formas de cooperação e a formulação de conhecimentos fundamental- mente novos. Agradecemos aos nossos alunos por terem iniciado este trabalho com coragem e autocrítica. Novos conhecimentos fisiológicos esclarecem cada vez mais as leis objetivas que explicam os efeitos da eu fonia. Contatos com cien tistas e institutos de pesquisa fa vorecem esse processo de esclarecimento. Certamente a eutonia não se teria desenvolvido, se tivésse- mos esperado as explicações científicas dos seus fenômenos antes de verificarmos, em nós mesmos, os efeitos revolucionários de um novo acesso a uma realidade multidimensional É o fato que o homem, quando está à procura de sua identidade e de uma experiência de vida mais abrangente, não pode excluir as XIII professor pode reconhecer claramente se o aluno trabalha de fato em eufonia, se ele está, de fato, psíquica e somaticamente presente, ou se esse trabalho só se realiza na sua imaginação. A constante correlação entre personalidade e ambiente é, a nosso ver, a pressuposição indispensável para a tomada de consciência da realidade, o que representa a base para uma boa disposição psíquica. Aprender a sentir a si mesmo e sentir o ambiente com realismo 'e a- manter essa habilidade em todas as circunstâncias do áia a dia é, portanto, uma das primeiras contribuições e tare- fas da eutonia. Esse caminho só deveria ser empreendido com o auxílio de um professor. O requisito para que o indivíduo possa realizar um trabalho independentemente do acompanhamento de um professor é que ele tenha a capacidade de descobrir, dentrQ....!j&_sj _!Jlesmo, na sua própria experiência corporal, a verdadeira cons- ciência das sensações - na qual tanto insisto e que represeffta ã -base da eutonia. Ã lém disso, neste livro relembro a importância primordial da pele como órgão, como invólucro vivo, com inú- meras inervações do organismo inteiro. Ora, o tato da pele, que nos proporciona informações sobre o mundo externo, _comunica- -nos, ao mesmo tempo, conhecimentos essenciais sobre nós mes- mos. Tudo aquilo que tocamos também nos toca. Por êãüSa da influência reguladora sobre as funções tônicas, essa dialética está na origem do sentimento de unidade e bem-estar que o trabalho de contato e tato da eu tonia consegue proporcionar. Na vida cotidiana não é possível, porém, através do tato consciente, experimentar todas as possibilidades proporcionadas pela eufo- nia - pois isso pressuporia a orientação qualificada de um pro- fessor. Todavia, consegue-se chegar por este meio a algumas pri- meiras descobertas, que prepararão lodos os passos seguintes. O trabalho de contato por nós proposto proporcionará efeitos imediatos. Esse trabalho desenvolve igualmente a sensibi- lidade, que nos abre uma parte do nosso eu e nos ajuda a redes- cobrir nossa totalidade psicossomática. A posição deitada no chão é muito propícia para as primei- ras descobertas, mas não é absolutamente necessário estar dei- XII tado para sentir conscientemente tudo o que toca o nosso corpo. Por exemplo, na medida em que aprendemos a sentir as diferen- ças quanto à qualidade do toque das roupas em nosso corpo, ou dos objetos que manipulamos, estaremos ampliando as nossas possibilidades de realizar descobertas pessoais. Quem conseguir realizar essa presença, por menor que seja, sem ilusões, perce- berá logo que o toque lhe abre imensas perspectivas de trabalho, sem perigo para o equilíbrio psicossomático. Descobertas como a do sistema nervoso gama ( 1946, Gran- dit e Koda) e os trabalhos de Grillner (Suécia 1977), e Wyke (Inglaterra 19 77) proporcionam agora explicações e provas cien- tíficas. A história nos ensina que muitas descobertas - mesmo que sejam apenas parciais ou provisórias - tiveram a sua expli- cação científica somente muito depois dos fatos observados empiricamen te. Isso nos obriga a sermos humildes. O campo do treina- mento corporal nos proporciona muitos exemplos de certos métodos presunçosos (por exemplo o Body Building) que, ao menos por curto tempo, foram considerados "científicos" - enquanto outras tentativas frutíferas foram consideradas não- -científicas, por não terem sido ainda ordenadas racionalmente. Os conhecimentos atuais em diversas disciplinas e as moder- nas possibilidades de investigação proporcionam novas formas de cooperação e a formulação de conhecimentos fundamental- mente novos. Agradecemos aos nossos alunos por terem iniciado este trabalho com coragem e autocrítica. Novos conhecimentos fisiológicos esclarecem cada vez mais as leis objetivas que explicam os efeitos da eu fonia. Contatos com cien tistas e institutos de pesquisa fa vorecem esse processo de esclarecimento. Certamente a eutonia não se teria desenvolvido, se tivésse- mos esperado as explicações científicas dos seus fenômenos antes de verificarmos, em nós mesmos, os efeitos revolucionários de um novo acesso a uma realidade multidimensional É o fato que o homem, quando está à procura de sua identidade e de uma experiência de vida mais abrangente, não pode excluir as XIII ·--- possibilidades de investigação, mesmo que o reconhecimento intelectual unilateral de certos fenômenos psicobiológicos seja, muitas vezes, de pouca ajuda e possa até levá-lo a desvios. Isso não surpreende, uma vez que sabemos que a origem desses fenômenos situa-se nas regiões subcorticais. Os procedi- mentos de manipulação e condicionamento que provocam os desenvolvimentos conhecidos na nossa sociedade agem exata- mente nesse nível. E de importância primordial não sucumbir- mos a seus perigos. Sem dúvida, nem todos têm o mesmo dom de aumentar sua consciência corporal. E raro que uma primeira experiência aja logo com tanta eficácia, como nos casos excepcionais,que pude observar, de uma grande violinista e de um famoso regente, cuja maneira de tocar e movimentos se modificaram fundamen- talmente logo depois da primeira sessão. Geralmente é preciso ter paciência e tempo para alcançar essa ''presença", porque somos inibidos pela nossa educação e nosso modo de vida. Sempre procurei expor as minhas idéias com a maior simpli- cidade, e na elaboração deste livro tentei insistir num método de trabalho que cada um poderia realizar na sua vida cotidiana. Per- manecer simples não quer dizer simplificar. Muitas vezes o ele- mentar é o mais importante, como, por exemplo, fazer reviver cada órgão dos sentidos tal como era na primeira relação da criança com o mundo. Aos poucos, as ciências psicofisiológicas descobrem rela- ções que conseguem explicar o extraordinário efeito de nosso procedimento. Certas descobertas relativas à estrutura e à fun- ção do sistema nervoso proporcionaram alicerces científicos para nosso trabalho. Há vinte e cinco anos atrás era inexplicável o fato de conseguirmos recuperar a capacidade de andar, através da tomada de consciência das vias dos reflexos, em pacientes paralíticos cujas vias nervosas consideradas imprescindfveis à locomoção tinham sido destruídas. Naquele tempo, não tivemos outra saída a não ser repetir, sem modéstia, as palavras de um grande cientista: "Todavia, se move!" Mas a eufonia assume o risco, e isto nos ajuda a descobrir XIV l ~ I I .i I as possibilidades contidas na realidade biológica, e a nos adaptar integralmente a um processo de vida sempre dinâmico e criativo, sem sucumbir a estruturas rígidas de tensões e inibições. As conseqüências de uma capacidade de reação reduzida por tensões e inibições são hoje bem conhecidas. Quando uma situação requer reações que superam nossas capacidades, isto provoca uma espécie de fuga em pânico e comportamo-nos como o cachorro espancado que não sabe se morde ou foge. Certas fonnas de oposição significam tão-somente uma admis- são de impotência, e não são sinal de maior liberdade. Henri Wallon demonstrou com maestria que as emoções se fundam no tônus muscular. Por isso, o fato de a escala do tônus conter um amplo espectro de reações é fundamental para que se desenvolva a capacidade de reagir à vida e aos outros. Pode-se demonstrar, então, que os hipotônicos e os hipertônicos não são os únicos r~primidos na sua vida emocional. Não é menos reprimido o indi- v(duo fixado sobre um espectro estreito do tônus médio. A capacidade de reação possibilitada pela flexibilidade má- xima do tônus foi por nós ocasionalmente designada como "estar em onlem ", o que não significa estar sujeito a uma ordem exte- rior, rnas. pelo contrário, que o individuo dispõe de uma quanti- dade máxima de possibilidades de reação, tanto na esfera pessoal como na social. Assim, ganha-se uma amplitude de liberdade, sem a qual não existem nem meios de expressão nem capacidade criadora. Também sabemos que os limites impostos por uma estrutura rfgida são a razão principal da dfjlculdade de comuni- cação com nossos semelhantes. A eutonia, baseando-se no con- tato permanente com o ambiente, não só permite ao indivíduo reencontrar a si mesmo. como, ao mesmo tempo. ajuda-o a rom- per os limites do seu isolamen to. Esse caráter essencial da eutonia. que inclui a educação, a reabilitação e mesmo a terapia dentro da dinâmica geral entre os homens e entre o indivz'duo e o ambiente, ta!l,ez não eja reconhecidu imediatamente pelo observador externo ou pelo principiante. Uma observação atenta da ação em grupo demons- tra o seu alcance total. Para mencionar um só exemplo: não XV ·--- possibilidades de investigação, mesmo que o reconhecimento intelectual unilateral de certos fenômenos psicobiológicos seja, muitas vezes, de pouca ajuda e possa até levá-lo a desvios. Isso não surpreende, uma vez que sabemos que a origem desses fenômenos situa-se nas regiões subcorticais. Os procedi- mentos de manipulação e condicionamento que provocam os desenvolvimentos conhecidos na nossa sociedade agem exata- mente nesse nível. E de importância primordial não sucumbir- mos a seus perigos. Sem dúvida, nem todos têm o mesmo dom de aumentar sua consciência corporal. E raro que uma primeira experiência aja logo com tanta eficácia, como nos casos excepcionais, que pude observar, de uma grande violinista e de um famoso regente, cuja maneira de tocar e movimentos se modificaram fundamen- talmente logo depois da primeira sessão. Geralmente é preciso ter paciência e tempo para alcançar essa ''presença", porque somos inibidos pela nossa educação e nosso modo de vida. Sempre procurei expor as minhas idéias com a maior simpli- cidade, e na elaboração deste livro tentei insistir num método de trabalho que cada um poderia realizar na sua vida cotidiana. Per- manecer simples não quer dizer simplificar. Muitas vezes o ele- mentar é o mais importante, como, por exemplo, fazer reviver cada órgão dos sentidos tal como era na primeira relação da criança com o mundo. Aos poucos, as ciências psicofisiológicas descobrem rela- ções que conseguem explicar o extraordinário efeito de nosso procedimento. Certas descobertas relativas à estrutura e à fun- ção do sistema nervoso proporcionaram alicerces científicos para nosso trabalho. Há vinte e cinco anos atrás era inexplicável o fato de conseguirmos recuperar a capacidade de andar, através da tomada de consciência das vias dos reflexos, em pacientes paralíticos cujas vias nervosas consideradas imprescindfveis à locomoção tinham sido destruídas. Naquele tempo, não tivemos outra saída a não ser repetir, sem modéstia, as palavras de um grande cientista: "Todavia, se move!" Mas a eufonia assume o risco, e isto nos ajuda a descobrir XIV l ~ I I .i I as possibilidades contidas na realidade biológica, e a nos adaptar integralmente a um processo de vida sempre dinâmico e criativo, sem sucumbir a estruturas rígidas de tensões e inibições. As conseqüências de uma capacidade de reação reduzida por tensões e inibições são hoje bem conhecidas. Quando uma situação requer reações que superam nossas capacidades, isto provoca uma espécie de fuga em pânico e comportamo-nos como o cachorro espancado que não sabe se morde ou foge. Certas fonnas de oposição significam tão-somente uma admis- são de impotência, e não são sinal de maior liberdade. Henri Wallon demonstrou com maestria que as emoções se fundam no tônus muscular. Por isso, o fato de a escala do tônus conter um amplo espectro de reações é fundamental para que se desenvolva a capacidade de reagir à vida e aos outros. Pode-se demonstrar, então, que os hipotônicos e os hipertônicos não são os únicos r~primidos na sua vida emocional. Não é menos reprimido o indi- v(duo fixado sobre um espectro estreito do tônus médio. A capacidade de reação possibilitada pela flexibilidade má- xima do tônus foi por nós ocasionalmente designada como "estar em onlem ", o que não significa estar sujeito a uma ordem exte- rior, rnas. pelo contrário, que o individuo dispõe de uma quanti- dade máxima de possibilidades de reação, tanto na esfera pessoal como na social. Assim, ganha-se uma amplitude de liberdade, sem a qual não existem nem meios de expressão nem capacidade criadora. Também sabemos que os limites impostos por uma estrutura rfgida são a razão principal da dfjlculdade de comuni- cação com nossos semelhantes. A eutonia, baseando-se no con- tato permanente com o ambiente, não só permite ao indivíduo reencontrar a si mesmo. como, ao mesmo tempo. ajuda-o a rom- per os limites do seu isolamen to. Esse caráter essencial da eutonia. que inclui a educação, a reabilitação e mesmo a terapia dentro da dinâmica geral entre os homens e entre o indivz'duo e o ambiente, ta!l,ez não eja reconhecidu imediatamente pelo observador externo ou pelo principiante. Uma observação atenta da ação em grupo demons- tra o seu alcance total. Para mencionar um só exemplo: não XV seráde suma importância para o aluno descobrir logo nas pri- meiras experiências em eutonia que suas percepções sensoriais, suas experiências pessoais e do mundo, diferem muitas vezes completamente daquelas do seu vizinho, podendo até serem opostas? Isto não é nem certo, nem errado, e não contém nenhum julgamento de valor, representando porém um passo na direção da independência pessoal e do reconhecimento das diversidades humanas. Também é de importância decisiva a pessoa descobrir que se pode relacionar com um grupo por meio de um simples objeto (por exemplo, uma vara de bambu), e que é possível agir como grupo, relacionando-se com novas situações e promovendo uma adaptação recíproca, sem que haja uma liderança. O que os participantes experimentam durante a ação e o que exprimem verbalmente ao fim do trabalho muitas vezes é de uma profundidade incomum. As palavras também parecem readquirir a sua força de expressão e comunicação. O que se exprimiu ainda há pouco por mímica e postura, é expresso então pela palavra, sem apelo a qualquer chavão. Essa concordância entre a expressão corporal e a língua, sinal de encontro sutil entre as manifestações do consciente e as do inconsciente, ocorre muito raramente na vida cotidiana; daí a importância de tais encontros para os envolvidos, como preparação para uma maior unidade psicossomática. A eufonia criada no Ocidente abre aos que estão vivendo (ou morrendo) conosco - a possibilidade de viver o presente com maior consciência e sentido. Ela lhes possibilita prever des- vios e circunstâncias, e ajuda-os a se desenvolver e a se precaver contra influências negativas deste mundo. Isso é necessário se os homens pretendem conservar dentro de si as forças que lhes permitem participar da evolução das idéias e do nascer do futu- ro. A eutonia atua, portanto, no centro dos problemas do nosso tempo. Aos que perguntam em que corrente de idéias se classifica a eutonia, eu responderia que ela se integra na grande corrente XVI de investigações que marcaram o século XX. Demonstrar isso com maior precisão requereria um outro livro. Em seguida procurarei expor resumidamente as idéias que me guiaram há tempos atrás. Gostaria de indicar o parentesco entre a eufonia e as formulações pedagógicas desenvolvidas na Europa e na América depois da Primeira Guerra Mundial, dirigi- das no sentido de uma nova pedagogia, e cujos representantes estão reunidos na organização internacional New Education Fellowship. Pela minha formação na escola de Otto Blensdorf e de sua filha Charlotte BlensdorfMac-Jannet, tendo sido eu uma das primeiras alunas de Jacques-Dalcroze, entrei em con- tato com representantes dessas novas idéias. Recebi influência marcante das experiências do primeiro instituto científico peda- gógico da Universidade de lena sob direção do professor Peter Petersen, assim como das minhas t>xperiências na Primeira Escola Liv. • e Jardim de Infância da Dinamarca. Apesar de ter acompa- nhado as idéias e pesquisas do meu tempo, participando intima- mente delas, evitei tornar-me dependente de uma teoria rígida ou de uma escola estabelecida. Esta aspiração à independência de idéias e profissional sem dúvida se baseia no meu passado pessoal. Apesar de conhecer muitas possibilidades de formação humana, espiritual-corporal, encontrar novos caminhos e meios de expressão era, para mim, uma necessidade íntima. É preciso estar imbuído de uma moti- vação irresistível para escapar da força de costumes adquiridos e da coerção que visa ao enquadramento no sistema social. O meu estado de saúde, no início da minha vida profissional, proporcio- nou-me essa motivação. Esta força é, portanto, bastante frágil, em comparação com as influências normativas que se movem por caminhos já traçados. Provavelmente o conhecimento da limitação das minhas forças me tenha levado a evitar qualquer filiação a correntes inte- lectuais da atualidade. Somente assim, consegui, no decorrer dos anos, elaborar e aperfeiçoar um método novo sem ser desviada pelas idéias e influências dos métodos que me haviam inspirado, como, por exemplo, pela escola de Schlaffhorst-Andersen e sua XVII será de suma importância para o aluno descobrir logo nas pri- meiras experiências em eutonia que suas percepções sensoriais, suas experiências pessoais e do mundo, diferem muitas vezes completamente daquelas do seu vizinho, podendo até serem opostas? Isto não é nem certo, nem errado, e não contém nenhum julgamento de valor, representando porém um passo na direção da independência pessoal e do reconhecimento das diversidades humanas. Também é de importância decisiva a pessoa descobrir que se pode relacionar com um grupo por meio de um simples objeto (por exemplo, uma vara de bambu), e que é possível agir como grupo, relacionando-se com novas situações e promovendo uma adaptação recíproca, sem que haja uma liderança. O que os participantes experimentam durante a ação e o que exprimem verbalmente ao fim do trabalho muitas vezes é de uma profundidade incomum. As palavras também parecem readquirir a sua força de expressão e comunicação. O que se exprimiu ainda há pouco por mímica e postura, é expresso então pela palavra, sem apelo a qualquer chavão. Essa concordância entre a expressão corporal e a língua, sinal de encontro sutil entre as manifestações do consciente e as do inconsciente, ocorre muito raramente na vida cotidiana; daí a importância de tais encontros para os envolvidos, como preparação para uma maior unidade psicossomática. A eufonia criada no Ocidente abre aos que estão vivendo (ou morrendo) conosco - a possibilidade de viver o presente com maior consciência e sentido. Ela lhes possibilita prever des- vios e circunstâncias, e ajuda-os a se desenvolver e a se precaver contra influências negativas deste mundo. Isso é necessário se os homens pretendem conservar dentro de si as forças que lhes permitem participar da evolução das idéias e do nascer do futu- ro. A eutonia atua, portanto, no centro dos problemas do nosso tempo. Aos que perguntam em que corrente de idéias se classifica a eutonia, eu responderia que ela se integra na grande corrente XVI de investigações que marcaram o século XX. Demonstrar isso com maior precisão requereria um outro livro. Em seguida procurarei expor resumidamente as idéias que me guiaram há tempos atrás. Gostaria de indicar o parentesco entre a eufonia e as formulações pedagógicas desenvolvidas na Europa e na América depois da Primeira Guerra Mundial, dirigi- das no sentido de uma nova pedagogia, e cujos representantes estão reunidos na organização internacional New Education Fellowship. Pela minha formação na escola de Otto Blensdorf e de sua filha Charlotte BlensdorfMac-Jannet, tendo sido eu uma das primeiras alunas de Jacques-Dalcroze, entrei em con- tato com representantes dessas novas idéias. Recebi influência marcante das experiências do primeiro instituto científico peda- gógico da Universidade de lena sob direção do professor Peter Petersen, assim como das minhas t>xperiências na Primeira Escola Liv. • e Jardim de Infância da Dinamarca. Apesar de ter acompa- nhado as idéias e pesquisas do meu tempo, participando intima- mente delas, evitei tornar-me dependente de uma teoria rígida ou de uma escola estabelecida. Esta aspiração à independência de idéias e profissional sem dúvida se baseia no meu passado pessoal. Apesar de conhecer muitas possibilidades de formação humana, espiritual-corporal, encontrar novos caminhos e meios de expressão era, para mim, uma necessidade íntima. É preciso estar imbuído de uma moti- vação irresistível para escapar da força de costumes adquiridos e da coerção que visa ao enquadramento no sistema social. O meu estado de saúde, no início da minha vida profissional, proporcio- nou-me essa motivação. Esta força é, portanto, bastante frágil, em comparação com as influências normativas que se movem por caminhos já traçados. Provavelmente o conhecimentoda limitação das minhas forças me tenha levado a evitar qualquer filiação a correntes inte- lectuais da atualidade. Somente assim, consegui, no decorrer dos anos, elaborar e aperfeiçoar um método novo sem ser desviada pelas idéias e influências dos métodos que me haviam inspirado, como, por exemplo, pela escola de Schlaffhorst-Andersen e sua XVII assistente A nita Hansen, que me proporcionaram valiosa assistên- cia pessoal. Hesitei em escrever este livro, seja pelo receio de que, aquilo que para mim representa uma nova descoberta a cada dia, possa se cristalizar através desse registro; seja pelo sentimento de impo- tência perante a tarefa de traduzir em palavras a multiplicidade de aspectos de um campo de experiências tão complexo. Sem dúvida foi o medo de prejudicar a eutonia, não mais só de minha propriedade, com uma obra que poderá provocar sectarismo ou ecletismo. É típico da prática da eutonia que cada um a experimente de maneira diferente, como um caminho pelo qual a vida em si se manifesta. Ora, a unidade almejada é criada pelo conjunto de inúmeras forças internas e externas que alcançam, dentro de nós, por maneiras sempre novas, um equilz'brio dinâmico. É uma ilu- são pensar que seja possível, por exemplo, treinar certas capaci- dades isoladamente, pela educação de movimentos, e depois juntar num todo essas partes separadas, sem que se perca a tota- lidade corporal da expressão de movimento. Logo cheguei a essa conclusão, quando percebi as limitações impostas, mesmo a grandes artistas, por uma determinada formação estereotipada. Ajudando o homem a reencontrar as origens de sua espon- taneidade, desperta-se nele o desejo de livre criação nos mais diversos campos artísticos: no desenho, na pintura, na música, na arte de representar, na improvisação de movimentos. Na improvisação de movimentos livres, que leva à formação de movimentos próprios no espaço, objetivando assim a realização da espontaneidade, temos uma ajuda valiosa para o encontro e conhecimento de si mesmo. Junto com o companheiro e com o gn4po, experimentamos a predisposição para o comportamen to social, a aceitação do outro na sua maneira única de sentir, a adaptação sem perda da própria individualidade. Seria desejável que muitos jovens pudessem jàzer uso dessa possibilidade a cuja investigação dediquei o trabalho da minha vida. É de extrema importância um constante referenciar-se à realidade como fonte principal da espontaneidade, e a sua objetivação. Não é indife- XVIII rente a maneira pela qual nos realizamos. Empreendendo essa procura em contato permanente com o ambiente, evitamos o risco de nos perdermos em perigosas névoas de ideologias. O essencial na formação do nosso destino se obtém pelo envol- vimento na vida cotidiana. Por esse aspecto fundamental, a eutonia se aproxima das grandes correntes de pensamento do século XX, às quais pertence essencialmente a "nova pedagogia". Esta explíca a profunda compreensão que meu trabalho obteve na França, numa sociedade cuja atividade se baseia na idéia da educação nova, primordialmente nos Centres d'Entrainement aux Méthodes d'Education Active, com os quais colaboro há muitos anos. A experiência de captar o ser na sua totalidade, partindo de um contato vivo através de experiências vivenciadas e obser- vadas no ambiente, está em relação com a idéia básica da "nova pedagogia", como caminho para a realização de si mesmo pela abertura completa para os homens e para o fenômeno total da vida. Mais um ponto fica claro através deste paralelo entre euto- nia e "nova pedagogia": o respeito pela pessoa. O paralelo entre eutonia e "nova pedagogia" resulta da recusa de qualquer norma e qualquer modelo, de toda ritualização de gestos ou mecaniza- ção de movimentos, de qualquer mera conveniência. Isto implica que o aluno tenha o papel principal no trabalho de eutonia. Ele mesmo tem que fazer suas descobertas e traba- lhar para sua evolução. Educação e reabilitação são primordial- mente assunto da pessoa envolvida, e não do professor, cujo papel é a motivação do processo, que não tem nada a ver com passividade, nem com influência nonnativa sobre o aluno. Por isso, a eutonia não é absolutamente um método no sen- tido tradicional, mas uma postura perante os homens e a vida. Os procedimentos específicos que ela oferece e que representam hoje em dia um instrumental coerente de propostas de trabalho, só têm sentido dentro desta perspectiva. Mas é exatamente por essa razão que tanto a eutonia como a "nova pedagogia" são tão controvertidas. As resistências hist~ ricas e sociais que elas enfrentam, e que não cabe analisar aqui, XIX assistente A nita Hansen, que me proporcionaram valiosa assistên- cia pessoal. Hesitei em escrever este livro, seja pelo receio de que, aquilo que para mim representa uma nova descoberta a cada dia, possa se cristalizar através desse registro; seja pelo sentimento de impo- tência perante a tarefa de traduzir em palavras a multiplicidade de aspectos de um campo de experiências tão complexo. Sem dúvida foi o medo de prejudicar a eutonia, não mais só de minha propriedade, com uma obra que poderá provocar sectarismo ou ecletismo. É típico da prática da eutonia que cada um a experimente de maneira diferente, como um caminho pelo qual a vida em si se manifesta. Ora, a unidade almejada é criada pelo conjunto de inúmeras forças internas e externas que alcançam, dentro de nós, por maneiras sempre novas, um equilz'brio dinâmico. É uma ilu- são pensar que seja possível, por exemplo, treinar certas capaci- dades isoladamente, pela educação de movimentos, e depois juntar num todo essas partes separadas, sem que se perca a tota- lidade corporal da expressão de movimento. Logo cheguei a essa conclusão, quando percebi as limitações impostas, mesmo a grandes artistas, por uma determinada formação estereotipada. Ajudando o homem a reencontrar as origens de sua espon- taneidade, desperta-se nele o desejo de livre criação nos mais diversos campos artísticos: no desenho, na pintura, na música, na arte de representar, na improvisação de movimentos. Na improvisação de movimentos livres, que leva à formação de movimentos próprios no espaço, objetivando assim a realização da espontaneidade, temos uma ajuda valiosa para o encontro e conhecimento de si mesmo. Junto com o companheiro e com o gn4po, experimentamos a predisposição para o comportamen to social, a aceitação do outro na sua maneira única de sentir, a adaptação sem perda da própria individualidade. Seria desejável que muitos jovens pudessem jàzer uso dessa possibilidade a cuja investigação dediquei o trabalho da minha vida. É de extrema importância um constante referenciar-se à realidade como fonte principal da espontaneidade, e a sua objetivação. Não é indife- XVIII rente a maneira pela qual nos realizamos. Empreendendo essa procura em contato permanente com o ambiente, evitamos o risco de nos perdermos em perigosas névoas de ideologias. O essencial na formação do nosso destino se obtém pelo envol- vimento na vida cotidiana. Por esse aspecto fundamental, a eutonia se aproxima das grandes correntes de pensamento do século XX, às quais pertence essencialmente a "nova pedagogia". Esta explíca a profunda compreensão que meu trabalho obteve na França, numa sociedade cuja atividade se baseia na idéia da educação nova, primordialmente nos Centres d'Entrainement aux Méthodes d'Education Active, com os quais colaboro há muitos anos. A experiência de captar o ser na sua totalidade, partindo de um contato vivo através de experiências vivenciadas e obser- vadas no ambiente, está em relação com a idéia básica da "nova pedagogia", como caminho para a realização de si mesmo pela abertura completa para os homens e para o fenômeno total da vida. Mais um ponto fica claro através deste paralelo entre euto- nia e "nova pedagogia": o respeito pela pessoa. O paralelo entre eutonia e "nova pedagogia" resulta da recusa de qualquernorma e qualquer modelo, de toda ritualização de gestos ou mecaniza- ção de movimentos, de qualquer mera conveniência. Isto implica que o aluno tenha o papel principal no trabalho de eutonia. Ele mesmo tem que fazer suas descobertas e traba- lhar para sua evolução. Educação e reabilitação são primordial- mente assunto da pessoa envolvida, e não do professor, cujo papel é a motivação do processo, que não tem nada a ver com passividade, nem com influência nonnativa sobre o aluno. Por isso, a eutonia não é absolutamente um método no sen- tido tradicional, mas uma postura perante os homens e a vida. Os procedimentos específicos que ela oferece e que representam hoje em dia um instrumental coerente de propostas de trabalho, só têm sentido dentro desta perspectiva. Mas é exatamente por essa razão que tanto a eutonia como a "nova pedagogia" são tão controvertidas. As resistências hist~ ricas e sociais que elas enfrentam, e que não cabe analisar aqui, XIX não são os únicos responsáveis por essa situação. É antes a nossa condição de ainda não estarmos preparados para as devidas mu- danças, de maneira que, mesmo os que se referem à eutonia muitas vezes a distorcem, sem terem consciência disso -na me- dida em que favorecem todas as formas possíveis de aplicação estranha, alterando tanto o sentido da eufonia, que tudo o que resta é um aglomerado de meras técnicas. Gerda Alexander Copenhague, março de 1978. XX Índice Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época ....... . PRIMEIRA PARTE Os princípios da eutonia I. O que é eutonia?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 O tônus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 A respiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Tato e contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Conseqüências da regularização das tensões . . . . . . . . . 24 Importância fundamental da educação dos sentidos . . . . 25 A eutonia e o conhecimento científico atual. . . . . . . . . 27 A formação profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 11. Eutonia e pedagogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 O trabalho em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Tomada de consciência dos ossos . . . . . . . . . . . . . . . . 37 O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Contato com os outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 III. Eutonia e terapia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 7 não são os únicos responsáveis por essa situação. É antes a nossa condição de ainda não estarmos preparados para as devidas mu- danças, de maneira que, mesmo os que se referem à eutonia muitas vezes a distorcem, sem terem consciência disso -na me- dida em que favorecem todas as formas possíveis de aplicação estranha, alterando tanto o sentido da eufonia, que tudo o que resta é um aglomerado de meras técnicas. Gerda Alexander Copenhague, março de 1978. XX Índice Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época ....... . PRIMEIRA PARTE Os princípios da eutonia I. O que é eutonia?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 O tônus. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 A respiração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Tato e contato . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 Conseqüências da regularização das tensões . . . . . . . . . 24 Importância fundamental da educação dos sentidos . . . . 25 A eutonia e o conhecimento científico atual. . . . . . . . . 27 A formação profissional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 11. Eutonia e pedagogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 O trabalho em grupo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 Tomada de consciência dos ossos . . . . . . . . . . . . . . . . 37 O movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Contato com os outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43 III. Eutonia e terapia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 7 SEGUNDA PARTE Aplicações da eutonia I. Seleção de comentários, desenhos e modelagens de um grupo de alunos de eutonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 11. A imagem do nosso corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 III. Posições de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 IV. Registros fisiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 25 V. Pinturas ............... . ........ .. ....... . . . 127 VI. Exemplos de aplicações terapêuticas. . . . . . . . . . . . . . 131 VII. A eutonia na emissora de rádio estatal dinamarquesa 159 Apêndice Histórico do termo eutonia" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Histórico do ensino da eutonia e da terapia eutônica. . . . . . 169 Professores diplomados em eutonia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época Hoje fala-se muito - entre lamentos e acusações- da decadên- cia da cultura européia, de um relaxamento dos costumes, do ocaso do ethos, do desaparecimento da fé religiosa enquanto força, e do triunfo do materialismo. Pode ser que fiquemos desa- nimados quando nos vemos forçados a admitir que a maior parte dessas queixas se justificam. Entretanto, esses sintomas de decomposição que nos saltam aos olhos não devem ser conside- rados apenas como algo negativo. Acontece que atualmente estamos atravessando um limiar cultural tão completo e trans- cendente como o que o homem atravessou no fim da Idade da Pedra. Existem novidades essenciais que lutam por um papel claro na sensibilidade, na consciência e na ação do ser humano. E essa é a razão pela qual boa parte do que é tradicional e até agora vigente, incluindo o que é de natu reza mais nobre, começa a definhar. Mas este processo - doloroso sob um certo ponto de vista - não significa o "ocaso do Ocidente" , mas sim o começo de uma nova fase criativa da Europa. Quem achar que é preciso ser pessimista com relação à situação das idéias do Ocidente, certamente não deixará de encontrar razões que o justifiquem. Mas esse pessimismo é, pelo menos, uma visão parcial. A quantidade de forças criativas que se manifestam na Europa de hoje justifica uma visão otimista. É verdade que o solo da cultura européia tem sido revolvido e arado ... e em seus sulcos já brota a nova semente. SEGUNDA PARTE Aplicações da eutonia I. Seleção de comentários, desenhos e modelagens de um grupo de alunos de eutonia . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 11. A imagem do nosso corpo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 III. Posições de controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 IV. Registros fisiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 25 V. Pinturas ............... . ........ .. ....... . . . 127 VI. Exemplos de aplicações terapêuticas. . . . . . . . . . . . . . 131 VII. A eutonia na emissora de rádio estatal dinamarquesa 159 Apêndice Histórico do termo eutonia" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Histórico do ensino da eutonia e da terapia eutônica. . . . . . 169 Professores diplomados em eutonia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185 Glossário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187 Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193 Prólogo: O lugar da eutonia no espírito da época Hoje fala-se muito - entre lamentos e acusações- da decadên- ciada cultura européia, de um relaxamento dos costumes, do ocaso do ethos, do desaparecimento da fé religiosa enquanto força, e do triunfo do materialismo. Pode ser que fiquemos desa- nimados quando nos vemos forçados a admitir que a maior parte dessas queixas se justificam. Entretanto, esses sintomas de decomposição que nos saltam aos olhos não devem ser conside- rados apenas como algo negativo. Acontece que atualmente estamos atravessando um limiar cultural tão completo e trans- cendente como o que o homem atravessou no fim da Idade da Pedra. Existem novidades essenciais que lutam por um papel claro na sensibilidade, na consciência e na ação do ser humano. E essa é a razão pela qual boa parte do que é tradicional e até agora vigente, incluindo o que é de natu reza mais nobre, começa a definhar. Mas este processo - doloroso sob um certo ponto de vista - não significa o "ocaso do Ocidente" , mas sim o começo de uma nova fase criativa da Europa. Quem achar que é preciso ser pessimista com relação à situação das idéias do Ocidente, certamente não deixará de encontrar razões que o justifiquem. Mas esse pessimismo é, pelo menos, uma visão parcial. A quantidade de forças criativas que se manifestam na Europa de hoje justifica uma visão otimista. É verdade que o solo da cultura européia tem sido revolvido e arado ... e em seus sulcos já brota a nova semente. Os processos criativos, que ocorrem em profusão, não só favorecem o futuro da Europa como também a subsistência de toda a humanidade. Ora, a maioria dos povos não europeus esta- ria condenada a perecer sem as novas idéias e os novos métodos de estruturação da vida que estão sendo desenvolvidos na Euro- pa. Neste continente encontra-se, hoje, a oficina de criação de todos os povos, mesmo quando observamos alarmados os aspec- tos sombrios do tremendo processo cultural e técnico, que pro- curamos frear. Mas, por mais fundamentais que sejam, para a renovação da Europa, as invenções técnicas - sem as quais nossa vida na Terra seria impossível -, sua importância é superada pela nova imagem do homem que vem se desenvolvendo desde fins do século XVIII. Nossa imagem do homem, tudo o que considera- mos valioso e digno de ser realizado nele, determina a totalidade da cultura, os direitos e os deveres do ser humano, sua relação com o Divino e com a ordem social. E nesse aspecto produziram- -se verdadeiras revoluções. Depois que, no século XIX, o homem foi decomposto em partes, para nos apoderarmos das forças e funções surgidas dessa dissecação, uma geração de estudiosos do século XX redescobriu o ser humano na sua totalidade indivisí- vel. Isso significou uma mudança decisiva de enfoque. Essa "nova consciência" assim surgida, que já não atua só de forma lógica, mas também paralógica, começa a manifestar-se em diferentes domínios da vida européia, apesar de ainda encontrar resistências previsíveis. Manifesta-se numa medicina que não considera só os sintomas da doença, mas também o homem inteiro, numa psico- logia que pretende chegar até as raízes da consciência e que reco- nhece a íntima relação entre sorna, psique e pneurna : numa étka que é capaz de vincular a sujeição do homem a seu eu, e o ''tu" do próximo ... e, fi,lalmente, numa interpretação diferente do corpo, que investiga sua realidade e simbolismo. Sob a ótica da "nova consciência", o corpo já não é só uma máquina que funciona bem ou mal, já não é só um instrumento do homme machine; por outro lado, também não é a parte pere- 2 cível do ser humano, que contrasta com sua "alma imortal". Corpo e alma são considerados agora como unidade, como ele- mentos provenientes de uma mesma raiz. Ambos se vivificam mutuamente. A psique informa o corpo, a partir do interior, sobre os impulsos e leis que transcendem o tempo. O corpo, por sua vez, atua sobre a psique ao lhe proporcionar informações sobre a realidade temporal. Corpo e alma são irmãos surgidos de um mesmo ventre ... só reunidos é que constituem "o homem". A "nova consciência", porém, deve lutar contra duas forças retardativas. Por um lado, há a resistência oferecida pela atitude científica analítica, que continua predominando em amplos círculos intelectuais e científicos ... ainda que apenas por razões de conveniência, pois o homem "dividido" é comercializado com maior facilidade e com melhores lucros. Esses setores procuram evitar, ou pelo menos retardar, o aparecimento da "nova cons- ciência". A segunda tendência retardativa provém da Ásia. Atra- vés de um longo processo, a Europa abriu a Ásia para si. Mas agora é o espírito asiático que flui cada vez com maior liberdade na direção do Ocidente. E como os ocidentais estão cansados de sua própria tradição, caem no Jascínio do exótico. Conseqüente- mente, o europeu abandona o solo firme do espírito ocidental e se perde numa bruma de palavras e conceitos que jamais teriam surgido de um cérebro europeu e que jamais poderão ser incul- cados com proveito em cérebros europeus ... "A imitação do Oriente é um mal-entendido trágico, porque está em desacordo com a psicologia ... Por isso é lamentável que o europeu renuncie a si mesmo, para imitar e desnaturalizar o Oriente." Essas frases pertencem a um profundo conhecedor da sabedoria oriental e da psique do homem ocidental: o célebre psicólogo C. G. Jung. Aponta com elas o perigo que ameaça os impulsos criativos da Europa. Esse perigo, que provém da Índia e da Ásia oriental, consiste na regressão a um período do mundo e do espírito em plena fase de extinção. O aparecimento e o desenvolvimento da "nova consciência", que se dispõe a colocar em marcha a autêntica revolução mundial - uma revolução que não se limita ao político -, não se poderá cumprir, quando experimentar 3 Os processos criativos, que ocorrem em profusão, não só favorecem o futuro da Europa como também a subsistência de toda a humanidade. Ora, a maioria dos povos não europeus esta- ria condenada a perecer sem as novas idéias e os novos métodos de estruturação da vida que estão sendo desenvolvidos na Euro- pa. Neste continente encontra-se, hoje, a oficina de criação de todos os povos, mesmo quando observamos alarmados os aspec- tos sombrios do tremendo processo cultural e técnico, que pro- curamos frear. Mas, por mais fundamentais que sejam, para a renovação da Europa, as invenções técnicas - sem as quais nossa vida na Terra seria impossível -, sua importância é superada pela nova imagem do homem que vem se desenvolvendo desde fins do século XVIII. Nossa imagem do homem, tudo o que considera- mos valioso e digno de ser realizado nele, determina a totalidade da cultura, os direitos e os deveres do ser humano, sua relação com o Divino e com a ordem social. E nesse aspecto produziram- -se verdadeiras revoluções. Depois que, no século XIX, o homem foi decomposto em partes, para nos apoderarmos das forças e funções surgidas dessa dissecação, uma geração de estudiosos do século XX redescobriu o ser humano na sua totalidade indivisí- vel. Isso significou uma mudança decisiva de enfoque. Essa "nova consciência" assim surgida, que já não atua só de forma lógica, mas também paralógica, começa a manifestar-se em diferentes domínios da vida européia, apesar de ainda encontrar resistências previsíveis. Manifesta-se numa medicina que não considera só os sintomas da doença, mas também o homem inteiro, numa psico- logia que pretende chegar até as raízes da consciência e que reco- nhece a íntima relação entre sorna, psique e pneurna : numa étka que é capaz de vincular a sujeição do homem a seu eu, e o ''tu" do próximo ... e, fi,lalmente, numa interpretação diferente do corpo, que investiga sua realidade e simbolismo. Sob a ótica da "nova consciência", o corpo já não é só uma máquina que funciona bem ou mal, já não é só um instrumento do homme machine; por outro lado, também não é a parte pere- 2 cível do ser humano, que contrasta com sua "alma imortal". Corpo e alma são considerados agora como unidade,como ele- mentos provenientes de uma mesma raiz. Ambos se vivificam mutuamente. A psique informa o corpo, a partir do interior, sobre os impulsos e leis que transcendem o tempo. O corpo, por sua vez, atua sobre a psique ao lhe proporcionar informações sobre a realidade temporal. Corpo e alma são irmãos surgidos de um mesmo ventre ... só reunidos é que constituem "o homem". A "nova consciência", porém, deve lutar contra duas forças retardativas. Por um lado, há a resistência oferecida pela atitude científica analítica, que continua predominando em amplos círculos intelectuais e científicos ... ainda que apenas por razões de conveniência, pois o homem "dividido" é comercializado com maior facilidade e com melhores lucros. Esses setores procuram evitar, ou pelo menos retardar, o aparecimento da "nova cons- ciência". A segunda tendência retardativa provém da Ásia. Atra- vés de um longo processo, a Europa abriu a Ásia para si. Mas agora é o espírito asiático que flui cada vez com maior liberdade na direção do Ocidente. E como os ocidentais estão cansados de sua própria tradição, caem no Jascínio do exótico. Conseqüente- mente, o europeu abandona o solo firme do espírito ocidental e se perde numa bruma de palavras e conceitos que jamais teriam surgido de um cérebro europeu e que jamais poderão ser incul- cados com proveito em cérebros europeus ... "A imitação do Oriente é um mal-entendido trágico, porque está em desacordo com a psicologia ... Por isso é lamentável que o europeu renuncie a si mesmo, para imitar e desnaturalizar o Oriente." Essas frases pertencem a um profundo conhecedor da sabedoria oriental e da psique do homem ocidental: o célebre psicólogo C. G. Jung. Aponta com elas o perigo que ameaça os impulsos criativos da Europa. Esse perigo, que provém da Índia e da Ásia oriental, consiste na regressão a um período do mundo e do espírito em plena fase de extinção. O aparecimento e o desenvolvimento da "nova consciência", que se dispõe a colocar em marcha a autêntica revolução mundial - uma revolução que não se limita ao político -, não se poderá cumprir, quando experimentar 3 sinais de cansaço, se o europeu se apoiar no passado. Nessa situa- ção precisamos nos manter alertas e ser capazes de diferenciar. A concepção do corpo, estimulada pela "nova consciência", não surgiu de repente, mas seu caudal se formou com a partici- pação de muitos afluentes. Ao mencionar os principais criadores e inspiradores dessa nova e complexa concepção do corpo, tra- çamos como que uma história do movimento. Integram esta lista, que bem poderia ser ampliada: P. Delsarte, Leo Kofler, Jaques-Dalcroze, G. Stebbins, C. Schlaffhorst-H. Andersen, B. Mensen, fundadores de Loheland, Eisa Gindler, R. Bode, F. M. Alexander, H. Medau, a escola Günther, para a qual Orff criou sua obra didática, R. von Laban, M. Wigrnan e Rosalia Chladek. Entre esses grandes criadores de uma nova consciência do corpo, e por conseguinte, de uma nova consciência do homem, figura Gerda Alexander. Embora seu ponto de partida tenha sido a "ginástica rítmica" de Jaques-Dalcroze, de fundamento musical, a educação eutônica do movimento não se baseia na música para liberar o ritmo e a dinâmica pessoais do indivíduo, que permitem encontrar uma expressão motora própria. Gerda Alexander vem desenvolvendo, ao longo de quatro décadas, esse "método ocidental para uma tomada de consciência da unidade psicofísica do ser humano", método que se conhece como "eutonia", ou melhor, "eutonia de Gerda Alexander". No pro- cesso de formação, os discípulos de Gerda Alexander chegam ao conhecimento e à expressão de sua própria natureza, por meio de um "compenetrar-se" (que exclui qualquer tipo de sugestão) das realidades psicossomáticas dessa natureza. Gerda Alexander tem a convicção de que as forças criativas e as características inconfundíveis da personalidade não se liberam suprimindo a con ciência (como pregam os orientais), mas sim ampliando-a. Além disso, a eutonia não é um método de relaxamen to. Isso aparece já no termo "eutonia", derivado dos vocábulos gregos eu = bem, correto, harmonioso, e tonos = tensão . O propósito da eutonia não é o desaparecimento das tensões existentes, mas o estabelecimento - como a própria palavra indica - da tensão 4 harmoniosa, ou seja, o equilíbrio das diferentes tensões que coe- xistem no corpo, um equilíbrio do tônus geral. Um dos objetivos da eutonia é que o homem chegue à sua própria essência, encoberta pelos hábitos e pelas exigências do meio; que atue de forma criativa, pisando seu próprio solo, e a partir deste. Esse objetivo se alcança por meio de exercícios que, no entanto, não se devem orientar pela imitação de modelos. Por isso, o verdadeiro objetivo é a eutonia da personalidade em geral. Para isso, Gerda Alexander criou diversos meios, que aqui só mencionaremos de passagem: a consciência do corpo, as varia- ções voluntárias do tônus, a técnica do contato e da irradiação, o contato espacial , o "estiramento", o "fluxo" para além do limite visível do espaço corporal, o compenetrar-se de cada seg- mento de pele e cada espaço interior do corpo, incluindo os vasos sangüíneos e os ossos. O curioso é que para tudo isso só se recorra a "meios simples". Não existem grandes gesticulações nem movimentos de descarga (grande parte do trabalho se faz com a pessoa deitada no chão). Com um mínimo de esforço alcança-se um máximo de resultado. E é assim que o princípio básico de Gerda Alexander, "consciência da natureza essencial através de uma tomada de consciência do corpo", tem contribuído para a gestação da "nova consciência", através da qual se descobrem novas dimen- sões do ser humano. Uma das convicções que serviu de estímulo à sua tarefa de quarenta anos é a de que o homem é m aior e mais profundo do que hoje se supõe e que esse " homem maior", que quer fazer sua entrada no âmbito da h istória em meio a dores de parto e desgarramentos, exige tam bém um âm bito mais profundo e mais amplo para sua realização, e é preciso proporcionar-lhe isso. Alfons Rosen berg 5 sinais de cansaço, se o europeu se apoiar no passado. Nessa situa- ção precisamos nos manter alertas e ser capazes de diferenciar. A concepção do corpo, estimulada pela "nova consciência", não surgiu de repente, mas seu caudal se formou com a partici- pação de muitos afluentes. Ao mencionar os principais criadores e inspiradores dessa nova e complexa concepção do corpo, tra- çamos como que uma história do movimento. Integram esta lista, que bem poderia ser ampliada: P. Delsarte, Leo Kofler, Jaques-Dalcroze, G. Stebbins, C. Schlaffhorst-H. Andersen, B. Mensen, fundadores de Loheland, Eisa Gindler, R. Bode, F. M. Alexander, H. Medau, a escola Günther, para a qual Orff criou sua obra didática, R. von Laban, M. Wigrnan e Rosalia Chladek. Entre esses grandes criadores de uma nova consciência do corpo, e por conseguinte, de uma nova consciência do homem, figura Gerda Alexander. Embora seu ponto de partida tenha sido a "ginástica rítmica" de Jaques-Dalcroze, de fundamento musical, a educação eutônica do movimento não se baseia na música para liberar o ritmo e a dinâmica pessoais do indivíduo, que permitem encontrar uma expressão motora própria. Gerda Alexander vem desenvolvendo, ao longo de quatro décadas, esse "método ocidental para uma tomada de consciência da unidade psicofísica do ser humano", método que se conhece como "eutonia", ou melhor, "eutonia de Gerda Alexander". No pro- cesso de formação, os discípulos de Gerda Alexander chegam ao conhecimento e à expressão de sua própria natureza, por meio de um "compenetrar-se" (que exclui qualquer tipo de sugestão) das realidades psicossomáticas dessa natureza. Gerda Alexander tem a convicção de que as forças criativas e as características inconfundíveis da personalidade não se liberam suprimindo a con ciência (como pregam os orientais), mas sim ampliando-a. Além disso, a eutonia não é um método
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