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Consciencia_Corporal_Nobrega

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Consciência corporal
Terezinha Petrucia da Nóbrega
Educação Física
Consciência corporal
Natal – RN, 2015
Educação Física
Terezinha Petrucia da Nóbrega
Consciência corporal
Catalogação da Publicação na Fonte. Bibliotecária Verônica Pinheiro da Silva CRB-15/692.
Todas as imagens utilizadas nesta publicação tiveram suas informações cromáticas originais alteradas a fim de adaptarem-se 
aos parâmetros do projeto gráfico. © Copyright 2005. Todos os direitos reservados a Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EDUFRN. 
Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa do Ministério da Educação – MEC
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DE MATERIAIS DIDÁTICOS 
Marcos Aurélio Felipe
COORDENAÇÃO DE REVISÃO 
Maria da Penha Casado Alves 
COORDENAÇÃO DE DESIGN GRÁFICO 
Ivana Lima
GESTÃO DO PROCESSO DE REVISÃO 
Rosilene Alves de Paiva
GESTÃO DO PROCESSO 
DE DESIGN GRÁFICO 
Dickson de Oliveira Tavares
PROJETO GRÁFICO
Ivana Lima
REVISÃO DE MATERIAIS
Ailson Alexandre Câmara de Medeiros
Andreia Maria Braz da Silva
Camila Maria Gomes
Cristiane Severo da Silva
Cristinara Ferreira dos Santos
Edneide da Silva Marques 
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
Eugenio Tavares Borges
Fabiola Barreto Gonçalves
Julianny de Lima Dantas Simião
Margareth Pereira Dias 
Orlando Brandão Meza Ucella
Priscilla Xavier de Macedo
Verônica Pinheiro da Silva
FICHA TÉCNICA
Revisão de estrutura e linguagem
Camila Maria Gomes
Revisão de língua portuguesa
Bruna Rafaelle de Jesus Lopes
Orlando Brandão Meza Ucella
Emanuelle Pereira de Lima Diniz
Fabiola Barreto Gonçalves
Lisane Mariádne Melo de Paiva
Priscilla Xavier de Macedo
Revisão de normas da ABNT
Cristiane Severo da Silva
Edneide da Silva Marques
Verônica Pinheiro da Silva
Diagramação
José Agripino de Oliveira Neto
Criação e edição de imagens
Amanda Duarte
Revisão tipográfica
Leticia Torres
Pré-impressão
José Agripino de Oliveira Neto
IMAGENS UTILIZADAS
Acervo da UFRN
www.depositphotos.com
www.morguefile.com
www.sxc.hu
Encyclopædia Britannica, Inc.
Governo Federal
Presidenta da República
Dilma Vana Rousseff
Vice-Presidente da República
Michel Miguel Elias Temer Lulia
Ministro da Educação
Renato Janine Ribeiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Reitora
Ângela Maria Paiva Cruz
Vice-Reitora
Maria de Fátima Freire Melo Ximenes
Secretaria de Educação a Distância (SEDIS)
Secretária de Educação a Distância
Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo
Secretária Adjunta de Educação a Distância
Ione Rodrigues Diniz Morais
EDITORAÇÃO DE MATERIAIS
Alessandro de Oliveira Paula
Amanda de Lima Cabral
Amanda Duarte
Anderson Gomes do Nascimento
Carolina Aires Mayer
Carolina Costa de Oliveira
Heloisa Fernandes Ferreira Nunes
José Agripino de Oliveira Neto
Leticia Torres
Luciana Melo de Lacerda
Mauricio da Silva Oliveira Junior
Sumário
Apresentação institucional 5
Apresentação da disciplina 7
Aula 1 Consciência corporal e atitude fenomenológica 9
Aula 2 A percepção do corpo na antiginástica 29
Aula 3 A percepção do corpo na Eutonia 47
Aula 4 A percepção do movimento nos exercícios de Feldenkrais 63
Aula 5 O toque e o contato humano 81
Aula 6 A percepção do corpo na bioenergética e na biodança 97
Aula 7 Práticas corporais orientais e a consciência corporal 115
Aula 8 O Método Dança-Educação Física (MDEF) 133
Aula 9 Corpo, sexualidade e afetividade na formação do ser humano 149
Aula 10 O conhecimento do corpo nas aulas de Educação Física 167
Perfil da autora 183
Apresentação institucional
A Secretaria de Educação a Distância – SEDIS da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, desde 2005, vem atuando como fomentadora, no âmbito local, das Políticas Nacionais de Educação a Distância em parceira 
com a Secretaria de Educação a Distância – SEED, o Ministério da Educação – 
MEC e a Universidade Aberta do Brasil – UAB/CAPES. Duas linhas de atuação 
têm caracterizado o esforço em EaD desta instituição: a primeira está voltada 
para a Formação Continuada de Professores do Ensino Básico, sendo imple-
mentados cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; a segunda 
volta-se para a Formação de Gestores Públicos, através da oferta de bacharelados 
e especializações em Administração Pública e Administração Pública Municipal.
Para dar suporte à oferta dos cursos de EaD, a SEDIS tem disponibilizado 
um conjunto de meios didáticos e pedagógicos, dentre os quais se destacam os 
materiais impressos que são elaborados por disciplinas, utilizando linguagem e 
projeto gráfico para atender às necessidades de um aluno que aprende a distân-
cia. O conteúdo é elaborado por profissionais qualificados e que têm experiên-
cia relevante na área, com o apoio de uma equipe multidisciplinar. O material 
impresso é a referência primária para o aluno, sendo indicadas outras mídias, 
como videoaulas, livros, textos, filmes, videoconferências, materiais digitais e 
interativos e webconferências, que possibilitam ampliar os conteúdos e a inte-
ração entre os sujeitos do processo de aprendizagem.
Assim, a UFRN através da SEDIS se integra ao grupo de instituições que 
assumiram o desafio de contribuir com a formação desse “capital” humano 
e incorporou a EaD como modalidade capaz de superar as barreiras espaciais 
e políticas que tornaram cada vez mais seleto o acesso à graduação e à pós-
graduação no Brasil. No Rio Grande do Norte, a UFRN está presente em polos 
presenciais de apoio localizados nas mais diferentes regiões, ofertando cursos 
de graduação, aperfeiçoamento, especialização e mestrado, interiorizando 
e tornando o Ensino Superior uma realidade que contribui para diminuir as 
diferenças regionais e transformar o conhecimento em uma possibilidade concreta 
para o desenvolvimento local.
Nesse sentido, este material que você recebe é resultado de um investimento 
intelectual e econômico assumido por diversas instituições que se comprometeram 
com a Educação e com a reversão da seletividade do espaço quanto ao acesso 
e ao consumo do saber E REFLETE O COMPROMISSO DA SEDIS/UFRN COM 
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA como modalidade estratégica para a melhoria dos 
indicadores educacionais no RN e no Brasil. 
Secretaria de Educação a Distância 
SEDIS/UFRN
5
Apresentação da disciplina
7
Caro(a) aluno(a), na Aula 1 desta disciplina, estudaremos a abordagem feno-
menológica da corporeidade que dá sustentação teórica às aulas práticas da 
disciplina e ao conteúdo apresentado. Na Aula 2, você terá acesso ao conhecimento 
da antiginástica e aos princípios teóricos e metodológicos dessa técnica corporal 
de sensibilização. 
Na Aula 3, você poderá compreender a eutonia e a busca do equilíbrio do tônus 
muscular em atividades de ritmo e expressão corporal. 
Na Aula 4, abordaremos a técnica de Feldenkarias em toda sua riqueza de 
experiências da motricidade humana. 
Na Aula 5, discutiremos as noções de tato e contato, como também a massa-
gem tal como uma técnica de relaxamento e, sobretudo, de interação e afetividade 
na relação com o outro. 
Na Aula 6, aprofundaremos essa perspectiva do contato humano por meio 
das experiências da bioenergética e da biodança. 
Na Aula 7, faremos uma viagem ao oriente e à experiência filosófica e cor-
pórea do tai chi chuan, você irá descobrir uma nova maneira de perceber seu 
corpo na relação com a natureza e com o mundo. 
Na Aula 8, você entrará em contato com o Método Dança-Educação Física 
(MDEF), precursor da consciência corporal na educação física. 
Nas Aulas 9 e 10, você poderá compreender aspectos do corpo relacionados 
ao corpo, à sexualidade e ao conhecimento da educação física em vários níveis 
da educação básica. Nesse percurso, espera-se que você possa descobrir e encon-
trar horizontes para acessar o conhecimento sobre o corpo nas aulas da nossa 
disciplina. Isto é, descobrir seu corpo, sua motricidade e sensibilidade como 
formas de se expressar, de ser e de estar no mundo de forma criativa, em toda sua 
plenitude. Espera-se, ainda, que você possa ser sensívelaos conhecimentos dessa 
disciplina que articulam princípios teóricos e metodológicos, teoria e prática, mas, 
sobretudo, objetivamos despertar cada um de vocês para a responsabilidade, a 
consciência corporal e profissional de ser professor(a) de educação física na arte 
de cuidar do corpo e da vida. 
Consciência corporal e 
atitude fenomenológica
1
Aula
11
2
1
11
Apresentação
O que significa estar consciente? Somos conscientes de tudo o que se passa ao nosso redor? Somos conscientes de nossa realidade corpórea? Nesta aula, vamos introduzir o tema da consciência corporal. 
O significado do termo consciência ultrapassa o uso comum de estarmos 
cientes dos próprios estados, percepções, ideias, sentimentos e vontades. O sig-
nificado também ultrapassa o sentido usual quando se diz que alguém está 
consciente se não está dormindo, desmaiado ou afastado de suas ações, como 
ocorre em estado de coma ou transe, por exemplo. 
Nesta aula, vamos apresentar o sentido filosófico do termo consciência que 
remete a uma noção em que o aspecto ético-moral (a possibilidade de autojulgar-se) 
tem conexão com o aspecto teórico (possibilidade de conhecer-se). Desse modo, 
sentir, pensar e agir são dimensões de um mesmo fenômeno. Por essa razão, não 
é incomum observarmos as atitudes do cotidiano e nos questionarmos: agimos 
com conhecimento? Somos capazes de conhecer tudo? Quais os fenômenos 
que abrangem a nossa vida psíquica? Essas são algumas das questões a serem 
abordadas nesta aula. 
Vamos relacionar a noção de consciência com o conhecimento do corpo. 
Para tanto, iremos considerar a atitude fenomenológica, as noções de corporeidade 
e motricidade como base para as dimensões metodológicas das práticas corporais 
que iremos abordar nas demais aulas da disciplina Consciência Corporal.
Objetivos
Analisar as concepções de consciência ao longo 
da história do conhecimento.
Relacionar a consciência corporal com a atitude 
fenomenológica.
Aula 1 Consciência corporal 13
Breve história da noção de consciência
Do ponto de vista científico e filosófico, podemos dizer que a consciência remete ao sujeito, tendo como centro a atividade reflexiva. Porém, o reco-nhecimento de uma realidade interior privilegiada só existe nas filosofias 
que assumem como tema a oposição entre interioridade e exterioridade, ou seja, 
nas filosofias dualistas que distinguem corpo e alma, sujeito e objeto. 
A elaboração decisiva da noção de consciência é dada pelo filósofo da 
antiguidade grega Plotino, como sendo um retorno para a interioridade ou uma 
reflexão sobre si mesmo. Mas, só com Descartes, filósofo francês do século XVII, 
a noção é esclarecida e quase que universalmente aceita na filosofia ocidental, 
com sua famosa frase: cogito ergo sum, que é compreendida como sendo a 
autoevidência existencial do pensamento (ABBAGNANO, 1998).
Observe que a construção do conceito de consciência percorre um longo ca-
minho da antiguidade época moderna. E, hoje, o que podemos dizer da noção de 
consciência? Entre os séculos XIX e XX também ocorreram mudanças na perspectiva 
da compreensão da consciência e nas relações entre corpo e alma, sujeito 
cognoscente, alienação e inconsciente, fenômenos relacionados diretamente com 
a compreensão contemporânea da consciência. Nesta aula, vamos percorrer esse 
caminho de forma panorâmica para perceber essa construção conceitual e seus 
desdobramentos teóricos e práticos.
Como ponto de partida, vamos voltar à antiguidade grega e começar 
nossa caminhada na busca por compreender e ampliar nossa compreensão 
de consciência e sua história no pensamento ocidental. Vamos começar com 
Platão, filósofo grego, que viveu entre os séculos 427-348 a.C. em Atenas, e que 
viajou também pelo Oriente. Sua filosofia é marcada, portanto, por reminiscências 
da cultura oriental.
Platão escrevia sob a forma de diálogos. Em um de seus diálogos, o “Fédon”, 
ele reflete sobre as relações corpo e alma. Desde já, esclarecemos que o sentido de 
alma na antiguidade não tinha uma conotação cristã, como percebemos hoje. A 
alma relacionava-se com o intelecto. Para Platão, só ao intelecto é dado conhecer 
essas ideias, por ser ele também incorpóreo. Por sua vez, o corpo seria um obstáculo 
à realização do ideal de bem e de verdade a que a alma aspira. Vejamos o que 
nos diz o próprio filósofo:
Durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada 
com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos 
desejos! Ora, este objeto é, como dizíamos, a verdade. Não somente mil e 
uma confusões nos são efetivamente suscitadas pelo corpo quando clamam 
as necessidades da vida mas ainda somos acometidos pelas doenças, e 
eis-nos às voltas com novos entraves em nossa caça ao verdadeiro real. O 
corpo de tal modo nos inunda de amores, paixões, temores, imaginações 
de toda a sorte, enfim, uma infinidade de bagatelas, que por seu intermédio 
(sim, verdadeiramente é o que se diz) não recebemos na verdade nenhum 
pensamento sensato; não, nem uma vez sequer! (PLATÃO, 2011, p. 55).
Aula 1 Consciência corporal14
Nesse sentido, a alma humana, antes de prender-se ao cárcere corpóreo, teria 
contemplado as ideias eternas. Encarnada, perde a possibilidade de contato direto 
com os arquétipos incorpóreos. No entanto, por ser imortal, a alma conserva o 
conhecimento adquirido no mundo das ideias. Com o passar das gerações, há um 
esquecimento das ideias; nesse caso, como se daria o processo de conhecimento 
no mundo sensível? Para Platão, aprender é recordar, ou seja, diante das cópias 
presentes no mundo material, a alma recupera gradativamente o conhecimento. 
Em “A República”, diálogo em que discute o projeto de uma cidade ideal, Platão 
(1990) admite a contribuição do corpo, com base na ginástica, na educação 
dos cidadãos, visando proporcionar o equilíbrio entre as duas faces da alma: a 
corajosa e a filosófica, como se pode notar na citação a seguir.
Para estas duas faces da alma, a corajosa e a filosófica, ao que parece, 
eu diria, que a divindade concedeu aos homens duas artes, a música e a 
ginástica, não para a alma e o corpo, a não ser marginalmente, mas para 
aquelas faces, a fim de que se harmonizem uma com a outra, retesando-se 
ou afrouxando-se até onde lhes convier (PLATÃO, 1990, p. 151).
Apesar dessa referência ao corpo no projeto educativo de “A República”, cons-
tatamos que o corpo é um mero instrumento para o aperfeiçoamento da alma. 
Seguindo na filosofia antiga, podemos perceber que em Aristóteles (384-322 a.C.), 
discípulo de Platão, o dualismo corpo e alma será amenizado, visto que no seu 
pensamento não ocorre a cisão entre o mundo da matéria e o mundo das ideias. 
Embora, de acordo com Aristóteles, a matéria permaneça inferior. Para ele, o 
mundo, apesar de único, apresenta-se como uma hierarquia cujos membros 
mais elevados são substâncias imateriais. Nesse caso, no homem, o mais bem 
organizado de todos os seres, existe uma forma que não se serve de nenhum 
órgão corporal e que pode sobreviver ao corpo, a saber, o intelecto.
É interessante ressaltar que, em sua teoria do conhecimento, Aristóteles não 
admitiu as ideias inatas de Platão. Para ele, elas são adquiridas a partir da 
percepção dos objetos do mundo externo. Sendo assim, tudo o que o espírito 
conhece passa pelos sentidos do corpo. Apesar de reconhecer que o homem 
é um composto substancial unificado (matéria-forma) e de reconhecer o papel 
dos sentidos no conhecimento, o homem aristotélico é, em essência, um ser 
contemplativo, pois o intelecto humano sobrevive após a morte para reintegrar 
o intelecto universal, ordenador do mundo.
Segundo Aristóteles, as essências estão nas próprias coisas, na realidade em 
que vivemos e nos homens que as buscam e que as conhecem a partir das 
sensações. Entretanto, é o intelecto que organiza o conhecimento, caracterizando 
o homem como um ser que se diferencia dos outros seres pela intelecção e não 
pela sua corporeidade.
Nessa perspectiva, convémregistrar que há, na cultura grega da antiguidade, 
outras formas de compreensão do corpo, além da que está presente na metafísica 
de Platão e Aristóteles. Na mitologia, nas artes, nos encontros esportivos, o 
Ágora 
Significa o espaço público no 
qual os gregos discutiam os 
assuntos da Pólis, a cidade grega.
Aula 1 Consciência corporal 15
povo grego cultua o corpo, não havendo, no seu viver cotidiano, a separação 
entre sensibilidade e racionalidade. Para Jaeger (1989), a força física distinguia 
o homem, fazendo-o ser o melhor dos homens, o herói grego. Nesse sentido, os 
gregos consideram o corpo como a síntese de sua humanidade, devendo, pois, 
ser cultivado para que o homem possa se realizar plenamente.
O ateniense daqueles tempos sentia-se mais no seu meio no ginásio do que 
entre as quatro paredes de sua casa, onde dormia e comia. Era ali, sob a 
transparência do céu da Grécia, que diariamente se reuniam novos e velhos 
para se dedicarem ao cultivo do corpo (JAEGER, 1989, p. 362). 
No ginásio, e não apenas na Ágora, discutiam-se questões políticas e morais, 
denotando a integração da prática do exercício físico, da ginástica – palavra de 
origem grega que se refere à arte de exercitar o corpo nu – ao modo de vida da 
Pólis grega. O homem grego vê no culto ao corpo um sentido de totalidade e de 
elevação de sua humanidade. No entanto, o que passou para a tradição filosófica 
foi o dualismo platônico-aristotélico.
Por sua vez, as ideias de Platão e de Aristóteles serão incorporadas pelo pen-
samento, respectivamente, de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino, dentro 
da perspectiva cristã. Na Idade Média, o corpo vai ser visto pelos filósofos-teólogos 
como símbolo do pecado. Para esses pensadores cristãos, o homem deveria 
desligar-se de tudo que o prendesse à sua existência terrena, pois só assim 
poderia realizar a sua verdadeira essência, espiritual e ultraterrena.
Além disso, com a transição da sociedade feudal para a sociedade capita-
lista mercantil ocorreram grandes transformações também no plano filosófico, 
destacando-se a supremacia da razão no conhecimento da natureza, das leis 
que a regem. A Filosofia Moderna muda então o seu centro de investigação, 
não se preocupando mais com a busca das essências, no sentido que se tinha 
considerado na antiguidade e no período medieval, mas sim com a busca pelo 
conhecimento certo, evidente e seguro.
 De acordo com Nóbrega (2009), duas orientações filosóficas expressam essa 
tendência do pensamento moderno: o Racionalismo Empirista ou Empirismo, 
centrado no objeto de conhecimento e o Racionalismo Idealista ou Racionalismo, 
centrado no sujeito do conhecimento. Gostaríamos de chamar a atenção para 
a maneira como se processa o conhecimento nessas orientações, destacando o 
conceito de impressão sensível no Racionalismo, no Empirismo e no Criticismo 
Kantiano, o último como sendo uma tentativa de síntese entre os dois primeiros.
Para o Racionalismo, que terá em Descartes o seu maior representante, a 
impressão sensível era uma ilusão dos sentidos e não poderia conduzir ao 
conhecimento verdadeiro. A verdade só poderia ser conhecida, a priori, indepen-
dentemente de qualquer dado da experiência sensorial, a partir de uma intuição 
puramente intelectual. No Empirismo, assumido por Bacon, Locke, Berkeley e 
Hume, a impressão sensível refere-se às qualidades apresentadas pelos objetos 
exteriores, fora do sujeito. Nesse sentido, todo conhecimento seria, a posteriori, 
vinculado à experiência e organizado pelo hábito (NÓBREGA, 2009).
Aula 1 Consciência corporal16
No século XVIII, o Criticismo Kantiano representou a tentativa de sintetizar 
as orientações do Racionalismo e do Empirismo, unindo os dados da razão à 
experiência sensível. De acordo com Kant, as impressões sensoriais são pontos 
caóticos que devem ser ordenadas por categorias lógicas, a priori, espaço e tempo. 
A partir dessa organização teríamos a intuição, a imagem sensível que, enviada 
ao entendimento, possibilitaria o conhecimento do fenômeno (NÓBREGA, 2009).
Desse modo, percebemos que o sensível está posto na filosofia moderna, mas 
assume, em relação ao conhecimento, um papel inferior ou acessório. O processo 
de racionalização chega ao corpo através do desenvolvimento da ciência médica. 
Conforme citado por Nóbrega (2005, p. 602), o filósofo Rosseau, em sua obra "O 
Emílio", um tratado sobre a educação publicado em 1762, trata da educação a partir 
do conhecimento do corpo. Não se baseia na distinção clássica das faculdades: 
“sensibilidade, moral, inteligência, mas na necessidade de uma educação diferen-
ciada de acordo com as idades (da natureza, da força, da sabedoria)”. O filósofo:
[...] faz uma crítica à medicina curativa e enaltece a higiene, considerando-a 
como a parte útil da medicina. Nessa perspectiva, a educação do corpo visa 
civilizar as paixões, os desejos e necessidade do corpo através dos exercícios 
físicos. O corpo e o movimento, apesar de valorizados nos processos edu-
cativos, ainda são considerados como elementos acessórios na formação do 
ser humano (NÓBREGA, 2005, p. 602).
Para Nóbrega (2009), no século XIX, o idealismo alemão exaltará a subjetivi-
dade. Em Hegel, o corpo e o espírito cooperam para a humanização do homem 
por meio do trabalho, mas o princípio da natureza humana é o espírito. Hegel 
afastou seu pensamento do homem em sua concretude, ou melhor, reduziu esta 
a apenas um momento da história do espírito.
Nessa perspectiva, o elemento da concretude passa a ser marcante no 
pensamento de Marx: o homem como uma categoria histórica. Segundo esse 
autor, o corpo do homem, do trabalhador, não é apenas um corpo alienado mas 
é um corpo deformado pela mecanização e condição precária à realização dos 
movimentos do trabalho. Nesse espírito do racionalismo moderno serão cons-
truídos os métodos ginásticos, visando, de um modo geral, adaptar o corpo às 
necessidades da emergente sociedade industrial, promover hábitos saudáveis e 
controlar as energias corporais para o aprendizado intelectual.
De acordo com Nóbrega (2009), ao refletirmos sobre o olhar dos filósofos sobre 
o corpo e destacar o caráter predominantemente dualista do pensamento filosófico 
ocidental, é preciso deixar claro que a filosofia desses grandes pensadores não se 
reduz a esse aspecto e precisa ser contextualizada no espaço-tempo apropriado. 
Nesse caso, o termo grego Sophia, que significa sabedoria, apresenta uma 
dimensão que é, ao mesmo tempo, teórica, prática e intuitiva. Ademais, as ideias 
filosóficas contribuíram significativamente com as mudanças ocorridas em toda a 
humanidade, na ciência, na técnica, na concepção de natureza, na teoria política, na 
teologia, na educação e na estética. Como conhecimento que interroga a si mesmo, 
a racionalidade filosófica, ou seja, o poder da razão também foi questionado.
Aula 1 Consciência corporal 17
Ainda no século XIX, vamos encontrar no pensamento de Nietzsche uma crítica 
à tradição dualista e uma revalorização do corpo na compreensão do homem. 
No seu pensamento, a existência do homem só tem sentido naquilo que lhe seria 
mais humano, seu próprio corpo. A partir do corpo, o homem pode agir e agindo 
pode conseguir sua realização como homem. A tarefa mais importante a ser rea-
lizada pelo homem, a transmutação dos valores decadentes (relacionados com a 
fraqueza), só poderá ser empreendida pelo corpo e compreendida pelos sentidos.
De acordo com Nietzsche (1994), enquanto a alma for compreendida pela 
metafísica ocidental como meio para chegar ao mundo suprassensível, o corpo 
está vinculado a terra, sendo por isso mesmo desprezado. Porém, essa tentativa 
de escapar ao corpo é um grande erro, uma vez que ele se faz presente em todos 
os atos humanos, é a vida em sua plenitude, em toda a sua força. Desprezar o 
corpo é, portanto, negar a vida e o próprio ser.
Ao valorizar o corpo, Nietzsche não despreza a consciência, visto que esta 
pertence integralmente ao corpo, porém o devir dos processos corporaisnão pode 
ser traduzido em palavras, conceitos, processos racionais simplificadores. Ao 
corpo atribui-se uma inteligibilidade pautada no domínio sensível. O pensamento 
teórico da humanidade (filosofia e ciência) vai pautar-se pela racionalidade, ne-
gando o corpo. Para Nietzsche (1994), esse pensamento é expressão da fraqueza, 
negação da parte instintiva do homem, negação da vida, gerando um conheci-
mento afastado da realidade existencial, sem sentido para o homem.
Desse modo, Nietzsche parece reencontrar o sentido para a vida na arte. 
Nesta, razão e instintos, ou seja, os deuses gregos Apolo e Dioniso, estão em 
tensão, havendo um predomínio do saber dionisíaco, na medida em que afirma 
um sentimento de unidade. Essa unidade tem sua expressão no corpo humano. 
Um corpo cuja ação é significativa, portadora de simbolismo, afirmação da força, 
da humanidade do homem.
No século XX, vamos encontrar no pensamento de Merleau-Ponty uma pers-
pectiva ontológica e epistemológica do corpo, sendo a partir do corpo que o sujeito 
humano situa-se no mundo que conhece. A contribuição de Merleau-Ponty coloca-se 
no sentido do reconhecimento da complexidade do corpo e do movimento como 
elementos existenciais. Ao interpretar a obra de Merleau-Ponty (1994), temos 
que o corpo não é objeto, nem ideia, é expressão singular da existência do ser 
humano que se move. O corpo é sexualidade, é linguagem, é movimento, é obra 
de arte. Devido a sua contribuição para o conhecimento do corpo na educação 
física, mais adiante dar-se-á destaque a essa abordagem (NÓBREGA, 2009).
Quanto à consciência, de certo modo, essa temática esteve fora dos círculos 
filosóficos ou foi apenas relacionada com a linguagem. No entanto, os estudos 
do aparelho cerebral e das ciências cognitivas trazem-na de volta à cena, em 
pesquisas, congressos, publicações etc. A redescoberta da consciência como 
tema de investigação da filosofia, psicologia, ciências cognitivas e neurociência 
apresenta questões amplas e sem respostas conclusivas. 
 De acordo com Nóbrega (2010), no campo da biologia e das ciências cognitivas, 
a consciência é um fenômeno biológico natural que não se enquadra apropriadamente 
em nenhuma das categorias tradicionais do mental e do físico. A relação linear 
Aula 1 Consciência corporal18
de causalidade não é suficiente para explicar a interioridade da consciência, 
tampouco pode ser plenamente desconsiderada. Nesse sentido, em termos de 
filosofia da mente, encontram-se as seguintes possibilidades de abordagem: o 
modelo funcionalista e o modelo conexionista.
Para o funcionalismo, a consciência é um tipo de "software", uma máquina 
virtual em nosso cérebro, este, por sua vez, seria o "hardware". Essa concepção 
encontra expressão já bastante divulgada na metáfora do cérebro computador, 
proposta inicialmente por Von Neumann. Além das limitações formalistas do 
processamento simbólico, outra limitação importante da abordagem funcionalista 
refere-se à questão da localização das funções cerebrais em um mapa cortical 
mais ou menos rígido. 
O conexionismo, por sua vez, aborda a mente com base nas redes neurais, 
em uma tentativa de romper a barreira das regras lógicas. Em vez de estruturas 
básicas localizáveis, o que há são padrões aprendidos e regularidades. Nesse 
caso, a rede neural é um conjunto de neurônios artificiais que parte da conexão 
sináptica, disparando potenciais de ação (VARELA et al., 1996). 
No campo das ciências cognitivas, o biólogo Francisco Varela apresenta a 
abordagem da auto-organização, na qual propriedades emergentes são geradas 
no processo recursivo organismo-entorno. Nessa perspectiva, a enação, ou seja, 
a capacidade de aprendizagem por meio da interpretação, compreendida como 
percepção dos acontecimentos, é responsável pela cognição. Essa abordagem 
aproxima-se dos estudos fenomenológicos da percepção, especialmente das 
reflexões de Merleau-Ponty (VARELA et al., 1996).
Essas breves considerações sobre a abordagem da consciência na história 
do conhecimento apresentam uma visão panorâmica, uma contextualização do 
campo dos estudos sobre a temática. Elas são modos de compreender, isto é, 
modelos teóricos que buscam respostas para a complexa relação mente-cérebro-
-consciência e podem contribuir para situar o leitor no tema da consciência.
Há ainda outros aspectos fundamentais para os estudos da consciência, a 
saber: o inconsciente e a ideologia. Esses aspectos mostram-nos limites para a 
consciência e ampliam as questões relativas à vida psíquica e à vida social. 
Quanto à consciência, o criador da psicanálise Sigmund Freud escreveu que, 
no transcorrer da modernidade, os humanos foram feridos três vezes e que 
essas feridas atingiram nosso narcisismo, ou seja, a imagem que tínhamos de 
nós mesmos como seres conscientes e racionais. Que feridas foram essas? Chauí 
(2009) nos responde:
A primeira foi a que nos infringiu Copérnico, ao provar que a Terra não 
estava no centro do Universo e que os homens não eram o centro do mundo. 
A segunda foi causada por Darwin, ao provar que os homens descendem de 
um primata, que são apenas um elo na evolução das espécies e não seres 
especiais criados por Deus para dominar a natureza. A terceira foi causada 
pelo próprio Freud com a psicanálise, ao mostrar que a consciência é a 
menor parte e a mais fraca de nossa vida psíquica (CHAUÍ, 2009, p. 168).
Aula 1 Consciência corporal 19
Que interessante é essa visão, você concorda? Ela nos desloca do centro do 
conhecimento e da atividade racional para abrir o EU a outros universos. Isso se deu 
a partir de Freud, que era psiquiatra, e usava, de início, a hipnose nos tratamentos 
com doenças mentais. Depois, começou a usar um novo procedimento – a técnica de 
livre associação – que permite falar tudo o que nos vem à cabeça. Com esse proce-
dimento ele descobriu, por meio das reações, dos sonhos narrados, das lembranças 
da infância que a vida consciente é determinada por uma vida inconsciente.
Para Freud (2011), a vida psíquica é constituída por três instâncias: o ego, o 
superego e o id. Este último refere-se ao inconsciente, que está ligado aos desejos, 
instintos, pulsões e prazer. Trata-se de uma energia que vem dos instintos e 
relaciona-se com a natureza sexual. Nesse caso, a nossa consciência tem uma 
dupla tarefa: recalcar e satisfazer o id (inconsciente) e o que vemos. Não se trata 
de uma tarefa simples e, por isso, muitas vezes causa angústia.
Lidamos com esse fenômeno de várias maneiras, por vezes, desenvolvendo 
neuroses e psicoses que são sintomas. Fazemos uso também da sublimação, ou 
seja, buscamos satisfazer nossos desejos indiretamente, como uma espécie de 
compensação. Desse modo, as obras de arte, o conhecimento, o trabalho, por 
exemplo, podem ser formas de sublimação, que nos aliviam da angústia de existir 
entre desejos, necessidades e vontades que nem sempre podem ser completamente 
satisfeitas (FREUD, 2011).
A esse respeito, concordamos com Chauí (2009) quando afirma que nossa 
consciência é frágil, mas é ela que decide e aceita correr o risco da angústia 
e dos possíveis sintomas que essa fragilidade pode desencadear ou decifrar o 
inconsciente buscando a elaboração de nossos desejos e formas de sublimação.
Ainda de acordo com Chauí (2009), além das feridas narcísicas apontadas por 
Freud, temos de acrescentar mais uma, a saber: a que nos foi apresentada por 
Marx com a noção de ideologia e que se aplica mais prioritariamente à vida social. 
Com o estudo da ideologia, Marx abrange o modo como se formam as religiões 
e a forma como os seres humanos têm a necessidade de explicar a origem e a 
finalidade do mundo. Ao buscar essa explicação, o homem projeta para fora de si 
um ser superior e dotado de qualidades que julgam serem as melhores, como a 
inteligência, a liberdade, a justiça, a beleza. Pouco a pouco, os homens esquecem 
que foram eles mesmos que inventaram essas qualidades e passam a acreditar em 
um ser superior. Desse modo, “quando os homens não sereconhecem num outro 
que eles mesmos criaram, eles se alienam” (CHAUÍ, 2009, p. 171).
Marx não se interessou apenas pela alienação religiosa, mas também pela 
alienação social. Interessou-se ainda em compreender as causas pelas quais os 
homens ignoram quem são os criadores da sociedade, da politica, da cultura e 
os agentes da história.
De acordo com Chauí (2009), há três formas de alienação, quais sejam: 
alienação social, econômica e intelectual. A primeira relaciona-se mais diretamente 
com a vida política; a segunda diz respeito às relações de produção que se dão 
no trabalho; e a terceira refere-se à divisão entre trabalho intelectual (ideias) e 
trabalho material (mercadorias). Essa alienação opera uma inversão na realidade 
Leituras complementares
Aula 1 Consciência corporal20
e nos faz ver as coisas de modo distorcido. Assim como ocorre com o inconscien-
te, é preciso compreender os aspectos históricos que levam à alienação social, 
econômica e intelectual para depois buscar superá-las, erguendo o véu e tirando 
a máscara, tentando a emancipação dos explorados, a superação de preconceitos 
e das injustiças sociais. 
Percebemos, assim, que a noção de consciência é complementada pelas noções 
de inconsciente e de ideologia nas quais o pensamento, o conhecimento e a existên-
cia se realizam. A seguir vamos abordar essa temática, relacionando-a diretamente 
com o campo da educação física, particularmente com a abordagem fenomenológica 
da consciência corporal. Antes disso, caro(a) aluno(a), propomos algumas leituras 
complementares e atividades para ampliar e consolidar a sua aprendizagem. 
MOREIRA, A. R. de L. Algumas considerações sobre a consciência na perspec-
tiva fenomenológica de Merleau-Ponty. Estudos de Psicologia, Natal, v. 2, n. 
2, p. 399-405, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epsic/v2n2/
a12v02n2.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2014. 
O artigo apresenta um panorama da visão de consciência na filosofia ocidental. 
FREUD, S. O mal-estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
O livro apresenta a noção de inconsciente formulada por Freud e suas 
relações com a cultura e a vida social. Reflete sobre a infelicidade e a angústia 
como fenômenos psíquicos e sociais. Trata-se de um clássico sobre o tema, que 
permite ampliar nossa compreensão de consciência.
1Atividade
1
2
Aula 1 Consciência corporal 21
JORNADA da Alma. Direção de Roberto Faenza. França, Reino Unido, Itália, 
2002. 1 DVD (1h 30min.).
Sua apreciação permite compreender as relações entre a noção de consciência 
e inconsciente, bem como as relações com o corpo e com a psique humana.
Sinopse: Em 1905, Sabina (Emilia Fox), uma jovem russa de 19 anos que sofre 
de histeria, recebe tratamento em um hospital psiquiátrico de Zurique, na Suíça. 
Seu médico, o jovem Carl Gustav Jung (Ian Glen), aproveita o caso para aplicar 
pela primeira vez as teorias do mestre Sigmund Freud. A cura de Sabina vem 
acompanhada de um relacionamento amoroso com Jung. Após alguns anos, ela 
volta à Rússia, tornando-se também psicanalista e montando a primeira creche 
que usa noções de psicanálise para crianças. Décadas após sua morte, ela tem sua 
trajetória resgatada por dois pesquisadores.
Disponível em: http://www.baixarfilmesdublados.net/baixar-filme-jornada-da-
-alma-legendado/>. Acesso em: 2 maio 2014 ou em <https://www.youtube.com/
watch?v=_1XJIFKxGJ4&list=PLA723A287AB473620>. Acesso em: 2 maio 2014.
A partir da leitura da aula, responda às seguintes questões:
Caracterize a compreensão de consciência nas filosofias an-
tiga e medieval, no pensamento moderno e contemporâneo.
Somos conscientes de tudo o que se passa ao nosso redor? 
Qual o papel do inconsciente e da ideologia nas nossas vidas?
Aula 1 Consciência corporal22
A percepção do corpo próprio 
e do corpo do outro
Neste momento da aula, iremos relacionar a consciência corporal com a 
atitude fenomenológica apresentada a fim de demonstrar a importância dessa 
abordagem para a compreensão do conhecimento do corpo em vários domínios, 
em particular na educação física. Vamos começar mencionando o criador da feno-
menologia, o alemão Edmundo Husserl. No início do século XX, Husserl apre-
senta uma rigorosa crítica ao Positivismo e à distinção extrema entre objetividade 
e subjetividade, ciência e filosofia. Para Husserl, a tarefa da fenomenologia não 
consiste em explicar o mundo, enquanto relação de causalidade do tipo estímulo-
-resposta, mas compreender seu sentido, ou seja, o que as coisas significam para 
o ser humano nas relações que estabelece com o seu mundo-vida, com a cultura, 
com os outros homens (NÓBREGA, 2009). 
Diferentemente da perspectiva cartesiana em que a experiência do ser no 
mundo é substituída pela significação do mundo – pois as essências estão no 
cogito (pensamento) –, para a perspectiva fenomenológica, as essências encon-
tram-se na existência. Desse modo, o ser humano é compreendido a partir das 
experiências vividas. Trata-se de uma posição inovadora frente ao conhecimento, 
cujo alcance irá colocar o corpo humano e sua subjetividade em evidência.
Para a fenomenologia, a consciência não constitui o mundo, este já está aí, 
mas ela se dirige ao mundo para apreendê-lo. O pensamento de Husserl será 
retomado por Merleau-Ponty, outro filósofo contemporâneo que irá dar ao corpo 
um lugar de destaque. De acordo com Merleau-Ponty (1994), faz-se necessário 
reconhecer a própria consciência como projeto do mundo, destinada a um mundo 
que ela não alcança nem possui; mas em direção ao qual ela não cessa de se 
dirigir. Nesse contexto, a tarefa da filosofia seria reaprender a ver o mundo, tarefa 
sempre inacabada (NÓBREGA, 2010).
Para a fenomenologia, a consciência inscreve-se no corpo e na motricidade. De 
acordo com Nóbrega (2010), o corpo do qual falamos na fenomenologia não se 
resume ao universo mecânico da extensão, pois se trata do corpo vivo, sexuado, 
que deseja, que sofre, que sorri e que fala. Não se trata do corpo-físico, massa 
imaterial ou inerte, mas o corpo vivo dotado de uma intencionalidade original 
(que se dirige para o mundo), isto é, de motricidade (movimento intencional do 
ser no mundo), a qual me permite lançar no mundo e apreender seu sentido.
O corpo, por sua vez, é a nossa síntese com o mundo. Um exemplo significativo 
para compreender a síntese do corpo está na relação do corpo com o mundo dos 
objetos. O uso da bengala, por exemplo, faz com que o mundo dos objetos táteis 
não comece na epiderme da mão, mas na extremidade da bengala. Sobre essa 
relação do corpo com a bengala, Merleau-Ponty afirma que as pressões da mão 
não são dados à maneira empirista, haja vista que a bengala é uma extensão da 
síntese corporal. Numa visão clássica, essa relação corpo-bengala é explicada 
pelo esquema estímulo-resposta.
Aula 1 Consciência corporal 23
Na análise intelectualista, separa-se o signo (objeto bengala) da significação 
(função de apoiar). Na perspectiva fenomenológica, a bengala foi incluída no 
esquema corporal, faz parte da estrutura perceptiva. Desse modo, o conteúdo 
sensível, ou seja, a forma da bengala já é dotada de sentido. Portanto, a bengala 
está incluída na estrutura perceptiva, na relação de comunicação entre o sujeito e o 
mundo. Assim, mover-me apoiado na bengala, altera, corrige, molda e ultrapassa 
a minha relação com o mundo, o modo como me relaciono com os outros e com 
o espaço arquitetônico. Nesse sentido, a gestualidade prolonga-se em hábito 
perceptivo, provocando mudança no modo de andar, um uso diferente do corpo, 
escrevendo outro modo de ser e de existir.
De acordo com Merleau-Ponty (1994), na base de toda a compreensão da 
realidade está o sentir, essa realidade pré-objetiva que temos de descobrir em 
nós mesmos, a partir do nosso mundo-vida, da nossa corporeidade. A concepção 
fenomenológica de corpo supera a tradição cartesiana do corpo-máquina e do 
conhecimento da realidade pautado na lógica racionalista que opõe corpo e 
mente, sujeito e objeto do conhecimento,entrelaçando ambos. 
O corpo realiza a existência, põe o sujeito em situação, diferenciando-se dos 
objetos exteriores, inclusive pela sua espacialidade diferenciada: “O contorno de 
meu corpo é uma fronteira que as relações de espaço ordinárias não transpõem” 
(MERLEAU-PONTY, 1994, p. 143). Isso ocorre porque as partes do corpo rela-
cionam-se de um modo original, envolvem-se umas nas outras, constituindo-se 
uma unidade indivisível. O corpo não está no espaço como um objeto; ele desenha 
o espaço, garantindo uma conformação original de acordo com a situação. Nesse 
ponto, o conceito de esquema corporal é esclarecedor: “O esquema corporal não é 
nem o simples decalque nem mesmo a consciência global das partes existentes do 
corpo, e porque ele as integra ativamente em razão de seu valor para os projetos 
do organismo” (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 145).
Segundo Nóbrega (2009), Merleau-Ponty faz uma nova leitura do conceito de 
esquema corporal advindo da neurologia clássica para além do reconhecimento 
das partes do corpo, definindo-o como uma propriedade do organismo que 
garante a sua integração ativa enquanto unidade que põe o sujeito em situação, 
ou seja, em relação com o mundo. Essa nova leitura permite contextualizar o 
conceito de esquema corporal também no âmbito filosófico. Nesse sentido, o 
esquema corporal é a maneira de exprimir que o corpo está no mundo, não como 
coisa, objeto ou ideia, mas como presença viva e em constante movimento. Essa 
presença corporal no espaço e no tempo marca a singularidade da existência do 
sujeito e o horizonte de seus projetos.
Ademais, o uso que o ser humano faz de seu corpo ultrapassa o nível biológico, 
o nível dos instintos, ele cria um mundo simbólico, de significações. O ser humano 
não está aprisionado, como os animais, nos limites de suas condições naturais, 
ele as amplia, variando os pontos de vista, reconhecendo numa mesmo fenômeno 
diferentes perspectivas. Dessa forma, realizar um movimento não seria simples-
mente utilizar o equipamento anatômico mas aprender as coisas do mundo de 
forma original, fornecendo uma resposta adequada à nova situação. 
Aula 1 Consciência corporal24
Nessa perspectiva, se o movimento não possui essa significação, ou mesmo 
se isso não é despertado, o movimento deixa de expressar a originalidade do 
sujeito e o corpo passa à condição de objeto, de coisa. Ademais, realizar um 
movimento é realizar projetos de nossa existência. Quando jogo, canto ou danço, 
não estou apenas colocando em funcionamento o meu equipamento anatômico 
e fisiológico, estou vivendo, simultaneamente, o mundo cultural que conformou 
esse jogo, esse canto, essa dança e todos os meus projetos existenciais neles 
representados (SEBASTIÃO; NÓBREGA, 2009).
Quanto à consciência corporal, tem sido tematizada na educação física brasi-
leira a partir dos estudos da psicomotricidade e das chamadas “técnicas alterna-
tiva” (CLARO, 1995). Nesse contexto, busca-se contrapor-se ao aspecto dualista 
presente na educação física tradicional. Para tanto, várias técnicas fundamentam 
essa proposta de resgate da sensibilidade, entre elas: a antiginástica; a eutonia; o 
método Feldenkrais; a bioenergética; o Método Dança-Educação Física e outras, 
inclusive as técnicas orientais (Yoga, Do-In, Tai Chi Chuan). Essas técnicas surgem 
a partir do trabalho com terapia, com exceção do Método Dança-Educação Física, 
que as utiliza adaptando-as ao processo educacional, e das técnicas orientais que 
compõem o referencial filosófico-religioso daquela cultura. 
Na perspectiva fenomenológica, a corporeidade é compreendida como a condição 
essencial do ser humano, sua presença corporal no mundo, um corpo vivo que cria 
linguagem e se expressa pelo movimento, com diferentes sentidos e significados. 
Nesse sentido, a consciência corporal é a percepção que o ser humano possui de sua 
realidade existencial como corpo em movimento, como corporeidade.
A corporeidade é a matriz a partir da qual as expressões corporais estruturadas 
pelo homem ao longo da história estariam fundamentadas, como exemplo, temos: 
os jogos, as danças, os esportes, as lutas. Essas expressões são temporais, históricas, 
vivas e significantes, portanto, mutáveis, o que pode oferecer possibilidades de 
reagir aos condicionantes da ideologia do mercado e ao viés mecanicista de corpo 
banalizado pela sociedade de consumo.
Nesse cenário, essa leitura do corpo nada mais é do que um processo de cons-
cientização, da leitura das vozes do corpo. Lucidamente, Santin (1987) alerta-nos 
sobre a delicada tarefa educativa da educação física, que é interpretar a linguagem 
da corporeidade, as necessidades, os desejos, as emoções que compõem o seu 
quadro linguístico e que se expressa nos movimentos.
Além disso, o resgate da sensibilidade faz-se urgente dentro de uma sociedade 
racionalizadora como forma de ampliar a percepção do sujeito frente às investidas 
do poder dominante. Para Foucault (1992), o poder institucional investe no corpo 
como forma de controle-estimulação. Assim, a ginástica, os exercícios físicos, o 
desenvolvimento muscular, a nudez, o belo corpo são exaltados para atender às 
necessidades da sociedade capitalista.
Leitura complementar
Aula 1 Consciência corporal 25
Essa emergência do corpo revela muito mais uma sutil repressão, uma forma 
refinada de controle, que a sua libertação e afirmação como síntese humana. O 
discurso que se elabora do corpo é um discurso de corpo liberado, solto, antidis-
ciplinar. Porém, a sociedade é disciplinar em relação ao corpo. Desse modo, ora o 
nosso corpo é aprisionado, ora é liberado. Convivemos com ele todos os momentos 
de nossas vidas e ainda não compreendemos sua linguagem. Ele nos fala, mas não 
ouvimos, não compreendemos. Aprisionados à tradição dualista, não nos perce-
bemos como seres corporais. A esse respeito, Assmann complementa:
Não é verdade que, num sentido muito real, temos imensa dificuldade em 
ser nosso corpo, porque já nos inculcaram, de mil maneiras, que temos 
tal ou qual corpo? Ou seja, mais do que da sua verdade e real substância, 
nossos corpos são corpos que nos disseram que temos, corpos inculcados 
e ensinados, feitos de linguagens, símbolos e imagens. As culturas, as 
ideologias, as organizações sempre inventam um corpo humano adequado 
e conforme (ASSMANN, 1994, p. 72).
Esse processo de conscientização apresenta-se como um desafio para os 
profissionais da educação física, refletindo acerca dos valores que permeiam a 
concepção de corpo, que deixa de ser objeto e passa a ser sujeito do movimento. 
Quanto aos profissionais dessa área, têm muito a contribuir com a educação, 
socializando novos conceitos de corpo, tomando como ponto de partida suas dife-
rentes expressões em movimento que, historicamente, já fazem parte do seu acervo 
e outras que possam vir a incorporar-se. Para isso, esses profissionais precisam 
considerar também que o movimento deve despertar no sujeito a percepção de si 
mesmo como ser corporal em relação aos outros e ao mundo, além de considerar 
também a sensibilidade como atribuidora de significado às ações humanas. 
São justamente esses os aspectos que devem ser pensados nas práticas peda-
gógicas da educação física, em outras palavras, esses profissionais devem atentar 
para fazer uma releitura do seu acervo de movimentos, de forma que o jogo, a 
dança, a ginástica, o esporte possam expressar e comunicar a complexidade do 
ser humano que se movimenta.
BOLSANELLO, D. Educação somática: o corpo enquanto experiência. Motriz, 
Rio Claro, v. 11, n. 2, p. 99-106, maio/ago. 2005. Disponível em: <http://www.
rc.unesp.br/ib/efisica/motriz/11n2/11n2_08DBB.pdf>. Acesso em: 2 maio 2014.
O artigo aborda a compreensão de corpo como experiência baseando-se na 
fenomenologia de Merleau-Ponty e em práticas corporais que contribuem para 
a educação somática e a consciência corporal. 
2Atividade
Resumo
Aula 1 Consciência corporal26
Temos ou somos um corpo? Caracterize a abordagem fenomeno-
lógica da consciênciacorporal descrevendo as noções principais, tais 
como: a corporeidade e o esquema corporal. Apresente as possíveis 
relações entre a abordagem fenomenológica do corpo e da consci-
ência corporal na educação física. Participe de um fórum virtual 
discutindo essa questão.
Nesta aula, apresentamos um panorama da noção de consciência no 
pensamento ocidental e suas relações com o corpo. Tratamos também 
da abordagem fenomenológica da consciência e da corporeidade como 
fundamentação teórica para as aulas teórico-práticas da disciplina de 
consciência corporal na educação física. de uma introdução
Autoavaliação
Como você percebe seu corpo? Em uma folha de papel ofício, tamanho 
A4, faça o desenho de uma figura humana. Pode usar lápis grafite colorir seu 
desenho se preferir. Na aula seguinte, vamos fazer a leitura desse desenho 
e estabelecer relações com a percepção de si, o esquema corporal e a relação 
com o mundo e com o outro. Entregue seu desenho ao tutor de seu polo.
Aula 1 Consciência corporal 27
Referências
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Paulo: Martins Fontes, 1998.
ASSMANN, H. Paradigmas educacionais e corporeidade. 2. ed. Piracicaba, 
SP: Unimep, 1994.
CLARO, E. Método dança-educação física: uma reflexão sobre consciência 
corporal e profissional. São Paulo: Robe, 1995.
CHAUI, M. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2009.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. 10. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1992.
FREUD, S. O mal estar na civilização. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
JAEGER, W. Paidéia: a formação do homem grego. 2. ed. São Paulo: Martins 
Fontes, 1989.
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins 
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NIETZSCHE, F. Assim falou zaratustra: um livro para todos e para ninguém. 
7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994.
NÓBREGA, T. P da. Qual o lugar do corpo na educação? Notas sobre 
conhecimento, processos cognitivos e currículo. Revista educação e 
sociedade, Campinas, v. 26, n. 91, p. 599-615, maio/ago. 2005. 
______. Corporeidade e educação física: do corpo objeto ao corpo sujeito. 3. 
ed. Natal: Editora da UFRN, 2009.
______. Uma fenomenologia do corpo. São Paulo: Livraria da Física, 2010. 
NÓBREGA, T. P. da; SEBASTIÃO, M. L. Corpo e movimento: reflexões sobre 
a gestualidade em Tempos Modernos. 2009. Disponível em: <http://www.
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modernos.htm>. Acesso em: 24 jul. 2014.
PLATÃO. Fédon. Belém: EDUFPA, 2011.
______. A república. 6. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.
Aula 1 Consciência corporal28
ROSSEAU, J-J. O Emílio ou da educação. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
SANTIN, S. Educação física: uma abordagem filosófica da corporeidade. Ijuí: 
Unijuí, 1987.
VARELA, F. et al. Embodied mind: cognitive science and human experience. 
London: The MIT Press, 1996.
Anotações
A percepção do corpo 
na antiginástica
2
Aula
31
2
1
Apresentação
Caro(a) aluno(a), onde você estiver há uma casa com seu nome. Você é o único proprietário nessa casa que abriga suas mais recônditas memórias. Você sabe do que estou falando? Você sabe que casa é essa? Esta, caro(a) 
aluno(a), é o seu corpo. Você a conhece bem? Você habita verdadeiramente essa 
casa ou faz tempo que perdeu as chaves?
Nesta aula, através da técnica da antiginástica, você vai percorrer esse 
ambiente, tocar suas paredes, sentir sua estrutura, habitá-lo inteiramente. Você 
vai conhecer a trajetória histórica e os princípios teóricos e metodológicos da 
antiginástica, bem como realizar alguns exercícios práticos. 
Nunca é tarde demais para você liberar-se de dores, rigidez muscular, ten-
sões e descobrir possibilidades inéditas do seu corpo. Preparado(a)? Vamos 
começar nosso caminho de autoconhecimento e de consciência corporal. Bem-
-vindo(a) a sua casa, bem-vindo(a) a seu corpo!
Objetivos
Identificar os princípios teóricos e metodológicos 
da antiginástica.
Reconhecer os exercícios da técnica de antiginástica.
31
Aula 2 Consciência corporal 33
“Seu corpo, essa casa onde você não mora”
É com essa frase arrebatadora que a criadora da antiginástica abre seu livro. Essa é uma técnica corporal criada pela fisioterapeuta francesa Thèrése Betherat, nos anos de 1970. No livro “O corpo tem suas razões”, Bertherat 
e Bernstein (1987) afirma que “nosso corpo somos nós. Somos o que parecemos 
ser. Nosso modo de parecer é nosso modo de ser” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 
1987, p. 13). Essa afirmação coaduna com a perspectiva fenomenológica da 
corporeidade estudada na aula anterior de nossa disciplina (Aula 1), concorda? 
No entanto, muitas vezes, confundimos o visível com o superficial com a apa-
rência do corpo e seus padrões de beleza, por exemplo.
Nesse contexto, temos um corpo, como podemos possuir uma coisa, uma 
casa, mas sem habitá-la. A proposta dessa técnica é habitar o corpo que somos. 
Mas, como faremos isso? Por meio de nossas sensações, das percepções sutis do 
nosso corpo, buscando as razões do nosso próprio corpo, conhecendo sua linguagem 
sensível. O principal objetivo do trabalho é a consciência do próprio corpo, é 
buscar ter acesso ao ser inteiro, superando os dualismos corpo e alma, psíquico 
e físico. Nessa perspectiva, a compreensão de corpo afina-se profundamente 
com a noção de corporeidade propostas por Merleau-Ponty (1994), em que se 
busca a escuta do corpo e de sua sensibilidade. Nesse sentindo, compreende-se 
que os movimentos nascem dentro do corpo e estão relacionados às experiências 
vividas pelos sujeitos.
Bertherat e Bernstein (1987) chamam esses movimentos de preliminares, 
ou seja, exercícios que preparam o corpo e todo o ser para viver plenamente. Na 
segunda parte de nossa aula, vamos abordar esses exercícios de percepção do 
corpo. Por enquanto, atemos aos aspectos teóricos dessa técnica.
A construção teórica e metodológica da antiginástica baseou-se fortemente 
na experiência vivida de sua criadora, em seu próprio corpo e no corpo das 
pessoas com as quais ela trabalhou. Thèrése sentia-se entediada e buscava uma 
atividade que lhe propiciasse prazer. Em sua busca, encontrou a senhora Suze 
L e sua aula de “ginástica”. A princípio resistiu, pois não gostava de ginástica. 
Mas, ao descobrir os movimentos sutis propostos pela senhora Suze, usando 
simples bolinhas de tênis, algo lhe chamou a atenção: “Que espécie de ginástica 
é essa que se preocupa com meu conforto?” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987, 
p. 24). A tranquilidade dos exercícios provocava a tranquilidade dos alunos, o 
relaxamento, o bem-estar e a descoberta de novas sensações corporais.
“Na sala sem espelhos, era ela quem nos mostrava a imagem do que poderíamos 
ser” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987, p. 31). Não se compreendia o corpo como 
uma máquina defeituosa, mas como sujeito de suas ações.
Com a morte de seu marido, a fisioterapeuta sentiu-se bastante oprimida e 
queria dar um novo rumo a sua vida. Foi então que teve acesso ao trabalho de 
Ehrenfried. Nele, o corpo era considerado como matéria flexível, perfectível. Essa 
foi a primeira referência teórica para a construção da antiginástica.
Aula 2 Consciência corporal34
Outra referência é a teoria proposta por William Reich e a noção de couraça 
muscular. “Toda rigidez muscular contém a história e a significação de sua 
origem. Quando ela é dissolvida, não só a energia é liberada, mas também traz 
à memória a própria situação infantil em que o recalque se deu” (BERTHERAT; 
BERNSTEIN, 1987, p. 67).
William Reich desenvolveu a ideia de couraça muscular para expressar esse 
recalque, anteriormente estudado por Freud. Segundo Reich (apud BERTHERAT; 
BERNSTEIN, 1987), entravamos a livre circulação da energia que passa no nosso 
corpo ao criamos as couraças musculares, zonas rígidas que nos encerram em 
anéis ou em cintas, como vemos na Figura 1, em diferentes níveis do corpo, em 
especial na região dos olhos, da boca, da nuca, dos ombros, do diafragma e do 
ventre, do quadril e do sexo. Esses bloqueiospodem provocar doenças, mal-estar 
e toda uma série de distúrbios psíquicos e emocionais. 
Recalque 
Ao analisar a teoria freudiana 
da sexualidade, Merleau-Ponty 
(1994) afirma que o recalque 
refere-se a uma barreira 
em nossa vida profissional, 
amorosa e, como tal, exige 
um emprego de energia para 
removê-lo. O recalque pode 
causar angústia e sofrimento.
Figura 1 – As cintas do controle da pulsão.
Fonte: Keleman (1992, p. 69).
De acordo com Keleman (1992), o corpo é a sede da experiência e esta o trans-
forma em uma estratégia da pulsão vital, a qual serve de resposta ao estresse, à dor 
e às tensões. Em geral, aprendemos que o corpo é composto de cabeça, tronco e 
membros. Mas, o fato é que o corpo é bem mais completo que essa simples divisão 
anatômica. Ele contém nossa história pessoal e coletiva, abriga nossas emoções, 
nossos desejos e nossas dores. Entrar em contato com esse universo é um caminho 
de autoconhecimento que exige coragem e disponibilidade. 
Segundo Bertherat e Bernstein (1987), no Ocidente, consideramos a cabeça como 
lugar soberano do corpo. No entanto, não prestamos atenção às nossas costas ou 
aos nossos pés, por exemplo. Sempre nos referimos à parte superior do corpo como 
sendo a mais elevada, relacionada à nossa inteligência ou à emoções socialmente 
valorizadas, como o amor. A parte inferior do corpo, em geral, está associada às 
nossas “sensações baixas”, aos nossos instintos, à nossa animalidade. “Lembro-me 
dos conselhos de um professor de etiqueta que dizia que se durante um jantar sen-
tíssemos cólicas ou dores de barriga, levantássemos da mesa segurando a cabeça, 
como se estivéssemos com enxaqueca” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987, p. 72).
Aula 2 Consciência corporal 35
Na antiginástica, os pés são valorizados por meio de uma técnica chamada 
de reflexologia. De acordo com Bertherat e Bernstein (1987), na reflexologia 
compreende-se que os órgãos do corpo projetam-se na planta dos pés. Na Figura 
2, você pode perceber o mapa com as representações dos órgãos projetados. 
Figura 2 – Mapa da reflexologia.
Fonte: Bertherat e Bernstein (1987, p. 156-157).
Um dos exercícios consiste em massagear a planta dos pés com as mãos ou 
utilizando bolinhas de tênis. Essas micromassagens podem aliviar dores, tensões 
por meio do relaxamento. De acordo com a medicina chinesa, esses pontos corres-
pondem aos meridianos por meio dos quais a energia vital circula. Ao massagear os 
pés, produzimos uma circulação da energia vital, como ocorre com a acupuntura, 
por exemplo. A parte interna do pé corresponde à coluna vertebral. Seguindo o 
sentido céfalo-caudal (da cabeça aos pés), passamos pela região cervical, torácica, 
lombar e cóccix, produzindo alívio de tensões advindas de nossa postura bípede.
Outra referência fundamental da antiginástica é o método Mézières, o qual se 
contrapõe aos métodos tradicionais da fisioterapia, em especial, ao uso de panó-
plias corretoras como coletes, goteiras de gesso, sobretudo, por considerar o corpo 
em sua totalidade. A questão central está em alongar a musculatura posterior do 
corpo. “Encolhidos os músculos posteriores repuxam os ossos sobre os quais estão 
inseridos e, com o tempo, fazem com que as superfícies articulares não reajam 
mais com a exata precisão necessária” (BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987, p. 123). 
Esse método busca o respeito pelo corpo humano, a vontade de fazer com que 
o outro descubra suas possibilidades corporais e de movimento. Nessa direção a 
antiginástica contribui para a percepção e a consciência do corpo. Desse modo, 
“é o estado do corpo que, a priori, determina a riqueza das experiências vividas” 
(BERTHERAT; BERNSTEIN, 1987, p. 107). 
Leituras complementares
1Atividade
Aula 2 Consciência corporal36
Essas são as principais referências conceituais dessa técnica corporal. Propo-
nho agora uma leitura complementar e uma atividade para que você amplie e 
consolide sua aprendizagem. Na segunda parte da aula, abordaremos aspectos 
metodológicos da antiginástica e a percepção do corpo. 
BERTHERAT, T.; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões: antiginástica e cons-
ciência de si. 21. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010. 
O livro apresenta os aspectos teóricos e metodológicos da antiginástica, com 
a descrição de exercícios preliminares. A leitura permite ampliar a fundamentação 
teórica dessa área. 
EHRENFRIED, L. Da educação do corpo ao equilíbrio do espírito. São Paulo: 
Summus, 1991.
O livro apresenta o corpo para além do dualismo corpo e alma. Apresenta 
também um método que influenciou outros relacionados à consciência corporal, 
entre eles a antiginástica. 
Com base na leitura do texto, responda às questões: 
Qual a compreensão do corpo na técnica da antiginástica?
Quais os principais aspectos da fundamentação teórica da 
antiginástica?
Compartilhe suas respostas na plataforma virtual do curso.
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Aula 2 Consciência corporal 37
Aspectos metodológicos da antiginástica
Agora que você já conhece os aspectos conceituais da antiginástica, vamos 
apresentar o método, com destaque para os exercícios preliminares. Bertherat 
e Bernstein (1987) descreve os preliminares como sendo um caminho para a con-
quista da consciência do corpo. A primeira e principal orientação é a de não se 
preocupar em “acertar” os movimentos. O mais importante é perceber o corpo, 
o ritmo interno e tentar dissolver as tensões.
O primeiro exercício é a percepção do corpo em contato com o chão. Deitado em 
decúbito dorsal, deixar o silêncio instalar-se e percorrer o seu corpo, percebendo 
as partes que tocam o chão: cabeça, costas, quadril, pernas, pés.
O segundo exercício proposto por Bertherat e Bernstein (1987) é o trabalho 
sobre o pé. Apoiar o pé sobre uma bola de tênis e pressionar a parte anterior, o 
meio do pé e a parte posterior. Massagear um lado e antes de trabalhar o outro 
pé, perceber a diferença entre o lado trabalhado e o que ainda não foi massa-
geado. Normalmente, o lado massageado está mais vibrante, mais alongado. Esse 
exercício produz um relaxamento e um alongamento sutil da cadeia muscular 
posterior, harmonizando a coluna vertebral.
Outro preliminar bastante eficaz consiste em massagear a região lombar. 
Para isso, deita-se em decúbito dorsal com joelhos flexionados, pés abertos na 
largura do ombro. Em seguida, coloca-se a bolinha de tênis na região lombar e 
eleva-se o quadril, retorna pressionando a bolinha. Repete-se algumas vezes até 
sentir o alongamento, a soltura dessa região. Delicadamente, retira-se a bola, 
estendem-se ambas as pernas, percebendo a diferença entre o lado massageado 
e o outro. Repete-se o exercício para o outro lado. 
Esses são alguns dos preliminares propostos por Bertherat e Bernstein (1987) e que 
caracterizam a antiginástica como uma técnica voltada para a consciência corporal. 
De acordo com Bertherat (2014), com a antiginástica: 
A musculatura se libera, se flexibiliza, se fortalece. As dores nas costas, na 
nuca, nos ombros desaparecem. A energia sexual se libera; a respiração; a 
digestão, a circulação melhora. O corpo reencontra harmonia, equilíbrio e 
autonomia, e os benefícios nele se inscrevem de forma duradoura. Respeitando 
totalmente o corpo, os movimentos propostos pela antiginástica® são realmente 
poderosos. Eficazes. Desde os primeiros dias, obtêm-se resultados. Porém, 
é preciso várias semanas, muitas vezes vários meses, para que a mudança 
se instale (BERTHERAT, 2014, p. 1).
O ponto central dessa técnica é o equilíbrio entre as cadeias musculares 
posteriores e anteriores do corpo. Sentir-se achatado, esmagado pela musculatura, 
em particular na região lombar, não corresponde ao equilíbrio funcional do nosso 
corpo. Liberar essa musculatura amplia a um só tempo nossa elasticidade, a 
sensação de bem-estar e a percepção geral do nosso corpo e de nós mesmos.
Aula 2 Consciência corporal38
Bertherat (2014, p. 6) descreve os benefícios da antiginástica, a saber:
�	 Bem-estar físico e psíquico.
�	 	Vitalidade, mobilidade, resgate deflexibilidade, maior amplitude articular 
para as pessoas que sofrem de reumatismo.
�	 Sensação de unidade, de solidez, confiança em si mesmo resgatada.
�	 Reequilíbrio entre a frente e trás, lado direito e lado esquerdo.
�	 Efeito de relaxamento, de um corpo solto que respira.
�	 Método rejuvenescedor.
�	 	Alternativa a certas intervenções cirúrgicas (alux valgum, operação para 
síndrome do túnel do carpo).
�	 Desaparecimento de dores dorsais e cervicais.
�	 	Diminuição do estresse, das tensões ligadas ao trabalho, aos esportes, 
às atividades cotidianas.
�	 	Desenvolvimento da motricidade, da coordenação da orientação, per-
cepções sensoriais mais apuradas.
�	 	Excelente acompanhamento para a gravidez. Os profissionais organizam 
sessões específicas para mulheres grávidas.
Como todo trabalho de consciência corporal, a antiginástica é um processo em 
que se faz necessária a dedicação, a vontade e a disponibilidade para aprender 
algo novo, para se abrir ao campo das sensações, da percepção dos movimentos, 
ampliando nossa capacidade de concentração e nosso equilíbrio. Embora seja um 
método criado por uma fisioterapeuta, os exercícios preliminares podem ser feitos 
em aulas de educação física, com o objetivo de consciência corporal (CLARO, 1995).
 Em nossa experiência profissional, temos utilizado a antiginástica em aulas 
de educação física escolar, na formação de professores e na preparação corporal 
de bailarinos e de atores, sem restrições quanto à idade ou à experiência corporal 
atlética. Como em todo trabalho corporal, indica-se, por vezes, a complementação 
entre as atividades e, caso necessário, acompanhamento médico, fisioterapêutico 
ou psicológico. Cabe ao profissional conhecer o grupo e os objetivos do trabalho, 
adaptando o método às necessidades de seus alunos. 
A seguir, descrevemos uma sessão de antiginástica que foi realizada com os 
alunos da disciplina de Consciência Corporal, no Departamento de educação física 
da UFRN. Desse modo, você poderá perceber os aspectos práticos da Antiginástica. 
Essa aula pode ser feita com pessoas de qualquer idade e mesmo gestantes. Para 
pessoas idosas, alguns exercícios podem ser feitos sentadas em uma cadeira, como, 
por exemplo, a massagem na planta dos pés. 
1) Nível de alongamento da cadeia muscular posterior: de pé, pés paralelos e 
separados na largura do ombro. Pernas estendidas, flexionar o tronco. Perceber 
a tensão na musculatura posterior, a posição das mãos e a distância em relação 
aos pés. Massagear as partes do corpo em que sente mais tensão (lombar, pes-
coço, pernas). Respirem profundamente e tentem aliviar essa tensão. Flexionar 
a perna direita, depois a esquerda. Há diferença de tensão entre as pernas? 
Aula 2 Consciência corporal 39
2) Deitados em decúbito dorsal, vamos fazer a leitura corporal (Figura 3). Quais 
as partes do corpo que estão em contato com o chão? Vamos perceber esse 
contato. Começamos com os pés, calcanhares. Como é esse apoio dos calca-
nhares? Percebam se há diferença entre o lado direito e o esquerdo do corpo. 
E as pernas, parte posterior das pernas, sintam esse contato com o chão. E 
os joelhos? Como estão posicionados? Apontam para cima, para o lado? E as 
coxas, parte posterior da coxa? E o quadril, ponto de ligação entre a metade 
inferior e superior do corpo, como você sente o quadril, glúteos? Passamos 
para as costas, começando com a lombar, a lombar toca o chão? Respirem e 
tentem aproximar a região lombar do chão. Muito bem! Dobrem os joelhos, 
pés no chão, percebam o contato das costas. Elevação do quadril (ponte), 
retificar a curvatura da coluna vertebral. Voltem a estender as pernas e sintam 
os ombros, braços, mãos. Agora é a cabeça, sintam o peso da cabeça. E os 
maxilares, estão cerrados? Tentem soltá-los, colocando a ponta da língua no 
céu da boca. Relaxem. Virem o pescoço delicadamente para um lado e para 
o outro. Procurem perceber a imagem do seu corpo no chão dos pés à cabeça 
e da cabeça aos pés. 
Figura 3 – Leitura corporal.
Fonte: Autoria Própria (2014).
3) Deitados, pernas dobradas. Nessa posição, colocar a bolinha na região lombar 
e no trapézio. Fazer a ponte e, depois, rolar os braços para frente e para trás. 
4) Vamos ficar de pé e massagear os pés com a bolinha de tênis. Um lado de 
cada vez. Antes de passar para o outro pé, perceber a musculatura do lado 
massageado (Figura 4).
Aula 2 Consciência corporal40
Figura 4 – Massagem na planta dos pés.
Fonte: Autoria Própria (2014).
5) Massagem dois a dois com a bolinha de tênis (Figura 5).
Figura 5 – Massagear as costas do colega.
Fonte: Autoria Própria (2014).
6) Para finalizar, repetir a leitura corporal. Indagar como se sentem. Escutar as im-
pressões dos alunos sobre suas sensações, seu estado geral, entre outros aspectos.
7) Desenho da figura humana (Figura 6): pedir para desenhar a figura humana em 
uma folha de papel ofício (tamanho A4), usando lápis grafite ou caneta. Pode-se 
fazer isso na primeira aula e repetir no final de algumas aulas. Assim, é possível 
comparar o desenho feito antes e depois, comparando se houve uma ampliação 
da percepção do corpo expressa pelos desenhos e pela fala dos alunos. 
Aula 2 Consciência corporal 41
Figura 6 – Desenho da figura humana feito por uma aluna da 
disciplina Consciência Corporal do curso de Educação Física da 
UFRN, no início e no final do semestre letivo de 2013.2.
Fonte: Autoria Própria (2014).
No desenho da figura humana (Figura 6), você pode observar aspectos relacio-
nados ao esquema corporal, tais como a espacialidade. Dobre a folha de papel em 
quatro partes e perceba em que parte do papel a figura está situada. O desenho está 
bem distribuído no espaço ou figura em apenas um quadrante da folha? As partes 
e proporções do corpo são adequadas ou são apenas garatujas infantis (rabiscos)? 
O corpo está nu ou vestido? Podemos fazer a leitura do desenho com os alunos, 
percebendo esses e outros aspectos relacionados à percepção do corpo. 
No desenho seguinte (Figura 7), nota-se que a primeira imagem retrata um corpo 
masculino. O mesmo,que se modifica na segunda imagem. A referida aluna tornou-
-se mais expressiva ao longo da disciplina. Outros aspectos do desenho não foram 
analisados por nós, mas isso poderia ser feito por outros profissionais e em outros con-
textos que não o da formação profissional, em sessões de psicoterapia, por exemplo.
Figura 7 – Desenho da figura humana feita por uma aluna 
no início e no final da disciplina Consciência Corporal.
Fonte: Autoria Própria (2014).
Leituras complementares
Aula 2 Consciência corporal42
Nas Figuras 6 e 7, podemos perceber desenhos produzidos por alunos da 
disciplina Consciência Corporal do curso de Educação Física da UFRN, ao 
iniciarmos a disciplina no primeiro semestre de 2013 e quatro meses depois. É 
visível a elaboração do esquema corporal e os aspectos expressivos, o que indica 
a ampliação da percepção do corpo para esses alunos por meio da antiginástica 
e de outras técnicas que iremos abordar ao longo de nossa disciplina.
Merleau-Ponty (2006) apresenta várias interpretações do desenho da figura 
humana, em particular aquele realizado por crianças. Trata-se de uma boa 
referência para aprofundar esse índice do conhecimento do corpo. O autor destaca 
os aspectos relacionados ao esquema corporal, ao desenvolvimento emocional 
e psicanalítico. Nesse último caso, pode-se fazer uma leitura dos aspectos 
ligados aos desejos, aos bloqueios emocionais ou recalques e ainda as couraças 
musculares, entre outros aspectos. Voltaremos a essa questão da representação 
do desenho, os modelos e as imagens corporais em nossa próxima aula sobre a 
percepção do corpo na eutonia. 
BERTHERAT, M. A Antiginástica. 2014. Disponível em: <http://www.
antigymnastique.com/media/ui/img/presse/pdf/Em-pleno-corpo.pdf>. Acesso 
em: 5 maio 2014.
Apresenta os objetivos e benefícios da antiginástica, bem como descreve uma 
sessão com essa técnica. Relata ainda experiências com gestante e combebês. 
Vídeo sobre Antiginástica. Disponível em: <http://tnh1.ne10.uol.com.br/video/
feito-pra-voce/2014/02/18/108195/antiginastica-exercicios-sem-suor>. Acesso 
em: 5 maio 2014.
O vídeo mostra os princípios teóricos e metodológicos da antiginástica. 
GAIARSA, J. A. Couraça muscular do caráter: William reich. São Paulo: Ágora, 1984.
O livro apresenta os fundamentos da teoria de William Reich sobre o corpo 
e as couraças musculares. Pode contribuir na relação entre o corpo e os aspectos 
psicológicos do comportamento humano.
2Atividade
Resumo
Aula 2 Consciência corporal 43
Em grupo, faça uma pesquisa em sua cidade ou região, ou na 
internet a respeito da antiginástica. Procure locais e profissionais 
(psicólogos, fisioterapeutas, professores de educação física, bai-
larinos, atletas) que conheçam essa técnica e faça uma entrevista. 
Indague sobre os aspectos teóricos, a percepção do corpo, os aspectos 
metodológicos da técnica e os benefícios da prática. Em seguida, 
prepare (em grupo) um relatório contendo o estudo da realidade e 
apresente seu trabalho ao tutor. Pode incluir fotos e vídeos. 
Nesta aula, abordamos aspectos teóricos e metodológicos da 
antiginástica criada pela francesa Thérèse Bertherat e vimos que 
os exercícios preliminares visam produzir a liberação das cadeias 
musculares, melhorar o alongamento, ampliar a percepção de si 
mesmo e produzir relaxamento e bem-estar. 
Anotações
Aula 2 Consciência corporal44
Autoavaliação
Como você percebe seu corpo? Experimente um ou mais dos exercícios 
preliminares da antiginástica descritos na aula e relate como foi a percepção do 
seu corpo ao realizá-los. Poste sua autoavaliação na plataforma Moodle. 
Referências
BERTHERAT, T.; BERNSTEIN, C. O corpo tem suas razões: antiginástica e 
consciência de si. São Paulo: Martins Fontes, 1987.
BERTHERAT, M. A Antiginástica. 2014. Disponível em: <http://www.
antigymnastique.com/media/ui/img/presse/pdf/Em-pleno-corpo.pdf>. 
Acesso em: 5 maio 2014.
CLARO, E. Método dança-educação física: uma reflexão sobre consciência 
corporal e profissional. São Paulo: Robe, 1995. 
KELEMAN, S. Anatomia emocional. São Paulo: Summus, 1992. 
MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção. São Paulo: Martins 
Fontes, 1994.
______. Psicologia e pedagogia da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2006. 
Anotações
Aula 2 Consciência corporal 45
Anotações
Aula 2 Consciência corporal46
A percepção do 
corpo na Eutonia
3
Aula
2
1
49
Apresentação
Caro(a) aluno(a), nesta aula, vamos conhecer a eutonia. A palavra eutonia expressa a ideia de uma tonicidade equilibrada e harmoniosa. A etimologia da palavra vem do grego Eu = bom, justo, harmonioso enquanto tonos = 
tônus, tensão. Essa técnica foi criada pela alemã Gerda Alexander com objetivo 
de melhorar a consciência corporal, ou seja, aprimorando a percepção do espaço 
corporal, da respiração, de posições de controle, do tato e do contato.
A técnica é utilizada em processos pedagógicos e também em processos tera-
pêuticos. No caso da Educação Física a eutonia é usada em aulas de consciência 
corporal, ampliando-se o conhecimento do corpo, dos espaços corporais, a 
motricidade, o ritmo e a expressão. 
No primeiro momento da aula, vamos apresentar a trajetória histórica e 
os princípios teóricos da eutonia e, na segunda parte da aula, vamos conhecer 
aspectos metodológicos e práticos dessa técnica que tem sido aplicada em contextos 
educativos e clínicos diversos, seja com crianças, jovens, adultos ou idosos. 
Com os exercícios de eutonia, podemos perceber o nosso corpo de forma 
ampla, criativa, expressiva, trabalhando-se as sensações do movimento, a 
respiração, o tônus muscular e sua flexibilidade, a expressão corporal e rítmica. 
Preparados(as)? Vamos começar! 
Objetivos
Identificar os princípios teóricos e metodológicos 
da eutonia.
Reconhecer os exercícios da técnica da eutonia.
Aula 3 Consciência Corporal 51
Conhecendo a eutonia
A criadora da eutonia foi a alemã Gerda Alexander (1908-2008). Ela cresceu no período entre as duas Grandes Guerras e viu nascerem inúmeras práticas corporais como a ginástica rítmica, a dança moderna e a eurritmia de 
Dalcroze que a influenciaram significativamente.
De acordo com Huberty (2013), do ponto de vista teórico, a eutonia tem 
como base a psicologia de Jung e o conceito de individuação; Wallon e o 
desenvolvimento psicomotor da criança e a fenomenologia de Merleau-Ponty 
com sua noção de corpo e de movimento. Essas são as principais referências 
fundamentais a compreensão de corpo, de ser humano e de educação aplicada 
em clínicas e em espaços pedagógicos.
A eutonia apresenta uma compreensão de corpo fundada na fenomenologia de 
Merleau-Ponty na qual o corpo e seu movimento ocupa um lugar de destaque. 
De acordo com Alexander (1983), o corpo não é a máquina que funciona bem 
ou mal, também não é o lado perecível do ser humano que contrasta com sua 
alma imortal. Corpo e alma vivificam-se mutuamente, formando uma unidade.
Ao atuar sobre o tônus muscular os exercícios de eutonia mobilizam também 
nossa psique, o interior e o exterior de nosso corpo se comunicam. Na fenomenologia 
e na eutonia o corpo é fonte de saber. De acordo com Dascal (2008), muitas de 
nossas percepções são ainda influenciadas pela separação entre corpo e alma, 
corpo e mente, razão e emoção. Mas na linha filosófica iniciada por Merleau-
-Ponty e sua filosofia do corpo, a eutonia procura propiciar o encontro com nossa 
realidade corporal, ampliando a percepção do esquema corporal, da consciência 
dos espaços corporais e das possibilidades de nossa motricidade na prática.
A eutonia aprofunda nosso estado de presença corporal por meio da ênfase 
nas sensações e na sensibilidade. O trabalho de contato com objetos como bolas de 
tênis, bambus, balões de encher e o trabalho de contato corporal com os colegas 
estimula a cooperação e a afetividade. Pensando nisso, Dascal (2008) apresenta 
a influência do tônus muscular sobre as emoções.
A tonicidade repercute no ser humano como um todo. A vida afetiva, os 
estados emocionais alteram o tônus e a maneira como é distribuído no 
corpo. Por exemplo, a tristeza está associada à sensação de garganta 
comprimida e um esterno sensível. O medo está relacionado à sensação de 
frio no estômago e músculos abdominais contraídos (DASCAL, 2008, p. 68).
Diversos estudos apontam para esse fato de que as sensações e as emoções se 
fixam em algum músculo, como, por exemplo, os de Lowen (1982) e de Keleman 
(1992). Logo, na eutonia essa relação entre emoções e tonicidade apresenta-se 
como um princípio a ser trabalhado nas práticas corporais do método.
De acordo com Dascal (2008), a eutonia busca a observação do corpo por 
meio da experiência corporal de cada sujeito que vivencia o movimento. “Essa 
experimentação constante e rigorosa do próprio corpo aguça a sensibilidade 
Merleau-Ponty 
Caro aluno(a), a respeito da 
compreensão fenomenológica 
do corpo sugere-se que releia a 
primeira aula da disciplina de 
consciência corporal. Você pode 
também voltar ao livro didático 
da disciplina Aspectos Sociofi-
losóficos da Educação Física e 
reler a Aula 3 (corporeidades).
Aula 3 Consciência Corporal52
proprioceptiva, desenvolve um estado de presença autêntica de si e em relação 
às pessoas, às coisas e ao mundo” (DASCAL, 2008, p. 51). 
O bom tônus significa, portanto, a tensão adequada à ação que se está 
realizando, seja quando jogamos, dançamos, atravessamos a rua ou dirigimos 
nosso carro. Assim, nas práticas de eutonia busca-se regularizar esse tônus de 
acordo com as necessidades de cada um, ajudando também no relaxamento, 
por exemplo.
Sendo assim, o relaxamento é fundamental para o equilíbrio e a saúde do ser 
humano. O repouso, a passividade, o relaxamento são regeneradores dos tecidos 
cansados e gastos pela ação do tempo, pelo cansaço e pelo estresse muitas vezes 
causado pela jornada cotidiana. Por isso, os exercícios em dupla, os jogos, o con-
tato com o colega, os exercícios

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