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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES FACULDADE DE EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO CECIERJ /Consórcio CEDERJ / UAB Curso de Licenciatura em Pedagogia – modalidade EAD AVALIAÇÃO A DISTÂNCIA AD2 – 2021.2 Disciplina: Sociologia da Educação Coordenadora: Prof. Dra. Adriana de Almeida Aluno(a):Victor de Santana Gonçalves Matr.:21212080076 Polo: Nova Iguaçú SÍNTESE Este texto apresenta a síntese do filme documentário “Pro Dia Nascer Feliz”, um filme lançado em 2005 e dirigido por João Jardim. O documentário em questão mostra opiniões acerca da vivência de estudantes de escolas públicas e privadas do Brasil, e evidenciou as divergências existentes entre as classes sociais expostas no filme. Podemos dividir o documentário em 4 (quatro) blocos onde, cada bloco é representado por uma cidade específica e as problemáticas acerca do sistema educacional daquela região. Na primeira parte o destaque encontra-se em torno de Manari, uma cidade do interior de Pernambuco que, no começo dos anos 2000 ficou nacionalmente conhecida por ter sido apontada pela ONU como a cidade mais pobre do Brasil e, de acordo com Barros (2004) “o IDH do município pernambucano de Manari é idêntico ao do Haiti (150º posição) ”. As problemáticas do sistema de ensino são evidenciadas logo no início do documentário na Escola Estadual Cel. Souza Neto onde podemos ouvir um interlocutor – provavelmente alguém relacionado com a coordenação da escola – relatando como o dinheiro público a ser investido na escola é utilizado: no montante de R$ 1200,00, deve-se pagar R$ 200,00 para o INSS, 11% de mais uma taxa do INSS (R$ 110,00), R$ 50,00 da prefeitura da cidade e a taxa do contador, sobrando R$ 200,00 para investimento na escola. Nota-se a visível indignação do interlocutor relatando tal fato. Os alunos das escolas públicas retratadas nesse primeiro bloco, em sua maioria, não têm chance sequer de sonhar. Destaca-se a participação da aluna Valéria, a figura central do primeiro bloco do documentário. Valéria é uma estudante de 16 anos do ensino fundamental que relata sua experiência com a educação de Manari. É uma entusiasta da poesia e escreve em seus textos o que crê que sua vida deveria ser para ser considerada “normal”, como a de qualquer criança que possui acesso à infância e a adolescência de forma saudável. De acordo com um dos textos produzidos pela própria estudante: “Eu poderia ser uma adolescente normal, se não tivesse uma família formada por onze pessoas. Eu deveria ter sido uma criança normal, se não fossem as responsabilidades que eu cumpria. Eu deveria gostar do que faço, se não fosse obrigada a fazer. Eu deveria frequentar ambientes de lazer, se não tivesse que trabalhar. Eu deveria reclamar quando dizem algo que não gosto, se não tivesse inspiração para descrever cada situação. Eu poderia reivindicar quando sou julgada injustamente, mas calo-me e a humildade prevalece. Eu deveria ter uma péssima impressão da vida, se não fosse a paixão que tenho pela arte de viver. ” (Pro Dia Nascer Feliz. Direção: João Jardim. Roteiro: João Jardim. Brasil: 2005.) A dificuldade de locomoção dos alunos para a escola é evidenciada. O ônibus que faz o trajeto até a escola vive constantemente quebrado e, durante as duas semanas de filmagem, Valéria foi somente três vezes a escola mostrando como a acessibilidade ao ensino daquela população é restrita e limitada. Tal assunto é de extrema e relevante importância para a sociedade como um todo, uma vez que, de acordo o art. 18º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), (Lei n.8.069, de 13 de julho de 1990) “a garantia da dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor é um dever de todos” (BRASIL, 1990). No segundo bloco o pano de fundo é uma escola municipal em Duque de Caxias, município da Baixada Fluminense no Rio de Janeiro. Aqui, a situação precária se estabelece logo de início pela localização da escola que, segundo o próprio filme relata, fica a poucas ruas de uma “boca de fumo” o que faz com que os jovens não tenham um referencial de um futuro diferente. Podemos destacar como figura central desse bloco o jovem Deivison Douglas Reis, de 16 anos. Sua proximidade com o tráfico local – segundo relatos do próprio – nos faz encarar a dura realidade dos estudantes das escolas públicas localizadas em municípios com alta frequência de crimes e desigualdade social. Os alunos do subúrbio do Rio de Janeiro, apesar de não escreverem poesia como Valéria, externam seus anseios e desejos relatando como é difícil abandonar a realidade e se dedicar aos estudos. Em alguns casos, o abandono escolar é até, de certa forma, atrativo uma vez que existe um certo status social para os membros da comunidade que atuam no tráfico e para não entrar neste universo, é exigido muita maturidade e responsabilidade dos jovens. Já desde muito cedo. Nesse bloco, destaco a interação das professoras do Colégio Estadual Guadalajara discutindo o futuro dos alunos no Conselho Escolar. Ali, as professoras discutem as situações dos alunos e expõem a dificuldade de se trabalhar na área da educação, uma vez que, o panorama social dos estudantes deve ser levado em conta além da nota. As considerações feitas em torno do aluno Douglas, que não possui nota suficiente para aprovação em mais de uma matéria, são evidenciadas pelo panorama onde o jovem se insere. Essa parte do documentário pode ser destacada como uma das mais importantes do documentário no que se refere às práticas pedagógicas já que, dentro do conselho, as problemáticas do sistema de ensino são expostas e mostram a dificuldade do professor em avaliar o aluno além da nota propriamente dita dentro de um sistema educacional completamente defasado. O Núcleo de Cultura da Escola descrito pela professora Edlane, desenvolve um trabalho de acolhimento estudantil e, através das oficinas de dança afro, oficina de ritmo e oficina de teatro, estabelece uma relação de integração social com os alunos do Colégio Estadual Guadalajara. Cabe aqui destacar o recorte racial de todas as escolas do referido documentário onde podemos observar a presença majoritária de alunos negros. Os relatos desse trecho, pode-se associar aos estudos de nossas aulas sobre cultura, cotidianos e espaços educativos onde, a presença da cultura como agente transformador e as diversas formas de aquisição cultural são importantes para a formação social e pedagógica do aluno, principalmente em situações mais precárias conforme descrito nessa parte do documentário. No terceiro bloco, a localização se estabelece em Itaquaquecetuba, município a 50 km da cidade de São Paulo, na Escola Estadual Parque Piratininga II, um local retratado como “a periferia da periferia” pela professora Celsa. Ali, os anseios dos estudantes ainda giram em torno da grande desigualdade social acerca da vivência deles. É interessante observar contraste do depoimento da diretora da escola, que exibe os ótimos índices de aprovação da escola no ENEM, e do aluno Ronaldo, que contesta indiretamente a afirmativa da diretora citando que o governo e a escola passam uma imagem de suposta melhoria do ensino quando, na verdade, o ensino continua defasado. Problemas acerca da relação entre diretor, professor e aluno são expostos nesse trecho e, o desenvolvimento dessa relação é evidenciado em depoimentos como o da professora Celsa que diz que “ser professor e estar envolvido com a profissão é uma carga física e mental muito grande, mais do que o ser humano pode suportar”. A aluna Lilian, uma notória entusiasta da poesia – assim como Valéria, de Manari – relata que, após a conclusão do ensino médio e sua saída da escola, sente que algo ficou perdido e, inclusive, sua produção textual foi afetada umavez que perdeu contato com o grupo de poesia da escola e com seus colegas de classe. Podemos observar a importante presença social estabelecida pela escola e como ela é importante não só no âmbito acadêmico, mas também no âmbito social do aluno. No quarto bloco, o Colégio Santa Cruz, uma escola privada da cidade de São Paulo localizada no bairro Alto de Pinheiros é utilizada de pano de fundo para mostra ao espectador o notório comparativo com as escolas públicas anteriormente descritas. Logo de início, o recorte racial pode ser observado uma vez que, os protagonistas de quase todas as escolas públicas eram negros. Aqui, num bairro nobre de São Paulo e dentro de uma “bolha” da elite, a maior presença de alunos brancos expõe logo de cara a questão racial explícita que o nosso país desenvolve. É alarmante observar que, do alto de seus privilégios, os alunos da escola privada veem a escola enquanto “mais um local” citando aulas de natação e yoga para exemplificar que sua identidade vai muito além disso e para alunos da escola pública – como Lilian, da Escola Estadual Parque Piratininga II – a escola tem um valor imaterial e se faz necessário para o estabelecimento de sua dignidade social. Podemos concluir que o documentário tem uma forte crítica social implícita onde a instituição educacional brasileira e sua defasagem são expostas através de um comparativo entre escolas públicas da periferia de Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo e uma escola privada de um bairro nobre de São Paulo. Apesar de estarem localizadas no mesmo país e usufruírem de um suposto sistema educacional “homogêneo”, tais escolas possuem realidades completamente distintas e isso irá, sem sombra de dúvidas, impactar na formação daquele indivíduo. É assustador observar que um documentário feito há quase 20 anos ainda pode ser considerado extremamente atual. REFERÊNCIAS: BRASIL. Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, e dá outras providências. VIEIRA, J. L. Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. ed. Bauru: EDIPRO, 1998. (Série Legislação) Pro Dia Nascer Feliz. Direção: João Jardim. Produção: Flávio R. Tambellini e João Jardim, (89 min), Brasil, 2005
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