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Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Não creio haver, para quem me acompanha, muito mistério quanto à serventia de lhes ministrar algumas aulas de português: É que a coisa está feia. Muito feia. Mais feia do que bater na mãe por causa de mistura. Mais feia do que a Dilma chupando manga enquanto vê o cachorro oculto por trás das pobres criancinhas. (e, para quem ainda não viu a explicação que pus lá no destaque NÃO CAGUES MAIS sobre “mais que” ou “mais do que”: você está marcando bobeira) Sejam muitíssimo bem-vindos, finalmente, ao nosso INTENSIVÃO DE PORTUGUÊS 2020 tudo, tudinho sem sair do Instagram e perturbar a rotina (ou vício) de quem acompanha, todos os dias, os stories dessa gloriosa rede social. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Primeiro exercício: se você está aqui mas ainda não leu meu destaque “Mandando a Real”, pare, dê um pulinho lá e leia tudo com calma. Depois, volte aqui. A quem já o leu, leia-o outra vez. É importantíssimo gravar aquelas informações na cabeça a ferro e fogo; imprimi-las em sulfites A4 e grudá-los nas paredes de casa, como fez Jordan Peterson com os pôsteres comunistas e nazistas para não se esquecer jamais de como é embaixo e sanguinário o buraco em que se pode enfiar o bicho homem. Nosso buraco não é sanguinário, mas é embaixo. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 ESTAMOS EM PLENA CRISE LINGUÍSTICA. Quando doutores em semiótica não conseguem acertar uma crase e (quase) toda a classe política é francamente analfabeta, é bastante seguro dizer que não estamos a viver sob um estado normal de coisas. Pior: muitos escritores best-sellers, jornalistas, tradutores e — pasmem! — revisores seriam cabalmente reprovados numa prova básica de português. Não estou falando de esmiuçar a sintaxe de Machado de Assis ou de saber de cor as dezenas de tipos diferentes de substantivos, dando a cada um o nome e as características que lhes cabem. Estou falando de regência verbal, por exemplo. De não saber qual é a preposição que obrigatoriamente acompanha o verbo CONSENTIR. Não saber e não dar a mínima. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 De não acertar conjugações verbais (certo crítico literário escreveu em seu Twitter, dias atrás, um “antes que me ENCHEM o saco”). De não acertar uma colocação pronominal. De escrever os verbos “vir” e “ter” no plural sem pôr- lhes o acento. De não saber que o vocativo exige uma vírgula para o isolar ou que, via de regra, não se separa o sujeito do predicado. E para que estou dizendo tudo isso? Para posar de gostosão? Para criar aqui uma comunidade de gostosões, capazes de sair por aí apontando o dedão aos erros alheios? Não. Digo tudo isso já no começo para que nos contextualizemos. Nós, todos nós (eu, tu, ele, nós, vós, eles) sofremos duma séria incapacidade linguística. Diz o mestre Napoleão Mendes de Almeida: Já não ficamos escandalizados com algum deputado que discurse na Câmara com a mesma desenvoltura que o Ronaldinho Gaúcho demonstrava em suas entrevistas pós-jogo. Quando a elite se corrompe e rebaixa, o demais da sociedade segue-lhe o caminho. Portanto, quero deixar uma coisa muito clara aqui: “Nenhum país culto existe em que o idioma nacional não seja ensinado diariamente. Na Itália e na Alemanha Ocidental há 8 horas semanais de idioma pátrio, contraste chocante com as nossas 3 parcas horas semanais, em nosso país que, por estatística da ONU, é o que mais férias tem.” Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 A GRAMÁTICA NÃO É UM HOBBY. Não é um simples meio para o fim almejado; uma camisinha que se descarta depois de alcançado o gozo supremo de um cargo público ou vestibular gabaritado. Quando você abre uma gramática (já lhes darei algumas recomendações) e se depara com aquelas terminologias esfíngicas e nomes bizarros que vão se multiplicando feito coelhos no Carnaval do Rio de Janeiro — o que está vendo? Está vendo o esqueleto da sua língua. Está contemplando os tendões, os órgãos internos e o sistema nervoso do idioma que você ouviu TODOS OS DIAS desde que nasceu, e sem o qual não haveria nem o você como é, nem sua família ou amigos como são, e nem o País como foi, é e virá a ser. Sem a ligação afetiva e o respeito à língua, o estudo da gramática haverá de ser sempre estéril e um puta PÉ NO SACO. Assim como seria um puta pé no saco estudar medicina sem dar a mínima para o ser humano. A Gramática do Português é, em certo sentido, o próprio Português. Existem, nessa frase, muitos poréns e problemas? Sim. Interessam-nos agora? Não. O que me interessa é fazê-los levar a sério a língua que os formou. Com este CF, não tenho a pretensão de lhes dar um curso completíssimo de português — o que seria descabido tanto pela limitação do formato quanto pelas limitações atuais do professor. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Quero: 1) afinal de contas, a gramática: para que serve? 2) Ensinar-lhes um caminho mais seguro para estudá-la. Uma porta pela qual vocês possam ali entrar sem que se sintam perdidos, dando murros cegos em pontas de facas gramaticais; 3) Fugir ao formato comum de ensino de português atual, que, por um lado, exibe o professor feito um palhaço obrigado a fazer macaquices para ser ouvido, e, pelo outro, restringe a língua inteira a simples macetes e decorebas desligadas de qualquer explicação lógica sobre seus mecanismos internos; 4) Não é um intensivão voltado especificamente a quem queira passar no ENEM, em alguma prova de vestibular ou nalgum concurso. É português para quem quer AUMENTAR SUA CAPACIDADE EXPRESSIVA e potencializar uma de suas PRINCIPAIS FACULDADES: a língua; Em última instância, o vocábulo GRAMÁTICA vem do grego GRAMMATIKÉ — “ciência ou arte de ler e escrever”. Ou, mais apropriadamente, “ciência dos caracteres gravados, da escrita”. DEFINIÇÕES DE GRAMÁTICA: “Denomina-se gramática a reunião ou exposição metódica dos fatos de uma língua”. — Napoleão Mendes de Almeida “A chamada gramática normativa… estabelece padrões de certo e errado, correto e incorreto, para as formas do idioma. A gramática normativa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão linguístico que socialmente é considerado modelar e é adotado para ensino nas escolas e para a redação dos documentos oficiais. Seu papel é apontar o que configura a existência de um padrão linguístico uniforme no qual se registre a produção cultural. — Pasquale Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 “A gramática, antes de tudo, constitui-se a arte da escrita. Como a escrita é, porém, signo da fala, a Gramática quer (dentro de certos limites) normatizá- la, e servir à Arte da Linguagem”. Floresça, fale, cante, ouça-se e viva A portuguesa língua, e já onde for, Senhora vá de si, soberba e altiva! ANTÔNIO FERREIRA “A língua não é ‘imposta’ ao homem; este ‘dispõe’ dela para manifestar sua liberdade expressiva”. - Bechara “Minha pátria é a língua portuguesa”. - Fernando Pessoa Antes que se comece a estudar algum ramo do conhecimento, não é má ideia gastar algum tempo para aprender qual é, afinal de contas, o FIM a que se destinam aquelas incontáveisinformações e regras e deves e não deves. Muita vez, o radar de “não soa bem” está CERTO. E, em última instância, que é o tal radar senão a SENSIBILIDADE SONORA à língua, a apreensão intuitiva de sua realidade primária? Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 AULA 2 Na última aula, quis deixar claro quais são os objetivos deste nosso CF e enfatizar por que escolhi tais objetivos e não outros. A julgar pelas entusiasmadíssimas respostas que de vocês recebi pelo direct, vi que tinha feito realmente o certo ao não entrar logo de cara nos conteúdos gramaticais. Porém, acabei não dizendo na sexta-feira tudo quanto queria ter dito e, depois de muito matutar no assunto, cheguei à conclusão de que o melhor seria jogar o resto do conteúdo para hoje — o que, aliás, fará mais sentido, como logo se verá. Se vocês ainda se lembram de quais eram os dois primeiros objetivos que listei na primeira aula (o que espero seja o caso, mas não sou ingênuo), afirmei que (1) gostaria de lhes dar uma visão mais clara sobre a natureza e o fim da gramática, e (2) oferecer-lhes uma porta de entrada segura, ou, melhor dizendo, um mapa para que com ele vocês possam se guiar quando forem estudar a coisa por conta própria. É isso que tentaremos fazer hoje. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Depois, hei de entrar no assunto que teria sido o complemento da primeira aula, mas terá serventia infinitamente maior se for exposto após as informações que virão a seguir. QUE É A GRAMÁTICA E PARA QUE SERVE? É um bocado assombroso que quase ninguém hoje em dia se faça uma pergunta tão óbvia. E não me refiro especialmente aos leigos e estudantes. Não quero dizer que seja fantástico um motoboy chegar em casa, depois de passar 10 horas no trânsito infernal de São Paulo, tirar o capacete e NÃO se perguntar, com os olhos distantes em busca da Sabedoria: “mas o que é a gramática?” Estou falando sobre o ensino mesmo da disciplina. Aqui no Instagram há muitas páginas sobre português e gramática. Se você espiar algumas delas, haverá de ver mais do mesmo repetido até a exaustão: dicas soltas e principais dúvidas. OS parônimos, a crase, a nova regra ortográfica e as regras de acentuação. Se for até o Youtube, o único lugar (por enquanto) onde há conteúdos mais sistemáticos, ainda assim não se encontra um só vídeo que discuta a natureza e importância da gramática, delimitando SEU fim além de seus meios e mecanismos internos. A pergunta “para que serve?” parece nem mesmo existir. POR QUÊ? A verdade nua e crua é a seguinte: a gramática não está nos seus melhores dias. Fatores de ordens política, educacional, acadêmica e cultural (ou, melhor dizendo, civilizacional) vieram nas últimas décadas embaralhando, transformando e aviltando a gramática. Primeiro, segundo nos informa o prof. Carlos Nougué no prólogo de sua Suma Gramatical, a gramática das línguas modernas foi-se fazendo às pressas e quase no improviso quando, entre os séculos XIV e XVI, firmaram-se os estados absolutistas e o latim deixou de ser a língua exclusiva da civilização. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Como as tais línguas não tinham uma tradição escrita de serviço às ciências e à filosofia, os gramáticos viram-se obrigados a fundamentar seus preceitos nos escritores que tinham às mãos: os literatos. Mas o grande escritor é, quase por definição, alguém que escapa às regras estabelecidas a fim de explorar novas potencialidades da língua e aumentá-la e fortalecê-la. Logo, diz o professor que as gramáticas “não buscavam com suficiente empenho fechar quanto possível paradigmas, e compraziam-se na multiplicação das exceções”. Ou seja, as gramáticas não tinham rigor lógico suficiente para criar regras consistentes, que pudessem resistir a ataques (que virão mais tarde). Segundo — ainda tendo o prof. Nougué como guia —, houve na década de 70 uma reforma educacional empreendida pelos militares positivistas com um só fim: transformar a educação numa força capaz de criar bons profissionais. Separou-se a faculdade de Filosofia da de Letras, arrancou-se do currículo escolar o Latim e o Francês e reduziu-se o Inglês à sua utilidade como língua do mundo comercial e “prático”. O famoso aprender inglês para conseguir um trabalho melhor, que até hoje existe. Para a gramática, a consequência foi a disciplina ter sido reduzida como o inglês: a partir de então, aprender-se-ia gramática só para conseguir uma aprovação em concursos e vestibulares. A elevadíssima ciência da linguagem fora reduzida a regrinhas e macetes infernais — o que também se vê hoje em dia, EM TODOS OS LUGARES. Terceiro, a ideia mesma do que é uma Universidade moderna só veio reforçar o pensamento utilitarista e reduzir a cultura em geral como as reformas educacionais dos militares haviam reduzido o português. (a vocês que já me pedem exercícios, façam este aqui: leiam o ensaio MARAVILHOSO de Otto Maria Carpeaux chamado “A Ideia da Universidade e as Ideias das Classes Médias”. É só arrastar para cima) Quarto, o surgimento e vertiginoso crescimento da linguística, que sem demora começou a invadir o terreno da gramática e minar-lhe a autoridade (quando não negava, sem rodeios, a própria validade da sua existência enquanto disciplina). Alguns linguistas puseram-se a atacar os fundamentos de que se valiam as gramáticas tradicionais para normatizar a língua. Os ataques foram eficacíssimos. A gramática cambaleou, e feio. Quinto, nas últimas décadas a qualidade do ensino no Brasil sofreu um baque TERRÍVEL, e nossos alunos Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 tiram sistematicamente os últimos lugares nos testes internacionais de educação básica. De novo, chamo à atenção meu destaque “Mandando a Real”. Pronto. Com esse brevíssimo apanhado, já se torna mais compreensível por que a gramática nos dias atuais parece ser rejeitada nos centros acadêmicos, reduzida pelos cursinhos e quase ignorada no ensino básico (isto sem falar na ideologização em massa do ensino). Mas eu não me proponho a descascar aqui esse abacaxi. Só quis dar-lhes o apanhado para que vocês saibam por cima quais são as questões inevitavelmente ligadas ao estudo da disciplina, e para que se compreenda mais facilmente o que direi a seguir. O QUE É A GRAMÁTICA? Segundo Celso Pedro Luft, a gramática normativa (que é a gramática de que trataremos aqui) “procura estabelecer um padrão de bem falar e bem escrever; codificar um uso modelar pautado pelas classes cultas e escritores consagrados.” Segundo Napoleão Mendes de Almeida, é “a reunião ou exposição metódica dos fatos de uma língua”. Basicamente, a gramática observa com atenção como a língua é usada por seus MELHORES USUÁRIOS e vai procurando sistematizá-la, ora trazendo à luz regras implícitas e como que “naturais”, ora criando por força política regras convencionais para que a língua seja padronizada e não se perca num enorme samba do crioulo doido linguístico. A gramática serve, portanto, para estabilizar uma língua (pois as línguas sofrem mudanças constantes) e transformar num sistema reproduzível os melhores usos desta mesma língua. (Há muitas, MUITAS questões aí no meio. Mas o básico é isso e, por enquanto, o básico basta). “Beleza, Raul. E aí, o que eu tenho a ver com isso?” A partir da próxima aula, havemos de entrar em conteúdos gramaticais estritos. Não quero que vocês caiam naquelas regras de paraquedas, sem saber por que estão lá. A inteligência humanaé um troço maravilhoso: funciona muito melhor quando não o põem para fazer um serviço mecânico de repetição e memorização sem saber bulhufas sobre o objetivo da coisa toda. Agora vocês já estão mais preparados para pegar a gramática pelos chifres e domar a fera. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 1 - O surto desenvolvimentista de 70 e Jarbas Passarinho; 2 - O surgimento e crescimento da linguística enquanto ciência da linguagem autônoma e separada da Gramática; 3 - A própria noção de Universidade e sua separação dos ideais elevados de Cultura: a proletarização do ensino (Carpeaux) QUOTES “Ferdinand Brunot queria que a escola ensinasse a língua e não a gramática. Todas as pessoas sensatas devem querer o mesmo. O que importa é o conhecimento da língua, e não de nomes ou teorias. E conhecer a língua é saber usá-la com adequação e justeza, e não analisá-la ou decorar regras fantasistas”. — Celso Pedro Luft, Gramática Resumida Se você apenas escolher uma gramática a esmo, derramar a bunda sobre uma cadeira e resolver lê-la de cabo a rabo, tenho más (ou boas) notícias: você não vai conseguir. Até hoje, eu mesmo não li uma só gramática inteira. Consulto-as sempre, comparo-as umas com as outras e não as largo — mas não as leio da primeira à última página. O que você pode fazer? Três coisas. 1 - Pode aumentar tanto a frequência quanto a qualidade de suas leituras, delas se valendo sempre para aprender algo sobre o mundo REAL. Depois, comece a praticar sua escrita. Dúvidas gramaticais começarão a surgir espontaneamente, ao longo de suas leituras e escritas. Consulte as gramáticas para tirar ESSAS dúvidas. 2 - Descubra qual é a hierarquia dos estudos. Isso faremos precisamente aqui, no CF. Não abordaremos todos e quaisquer pontos da gramática — só os que me parecem mais importantes para, a um só tempo, dar-lhes uma base razoavelmente sólida e melhorar, já agora, sua escrita. 3 - (E essa dica VALE OURO): prestar atenção às nomenclaturas, em vez de por elas apenas passar correndo ou só enfiá-las na cabeça à força de cega decoreba. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Faça algum esforço para entender por que tais nomenclaturas foram escolhidas. Nem todas são absurdas ou inúteis. Adjetivos restritivos ou explicativos, substantivos derivados, palavras variáveis, apostos, sufixos, acento indicativo de crase (e não só crase)… O esforço da inteligência — que é, sempre, em última instância o esforço de fazer ligações entre entes — será recompensado. Na próxima aula, hei de lhes recomendar alguns livros e já entraremos no conteúdo gramatical. E por favor: pintem os stories de que gostaram mais e os repostem! VAMOS DEIXAR A GALERA COM AQUELA GOSTOSA DOR DE COTOVELO. AULA 3 Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Sejam muitíssimo bem-vindos à nossa terceira aula, senhoras e senhores #chegados! Nas últimas duas aulas, julguei que seria melhor dar-lhes uma visão panorâmica do assunto para que estivéssemos todos a par de quais são suas dificuldades e de qual é o meu objetivo. Agora, está na hora de entrar no assunto. E a primeira coisa a se fazer é óbvia: onde conseguir material de apoio confiável para continuar os estudos após (e até durante) o CF? O que ler? Há muitas gramáticas no mercado. Ora, como eu já disse, a ideia de pegar um calhamaço de gramática e lê-lo de uma ponta à outra é história pra boi dormir. Mas não ler a coisa inteira não quer dizer que não se deva lê-la em absoluto. A primeira lição de hoje é: consultar gramáticas deve se tornar um hábito. Você não deve se sentir um analfabeto se estiver vasculhando as páginas de um volume qualquer para não deslizar na conjugação dum verbo ou saber quando usar um pronome reto ou oblíquo. Por definição e experiência própria, digo-lhes com toda a certeza que só não sente dúvidas sobre o português QUEM NÃO SABE QUASE NADA DE PORTUGUÊS. É como o cego que, precisamente por ser cego, desenhasse linhas tortas num papel e se julgasse o próprio Picasso. A imensa dificuldade do ofício ser- lhe-ia invisível. Portanto, meus chegados: consultem gramáticas. Consultem compêndios de dificuldades gramaticais. Consultem sites (confiáveis). Consultem dicionários. NINGUÉM É OBRIGADO A SABER TUDO SOBRE PORTUGUÊS. Até mesmo os mestres mais aquilatados invariavelmente prefaciam suas obras com antecipações de pedidos de perdão por quaisquer erros, além de humildes convites para que seus pares os corrijam se for necessário. Consultem, consultem, consultem. Agora, vamos às recomendações. Fujam da gramática de Evanildo Bechara. Por que é ruim? Não. Por que Bechara não é confiável? Não. É que sua gramática foi escrita para outros estudiosos. Não é uma gramática para estudantes, e sobretudo não se destina a leigos e simples falantes do português, como nós, que estão querendo dominar melhor sua própria língua. É uma gramática cheia de questiúnculas periféricas, escrita num português acadêmico e científico que não é lá muito convidativo. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Até onde li, gostei da “Novíssima Gramática da Língua Portuguesa” do Domingos Paschoal Cegalla. Sua linguagem é clara, direta e elegante. Mas não a li o suficiente para que possa recomendá-la sem reservas. Quanto à Suma Gramatical do prof. Carlos Nougué, livro sobre o qual recebo perguntas quase diariamente, aqui vai a perspectiva de um estudante: seu estilo não é claro. Às vezes, tenho que fazer muito esforço para acompanhar-lhe o raciocínio, tudo porque houve em alguma frase certa inversão sintática que seria dispensável. Não acho que a maior parte das pessoas vá conseguir sair-se melhor do que eu com sua leitura. O assunto, sozinho, de vez em quando já é espinhoso; não convém pôr espinhos também no cabo da tesoura que usamos para cortá-lo e podá-lo. E aí nos sobram as duas gramáticas que mais recomendo. Primeiro, a do mestre Napoleão Mendes de Almeida. Em vida, Napoleão foi internacionalmente reconhecido como uma das maiores autoridades sobre a língua portuguesa. Até hoje, é referência incontornável quando se trata de português. Só não a ponho em primeiro lugar porque 1) Napoleão é, pedagogicamente, extremamente rígido, e poucos aguentariam o tranco de ler sua gramática; 2) elegantíssimo escritor, sua linguagem não é simples. Isto é: para quem não está acostumado a ler, seu português não é coisa que se leia de modo fluído e mais tranquilo. Repito: Napoleão é um mestre e referência incontornável. Só não acredito ser o mais recomendável para nós, estudantes da primeira metade do séc. XXI. Segundo — e finalmente —, chegamos à Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Celso Cunha e Lindley Cintra. E aí está a gramática que lhes recomendo. Suas vantagens são muitas: 1) a linguagem é, como a do Cegalla, clara, acessível e elegante; 2) o papel normativo da gramática é por eles bem fundamentado, sem muitos rodeios ou a linguagem hermética do Bechara; 3) TODOS seus exemplos foram retirados de bons escritores, e não somos bombardeados com aquelas frases aleatórias como “Pedro pegou a bola”; 4) Os autores não ficam de lengalenga e são bastante diretos. Suas explicações são curtas, eficientes. Não se demoram mais do que é preciso e não se deixam desviar; 5) Portanto, sua leitura é agradável, proveitosa e (tanto quanto é possível) fácil. E com mais uma vantagem: a editora Lexikon lançou Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 uma “Gramática Essencial”, organizada creio eu por alguma parente de Celso Cunha, que é baseada na Nova Gramática do Português Contemporâneo e a simplifica e reduz, voltando-a para o público do ensino médio. É um livro de bolso, minúsculo, com 400 páginas. Eu o adoro e lhes recomendo também, enfaticamente. E aqui encerramos a primeira parte da aula de hoje. Na segunda parte, como prometido, começaremos a mapear o terreno gramatical. Façam seu break, tomem seus cafés e esvaziem suas bexigas. Voltamos daqui a pouco. SEGUNDA PARTE A Gramática (será conveniente usar a letra maiúscula quando estiver me referindo à disciplina ou ciência da Gramática, coisa que até aqui não fiz) divide-se em três partes, cada uma dedicada à descrição e análise de um SISTEMA: FONOLOGIA/FONÉTICA, ou sistema fônico MORFOLOGIA, ou sistema mórfico SINTAXE, ou sistema sintático. Como já reiterei aqui várias vezes, quando se trata de estudar a Gramática de forma prática as três partes NÃO ESTÃO EM PÉ DE IGUALDADE. A FONOLOGIA/FONÉTICA ocupa-se do aspecto sonoro das palavras; a MORFOLOGIA de todos os seus demais aspectos, sejam eles materiais, sejam imateriais; a SINTAXE ocupa-se das palavras em relação às outras que com elas se juntam para formar frases. Ora, já adiantemos algo aqui: a FONOLOGIA/ FONÉTICA é a parte menos importante das três. Quanto às outras duas, há tamanha interconexão entre ambas que alguns hoje em dia já falam apenas de MORFOSSINTAXE. O que estudam a Fonologia e a Fonética? Uma e outra estudam, como já dito, o aspecto sonoro das palavras. A diferença é que a Fonética estuda as variações (ou manifestações possíveis) de um MESMO FONEMA. Sabem os sotaques? Pois é, campo da Fonética. Já a Fonologia ocupa-se dos sons que são distintivos de significado entre as palavras. Dizer “avó” não é a mesma coisa que dizer “avô”. Há uma diferença de sentido. Campo da Fonologia. A Fonética, portanto, é um campo de estudos reduzidíssimo e já fica fora da jogada. Continuemos com a Fonologia. A Fonologia estuda, por exemplo, como é que nosso aparelho fonador materializa os vários fonemas. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 “Raul, não entendi bulhufas”. Reformulemos: a Fonologia quer saber o que fazem os pulmões, a traqueia, as cordas vocais e os lábios e os dentes e a p**** toda quando dizemos um “a”. As cordas vocais deixaram o ar passar livre, leve e solto ou fizeram-lhe algum obstáculo? Em que posição estava a língua na boca? E os dentes, que raios estavam aprontando? Os lábios estavam fechados ou arreganhados? E por aí vai. A Fonologia também define e classifica as vogais e consoantes, além de estudar como funcionam os encontros fonêmicos — isto é, em vez de só estudar os fonemas separadamente, vai lá e os observa em ação, todos juntinhos numa palavra. Caem sob sua jurisdição as sílabas e o estudo da Tonicidade (vale lembrar que as palavras só têm sentido quando existe uma sílaba tônica e ela está posta no lugar certo. O significado mesmo de uma palavra dita só existe se a ênfase da voz recair sobre este ou aquele grupo de letras. Um troço bem importante e curioso). Depois, vêm a Ortoépia (que se ocupa da correta pronúncia dos fonemas: tanto de palavras soltas quanto da ligação sonora adequada que deve haver entre uma palavra e outra); e a Prosódia (que se ocupa das pausas, dos acentos e dos tons. A Ortoépia restringe-se aos chamados “fonemas segmentais”: as vogais e as consoantes). “Ótimo, Raul. E o Kiko?” E o Kikocê tem a ver com tudo isso é o seguinte: ainda que a realidade primária de uma língua seja SONORA e não ESCRITA, e ainda que eu sempre lhes diga para que vocês treinem os seus ouvidos (que a boa escrita tem cadência e ritmo etc.), a verdade nua e crua é que a Fonologia não fará grandes maravilhas pelo seu português prático. Saber se uma consoante é “oclusiva”, “vibrante” ou “lateral” é quase perfeitamente irrelevante para o usuário normal da língua. Quanto à acentuação, o melhor jeito de acertá-la é ter muito contato com quem escreve bem e fazer consultas a qualquer dicionário, sempre que surgirem dúvidas. Eis o ponto: saber como funcionam os mecanismos sonoros da língua não é tão importante e frutífero, NA PRÁTICA, quanto compreender as classes gramaticais ou dominar um tiquinho a análise sintática. Quando se trata do som, é mil vezes mais importante treinar o ouvido esteticamente do que se entupir de conceitos sobre o funcionamento fônico duma língua. É mais importante você ler uma frase, reproduzi- la mentalmente e conseguir dizer: “isso SOA HORRÍVEL”, do que ter na ponta da língua que uma Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 consoante surda é produzida por cordas vocais que não vibram. Futuramente (isto é, fora deste CF), quando estudarmos a língua de forma mais completa e sistemática, havemos de abordar a Fonologia. Por enquanto (isto é, dentro deste CF), o que faremos é estudar certos aspectos da Morfologia e da Sintaxe — ou, para os mais chegados: estudar a Morfossintaxe. Nos vemos na próxima aula. AULA 4 Classes Gramaticais e Substantivos CLASSES GRAMATICAIS E SUBSTANTIVOS Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Chegados, sejam bem-vindos à nossa quarta aula! Na última, pus de lado o estudo pormenorizado da Fonética e Fonologia e lhes expliquei meus porquês. Agora, pois, entremos no estudo da primeiríssima área gramatical que exige nossa atenção. Estudá-la e entender como funcionam seus mecanismos internos haverá de ter efeitos REAIS e IMEDIATOS sobre o uso diário da língua. Não, não é a Ortografia (mais comentários sobre a pobrezinha later). Estou falando das CLASSES GRAMATICAIS. “Raul, meu Deus do céu, já começaram aqueles termos bizarros, sobre os quais não entendo bulhufas e cuja compreensão está reservada a uma casta de gênios, aiputamerdatôpassandomal e xfaegegsgsngsoihgsuehaca” PALMA! Não priemos cânico. Como diria o Bane, do terceiro filme (lixo) da trilogia do Batman: “Now is not the time for fear. That comes later”. CLASSES GRAMATICAIS quer dizer, pura e simplesmente, “grupos ou conjuntos organizados de palavras”. Quer dizer que as mais de 400 mil palavras (!!!!) do português cairão, forçosamente, em uma dessas 10 classes. Já Platão e Aristóteles tinham notado que havia basicamente dois TIPOS de palavras. Isto é, que palavras diferentes exerciam funções IGUAIS. Eram elas os SUBSTANTIVOS e os VERBOS. Com o passar do tempo, foi-se aprimorando o estudo e, no caso do português (pois há outras línguas com mais ou menos classes), chegou-se a DEZ TIPOS de palavras. Sim. As classes gramaticais são DEZ. Algumas bem curtinhas, outras um pouco mais longas. Saber mais ou menos para que serve (o que, no fundo, é o critério que se usa para classificá-las) cada uma delas já lhes será de ENORME AJUDA para saber muito mais sobre a língua. É a primeira porta de entrada que lhes prometi. São elas: SUBSTANTIVO ADJETIVO VERBO PRONOME NUMERAL ARTIGO ADVÉRBIO PREPOSIÇÃO CONJUNÇÃO INTERJEIÇÃO Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 As seis primeiras, que estão agrupadas todas juntinhas, são VARIÁVEIS. Ou seja, são palavras que podem variar (dur) de acordo com gênero, número e (no caso dos VERBOS, a classe mais variável de todas) tempo, modo, aspecto, número e pessoa. Às outras quatro dá-se o nome de INVARIÁVEIS. Ou seja: que não variam (dur). Quando este que vos escrevecomeçou a estudar português, havia um problemão: eu não sabia direito o que significavam as dez classes gramaticais. Ou seja, não sabia DE VERDADE para que servia um pronome, uma conjunção ou até um adjetivo. O resultado era eu ficar completamente perdido quando lia a explicação de algum gramático, toda ela fazendo referência (óbvia e inescapável) às classes de palavras. Se você não tem a mínima ideia do que é uma preposição, por exemplo, certas explicações não lhe explicarão nada. Exemplo: a mania, contrabandeada da sintaxe do inglês, de terminar as frases com “sobre”. Dias atrás, li no Instagram a seguinte frase: “…a importância do discernimento entre as coisas que temos controle sobre e as que não temos controle sobre”. Se você souber direitinho o que é uma preposição, a falta de noção do que se lê acima fica-lhe evidente só com a definição da classe: preposições são palavras que LIGAM outras palavras, estabelecendo entre elas certas relações. Ora, se ligam palavras, como raios podem ser o final de uma frase? Seria como grudar uma ponte na lateral de um prédio — algo ia estar faltando. O certo seria: “…entre as coisas sobre as quais temos controle e sobre as quais não temos controle.” Reordenar a posição da preposição aliás nos obriga a melhorar a frase no geral, trocando “que” por “as quais”. A mesma coisa dá-se infinitamente com todas as demais classes de palavras. Se você aprendê- las direitinho, uma enormidade inacreditável de problemas NÃO SURGIRÃO. Assim como não surgiriam para um pedreiro que sabe exatamente o que car**** fazem todas as suas ferramentas, e conhece-lhes todas as potencialidades. Portanto, o que eu farei nas próximas aulas é repassar com vocês, uma a uma, todas as dez classes gramaticais. Já adianto: no que toca ao nosso aprendizado, elas não têm todas a mesma importância. As duas mais importantes são o SUBSTANTIVO e o VERBO, porque constituem a base das frases. Sem as duas, nada feito. Entre o substantivo e o verbo, a que mais nos tomará Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 tempo é o verbo. Pois os verbos são as benditas palavrinhas que MAIS VARIAM (contem aí: gênero, número, pessoa, modo, tempo, voz…), e, sozinhas, determinam uma cacetada inteira de informações essenciais à compreensão das frases. Como, por exemplo, QUEM fez o QUE e QUANDO. Outras classes, como os numerais, os artigos e as interjeições são tranquilíssimas, e descem redondamente pela garganta do intelecto até o estômago da compreensão (patrocínio, SKOL). Porém, chega de blá-blá-blá e comecemos. Comecemos com o tipo de palavras mais antigo de todos. Tão antigo, a bem dizer, que foi nosso pai Adão o primeiro a usá-lo. E disse Deus a Adão, em meio a sei lá quantos bilhões de bichos, que iam desde chiuauas até Tiranossauros Rex, no Jardim: “dê nomes a todos eles.” Vamos começar com o SUBSTANTIVO. “Raul, TODO MUNDO sabe o que é um substantivo”. Sabe mesmo? Então, vamos à luta. SUBSTANTIVOS são palavras com que nomeamos os seres em geral. Eis a definição que está nas melhores gramáticas. Mas apenas seres físicos, palpáveis, como cachorros, ou chutáveis, como políticos e latas de lixo? Não. Também seres imaginários, fabulosos. Seres como as sereias, os unicórnios ou o Zé do Caixão. E aí vem uma pergunta: [ENQUETE] BELEZA, por exemplo, é substantivo ou adjetivo? Como você viu, BELEZA é um substantivo. Mas que raios de SER é BELEZA? Não é um bicho imaginário ou algum objeto material. Não é uma pessoa. Mas é alguma coisa (e aqui entramos em uma das muitas maravilhosas confluências que há entre o estudo da linguagem e a filosofia; o estudo da realidade mesma). Ora, dizer que “Henry Cavill é belo” (o desgraçado fica mais bonito do que 99% da humanidade com a desgraça dum BIGODE) não é a mesma coisa que repetir a célebre frase, atualmente descolada entre a gente conservadora: “A Beleza salvará o mundo”. No primeiro caso, a “beleza” é uma QUALIDADE ou Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 CARACTERÍSTICA do SER que é Henry Cavill. No segundo caso, o SER é a própria BELEZA. Trata-se da substância mesma da coisa. Ela em si. Não ela como característica de alguma outra coisa. Os substantivos que designam seres que, reais ou não, têm formas materiais identificáveis (unicórnios são cavalos com chifres; pessoas são bichos com duas pernas), são chamados de CONCRETOS. Os substantivos que designam palavras como beleza, coragem, amor, frio etc. são chamados de ABSTRATOS. Designam noções, ações, estados e qualidades TOMADOS COMO SERES. São os dois tipos principais. Existem outros: Comuns: os que designam seres da mesma espécie. Cavalo, menino, computador (há vários cavalos, meninos e computadores) Próprios: os que se aplicam a um ser em particular. Só existe um Ronaldinho Gaúcho no mundo; não aguentaríamos dois homens de tamanha qualidade; Simples: os que são formados de um só radical. Chuva, pão, lobo Compostos: os que são formados por mais de um radical. Guarda-chuva, passatempo, beija-flor. Primitivos: os que não derivam de outra palavra da língua portuguesa. Pedra, ferro, dente, trovão. Derivados: os que derivam de outra palavra. Pedreira, ferreiro, dentista, trovoada. Coletivos: os que designam um conjunto de seres da mesma espécie. Constelação, exército. PRESTEM ATENÇÃO: o mais importante, de longe, é você conseguir IDENTIFICAR se uma palavra é substantivo ou não. Portanto, para os fins práticos que nos orientam neste CF, as duas classes mais importantes são os concretos e os abstratos. Comece a TREINAR sua percepção, identificando-os nas frases que você ler e escrever. Uma clareza até ali insuspeita começará a surgir-lhes na inteligência. Eu lhes garanto. OBSERVAÇÃO: existe, na língua portuguesa, uma coisa chamada SUBSTANTIVAÇÃO. Ocorre ela quando uma palavra que originalmente NÃO ERA um substantivo age, vejam só, como um SUBSTANTIVO. Exemplo: “O cantar dos pássaros alegra a manhã”. “Cantar”, originalmente um verbo, aí aparece substantivado. Funciona como “canto”. Também as palavras substantivadas vocês têm que se treinar para perceber, a partir de agora. Uma dica importantíssima é: para que possam ser Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 substantivadas, as palavras (que podem vir de quase todas as outras classes gramaticais) têm que estar acompanhadas ou de um artigo (como “o cantar”); ou dum pronome (“eu não aceito seu não como resposta). NÃO SE PREOCUPEM com decorar todos os tipos de substantivos. O mais importante é, repito, vocês treinarem sua percepção. Treinem seus olhos para identificar os substantivos e, repito (de novo): uma clareza que chega a ser estranha começará a surgir, e não só na leitura de vocês. Nas suas cabeças. Uma ordem maravilhosa. E, para ajudá-los com isso, vamos a alguns exercícios: Na frase “O aluno interessado vai bem nas provas” a palavra em negrito é um substantivo? (Não, é um adjetivo. É uma característica de “aluno”.) E na frase “O interessado é ele, e não eu”? (Sim, é substantivo. Notem a presença do artigo “O”.) Na frase “Todos agradeceram seu gesto amigo”: AMIGO é substantivo? (Não, é adjetivo. Por quê? Porque “amigo” aí é um característica ou qualidade do gesto, e não a “substância” do que é um amigo. Substantivos podem funcionar às vezes como adjetivos. Não lhes expliquei isso na aula e pus a pergunta aqui para testá-los mesmo. Não se preocupe se você, amigo ou amiga, errou esta aqui.) Hoje paramos por aqui, meu povo. Espero que tenham gostado da aula, e que o conteúdo lhes tenha ficado claro. Caso contrário, enviem-memensagens. Se a aula foi boa, peço-lhes o de sempre: pintem alguma tela de que gostaram bastante e a compartilhem nos seus perfis! Até amanhã! Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 CHEGADOS, sejam bem-vindos à quinta aula do nosso Intensivão! Na aula de ontem, enfim lhes apresentei a porta de entrada que havia prometido para um estudo mais ordenado, fluído e fecundo da Gramática: as classes gramaticais. Expliquei-lhes o conceito de SUBSTANTIVO, vimos por cima quais são seus diversos tipos e, no final, bati numa tecla diferente: disse-lhes que vocês precisavam treinar-se para identificar os substantivos nos textos que leem e escrevem. Hoje, havemos de passar à segunda classe gramatical mais importante de todas. A classe de palavras que, junto com o substantivo, é a responsável por criar a base das frases. Portanto, a base da língua e do raciocínio mesmo. A bem dizer, o verbo é tão importante para a construção do sentido que, mesmo se arrancássemos de um certo parágrafo todas as outras palavras, deixando apenas os verbos, ainda assim restaria algum sentido bastante identificável: “Fulano bebeu tanto que cambaleou, escorregou no bar e caiu com a cara no chão.” Bebeu - cambaleou - escorregou - caiu. Ainda se pode ver algum sentido, aliás bastante claro. Tem-se aí a jornada dum pé-de-cana. VERBOS Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Se, porém, tirássemos todos os verbos da frase… O verbo é a classe de palavras mais variável da língua, com flexões de PESSOA, NÚMERO, MODO, TEMPO e VOZ; É o eixo em torno do qual gira toda a análise sintática. Seu ponto de partida; São as palavras que, sozinhas, dizem QUEM fez o QUE (ou o QUE aconteceu a QUEM), e QUANDO. Senhooooooooooooras e Senhoooooooooooores: Subindo ao ringue do Intensivão, pesando sei lá quantos incontáveis quilos (com suas milhares de palavras), a Classe Gramatical que já fez muita gente beijar a lona e todos os dias nocauteia sem dó usuários incautos da língua portuguesa: Os VEEEEEEEEEEEERBOS (plateia vai à loucura) Como no caso do substantivo, hei de dar ênfase às partes e características do verbo que me pareçam mais imediatamente úteis a vocês, assim como foram a mim. Vamos começar, portanto, pelo inescapável: sua DEFINIÇÃO. “Raul, verbos não são ações?” Sim, são. Jogar bola, esmurrar alguém, piscar os olhos, tocar pandeiro na rodinha de samba… são todas ações. Verbos. E o que são ações? Ação é tudo o que se faz. São quaisquer operações de um agente, humano ou não. Ninguém “faz” Beleza. Faz alguma coisa que é bonita. Pintar um quadro, por exemplo. Mas não é só isso. [Enquete] “Ontem choveu”. Há um verbo na frase? Sim. “Choveu” é um verbo. Verbo sem agente. Designa ele um fenômeno da natureza. “Tenho estudado bastante português”. Tenho é um verbo? Sim. É um verbo auxiliar: tem a função de juntar- se às formas nominais de outros verbos para criar coisas como a voz passiva (“foi ferido” em vez de “feriu”), os tempos compostos (“tinha chegado”) e as locuções verbais (“hei de + verbo”). “Faz dois anos que eu criei esta minha conta do Instagram.” Além de “criei” existe algum outro verbo? Sim, o verbo impessoal “faz”, que aí está designando tempo transcorrido. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Portanto, de cara fica claro que “verbos são ações” não é uma definição suficientemente abrangente. Vamos, portanto, de Cegalla: “Verbo é uma palavra que exprime ação, estado, fato ou fenômeno. Ou de Celso Cunha e Lindley Cintra: “Verbo é uma palavra de forma variável que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado no tempo”. Bem melhor, não é? Sobretudo esta última, que define o verbo como algo que designa um acontecimento qualquer representado no tempo. Qualquer verbo, seja ele composto ou não; esteja ele no modo subjuntivo ou indicativo, na forma regular ou irregular, na primeira, segunda ou terceira pessoa, não importa: estará sempre designando um acontecimento que é representado NO TEMPO. E aqui proponho o mesmo exercício que já fizemos em relação ao substantivo: aprendam a IDENTIFICAR adjetivos num texto, ainda que não saibam dar-lhes os nomes respectivos ou classificá-los em tal ou qual categoria. A familiaridade imediata com a língua é o mais importante. Porém, com os verbos a história não pode parar aqui. Somos obrigados a estudar mais a fundo algumas características suas, e é com isso que nos ocuparemos nesta e, possivelmente, na próxima aula. Comecemos com suas cinco possíveis flexões. PESSOA NÚMERO TEMPO MODO VOZ PESSOA e NÚMERO Ambas as flexões andam juntas, pois determinar a pessoa é determinar também o número. Que é a PESSOA? É quando o verbo indica, pelas suas desinências, qual pessoa está sendo privilegiada na comunicação. Pode ser o EU, a pessoa que fala, o TU, a pessoa que ouve, ou o ELE, a pessoa de quem se fala e que não está presente. O mesmo vale para seus plurais NÓS, VÓS e ELES (daí que determinar a PESSOA seja determinar também o número). “Penso” não é a mesma coisa que “pensam”, e este não é igual a “pensais” ou “pensamos”. Viram como o verbo, sozinho, já pode determinar Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 tanta coisa? Continuemos. TEMPO As flexões de tempo verbal situam o verbo dentro de determinado momento, que pode ser durante, antes ou depois do ato de comunicação. São três os tempos verbais: O PRESENTE “Agora eu estudo” PRETÉRITO Que pode ser Imperfeito, Perfeito ou Mais-que- Perfeito. Creio será útil dar algumas explicações mais aprofundadas sobre os três. Que raios significa a palavra PRETÉRITO? Significa, pura e simplesmente, o que já se passou. O passado. “Nossa, Raul, e pra que três passados diferentes, meeeeow? Pra que ficar complicando tudo meeeeow?” Porque é preciso. A coisa é muitíssimo simples. Dá-se o nome de “imperfeito” ao verbo que designa um acontecimento que, no passado, NÃO SE COMPLETOU, NÃO FICOU REDONDINHO E PERFEITO. Um acontecimento qualquer que começou e acabou no passado é perfeito. Acabou. Fechou-se o ciclo. Com o pretérito imperfeito, não. Daí que exprima ele a noção de CONTINUIDADE. Sua “imperfeição” é não ter acabado por completo. Por exemplo: “Quando era moleque, eu só jogava videogame”. Dá-se o nome de PERFEITO ao verbo que, como já deixei dito, designa um acontecimento que começou no passado e acabou. É possível apontar um fim definitivo seu. Por exemplo: “Ontem, eu joguei bola”. Jogou bola ontem, e acabou. Dá-se o nome de MAIS-QUE-PERFEITO, coisa que soa medonhamente complicada, aos verbos que designam ações que aconteceram no passado de um passado (daí o MAIS que perfeito; é o português antecipando o Inception de Nolan por alguns bons séculos). “Quando cheguei ao campo para jogar, o time já fora embora.” “Chegar” é passado, sim; mas o time tinha ido embora ANTES mesmo de ele chegar. Antes do passado. Passado do Passado. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 FUTURO São dois: DO PRESENTE: “Se tiverem bom senso, vocês estudarão este CF” DO PRETÉRITO: “Vocês estudariam o CF, se eu não atrasasse as aulas”. Há também as flexões de MODO Há algum tempo, certo sujeito que se diz escritor postou no Twitter o seguinte: “Só levarei a sério qualquer diagnóstico ou leitura sobre o integralismo, feitas (sic) pela imprensa e academia, quando começaram a chamá-lo pelo seu nome verdadeiro:‘pederastia intelectual’.” Não se esforcem para entender o que vai escrito acima. Só o que importa é notar que existe algo de muito estranho com o verbo. É que ele está no MODO errado. Há três flexões de modo para o verbo, e revelam elas como o falante se sente em relação ao fato por ele comunicado. O falante pode ter CERTEZA, e usar o INDICATIVO; Pode ter alguma DÚVIDA (ou hipótese), e usar o SUBJUNTIVO; Pode estar dando uma ORDEM (ou fazendo um pedido de conselho ou de alguma outra coisa), e usar o IMPERATIVO. No caso acima, o certo seria usar o modo SUBJUNTIVO do verbo, que aí expressaria hipótese: “quando começarem”. É a diferença entre dizer “estão trabalhando”, “se trabalhassem, teriam dinheiro” e “trabalhem, vagabundos!”. VOZ É usada para evidenciar a relação que existe entre o sujeito e a ação expressa pelo verbo. No caso da VOZ ATIVA, a ênfase recai sobre o sujeito: “O professor (não eu, claro) xingou os alunos”. Na VOZ PASSIVA, quem recebeu a ação ou acontecimento é quem vai para os holofotes: “Os alunos foram xingados pelo professor (não eu)”. Na VOZ REFLEXIVA, o responsável pela ação é também quem a recebe. “O cozinheiro cortou-se”. Há mais coisas para se dizer sobre as cinco flexões? Sim. São importantes? Sim. Mas a ideia aqui é fazermos um INTENSIVÃO que Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 vocês conseguirão acompanhar, e a coisa mais fácil do mundo é só regurgitar nomes difíceis e tabelas para que vocês as decorem. Não quero isso. Quero que vocês ENTENDAM algumas coisas, mesmo que poucas. Entendendo-as, conseguirão criar uma base sólida para nela subir, colocar-se de pé e andar com as próprias pernas. Na próxima aula, é provável que continuemos com os verbos. Espero que tenham gostado. Até amanhã! AINDA SOBRE OS VERBOS Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Chegadíssimos do meu coração: como vão vossas senhorias? Fiquei muito feliz com o retorno de alguns de vocês, que fizeram elogios rasgados à minha clareza expositiva na última aula. Sei bem que se trata duma abordagem muitíssimo reduzida a que escolhi dar neste curso. Trata-se, também, de uma abordagem incomum — com ênfases que nada têm a ver com as tradicionais, sempre visando a tornar o aluno alguém capaz de responder uma série de perguntas, e pronto. Este CF está sendo um período de estudos para vocês. Mas também para mim. Queria saber se, no meio da zorra e pancadaria generalizada que hoje em dia é a Gramática, eu conseguiria aproximá-los da língua que é nossa mãe, aclarando-lhes conceitos FUNDAMENTAIS que foram absolutamente negligenciados em nosso ensino. Parece que estou conseguindo. Se vocês estão gostando do rumo, do conteúdo e do tom deste nosso Intensivão, digam-mo cá embaixo. [ENQUETE] Agora, voltemos aos negócios. Na última aula, dei-lhes algumas definições básicas de “verbo” e repassamos suas cinco possíveis flexões: PESSOA, NÚMERO, MODO, TEMPO e VOZ. Os verbos, porém, são um assunto vasto e não raro espinhoso. Só aquilo não seria suficiente para servir- lhes de mapa de estudo. É preciso mais. Porém, aqui talvez seja útil eu lhes explicar, rapidamente, qual é o princípio que vem guiando as minhas escolhas de assuntos e ênfases. É o seguinte: por um lado, quero ensinar-lhes com CLAREZA tópicos que podem ser encontrados noutros lugares, sim — mas expostos de forma confusa e obscura. Ou de forma científica. Ou com linguagem excessivamente técnica. Pelo outro, quero dar-lhes (com a mesma clareza) uma visão geral de quais são as principais divisões gramaticais. Assim, vocês poderão continuar os estudos depois, como quiserem. Aqui, por exemplo, no caso dos verbos, eu poderia ter apenas copiado listas de conjugação e colado-as aqui, tascando-lhes em seguida algumas explicações repletas de termos absolutamente incompreensíveis a quem não estude gramática quase diariamente. Escolhi tomar um outro rumo. Nesta aula, havemos de estudar a ESTRUTURA DO VERBO e suas CLASSIFICAÇÕES. Decidi, portanto, pular longas exposições de regras Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 de conjugação. Eu mesmo não as decorei e quase nunca tenho dúvidas a esse respeito. Quando as tenho, sigo o preceito que lhes ensinei na segunda aula: EU CONSULTO. O que for facilmente consultável não será encontrado aqui. Vamos à aula. Primeiro, a ESTRUTURA DOS VERBOS. Um verbo é formado pelo seu radical + uma vogal temática + uma desinência. “Ai Raul não entendi nada” Mas é claro, ué! Ainda não expliquei nada. Mas é facinho. O Radical é o portador de sentido, a identidade do verbo. Segundo Cegalla, é “o elemento básico e significativo das palavras”. É sua parte que se mantém quase sempre constante e inalterada (já explicaremos o “quase”). “Raul, como saber qual é o radical?” Não há uma regra absoluta e infalível para sabê-lo. NO GERAL, o que se pode fazer com o verbo (pois todas as palavras têm radicais) é tomar o infinitivo e arrancar-lhe as duas últimas letras. Como em “comprar”. Arranque-lhe o -ar e sobra “compr”. Eis o seu radical. A seguir, temos a Vogal Temática, que pode ser “a”, “e” ou “i”. indica o modelo de conjugação a qual o verbo pertence. Se à primeira, -a; se à segunda, -e; se à terceira, -i. Ao radical acrescido da vogal temática chama-se TEMA. As desinências são as terminações das palavras que indicam quais são suas flexões. Podem ser elas modo-temporais ou número-pessoais. Ou seja: podem indicar tanto o MODO quanto o TEMPO ou tanto o NÚMERO quanto a PESSOA do verbo. As desinências são assim chamadas porque sempre indicarão as duas coisas ao mesmo tempo. Ademais, um verbo pode muito bem ter as duas juntas. (Se você não estiver entendendo bulhufas, volte uma casa e assista à nossa aula passada, a quinta do CF). Assim, por exemplo, temos: COMPR + A + R COMPR + A + RÍA + MOS Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 E aí está a estrutura básica dum verbo. Não quero ver ninguém mais se descabelando ao ler “desinência” ou “vogal temática”. São troços simplicíssimos, como vocês viram. Agora, além da estrutura de formação dos verbos, existem também diversos tipos de verbos na língua portuguesa. Mais precisamente, são cinco: os REGULARES, os IRREGULARES, os ANÔMALOS, os DEFECTIVOS e os ABUNDANTES. Não se assustem com os nomes, os conceitos são bem fáceis. Primeiro, os verbos regulares. Esses são os certinhos da família. Os previsíveis. Aqueles primos que nunca sairiam de casa escondidos para uma rave. Seguem um padrão. Ou, melhor dizendo, seguem um paradigma de conjugação. Se você aprender a conjugação de um só deles, aprenderá por tabela a conjugação de todos os demais. Além de seguirem o mesmo padrão de conjugação, os verbos certinhos também não alteram nunca seu radical. Para nossa alegria, são maioria na língua. Para nossa desgraça, são apenas a maioria e não todos. Andar, guiar, correr, comer, partir… Eu Tu Ele Nós Vós Verbos irregulares: Esses aí são os bad boys. Os revoltadinhos. Podem tanto alterar seu radical quanto não seguir o modelo da conjugação. PI - estar Estou Estás Está Estamos Estais Estão Seu radical não se alterou, mas sua segunda e terceira pessoas do singular quebram o paradigma dos verbos regulares. Portanto: é irregular. Perco Perdes Perde Perdemos Perdeis Perdem Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Aí,o verbo perder mostra-se quase inteiramente de acordo com o paradigma. Quase. Mas o “c” da primeira pessoa do singular muda tudo. (É daí que vem, aliás, o erro tão comum que confunde o substantivo “perda”, derivado do verbo perder, com o seu presente do subjuntivo “perca”. É que o “d” seria, realmente, o previsível). Verbos Anômalos São verbos que se TRANSFORMAM (ui!) completamente na conjugação. Não se pode nem mesmo dizer que tenham radicais. Ir e Ser Ser: PI PPI PII Sou Fui Era És Foste Eras É Foi Era Somos Fomos Éramos Sois Fostes Éreis São Foram Eram Ir: PI PPI PII Vou Fui Ia Vais Foste Ias Vai Foi Ia Vamos Fomos Íamos Ides Fostes Íeis Vão Foram Iam Verbos defectivos São verbos defeituosos. Não são conjugados em algumas pessoas. Quase sempre, a defectividade se resume ao presente do indicativo e aos tempos derivados do presente. Acontece no Presente, no Presente do Subjuntivo (tempo do talvez) e no Presente do Imperativo. Às vezes, não são conjugados por um problema real, de sentido. Como no caso dos fenômenos atmosféricos, que são acontecimentos unipessoais — não têm sujeito. (que sentido teria fazer a tabelinha “eu chovo / tu choves / nós chovemos etc.?) Onomatopeias, também. Como sons feitos por bichos. Zunir, latir, rugir, etc. Entre os verbos que são conjugados em algumas pessoas, a razão da defectividade está ou numa Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 cacofonia, ou em duplicidade — a forma verbal se confundiria com outro verbo. “Colorir”, por exemplo. Não existe “coluro” ou “coloro”. Verbos de Particípio Abundante Regular: -ado, -ido (as terminações do particípio de quase todos os verbos) Irregular: ? Regular Irregular Limpado Limpo Fixado Fixo Salvado Salvo Entregado Entregue Suspendido Suspenso Inserido Inserto Ter / haver Ser / Estar Como já se viu aqui nos meus stories, “trazer” NÃO É um verbo abundante. Portanto, só tem o particípio regular “trazido”. Mas há verbos abundantes, com dois particípios diferentes. A regra para usá-los é muito simples: com os verbos auxiliares ter / haver usa-se a forma regular. No geral, em orações com a voz ativa. “Eu já tinha limpado o carro quando você chegou”. Com os verbos auxiliares ser / estar, usa-se a forma irregular. No geral, em orações com a voz passiva. “O carro já fora limpo”. Existem ainda uma ou duas coisas importantes a se dizer sobre os verbos, mas a aula já ficou muito grande e hei de colocá-las na aula que vem. Como sempre, espero que tenham gostado! E, se sim, peço-lhes que printem adoidadamente as aulas e as repostem nos seus perfis! Obrigadão pela atenção, perdoem-me pela demora e até amanhã! Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Chegados, sejam bem-vindos à sétima aula cá deste nosso CF bão demais da conta sô! Nas duas últimas aulas, estudamos os verbos: suas diversas flexões, seus cinco tipos e sua estrutura. Foram necessárias duas aulas porque os verbos são as palavras mais variáveis do português e calham de servir de ponto de partida à análise sintática. Havia muito mais a se dizer sobre os verbos. Porém, em virtude do espaço de que dispomos e da proposta do CF, achei melhor não multiplicar indefinidamente os exemplos e explicações. A sã prática pedagógica recomenda não criar nos alunos a sensação apavorada de que o tópico ensinado é vasto, intrincado e confuso demais para que se possa compreendê-lo. A inteligência se ilumina com novas compreensões, ainda que simples. Ilumina-se e fomenta a Vontade. O aluno fica empolgado e sente-se capaz de aprender. Por outro lado, à inteligência que se mostra incapaz de compreender não adianta nada apresentar novas explicações e desenvolvimentos. Seria como acrescentar novas laranjas para que uma faca cega as tente cortar, em vão. Portanto, como a última aula já estava começando a se tornar uma salada, reservei uma parte pequena SOBRE OS PRONOMES Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 do assunto para hoje. Na aula de hoje havemos de falar, primeiro, sobre uma última (e bastante comum) forma verbal; depois, entraremos nos Pronomes. Comecemos com a forma verbal. Além de suas cinco possíveis flexões, dos tipos que seguem ou não determinados modelos de conjugação, da estrutura “radical + vogal temática + desinências” de que se compõem… além de tudo isso, existe ainda uma outra função dos verbos possível dos verbos que será interessante mostrar-lhes aqui. Chama-se ela FORMA NOMINAL DO VERBO “cumé?” É bem simples: o verbo pode assumir outras funções sintáticas nas orações. São chamados de “nominais” porque (tcharam!) passam a agir como NOMES — substantivos, adjetivos e advérbios —, e não como verbos. São três suas formas nominais: O INFINITIVO (no geral, terminado com -r): O verbo rouba o emprego do pobre do substantivo: “Navegar é preciso. Viver não é preciso”, diz o poeta Pessoa. Aí, “navegar” e “viver” não funcionam como verbos. Não são acontecimentos que se desenrolam no tempo. Não são ações. Não são fenômenos da natureza. Se fôssemos reescrever a frase, tirando-lhe a beleza literária e a poesia: “A navegação não é necessária. A vida não é necessária”. Notem que “navegar” não se refere a um navegar específico, identificável e transcorrido no tempo. Refere-se ao ATO de navegar; à SUBSTÂNCIA e ESSÊNCIA do ato. A terminação -r às vezes pode ser enganosa. GERÚNDIO (no geral, terminado com -ndo) Ah, o infame gerúndio… serve ele para indicar algo em acontecimento. Às vezes, porém, pode roubar o protagonismo (olha o fascistinha aí) dos adjetivos. Em vez de dizer “Joguei água fervente no ralo” podemos dizer “joguei água fervendo”. PARTICÍPIO (no geral, terminado em -ado, -ido) “Raul, poste o CF no horário marcado!” “Marcado”, o passado de “marcar”, está servindo de adjetivo a “horário”. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 E aqui volto a reforçar o apelo que lhes fiz na segunda aula: TREINEM-SE para conseguir reconhecer as classes gramaticais. Se vocês saírem deste CF só com uma vaga ideia do que seja cada uma das classes gramaticais e mais este olhar apurado… seu português já terá melhorado 500%. Pronto. Pausa. Tomem um copo d’água, absorvam sem pressa o que já foi dito e só depois continuem. Vamos falar sobre os PRONOMES. Eu amo os pronomes. Como aspirante a escritor, posso dizer-lhes que a riqueza expressiva que se consegue com os pronomes é ENORME. Creio que a colocação pronominal (calma, chegaremos lá) foi o primeiro assunto gramatical que estudei, depois de velho. Lá com meus 22 anos de idade, quando resolvi aprender a escrever direito. Aprendi algumas regrinhas de colocação num dia. Fui dormir, acordei no dia seguinte, abri os olhos e vi isto: [matrix] Por quê? Bem, para começar, porque os pronomes são palavrinhas que ou substituem ou representam o substantivo. Além disso, indicam qual é a pessoa do discurso. Isso quer dizer que os pronomes evitam aquelas repetições insuportáveis da mesma palavra, são indispensáveis à articulação lógica do texto e ajudam o leitor a neste se situar. São a terceira classe gramatical que estudaremos aqui. Antes de elencar seus diversos tipos, entendamos o que é um pronome. Segundo o dicionário Priberam, o prefixo pro- pode indicar origem, anterioridade, extensão ou… substituição. “Pronome”, portanto, quer dizer literalmente“substituição do nome”. Imaginemos que um vizinho, furibundo e com um buldogue inglês debaixo dos braços, me abordasse dizendo: Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 “Raul, prendi teu cachorro, mas não o maltratarei”. Se não existissem apenas os pronomes “teu” e “o”, o vizinho fulo da vida seria obrigado a fazer um rodeio linguístico cômico só para me chamar na chincha: “Raul, prendi o cachorro que pertence a você, mas não maltratarei o cachorro”. “Teu” é um pronome possessivo, e quer dizer que o sexy buldogue inglês (foto) pertence à segunda pessoa do discurso — o Raul. Ou seja, determina o cachorro. “o” é um pronome substantivo que apenas substitui (na frase) o sexy buldogue inglês, para que não se diga seu nome canino em vão e se arruine a fúria do vizinho numa frase ridícula. Só com o exemplo acima já se vê que os pronomes são indispensáveis. Na verdade, sem pronome algum seria impossível escrevê-la de outro modo: sem “você”, por exemplo, ou o “que”. Se os substantivos indicam a substância ou essência, e os verbos acontecimentos que se desenrolam no tempo, os pronomes já começam a tornar possível uma comunicação muito mais completa e eficiente. Começam a colar os pontos. Há seis tipos de pronomes: PESSOAIS POSSESSIVOS DEMONSTRATIVOS INDEFINIDOS RELATIVOS INTERROGATIVOS Como já é costumeiro aqui, não pretendo pôr em fila indiana TODOS os pronomes existentes e imagináveis. A ideia é tornar-lhes claros o conceito e as funções de tão importantes palavrinhas. Vamos começar com os PRONOMES PESSOAIS. “O Raul ontem dormiu sentado na cadeira, de madrugada, enquanto preparava o CF. Ele foi acordado com o choro dum bebê que estava com fome.” “Ele” substitui “Raul”, que aí na frase é a TERCEIRA PESSOA DO DISCURSO — a pessoa de quem se fala. É, portanto, um pronome pessoal, porque substitui diretamente uma das pessoas do discurso. Por exemplo: “Eu sinceramente espero que tu sejas muito feliz com ela”. “Eu”, “tu” e “ela” são pronomes pessoais de PRIMEIRA (indivíduo que fala), SEGUNDA (indivíduo com o qual se fala) e TERCEIRA pessoa (indivíduo de Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 que se fala), respectivamente. Há dois tipos de pronomes pessoais: os de CASO RETO e os de CASO OBLÍQUO. ATENÇÃO: saber identificar os pronomes de caso reto e oblíquo (além de conseguir bem usá-los) é FUNDAMENTAL para o seu português melhorar uns 1000%. Vamos à listinha: PRONOMES (PESSOAIS) RETOS Eu, tu, ele/ela, nós, vós, eles/elas PRONOMES (PESSOAIS) DO CASO OBLÍQUO Podem ser átonos (me - te - se - nos - vos - o/os, a/ as, lhe/lhes) Ou tônicos (mim, comigo - ti, contigo - ele, ela, si, consigo - nós, conosco - vós, convosco - eles, elas) “Raul, qual é a diferença entre pronomes retos e oblíquos?” Os pronomes do caso RETO funcionam, em regra, como sujeitos da oração, e nunca vêm antecedidos de uma preposição. Com os pronomes do caso OBLÍQUO dá-se o contrário: vêm sempre antecedidos de uma preposição. No geral, “a”, “para”, “de” e “com”. Por quê? Porque os pronomes do caso oblíquo, não sendo sujeitos, ficam com a função de substituir ou determinar nomes que são objetos ou complementos — e objetos e complementos exigem alguma preposição que lhes determine a natureza. Mas péra, péra. Vamos com calma. Exemplo: “Ele discutiu com ela sobre nós”. “Ele” e “ela” são pronomes. “Ele” é do caso RETO. É o sujeito da oração. “Ela”, por sua vez, é complemento. Ele discutiu COM QUEM? Com “ela”. Mais um exemplo: “Para mim, estudar é um troço muito difícil”. Aqui, talvez alguns ficassem tentados a colocar um pronome de caso reto (eu) em vez de “mim”: “para eu estudar é um troço muito difícil”. Isso acontece porque a ordem frasal natural em português é SUJEITO - VERBO - COMPLEMENTOS. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 De modo que a tentação seria julgar que a frase é assim: “Para eu (sujeito) estudar (verbo) é um troço muito difícil (complemento)”. Na verdade, porém, não é isso que a frase quer dizer. O significado da frase é que o ato de estudar é muito difícil para o indivíduo que emitiu a frase. A ordem natural da frase seria “Estudar é um troço muito difícil para mim”. Portanto, o certo é colocar o pronome oblíquo, e não o reto. Mais exemplos de pronomes retos e oblíquos: Eu te convido. Ela me chamou. Eles lhe bateram. Nós o ajudamos. Eu tinha planos de passar-lhes mais conteúdos nesta aula, mas acho melhor pararmos por aqui para que vocês possam absorver bem o que foi dito aqui. Reforço: estamos em terreno gramatical importantíssimo aqui. Há muitos, MUITOS erros que se cometem porque as pessoas não conseguem saber quais pronomes são retos ou oblíquos. Estudem, leiam várias vezes e decorem a aula de hoje, se possível. Na próxima aula, continuaremos com os pronomes. Até lá! (AINDA) SOBRE OS PRONOMES Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Chegados do meu corassaum, sem mais delongas comecemos nossa oitava aula e prossigamos o estudo dos PRONOMES. Na última aula, conversamos um pouco sobre os pronomes PESSOAIS e os pusemos em duas categorias: os retos e os oblíquos. Eu lhes disse, ademais, que os pronomes de caso reto funcionam como sujeitos e nunca vêm antecedidos de uma preposição, enquanto com os oblíquos dá-se o contrário e sempre têm de vir acompanhados de uma preposição. Pois bem. Até aí, creio ter ficado clara a lição. Agora, temos que fazer uma subdivisão. Quando se trata de pronomes do caso OBLÍQUO, existem os pronomes átonos e os tônicos. Mantendo a já tradicional abordagem deste CF, perguntemo-nos, antes de qualquer outra coisa: por que cacetada chamam-se “átonos” e “tônicos”? “Átono” é aquilo que não tem acento tônico. Ou seja: que não tem ênfase da voz e às vezes quase não se diz, de tão fraco ou passageiro. “Tônico”, inversamente, é… o que leva acento tônico. Ou seja: a sílaba, pronome ou coisa que os valha cuja existência sonora é mais enfática e facilmente perceptível. É o tipo de som que não é nunca abreviado ou suprimido na fala. Logo se vê, portanto, que a classificação é fonética. Apoia-se ela nos tipos de sons que os tais pronomes evocam na fala. Só existe um problema: a classificação foi criada pensando na pronúncia dos portugueses, e não na nossa. Quando um lusitano, comendo seu pastelzinho de Belém e cofiando os bigodes, entre uma bocada e outra conversa com algum conterrâneo seu, um brasileiro logo haveria de estranhar-lhe na pronúncia o quase sumiço de algumas letras (nós brasileiros costumamos falar todas as vogais, por exemplo). “Raul, e para que tudo isso vai me servir?” No mínimo, ter alguma ideia de por que se criou a subdivisão irá reforçar a sensibilidade linguística que no meu Instagram eu venho tentando criar em vocês desde o primeiro dia. A Gramática não é uma maçaroca de regras arbitrárias, todas sem pé nem cabeça. É, como já ensinava o mestre Napoleão, a reunião e exposição metódica dos fatos de uma língua. Não existe método sem ordem, sem progressões e dependências lógicas, sem divisões classificatórias e hierarquias. O que fazem, quase invariavelmente, os professores de português? Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Não reforçam no aluno o senso de que existe na língua uma LÓGICA perfeitamente justificável, e se contentam com dizer que o “Pretérito-mais- que-perfeito usa-se aqui e ali, DECOREM”,ou que “determinados pronomes oblíquos átonos, se se ligam a verbos terminados em vogal, não mudam. DECOREM”. Ora, o problema não está na decoreba, recurso pedagógico que foi universalmente empregado até meados do séc. XVIII e gerou homens como Leibniz, Shakespeare, Camões, Sto. Tomás de Aquino e Dante. O problema está na decoreba sem qualquer tentativa de dar à inteligência alguma luz de compreensão. Repetição desligada de princípios superiores que a ordenem não é pedagogia, é adestramento. Portanto, ainda que os princípios já não se apliquem perfeitamente às classificações, como se dá com a atonicidade de certos pronomes oblíquos, saber por que se chamam assim irá ajudá-los tanto a 1 - decorá-los (porque a memória funciona melhor quando pode recorrer a princípios que se articulam logicamente) quanto a 2 - sim, entender-lhes o funcionamento. Voltemos, pois, aos pronomes. Os pronomes oblíquos átonos são: me - te - se - o - a - lhe - nos - vos - os - as - lhes. Os tônicos são: mim, comigo - ti, contigo - ele, ela - si, consigo - nós, conosco - vós, convosco - eles, elas. EM PRIMEIRÍSSIMO LUGAR, logo se vê haver uma correspondência entre alguns deles. Por exemplo: “me” é o pronome oblíquo átono que corresponde a “mim” e “comigo”. “Lhes” corresponde a “eles e elas”, etc. Por quê? Porque os tais pronomes ligam-se às mesmas pessoas na oração, apenas em posições (e às vezes funções) diferentes. Eu posso dizer à minha esposa, por exemplo (com carinho, hipoteticamente): “O Heitor e o Álvaro estão berrando de fome. Dê leite a eles”. Mas também posso dizer “O Heitor e o Álvaro estão berrando de fome. Dê-lhes leite”. As duas frases querem dizer rigorosamente a mesma coisa. Ou posso dizer o famoso “te amo, quero ficar contigo”. Nos dois primeiros períodos, houve apenas uma mudança de posição. Na terceira oração, houve já uma mudança de função. “Te amo” quer dizer “amo você”, enquanto “quero ficar contigo” equivale a “quero ficar com você”. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Mas não houve qualquer mudança na pessoa do discurso. SEGUNDO: “ele, ela, nós, vós, eles e elas” podem ser tanto pronomes pessoais retos quanto pronomes oblíquos tônicos. Como diferenciá-los? É só se lembrar da regrinha que enunciei na última aula: pronomes oblíquos tônicos sempre vêm antecedidos de uma preposição. “Ele discutiu com ela: estava nervoso porque o Raul ainda não reabriu o CF”: “ele” é sujeito. “Ela”, pronome oblíquo tônico. Reparem no “com” que o antecede. Eis a preposição. (reparem, também, que nem sempre podemos escolher entre os oblíquos átono e tônico. Não há forma tônica correspondente a “com ela”, como existem o “contigo”, “conosco”, “convosco”, etc.) TERCEIRO: “lo, la, los, las”. Muita gente não sabe como usá-los. Vou lhes dar as regras aqui, mas lembrem-se: não leiam só as regras. Leiam também bons autores que as saibam usar e ponham na memória não só as regras, mas também centenas de exemplos das regras em ação. Portanto: Se os pronomes oblíquos átonos o, a, os e as ligam- se a verbos terminados em vogal, não mudam: “abraço a Mariazinha” para “abraço-a”. Se, porém, ligam-se a formas verbais que terminam com as consoantes R, S ou Z, acontecem duas transformações. Somem as consoantes e transmutam-se os pronomes em lo, la, los e las. “Vou abraçar meu filho” para “vou abraçá-lo”; “Fizemos o cão sair” para “fizemo-lo sair”; “Fiz meu amor chorar” para “fi-lo chorar”. Se se ligam a formas verbais que terminam em “m” ou em ditongos nasais, os pronomes transmutam-se em no, na, nos e nas. “Viram o jogo” para “viram-no”; “Põe os pratos na mesa” para “põe-nos na mesa”. Pronto. Só com isso vocês já conseguirão guiar-se melhor na selva dos pronomes pessoais. Agora, abordemos a colocação pronominal. Que é a colocação pronominal? É o conjunto de regras que ordenam a posição em que deverá estar o pronome relativamente ao verbo. Há três possibilidades: A Próclise, a Mesóclise e a Ênclise. A PRÓCLISE é, sem dúvida nenhuma, a colocação queridinha dos brasileiros. Nosso xodó. Só falta o Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 Djavan escrever-lhe uma música. É a forma natural com que usamos a língua. Isto é: naturalmente, colocamos o pronome antes do verbo. E isso é bom. Afinal de contas, gramaticalmente a próclise está quase sempre certa. Quando NÃO podemos usar a próclise? Apenas quando estiver o pronome no início da oração ou vier imediatamente depois de um sinal de pontuação. Eu posso escrever, tranquilamente, ou “a Camila me contou tudo o que aconteceu” ou “a Camila contou- me tudo o que aconteceu”. Mas TENHO de escrever “conte-me o que aconteceu”. Isto porque não se começa uma oração com pronomes. Também diz a regra que o certo seria “se vier, avise-nos” e não “se vier, nos avise”. Os sinais de pontuação repelem os pronomes, jogando-os para depois do verbo. QUANDO A PRÓCLISE É OBRIGATÓRIA? (e agora, pela extensão da lista, vocês entenderão por que essa colocação ser a nossa preferida é algo bom) A próclise é obrigatória quando, antes do verbo, encontrarmos expressões negativas como: não, nada, ninguém, jamais… “Jamais me deixe” “Não lhe entregaram o prometido”. Com advérbios: “Sempre te amei” “Ontem nos vimos no shopping”. Com conectivos (que, se, quando, embora, porque…): “Quando nos encontramos, fiquei sem saber o que fazer” “Embora lhe dissessem para ir embora, teimava em continuar ali”. E ainda em frases exclamativas, interrogativas e optativas: “Que Deus te ajude!” “Quem te contou a novidade?” “Como se trabalha duro neste CF!” ÊNCLISE É obrigatória no início da oração ou depois de sinal de pontuação (ou seja: é a mesmíssima regra que proíbe as próclises). Há um porém: se o verbo estiver no futuro, mesmo no início da oração a mesóclise haverá de prevalecer sobre a ênclise. Comunidade do Raul - suporte@comunidadedoraul.com - IP: 187.120.159.63 Licensed to Gabriel Junio Cardoso vieira - juniorgabfr11@gmail.com - 020.050.021-00 MESÓCLISE É a famosa frase à la Michel Temer. O pronome que se aperta entre outras duas partes da palavra, feito o recheio dum sanduíche. É forma já um pouco embolorada, que não soa bem aos ouvidos modernos e deve ser evitada por quem não tenha especial sensibilidade literária. Porém, às vezes é obrigatória e temos de saber como dar-lhe um baile sem cair em erros. É obrigatória quando o verbo estiver no futuro do presente ou no futuro do pretérito, desde que não haja palavra que obrigue a próclise: “Eu derrocarei o templo de Jeová e edificá-lo-ei em três dias!” (Eça de Queirós) “Sua atitude é serena, poder-se-ia dizer hierática, quase ritual.” (Raquel de Queirós) Algumas observações: 1 - Para fugir à mesóclise, às vezes pode-se incluir o sujeito da oração. Em vez de escrever, portanto, o obrigatório “Tornar-me-ia uma pessoa melhor”, pode- se escrever “Eu me tornarei uma pessoa melhor”. 2 - A mesóclise é forma exclusiva da língua culta e da modalidade literária. Em qualquer outro contexto, deve-se usar a próclise. NUNCA, NUNQUINHA a ênclise. Ou seja: trambolhos como “venderei-lhe”, “diria-se”, “chamaria-o” e formas aparentadas estão ERRADAS. O certo é “Eu lhe direi a verdade”, “Ela o chamaria de louco”. 3 - O que também se tornou bastante comum no português brasileiro moderno é, em se tratando de tempos futuros, usar verbos compostos. “Você vai se arrepender” em vez de “Você se arrependerá”. É preferível, porém, quando o contexto exigir a escrita culta, evitar os verbos compostos para os tempos futuros. 4 - Além de acrescentar o sujeito à oração, de aplicar a próclise ou usar um verbo composto, ainda existe uma quarta forma de fugir à mesóclise e manter-se gramaticalmente
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