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Pena Restritiva de Direito no Direito Penal

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VALENTINA GONÇALVES COSTA MONTEIRO
RA: 202004200101
DIREITO- NOITE
PENA RESTRITIVA DE DIREITO
A pena restritiva de direitos é uma das 3 espécies de penas estabelecidas pelo Código Penal a serem aplicadas ao condenado. É uma sanção penal imposta em substituição à pena privativa de liberdade e consiste na supressão ou diminuição de um ou mais direitos do condenado. 
Trata-se de espécie de pena alternativa, pois são uma alternativa à prisão, que no lugar de ficarem encarcerados, os condenados sofrerão limitações em alguns direitos como forma de cumprir a pena.
As penas restritivas de direito têm por características:
a) Autonomia - uma das características das penas restritivas de direito é a autonomia, ou seja, não podem ser cumuladas com as penas privativas de liberdade, pois não são meramente acessórias. 
b) Substitutividade - ao definir a espécie e duração da pena do caso concreto, deve o juiz aplicar a pena privativa de liberdade ou substituí-la pela pena restritiva de direitos.
Quando é definido o regime inicial, o magistrado verifica se é possível pegar a pena privativa de liberdade e substituir pela pena restritiva de direito.
É importante destacar que o artigo 44 do C.P. determina que as penas restritivas substituem as privativas de liberdade quando os requisitos forem preenchidos. Então se o magistrado constatar a presença dos requisitos, deve aplicar a substituição.
A pena deve ser substituída quando: 
1) não houve violência ou ameaça no cometimento do crime, a pena aplicada não for maior do que 4 anos, ou para crimes culposos independente da pena;
2) o réu não for reincidente em crime doloso; 
3) o réu não tiver maus antecedentes.   
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:  
        I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo; 
        II – o réu não for reincidente em crime doloso
        III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.  
        § 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos
        § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.  
OBSERVAÇÃO: 
STJ Súmula 588 - A prática de crime ou contravenção penal contra a mulher com violência ou grave ameaça no ambiente doméstico impossibilita a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. 
Portanto os casos de condenação em crimes em âmbito de violência doméstica, mesmo que a pena seja inferior a 4 anos, não é possível a substituição por pena restritiva de direitos. Esse entendimento foi objeto do enunciado de Súmula n 588 do Superior Tribunal de Justiça.
No Código Penal brasileiro no art. 43, descreve as possibilidades de penas restritivas como:
a) prestação pecuniária;
b) perda de bens e valores;
c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
d) interdição temporária de direitos;
e) limitação de fim de semana.
Salvo a prestação pecuniária e a perda de bens ou valores, as demais penas restritivas de direitos consistem na inabilitação temporária de um ou mais direitos do condenado, impostas em substituição à pena privativa de liberdade, cuja espécie escolhida deve ter relação direta com a infração cometida.
As penas restritivas de direitos consistentes em prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana, têm a mesma duração das penas privativas de liberdade que substituem, ressalvado o disposto no art. 46, § 4º, do Código Penal (art. 55 do CP).
        Art. 45. Na aplicação da substituição prevista no artigo anterior, proceder-se-á na forma deste e dos arts. 46, 47 e 48. 
        § 1o A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários.  
        § 2o No caso do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir em prestação de outra natureza.  
        § 3o A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto – o que for maior – o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em conseqüência da prática do crime.  
        § 4o (VETADO)  
        Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas
        Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a seis meses de privação da liberdade.
        § 1o A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado.   
        § 2o A prestação de serviço à comunidade dar-se-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais.  
        § 3o As tarefas a que se refere o § 1o serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho.  
        § 4o Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (art. 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.  
        Interdição temporária de 
        Art. 47 - As penas de interdição temporária de direitos são:   
        I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo;  
        II - proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; 
        III - suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo.  
        IV – proibição de freqüentar determinados lugares
        V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos.    
        Limitação de fim de semana
        Art. 48 - A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.   
        Parágrafo único - Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas. 
 Conversão das penas restritivas de direitos em restritiva de liberdade
Art. 44,$4 pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. Do cálculo da pena privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo de 30 dias de detenção ou reclusão. 
$5-Sobrevindo condenação à pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena substitutiva anterior. 
Observações:
1.Na lei de drogas (Lei 11.343/06), a pena restritiva de direito é autônoma, mas não é substitutiva. 
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinaçãolegal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade; 
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
2. Com relação aos crimes contra as relações de consumo, as penas restritivas de direito podem ser cumuladas com a privativa de liberdade.
 CDC, Art. 78 . Além das penas privativas de liberdade e de multa, podem ser impostas, cumulativa ou alternadamente, observado o disposto nos arts. 44 a 47, do Código Penal:
I - a interdição temporária de direitos;
II - a publicação em órgãos de comunicação de grande circulação ou audiência, às expensas do condenado, de notícia sobre os fatos e a condenação;
III - a prestação de serviços à comunidade. 
3.Na Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19), as penas restritivas de direitos foram tratadas no art. 5º, que diz:
“Art. 5º. As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas nesta Lei são:
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;
III - (VETADO).
Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou cumulativamente.”
Vale ressaltar que a nova Lei de Abuso de Autoridade previu a possibilidade de aplicação autônoma ou cumulativa das penas restritivas de direitos, nada impedindo que o agente tenha que cumprir prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas e também a suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens.
Por não haver tratamento específico na lei, o cumprimento da pena restritiva de direitos de prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas deve se subordinar às mesmas regras do Código Penal e da Lei de Execução Penal.
A prestação de serviços à comunidade será convertida em pena privativa de liberdade quando, além das causas no art. 45 do Código Penal, o condenado: a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital; b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço; c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto; ou d) praticar falta grave.
 PENA DE MULTA
A pena de multa no direito penal não tem caráter indenizatório que se conhece para multa, na indenização de composição de danos na esfera civil. No direito penal a pena de multa é uma pena e tem caráter de retribuição.
Das situações que culminam em pena multa, dependendo do tipo penal que foi praticado pode haver três situações:
a) Tipo penal que culmina em duas penas (privativa de liberdade e multa). 
Ex: Estelionato, art.171 do C.P. 
Art. 171 – Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: 
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa
b) Tipo penal que prevê pena alternativamente (pena de detenção ou multa)
 Ex: Crime de dano, art. 163 do C. P.
Art. 163 - Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
  
c) O juiz aplicar multa substitutiva. A pena privativa de liberdade chegou a um valor que pode ser transformada em pena de multa.
Ex: Art.60, {2º do C. P.
§ 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste Código. 
Art. 44 C.P.
II – o réu não for reincidente em crime doloso; 
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.
APLICAÇÃO DA PENA DE MULTA
A multa como pena é paga ao fundo penitenciário para os fins de custear o sistema de cumprimento de pena no país. No Brasil para aplicar a pena de multa é adotado o sistema bifásico de dias-multa (unidade utilizada).
A aplicação da pena de multa obedece à algumas fases.
1ºfase: 
O juiz vai fixar a quantidade de dias-multa ao condenado.
Art. 49 caput - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
O critério para o juiz fixar entre 10 e 360 dias-multa é a gravidade do delito. Quanto mais grave o delito, mais dias-multa será aplicado a esse indivíduo e quanto menos grave o delito, menos dias multa.
2ºfase:
Estabelecer o valor em reais de um dia-multa para o indivíduo saber quanto vai pagar em dinheiro.O valor de um dia-multa vai respeitar os limites do que diz o parágrafo 1ºdo art.49. do C.P.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.
O critério para estabelecer o valor entre esses do art. 49 será as condições econômicas do condenado e o salário mínimo é o da data do fato.
Os critérios de gravidade do delito e a condição econômica do condenado não terão interferência um no outro, são separados.
Por mais grave que seja o crime, não tem haver com o valor do dia-multa. Ou vice versa, se o crime não for grave e a condição econômica do indivíduo for alta não pode intervir um fato no outro. 
Pode acontecer de o condenado mesmo fixado no máximo o valor de um dia-multa, o juiz perceber que essa pena continua irrisória, desproporcional ao crime que ele praticou. 
Caso isso aconteça, de o condenado ter uma ótima situação econômica, ser fixado o valor de dias-multa no máximo, e ainda assim o juiz ver que não fez tanta diferença para o indivíduo, o valor não teve caráter de pena para esse indivíduo, já que a pena tem caráter de retribuição proporcional ao que ele merecia, pode se proceder uma terceira etapa que consta no art.60 {1º, a multa ser de até 15 vezes o salário mínimo.
Art. 60 - Na fixação da pena de multa o juiz deve atender, principalmente, à situação econômica do réu.
§ 1º - A multa pode ser aumentada até o triplo, se o juiz considerar que, em virtude da situação econômica do réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
Caso o indivíduo que é apenado com pena de multa não pague, não é preso. A não execução da pena de multa aplicada não gera prisão.
O art. 51do C.P. estabelece que transitado em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor e será aplicada as normas da legislação relativa à dívida ativa da fazenda pública.
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
CONSULTAS
Pena Restritiva de direitos — Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (tjdft.jus.br)
Qual o conceito, as espécies e as características das penas restritivas de direitos? - Denise Cristina Mantovi Cera (jusbrasil.com.br)
AS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS NA NOVA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE - Empório do Direito (emporiododireito.com.br)
A importância da pena de multa e sua eficácia executiva - Âmbito Jurídico (ambitojuridico.com.br)
Entenda como funciona a execução da pena de multa (jusbrasil.com.br)
As penas restritivas de direito são sempre autônomas? - Denise Cristina Mantovani Cera (jusbrasil.com.br)

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