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1 Saúde Mental Transtorno Obsessivo Compulsivo CONCEITO → O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é representado por sinais e sintomas, que caracterizam uma obsessão e uma compulsão. → Essas obsessões ou compulsões recorrentes causam sofrimento grave à pessoa. → Elas consomem tempo e interferem significativamente em sua rotina normal, em atividades sociais ou nos relacionamentos. → Um indivíduo com TOC pode ter uma obsessão, uma compulsão ou ambos. → OBSESSÃO: pensamentos, sentimentos, ideias recorrentes e intrusivas (surgem em nossa mente sem que tenhamos consciência). → COMPULSÃO: comportamento consciente, padronizado e recorrente. Obs. Nesses casos, compulsão pode ser realizada no intuito de amenizar uma ansiedade presente, logo, ocorre aumento da ansiedade se a pessoa resiste em executar o comportamento (compulsão). EPIDEMIOLOGIA → Acomete de 2 a 3% da população geral; → TOC é o quarto diagnóstico psiquiátrico mais comum; o 1° é fobia, 2° é de transtornos relacionados a substâncias e o 3° é do transtorno depressivo maior. → Os meninos costumam ser mais afetados do que as garotas; → A idade média de início é por volta dos 20 anos; → O início do transtorno pode ocorrer tanto na adolescência, como na infância, em alguns casos até aos 2 anos de idade; → Pessoas com TOC são comumente afetadas por outros transtornos clínicos: o Transtorno depressivo maior (67%) e fobia social (25%). o Outros transtornos associados: transtornos por uso de álcool, transtorno de ansiedade generalizada, fobia específica, transtorno de pânico, transtornos alimentares e da personalidade. ETIOLOGIA FATORES BIOLÓGICOS SEROTONINA: → A desregulação da serotonina está envolvida na formação do sintoma de obsessões e compulsões no transtorno. → Os dados mostram que fármacos serotonérgicos são mais eficazes no tratamento do toc do que fármacos que afetam outros sistemas de neurotransmissores. NORADRENALINA: → Atualmente, há menos evidências para a disfunção do sistema noradrenérgico no TOC. → Relatos informais demonstram melhoras em sintomas de TOC com o uso de clonidina oral (Catapres), um fármaco que reduz a quantidade de norepinefrina liberada dos terminais nervosos pré- sináptico. NEUROIMUNOLOGIA: 2 Saúde Mental → Ligação positiva entre infecção estreptocócica e TOC. → Infecção estreptocócica de grupo A-hemolítico pode causar febre reumática, e aproximadamente 10 a 30% dos pacientes desenvolvem coreia de Sydenham, exibem sintomas obsessivo- compulsivos. GENÉTICA: → Indivíduos com familiares com TOC consistentemente têm uma probabilidade 3 a 5 vezes maior de apresentar características de TOC. FATORES COMPORTAMENTAIS → Obsessão é um estimulo condicionante: o Objetos e pensamentos que antes eram neutros são associados ao medo ou ansiedade por meio de eventos que sejam nocivos ou que produzam ansiedade. → Compulsão: o Quando se descobre que determinada ação reduz a ansiedade associada a um pensamento obsessivo, uma pessoa desenvolve estratégias ativas de evitação, na forma de comportamentos ritualísticos, para controlar a ansiedade. FATORES PSICOSSOCIAIS FATORES PSICODINÂMICOS: → Reconhecimento dos precipitadores que iniciam ou exacerbam os sintomas do TOC. → Pesquisas sugerem que o TOC possa ser precipitado por diversos estressores ambientais, sobretudo aqueles que envolvem gravidez, nascimento ou o cuidado de crianças. → Compreender os estressores pode ajudar o médico em um plano de tratamento geral que reduza os próprios eventos estressores ou seu significado para o paciente. Obs. cada vez mais evidências de que o TOC é, em grande parte, determinado por fatores biológicos, logo, a teoria psicanalítica clássica tem perdido espaço. CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS → A apresentação das obsessões e das compulsões é heterogênea em adultos e em crianças e adolescentes. → Os sintomas individuais de um paciente podem se sobrepor e mudar com o tempo, mas o TOC tem quatro padrões principais de sintomas. CONTAMINAÇÃO: → O padrão mais comum é uma obsessão de contaminação, seguida de lavagem ou acompanhada de evitação compulsiva do objeto que se presume contaminado. → Os indivíduos podem literalmente arrancar a pele das mãos se lavando demais ou não conseguir sair de casa por medo dos germes. DÚVIDA PATOLÓGICA: → É uma obsessão de dúvida, seguida de uma compulsão por ficar verificando. → A obsessão costuma implicar algum perigo de violência (p. Ex., esquecer de desligar o fogão ou de trancar uma porta). A verificação pode envolver múltiplas viagens de volta para casa para verificar o fogão, por exemplo. → Esses indivíduos têm dúvidas obsessivas sobre si mesmos e sempre se sentem culpados achando que esqueceram ou cometeram algo. PENSAMENTOS INTRUSIVOS: → Pensamentos repetitivos de um ato agressivo ou sexual repreensível para o paciente. → Os pacientes obcecados com pensamentos de atos sexuais ou agressivos podem se reportar à polícia ou se confessar a um padre. SIMETRIA: → Necessidade de simetria ou precisão, que pode levar a uma compulsão de lentidão. → Os pacientes podem literalmente levar horas para terminar uma refeição ou fazer a barba. OUTROS PADRÕES DE SINTOMAS: 3 Saúde Mental → Obsessões religiosas; → Acúmulo compulsivo; → Puxar o cabelo e roer as unhas de maneira compulsiva; → A masturbação também pode ser compulsiva. DIAGNÓSTICO CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DSM-5 A. Presença de obsessões, compulsões ou ambas: → OBSESSÕES são definidas por (1) e (2): 1. Pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que são vivenciados, em algum momento durante a perturbação, como intrusivos e indesejados e que na maioria dos indivíduos causam acentuada ansiedade ou sofrimento. 2. O indivíduo tenta ignorar ou suprimir tais pensamentos, impulsos ou imagens ou neutralizá- los com algum outro pensamento ou ação. → COMPULSÕES são definidas por (1) e (2): 1. Comportamentos repetitivos (p. ex., lavar as mãos, organizar, verificar) ou atos mentais (p. ex., orar, contar ou repetir palavras em silêncio) que o indivíduo se sente compelido a executar em resposta a uma obsessão ou de acordo com regras que devem ser rigidamente aplicadas. 2. Os comportamentos ou os atos mentais visam prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento ou evitar algum evento ou situação temida; entretanto, esses comportamentos ou atos mentais não têm uma conexão realista com o que visam neutralizar ou evitar ou são claramente excessivos. B. As obsessões ou compulsões tomam tempo (p. ex., tomam mais de uma hora por dia) ou causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. C. Os sintomas obsessivo-compulsivos não se devem aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex., droga de abuso, medicamento) ou a outra condição médica. D. A perturbação não é mais bem explicada pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., preocupações excessivas, como no transtorno de ansiedade generalizada; preocupação com a aparência e outros transtornos). Especificar se: → Com insight bom ou razoável: O indivíduo reconhece que as crenças do transtorno obsessivo- compulsivo são definitivas ou provavelmente não verdadeiras ou que podem ou não ser verdadeiras. o Exemplo: O indivíduo acredita que a casa definitivamente não irá ou provavelmente não irá se incendiar se o fogão não for verificado 30 vezes. → Com insight pobre: O indivíduo acredita que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são provavelmente verdadeiras. o Exemplo: o individuo acredita que a casa provavelmente irá incendiar seo fogão não for verificado 30 vezes. → Com insight ausente/crenças delirantes: O indivíduo está completamente convencido de que as crenças do transtorno obsessivo-compulsivo são verdadeiras. o Exemplo: o indivíduo está convencido que a casa irá incendiar se o fogão não for verificado 30 vezes. Especificar se: → Relacionado a tique: O indivíduo tem história atual ou passada de um transtorno de tique. o 30% dos indivíduos com TOC tem transtorno de tique ao longo da vida. TRATAMENTO → Muitos pacientes com TOC resistem ao tratamento. Eles podem se recusar a usar a medicação e resistir à realização das tarefas terapêuticas e de outras atividades prescritas por terapeutas comportamentais → Estudos verificaram que a farmacoterapia, a terapia comportamental, ou uma combinação de 4 Saúde Mental ambas, são efetivas na redução dos sintomas dos indivíduos. FARMACOTERAPIA → A abordagem-padrão é iniciar o tratamento com um ISRS (inibidor seletivo da recaptação de serotonina) ou clomipramina (antidepressivo tricíclico) e depois passar a outras estratégias farmacológicas se as drogas específicas serotonérgicas não forem efetivas → Os efeitos iniciais costumam ser vistos após 4 a 6 semanas de tratamento ISRS (INIBIDOR SELETIVO DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA): → Representantes: venlafaxina, paroxetina, setralina, fluoxetina e citalopram. → Mecanismo de ação: os ISRS aumentam os níveis circulantes de serotonina (5-HT) por mais tempo, por impedirem sua recaptação na fenda pré- sináptica. → Doses mais altas foram frequentemente necessárias para um efeito benéfico. → Embora os ISRS possam causar perturbação do sono, náusea e diarreia, dores de cabeça, ansiedade e inquietação, esses efeitos adversos costumam ser transitórios, causando menos trabalho do que os efeitos adversos associados com as drogas tricíclicas, tais como clomipramina. → Os melhores desfechos clínicos ocorrem quando os ISRSs são usados em combinação com terapia comportamental. CLOMIPRAMINA: → É um antidepressivo tricíclico, aprovada pela FDA (food and drug administration). → Clomipramina é a mais seletiva para recaptação de serotonina do que na recaptação de norepinefrina, sendo excedida nisso apenas pelos ISRSs. TERAPIA COMPORTAMENTAL → Apesar de poucas comparações terem sido feitas, a terapia comportamental é tão efetiva quanto as farmacoterapias no TOC, sendo que alguns dados indicam que os efeitos benéficos são mais duradouros com a terapia comportamental → É uma abordagem da Psicologia que tem o objetivo de modificar comportamentos disfuncionais e criar novos padrões de respostas comportamentais. → Enquanto outras vertentes da Psicologia se esforçam para compreender as causas mentalistas que movem o ser humano, a terapia comportamental se concentra no comportamento manifesto. Dessa forma, as sessões do tratamento são estruturadas com técnicas que visam reduzir as respostas negativas e melhorar o repertório comportamental com ações mais adaptativas. PSICOTERAPIA → A terapia de apoio, sem dúvida, tem seu lugar, especialmente para aqueles com TOC que, apesar de terem sintomas e graus variados de gravidade, são capazes de trabalhar e de fazer ajustes sociais. → Algumas vezes, quando rituais obsessivos e a ansiedade alcançam intensidade intolerável, é necessário hospitalizá-los até que a proteção de uma instituição e a remoção de estressores ambientais diminuam os sintomas a um nível tolerável. → Os familiares com frequência entram em desespero devido ao comportamento do indivíduo. Quaisquer esforços psicoterapêuticos devem incluir atenção aos familiares, com o fornecimento de apoio emocional, tranquilização, explicação e conselhos sobre como lidar com o paciente e lhe dar respostas. 5 Saúde Mental TRANSTORNO DISMÓRFICO CORPORAL CONCEITO: → O transtorno dimórfico corporal é caracterizado pela preocupação com um defeito imaginado na aparência que causa sofrimento significativo e prejuízo em importantes áreas do funcionamento. EPIDEMIOLOGIA: → O transtorno dimórfico corporal é uma condição pouco estudada, em parte porque os pacientes tendem mais a procurar dermatologistas, internistas ou cirurgiões plásticos do que psiquiatras para tratar essa condição. ETIOLOGIA: → A causa do transtorno dimórfico corporal é desconhecida. → O transtorno normalmente começa durante a adolescência, apesar de poder começar mais tarde, após uma insatisfação prolongada com o corpo. → A alta comorbidade com transtornos depressivos, uma história familiar maior do que a esperada de transtornos do humor e TOC. → Conceitos estereotipados de beleza enfatizados em certas famílias e na cultura podem afetar significativamente os indivíduos com transtorno dimórfico corporal. CLÍNICA: → As preocupações mais comuns envolvem defeitos faciais, em especial os relacionados a partes específicas (p. Ex., o nariz). → Em média, os pacientes tinham preocupações com quatro regiões do corpo durante o curso do transtorno: nariz, cabelo, seios e genitália. → Os efeitos na vida da pessoa podem ser significativos: o Quase todos os pacientes afetados evitam exposição social e ocupacional. o Até um terço dos pacientes pode se manter em casa por medo de ser ridicularizado pelas supostas deformidades; o E aproximadamente um quinto deles tenta o suicídio. DIAGNÓSTICO: → Os critérios diagnósticos do DSM-5 para transtorno dimórfico corporal estipulam preocupação com um defeito percebido na aparência ou ênfase excessiva em um pequeno defeito. → Ele também estabelece que, em algum momento do curso do transtorno, o indivíduo realizará comportamentos compulsivos (olhar-se no espelho, arrumar-se em excesso) ou atos mentais (p. ex., comparar sua aparência à dos outros). PROGNÓSTICO: → O transtorno em geral tem um curso longo e ondulante, com poucos intervalos sem sintomas. → A parte do corpo em que a preocupação se foca pode permanecer a mesma ou mudar ao longo do tempo. TRATAMENTO: → O tratamento de pacientes com transtorno dimórfico corporal com procedimentos cirúrgicos, dermatológicos, dentais e outros procedimentos médicos para tratar os supostos defeitos quase não dá resultado. → Drogas serotonérgicas – por exemplo, clomipramina e fluoxetina, reduzem os sintomas em pelo menos 50% dos casos. → Qualquer paciente com um transtorno mental coexistente, tal como o depressivo ou o de ansiedade, deve ser tratado com a farmacoterapia e a psicoterapia adequadas. 6 Saúde Mental TRANSTORNO DE ACUMULAÇÃO CONCEITO: → O transtorno é caracterizado pela aquisição sem descarte de coisas que são consideradas de pouco valor, resultando no amontoamento excessivo dos espaços de moradia. → A acumulação, originalmente, era considerada um subtipo de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), mas agora é considerada uma entidade diagnóstica separada. → Ela costuma ser motivada por um medo obsessivo de perder itens importantes que a pessoa acredita poderem vir a ser úteis em algum momento futuro por um apego emocional extremo a elas. → A acumulação pode resultar em problemas de saúde e de higiene, em particular quando o acúmulo de animais está envolvido, e pode levar à morte, por incêndio ou queda. EPIDEMIOLOGIA: → Acredita-se que a acumulação ocorra em cerca de 2 a 5% da população, apesar de alguns estudos terem encontrado prevalência vitalícia de até 14%. → Ela ocorre igualmente entre homens e mulheres, é mais comum entre pessoas solteiras e é associada com ansiedade social. → Comprar ou adquirir coisas desnecessárias (incluindo receber presentes) pode ser uma fonte de conforto para acumuladores, muitos dos quais guardam itens extra para uma suposta, mas irracional, necessidade futura.→ Comportamentos de acumulação são relativamente comuns entre pacientes com esquizofrenia, tendo sido notados também na demência e em outros transtornos neurocognitivos. ETIOLOGIA: → Pouco se sabe a respeito da etiologia do transtorno de acumulação. Pesquisas demonstraram um aspecto familiar desse transtorno, com cerca de 80% dos acumuladores relatando ao menos um parente em primeiro grau com comportamento de acumulação. CLÍNICA: → A acumulação é motivada pelo medo de perder itens que o paciente acredita serem necessários mais tarde e pela crença distorcida de um apego emocional às posses. → A maioria dos acumuladores não percebe seu comportamento como um problema. → Itens acumulados comuns incluem jornais, cartas, revistas, roupas velhas, sacolas, livros, listas e notas. → A acumulação é um risco não só para o paciente, mas também para os outros a seu redor. Ao entulho acumulado por indivíduos com esse transtorno foi atribuída morte por incêndio ou por esmagamento. → Muitos acumulam para não ter de tomar decisões sobre descartar itens. Pacientes com transtorno de acumulação também supervalorizam a importância de lembrar de informações e de posses. Por exemplo, um acumulador guarda jornais e revistas velhos porque acredita que, se forem descartados, aquelas informações serão perdidas e nunca mais poderão ser recuperadas. → O transtorno é uma condição crônica com um curso resistente a tratamento. Os afetados não costumam buscar tratamento antes dos 40 ou 50 anos, mesmo que a acumulação tenha começado na adolescência. → Os sintomas podem flutuar ao longo do curso da doença, mas remissão completa é rara. Geralmente, costumam buscar tratamento sob pressão dos outros. DIAGNÓSTICO: O transtorno de acumulação é caracterizado por: → (1) aquisição e não descarte de uma grande quantidade de posses consideradas inúteis ou de pouco valor; 7 Saúde Mental → (2) áreas habitadas amontoadas de coisas, impedindo atividades normais; → (3) sofrimento significativo e prejuízo funcionamento devido à acumulação. TRATAMENTO: → Apenas 18% dos pacientes responderam a medicação e TCC. → O tratamento mais eficaz para o transtorno é um modelo cognitivo-comportamental que inclui treinamento em tomar decisões e categorizar. Isso inclui sessões em casa e no consultório. → O objetivo do tratamento é livrar-se de uma quantidade significativa de posses, tornando o espaço da moradia habitável, e oferecer ao paciente as habilidades para manter um balanço positivo entre a quantidade de posses e o espaço habitável. TRICOTILOMANIA (TRANSTORNO DE ARRANCAR OS CABELOS) CONCEITO: → O transtorno de arrancar o cabelo é crônico e caracterizado por puxar o cabelo repetitivamente, levando a perdas de cabelo variadas que podem ser visíveis aos outros. → Ele é semelhante ao transtorno obsessivo- compulsivo porque há aumento da tensão antes de puxar o cabelo e alívio da tensão ou gratificação após tê-lo puxado. EPIDEMIOLOGIA: → A prevalência de tricotilomania pode ser subestimada devido à vergonha e ao segredo que a acompanha. → Estima-se que 35 a 45% dos pacientes com tricotilomania em algum momento, mastiguem ou engulam o cabelo que puxam. ETIOLOGIA: → Apesar de a tricotilomania ser considerada multideterminada, seu início foi ligado a situações estressantes em mais de um quarto dos casos. Distúrbios em relacionamentos entre mãe e filho, medo de ser deixado sozinho e perda de objeto recente costumam ser citados como fatores críticos que contribuem para a condição. → Os familiares de indivíduos com tricotilomania costumam ter história de tiques, transtornos do controle de impulsos e sintomas obsessivo- compulsivos, sustentando ainda mais uma possível predisposição genética. CLÍNICA E DIAGNÓSTICO: → O DSM-5 apresenta critérios diagnósticos para tricotilomania. → Antes do comportamento, os indivíduos afetados podem experimentar sensações crescentes de tensão seguidas de uma liberação de gratificação ao puxar o cabelo. → Outras áreas envolvidas são as sobrancelhas, os cílios e a barba. → Complicações da tricofagia podem incluir, subnutrição e obstrução intestinal. Os pacientes costumam negar o comportamento e com frequência tentam esconder a alopecia resultante. → Batidas na cabeça, unhas roídas, arranhões, escoriações e outros atos de automutilação podem estar presentes. → A idade média de início da tricotilomania é no começo da adolescência, com mais frequência antes dos 17 anos, mas já foram relatados inícios muito mais tardios. → O curso do transtorno não é bem conhecido. Cerca de um terço das pessoas que se apresenta para 8 Saúde Mental tratamento relata duração de um ano ou menos, enquanto, em alguns casos, o transtorno persiste por mais de duas décadas. TRATAMENTO: → O tratamento costuma envolver psiquiatras e dermatologistas em um esforço conjunto. → Métodos psicofarmacológicos que foram usados para tratar transtornos psicodermatológicos incluem: esteroides tópicos e hidroxizina hidroclorídrica, um ansiolítico com propriedades anti-histamínicas. → Antidepressivos e antipsicóticos. → Relatos de caso iniciais demonstraram a eficácia dos ISRSS para a tricotilomania. TRANSTORNO DE ESCORIAÇÃO CONCEITO: → O transtorno de escoriação, ou skin-picking, é caracterizado pelo comportamento compulsivo e repetitivo de beliscar a pele. → Ele pode causar danos graves à pele e resultar na necessidade de vários tratamentos dermatológicos. EPIDEMIOLOGIA: → O transtorno de escoriação tem uma prevalência vitalícia de 1 a 5% na população em geral e de cerca de 12% na população psiquiátrica adolescente. → É mais prevalente em mulheres do que em homens. → O transtorno de escoriação relacionado com índices mais altos de TOC. ETIOLOGIA: → A causa do comportamento de beliscar a pele é desconhecida; contudo, várias teorias foram postuladas. → Alguns teóricos especulam que esse comportamento seja uma manifestação de raiva reprimida contra pais autoritários. Esses indivíduos beliscam a pele e realizam outros atos autodestrutivos para se afirmarem. Eles podem se beliscar como um meio de aliviar o estresse. → Teorizou-se que anormalidades no metabolismo de serotonina, dopamina e glutamato sejam uma causa neuroquímica subjacente do transtorno, mas mais pesquisas são necessárias. CLINICA: → O rosto é o local mais comum das escoriações. Outros locais comuns são as pernas, os braços, o tronco, as mãos, as cutículas e os dedos. → Apesar do alívio sentido ao arranhar, eles frequentemente se sentem culpados ou constrangidos por seu comportamento. → Muitos usam curativos, maquiagem ou roupas para esconder as escoriações. → Dos indivíduos com transtorno de escoriação, 15% confessam ideias de suicídio devido a seu comportamento, e 12% já o tentaram. DIAGNÓSTICO: → Os critérios diagnósticos do DSM-5 para o transtorno de escoriação requerem arranhões recorrentes, que resultam em lesões de pele e tentativas repetidas de reduzir ou parar com os arranhões. → O comportamento de beliscar a pele não pode ser atribuído a outra condição médica ou mental e não pode ser o resultado de um transtorno por uso de substâncias. → O surgimento do transtorno de escoriação ocorre ou no início da vida adulta, ou entre os 30 e 45 anos. Também já foi registrado em crianças com menos de 10 anos. 9 Saúde Mental → Muitas vezes, as pessoas não buscam tratamento até que uma grave condição dermatológica ou clínica se desenvolva. → Aproximadamente 44% das mulheres relatam que a quantidade de escoriações coincide com seu ciclo menstrual. TRATAMENTO: → O transtorno de escoriação é difícil de tratar, além de haver poucos dados sobre tratamentos eficazes.→ A maioria dos pacientes não busca ativamente tratamento devido a vergonha ou porque acredita que sua condição é intratável. → Há suporte para o uso de ISRS, de opioide antagonista naltrexona, que já provou reduzir a necessidade de arranhar, em pacientes que sentem prazer com o comportamento. → Os agentes glutamatérgicos e a lamotrigina também demonstraram eficácia. → Os tratamentos não farmacológicos incluem reversão de hábitos e breve terapia cognitivo- comportamental (TCC). Referências: 1) Compêndio de psiquiatria – SADOCK 2) Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) – 9ed. 3) Psiquiatria Clínica – Dennison Monteiro. Caso Clínico - "Rituais Diários” E.L.M, sexo feminino, 24 anos, procurou atendimento psiquiátrico relatando que, sempre quando vai sair de casa tem de conferir todas as tomadas, janelas, portas, basculantes e registro do gás, mesmo sabendo que está tudo organizado, pois tem o pensamento de que, se não conferir as coisas, a casa vai pegar fogo, apesar de não ter vivenciado algo dessa natureza. A paciente relatou que esses pensamentos e comportamentos de verificação ocorrem desde os 13 anos de idade, gerando ansiedade e, como forma de alivio, verifica os objetos. Isso lhe consome tempo e sempre acaba chegando atrasada ao serviço. Outra queixa relatada foi o fato de não ter tido nenhum tipo de carinho do pai, pois ele não apresentava ter afeto a ela, mas apenas para seus irmãos, momento em que chora e diz ter nascido de uma gravidez indesejada, pois sua mãe tomou medicamento para abortá-la. Ela se recorda que, quando tinha 11 anos, sua irmã foi cozinhar ovos, esqueceu o fogo ligado e isso quase resultou em incendiar a casa, sua mãe brigou muito com ela e disse para todos os filhos prestarem mais atenção. A partir desse evento, relata medo de acontecer algo de errado, e ser a principal culpada.
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