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S A N G R A M E N T O U T E R I N O A N O R M A L CONCEITOS LAYANE SILVA A menstruação cíclica regular resulta da relação entre endométrio e seus fatores de regulação, e alterações nesse ciclo causam sangramento anormal, cujas causas podem ser crescimento neoplásico, disfunção hormonal, trauma, infecção, coagulopatias e complicações da gravidez. FISIOPATOLOGIA Endométrio é formado por 2 zonas (camada funcional e basal), a basal está sob a funcional, em contato direto com o miométrio e responde menos a estímulos hormonais, serve de reservatório para regeneração da camada funcional após a menstruação, a qual reveste a cavidade uterina, sofre grande alteração durante o ciclo menstrual e desprende-se durante a menstruação - a camada funcional tem endométrio superficial e plexo capilar subepitelial sujacente, e há estroma organizado e glândulas, com grupos de leucócitos entremeados. O sangue alcança o útero via Aa. uterina e ovariana, a partir delas Aa. arqueadas são formadas e nutrem o miométrio, depois se ramificam em Aa. radiais, que se estendem em direção ao endométrio a 90o a partir das Aa. arqueadas, essas Aa. radiais alcançam transição com endométrio/ miométrio, onde se bifurcam originando Aa. basais, que nutrem a camada basal do endométrio e são insensíveis às alterações hormonais, e Aa. espiraladas, que estendem-se para nutrir a camada funcional e terminam em plexo capilar subepitelial. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL INFÂNCIA O sangramento anterior à menarca é um achado anormal, cuja avaliação inicial foca a determinação do local do sangramento (vaginal, retal ou uretral), entre as causas estão: vulvovaginite, condições dermatológicas, crescimento neoplásico, trauma por acidente, abuso sexual ou corpo estranho - se originado na uretra, pode ser secundário a prolapso uretral ou infecção. Em geral, pode ser causado por aumento nos níveis de estrogênio, secundária a puberdade precoce, ingestão exógena acidental ou neoplasias ovarianas. Menorragia: menstruação cíclica prolongada ou intensa, ou seja, dura > 7 dias ou com perda sanguínea > 80 mL. Metrorragia: sangramento intermenstrual - denominado sangramento anormal quando associada à administração de hormônios. Menometrorragia: ambos os padrões simultaneamente. Hipomenorreia: redução no fluxo ou no período menstrual. Oligomenorreia: ciclos com intervalo > 35 dias. Sangramento de privação: sangramento previsto decorrente da retirada súbita da progesterona. O sangramento anormal pode apresentar vários padrões, entre eles: extrair hemoglobina do absorvente usando NaOH, que convertida em hematina, permite aferição por espectrofotometria. avaliação da hemoglobina e hematócrito - concentrações de hemoglobina < 12 g/dL estão mais associadas a pacientes com menorragia. estimativa do número e do tipo de absorvente ou tampão usado durante as menstruações, e se estão leve, moderada ou totalmente saturados, usando uma escala de pontuação (> 100 pontos indica > 80 mL de perda sanguínea objetiva). A avaliação de sangramento intenso tem limitações pela dificuldade de medir a perda sanguínea, pode-se: 1 ponto: cada tampão levemente manchado; 5 pontos: tampão com saturação moderada; 10 pontos: tampão completamente encharcado. Em caso de absorvente segue-se 1, 5, 20 pontos respectivamente - além disso, coágulos pequenos somam 1 ponto e coágulos grandes somam 5 pontos - é calculada para cada ciclo menstrual calendário menstrual para avaliação de quadros de sangramento anormal e seus padrões, assim, as pacientes registram datas e qualidade do fluxo sanguíneo ao longo do mês. INCIDÊNCIA O sangramento uterino anormal afeta 10-30% das mulheres em idade reprodutiva e até 50% das mulheres na perimenopausa, sendo influenciado pela idade e estado reprodutivo. ADOLESCÊNCIA O sangramento uterino normal resulta de anovulação e defeitos na coagulação em taxas desproporcionalmente mais altas, em comparação com mulheres adultas em idade reprodutiva - é importante notar as possibilidades de gravidez, doenças sexualmente transmissíveis e abuso sexual. IDADE REPRODUTIVA A menorragia é um problema frequente nas mulheres em idade reprodutiva (1 em 20), visto que, após a adolescência, o eixo hipotálamo-hipófise-ovário amadurece e o sangramento uterino anovulatório torna-se menos frequente, e, com aumento da atividade sexual, aumentam taxas de sangramento relacionado com gravidez e com DSTs, assim como aumenta a incidência de leiomiomas e de pólipos endometriais. PERIMENOPAUSA O sangramento uterino anormal é frequente (70%), com o avanço da idade, há redução da incidência de sangramento relacionado com gravidez e com DSTs e aumento dos riscos de crescimento neoplásico benigno e maligno. MENOPAUSA O sangramento após a menopausa caracteristicamente é causado por doenças benignas, principalmente por atrofia do endométrio ou da vagina - em alguns casos, por pólipos endometriais benignos. No entanto, neoplasias malignas, em especial carcinoma endometrial, são encontradas com maior frequência nesse grupo etário - o tumor ovariano produtor de estrogênio pode causar hiperplasia endometrial com sangramento uterino, assim como neoplasias ulcerativas vulvar, vaginal ou cervical. Ao final do ciclo menstrual, o nível de progesterona cai liberando metaloproteinases líticas da matriz, que promovem a quebra do estroma e da arquitetura vascular da camada funcional, assim, o descolamento da camada e o sangramento formam a menstruação, a agregação plaquetária e trombos formados controlam perda sanguínea - as Aa. endometriais remanescentes sofrem vasoconstrição limitando sangramento. SINTOMAS Na avaliação inicial, deve-se obter histórico dos ciclos menstruais, incluindo idade da menarca, DUM, método anticoncepcional, período de sangramento, volume de fluxo e sintomas associados - distúrbios no ciclo de proliferação e descolamento endometriais levam a sangramento uterino anormal. LAYANE SILVA cânceres do colo uterino e de endométrio podem causar sangramento anormal, sendo possíveis de serem identificadas evidências de tumores no exame preventivo de Papanicolau. antes deve-se excluir possibilidade de gravidez. há 0,9% de taxa de falha na detecção de câncer. há porcentagem alta de resultados falso-negativos se a patologia for focal. EXAME CITOLÓGICO: os resultados citológicos anormais mais frequentes associados a sangramento anormal envolvem alterações de células escamosas e podem indicar cervicite, neoplasia intraepitelial ou câncer - raramente são encontradas células glandulares ou endometriais atípicas - assim, pode-se indicar colposcopia, curetagem endocervical e/ou biópsia de endométrio. BIÓPSIA DE ENDOMÉTRIO: Indicações: a investigação histológica de endométrio é capaz de identificar infecção ou lesões neoplásicas como hiperplasia ou câncer de endométrio - essa avaliação endometrial deve ser feita em qualquer mulher com > 35 anos de idade com sangramento anormal e naquelas com < 35 anos com suspeita de sangramento uterino anovulatório refratário a tratamento clínico. Método de coleta: durante biópsia diagnóstica, a cânula de Pipelle é introduzida pelo orifício do colo uterino e dirigida ao fundo do útero - marcações no dispositivo permitem avaliar profundidade do útero - depois, o êmbolo da Pipelle é retraído para criar pressão de sucção no cilindro, assim, diversas vezes a cânula de Pipelle é retraída ao nível do orifício cervical interno e avançada de volta ao fundo uterino, o que permite a coleta de amostras de toda a superfície endometrial. MENORRAGIA E METRORRAGIA Anormalidades em padrão, duração e fluxo de sangramento, assim, as pacientes podem ter menorragia ou metrorragia, ou ambos, na maioria dos casos o padrão de sangramento tem valor limitado para diagnóstico da causa subjacente e pode ser usado para avaliar melhora com o tratamento. SANGRAMENTO PÓS-COITO O sangramento após relação sexual ocorre em mulheres entre 20-40 anos e multíparas,em até 2/3 dos casos não se identifica qualquer doença subjacente, entre as causas estão: lesão benigna, pólipos endocervicais, cervicite (principalmente Chlamydia trachomatis) e, raramente, pólipos endometriais - em algumas mulheres pode ter origem em neoplasias cervicais ou outras do trato genital. O epitélio associado à neoplasia intraepitelial cervical (NIC) e ao câncer invasivo é fino e friável, além de descolar do colo uterino com facilidade, provocando sangramento pós-coito, além disso, algumas mulheres podem ter lesões patológicas identificadas na colposcopia. DOR PÉLVICA Em função do papel das prostaglandinas na menorragia e dismenorreia, é comum que dores em cólica acompanhem sangramento anormal, causado por lesões, infecções e complicações de gravidez - menos frequente há causa estrutural ou infecciosa nessas pacientes. DIAGNÓSTICO Tem como objetivo excluir possibilidade de gravidez ou câncer e identificar a doença subjacente para permitir o tratamento ideal, por isso são realizadas dosagem sérica de beta-hCG, ultrassonografia (com ou sem infusão salina), biópsia endometrial e histeroscopia. EXAME FÍSICO Inicialmente, deve-se confirmar a localização do sangramento (trato reprodutivo inferior, TGI ou trato urinário) caso não haja sangramento ativo, usar o exame de urina e pesquisa de sangue oculto nas fezes com teste do guáiaco. AVALIAÇÃO LABORATORIAL GONADOTROFINA CORIÔNICA HUMANA BETA E TESTES HEMATOLÓGICOS: dosagem de beta-hCG no sangue ou urina pode excluir complicações associadas a gravidez - visto que abortamento, gravidez ectópica e mola hidatiforme que podem causar hemorragia potencialmente letal. O hemograma completo identifica anemia e o grau de perda sanguínea, assim, em perdas crônicas, índices eritrocitários indicam anemia microcítica e hipocrômica com reduções de volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscular média (HCM) e concentrações PRINCIPAIS SINAIS DE CADA ETIOLOGIA em pacientes com anemia ferropriva causada por perda crônica de sangue, pode haver elevação na contagem de plaquetas, ferritina e ferro séricos reduzidos, com elevação da capacidade total de ligação do ferro, sendo indicada a reposição com dosagens específicas de ferro. nas pacientes com menorragia sem causa evidente e para as que tenham episódios pessoais ou familiares sugestivos de disfunção da coagulação, indicar rastreamento para distúrbios da coagulação (hemograma completo com contagem de plaquetas, tempo de tromboplastina parcial e tempo de protrombina e teste para doença de von Willebrand). de hemoglobina corpuscular média (CHCM). EXAME EM PREPARAÇÃO ÚMIDA E CULTURA DO COLO UTERINO: cervicite frequentemente causa sangramento inesperado (spotting) intermenstrual ou pós-coito, nesse caso, o exame microscópico de secreções coletadas do colo uterino e preparadas com solução salina pode revelar a presença de camadas de neutrófilos e glóbulos vermelhos. ULTRASSONOGRAFIA ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL (UTV): permite a avaliação de miométrio e endométrio, oferece maior conforto para a paciente e detecção adequada de hiperplasia endometrial e câncer. mulheres com espessura endometrial > 4 mm necessitam de avaliação adicional por UIS, histeroscopia ou biópsia endometrial. os fatores de risco para carcinoma de endométrio são sangramento uterino anormal prolongado, anovulação crônica, DM, obesidade, HAS e uso de tamoxifeno. há taxa alta de resultados falso-negativos no diagnóstico de patologia intrauterina focal pela incapacidade física da UTV de avaliar o endométrio quando há patologia uterina concorrente (leiomiomas ou pólipos). contraindicada em pacientes grávidas ou que possam estar grávidas, com infecção pélvica ou dor pélvica sem explicação. há um método de biópsia endometrial com cânula de Pipelle assistida por UIS, que permite coletar amostras diretamente da patologia endometrial. Quando o endométrio é visibilizado em visão sagital, superfícies endometriais opostas formam uma linha endometrial hiperecoica abaixo do centro do corpo uterino, cuja espessura é de 4-16 mm em mulheres pré-menopáusicas, 3,4 +/- 1,2 mm em mulheres na pós-menopausa com endométrio atrófico, 9,7 +/- 2,5 mm naquelas com hiperplasia endometrial e 18,2 +/- 6,2 mm nas mulheres com câncer endometrial, além disso, pode-se avaliar alterações na textura que podem indicar patologia (Ex.: coleções líquidas na cavidade endometrial, junção endométrio-miométrio, áreas hipo e hiperecoicas mescladas dentro do endométrio, massas hipoecoicas que distorcem o endométrio e originam-se na camada interior do miométrio). ULTRASSONOGRAFIA COM INFUSÃO SALINA (UIS): ou histerossonografia, procedimento ultrassonográfico efetivo e minimamente invasivo, usado para avaliar visualmente miométrio, endométrio e cavidade endometrial, no qual um pequeno cateter é inserido no orifício cervical até a cavidade endometrial, através do qual infunde-se solução salina estéril e o útero é distendido, e realiza-se a técnica transvaginal. Assim, permite a visualização das massas comuns associadas a sangramento uterino anormal (pólipos, leiomiomas submucosos e coágulos sanguíneos intracavitários), que criam distorções não registradas ou espessamento do revestimento endometrial na UTV, além de permite detecção das massas intracavitárias e a diferenciação de lesões endometriais, submucosas ou intramurais. LAYANE SILVA MAVs adquiridas são formadas por vasos únicos de grande calibre que se formam após trauma de cesariana ou associado a D&C ou que se desenvolvem concomitantemente com câncer do colo uterino ou de endométrio, doença trofoblástica gestacional ou com uso de DIU. MAVs uterinas são raras e com maior frequência envolvem o corpo, mas podem ser encontradas no colo uterino. MALFORMAÇÕES MULLERIANAS: lesões estruturais congênitas do trato reprodutivo algumas vezes causam sangramento intermenstrual superposto ao ciclo menstrual normal, em geral, há sítios de sequestro patentes que capturam o fluxo menstrual para liberá-lo lentamente produzindo sangramento episódico. MALFORMAÇÕES ARTERIOVENOSAS (MAVs): mistura de canais arteriais, venosos e capilares com ligações fistulosas, podem ser congênitas ou adquiridas, tem tamanho variável, frequentemente se apresentam com menorragia ou menometrorragia após abortamento, curetagem ou outra cirurgia uterina intracavitária - inicialmente, há sangramento uterino intenso não associado a trauma do colo uterino ou à perfuração uterina - sintomas podem se instalar lentamente ou aparecer subitamente e com sangramento potencialmente letal. Diagnóstico: em alguns casos, são visualizadas com ultrassonografias (cujas características incluem estruturas tubulares hipoecoicas dentro do miométrio e no UTV-DC há imagens mais específicas com vasos de grande calibre e reversão do fluxo sanguíneo) e angiografia (confirmação do diagnóstico de MAV e terapêutica, se associada à embolização) - TC com contraste, RM, UIS e histeroscopia são usadas para obtenção de imagens. Desvantagem: dependência da fase do ciclo, deve ser realizada na fase proliferativa do ciclo para reduzir falso-negativos e falso-positivos. pólipos endometriais tem apenas um vaso arterial nutridor e leiomiomas submucosos receberam fluxo sanguíneo de vários vasos oriundos do interior do miométrio. ULTRASSONOGRAFIA TRANSVAGINAL COM DOPPLER COLORIDO (UTV- DC): avaliada para identificação e diferenciação de patologia endometrial no contexto de sangramento uterino. HISTEROSCOPIA: inserção de endoscópio óptico, geralmente com 3-5 mm de diâmetro, na cavidade endometrial, distendendo a cavidade uterina com um meio salino para visualização, sendo possível realizar inspeção e biópsia do endométrio, que permite diagnóstico histológico da área anormal visível - pode detectar lesões intracavitárias, como leiomiomas e pólipos. ETIOLOGIA E CONDUTA Sangramento uterino pode resultar de anormalidades estruturais, alterações hormonais, coagulopatias, infecção,neoplasia ou complicações de gravidez, cujos riscos e incidências mudam com a idade e estado reprodutivo. ASSOCIADO À GRAVIDEZ Sangramento anormal no início da gravidez é encontrado em 15-20% das gestações, pode indicar abortamento em fase inicial, gravidez ectópica, infecção do colo uterino, mola hidatiforme, eversão do colo uterino ou pólipo. ANORMALIDADES ESTRUTURAIS uso de contraceptivos orais parece ter efeito protetor e o uso de sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG) reduz a taxa de formação de pólipo endometrial. > 70% das mulheres com pólipos endometriais irão se queixar de menorragia ou metrorragia, pois a congestão estromal dentro do pólipo leve à estase venosa com necrose apical e sangramento. está indiretamente relacionado à infertilidade, em função das metaloproteinases associadas à implantação e citocinas que influenciam o desenvolvimento do embrião, além disso, pólipos encontrados na proximidades dos óstios tubários talvez prejudiquem sua função e bloqueiem a migração dos espermatozoides. PATOLOGIAS ASSOCIADAS A AUMENTO DO ÚTERO: entre as causas frequentes de sangramento anormal estão: leiomiomas, adenomiose, hematometra e hipertrofia de miométrio. PÓLIPOS ENDOMETRIAIS: tumores intrauterinos de consistência mole e carnuda formados por glândulas endometriais e estroma fibrótico cobertos por epitélio superficial, podem ser isolados ou múltiplos, medir de milímetros até centímetros, sésseis ou pediculados - tem crescimento associado ao estrogênio e progestogênio, ambos alongam glândulas, estroma e artérias espiraladas endometriais, levando à formação do aspecto polipoide. Fatores de risco: idade avançada, obesidade e uso de tamoxifeno. Diagnóstico: ultrassonografia transvaginal (realizar antes do dia 10 do ciclo, pode aparecer como espessamento endometrial inespecífico ou massa focal arredondada ou alongada dentro da cavidade endometrial), ultrassonografia com infusão salina (aparecem como massas intracavitárias ecogênicas, de superfície lisa, com bases amplas ou hastes delgadas, e são limitadas por líquido) e histeroscopia (identifica e remove o pólipo). Conduta: polipectomia histeroscópica para as mulheres sintomáticas ou para aquelas com fatores de risco para transformação maligna (pós-menopausa, > 60 anos, pólipos > 1,5cm e uso de tamoxifeno) - considerar coleta de amostras para pacientes com fatores de risco para câncer do endométrio. PÓLIPOS ENDOCERVICAIS: crescimento aumentado de estroma endocervical benigno coberto por epitélio, aparecem como massa única, vermelha, alongada, de consistência mole, estendendo-se a partir do canal endocervical, variam de 2-3 cm, mais comuns em multíparas, em geral assintomáticos e benignos, mas podem causar hemorragia, sangramento pós-coito e leucorreia vaginal sintomática. Diagnóstico: muitos são vistos durante inspeção visual no exame da pelve, em outros casos a presença de AGUS no esfregaço de Papanicolaou determina investigação e identificação de pólipos endocervicais em posição mais alta no canal endocervical. Conduta: retirada e avaliação histológica - se o pedúnculo for delgado, os pólipos são removidos com pinça fórceps em anel ou pinça fórceps extratora de pólipos, sendo torcido repetidamente junto à sua base de implantação para estrangular seus vasos supridores, até que a base se solte, posteriormente a solução de Monsel (sulfato férrico) pode ser aplicada com pressão direta no local da retirada da base para completar a hemostasia. FONTES EXTERNAS patologia intrauterina é 4 vezes mais frequente em pacientes com sangramento anormal persistente após 6 meses de uso de TH. se houver sangramento, realizar investigação para câncer endometrial. DIU CONTENDO COBRE: estão relacionados à menorragia e à metrorragia, visto que, no nível celular, há proporções desequilibradas de prostaglandinas e tromboxano, no nível tecidual, há aumento de vascularização endometrial, congestão e degeneração, tais alterações resultam em hemorragia cornual que pode levar à metrorragia, e, no nível do órgão, sugere-se que a rotação, fixação ou perfuração do DIU podem causar sangramento excessivo. Diagnóstico: biópsia endometrial com cateteres pequenos. Tratamento: AINEs (anti-inflamatórios não esteroides). SIU-LNG: ou Mirena, pode levar a sangramento uterino anormal em função da down-regulation do estrogênio e receptores de progesterona, aumento dos leucócitos e alterações na morfologia vascular endometrial, hemostase e reparo endometrial, assim, está associado ao desenvolvimento de vasos superficiais com paredes finas e diâmetros aumentados. Tratamento: AINEs (anti-inflamatórios não esteroides). CONTRACEPÇÃO APENAS COM PROGESTOGÊNIO: o sangramento é caracteristicamente irregular e leve, mas pode ser frequente e prolongado. CONTRACEPÇÃO HORMONAL COMBINADA: o sangramento associado é comum (30-50% no primeiro mês de uso), causado pela atrofia endometrial, que é induzida pelo componente progestogênio dos COCs, nesse processo, as arteríolas espiraladas não formam espiral, tornando-se mais finas e sinuosas, e as vênulas ficam dilatadas e propensas à trombose - quadro que leva ao infarto tecidual local (causa do sangramento de escape). Tratamento: troca de pílula (escolha de outra formulação de COC). TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL: tem como efeito colateral o sangramento ou o escape irregular, que pode ocorrer nas mulheres submetidas à terapia contínua (diária) e naquelas com administração hormonal cíclica (sequencial). TAMOXIFENO: modulador seletivo do receptor de estrogênio (MSRE) usado como adjunto no tratamento do câncer de mama positivo para receptor de estrogênio, provoca redução da ação do estrogênio no tecido mamário e estimula a proliferação no endométrio - está relacionado há hiperplasia, pólipos e carcinoma endometriais, e com sarcomas uterinos. INFECÇÃO Sangramento anormal pode ser causado por endometrite crônica, cujo diagnóstico é confirmado pelo achado de plasmócitos em amostra de biópsia de endométrio, tem evolução insidiosa, pode provocar leucorreia vaginal e dor em abdome inferior, está associada a doenças infecciosas (Neisseria gonorrhoeae, Chlamydia trachomatis, agentes de vaginose bacteriana e espécies de Mycoplasma causam inflamação endometrial de baixo grau), DIP aguda (subclínica ou silenciosa). LAYANE SILVA em casos de sangramento grave, os fatores VIII e de von Willebrand são repostos com administração do concentrado de derivados plasmáticos (Humate-P ou Alphanate) associada à administração de desmopressina, que promove liberação do vWF por células endoteliais. Diagnóstico: dosagens da atividade do cofator Willebrand-ristocetina, concentração do antígeno do fator de von Willebrand e atividade do fator VIII - em geral, há prolongamento de TP. Tratamento: contraceptivo oral, desmopressina, concentrados plasmáticos, antifibrinolíticos ou cirurgia (ablação endometrial e histerectomia) - outras opções são ciclo estendido de COC ou de acetato de medroxiprogesterona de depósito - como tratamento adicional pode-se usar antifibrinolíticos ácido aminocaproico e ácido tranexâmico, que inibem a conversão de plasminogênio em plasmina, reduzem fibrinólise e estabilizam coágulos formados. DEFICIÊNCIA DE FATORES DE COAGULAÇÃO: em geral, coagulopatias se manifestam com prolongamento do tempo de protrombina ou tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa), podem causar menorragia - hemofilias A e B, ligadas ao X, são deficiências dos fatores VIII e IX, assim, mulheres portadoras do gene podem apresentar níveis reduzidos do fator VIII ou IX, que podem causar hemofilia leve, e se manifestar como sangramento anormal. As deficiências em outros fatores da coagulação são raras e com frequência herdadas como traço autossômico recessivo, entre elas: disfibrinogenemia, hipofibrinogenemia, deficiência de protrombina e fatores V, VII, X, XI e XIII. Tratamento: reposição do fator. TERAPIA ANTICOAGULANTE: implica em risco de episódiosde grande sangramento e sangramentos menores (irregularidade menstrual). Diagnóstico: testes de coagulação (TP, TTP e contagem de plaquetas) pois o sangramento pode estar relacionado com excesso de atividade anticoagulante, além de exame físico completo, exames de imagem e biópsia de endométrio. Tratamento: SIU-LNG para tratar menorragia ou intervenção cirúrgica pela ablação do endométrio ou histerectomia. endometrite crônica pode estar associada a lesões estruturais, como pólipos endometriais ou leiomiomas submucosos, ou pode se seguir a episódios como abortamento ou gravidez. Tratamento: Doxiciclina, 100 mg por via oral 2 vezes ao dia durante 10 dias. CAUSAS SISTÊMICAS sangramento pode agravar anemia crônica associada à insuficiência renal. no hipertireoidismo, é comum hipomenorreia e amenorreia, em casos graves há anovulação, amenorreia e SUD anovulatório, também defeitos na hemostasia, em função de redução nos níveis de fatores de coagulação. disfunção da aderência das plaquetas: nas fases iniciais da hemostasia, plaquetas aderem a falhas na parede do vaso por meio da ligação dos receptores ao colágeno exposto, que depende do fator de von Willebrand (vWF), uma vez ligadas, as plaquetas são ativadas e liberam tromboxano, assim, redução nas plaquetas ou inibidores do tromboxano pode levar à insuficiência na aderência das plaquetas e menorragia. defeitos na estabilização da agregação plaquetária: a cascata da coagulação leva à formação de fibrina que estabiliza as plaquetas agregadas - falhas nos fatores da coagulação que formam essa cascata predispõem a sangramento anormal. recomenda-se exames específicos para diagnóstico de doença de von Willebrand em adolescentes com menorragia grave e em mulheres com menorragia significativa sem causa identificável. uso prolongado de inibidores do tromboxano, como AINEs e AAS, pode levar à disfunção plaquetária. raramente, defeitos genéticos primários nos receptores plaquetários levam à disfunção de plaquetas e a sangramento anormal. DOENÇA RENAL: disfunção renal grave frequentemente é acompanhada de distúrbios endócrinos que resultam em hipoestrogenismo, amenorreia e infertilidade, pela desregulação hipotalâmica da secreção de gonadotrofina. Tratamento: administração de progestogênios cíclicos (Ex.: acetato de medroxiprogesterona em dose alta para causar amenorreia por atrofia endometrial), COCs em dose baixa para controle do ciclo, uso de SIU-LNG em pacientes tratadas com transplante renal e menorragia secundária a leiomiomas uterinos, ou opções cirúrgicas (ablação endometrial, histerectomia minimamente invasivas). DOENÇA HEPÁTICA: disfunção hepática pode causar anormalidade menstrual em função da disfunção do eixo hipotálamo-hipófise-ovário, visto que o fígado atual no metabolismo e na excreção dos hormônios sexuais, e a disfunção hepática está associada a níveis altos de estrogênio circulante, que pode levar aos níveis séricos baixos de LH e FSH. A disfunção hemostática pode contribuir para sangramento anormal pois a maioria das proteínas de coagulação e seus inibidores são sintetizadas no fígado. Tratamento: é razoável o uso de contraceptivo apenas com progestogênio. DOENÇA TIREOIDIANA: hipertireoidismo e hipotireoidismo podem causar distúrbios menstruais, variando de amenorreia a menorragia, que podem anteceder sinais e sintomas clínicos de doença da tireoide, por isso recomenda-se a dosagem do nível sérico do TSH. COAGULOPATIA: muitos defeitos da coagulação que causam menorragia podem ser classificados em: 1. 2. As coagulopatias mais comuns são doença de von Willebrand (vWD), trombocitopenia e distúrbios da função plaquetária - raramente há deficiências nos fatores VII e IX (hemofilia A e B) e de outros fatores. Fatores de risco: história pessoal de hematomas fáceis, complicações hemorrágicas com cirurgia ou parto obstétrico, cistos hemorrágicos recorrentes, epistaxe e sangramento gastrintestinal ou antecedentes familiares de distúrbios hemorrágicos. Diagnóstico: hemograma completo com contagem de plaquetas, tempo de protrombina (TP) e tempo de tromboplastina parcial (TTP). TROMBOCITOPENIA OU DISFUNÇÃO PLAQUETÁRIA: trombocitopenia resulta de distúrbios que aumentam destruição plaquetária, reduzem produção plaquetária ou aumentem sequestro plaquetário, visto que contagens reduzidas de plaquetas podem levar a sangramento anormal, ou há disfunção plaquetária e os problemas na agregação podem ser subjacentes ao sangramento anormal. DOENÇA DE VON WILLEBRAND: fator de von Willebrand (vWF) é uma glicoproteína sintetizada nas células endoteliais e megacariócitos e parte da aderência das plaquetas nos sítios de lesão endotelial, e evita eliminação do fator VIII que, sem a presença do vWF, é depletado causando deficiência - quantidades reduzidas ou função inibida do vWF caracterizam variantes da vWD (distúrbio herdado da coagulação com padrões de transmissão autossômicos dominante e recessivo). CLASSIFICAÇÃO DA VWD E VALORES LABORATORIAIS SANGRAMENTO UTERINO DISFUNCIONAL SUD ANOVULATÓRIO: se não há ovulação, não há produção de progesterona, e o endométrio proliferativo persiste. No nível tecidual, o endométrio proliferativo crônico está associado à decomposição do estroma, redução da densidade das arteríolas espiraladas e dilatação e instabilidade dos capilares venosos, causando sangramento grave. No nível celular, a disponibilidade do ácido aracnóide fica reduzida, e a produção de prostaglandina é deficiente. Assim, o sangramento pode estar associado à anovulação resulte de alterações na estrutura vascular do endométrio, concentração de prostaglandina e de aumento na responsividade endometrial às prostaglandinas vasodilatadoras. SUD OVULATÓRIO: resulte de dilatação vascular, supõe-se que vasos nutridores do endométrio tenham menor tônus vascular e maior velocidade de perda sanguínea causada por vasodilatação. Ocorre quando as causas orgânicas tenham sido excluídas, pode ser classificado em SUD anovulatório e SUD ovulatório, neste caso, episódios de sangramento são irregulares e pode ocorrer amenorreia, metrorragia e menorragia - a ovulação ocorre em ciclos normais e a menorragia pode se originar de falhas nos mecanismos de controle do sangramento menstrual. Tratamento: inclui AINEs, COCs, progestogênio, androgênios e agonistas do hormônio liberador de GnRH, além do uso de ácido tranexâmico e etansilato para tratamento de menorragia. PROPEDÊUTICA Sangramento uterino anormal é afecção frequente que afeta negativamente aspectos físicos, emocionais, sexuais e profissionais, piorando a qualidade de vida das mulheres - nos casos de sangramento intenso e agudo, podem necessitar de tratamento de urgência, com reposição volumétrica e substâncias hemostáticas, que visa estabilização hemodinâmica e estancar o sangramento excessivo e há situações que necessitam de tratamento prolongado com fármacos ( hormonais, anti-inflamatórios ou antifibrinolíticos) ou cirúrgico, visando redução do fluxo menstrual, reduzindo morbidade e melhorando a qualidade de vida. A apresentação do tratamento foi baseada na classificação da FIGO (PALM-COEIN), cujas etiologias são: Pólipo uterino (P), Adenomiose (A), Leiomiomia (L), lesões precursoras e Malignas do corpo uterino (M), Coagulopatias (C), distúrbios da Ovulação (O), disfunção Endometrial (E), Iatrogênicas (I) e Não classificadas nos itens anteriores (N). LAYANE SILVA Após exclusão de gestação, a evolução inicial inclui história detalhada do sangramento e de antecedentes, com foco em fatores de risco para câncer de endométrio, coagulopatias, medicações em uso, doenças concomitantes, além de exame físico completo, com foco em sinais da SOP, resistência insulínica, doenças da tireoide, petéquias, equimoses, lesões da vagina ou colo do útero, e tamanho do útero - para investigação complementar, usar hemograma, dosagem de ferritina e ultrassonografia pélvica. SANGRAMENTO LIMITAÇÃO PARAATIVIDADES DOR/DISMENORREIAANEMIA INFLUÊNCIA SOBRE ASPECTOS SOCIAIS INFLUÊNCIA SOBRE ASPECTOS PSICOLÓGICOS PIORA DE QUALIDADE DE VIDA PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS ABSENTEÍSMO (TRABALHO/ESCOLA) CAUSAS ESTRUTURAIS CAUSAS NÃO ESTRUTURAIS PÓLIPO ADENOMIOSE LEIOMIOMA MALIGNAS COAGULOPATIA OVULATÓRIA ENDOMETRIAL IATROGÊNICA NÃO CLASSIFICADA Em mulheres com baixo risco para câncer de endométrio, com USG normal, excluídas causas estruturais (pólipo, mioma, espessamento endometrial ou outras causas malignas), o tratamento é farmacológico ou cirúrgico para redução do fluxo menstrual, reduzindo morbidade e melhorando a qualidade de vida. Em geral, no SUA, o diagnóstico etiológico direciona à terapêutica, apenas em caso de sangramento agudo e intenso é instituído tratamento para estancar a hemorragia e estabilizar a hemodinâmica da paciente. Na propedêutica clínica inicial, descartar lesões vaginais, do colo e uterinas através do exame especular, ultrassonografia da região pélvica, histerossonografia ou histeroscopia, sendo que o diagnóstico definitivo é feito por meio de biópsia de lesão difusa ou focal.
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