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FONÉTICA E FONOLOGIA DO INGLÊS Ubiratã Kickhöfel Alves Andressa Brawerman-Albini Mariza Lacerda Catalogação na publicação: Poliana Sanchez de Araujo – CRB 10/2094 Revisão técnica: Monica Stefani Bacharela em Letras – habilitação português/inglês Mestra em Letras – Literaturas de língua inglesa/literatura australiana Doutora em Letras – Literaturas de língua inglesa/estudos de tradução A474f Alves, Ubiratã Kickhöfel. Fonética e fonologia do inglês / Ubiratã Kickhöfel Alves, Andressa Brawerman-Albini, Mariza Lacerda ; [revisão técnica: Monica Stefani]. – Porto Alegre : SAGAH, 2017. 164 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-162-4 1. Fonética. 2. Fonologia. I. Língua inglesa. II. Brawerman-Albini, Andressa. III. Lacerda, Mariza. IV. Título. CDU 37 Iniciais_Fonética e fonologia do inglês.indd 2 10/09/2017 12:31:37 O sistema vocálico do inglês Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Descrever as propriedades articulatórias das vogais do inglês. Reconhecer as formas variantes dos fonemas vocálicos do inglês. Explicar as di� culdades enfrentadas pelos alunos brasileiros na aqui- sição do sistema vocálico do inglês. Introdução Como futuro professor de inglês, você saberia explicar o que se deve fazer para produzir a diferença entre sheep e ship? E entre bet e bat? Saberia, além disso, apontar as principais diferenças entre os dialetos norte-americano e britânico, em suas variedades padrão? Após a leitura deste capítulo, você vai ser capaz de responder a essas perguntas. Primeiramente, você aprenderá sobre os parâmetros fonético- -fonológicos utilizados para caracterizar as vogais da língua inglesa. Após isso, aprenderá sobre as vogais nas variedades norte-americana e britâ- nica. Ao final do capítulo, você vai se concentrar nas principais dificuldades que os falantes brasileiros têm na aquisição do sistema vocálico do inglês. Caracterizando vogais Basicamente, são três os principais critérios para caracterizar os sistemas vocálicos das línguas do mundo. As vogais podem ser categorizadas a partir da (i) altura; da (ii) anterioridade; e do (iii) grau de arredondamento dos lábios (LADEFOGED; JOHNSON, 2011). Considere essas propriedades a partir do sistema vocálico padrão do inglês norte-americano (Figura 1). U N I D A D E 2 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 51 12/09/2017 08:49:05 Figura 1. Sistema vocálico da variedade padrão (registro jornalístico) do inglês norte-americano. Fonte: Ladefoged e Johnson (2011, p. 90). American (national newscaster) front low back high Ao observar a Figura 1, você pode verificar a distribuição das vogais no dialeto padrão norte-americano, observando a distância acústica entre uma e outra vogal. Note, também, que há algumas setas que ligam certas vogais a outras: elas representam a produção dos ditongos. O lado mais largo da seta representa a primeira vogal do ditongo, e a parte mais pontiaguda, a segunda vogal. A produção dos segmentos vocálicos se caracteriza por uma grande varia- bilidade. Essa variabilidade ocorre não somente entre dialetos, mas também entre sujeitos e, ainda, no nível do próprio sujeito. Portanto, ao observar a Figura 1, você não deve tomar as posições ali expressas como pontos fixos ou imutáveis. Deve, sim, prestar atenção às relações de distância entre os elementos vocálicos distribuídos ao longo do trapézio. Veja este tutorial do site Rachel´s English sobre a pronúncia das vogais do inglês norte-americano. Associe a produção de cada uma das vogais mostra- das no vídeo com a posição ocupada no trapézio da Figura 1. Ouça e repita quantas vezes quiser! (SMITH, 2017). https://goo.gl/SvUYkg O sistema vocálico do inglês52 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 52 12/09/2017 08:49:06 https://goo.gl/SvUYkg Altura Considere a altura dos segmentos vocálicos. Se você pronunciar a sequência de palavras heed [], hid [], head [] e had [], vai notar que, conforme vai progredindo na leitura da sequência, sua mandíbula vai baixando cada vez mais. Dessas quatro palavras, portanto, heed é a mais alta, e had é a mais baixa. Certifi que-se de que você está realmente baixando a sua mandíbula para produzir had. Essa vogal deve ser mais baixa do que a da palavra “pé”, em português brasileiro. Agora, pronuncie, na sequência, as palavras hod ([] ou [], a depender da região dos Estados Unidos), hood [], whó d []. O que você nota? Na primeira palavra, sua mandíbula estava bem abaixada. Conforme você progrediu para as duas outras palavras, sua mandíbula foi subindo. A altura, portanto, é um fator importante na caracterização das vogais. Há vogais altas, baixas e de altura média. No que diz respeito à altura, [], [], [], [] são vogais altas; [] [] [] [] são vogais médias; e [] e [], por sua vez, são vogais baixas. Em termos fonéticos, nem todas as vogais que se encontram sob a mesma categoria apresentam a mesma altura. Por exemplo, ainda que as vogais [] (sheep) e [] (ship) sejam consideradas altas, a primeira é mais alta do que a segunda. O mesmo pode ser dito com relação a [] (pool) e [] (pull). Essas diferenças de altura também são fundamentais para uma produção das dife- renças entre esses pares. Anterioridade/posterioridade das vogais Considere, novamente, as duas sequências de palavras anteriores: (i) heed, hid, head, had e (ii) hod, hood, whó d. O que você pode dizer, em termos de anterioridade da língua? Todas as vogais da primeira sequência são frontais ou anteriores; por sua vez, todas as vogais da segunda sequência são posteriores. Para verificar a qualidade de anterioridade/posterioridade de uma vogal, produza o par mínimo sheet [] – shoot []. Em termos de altura, ambas são 53O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 53 12/09/2017 08:49:07 vogais altas. Entretanto, o que você pode verificar em termos de movimento da língua? Se você ficar repetindo esse par mínimo sucessivamente, verificará que sua língua está se movendo da frente para trás e de trás para frente. Isso acontece porque a vogal de sheet é anterior, e a de shoot, posterior. Há algumas vogais, tais como [] (cup), que são consideradas centrais, pois não são nem anteriores, nem posteriores. As vogais podem ser caracterizadas, portanto, como anteriores, centrais e posteriores. No que diz respeito à anterioridade/posterioridade, [], [], [] e []são vogais anteriores (ou frontais); [] e [] são vogais centrais; e [], [], [] e [] são vogais posteriores. Novamente, em termos fonéticos, duas vogais caracterizadas como anterio- res não necessariamente apresentam o mesmo grau de anterioridade. Apesar de ambas serem consideradas anteriores, [] ( feat) é mais anterior do que [] ( fit), por exemplo. Tal aspecto também deve ser levado em consideração na produção das vogais por estrangeiros. O grau de arredondamento dos lábios Conforme o próprio nome diz, o grau de arredondamento diz respeito ao quão arredondados se encontram os lábios na produção de uma vogal. Para notar a diferença entre uma vogal arredondada e uma não arredondada, volte a pronunciar o par mínimo sheet [] – shoot [] diversas vezes. Você vai ver que, na produção de [], seus lábios fi cam arredondados. O arredondamento não é difícil para um aprendiz brasileiro de inglês. Isso porque o português e o inglês apresentam uma característica em comum: somente as vogais posteriores podem ser arredondadas. Quanto mais alta a vogal posterior, mais arredondada ela é. Dessa forma, nessas duas línguas, o arredondamento assume um papel redundante, que se “cruza” com os pa- râmetros de anterioridade e altura. Os monotongos arredondados do inglês são, portanto, [], [] e []. Esse não é o caso de línguas como o francês e o alemão, por exemplo, em que vogais podem ser iguais em termos dealtura e anterioridade, diferindo- -se apenas no arredondamento. Produzir vogais frontais arredondadas (os O sistema vocálico do inglês54 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 54 12/09/2017 08:49:07 famosos <i> e <e> com “biquinho” do francês, por exemplo) é desafio tanto para falantes nativos do português quanto do inglês. Outros parâmetros para caracterização de vogais As vogais também podem ser distinguidas em função de seus graus de duração, nasalidade, roticização e tensão muscular (YAVAS, 2011). Com relação aos três primeiros aspectos, em inglês, podemos dizer que eles se mostram bastante dependentes do contexto fonético-fonológico em que a vogal se encontra, apresentando um status mais alofônico e redundante do que fonológico. Dos quatro aspectos anteriormente citados, a tensão é um fator impor- tantíssimo para a caracterização das vogais do inglês. Pense nos pares de vogais [] e []. Essas vogais foram caracterizadas como altas, frontais e não arrendondadas. O que diferenciam essas duas vogais, então? Podemos dizer que um dos membros dos pares é tenso (tense), enquanto o outro é frouxo (lax). Uma vogal tensa, em termos fonéticos, seria assim caracterizada por exigir um maior esforço muscular para a sua produção. Além disso, as vogais tensas são foneticamente mais altas e mais longas do que as frouxas. Com base nisso, você poderá dizer que [] é uma vogal tensa, enquanto [] é frouxa. Veja este vídeo (produzido na University of British Columbia) que resume tudo o que você viu até agora em termos de altura, anterioridade e arredondamento das vogais do inglês: https://goo.gl/BAxDrN As vogais tensas do inglês são [], [], [] e []. 55O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 55 12/09/2017 08:49:07 https://goo.gl/BAxDrN Além disso, na caracterização das vogais tensas, há um aspecto fonológico importantíssimo, referente à distribuição das vogais na estrutura silábica do inglês. Vogais frouxas nunca podem encerrar uma sílaba em inglês; elas sempre têm de ser seguidas por, pelo menos, uma consoante na mesma sílaba. Isso não acontece com vogais tensas: você pode encontrar, em inglês, palavras como be e shoe, por exemplo. Além disso, sílabas terminadas em // tendem a preferir vogais tensas como núcleo (ainda que, em termos fonéticos, a distinção entre as vogais tensas e frouxas tenda a ser perdida neste contexto). Por sua vez, sílabas terminadas por // e // tendem a preferir vogais frouxas. No material online do livro Vowels & Consonants (LADEFOGED; JOHNSON, 2011), você poderá ver as distribuições das vogais tensas e frouxas com as consoantes descritas acima. Você também poderá ouvir e repetir as vogais em inglês norte-americano e inglês britânico. https://goo.gl/3JAPB6 Ainda que todas as vogais tensas sejam longas, não é verdade que todas as vogais frouxas sejam curtas. Esse é o caso da vogal []: ainda que ela não possa figurar em sílabas abertas (sendo, portanto, uma vogal frouxa), em termos de duração, ela é longa. Dessa forma, no caso dessa vogal, o parâmetro de duração não é redundante ao da tensão, sendo sempre necessário chamar a atenção do aprendiz para tal fato. O sistema vocálico do inglês56 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 56 12/09/2017 08:49:08 https://goo.gl/3JAPB6 Muitos professores tendem a dizer que a diferença entre as vogais de sheep e ship está apenas na duração das vogais, sendo que sheep tem a vogal mais longa. Essa informação não está errada, mas tampouco é suficiente: a qualidade vocálica de cada membro dos pares é diferente! Do contrário, bastaria pronunciar a palavra sheep com velocidade rápida ou lenta para produzir a distinção entre as duas palavras. É importante que o aluno saiba que a vogal de sheep também é mais alta, mais frontal e mais tensa do que a de ship! Variação na produção das vogais do inglês Seria uma tarefa impossível descrever todas as possibilidades de variação vocálica em um só capítulo, até porque nem todas as variedades do inglês foram mapeadas. Nesta seção, você refl etirá sobre dois tipos de variação: a variação entre dialetos e a variação na produção das vogais em função do contexto em que tais segmentos se encontram. Variação entre dialetos Em termos de diferenças dialetais, é bastante simples mapear as distinções entre as variedades padrão do inglês norte-americano e do inglês britânico. A distribuição vocálica do inglês britânico, em seu registro jornalístico (BBC), é apresentada na Figura 2. 57O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 57 12/09/2017 08:49:08 Figura 2. Sistema vocálico da variedade padrão (registro jornalístico) do inglês britânico. Fonte: Ladefoged e Johnson (2011, p. 90). British (BBC newscaster) front low back high No que diz respeito aos monotongos, nota-se a presença da vogal //, que ocorre em palavras como hot e dog. A variedade de inglês britânico distin- gue entre as vogais [], [] e [], usadas nas palavras balm, bomb, bought, respectivamente. Essa distinção é necessária no inglês britânico: pense, por exemplo, nas palavras hot e heart. Na variedade norte-americana, não é ne- cessário distinguir essas duas palavras em função da qualidade vocálica, uma vez que a presença de [r] estabelece a diferença entre os itens lexicais (e acaba, por conseguinte, alterando a qualidade da vogal precedente). No inglês britânico, em que o /r/ final não é pronunciado, é necessário que haja vogais de qualidades diferentes para estabelecer a distinção entre essas palavras – dessa forma, heart é pronunciado como [], e hot, como []. O acréscimo da vogal [] ao sistema altera a posição das vogais mais próximas a ela, de modo que, na variedade britânica, a vogal [] se encontre mais alta (e, consequen- temente, mais arredondada) do que na variedade norte-americana. No dialeto norte-americano, a vogal [] não é produzida. Nas variedades do oeste dos Estados Unidos, sobretudo o californiano, as palavras que seriam produzidas com essa vogal são realizadas com []. Em dialetos mais para o O sistema vocálico do inglês58 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 58 12/09/2017 08:49:09 leste do país, utiliza-se [] (menos longo do que o [] de bought, produzido com menos tensão). Ainda com relação aos monotongos, você pode ver a presença da vogal [] na Figura 2, mas não na Figura 1. Trata-se da vogal de bird, fur e third nos dois dialetos. Novamente, a motivação para a inclusão dessa vogal se deve à produção de [r] na variedade norte-americana padrão, mas não na britânica. É por isso que, na Figura 1, tal vogal não está sendo mostrada. Para muitos autores, [] é considerada como [] seguida de []. No dialeto britânico, em que o /r/ final não é produzido, é necessário marcar a qualidade distinta dessa vogal, que é mais alta e mais longa que a vogal de cup e mug. Já no que diz respeito aos ditongos, ao observar as Figuras 1 e 2, você verá que as diferenças são ainda maiores. Chama a atenção, sobretudo, a diferença de pronúncias de palavras como no ou doń t. Enquanto na variedade norte- -americana tais palavras são realizadas com o ditongo [], no inglês britânico o ditongo produzido é [] (ou seja, com a primeira vogal mais centralizada e menos arredondada). A Figura 2, por se concentrar nos fonemas da variedade britânica, não apresenta outros ditongos passíveis de emergirem foneticamente nessa va- riedade, frequentemente apontadas na literatura (ROACH, 2009). Tratam-se dos ditongos [] (hear) [] (hair). Com a produção do /r/ final no inglês norte-americano, basta simplesmente produzir uma vogal simples seguida de /r/; por coarticulação, o /r/ naturalmente afetará a vogal. Entretanto, caso você opte pela variedade britânica, ao não produzir o /r/ final, deverá cuidar para produzir um ditongo com schwa final. Para praticar as diferençasentre as variedades bri- tânica e norte-americana padrão, ouça e repita as listas de palavras do material suplementar do livro A Course in Phonetics (LADEFOGED; JOHNSON, 2011): https://goo.gl/5rwjjo 59O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 59 12/09/2017 08:49:09 https://goo.gl/5rwjjo A variação em termos de produção vocálica vai muito além das variedades norte-americana e britânica padrão. Dentro de cada um desses países, há grande variabilidade no que diz respeito às vogais. Nos Estados Unidos, há muitas diferenças entre o leste e o oeste, bem como entre o norte e o sul do país. Quando pensamos em outros países de língua inglesa, o quadro é ainda mais fascinante: nas variedades padrão da Austrália e da Nova Zelândia, por exemplo, uma palavra como hate é produzida como []. Para uma descrição das possibilidades de variação vocálica em outras variedades do inglês (canadense, escocesa, irlandesa, australiana, dentre outras), leia o Capítulo 4 da obra “Applied English Phonology”, de Yavas (2011). Variação a partir do contexto Com relação ao segundo tipo de variação, previsível a partir o contexto, é preciso considerar que uma mesma vogal muda sua qualidade em função das consoantes que as precedem e seguem: trata-se de um efeito de coarticulação. É por isso que, mesmo quando não chegamos a produzir explosões audíveis nas consoantes fi nais de rap, rat e rack, somos capazes de dizer qual foi o ponto de articulação da consoante fi nal. Isso acontece porque, apesar de ser a mesma vogal fonológica, em termos fonéticos a vogal já se coarticula com o ponto de articulação da consoante seguinte, de modo a já prover informações acústicas sobre a consoante que está por vir. Ainda com relação aos efeitos da consoante seguinte, vogais que antecedem segmentos nasais são nasalizadas, e vogais que antecedem /r/ têm, também, sua qualidade afetada por tais segmentos. Além disso, ao anteceder o /l/ final, em que tal consoante é produzida como velarizada, a vogal precedente também sofre efeitos de retroação. Isso fica bastante claro em vogais frontais. O sistema vocálico do inglês60 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 60 12/09/2017 08:49:10 Produza as palavras bet e belt. Você pode ter a equivocada impressão de que nem se trata da mesma vogal nos dois membros do par. Em regiões do Sul dos Estados Unidos, chega-se, inclusive, a perder a distinção entre pull e pool, ou pill e peel (YAVAS, 2011). Uma vez que se trata de efeitos coarticulatórios, para que você note a diferença nas vogais, basta que você saiba produzir a consoante final com a devida velarização para que a diferença vocálica venha a emergir. Há também diferenças que ocorrem na duração dos segmentos vocálicos, a depender das consoantes que os sucedem. Uma vogal apresenta a sua maior duração em posição final de palavra; além disso, essa mesma vogal, ao antece- der uma soante, também é mais longa do que quando antecede uma obstruinte; por fim, ao anteceder uma obstruinte sonora, a vogal é mais longa do que antes de uma surda. É importante que o aprendiz tenha clara essa variação na duração, pois essa pista acústica ajuda os ouvintes a determinar se há ou não uma consoante após a vogal – e, em caso afirmativo, qual o vozeamento (surdo/sonoro) dessa consoante. A vogal /i/ em fee é mais longa do que em feel, que por sua vez é mais longa do que em feed; esta, por sua vez, é mais longa do que em feet. Dificuldades do falante brasileiro ao aprender o sistema vocálico do inglês A aquisição do sistema vocálico é uma tarefa complexa para o falante nativo de português brasileiro. Primeiramente, uma vez que o sistema do inglês apresenta muito mais vogais do que o português, é preciso que o aluno aprenda a ouvir 61O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 61 12/09/2017 08:49:10 a diferença entre pares de vogais, tais como [] e [], cujos membros tendem a ser identifi cados como vogais da língua materna (nesse caso, como a vogal [i] do português). Além disso, também há difi culdades a partir das próprias generalizações estabelecidas dentro do sistema da L2: dado que as palavras cut e shut são pronunciados com [], por exemplo, o aprendiz tem a tendência de produzir a palavra put também com essa vogal em vez de []. Por fi m, não se pode desconsiderar os casos de transferência grafo–fônico–fonológica (cf. ZIMMER; SILVEIRA; ALVES, 2009) do português brasileiro sobre o inglês, ou seja, a transferência da relação entre o padrão grafado da L1 para a L2. Como exemplo, uma vez que o grafema <o> tende a ser produzido como [] por brasileiros, tende-se a realizar a palavra lemon com []em vez de com o schwa [], que seria a vogal reduzida com a qual tal palavra deve ser produzida. Dentre as prioridades de ensino, as oposições que se mostram mais difíceis para o aprendiz são [] × [], [] × [] e [] × []. É preciso que o professor ressalte a diferença entre esses pares tanto em termos perceptuais quanto em termos de oportunidades de produção. Para saber mais sobre o processamento e a produção dos aspectos fonético-fonológicos do inglês por brasileiros, leia o Capítulo 10 da obra “Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa”, de Lamprecht et al. (2012). No que diz respeito ao par [] – [], a simples produção da vogal em língua portuguesa se aproxima mais foneticamente da vogal tensa do que da frouxa. Dessa forma, se o aprendiz tentar pronunciar as palavras fit e ship com a vogal do português brasileiro, possivelmente terá problemas de inteligibilidade, uma vez que será interpretado como se estivesse dizendo feat e sheep. É preciso ressaltar ao aluno brasileiro a produção da vogal frouxa []: ela deve ser realizada com menos tensão, além de ser mais breve, menos alta e com os lábios menos estendidos do que []. O sistema vocálico do inglês62 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 62 12/09/2017 08:49:10 Em termos de representação ortográfica, <ee> (sheep), <e...e> (these), <ea> (leave), <ei> (either), <ie> (believe) e <eo> (people) representam a vogal tensa []. Já <i...e> (prince), <ui> (build), <o> (women) e <u> (busy) representam a vogal frouxa []. Por sua vez, <e> (be [] / English []), <i> (magazine [] / sit []) e <y> (happy [] / system []) podem representar ambas as vogais. Com relação ao par [] – [], a tendência do aprendiz brasileiro é ouvir ambos os membros como se fossem a vogal [u] como na palavra “nu”, do português. Em termos de produção, novamente, caso o falante brasileiro utilize a vogal de sua língua materna para produzir as vogais frouxas de pull e book, acabará soando como se estivesse realizando a vogal tensa. É preciso, portanto, ressaltar a diferença entre as duas vogais e treinar a percepção e a produção da vogal frouxa [] – ela deve ser realizada com menos tensão, além de ser mais breve, menos alta e com menor arredondamento do que []. São poucos os correlatos ortográficos da vogal frouxa: <oul> (could), <u> (put) e <oo> (foot). Desses, apenas <oul> é utilizado para representar especificamente a vogal frouxa, uma vez que <u> e <oo> também podem ser encontradas em rude e food, com a vogal tensa []. Ainda no que diz respeito a pares de vogais, considerando-se a variedade norte-americana de inglês, o par que se mostra mais difícil é [] (said) – [] (sad), uma vez que as duas vogais deste par tendem a ser interpretadas e produzidas como a vogal das palavras “fé” e “pé”, do português. O aprendiz brasileiro, ao produzir a vogal de sua língua materna, soará como se estivesse realizando o membro mais alto do par, [], o que poderá causar problemas de inteligibilidade. É preciso, portanto, ensinar o aprendiz brasileiro a produzir a vogal [] na variedade norte-americana. O aluno precisa saber que, na 63O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonéticae fonologia do inglês.indd 63 12/09/2017 08:49:10 produção dessa vogal, a mandíbula deve cair ainda mais do que na produção de [], o que fará com que essa vogal seja mais longa. A vogal [] é sempre representada ortograficamente pela letra <a> (sad, action). Isso não quer dizer que a letra <a> corresponda sempre a essa vogal, uma vez que temos palavras como make [], car [], above [] e all [], por exemplo. Por sua vez, os principais correlatos ortográficos de [] são <e> (met), <a> (many), <ea> (health), <ie> (friend), <ai> (said), <ue> (guest) e <ay> (says). O aprendiz da variedade britânica deve, ainda, saber produzir a vogal [], de modo a produzir a diferença entre [] e []. A vogal [] é muito parecida com a que temos em língua portuguesa, nas palavras “nó” e “só”, não repre- sentando, portanto, dificuldades para o aprendiz. A vogal [] é mais curta e mais baixa do que a vogal da palavra “pó” em português, sendo produzida com a língua mais recuada do que a vogal de nossa língua. Os correlatos ortográficos de [] são <o> (dog) e <a> (wash). Não se trata de correlatos exclusivos, uma vez que essas letras também podem representar outras vogais. Ainda no que diz respeito aos monotongos, é preciso ressaltar uma das maiores dificuldades apresentadas por falantes brasileiros, independentemente da variedade de inglês que estejam estudando: a vogal schwa []. Essa vogal átona, que é central, média e sem arredondamento, tende a não ser produzida em função da influência dos padrões ortográficos da L1, caracterizando um caso de transferência grafo–fônico–fonológica (ZIMMER; SILVEIRA; ALVES, 2009). É preciso que o aprendiz aprenda a produzir essa vogal como átona, para que aloud não soe como a loud. Além disso, a falta de redução vocálica constitui um dos principais aspectos que afetam a inteligibilidade. O sistema vocálico do inglês64 U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 64 12/09/2017 08:49:11 Qualquer grafema vocálico serve como correlato ortográfico do schwa []: <a> (aloud), <e> (celebrate), <i> (family), <o> (occur), <u> (support). É preciso que o aprendiz não produza essas vogais como as do português, mas como [], de forma a reduzir a vogal. Com relação aos ditongos, pelo menos na variedade norte-americana do inglês, seu aprendizado não tende a ser dificultoso para o aprendiz brasileiro. No caso de aprendizes da variedade britânica, os alunos precisam atentar sobretudo para a produção dos ditongos que emergem a partir da não produção do /r/ final, como [] (hair) e [] (hear). No site English Accent Coach, você pode se cadastrar gratuitamente e realizar diversos exercícios referentes à percepção das vogais do inglês. Pratique quantas vezes for necessário! https://goo.gl/x5wd5J 65O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 65 12/09/2017 08:49:11 https://goo.gl/x5wd5J LADEFOGED, P.; JOHNSON, K. A Course in Phonetics. 6. ed. Boston: Wadsworth – Cen- gage Learning, 2011. Áudios e material suplementar disponível em: <http://www. phonetics.ucla.edu/course/contents.html>. Acesso em: 15 ago. 2017. LAMPRECHT, R. R. et al. Consciência dos sons da língua: subsídios teóricos e práticos para alfabetizadores, fonoaudiólogos e professores de língua inglesa. 2. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012. ROACH, P. English Phonetics and Phonology:a Practical Course. 4. ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. SMITH, R. English Sounds: vowel and Diphthong Comparison. Rachels English, Phi- ladelphia, 2017. Disponível em: <http://rachelsenglish.com/vowel-and-diphthong- -comparison/>. Acesso em: 15 ago. 2017. UNIVERSITY OF BRITISH COLUMBIA. Introduction to Articulatory Phonetics (Vowels). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=u7jQ8FELbIo&t=47s>. Acesso em: 15 ago. 2017. YAVAS, M. Applied English Phonology. 2. ed. West Sussex: Wiley-Blackwell, 2011. ZIMMER, M. C.; SILVEIRA, R.; ALVES, U. K. Pronunciation Instruction for Brazilians: brin- ging Theory and Practice Together. Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2009. Leituras recomendadas CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M; GRINER, B. Teaching Pronunciation: a Course Book and Reference Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2010. CRISTÓFARO-SILVA, T. Pronúncia do inglês: para falantes do português Brasileiro. São Paulo: Contexto, 2012. 66O sistema vocálico do inglês U2_C04_Fonética e fonologia do inglês.indd 67 12/09/2017 08:49:12 http://phonetics.ucla.edu/course/contents.html http://rachelsenglish.com/vowel-and-diphthong- https://www.youtube.com/watch?v=u7jQ8FELbIo&t=47s Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo: