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Brasília-DF. InfectologIa IntensIva Elaboração Aliana de Oliveira Alburquerque Padilha Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APRESENTAÇÃO .................................................................................................................................. 4 ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA ..................................................................... 5 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 7 UNIDADE I INFECTOLOGIA INTENSIVA: UMA VISÃO HOLÍSTICA ................................................................................. 9 CAPÍTULO 1 IMPACTO NA ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA .................................... 9 UNIDADE II INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI ................................................................ 13 CAPÍTULO 1 AFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO ..................................................................................... 13 CAPÍTULO 2 AFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO ........................................................................................... 23 CAPÍTULO 3 AFECÇÕES DE CORRENTE SANGUÍNEA .................................................................................. 29 CAPÍTULO 4 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE POR MICRO-ORGANISMOS MULTIRRESISTENTES ................................................................................................................ 33 UNIDADE III PREVENÇÃO DE INFECÇÃO HOSPITALAR ............................................................................................. 40 CAPÍTULO 1 HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS .................................................................................................... 40 PARA (NÃO) FINALIZAR ...................................................................................................................... 46 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................... 47 4 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 6 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Exercício de fixação Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/ conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção). Avaliação Final Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso, que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber se pode ou não receber a certificação. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 7 Introdução Desde a Antiguidade o homem tem procurado aliviar ou prolongar a vida de seus semelhantes, como podemos constatar em textos religiosos antigos e ruínas de construções próprias para a prestação de cuidados aos enfermos (LYONS; PETRUCELLI, 1978). Nos últimos 300 anos, os hospitais passaram a ter atividades voltadas para a cura dos enfermos. A preocupação em se aprimorar neste aspecto dirigiu a atividade médica à procura de causas desencadeantes de doenças e à utilização de tecnologia para diagnóstico e tratamento, tornando o hospital um centro de referência para tratamento de doenças. (CAVALCANTE; et al., 2000). A descoberta da microbiologia foi um avanço gigantesco para o controle da mortalidade hospitalar. O cientista Louis Pasteur (1822-1895) foi de fundamental importância para a teoria da microbiologia das doenças. Ele conseguiu, por meio de seus estudos e experimentos, provar que só vida origina vida. Entre 1860 e 1864, realizou várias experiências e constatou que os micróbios nunca surgiam num meio de cultura desde que este se conservasse estéril (ARROIO, 2006). Hoje sabemos que a área que mais oferece riscos de infecção ao doente no ambiente hospitalar é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com Cavalcante (2000), encontramos nas UTIs uma associação de fatores propícios ao surgimento de infecções hospitalares, tais como pacientes gravemente enfermos e intervenções invasivas. Os métodos invasivos, como a cateterização urinária, a intubação traqueal, a ventilação mecânica e os cateteres intravasculares são responsáveis por grande número das infecções. Embora as UTIs representem 5% a 10% dos leitos de um hospital, estima-se que nelas ocorram cerca de 25% das infecções hospitalares (MENEZES; et al., 2007). Para o combate das infecções hospitalares é primordial a participação efetiva da equipe de saúde multidisciplinar, pois é por meio da adesão às práticas de controle de infecção que controlaremos a incidência de infecções relacionadas à assistência à saúde e melhoraremos a assistência implementada. Nesta disciplina trataremos destas e de várias outras questões inerentes ao controle de Infecção Hospitalar na UTI. Objetivos » Apresentar os principais conceitos e aprofundar os conhecimentos teóricos sobre a disciplina em pauta. » Apresentaros principais fatores desencadeantes de infecção hospitalar na UTI e expor as principais práticas de controle de Infecção hospitalar, baseado nos fatores de risco. 8 » Fornecer embasamento teórico para atuação científica dos profissionais da saúde frente às infecções relacionadas à assistência à saúde nas UTIs, no âmbito dos procedimentos mais realizados neste setor e que proporcionam maior risco de infecção para os pacientes críticos. 9 UNIDADE I INFECTOLOGIA INTENSIVA:UMA VISÃO HOLÍSTICA CAPÍTULO 1 Impacto na assistência à saúde na Unidade de Terapia Intensiva A Infecção Hospitalar (IH) nada mais é do que uma infecção adquirida após a internação hospitalar, num prazo de 48-72 horas, e que não esteja no seu período de incubação. São também consideradas IH aquelas infecções adquiridas no hospital, mas que se manifestaram após a alta, assim como todas as infecções em recém nascidos (RN) exceto as transmitidas por via transplacentária. Não são consideradas IH aquelas associadas à extensão ou complicações de infecções já presentes na admissão hospitalar, exceto se há mudança de patógeno ou forte evidência de aquisição de nova infecção. A ocorrência de processos infecciosos está cada vez mais frequente em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). A presença de infecções relacionadas à assistência à saúde tem crescido assustadoramente nas UTIs e é a partir deste princípio que se faz necessária a adesão mais efetiva dos profissionais da saúde às medidas de controle e de prevenção de infecções, especialmente nos cuidados com pacientes internados nessas unidades e que tenham quebra de defesas. O perfil atual da população dos hospitais é composta de debilitados, pacientes com extremos de idade e imunossuprimidos, portadores de doenças debilitantes como o câncer, doenças pulmonares, doenças cardíacas cuja abordagem tornou rotineiro o uso de múltiplos procedimentos invasivos, tratamentos medicamentos agressivos, incluindo a prescrição maciça de antimicrobianos e a execução de procedimentos cirúrgicos de grande porte. Neste contexto denominado pela quebra de barreiras de defesa com a modificação das interações ecológicas entre o homem e os micro- organismos de sua microbiota, as infecções nasocomiais representam um grande desafio, pois formam parte inseparável dos processos que definem a prática hospitalar. Segundo Boas e Ruiz (2004), as topografias mais frequentes de infecção hospitalar são aquelas relacionadas ao trato urinário, bem como pneumonia, infecção do sítio cirúrgico e sepsis; com distribuição percentual variando, respectivamente, de 40,8% a 42%, 11% a 32,9%, 8% a 24% e 5% a 9,2%. A ocorrência de infecção hospitalar gera um acréscimo no período de internação (em torno de 4 dias), aumentando os custos e os índices de mortalidade. 10 UNIDADE I │ INFECTOLOGIA INTENSIVA:UMA VISÃO HOLÍSTICA O trabalho do Núcleo de Infecção relacionada à Assistência à Saúde (NIRAS), mais conhecido como Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH), é hoje de fundamental importância no tocante à implementação de programas de controle de infecção nos hospitais. Tal setor dá coesão aos programas dentro dos hospitais, porém é de responsabilidade dos profissionais que assistem o paciente na UTI a adesão a tais práticas de controle e prevenção de infecção. De acordo com Santos (2003): ... todos os profissionais de saúde precisam estar envolvidos no programa de controle de infecção, para que este se torne efetivo. O envolvimento cada vez maior do corpo assistencial no desenvolvimento do programa de controle de infecções da instituição, no planejamento das prioridades, na confecção de rotinas técnicas e nos protocolos é uma estratégia que vem sendo cada vez mais frequente nas CCIHs e cada vez mais estimulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A CCIH é um órgão que regulamenta as atividades de controle e de prevenção de infecção nos hospitais e está diretamente ligada à diretoria do hospital, por isso seus membros, além de aptidão e capacidade, têm de conquistar o apoio do setor administrativo e o corpo clínico, para que suas políticas de controle, bem como seu poder deliberativo, sejam aprovados e seguidos.Vale a pena ressaltar que a CCIH deve conhecer o poder de sua autonomia dentro do hospital, para iniciar medidas de controle que vão desde cultura de vigilância à interdição de uma unidade. Cabe aqui conceituar vigilância epidemiológica para melhor entendimento. Segundo o Guia de Vigilância Epidemiológica (2005), a vigilância epidemiológica é um método sistemático de coleta, de consolidação e de análise de dados, que observa a distribuição topográfica e etiológica das IH, e os determinantes do processo ou evento infeccioso (uso de dispositivos etc). Sem vigilância epidemiológica não existe controle e (ou) prevenção de IH. A vigilância epidemiológica é um instrumento que temos para o diagnóstico de situação e identificação de onde temos que agir. A formação e a execução da CCIH são respaldadas pela legislação descrita a seguir: Portaria no 2.616/1998, Lei no 9.431/1997 e Resolução – RDC 48, de 2 de junho de 2000. De acordo com a Portaria do Ministério da Saúde no 2.616/1998 é de competência da CCIH as seguintes ações. 1. Elaborar, implementar, manter e avaliar programa de controle de infecção hospitalar adequado às características e às necessidades da instituição, contemplando, no mínimo, ações relativas à(ao): » implantação de um sistema de vigilância epidemiológica das infecções hospitalares, com o acompanhamento das infecções por meio de indicadores epidemiológicos das infecções hospitalares; » adaptação, implementação e supervisão das normas e das rotinas técnico- operacionais, visando à prevenção e ao controle das infecções hospitalares; 11 INFECTOLOGIA INTENSIVA:UMA VISÃO HOLÍSTICA │ UNIDADE I » capacitação do quadro de funcionários e profissionais da instituição, em relação à prevenção e ao controle das infecções hospitalares; » uso racional de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares. 2. Avaliar, periódica e sistematicamente, as informações providas pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica das infecções hospitalares e aprovar as medidas de controle propostas pelos membros executores de CCIH. 3. Realizar investigação epidemiológica de casos e surtos, sempre que indicado, e implantar medidas imediatas de controle. 4. Elaborar e divulgar, regularmente, relatórios, e comunicar, periodicamente, à autoridade máxima de instituição e às chefias de todos os setores do hospital, a situação do controle das infecções hospitalares, promovendo seu amplo debate na comunidade hospitalar. 5. Elaborar, impantar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico- operacional, visando a limitar a disseminação de agentes presentes nas infecções em curso no hospital, por meio de medidas de precaução e de isolamento. 6. Adequar, implementar e supervisionar a aplicação de normas e rotinas técnico- operacionais, visando à prevenção e ao tratamento das infecções hospitalares. 7. Definir, em cooperação com a comissão de farmácia e terapêutica, política de utilização de antimicrobianos, germicidas e materiais médico-hospitalares para a instituição. 8. Cooperar com o setor de treinamento ou responsabilizar-se pelo treinamento, com vistas a obter capacitação adequada do quadro de funcionários e profissionais, no que diz respeito ao controle das infecções hospitalares. 9. Elaborar regimento interno para a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar. 10. Cooperar com a ação do órgão de gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como fornecer, prontamente, as informações epidemiológicas solicitadas pelas autoridades competentes. 11. Notificar, na ausência de um núcleo de epidemiologia, ao organismo de gestão do SUS, os casos diagnosticados ou suspeitos de outras doenças sob vigilância epidemiológica (notificação compulsória), atendidos em qualquer dos serviços ou unidades dohospital, e atuar cooperativamente com os serviços de saúde coletiva. 12. Notificar ao serviço de vigilância epidemiológica e sanitária do organismo de gestão do SUS os casos e os surtos diagnosticados ou suspeitos de infecção associadas à utilização de insumos e (ou) produtos industrializados. 12 UNIDADE I │ INFECTOLOGIA INTENSIVA:UMA VISÃO HOLÍSTICA Em linhas gerais devem-se implementar em todos os hospitais medidas para controle da resistência aos antibióticos na UTI, medidas para melhor adesão à higiene das mãos, diminuição da invasibidade, redução do tempo de internação e, sobretudo, recorrer à educação continuada para que a equipe multidisciplinar apresente uma melhor adesão a todas as atividades listadas, com o intuito de se prevenir Infecções relacionadas à assistência à saúde (CASELLAS, 2006). » Portaria no 2.616, de 12 de maio de 1998. » Lei no 9.431/97. » Resolução – RDC 48, de 2 de junho de 2000. 13 UNIDADE II INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI CAPÍTULO 1 Afecções do trato respiratório Pneumonia é conceituada como uma infecção aguda dos pulmões, que pode desencadear sinais e sintomas respiratórios, como tosse, dispneia, taquipneia, hiperprodução de secreção e desconforto torácico, além de sintomas sistêmicos não específicos, incluindo febre, fadiga, dores musculares e inapetência. As bactérias são as causas mais corriqueiras dessas infecções, e as pneumonias bacterianas são frequentemente as mais fáceis de serem prevenidas e tratadas (AMARAL; CORTES; PIRES, 2009). As infecções do trato respiratório são muito representativas no Brasil e em todo o mundo, sendo responsáveis por alta morbidade e mortalidade. Devido ao alto número de germes que acometem o sistema respiratório e ao tempo necessário para se estabelecer um diagnóstico microbiológico preciso, muitas vezes, o tratamento torna-se empírico (MENDES; et al., 2003). Os dados epidemiológicos nacionais sobre as infecções do trato respiratório, antes do ano de 2009, eram superficiais e imprecisos, devido a não existência de critérios epidemiológicos padronizados para o fechamento do diagnóstico. Hoje temos estes critérios bem-definidos, pois a ANVISA elaborou os Critérios Nacionais de Infecção do Trato Respiratório (ARANHA; et al., 2009). De acordo com Jimenez (2006), entre as infecções na UTI, a pneumonia intra-hospitalar e suas variantes, a pneumonia associada à ventilação mecânica e a pneumonia associada a cuidados médicos ocupam lugares de destaque, por sua alta frequência. Segundo o mesmo autor, a pneumonia intra- hospitalar é aquela que ocorre dentro de 48 horas pós-internação, e que não estava em incubação no início da internação. A figura a seguir ilustra à esquerda um pulmão sadio e à direita outro com pneumonia no pulmão direito (parte esbranquiçada). 14 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI Figura 1: Ilustra 2 radiografias de tórax: à esquerda um pulmão sadio e à direita um pulmão com pneumonia. Disponível em: http://www.mdsaude .com/2009/02/quais-sao-os-sintomas-da-pneumonia.html. Acesso em: 24 nov. 2011. A pneumonia intra-hospitalar é a segunda infecção hospitalar mais frequente nos Estados Unidos, 5 a 10 casos a cada 1.000 internações. Seu aparecimento aumenta o tempo de internação em 7 a 9 dias por paciente, além de aumentar, de forma significativa, os gastos com saúde por paciente (mais de 40.000 dólares). As pneumonias intra-hospitalares representam 25% das infecções em UTI e 50% do uso de antibióticos. Apresenta altos índices de mortalidade, 33-59% (JIMENEZ, 2006). Pneumonia associada à ventilação mecânica A pneumonia associada à ventilação mecânica ocorre em 9% a 27% dos pacientes intubados. O risco por dia é de 3% nos primeiros 5 dias, 2% entre 5 e 10 dias, e de 1% após o décimo dia. Cinquenta por cento aparecem nos primeiros 4 dias. São divididas em precoces e tardias. As PAVM precoces ocorrem nos primeiros 4 dias, têm melhor prognóstico e, muito provavelmente, são causadas por micro-organismos sensíveis aos antibióticos. As tardias ocorrem após 5 dias de intubação, são causadas por micro-organismos multirresistentes e têm alta mortalidade (JIMENEZ, 2006). No Brasil, entre as infecções que mais acometem pacientes graves, está a infecção pulmonar, principalmente pneumonias associadas à ventilação mecânica (MACHADO, 2003). A PAV, segundo os critérios nacionais de infecção do trato respiratório (2009), só pode ser confirmada após 48 horas do inicio da ventilação mecânica até a sua suspensão. Considera-se o paciente em ventilação mecânica quando o mesmo se encontra com uma prótese ventilatória orotraqueal ou traqueostomia acoplada a um ventilador mecânico, o qual é definido como o dispositivo utilizado para auxiliar ou controlar a respiração de forma contínua, inclusive no período de desmame. Dispositivos utilizados para expansão pulmonar não são considerados ventiladores (ex.: CPAP), exceto se utilizados na traqueostomia ou pela cânula endotraqueal (ARANHA; et al., 2009). As medidas de controle para PAV visam a reduzir a ocorrência de aspiração, evitar a transmissão cruzada, utilizar adequadamente os acessórios de terapia ventilatória, garantir o processamento rigoroso dos equipamentos e promover a educação permanente. 15 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II De acordo com COUTO (2003), os principais fatores de risco para PAV são as seguintes. 1. Fatores que amplificam a colonização de orofaringe e estômago » Uso de antimicrobianos » Permanência prolongada da UTI » Presença de doença pulmonar crônica 2. Condições que favorecem a aspiração ou refluxo » Intubação orotraqueal » Sonda nasogástrica ou nasoenteral » Posição dorsal » Alteração do nível de consciência (torpor, obnubilação, coma) » Cirurgia de cabeça, pescoço, tórax e abdômen 3. Ventilação mecânica prolongada » Quebra da técnica na manutenção da ventilação mecânica » Contato com mãos colonizadas/infectadas do pessoal assistencial 4. Fatores do hospedeiro » Extremos de idade » Desnutrição » Doença de base grave » Imunossupressão A figura, a seguir, disponível no Manual da Agência Nacional de Vigilância Sanitária sobre os critérios Nacionais de Infecção relacionadas à Assistência à Saúde, com foco no trato respiratório (2009), expõe o fluxograma sobre os critérios nacionais para finalização do diagnóstico de PAV nas Unidades de Saúde. 16 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI Figura 2: Critérios nacionais para confirmação de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. CRITÉRIOS RADIOLÓGICOS » Paciente com doença de base com 2 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente novo ou progressivo › Opacificação › Cavitação CRITÉRIOS RADIOLÓGICOS » Paciente sem doença de base com 1 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente novo ou progressivo › Opacificação › Cavitação Sinais e sintomas » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Febre (temperatura axilar acima de 37.8ºC), sem outra causa › Leucopenia (abaixo de 4.000 cel/mm3) ou Leucocitose (acima de 12.000 cel/mm3) Sinais e sintomas Imunossuprimidos » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Febre (temperatura axilar acima de 37.8ºC), sem outra causa › Surgimento de secreção purulenta ou mudança das características da secreção ou aumento da secreção ou aumento da necessidade de aspiração. › Piora da troca gasosa (piora da relação PaO2/FiO2 ou aumento da necessidade de oxigênio ou aumento dos parâmetros ventilatórios). Imunossuprimidos Critérios laboratoriais » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Hemocultura positiva, sem outro foco de infecção › Cultura positiva do líquido pleural › Lavado broncoalveolar maior ou igual a 104 ufc/ml › Exame histopatológico com evidência de infecção pulmonar Antígeno urinário ou cultura para legioneta spp. › Outros testes laboratoriais positivos para patógenos respiratórios(sorologia, pesquisa direta e cultura) PNEUMONIA DEFINIDA MICROBIOLOGICAMENTE » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Surgimento de secreção purulenta ou mudança das características da secreção ou aumento da secreção ou aumento da necessidade de aspiração. › Piora da troca gasosa (piora da relação PaO2/FiO2 ou aumento da necessidade de oxigênio ou aumento dos parâmetros ventilatórios PNEUMONIA DEFINIDA CLINICAMENTE Fonte: ARANHA; et al., 2009. De acordo com Lima et al. (2010), existem várias medidas de prevenção de PAV que devem ser adotadas pela equipe de Saúde. Condutas gerais » Higienizar as mãos antes e após contato com o paciente intubado ou traqueostomizado e com secreções respiratórias, mesmo que tenham sido usadas luvas. » Elevar a cabeceira da cama do paciente de 30° a 45° para evitar aspiração do conteúdo gástrico, caso não exista contraindicação. 17 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II » Verificar a posição da sonda gástrica ou enteral antes de infundir a dieta. » Aspirar adequadamente as secreções acima da região glótica antes de manipular o “cuff” da cânula endotraqueal. » Ajustar volume da dieta enteral, baseado no volume gástrico residual. » No pós-operatório, estimular a respiração profunda e a deambulação o mais precoce possível. » Não realizar rotineiramente culturas de vigilância (secreção traqueal, equipamentos etc.). » Não administrar antimicrobianos rotineiramente para prevenção de pneumonia. Entubação » Usar luvas estéreis, máscara, óculos de proteção e avental. » Evitar a contaminação da cânula antes da introdução na orofaringe. Traqueostomia. » Traqueostomia convencional deve ser realizada em sala de cirurgia, exceto nos casos de urgência. » Traqueostomia percutânea pode ser realizada à beira do leito. Para esse procedimento, o operador deve utilizar paramentação completa, colocar campos estéreis cobrindo todo o paciente e preparar a pele do paciente com clorexidina degermante seguido de clorexidina alcoólico. » Utilizar luvas estéreis para trocar a cânula de traqueostomia. » O curativo da traqueostomia deve ser trocado diariamente e/ou quando úmido e/ ou sujo. Aspiração orotraqueal » Usar luvas estéreis, máscara cirúrgica e óculos de proteção. » Utilizar sonda de aspiração estéril de uso único para a aspiração orotraqueal. » Aspirar sempre que houver necessidade e não em intervalos pré-fixados. » Aspirar os pacientes intubados na seguinte ordem: traqueia, nariz e, por último, a boca. » Trocar sistema fechado de aspiração (trachecare) quando visivelmente sujo ou com mau funcionamento. » O calibre da sonda de aspiração não deve ser superior à metade do diâmetro do calibre da cânula endotraqueal. O “cuff” deve ser testado antes do procedimento. » Usar soro fisiológico estéril para fluidificar a secreção espessa (1 a 2 ml criança e 3 a 5 ml adulto). 18 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI Ventiladores mecânicos » As peças de extensão, conectores avulsos e circuitos devem ser trocados entre pacientes e devem ser submetidas à desinfecção de alto nível ou esterilização. » Os circuitos respiratórios não devem ser trocados rotineiramente. Trocar somente quando visivelmente sujo ou com mau funcionamento. » Até o momento, o uso de filtros não mostrou redução na incidência de pneumonias hospitalares, portanto não estão recomendados para este fim. Se forem utilizados, não há necessidade de troca rotineira. » O condensado que acumula no circuito deve ser desprezado, a fim de evitar que retorne ao paciente ou ao umidificador. » A máquina interna dos ventiladores e respiradores não devem ser esterilizados ou desinfetados rotineiramente entre pacientes. Pneumonia relacionada à assistência à saúde em pacientes sem ventilação mecânica A pneumonia adquirida no hospital, ou seja, pneumonia nasocomial, nada mais é do que uma infecção pulmonar que ocorre após 48 horas da internação hospitalar e que frequentemente é tratada na unidade de internação, não se relacionando à intubação orotraqueal ou à ventilação mecânica. Ela pode se classificar como precoce (quando seu surgimento ocorre até o quarto dia de hospitalização) ou tardia (quando se inicia após 5 dias de internação hospitalar) (AMARAL; CORTES; PIRES, 2009). Os principais fatores de risco listados por Amaral, Cortes e Pires (2009) que proporciona o desenvolvimento de pneumonias nasocomiais são: pacientes idosos, desnutrição, doenças de base, rebaixamento do nível de consciência, doenças pulmonares e cardiológicas, manipulação do paciente pela equipe hospitalar, uso de sondas ou de cânula nasogástrica, traqueostomia, macro ou microaspiração de secreção traqueobrônquica, uso prévio de antimicrobianos, trauma grave, broncoaspiração de micro-organismos da orofaringe, administração de antiácidos, permanência em posição supina e transporte intra-hospitalar. Assim como a PAV, a pneumonia relacionada à assistência à saúde em pacientes que não estão em VM também possui critérios nacionais para confirmação do seu diagnóstico. A figura, a seguir, expõe o fluxograma que norteia a conclusão do diagnóstico de pneumonia em pacientes sem ventilação mecânica. 19 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II Figura 3: Critérios nacionais para confirmação de Pneumonia Relacionada à Assistência à Saúde em Pacientes sem Ventilação Mecânica. CRITÉRIOS RADIOLÓGICOS » Paciente com doença de base com 2 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente novo ou progressivo › Opacificação › Cavitação CRITÉRIOS RADIOLÓGICOS » Paciente sem doença de base com 1 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente novo ou progressivo › Opacificação › Cavitação Sinais e sintomas » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Febre (temperatura axilar acima de 37.8ºC), sem outra causa ou Leucopenia (abaixo de 4.000 cel/mm3) ou Leucocitose (acima de 12.000 cel/mm3) › Alteração do nível de consciência, sem outra causa, em pacientes com mais de 70 anos de idade Sinais e sintomas Imunossuprimidos » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Febre (temperatura axilar acima de 37.8ºC), sem outra causa › Surgimento de secreção purulenta ou mudança das caracteísticas da secreção ou aumento da secreção ou aumento da necessidade de aspiração › Início ou piora da tosse, dispneia ou taquipneia. › Aumento da necessidade de oferta de oxigênio › Ausculta com roncos ou estertores › Hemoptise › Dor Pleurítica › Alteração do nível de consciência, sem outra causa em pacientes com mais de 70 anos de idade Critérios laboratoriais » Pelo menos 1 dos critérios abaixo: › Hemocultura positiva, sem outro foco de infecção › Cultura positiva do líquido pleural › Lavado broncoalveolar maior ou igual a 104 ufc/ ml ou aspirado traqueal (apenas para pacientes com traqueostomia) com contagem de colonias maior ou igual a 104 ufc/ml › Exame histopatológico com evidência de infecção pulmonar › Antígeno urinário ou cultura para legioneta spp. › Outros testes laboratoriais positivos para patógenos respiratórios (sorologia, pesquisa direta e cultura) Imunossuprimidos PNEUMONIA RELACIONADA À ASSISTÊNCIA À SAÚDE SEM VENTILAÇÃO MECÂNICA DEFINIDA MICROBIOLOGICAMENTE PNEUMONIA RELACIONADA À ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM PACIENTES IMUNOSSUPRIMIDOS SEM VENTILAÇÃO MECÂNCIA » Pelo menos 2 dos critérios abaixo: › Surgimento de secreção purulenta ou mudança das características da secreção ou aumento da secreção › Início ou piora da tosse, dispneia, taquipneia › Aumento da necessidade de oferta de oxigênio › Ausculta com roncos ou estertores PNEUMONIA RELACIONADA À ASSISTÊNCIA À SAÚDE SEM VENTILAÇÃO DEFINIDA CLINICAMENTE Fonte: ARANHA; et al., 2009. Ocasionalmente, o diagnóstico de pneumonia para os pacientes que não estão com suporte ventilatório avançado pode ser muito simples, baseando-se apenas emsinais e sintomas e em 20 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI uma única e definitiva radiografia torácica. Porém, quando o paciente possui uma condição não infecciosa (por exemplo: edema pulmonar compensado e insuficiência cardíaca congestiva) faz- se necessário radiografias torácicas seriadas para a devida análise e separação dos processos pulmonares infecciosos e não infecciosos. Para auxiliar a sancionar casos complexos, pode ser benéfico considerar as radiografias do dia que foi fechado o diagnóstico, 3 dias antes do diagnóstico, e nos dias 2 e 7 após o diagnóstico (ARANHA; et al., 2009). Um dos fatores mais importantes que são responsáveis pelas pneumonias nasocomiais é a higiene oral inadequada. Os autores Amaral, Cortes e Pires (2009) afirmam que: A boca sofre colonização contínua, apresentando praticamente metade de toda a microbiota presente no corpo humano e, em adição a esse fato, a placa bacteriana serve de reservatório permanente de micro-organismos, podendo determinar infecções à distância. Para o desenvolvimento de pneumonia adquirida no hospital, há a necessidade de que patógenos alcancem o trato respiratório inferior e sejam capazes de vencer os mecanismos de defesa do sistema respiratório, que incluem os mecânicos (reflexo glótico, reflexo da tosse e sistema de transporte mucociliar), humorais (anticorpos e complemento) e celulares (leucócitos polimorfonucleares, macrófagos e linfócitos)... Quase metade dos adultos sadios apresenta aspiração de secreção da orofaringe em algum momento durante o sono, e esse número aumenta para 70% quando se trata de pacientes com depressão do nível de consciência. A condição de higiene oral está relacionada com o número de espécies de bactérias presentes na boca. Partindo deste princípio, chega-se à conclusão de que a higiene oral realizada de forma adequada nos pacientes internados na UTI e que apresentam algum comprometimento neurológico ajuda na prevenção, de forma significativa, do surgimento de pneumonia nasocomial. De acordo com o mesmo autor supracitado, o uso de antissépticos e antimicrobianos orais como forma de prevenção da pneumonia nasocomial tem sido amplamente estudado e utilizado nos hospitais nacionais e internacionais. A higiene oral é um dos inúmeros métodos de se adotar para prevenir pneumonia hospitalar. Outras intervenções simples, mas que têm uma repercussão gigantesca na assistência preventiva para pneumonia são: manter a cabeceira elevada entre 30o e 45o, proporcionar acompanhamento pela fonoaudiologia, orientar a equipe multidisciplinar sobre forma adequada de administração da dieta, assim como sua consistência, checagem diária do posicionamento da sonda nasoenteral (caso o paciente esteja utilizando), entre outros. Pneumonia neonatal e pediátrica Rodrigues et al. (2011) relatam que os óbitos por pneumonia entre os anos de 1991 a 2007, no Brasil, diminuíram 74% entre bebês e 56% entre crianças de 1 a 4 anos. Axelsson e Silverdal (2011) falam que a pneumonia é o principal causador de morte em crianças, sendo responsável por cerca de 20% 21 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II das mortes entre menores de 5 anos. Ainda de acordo com Axelsson e Silverdal (2011), há cerca de 4 milhões de novos episódios de pneumonia infantil a cada ano no Brasil. Para maior conhecimento acerca dos critérios nacionais para confirmação dos casos de pneumonia neonatal e pediátrica, seguem os fluxos descritos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. » No período neonatal (crianças com menos de 4 semanas) Figura 4: Critérios nacionais para confirmação de Pneumonia Relacionada à Assistência à Saúde em crianças com menos de 4 semanas. RAIO X » RN com alguma das doenças de base abaixo: › Síndrome do desconforto respiratório › Edema pulmonar › Displasia broncopulmonar » Deverá ser realizado 2 ou mais raio x seriados com pelo menos 1 dos achados: › Infiltrado persistente novo ou progressivo › Consolidação › Cavitação › Pneumatocele RAIO X » Paciente sem doenças de base com 1 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente novo ou progressivo › Consolidação › Cavitação › Pneumatocele Sinais e Sintomas » Piora da troca gasosa (ex.: piora da relação PaO2/FiO2, aumento da necessidade de oxigênio ou aumento dos parâmetros ventilatórios) + 3 dos parâmetros abaixo: › Instabilidade térmica (temp. axilar > de 37.5ºC ou < que 36.0ºC) sem outra causa conhecida › Leucopenia ou leococitose com desvio a esquerda (considerar leucocitose ≥ 25.000 ao nascimento ou ≥ 30.000 entre 12 e 24 horas ou acima de 21.000 (tirar ou ) ≥ 48 horas e leucopenia ≤ 5.000 › Mudança do aspecto da secreção traqueal, aumento da secreção respiratória ou aumento da necessidade de aspiração e surgimento de secreção purulenta › Sibilância, roncos › Bradicardia (< 100 batimentos/min) ou taquicardia (> 160 batimentos/min) Fonte: ARANHA; et al., 2009. 22 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI » Em crianças com mais de 4 semanas e menos de 12 anos de idade Figura 5: Critérios nacionais para confirmação de Pneumonia Relacionada à Assistência à Saúde em crianças com mais de 4 semanas e menos de 12 anos de idade. Sinais e sintomas Crianças > 4 sem. e ≤ 1 ano » Piora da troca gasosa (ex.: piora da relação PaO2/FiO2, aumento da necessidade de oxigênio ou aumento dos parâmetros ventilatórios) e 3 dos parâmetros abaixo: › Instabilidade térmica (temp. axilar > de 37.5ºC ou < de 35.0ºC) sem outra causa conhecida › Leucopenia (< 4.000 cel/mm3) ou leucocitose (≥ 15.000 cel/mm3) e desvio a esquerda (≥ 10% bastonetes) › Mudança dos aspecto da secreção traqueal, ou aumento da necessidade de aspiração ou surgimento de secreção purulenta › Sibilância, roncos › Bradicardia (< 100 batimentos po rminuto) ou taquicardia (> 160 batimentos por minuto) Sinais e sintomas Crianças entre 1 e 12 anos » Pelo menos três dos critérios abaixo: › Febre (temperatura axilar acima de 37.8ºC) ou hipotermia (< 36ºC) sem outra causa conhecida › Leucopenia (< 4.000 leuc./mm3) ou leucocitose (≥ 15.000 leuc./mm3) › Mudança dos aspecto da secreção traqueal, ou aumento da necessidade de aspiração ou surgimento de secreção purulenta › Sibilância, roncos › Piora da troca gasosa (ex.: piora da relação PaO2/FiO2, aumento da necessidade de oxigênio ou aumento dos parâmetros ventilatórios) RAIO X » Paciente com doenças de base com 2 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente, novo ou progressivo › Consolidação › Cavitação › Pneumatocele em ≤ 1 ano RAIO X » Paciente sem doenças de base com 1 ou mais raio x seriados com um dos seguintes achados: › Infiltrado persistente, novo ou progressivo › Consolidação › Cavitação › Pneumatocele em ≤ 1 ano Fonte: ARANHA; et al., 2009. 23 CAPÍTULO 2 Afecções do trato urinário O trato urinário representa uma das principais topografias das infecções hospitalares agora denominadas de infecções relacionadas à assistência à saúde. Já na década de 1980, as Infecções do Trato Urinário (ITU) correspondiam a cerca de 40% do total de infecções nasocomiais reportadas ao Center for Diseases Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos da América (EUA), com prevalência variável entre 1% a 10%, sendo maior em UTIs, onde representavam a terceira infecção mais frequente (MIRANDA; JÚNIOR; COSTA, 2009). A maioria dos casos de ITU hospitalar ocorre após cateterização do trato urinário, prática bastante comum em pacientes hospitalizados com incapacidades funcionais crônicas: 89% das UTIs hospitalares são associadas ao uso de cateter vesical e 5% a 10% a outras manipulações do trato urinário. Aproximadamente 10% dos pacientes são cateterizados durante a internação hospitalar, com uma duração média de 4 dias. Entre 10% a 20% dos pacientes cateterizados tem bacteriúria e 2% a 6% desenvolvemsintomas de ITU (MIRANDA; JÚNIOR; COSTA, 2009). O termo bacteriúria refere-se à presença de bactéria na urina, sem invasão tecidual. Na infecção do trato urinário, há a invasão tecidual desses micro-organismos, causando inflamação local, que desencadeia sinais e sintomas característicos desta infecção. O diagnóstico da ITU baseia-se na presença de bacteriúria associada a sinais e/ou sintomas que denotem inflamação de segmento do trato urinário, tais como: febre, dor lombar ou abdominal, leucocitúria, piúria, urgência miccional ou disúria (TURCATO JR., 2009). Diversos fatores influenciam a ocorrência de ITU em pacientes hospitalizados: técnica, duração da cateterização, qualidade no manuseio e do cuidado para com o cateter, além do grau de susceptibilidade do hospedeiro, particularmente nos casos de pacientes com idade avançada, debilitados, imunocomprometidos e de puérperas. Devido ao potencial de complicações, o cateter urinário deve ser evitado ao máximo, considerando- se o uso de alternativas que minimizem o risco de infecção e traumatismo. Quando a cateterização, se for realmente necessária, deve-se rever regularmente a necessidade da manutenção do cateter, removendo-o o mais precocemente possível (TURCATO JR., 2009). Segundo Basso (2009), as indicações do cateterismo são estas. » Medida do débito urinário e controle rigoroso de urina em pacientes críticos. » Investigação urodinâmica ou diagnóstica. » Cirurgias de bexiga ou obstruções urinárias. » Patologias neurológicas, lesões medulares ou bexiga neurogênica. » Deficits cognitivos, incontinência urinária ou deficiência física. » Irrigação terapêutica da bexiga. 24 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI A imagem abaixo ilustra o posicionamento de um cateter vesical de demora em ambos os sexos. Figura 6: Posicionamento de cateter vesical de demora, na mulher e no homem. Disponível em: http://www.medicinageriatrica.com.br/2008/06/06/estudo-de-caso-retencao-urinaria/. Acesso em: 30 nov. 2011. Existem vários cuidados que são importantes na manutenção do cateter vesical de demora, evitando assim complicações infecciosas. As mãos dos profissionais da saúde devem ser higienizadas antes e após manipulação do cateter; deve-se realizar higiene perineal e do meato urinário, no mínimo, uma vez ao dia, com água e sabão; a bolsa coletora deve ser mantida sempre abaixo do nível da bexiga para manter fluxo contínuo da urina por gravidade (devendo ser esvaziada sempre que cheia); entre outros (BASSO, 2009). Não há recomendação de troca rotineira do cateter, exceto quando ocorrer obstrução do cateter ou do tubo coletor; suspeita ou evidência de incrustações na superfície interna do cateter, violação ou contaminação do cateter; mau funcionamento do cateter; urina com aspecto purulento no saco coletor e febre sem outra causa reconhecida (TENKE; et al., 2008). Os profissionais responsáveis pelo controle de infecção devem avaliar a qualidade dos procedimentos de inserção e manutenção dos cateteres urinários de forma sistemática, não apenas por meio das taxas, mas realizando observação dos processos. Para que isso ocorra, faz-se necessário a aplicação de um check list de processos que incluam os seguintes dados. 1. Inserção do cateter » Higiene das mãos antes e após a inserção. » Higiene íntima e antissepsia do meato. » Uso de antisséptico. » Material estéril. » Técnica asséptica. » Lubrificante utilizado. » Uso de coletor fechado. 25 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II 2. Manutenção do cateter » Higiene das mãos antes e após manusear o cateter e saco coletor. » Uso de luvas ao manusear o cateter e o sistema de drenagem. » Cuidados na drenagem da urina. » Fixação do cateter. » Fixação do saco coletor. Infecção do trato urinário relacionada à assistência à saúde no adulto As infecções do trato urinário relacionadas à Assistência à Saúde (RAS) no adulto podem ser classificadas, segundo Chebabo et al. (2009) assim. 1. ITU relacionada a procedimento urológico (cateterismo vesical). 2. ITU não relacionada a procedimento urológico. 3. ITU sintomática. 4. ITU assintomática (também chamada de bacteriúria assintomática). Segue o conceito de cada uma das classificações citadas. 1. ITU – RAS: qualquer infecção do trato urinário relacionada a procedimento urológico. 2. ITU – RAS: não relacionada a procedimento urológico diagnosticada após a admissão em serviço de saúde e para a qual não são observadas quaisquer evidências clínicas e não está em seu período de incubação no momento da admissão. 3. ITU – RAS sintomática: definida pela presença de ao menos um dos seguintes critérios. » Paciente tem pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas, sem outras causas reconhecidas: febre (>38ºC), urgência, frequência, disúria, dor suprapúbica ou lombar e apresenta uma cultura de urina positiva com mais de 105 unidades formadoras de colônias por ml de urina (UFC/ml) de um uropatógeno (bactérias Gram negativas, Staphylococcus saprophyticus ou Enterococcus spp), com até duas espécies microbianas. 26 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI » Paciente com pelo menos dois dos seguintes sinais ou sintomas, sem outras causas reconhecidas: febre (>38ºC), urgência, frequência, disúria, dor suprapúbica ou lombar e pelo menos um dos seguintes. a. Presença de esterase leucocitária ou nitrato na análise da urina. b. Presença de piúria em espécime urinário com mais de 10 leucócitos/ml ou mais de 10 leucócitos por campo de imersão na urina não centrifugada. c. Presença de micro-organismos no Gram da urina não centrifugada. d. Pelo menos dois urinoculturas com repetido isolamento do mesmo uropatógeno com mais de 102 UFC/ml em urina não coletada por micção espontânea. e. Isolamento de menos de 105 UFC de um único uropatógeno em urinocultura obtida de paciente sob tratamento com um agente efetivo para ITU. f. Diagnóstico de ITU pelo médico assistente. g. Terapia apropriada para ITU instituída pelo médico. 4. ITU – RAS assintomática: definida pela presença de ao menos um dos seguintes critérios. » Paciente está ou esteve com um cateter vesical em até 7 dias antes da urinocultura, apresenta urinocultura positiva com mais de 105 UFC/ml de até duas espécies microbianas e não apresenta febre (>38ºC), urgência, frequência, disúria, dor suprapúbica ou lombar. » Paciente do sexo feminino que não utilizou cateter vesical nos 7 dias anteriores à coleta de urina e apresenta duas urinoculturas com mais de 105 UFC/ml, com isolamento repetido do mesmo micro-organismo (até duas espécies microbianas) em urina colhida por micção espontânea ou apresenta uma urinocultura positiva com mais de 105 UFC/ml de até duas espécies microbianas, em urina colhida por cateter vesical, e não apresenta febre (>38ºC), urgência, frequência, disúria, dor suprapúbica ou lombar. » Paciente do sexo masculino que não utilizou cateter vesical nos 7 dias anteriores à coleta de urina e apresenta uma urinocultura positiva com mais de 105 UFC/ ml de até duas espécies microbianas em urina colhida por micção espontânea ou por cateter vesical e não apresenta febre (>38ºC), urgência, frequência, disúria, dor suprapúbica ou lombar. 27 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II Infecção do trato urinário relacionada à assistência à saúde na criança Lactentes (1 mês a 2 anos) De acordo com Chebabo et al. (2009), a definição de ITU em lactentes de 1 mês a 2 anos de vida deve preencher um dos seguintes critérios. » Presença de um dos seguintes sinais e sintomas com início em mais de 48 horas, sem causa reconhecida: febre, baixo ganho ponderal, vômitos, diarreia, urina de odor fétido, dor abdominal, aparecimento de incontinência urinária em lactentes que já tinham controle esfincteriano. Acrescido desse critério é necessário uma urocultura positiva para qualquer crescimento em amostras obtidas através depunção suprapúbica, exceto Staphylococcus coagulase negativa, em que o ponto de corte é >103 UFC/ml). » Presença de um dos seguintes sinais e sintomas com início em mais de 48 horas, sem causa reconhecida: febre, baixo ganho ponderal, vômitos, diarreia, urina de odor fétido, dor abdominal, aparecimento de incontinência urinária em lactentes que já tinham controle esfincteriano. Somado a esse critério é necessário mais dois dos seguintes: piúria ou esterase leucocitária positiva; bacterioscopia positiva pelo GRAM em urina não centrifugada e nitrito positivo. Crianças entre 2 e 5 anos Os sintomas de frequência urinária, disúria e urgência urinária podem estar ausentes nesse grupo etário. A definição de ITU-RAS deve preencher um dos seguintes critérios. » Presença de um dos seguintes sinais e sintomas com início em mais de 48 horas sem causa reconhecida: febre, vômitos, urina de odor fétido, dor abdominal e (ou) em flancos, aparecimento de incontinência urinária em pacientes que já tinham controle esfincteriano, frequência urinária, disúria, urgência urinária, e urocultura positiva para qualquer crescimento em amostras obtidas através de punção suprapúbica, exceto Staphylococcus coagulase negativa, em que o ponto de corte é >103 UFC/ml); » Presença de um dos seguintes sinais e sintomas com início em mais de 48 horas sem causa reconhecida: febre, vômitos, urina de odor fétido, dor abdominal e (ou) em flancos, aparecimento de incontinência urinária em pacientes que já tinham controle esfincteriano, frequência urinária, disúria, urgência urinária, e dois dos seguintes: piúria ou estearase leucocitária positiva; bacterioscopia positiva pelo GRAM em urina não centrifugada e nitrito positivo. 28 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI Crianças maiores que 5 anos A presença de ITU é acompanhada dos sinais e sintomas clássicos deste tipo de infecção. A definição de ITU-RAS deve preencher um dos seguintes critérios. » Presença de um dos seguintes sinais e sintomas com início em mais de 48 horas sem causa reconhecida: febre, vômitos, urina de odor fétido, dor abdominal e/ou em flancos, aparecimento de incontinência urinária em pacientes que já tinham controle esfincteriano, frequência urinária, disúria, urgência urinária. Acrescido deste critério é necessário uma urocultura positiva para qualquer crescimento em amostras obtidas através de punção suprapúbica, exceto Staphylococcus coagulase negativa, em que o ponto de corte é >103 UFC/ml. » Presença de um dos seguintes sinais e sintomas com início em mais de 48 horas sem causa reconhecida: febre, vômitos, urina de odor fétido, dor abdominal e/ou em flancos, aparecimento de incontinência urinária em pacientes que já tinham controle esfincteriano, frequência urinária, disúria, urgência urinária e dois dos seguintes: piúria ou estearase leucocitária positiva; bacterioscopia positiva pelo GRAM em urina não centrifugada e nitrito positivo. A aspiração suprapúbica é uma técnica utilizada para a coleta de amostra de urina em crianças. É realizada por meio de uma punção da parede abdominal em direção ao fundo da bexiga, de modo a transfixar a mesma através de uma agulha entre 3,5cm e 4cm de comprimento devidamente acoplada a uma seringa. O procedimento deverá ser precedido de uma antissepsia com clorexidina alcoólica ou PVP-I. O paciente deverá estar deitado, com os membros inferiores mantidos fletidos em “posição de sapo” e não deve ter urinado na última hora antes do procedimento. Atenção para a realização de aspiração forte, pois poderá desencadear lesão de mucosa (CHEBABO et al., 2009). » Trato Urinário: Critérios Nacionais de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Set., 2009. » TENKE, P.; et al.. European and asian guidelines on management and prevention of catheter-associated urinary tract infections. International Journal of Antimicrobial Agents, v. 31, supplement 1, p. 1 – 116, Feb, 2008. 29 CAPÍTULO 3 Afecções de corrente sanguínea O Cateter Venoso Central (CVC) é um instrumento amplamente utilizado em Unidade de Terapia Intensiva. Eles são dispositivos invasivos empregados para infusão de medicamentos e soluções endovenosas em paciente com limitação de acesso venoso periférico, para infusão de nutrição parenteral, uso de drogas vasoativas, mensuração de pressão venosa central, como também para tratamento hemodialítico (SANTOS; LEAL; CAVALHEIRO, 2006). A imagem abaixo ilustra um dos locais de inserção do CVC, que é a veia subclávia. Outros locais comumente utilizados são: veias jugulares e femorais. Figura 7: Ilustração do local de inserção de um cateter venoso central. Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/spanish/ency/esp_imagepages/19861.htm. Acesso em: 20 nov. 2011. Os cuidados com cateteres venosos centrais vão desde o momento de sua inserção até a diária manutenção de seu posicionamento e permeabilidade. As recomendações gerais relacionadas aos cuidados com os acessos intravasculares são os seguintes. » Restringir ao máximo o uso do cateter e retirá-los sempre que o seu uso não for mais indicado. » Treinar continuamente profissionais de saúde nas técnicas de manutenção de CVC. » Avaliar diariamente o local de inserção do cateter através do curativo por inspeção e palpação, a fim de identificar sinais de infecção. » Higienizar as mãos antes e após manipulação dos dispositivos intravasculares. » Fazer a antissepsia no local de inserção com antisséptico (álcool a 70%, clorexidina 2%, dentre outros). 30 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI » Utilizar gaze estéril ou curativo transparente para cobrir o local de inserção do cateter. » Trocar o curativo quando este se apresentar úmido, sujo ou solto. » Trocar equipos, conexões, extensões e acessórios a cada 72 horas de uso. » Utilizar linha de infusão (equipos e acessórios) própria e única para nutrição parenteral, hemoderivados e soluções lipídicas. » O equipo para infusão de nutrição parenteral deverá ser trocado até 24 horas, que corresponde ao prazo máximo da infusão. » Desinfetar o injetor lateral de medicamentos do equipo com álcool a 70% antes e após utilizá-lo. » Não há indicação de troca pré-programada de cateteres visando a minimizar processos infecciosos. » Trocar cateteres inseridos sob condições de urgência assim que possível, quando a adesão às técnicas assépticas não puder ser assegurada. De acordo com Santos, Leal e Cavalheiro (2006), a infecção é uma importante complicação relacionada ao uso de Cateter Venoso Central (CVC). A imigração de bactérias da pele (Pericateter) para o subcutâneo, e posteriormente para o sangue, é considerada o principal mecanismo na patogênese da sepse relacionada ao CVC. Outras complicações citadas pelo autor são: tromboflebite, dor ou desconforto durante a realização do procedimento, hematomas, embolia gasosa, embolia pulmonar, tamponamento cardíaco, entre outros. A infecção associada ao cuidado à saúde, principalmente relacionada à CVC, é um sério problema e um desafio no que tange ao seu controle, em nível mundial. As consequências de uma infecção relacionada à cateter são drásticas, na maioria das vezes irreversíveis, pois mostra uma alta letalidade nos que acomete. Há etiologia complexa e multifatorial. Estudos destacam a situação clínica do paciente, o tipo de cateter, sua composição, a técnica de inserção, a localização, a frequência de manipulação do sistema e a duração da cateterização como aspectos que merecem maior atenção (FERREIRA; ANDRADE; FERREIRA, 2011). A contaminação pode advir da própria flora do paciente ao atravessar o exterior do cateter ou por contaminação de hemoderivados, soluções de nutrição parenteral, medicamentos, como também através das mãos dos profissionais de saúde, que hoje é o principal meio de contaminação e de maior repercussão na infecção hospitalar. De acordo com a Sociedade Brasileirade Infectologia (2001), no momento da passagem do acesso central, o médico responsável pelo procedimento deve agir conscientemente, pois um deslize nas práticas assépticas leva a uma grave complicação para o doente. Já ressaltamos que as mãos dos profissionais são o principal meio de infecção e devem ser higienizadas com técnica adequada e com produtos antissépticos, como o PVP-I degermante ou clorexidina a 2%. Após higienização das mãos, deve-se proceder com a paramentação completa, utilizando-se gorro, máscara, capote, luvas estéreis e óculos de proteção. Antes do início do procedimento, deve-se preparar adequadamente a pele do 31 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II paciente através da aplicação de um antisséptico degermante, seguido do alcoólico; posteriormente, aplica-se campos estéreis para passagem de cateter. Existem conceitos diferentes quando se fala em infecção por cateter. » Flebite: inflamação, dor e calor ao redor do cateter de inserção periférica, com ou sem a associação com trombose. » Contaminação do cateter: o cateter pode conter micro-organismos, porém há baixa probabilidade de ser foco de infecção relacionada a cateter (contagem de colônias pela técnica semiquantitativa inferior a 15 unidades formadoras de colônias (ufc/placa). » Colonização do cateter: cultura semiquantitativa positiva, maior que 15 ufc/placa pela técnica semiquantitativa ou quantitativa positiva (mais que 1000ufc/ml) na ausência de sinais clínicos de infecção. » Bacteremia relacionada à cateter ou infecção primária de corrente sanguínea: a correlação de causa e efeito entre o cateter e a bacteremia é difícil. Aqui será definido como o isolamento de um mesmo micro-organismo de cultura de sangue e de cateter positivo pela cultura quantitativa ou semiquantitativa, não havendo outro foco infeccioso identificável. » Infecção do sítio de inserção do cateter (infecção local): sinais locais de infecção sem evidência de infecção de corrente sanguínea. Na prática, eritema, calor, edema, ou dor local podem não refletir uma infecção. Devem estar associados à presença de secreção purulenta e/ou cultura quantitativa ou semiquantititativa do cateter positiva. » Infecção do túnel: termo somente utilizado para cateteres de longa permanência, como os de Hickman e Broviac. Caracteriza-se por celulite circundando o trajeto subcutâneo do cateter em 2cm ou mais a partir do óstio. Os agentes infecciosos mais frequentes nas infecções relacionadas a cateteres vasculares dependem do tipo de procedimento, porém predominam estafilococos, principalmente, coagulase negativa, S. Aureus e Cândida SPP. Infecção Primária de Corrente Sanguínea (IPCS) As Infecções Primárias da Corrente Sanguínea (IPCS) são aquelas infecções que decorrem consequências sistêmicas graves, bacteremia ou sepse, sem foco primário identificável. As infecções relacionadas à corrente sanguínea podem ser divididas naquelas com hemocultura positiva, e naquelas somente com critérios clínicos, clinicamente confirmadas e laboratorialmente conformadas. Segundo os critérios nacionais de Infecção relacionada à assistência à saúde, pode-se definir IPCS laboratorialmente confirmada como aquela que preenche um dos seguintes pré-requisitos. » Critério 1: Paciente com uma ou mais hemoculturas positivas coletadas preferencialmente de sangue periférico; o patógeno não está relacionado com infecção em outro sítio. 32 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI » Critério 2: Pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38°C), tremores, oligúria (volume urinário <20 ml/h), hipotensão (pressão sistólica menor ou igual a 90mmHg), e esses sintomas não estão relacionados com infecção em outro sítio + Duas ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de 48h) com contaminante comum de pele (ex.: difteroides, Bacillus spp, Propionibacterium spp, estafilococos coagulase negativo, micrococos). » Critério 3: (Para crianças > 30 dias e < 1ano) pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38°C), hipotermia (<36°C), bradicardia ou taquicardia (não relacionados com infecção em outro sítio) + duas ou mais hemoculturas (em diferentes punções com intervalo máximo de 48h) com contaminante comum de pele (ex.: difteroides, Bacillus spp, Propionibacterium spp, estafilococos coagulase negativo, micrococos). Já a IPCS clinicamente confirmada é aquela que preenche um dos seguintes critérios. » Critério 1: Pelo menos de um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38°), tremores, oligúria (volume urinário <20 ml/h), hipotensão (pressão sistólica menor ou igual a 90mmHg) ou (não relacionados com infecção em outro sítio) + todos os seguintes: a) hemocultura negativa ou não realizada; b) nenhuma infecção aparente em outro sítio; c) médico institui terapia antimicrobiana para sepse. » Critério 2: (Para crianças > 30 dias e < 1ano) pelo menos um dos seguintes sinais ou sintomas: febre (>38°C), hipotermia (<36°C), bradicardia ou taquicardia (não relacionados com infecção em outro sítio) + todos os seguintes: a) hemocultura negativa ou não realizada; b) nenhuma infecção aparente em outro sítio; c) médico institui terapia antimicrobiana para sepse Resumindo tudo que foi mencionado com relação à prevenção de infecção relacionada à cateter, devemos frisar com mais intensidade os seguintes aspectos: o principal fator de risco para o desenvolvimento da infecção de corrente sanguínea é o uso do cateter e o tempo de permanência do mesmo, porém existem outros fatores associados ao uso deste dispositivo que merecem consideração. A técnica e o cuidado na inserção do cateter, local de inserção, número de lumens, material de fabricação do cateter, tipo de cateter usado, e cuidado de manipulação da linha venosa merecem um cuidado adicional. As medidas preventivas recomendadas envolvem a retirada, assim que possível, do cateter, técnica asséptica rigorosa na inserção do cateter, uso de cateter de uso único lúmen sempre que possível, curativo com técnica asséptica protegendo a pele junto ao ponto de inserção durante a permanência do cateter central, técnica asséptica no preparo de soluções usadas nas linhas venosas centrais, uso de linha ou lúmen exclusivo para administração de nutrição parenteral total, cuidado na manipulação do sistema, evitando contaminação. Recomenda-se estabelecer protocolos de cuidados de cateteres centrais de grupos treinados especialmente para manipulação e manutenção destes dispositivos (SILVA; RAVANELLO, 2009). » Corrente Sanguínea: Critérios Nacionais de Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, set. 2009. » PEDROSA, T.; M.; G.; Couto; R.; C. Prevenção da infecção relacionada aos dispositivos Intravasculares. __In: COUTO, R. C.; et al. infecção hospitalar e outras complicações não infecciosas da doença: epidemiologia, controle e tratamento. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. 33 CAPÍTULO 4 Infecções relacionadas à assistência à saúde por micro-organismos multirresistentes A habilidade das diferentes espécies bacterianas, incluindo aquelas causadoras de doenças em humanos, para resistir à ação dos agentes antibacterianos tornou-se um problema global e de prevalência crescente. A grande promessa dos antibióticos, um dos principais avanços médicos da segunda metade do século XX, dissipou diante do implacável desenvolvimento de resistência pelas bactérias contra as quais a terapia é direcionada. Não existe uma única bactéria clinicamente importante que não tenha desenvolvido algum tipo de resistência aos agentes antimicrobianos, situação antecipada pelos pesquisadores desde a inauguração da era antibiótica (RICARDO, 2009). Segundo o mesmo autor citado, a importância clínica dos micro-organismos resistentes foi fortemente impulsionada todavia pela presença crescente de indivíduos com comprometimento dos mecanismos de defesa sob tratamento médico,pelo uso intensivo de novos dispositivos e procedimentos invasivos, pela escassez de recursos para os programas de controle de infecção hospitalar e pela baixa acurácia de alguns métodos laboratoriais rotineiros para detectar os novos fenótipos de resistência. Além disso, acumularam-se evidências de que as infecções por micro- organismos resistentes aumentam os custos assistenciais, a permanência hospitalar e a morbidade e mortalidade, quando comparadas às infecções causadas por cepas susceptíveis da mesma espécie. Micro-organismos Multirresistentes (MMR) são micro-organismos resistentes a diferentes classes de antimicrobianos examinados em análises microbiológicas. A resistência aos agentes antibacterianos pode ser um fenômeno inato a determinada espécie ou adquirido através de um dos mecanismos de transferência genética entre bactérias. Alguns pesquisadores também definem micro-organismos pan-resistentes, como aqueles com resistência comprovada in vitro a todos os antimicrobianos testados em exame microbiológico. A descrição inédita do fenômeno da resistência inata ou natural aos antibióticos é atribuída à Fleming, ao descobrir o primeiro antibiótico, no ano de 1929 – a penicilina. Ele demonstrou que as bactérias do grupo colitifoide (enterobactérias) e o bacilo piociânico (pseudomonas aeruginosa) não sofriam a ação inibitória da penicilina. A resistência natural constitui uma característica biológica dos micro-organismos de uma espécie particular. Em contrapartida a resistência adquirida reflete uma verdadeira mudança na composição genética da bactéria, tornando resistente um micro- organismo que, anteriormente, era susceptível ao agente antimicrobiano (RICARDO, 2009). A forma mais importante de aquisição hospitalar de bactérias multirresistentes é através da transmissão de um paciente infectado ou colonizado para outro paciente susceptível, via mãos dos profissionais de saúde transitoriamente contaminadas. As UTIs são reservatórios habituais das bactérias multirresistentes. A transmissão entre os pacientes é ampliada no referido setor, pois há uma menor adesão à higienização das mãos que, segundo a Nota Técnica No 1/2010 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária está diretamente associada ao trabalho em demasia. 34 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI O sucesso dos programas que visam a diminuir a resistência bacteriana é limitado. Nenhuma medida isolada mostrou-se capaz de conter o problema, o que justifica a recomendação simultânea de várias abordagens. Ainda, assim, o contínuo aumento da prevalência de resistência antibiótica nos hospitais expõe a fragilidade das diversas medidas adotadas e evidencia a nossa incapacidade em conter o problema. É compreensível que pacientes portadores dos fatores de risco clássicos (doença de base grave e escore de gravidade elevado, complicações cirúrgicas, transplantes de órgãos, falência renal, entre outros) apresentem maior chance de infecção por MMR. Esse risco aumentado resulta da exposição desses indivíduos aos procedimentos invasivos e dispositivos médicos, bem como da depressão das defesas do hospedeiro e exposição maciça a antibióticos. Sabidamente, pouco se pode fazer para modificar a seriedade da doença de base dos pacientes. Para proteção daqueles mais debilitados e vulneráveis às medidas de prevenção, devem ser mais consistentes, bem como o tratamento com antibióticos mais apropriados. Existem várias medidas de controle para se tentar evitar a disseminação dos MMR no ambiente hospitalar. As precauções básicas e adicionais destinam-se a interromper as vias de transmissão dos micro-organismos nos hospitais e são dirigidos a proteger o paciente e o profissional de saúde de adquirir micro-organismos de importância epidemiológica. São as medidas mais importantes e devem ser observadas por todos os profissionais de saúde no atendimento de qualquer paciente ou usuário de saúde, independentemente do seu diagnóstico ou suspeita de infecção (ARAÚJO; et al., 2005). As precauções básicas são medidas adotadas à prevenção de infecção na qual se aplica ao contato com sangue, líquidos corpóreos, secreções e excreções de todos os pacientes, independentemente de sua condição infecciosa. Portanto independem da presença ou da ausência de sangue visível. Também se aplicam à pele lesada e às membranas mucosas dos pacientes. A aplicação das precauções básicas inclui a utilização de luvas de procedimento não estéril (para proteção do profissional), uso de capotes e propés, uso de máscara cirúrgica e óculos de proteção e cuidado na utilização de perfuro cortante (ARAÚJO; et al., 2005). Todos os profissionais da saúde devem manter sempre as precauções básicas para todos os pacientes. Faz-se necessário, todas as vezes que entrar no ambiente do paciente, observar os “5 momentos” para realizar a higienização das mãos. De acordo com Júnior e Costa (2009), a higienização das mãos é reconhecida mundialmente como uma medida primária, mas muito importante no controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Por este motivo tem sido considerada como um dos pilares da prevenção e do controle de infecções nos serviços de saúde, incluindo aquelas decorrentes da transmissão de micro-organismos multirresistentes. 35 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II A figura, a seguir, mostra os cinco momentos que são primordiais para a realização da higiene das mãos. Figura 8: OPAS; ANVISA, 2008b. 1 ANTES DE CONTATO COM O PACIENTE QUANDO? Higienize as mãos antes de entrar em contato com o paciente. POR QUÊ? Para a proteção do paciente, evitando a transmição de micro-organismos presentes nas mãos do profissional e que podem causar infecções. 2 ANTES DA REALIZAÇÃO DE PROCEDIMENTO ASSÉPTICO QUANDO? Higienize as mãos imediatamente antes da realização de qualquer procedimento asséptico. POR QUÊ? Para a proteção do paciente, evitando a transmissão de micro-organismos das mãos do profissional para o paciente, incluindo os micro-organismos do próprio paciente. 3 APÓS RISCO DE EXPOSIÇÃO A FLUÍDOS CORPORAIS QUANDO? Higienize as mãos imediatamente após risco de exposição a fluídos corporais (e após a remoção de luvas). POR QUÊ? Para a proteção do profissional e do ambiente de assistência imediatamente próximo ao paciente, evitando a transmissão de micro-organismos do paciente a outros profissionais ou pacientes. 4 APÓS CONTATO COM O PACIENTE QUANDO? Higienize as mãos após contato com o paciente, com as superfícies e objetos próximos a ele e ao sair do ambiente de assistência ao paciente. POR QUÊ? Para a proteção do profissional e do ambiente de assistência à saúde, incluindo as superfícies e os objetos próximos ao paciente, evitando a transmissão de micro-organismos do próprio acidente. 5 APÓS CONTATO COM AS ÁREAS PRÓXIMAS AO PACIENTE QUANDO? Higienize as mãos após tocar qualquer objeto, mobilia e outras superfícies nas proximidades do paciente – mesmo sem ter tido contato com o paciente. POR QUÊ? Para a proteção do profissional e do ambiente de assistência à saúde, incluindo superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente, evitando a transmissão de micro-organismos do paciente a outros profissionais ou paciente. Já as precauções adicionais são indicadas como complemento às precauções básicas durante a assistência a pacientes com diagnóstico suspeito ou confirmado de infecção ou colonização por 36 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI agentes epidemiologicamente importantes. As precauções adicionais são divididas em: precauções por gotículas, precauções por aerossóis e precauções de contato. A seguir, faremos uma breve descrição de cada uma delas. A precaução por gotícula está indicada para pacientes com infecção, suspeita ou confirmada, causada por micro-organismo transmitido por via inalatória através de gotículas maiores que 5μ (micra) e que se dissemina em curta distância (ARAÚJO;et al., 2005). Nestes casos, faz-se necessário o uso de um quarto privativo e da máscara cirúrgica. Já a precaução por aerossol é mandatório quando o paciente encontra-se com suspeita ou diagnóstico confirmado de doença causada por agente transmissível pela via aérea superior através de partículas infectantes aerossolizadas. As partículas contaminadas exaladas pelas vias aéreas do pacientes, nestes casos, são menores que 5μ e são filtradas apenas pela máscara N 95 (CUNHA; JOHNSON, 2009). A precaução de contato, que é a que vamos nos deter mais nos próximos parágrafos, é indicada para pacientes com infecção, suspeita ou confirmada, ou colonização por micro-organismos transmitidos por contato direto ou indireto. A comunidade científica internacional considera patógenos multirresistentes causadores de infecções relacionadas à assistência em saúde: Enterococcus spp resistente aos glicopeptídeos, Staphylococcus spp. resistente ou com sensibilidade intermediária a vancomicina, Pseudomonas aeruginosa, Acinetobacter baumannii, e enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos (ertapenem, meropenem ou imipenem) (SOUZA; et al., 2010). De acordo com o autor citado, tem crescido, de uma forma rápida nos hospitais brasileiros, os casos de enterobactérias resistentes aos carbapenêmicos. Tais bactérias formam uma enzima (carbapenemase) que inativa todos os antibióticos beta-lactâmicos, incluindo os carbapenêmicos. A Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC) é uma enzima que foi identificada inicialmente em Klebsiella pneumoniae pela primeira vez, em 2001, nos Estados Unidos, mas pode ser produzida por outras enterobactérias. De acordo com Ricardo (2009), as principais medidas adotadas pelos profissionais que assistem o paciente colonizado por MMR são as seguintes. » Manter esses pacientes em quarto privativo ou com pacientes que compartilhem a mesma situação. » Instituir isolamento de contato, ou seja, uso de luvas e avental toda vez que houver contato como paciente. Tanto as luvas quanto o avental devem ser desprezados dentro do próprio quarto do paciente, seguida da lavagem das mãos com sabão antisséptico. » O uso de luvas não substitui a lavagem das mãos antes e após a prestação dos cuidados ao paciente. 37 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II » Se não for possível o quarto privativo, manter esse leito próximo da parede e pode- se até colocar no chão uma fita delimitando o leito. Isto tem apenas efeito de alertar o profissional da área da Saúde que for manipular o paciente que são necessárias precauções de contato. » Colocar sinalização por meio de placas, indicando que equipamento de proteção individual devem ser utilizados: luvas, aventais etc. » Usar termômetro, estetoscópio, esfigmomanômetro individualizados para esses pacientes ou promover a desinfecção antes e após seu uso, friccionando com álcool a 70%. » Se possível, deixar um funcionário exclusivo para os cuidados desses pacientes. » Evitar o transporte desnecessário pelo hospital e se for preciso, fazê-lo seguindo as precauções. A higiene das superfícies para o controle de bactérias multirresistentes é uma maneira muito eficaz de diminuir a carga microbiana no ambiente hospitalar. A área ou unidade do paciente é o espaço físico onde o paciente permanece a maior parte do tempo, durante o seu período de internação. Em geral, envolve o leito, o mobiliário e os equipamentos de uso exclusivo do paciente, assim como o piso e as paredes próximas ao leito. Tal higiene, quando o paciente estiver em isolamento de contato, deve ser realizada com desinfetante, por exemplo, o álcool a 70%. A tabela, a seguir, mostra o tipo e duração das precauções de isolamento recomendadas de acordo com a infecção, condição ou agente etiológico. Tabela 1. Precauções de isolamento: Tipo e duração. INFECÇÃO/CONDIÇÃO/AGENTE PRECAUÇÕES tipo duração Abscesso (em drenagem, grande) Obs.: 1 C DD Adenovirose em lactente e pré-escolar G, C DD Actinomicose P Amebíase P Angina de Vicent P Antrax: cutâneo e pulmonar P Ascaridíase P Aspergilose P Bactérias multirresistentes (colonização, infecção) C Babesiose P Botulismo P Brucelose P Candidíase P Caxumba G Obs.: 2 Celulite (extensa; secreção não contida) C DD Clostridium difficile (enterocolite) C DD Citomegalovírus P 38 UNIDADE II │INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI INFECÇÃO/CONDIÇÃO/AGENTE PRECAUÇÕES tipo duração Cólera C DD Conjuntivite hemorrágica aguda C DD Coqueluche C Obs.: 3 Criptococose P Gastroenterite (paciente incontinente) C DD Dengue P Dermatofitose P Denovanose (granuloma inguinal) P Difteria cutânea C CN, Obs.: 4 Difteria faríngea C CN, Obs.: 4 Endometrite P Enterobíase P Enterocolite C Enterovirose em lactente e pré-escolar C DD Epiglotite por H. Influenzae G T 24 horas Escabiose C T 24 horas Estafilococcias – furunculose em crianças C DD Febre amarela P Febre por arranhadura de gato P Febre por mordedura de rato P Febre reumática P Febre tifoide C Gangrena gasosa P Gonorreia P Guillain barré P Hepatite Viral – tipo A (paciente incontinente) C Obs.: 5 Herpes simples – mucocutâneo disseminado C DD Herpes Zoster – disseminado ou em pacientes imunodeprimidos A, C Obs.: 6 Hanseníase P Hantavirose pulmonar P Impetigo C T 24 horas Infecção de ferida (extensa) C DD Influenza Obs.: 7 G DD Leptospirose P Malária P Meningite – por H. Influenzae (definida ou suspeita) G T 24 horas Meningite meningocócica (definida ou suspeita) G T 24 horas Meningococcemia G T 24 horas Organismos multirresistentes – infecção ou colonização gastrointestinal, respiratória ou cutânea Obs.: 8 C CN Oxiuríase P Pediculose C T 24 horas Peste pneumônica G T 24 horas Pneumonia – adenovìrus G, C DD Pneumonia – (crianças) G T 24 horas Raiva C Rubéola - Congênita C Obs.: 09 Rubéola – outras formas G Obs.: 10 39 INFECÇÕES RELACIONADAS À ASSISTÊNCIA À SAÚDE NA UTI │ UNIDADE II INFECÇÃO/CONDIÇÃO/AGENTE PRECAUÇÕES tipo duração Sarampo A DD Tétano P Tuberculose pulmonar A Obs.: 11 Varicela A, C Obs.: 6 Ulcera de decúbito grande com secreção não contida Obs.: 1 C DD C - precaução de contato. G - precaução respiratória para gotículas. P - precaução padrão. A - precaução respiratória para aerossóis duração. DD - precaução durante a doença. CN - precaução até cultura negativa. T - terapia eficaz. Fonte: ARAÚJO; et al., 2005. Na tabela, abaixo, estão expostas algumas observações complementares relacionadas à tabela anterior. Tabela 2. Observações complementares relacionadas à Tabela 1. No Observação Especial 1 Sem curativo ou curativo que não contém toda drenagem. 2 Até 9 dias, após o início da parotidite. 3 Até 5 dias, após o início da terapêutica adequada. 4 Até 2 culturas negativas, colhidas em dias diferentes. 5 Manter precaução para crianças menores de 3 anos durante a hospitalização. Em crianças de 3 a 14 anos, até 14 dias, após o início dos sintomas. Para os demais, até 7 dias após o início dos sintomas. 6 Até que todas as lesões estejam na fase de crosta. O período de incubação da varicela é de 10 a 16 dias, até no máximo de 21 dias. Após a exposição de suscetíveis, avaliar o uso de imunoglobulina varicela zoster (VZIG) e, se possível, dar alta. Os expostos suscetíveis, se internados, devem permanecer isolados a partir do 10o dia da exposição até p 21o depois da última exposição (ou 28o dia, se fez uso de VZIG). Pessoas suscetíveis não devem entrar no quarto de isolamento. Pessoas não suscetíveis não necessitam usar máscara. 7 Esta recomendação possui dificuldades práticas para aplicação, especialmente em epidemias. Nessas situações, o corte deve ser realizado ou, pelo menos, o contato com pacientes de alto risco deve ser evitado. 8 Patógenos multirresistentes devem ser definidos de acordo com critérios epidemiológicos de cada hospital ou setor. 9 Durante qualquer internação até 1 ano de idade, exceto se culturas de nasofaringe e urina sejam negativas
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